Chapter 1: Capítulo 1 - O herdeiro que veio do nada
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“Vocês ouviram? O temido Sandu Shengshou morreu!”
“Já era hora do mundo se livrar de tamanha presença maligna.”
Esses eram os rumores que correram com uma velocidade espantosa o mundo do cultivo, e apesar de lá a fofoca ser proibida, chegou até mesmo no Recanto das Nuvens.
Não era algo esperado. Afinal, Jiang Wanyin, Jiang Zongzhu e também conhecido pela alcunha de Sandu Shengshou, era um dos mais fortes cultivadores de sua geração, senão o mais forte. Portanto, era de se esperar que atingisse a imortalidade e ascendesse aos céus.
Zewu-jun, o líder da seita Lan estava chocado, pois mais uma vez alguém que lhe era querido lhe tinha sido arrancado.
O mais triste era que, como sempre, Lan Xichen fora tão cego a ponto de não perceber o quanto aquele ômega lhe era importante até que o perdesse.
Mas a verdade era que já o tinha perdido meses antes.
“Eu não posso retribuir seus sentimentos, Wanyin.”
A última frase que disse a ele se repetia como um mantra maldoso em sua mente.
Foi covarde. Teve medo do sentimento que crescia em seu peito cada vez que via o ômega, mas isso não o impediu de lhe tocar e amá-lo.
Ele estava lá tão solícito e lhe estendeu a mão quando o líder Lan estava no fundo do poço.
Zewu-jun fechou os olhos com força, e uma lágrima escapou quando pensou em como o outro parecia arrasado com a sua fala impensada.
Essa tinha sido a última vez que o viu. Todas as correspondências depois disso não tinham o calor e intimidade que as anteriores tinham e se limitavam a assuntos políticos entre suas seitas, e não o culpava.
Naquele momento pareceu o certo a se fazer. Eram ambos líderes de seita e não poderiam ficar juntos, mas agora tudo parecia tão ridículo, tão pequeno.
Se tivesse aceitado os sentimentos do outro quem sabe agora ele ainda estivesse ali, talvez carregando seus filhotes, e seriam uma família feliz. Ele estaria feliz. Eles estariam felizes.
Mas foi fraco, foi covarde e se apegou ao passado, a sentimentos que julgava serem verdadeiros por uma pessoa que nem mais estava ali.
Era realmente um tolo.
Suspirou fundo, tentando juntar forças para prestar suas condolências.
Olhou ao redor e todos na seita Jiang pareciam arrasados.
Uma seita tão alegre e barulhenta estava em completo silêncio.
Sentiu uma tontura quando viu o caixão fechado, e só não cambaleou porque seu tio o segurou discretamente.
— Precisa comer alguma coisa, Princesa. — Ouviu Jingyi tentando animar o jovem ajoelhado.
— É o meu jiujiu. — O jovem líder da seita Jin, Jin Rulan, respondeu aos prantos enquanto abraçava um pequeno embrulho nos braços.
— Ele não iria gostar de ver você passando fome e nem seu primo. Ele é muito pequeno para passar tantas horas aqui, A-Ling. Vamos comer algo rápido e depois voltamos. —Sizhui tentou convencê-lo.
Só aí Zewu-jun se deu conta de que o embrulho de fato era um bebê. Um bebê recém-nascido.
Seu coração falhou.
Não seria possível que aquela criança fosse…
— Escute seus amigos, Jin Zongzhu. É hora do pequeno Chengcheng se alimentar. — Yu Jiuxin, antigo segundo em comando e atual Jiang Zongzhu, falou ao interromper sua linha de pensamento.
— Xichen! — Seu tio lhe chamou atenção de volta ao momento.
Lan Xichen acendeu os incensos ainda perdido em seus pensamentos e no vislumbre da pequena mãozinha que saiu dentre os panos para segurar a mão do outro líder.
— Algum problema, Xichen? — seu tio perguntou assim que chegaram de volta ao Recanto das Nuvens. — Sei que eram amigos, mas tem que ser forte. — Ele tentou lhe animar.
— Eu não sabia que ele tinha um filho. — Explicou. — Não consegui ver seu rosto.
Seu tio pareceu um pouco desconcertado com o comentário e desconversou.
— Tenho certeza de que não faltarão oportunidades.
***
Demorou muitos meses até que visse o bebê novamente.
E sua mente o atormentava com memórias que ele nem sabia que tinha dos momentos entre eles.
Do seu cheiro quase imperceptível de lótus, dos sorrisos que ele nunca exibia em público, mas que lhe eram dados sem pudor e principalmente dos olhos violeta que lhe observavam com doçura enquanto se amavam.
Quando viu o bebê, não pôde evitar sentir o seu cheiro. Mesmo de longe era marcante. Era muito similar ao do finado Jiang Zongzhu.
Aquele bebê era um ômega, assim como seu pai. Ao contrário de Wanyin, que por questões que nunca realmente discutiram, mas que eram óbvias, quase nunca exalava cheiro, o do bebê era rico. Era claramente um bebê feliz que se sentia seguro ali.
Seu coração ficou mais tranquilo ao constatar isso.
— É uma afronta da seita Jiang reconhecer esse pequeno ômega como o herdeiro.
— Não só como herdeiro, Yao Zongzhu. Ele foi reconhecido como Jiang Zongzhu. Yu Jiuxin está somente como regente até que ele chegue até a maioridade. — Ouyang Zizhen explicou.
— Isso é verdade. Recebemos um comunicado há algum tempo atrás. — Ouyang Zongzhu concordou. — Claramente uma forma de manter um Jiang na seita e honrar o nome de seu pai. — Completou, solene.
— Eu achei fofo, mas não acho que A-Cheng tenha gostado. Ele fica tentando tirar o guan. — Zizhen comentou, apontando para o bebê que tentava arrancar o enfeite do cabelo.
— Não é pesado para ele? — Lan Xichen comentou, tentando colher informações com os dois líderes fofoqueiros. Afinal, fofocar era proibido. Ouvir uma fofoca não. E aqueles dois adoravam o som de suas próprias vozes.
— Prezado Zewu-jun, não o tínhamos visto. — Yao Zongzhu o cumprimentou com sua pompa habitual, sendo seguidos pelos outros dois.
— Yao Zongzhu, Ouyang Zongzhu, Ouyang Gonzi. Espero não estar interrompendo.
— De modo algum, de modo algum.
— É uma surpresa vê-lo aqui, Ouyang gonzi. Normalmente você, Jingyi, Sizhui e Jin Zongzhu estão grudados pelo quadril. O que agradeço imensamente pela amizade com meus discípulos.
— O prazer é meu, Zewu-jun. Vim para cá porque A-ling só tem olhos para o primo. Estou esperando o líder Jiang expulsá-lo de perto. — Ele riu.
— Expulsá-lo?
— A-Ling não tem muita noção de que o primo é muito novo e precisa descansar de vez em quando.
— Como ele ousa separar uma família assim?! O garoto já perdeu a única família que tinha. Que absurdo! É quase um caso de maus tratos com o pequeno e vulnerável herdeiro. — Yao Zongzhu comentou, ávido para começar uma intriga.
— De fato, de fato. É nosso dever, como cultivadores honrados, nos certificar de que o herdeiro Jiang não seja maltratado. — O líder Ouyang concordou, fazendo o filho revirar os olhos.
— Realmente, ele parece sofrer demais ali. — Zizhen comentou mordaz, ao observar o bebê nos braços de sua figura paterna, que o abraçava e enchia sua cabeça de beijinhos, enquanto o levava para longe sendo acompanhado por uma discípula.
Aquele comentário deveria deixá-lo tranquilo, mas Zewu-jun só conseguia sentir irritação ao ver a cena doce a sua frente.
***
Pouco depois do aniversário de um ano do jovem (muito jovem mesmo) Jiang Zongzhu, uma pequena comoção voltou ao Recanto das Nuvens: seu irmão Lan Wangji tinha retornado juntamente ao seu marido de sua longa peregrinação pelo mundo do cultivo.
E o antigo Yiling Laozu estava sendo extremamente vocal ao tomar conhecimento do falecimento de seu antigo irmão marcial, o que era bem ridículo uma vez que, quando vivo, Wei Wuxian sequer se lembrou de que ele existia.
Não que ele e seu irmão tivessem se preocupado com ninguém além deles e sua felicidade.
Foram anos e anos peregrinando sem olhar para trás.
Obviamente que entendia os motivos de seu irmão, e estava feliz por ele finalmente encontrar sua felicidade nos braços de sua alma gêmea depois de vários anos de luto. Porém, uma pequena parte de si o ressentia por não estar ali quando mais precisou.
Fechou os olhos com força ao lembrar que se não fosse pelo apoio de Wanyin, provavelmente não teria saído de sua reclusão.
Sentia-se o pior dos ingratos.
— Eu teria sentido, Lan Zhan! Ele não pode estar morto!
Naquele mesmo dia, os dois seguiram rumo ao Píer Lótus.
E naquela mesma noite eles voltaram, impedidos de adentrar o salão ancestral dos Jiang para prestar suas condolências.
Quando seu irmão veio lhe pedir que interviesse na situação, teve que falar que suas mãos estavam atadas.
— O salão ancestral é um lugar sagrado, Wangji. E somente membros da família podem entrar.
— Wei Ying é da família.
— Tem certeza disso, Wangji? — se limitou a dizer, e o silêncio de seu irmão deixava claro que nem ele mesmo acreditava no que dizia.
***
Alguns meses depois, na conferência anual, Lan Xichen não pôde evitar procurar a seita Jiang entre os participantes.
Teve que se policiar para não demonstrar seu desagrado ao ver o líder regente Jiang chegar com o pequeno ômega nos braços que ria toda vez que era jogado para o alto.
E se o bebê caísse? Aquilo era muito irresponsável.
— Quem é aquele? Não sabia que o Xin-ge tinha filho. — Wei Wuxian comentou ao observar a cena.
— Xin-ge? — ouviu seu irmão perguntar, claramente descontente com a intimidade mostrada.
— É. Era a nossa babá. Não sabia que ele tinha voltado para a seita.
— Ele é o líder regente Jiang, Mestre Wei. E aquele em seus braços é o Jiang Zongzhu atual, filho de Jiang Wanyin.
— E-eu tenho um sobrinho?
Lan Xichen e o irmão não sabiam o que dizer, e antes que pudessem pensar em algo, Wei Wuxian já tinha ido atrás do menino, exigindo conhecê-lo.
Obviamente, tal exigência não foi bem recebida pelos discípulos Jiang.
— Que face mais grossa! Depois de tudo o que fez com nosso finado Zongzhu. — Resmungou um discípulo que se colocou como uma muralha, impedindo que Wei Wuxian e Lan Wangji se aproximasse de seus líderes, que aproveitaram para se afastar, ignorando totalmente a tentativa de aproximação.
— Quem garante que o marido que agrediu nosso Zongzhu dentro de sua própria casa não vai beliscar nosso xiao Zongzhu? — reclamou outro, em alto e bom tom, atraindo cochichos das outras seitas.
***
No segundo dia de conferência, após receberem uma bronca de seu tio, Wei Wuxian e Lan Wangji se limitaram a acompanhar tudo de seus lugares junto ao restante da seita Lan, mas era claro que acompanhavam avidamente os movimentos do pequeno A-Cheng.
Não que Lan Xichen não estivesse fazendo a mesmíssima coisa, mas pelo menos Zewu-jun tinha um motivo para tal, já que a cada interação que passava ele tinha mais certeza de que aquele filhote era fruto do seu relacionamento com Jiang Wanyin.
As datas batiam. Jiang Wanyin era um ômega e copularam várias vezes. E até aquele momento nenhum outro parente tinha sido apresentado.
Estava certo.
Quase certo.
Cinquenta por cento certo.
E até que tivesse cem por cento de certeza e pudesse reclamar seus direitos, ficaria de olho se o menino era bem tratado.
E era.
Aparentemente, tinha aprendido a andar há pouco. E durante boa parte da conferência, se divertiu dando pequenos passinhos hesitantes ao redor de seu guardião.
O que Lan Xichen não conseguia entender era o enfeite que usava atrás da cabeça. Não era grande e pesado demais para um bebê?
Sorriu quando viu o menino tentando enfiar a mão toda na boca, e sair correndo na direção de seu primo, Jin Rulan, quando esse fez uma careta provocando-o.
— Sem correr. — Yu Ziuxin falou para o menino que parou de repente, obedecendo.
Porém, acabou perdendo o equilíbrio e caiu de costas, batendo a cabeça no chão.
Lan Xichen tomou um susto e fez menção de se levantar, mas para seu espanto o menino não chorou. De fato, sequer ouviu um grande barulho. Aparentemente, o enfeite era almofadado e impediu que se machucasse.
Sentiu a mão de seu tio, lhe forçando a voltar ao lugar.
— Está tudo bem. Ele só se assustou. — Explicou, mostrando o menino que era ajudado pelo seu guardião a se levantar.
— Ele é tão cuidadoso que chega a ser irritante. — Wei Wuxian resmungou.
— Wei Wuxian! Comporte-se. — Seu tio ralhou, mas seu cunhado continuou resmungando em voz baixa e fazendo caretas. Era claro que estava incomodado com a situação.
E naquele momento, Lan Xichen não pôde sequer lhe chamar atenção, uma vez que também estava incomodado e seria extremamente hipócrita de sua parte.
***
Wei Wuxian estava tramando algo, tinha certeza.
Estava de cochichos com os discípulos mais jovens e até com seu sobrinho Jin Rulan, que parecia contrariado.
— Você tem uma imaginação muito fértil, Wei Wuxian. Não tem nada de estranho com o meu primo.
— Não com ele. Com Xin-ge.
— Com quem?
— Yu Jiuxin!
— Chamando um regente de forma tão íntima. Você não tem vergonha? — Jin Rulan lhe chamou atenção, e por um milagre seu irmão não o defendeu. De certo porque concordava com o jovem.
— O bebê apareceu do nada quando ele faleceu? — quis saber.
— Só me foi apresentado no funeral.
— E quem é a mãe? — Lan Xichen não pôde evitar ficar tenso com a pergunta. Não era hora ou lugar para aquele tipo de questionamento.
— Está colocando em xeque o direito ao trono de lótus do meu primo?
— Só estou dizendo que tem algo estranho, A-Ling. Não me deixaram vê-lo de perto.
— Porque você é um babaca, Wei Wuxian.
— Jin Rulan! — Seu irmão interveio.
— É Jin Zongzhu para você, Lan Ergonzi. — Jin Ling respondeu, deixando claro as diferentes posições entre eles.
— O que está acontecendo aqui? — por fim, Lan Xichen decidiu intervir antes que seu irmão e cunhado causasse mais um mal-estar entre as seitas.
— Tem algo estranho com aquele bebê, Xichen-ge.
— Acredito que isso seja um problema interno da seita Jiang então, Wuxian. — Falou, fazendo com que Jin Zongzhu concordasse.
— Você não está entendendo. Ele está claramente mentindo. Por que não me deixaram vê-lo de perto? E porque não tem mãe? Meu irmão morreu, mas e a mãe? Querem esconder o quê?
Jin Ling ficou pensativo. Era realmente estranho que nunca tivessem falado da mãe da criança.
— Você era ligado ao seu tio, A-Ling. Ele não teria te apresentado caso estivesse com alguém? — pressionou, deixando-o ainda mais pensativo. — E posso ter passado anos afastado dele, mas o Jiang Cheng que eu conheci nunca tomaria liberdades com alguém sem firmar um compromisso sério e assumir as responsabilidades de seus atos.
Ouvir aquilo foi como tabefe no rosto para Lan Xichen, pois lembrou-se de como o outro tinha se declarado, querendo assumir um compromisso e parar de se esconder sorrateiramente. Ele merecia o mínimo de respeito e consideração, mas sua covardia o impediu de lhe demonstrar até mesmo isso.
— Eu acho que talvez o bebênão seja dele. — Finalmente falou às claras sobre o que desconfiava.
— Como ousa? Ele parece uma cópia do meu jiujiu!
— Exato! E se for um glamour?
— Não seja ridículo! Você não o viu pessoalmente, mas eu vi.
— E checou por um glamour?
— B-bom, é claro que não. — Jin Ling respondeu sem graça. — O que quer, Wei Wuxian? Eu já perdi meu jiujiu, agora quer que eu perca meu biao di também?! — acabou se estressando.
Wei Wuxian pareceu em conflito por um instante, mas manteve-se certo em sua posição.
— Só quero ter certeza de que o legado dele não seja manchado por alguma maquinação política.
— Acha que podem ter colocado uma criança estranha só para assegurar que o poder não saísse dali?
— Sim.
— Yu Jiuxin nunca faria isso. Ele e os discípulos amavam meu tio.
— Tem certeza disso?
— Claro.
— E por que ele não está aqui agora?
— Foi levar meu biao di para se alimentar. Ele sempre vai com a ama de leite do A-Cheng.
— Ah, é? E por que ela está ali parada então?
Só então Jin Ling se deu conta de que a discípula que até então tinha sido apontada como a responsável pela amamentação do herdeiro estava conversando com seus shidis e shixiongs sem preocupação alguma durante a pausa requisitada pelo regente Jiang.
Sem pensar, Jin Rulan saiu em busca do regente com Wei Wuxian e os outros em sua cola.
Até mesmo Lan Xichen, que conhecia a Torre de Carpa como a palma da mão, ficou confuso com todas as voltas que deram até chegar no aposento designado para o regente.
Quando chegaram, Jin Ling abriu as portas sem cerimônia e somente pelos reflexos de Wei Wuxian se safou de receber uma adaga no meio da testa.
— Você quer morrer, pirralho?! Não me assuste assim!
Se o instinto protetor não fosse indício suficiente, o fato de o próprio regente estar amamentando o pequeno já deixaria claro o que estava acontecendo ali.
Wei Wuxian estava errado.
Aquele bebê era realmente filho de Jiang Wanyin. E tinham acabado de descobrir a identidade de quem deu a luz à criança.
— Você tem tetas?! — Jin Ling ainda olhava a cena com descrença. Até mesmo Wei Wuxian percebeu o quão impertinente era aquela pergunta e não hesitou em dar um tabefe atrás da cabeça do sobrinho.
Yu Jiuxin revirou os olhos, ao mesmo tempo que arrumou sua roupa com movimentos firmes e rápidos, claramente habituado a fazer tudo com uma mão enquanto segurava a criança com a outra.
— Não sou uma vaca, Jin Zongzhu. — Ele respondeu entredentes enquanto colocava o bebê para arrotar em seu ombro e saía da sala, deixando todos para trás.
Lan Xichen não sabia o que pensar.
Seu coração estava dilacerado ao pensar que Wanyin pudesse ter se envolvido com seu segundo em comando depois do término dos dois.
A união de dois ômegas não era tão rara. Mas era raro essa união resultar em filhotes. Porém, não era impossível.
Sabia que não tinha o direito de se sentir assim, mas se sentia traído.
— Sério, A-Ling? Tantas perguntas e você só conseguiu pensar em “Você tem tetas?”. Qual o seu problema?
Jin Zongzhu teve a decência de corar.
— Eu só fiquei surpreso. E-eu preciso ir.
Mais tarde, Lan Xichen viu Jin Rulan e o regente Jiang conversando. E estava claro que o mais novo estava se desculpando inúmeras vezes pelo ocorrido.
***
Nos meses que se seguiram, Wei Wuxian começou a investigar o que ele julgava ser o mistério do século.
Jin Rulan, numa das caçadas noturnas que fazia acompanhado dos amigos e Wei Wuxian, comentou sobre a confusão da última conferência e de como Yu Jiuxin negava ser um dos pais do bebê.
E era questão de tempo até que Wei Wuxian viesse lhe interrogar. Afinal, pelo que constava, era um dos únicos amigos que seu finado irmão marcial tinha.
— Tem algo que não se encaixa, Xichen-ge.
— Ainda acha que é um glamour?
O outro riu.
— Não, não. Só estava tentando repassar tudo na minha mente, sabe?
Não conseguiu evitar ficar apreensivo.
— A minha memória não é muito boa, você sabe. Mas algumas coisas consigo lembrar com uma clareza absurda, como se tivesse ocorrido ontem. Principalmente com relação ao Jiang Cheng.
— É natural se apegar às memórias dos que se foram. — Lan Xichen sabia por experiência própria, já que foi exatamente o que fez.
— Sim, sim. Eu me lembrei de quando éramos adolescentes. Devíamos ter uns treze anos? Madame Yu ficou possessa e exigiu que nós dormíssemos em quartos diferentes. — Ele contou com um sorriso nostálgico no rosto, sem perceber que seu marido, até então quieto, torceu o nariz diante daquela informação. Era claro que estava tomando vinagre. — Ela nunca gostou de mim, mas naquela ocasião, ela realmente estava possessa. E eu nunca tinha me dado conta do porquê até agora.
— Não sei se estou conseguindo seguir seu raciocínio. — Tentou despistar com um sorriso sem graça.
— E se as minhas teorias partiram de um ponto errado? E se realmente Yu Jiuxin não foi quem deu a luz ao meu sobrinho?
— E quem mais teria dado?
— Jiang Cheng. — Wei Wuxian falou com um sorriso vitorioso. — Talvez ele não fosse um alfa como sempre pensei. Faz sentido, não é Lan Zhan?
— Mn.
— E quem seria o outro pai? — Lan Xichen perguntou num fio de voz.
O sorriso de Wei Wuxian ficou um pouco forçado, e parecia um tanto feroz.
Sentiu um arrepio e teve dificuldades de manter o olhar em seu cunhado.
Podia jurar que ele estava se divertindo ao torturá-lo daquele jeito.
— Você, Xichen-ge. Levando em conta a última visita do meu irmão aqui e a idade do meu sobrinho, resta só uma dúvida. — Se aproximou do rosto do cunhado sem o menor sinal do sorriso de antes. — Você fodeu o meu irmão?
Lan Wangji olhou horrorizado para o irmão.
Uma dor alucinante do lado da cabeça foi a última coisa que registrou antes de tudo escurecer.
***
Lan Qiren tinha sentido saudades quando seu sobrinho decidiu desbravar o mundo com seu questionável marido.
Não era fácil para um ômega ver um de seus filhotes sumir no mundo com alguém que não achava apropriado para ele.
Anos e anos sem sequer uma carta.
Ficou aliviado quando o viu de volta são e salvo.
Uma pena que o alívio se foi assim que os primeiros conflitos começaram a surgir entre si e o questionável marido em questão.
Wei Wuxian parecia ter como lema de vida quebrar todas as regras possíveis da seita Lan, o que tornava a vida de Lan Qiren bem difícil, uma vez que todos os outros anciões vinham tirar satisfações com ele como se Lan Qiren tivesse a obrigação de controlar aquele demônio de gente.
O que era ridículo, pois se nem na adolescência tinha conseguido, então não seria agora, em outra vida, que conseguiria.
Lan Qiren já nem sabia mais o que era não conviver com uma dor de cabeça tremenda crônica.
Estava a um passo de um desvio de Qi.
Por isso, sempre que podia, meditava para tentar se acalmar.
Seu olho tremeu com um tique nervoso quando sua residência foi invadida pelo próprio ser que o atormentava todos os dias e que tinha seduzido seu filhote.
Antes que pudesse ralhar com ele, viu que ele jogou seu filhote mais velho aos seus pés, e por quase dois incensos teve que ouvir o relato de como seu sobrinho ousou seduzir o finado Jiang Wanyin e o deixou arcar com as consequências sozinho.
— É verdade, shufu. Eu admito. Fui fraco. O pequeno Xiao Cheng é meu filho.
Lan Qiren fechou os olhos com força e respirou fundo.
— Não é. — Negou.
— Você não ouviu nada, velhote? Ele se aproveitou do meu irmão!
— Eu ouvi, e não poderia estar mais decepcionado com você, Xichen. — Falou, balançando a cabeça e colocando um talismã de privacidade no ambiente.
— Estou pronto para assumir minhas responsabilidades, shufu. — Declarou, fazendo o tio olhá-lo sem entender. — Vou assumir a paternidade e declará-lo meu herdeiro.
— Só por cima do meu cadáver! — Lan Qiren negou veemente.
— Meu sobrinho merece saber de onde veio! Não pode negar isso a ele! Ele precisa ficar com a família dele!
— Ele não é um Lan, Wei Wuxian.
— Como não? As datas batem e seu sobrinho confessou, velho. Mesmo assim ainda questiona que ele é um Lan?
— Sim!
— Por quê?! — Wei Wuxian se alterou, levantou a voz e avançando da direção do grande mestre.
— Porque ele é Jiang Wanyin! — Respondeu no mesmo tom. — Ele não morreu. Aquele é Jiang Wanyin, não seu herdeiro.
Chapter 2: Uma grande comemoração para um Xiao Zongzhu
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Olhou pela janela e estava escuro.
Mas não era manhã? Não lembrava sequer de ter comido algo.
Não que pudesse comer nada agora. Estava enjoado.
Era um cultivador, mas não se lembrava de se sentir mal assim nem mesmo em seu pior momento com a morte de seus irmãos jurados, ou até mesmo na época da guerra.
Nesses momentos, tinha perdido pessoas importantes para a morte, mas agora era a primeira vez que tinha perdido alguém em vida.
Porque era justamente isso que seu tio tinha explicado a eles.
Jiang Wanyin tinha caído em uma armadilha que o fez regredir fisica e mentalmente. E não havia como fazê-lo voltar ao normal.
Ele se foi para sempre.
Por mais que o corpo pudesse ser restaurado fisicamente, todas as suas lembranças, vivências, e basicamente tudo o que fazia de Wanyin ele mesmo se foram.
— Mas isso é impossível. Alguém tentou reverter a matriz? Se me deixarem estudá-la, eu tenho certeza de que poderei achar uma solução e trazê-lo de volta. — Wei Wuxian se desesperou, e estava a um passo de se jogar no chão e implorar pela ajuda de Lan Qiren.
— Mestre Wei, ao contrário do que acredita, você não é o único ser pensante desse mundo. Eu fui chamado, juntamente com outros especialistas, e não há como. Se não acredita, então veja por si só, criança arrogante!
Viu seu cunhado checando cada uma das matrizes que usaram e fazendo inúmeras perguntas, mas tudo o que ouvia era um som de estática.
— Xiongzhang!
Os braços de seu irmão eram tão quentes e ele estava com tanto frio.
***
Levou algum tempo até que se recuperasse de seu segundo luto por Wanyin, mas graças ao seu cunhado, que viu nele um aliado para dividir as informações que conseguia do xiao Zongzhu.
Como ele tinha chegado à conclusão de que eram aliados, depois de tê-lo agredido por tocar em seu irmão, ele não sabia. Talvez fosse porque ambos o amassem de seus jeitos falhos e cheios de culpa.
Xichen não ousava se aprofundar no assunto. Ainda tentava distinguir em sua mente que o bebê Jiang não era o seu Wanyin.
— Eu consegui que fôssemos convidados para o segundo aniversário dele. Sabia que mudaram o aniversário dele? Era cinco de novembro.
— Não fazia ideia, Wuxian. É provável que tenham usado a data do incidente.
— Possível. Se bem que A-Ling comentou que ninguém sabia a data do aniversário dele na seita, mas eu tenho certeza que Xin-ge sabia. Ele poderia ter falado.
Ambos se calaram ao se dar conta de que provavelmente ele não tinha comemorado nenhum aniversário porque sua família inteira tinha morrido.
— Bom, agora ele vai ter uma festa enorme! Jin Ling me contou que serão vários dias de comemoração com toda a seita. Até mesmo os civis irão participar.
— É mesmo? Que inusitado.
— Aparentemente era algo que Jiang Cheng fazia para o A-Ling. Agora A-Ling quer fazer o mesmo por ele. Ele até se ofereceu para custear todo o evento.
— Ele está melhor? — perguntou, preocupado.
Afinal, Wei Wuxian não tinha reagido com choque à notícia de que tinha perdido seu irmão mesmo ele ainda estando vivo. Ele, mais uma vez, foi atrás do sobrinho porque precisava contar a verdade e tentar trazer seu irmão de volta.
Obviamente, tinha sido um baque para o jovem Jin Zongzhu, que não gostou de ter sido enganado, o que levou a quase um atrito entre a seita Jiang e Jin.
— Ele está bem. Xin-ge o levou na conversa de novo, e ele disse que está feliz do seu jiujiu estar bem e feliz, seja a forma como for. E que ele estará lá para apoiá-lo e protegê-lo como for preciso.
— Uma atitude invejável, eu diria.
Atitude essa que ambos ali não conseguiam tomar.
***
Estar em uma comemoração tão grandiosa era algo incomum para Zewu-jun. De certo, era a primeira vez que vinha a um aniversário que mais parecia um festival.
O primeiro dia foi voltado para receber as seitas que vieram prestigiar o pequeno, e excluindo a ausência de discussões políticas e acaloradas lembrava e muito as conferências anuais.
Vários líderes e herdeiros pelo salão, comida farta, fofoca e risadas.
Xichen se sentia um pouco desconfortável ali com tantas seitas que dificilmente eram convidadas ou compareciam às conferências, como Meishan Yu.
Toda vez que Xichen olhava na direção das inúmeras primas de Wanyin, que brincavam com o bebê e apertavam suas bochechas, ele sentia um frio na espinha.
Apesar de sorrirem quando o viam, ele tinha certeza de que podia sentir uma hostilidade velada para consigo. E estava um tanto paranoico ao pensar que toda a família de seu amado pudesse saber do envolvimento dos dois.
— Eles monopolizam meu Chengcheng. — Wei Wuxian reclamou ao deitar a cabeça no ombro do marido.
— Quem disse que ele é seu?! — Jin Ling ralhou, acabando com o drama.
— Eu nem consegui segurá-lo hoje. — Reclamou.
— Você já o segurou?! — Xichen perguntou. Sentiu-se traído.
Wei Wuxian teve a decência de parecer sem graça.
— Ele é bem dado. Vai no colo de todo mundo. Ele até gosta do seu tio. — Foi rápido em dedurar e tirar a atenção de si.
— Shufu! Você também?
— Eu gosto de crianças. E não é como se você ou seu irmão fossem me dar netos. — Seu shufu deu de ombros, explicando. — Mais netos. — emendou ao ver a expressão desolada de Lan Sizhui, que lhe deu um pequeno sorriso.
— Estou rodeado de idiotas. — Jin Ling resmungou e foi em direção a sua família de Meishan.
Xichen o viu conversando com elas, e sentiu o rosto queimar de vergonha quando algumas olharam em sua direção com risinhos.
Não demorou para que Jin Rulan voltasse com o bebê nos braços.
— Pronto. Não precisa quase chorar por não conseguir segurá-lo. Não vá deixá-lo cair. — Avisou.
Mas Lan Xichen não estava chorando. Não é? Até checou seu rosto para ter certeza.
Quando deu por si, seus braços ganharam uma nova carga, quentinha e frágil.
Pequenos olhos violetas o encaravam com curiosidade.
— Olá, A-Cheng.
O bebê abriu um enorme sorriso.
— Lá. — Ele respondeu, mesmo não conseguindo pronunciar perfeitamente.
A dor que sentia abrandou quando o viu.
Naquele momento, a atitude de Jin Ling em aceitar e querer proteger aquele pequeno ser fez todo sentido.
Ali ele soube que morreria para protegê-lo.
***
— Você quer mais, Chengcheng? — Wei Wuxian tentou dar mais um pedaço de fruta picadinha para o bebê, mas ele negou e bocejou, se aconchegando nos braços de Zewu-jun.
— Está com sono. — Lan Wangji comentou, surpreendendo a todos. Não era comum que falasse tanto, mesmo que para atestar o óbvio.
Sem hesitar, ele tirou sua Guqin e começou a tocar algo para o menino relaxar.
Porém, ao vê-lo tocando, xiao Cheng o olhou encantado. E logo não parecia mais com sono.
Lan Zhan, ao vê-lo entretido, deu um mínimo sorriso, que foi mais do que um convite, para o pequeno que se aproximou para ver de perto.
A segunda Jade ficou um tanto apreensiva quando o menino bateu em seu braço, e se sentou em seu colo assim que o braço baixou o suficiente para que ele passasse.
Quando viu que Wangji estava demorando a tocar, o pequeno levantou sua cabeça e o encarou e falou algo que ninguém além dele próprio entendeu.
Wangji ignorou totalmente a expressão traída do irmão, que olhava com inveja para ele e o menino em seu colo.
— Acho que ele quer que toque, Lan Zhan.
E assim, a segunda Jade o fez.
— Você parece o pai dele, Lan Zhan. — Wei Wuxian falou, claramente encantado com a cena.
Lan Wangji sorriu ao pensar em como seria bom se cuidassem do pequeno.
Certamente ele ficaria melhor com eles do que ali com estranhos.
Seus devaneios acabaram quando o Regente Jiang se aproximou e o menino em seu colo se animou, quebrando totalmente a tranquila atmosfera em que estavam.
— Baba! — O menino gritou assim que o viu, querendo ir ao seu encontro.
E vendo que Lan Wangji não fazia qualquer movimento para ajudá-lo, Yu Jiuxin pegou o pequeno nos braços.
— Ei, moleque. — Ele o cumprimentou de volta. — Espero que tenha se comportado.
— Ele foi exemplar. — Lan Xichen comentou.
— Tem sempre uma primeira vez para alguém se comportar. — O regente comentou, fazendo cócegas no menino que ria. — Agradeço por fazerem companhia a ele.
— Ele continua aprontando muito? — Lan Sizhui perguntou, intrigado.
— Você não faz ideia. Alguém, e não vou citar nomes, o apresentou aos anfíbios dos lagos e agora ele acha que é amigo de todos eles.
— Toda criança precisa de animais de estimação! — Jin Ling disse, de modo defensivo.
— Ele fica colocando os pequenos coitados na boca, sem contar que demora para dormir à noite com o barulho dos que ele leva para o quarto. Então, quando quiser que ele tenha bichos de estimação aconselho a lhe apresentar a algo maior e que não coaxe. — Sugeriu, revirando os olhos e fazendo Lan Qiren rir. — Sorte que nossas aranhas estão sempre por perto de olho em tudo. — Falou com um sorriso, ao olhar para a segunda Jade, que por sua vez fez uma careta.
E realmente, depois que se despediram, Lan Xichen não pôde evitar seguir os passos do pequeno, que parecia contar empolgado para seu baba o que tinha feito até então.
***
No dia seguinte, várias seitas se despediram e finalmente começaram as comemorações com os civis.
As ruas estavam lotadas e havia várias barraquinhas com comidas para todos os gostos.
— Um tanghulu, por favor. — Pediu, e antes mesmo que pudesse sequer perguntar quanto custava, foi impedido.
— É aniversário do nosso Xiao Zongzhu. Todas as barracas de comida e brincadeiras já estão pagas. Só aproveite e torça bastante.
— Torcer?
— Nas provas. — A senhora lhe explicou. — Aqui. — Ela lhe deu uma pequena bandeira com o brasão do clã Jiang. — Para torcer pelo nosso Xiao Zongzhu.
E se ele agradeceu emocionado ao abraçar a bandeira, a senhora fingiu que não percebeu.
Demorou um tempo até que encontrasse os membros de sua família. Ainda bem que com suas roupas claras era razoavelmente fácil de distingui-los. Ruim mesmo era passar pela multidão de pessoas.
— Até que enfim chegou, Xichen-ge. Achei que ia perder a primeira prova.
Zewu-jun olhou para onde seu cunhado apontava e conseguiu ver o pequeno A-Cheng um tanto tenso na frente de Jin Rulan.
— Ele parece tenso.
— É porque o A-Ling soltou uns fogos agora pouco e ele se assustou.
Realmente tinha visto uns fogos há alguns instantes.
A primeira prova começou e consistia em levar um ovo cozido nas mãos até o ponto de chegada.
— Ele não entendeu muito a ideia da prova, não é? — Wei Wuxian comentou quando viu o menino comendo o ovo, ao invés de levá-lo.
De onde estava, ele conseguia ver Jin Ling se desesperando ao ver a cena.
Ele acenava insanamente na direção do menino que tinha até sentado para ficar mais confortável, o que arrancou gargalhadas do público.
Quando Jin Rulan viu que todas as crianças da prova tinham acabado, mas só o pequeno A-Cheng permanecia ali, ele abaixou a cabeça parecendo claramente derrotado.
Só se animou quando viu que o menino tinha ido até ele e lhe ofereceu o que restou do ovo.
Wei Wuxian estava envergonhado pelo desempenho do pequeno, mas isso não era compartilhado pelo público que suspirava pela doçura e inocência do menino.
— Você viu que fofo? — um civil comentou para sua companheira.
— Mal posso esperar para ver as próximas provas. — Ela vibrou e começou a aplaudir e assobiar, animando o menino.
Yu Jiuxin mostrou para o menino de onde estava vindo o barulho e os aplausos aumentaram quando o pequeno acenou, agradecendo.
A segunda prova foi na água, e não só Lan Xichen, mas quase toda a comitiva Lan, ficou receosa com relação ao perigo.
Desnecessariamente, já que cada criança era acompanhada de seu guardião designado, e o local era raso o suficiente para que elas ficassem em pé.
A regra era simples: nadar até o ponto de chegada a poucos metros dali.
— Vai, A-Cheng! — seu cunhado torceu quando viu o menino em disparada na frente de outras crianças, algumas até mais velhas.
— Ele é um nadador nato. — Lan Xichen comentou.
E era a mais pura verdade, já que aquela criança fazia com tanta facilidade o que ele adulto não sabia, nadar. Afinal, o Recanto das Nuvens ficava nas montanhas, por isso era raro que Lans soubessem nadar com maestria.
O público, já animado, foi ao delírio.
Jin Ling era o que mais torcia, balançando bandeiras, gritando e até jogando confetes.
E parecia uma prova ganha, pelo menos até que o pequeno A-Cheng avistou um de seus novos amigos anfíbios e rapidamente parou de nadar e ficou observando.
Dava para ver o Regente Jiang tentando convencer o menino a continuar a prova, sem sucesso. Ainda bem que estavam bem na frente.
Porém, quando Yu Jiuxin menos esperava, A-Cheng colocou o pequeno anfíbio na boca.
E, enquanto ele lutava com o menino para tirar o pequeno animal de sua prisão bucal, as outras crianças passaram e chegaram no ponto de chegada, levando a mais uma derrota do xiao Zongzhu.
— Mas será possível?! — Wei Wuxian esbravejou. Parecia pronto para atacar as outras crianças que ousaram passar na frente de seu irmão.
— Wei Ying! — Lan Zhan chamou seu marido que seguia com passos apressados até onde Jin Rulan e o regente Jiang discutiam.
— Se tem algum culpado por ele ter se distraído com um sapo é você, Jin Rulan! — Dava para ouvir o regente reclamando, ao limpar a boca do menino com a manga de sua veste.
— Era você que estava do lado dele! — Jin Zongzhu acusou.
— Que sabotagem foi essa, A-Ling?! Ele já tinha a vitória na mão! — Wei Wuxian chegou, claramente indignado e partindo para cima do sobrinho.
— Como eu vou controlar a quantidade de sapos na lagoa?! — O jovem retrucou bufando e com o rosto vermelho.
Os dois estavam tão absortos em sua discussão acalorada que sequer lembraram que aquilo nada mais era que uma festa infantil, onde pouco importava quem vencia e cujo único intuito era divertir as crianças e famílias que foram ali prestigiar seu Xiao Zongzhuo.
— CALEM A BOCA! — Yu Jiuxin esbravejou.
Só então repararam que o pequeno Zongzhu estava chorando, claramente assustado com o barulho e ferocidade dos dois alfas que discutiam.
Era de cortar o coração ver como o seu queixo tremia enquanto lágrimas grossas desciam pelo seu rosto.
Lan Xichen tentou se aproximar, mas Yu Jiuxin rosnou e quando Lan Xichen lhe olhou, viu que seus olhos estavam vermelhos. Olhos de um ômega selvagem.
Viu o ômega puxar o menino contra si, indicando que sua proximidade ali não era bem quista.
Lan Xichen se colocou entre ele e os outros como uma muralha e foi se afastando.
— O que está fazendo? — seu cunhado estranhou quando o viu recuar.
— Só acompanhe. — Respondeu, se afastando e mostrando o pescoço de forma submissa. Só aí que os outros se deram conta da situação e abriram espaço.
— Para onde ele está levando-o?! — Wei Wuxian fez menção de segui-los quando o regente pegou sua carga nos braços e saiu voando em sua espada.
— Não é da sua conta, Yiling Laozu. — Uma voz feminina disse num tom cortante, ao aparecer de repente em sua frente se colocando entre eles e a direção que os dois tinham ido. — Aproveite a festa.
E sem ter o que fazer, foi isso que fizeram.
Seu cunhado passou o tempo inteiro reclamando, e ameaçando ir atrás de seu irmão e só parou quando Zewu-jun e Lan Qiren o proibiram sob pena de expulsão do clã.
Afinal, estavam em Yunmeng e deveriam seguir as regras dali, por mais que estivessem preocupados com o menino.
— E se ele atacar meu Chengcheng? Não me olhe assim, é possível.
— Foi só uma reação, Wuxian.
— Reação bem exagerada, não acham? — falou, e apertou os olhos quando viu que Jin Ling parecia desconfortável. — Você sabe o porquê, não é, querido sobrinho?
— Não sei do que está falando. — Tentou desconversar.
— Você e eu sabemos que não irei parar de perturbar até que conte. — Wei Wuxian comentou com um sorriso sinistro nos lábios, ao jogar o braço em cima do ombro do sobrinho.
Jin Ling se desvencilhou como se o toque do outro o queimasse, e suspirou. Sabia que o lhe aguardava eram inúmeras horas de pentelhações se não falasse.
— Acho que reagiu assim porque já perdeu um filhote antes. — Decidiu, por fim, economizar seu tempo e sua paciência e contou.
Xichen sentiu um peso no estômago quando ouviu aquilo. E pelas expressões dos demais, não foi o único.
O ômega tinha considerado todos ali uma ameaça real ao seu novo filhote.
E levando em consideração que nenhum deles percebeu o incômodo do bebê e que a discussão só piorava, não é de se admirar que tenha chegado a essa conclusão.

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