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Death Wonderland

Summary:

A segurança nacional está em crise. O FBI já não está mais dando conta de tantos casos. O sistema carcerário está em crise, a criminalidade apenas cresce no país, e apenas mais casos aparecem, enquanto que o número de casos resolvidos diminui. Desesperado, o governo decide dar início a uma antiga iniciativa criada por um agente, onde os melhores agentes da cede de Nova York iriam agir, juntamente com..."Agentes especiais", para tentar reduzir a criminalidade no país e por ordem no sistema carcerário.
Derek fora um dos agentes designados para fazer parte da iniciativa, assim como seu parceiro Scott e seu tio Peter. O problema é que Derek teria que trabalhar com alguém que ele odeia desde a adolescência. Ele acaba descobrindo coisas a respeito do passado. Coisas que mudariam completamente sua vida.

Chapter 1: Crazy

Chapter Text

O carro negro com luzes azuis e vermelhas brilhando acima do farol e no topo do parabrisas corria pela avenida movimentada. Os carros que se encontravam na frente da “viatura” começavam a encostar nas calçadas quando ouviam o som da sirene aumentar, dando passagem para que cinco carros da polícia passassem com as sirenes cantando.

O carro preto liderava os outros, que eram diferentes do mesmo. Os carros eram brancos, com uma faixa negra na lateral, onde estava escrito o nome “Polícia” em branco. Os carros corriam em direção a uma área mais pública. Eles pararam em frente a uma loja de armas.

Assim que eles pararam os carros, um rapaz de casaco verde e capuz com cordão começou a correr. Alguns policiais desceram de suas viaturas e começaram a correr. O primeiro fora um moreno de olhos verdes que praticamente se jogou do carro assim que o rapaz começou a correr.

- POLÍCIA, PARADO! – gritou um dos polícias apontando a arma para o rapaz.

Com agilidade, o mesmo girou, disparando contra a polícia, que se abaixou por reflexo, no mesmo momento em que o giro do corpo do fugitivo era completado, formando um ângulo de 360 graus. O moreno de olhos verdes correu na direção do rapaz, que repetiu o mesmo movimento.

No momento em que o rapaz ergueu a arma, o moreno se jogou no chão, rolando no mesmo, antes de parar ajoelhado. O homem se levantou e correu na direção do rapaz, que agora ignorava completamente o mesmo, em função de correr.

- para que gritar “Parado”, se eles sempre correm? – pensou o moreno se certificando de fixar sua visão no rapaz de capuz verde.

O cara corria feito um louco, empurrando tudo para tentar bloquear o caminho de seu perseguidor. O moreno pulava, evitava e circundava todos os obstáculos tentando, ao máximo, encurtar a distância entre si e o fugitivo.

O rapaz derrubou um carrinho de supermercado, mas o moreno saltou o mesmo com um pouco de dificuldade. O rapaz jogou uma prateleira de ferro, onde jazia alguns jornais e revistas, mas o moreno circundou o objeto com agilidade. O rapaz empurrou um carrinho de bebê na direção do moreno, mas o mesmo começou a deslizar em direção a rua. A mãe da criança gritou ao ver o carrinho de seu filho seguir para a rua movimentada.

- merda – sussurrou o policial ao perceber que não teria outra opção.

O homem correu até o carrinho, segurando o mesmo antes que o mesmo chegasse até a rua. O moreno olhou para o carrinho, notando que a criança dormia no mesmo. A mãe do pequeno chegou com velocidade, indo direto para o filho, o retirando do carrinho.

O homem não ficou para ouvir os agradecimentos que a mulher lhe dirigiria e procurou o fugitivo com os olhos, o encontrando entrando em um beco um pouco mais a frente. O moreno de pele morena voltou a correr. Ao adentrar o beco, notou o fugitivo pulando uma grade que se encontrava no meio do estreito caminho.

- Derek, onde você está? – perguntou uma voz máscula no ponto em seu ouvido.

- Scott, ele está indo para a Franklin Ave – respondeu o moreno ouvindo um “entendido” do seu parceiro e correndo na direção da enorme lixeira, utilizando a mesma para se impulsionar e conseguir pular a grade com mais facilidade.

Assim que aterrissou no chão, o moreno desatou a correr. Derek, ao chegar na saída do beco, pôde ver o rapaz correr até o meio da rua. O rapaz se virou, apenas para ver Derek lhe fitar. O fugitivo apontou a arma para Derek, mas não pôde fazer nada, já que seu parceiro atropelou o rapaz.

O encapuzado rolou sobre o capô do carro e Scott freou. A arma caiu de um lado do carro e o rapaz do outro. Derek correu na direção do carro e tratou de apontar sua arma para a cabeça do rapaz. Scott algemou o rapaz, antes de levantar o mesmo.

- pra um terrorista você foi bem fácil de prender – falou Scott erguendo o encapuzado com certa brutalidade.

- para você foi fácil. Nem saiu do carro – falou o moreno de olhos verdes guardando a arma e indo ao outro lado do carro, pegando a arma do prisioneiro.

- eu sabia que você não ia pegar ele na corrida tão fácil – respondeu o moreno de queixo torto e logo as viaturas da polícia local chegaram. O moreno de queixo torto entregou o encapuzado para o policial e se voltou para o parceiro, que colocava a arma do criminoso num saco plástico entregue a si por outro policial.

- podem ter me pegado, mas meu brinquedinho vai pegar vocês – sorriu o encapuzado encarando os dois oficiais de terno e colete lhe encararem. Ambos se encararam, antes de sorrirem na direção do outro.

- se refere a bomba colocada na delegacia hoje pela manhã? Já desarmamos ela - questionou Derek, vendo o sorriso nos lábios do homem desaparecer.

- desgraçados – rosnou o homem antes de ter a cabeça empurrada para dentro da viatura.

- e agora? – perguntou Derek entrando no banco do carona do carro preto em que Scott adentrou.

- vamos para o escritório. O chefe quer dar uma palavrinha com a gente – falou o moreno de queixo torto fechando a porta do carro e ligando o mesmo.

- o que o Chris quer falar com a gente? – perguntou Derek encarando a rua pela janela do carro, assim que Scott acelerou.

- não. Estou falando do Deaton – respondeu Scott encarando o trânsito.

- o Deaton quer falar conosco? – perguntou o moreno de olhos verdes, surpreso.

- também estranhei, mas parece que o papo é sério. Ele quer a gente na sala dele o mais rápido possível – disse o homem mais novo encarando o mais velho pelo canto dos olhos, antes de voltar a se focar no asfalto.

- isso é bem estranho – sussurrou o moreno encarando o parceiro, que apenas deu de ombros.

- é o chefe, ele nunca fez muito sentido para mim – falou Scott encarando Derek rapidamente, sorrindo para o mesmo.

 

 

 

 

 

- VOCÊ SÓ PODE ESTAR MALUCO! – gritou Derek encarando o negro sentado elegantemente atrás da mesa.

- Agente Hale, sugiro que abaixe o seu tom – sugeriu Allan encarando o moreno de olhos verdes bufar irritado, passando as mãos pelos cabelos, os bagunçando.

- Isso é loucura, Deaton! – exclamou o moreno ficando de costas enquanto procurava tentar se acalmar.

- Hale, por favor, se acalme e me deixe explicar a situação novamente. Quem sabe assim você entende? – questionou o negro se levantando, também de maneira elegante.

Derek se virou irritado para o negro, enquanto via o mesmo lhe fitar com o mesmo semblante vazio de sempre. O Hale sentia uma vontade extrema de socar a face de seu chefe. Ele nunca sentiu tanta vontade de socar alguém na vida.

Sabe quando você vê que alguém está fazendo merda e você avisa que vai dar merda, mas a pessoa se negar a aceitar o óbvio e mesmo assim quer continuar e você sente uma vontade extrema de bater o cabeça dessa pessoa no chão até criar uma cratera?

Pois é, era assim que Derek estava se sentindo. O moreno de olhos claros julgava não ter ouvido uma idiotice maior do que aquela em toda a sua vida. Aquela sem dúvida nenhuma era uma péssima ideia. O homem encarou o seu superior no fundo dos olhos e sorriu com cinismo.

- entender o quê, Deaton? Acha que sou algum tipo de retardado? Hein? Acha que eu já não entendi que quer usar criminosos como investigadores? – perguntou o moreno batendo as mãos na mesa de Allan com força, antes de voltar a ficar de costas.

- Derek, pelo amor de Deus. Se acalme! – pediu Scott se aproximando do parceiro e apertando o ombro do mesmo.

- me acalmar? Scott, você ouviu o que ele disse? – perguntou Derek encarando o moreno de queixo torto começar a respirar fundo e de forma lente a sua frente, indicando que era para o homem se respirar fundo e se acalmar.

- Derek, eu sei que não concorda em nada com isso. Acredite, não é o primeiro nem último. Mas tem que tentar olhar pelo lado lógico, sobrinho – se manifestou Peter, ao lado da mesa de Allan Deaton, diretor da base de quântico de Nova York. Derek bufou irritado e jogou as mãos para o alto.

- Ah, mas é claro. Porque você viu muita lógica quando perdeu o seu distintivo, não é mesmo? – questionou Derek com ódio encarando o loiro. O Hale viu no fundo dos olhos de seu tio a mágoa crescer no loiro, mas o mesmo não demonstrou nada com o rosto ou o corpo. Uma habilidade que era bastante admirada entre os agentes por ser muito rara.

- Hale, não vamos envolver outros casos no assunto – disse Chris Argent, que estava sentado em uma das cadeiras da sala de Deaton ao lado de sua filha, Allison Argent. A mulher estava sentada elegantemente ao lado do pai, enquanto encarava os dois agentes em pé no canto da sala.

- Tinha que vir de você uma ideia estúpida dessas. Meu Deus, qual é o teu problema, tio Peter? Ficou louco? – questionou o moreno encarando o loiro, que continuava a lhe encarar sem expressar o seu típico ar de superioridade.

- as mentes brilhantes são consideradas loucas – respondeu o loiro encarando o sobrinho com o seu típico sorriso vitorioso, mas Chris, Allan e Allison conseguiam ver a mágoa nos olhos do loiro.

- por que resolveram ouvir essa ideia estúpida do meu tio? Ele não trabalha mais para Quântico – questionou o moreno de olhos verdes encarando o afrodescendente da sala.

- na verdade, seu tio nos deu essa ideia antes do caso em que retiraram o distintivo dele. Mas todos acharam um absurdo na época, então a iniciativa fora negada – respondeu Allan encarando o moreno de olhos verdes lhe fitar curioso. O Hale parecia bem mais calmo do que antes.

- e porque diabos estão aceitando essa ideia ridícula agora? – perguntou o moreno cruzando os braços e encarando o superior de seu chefe.

- devido as falhas no sistema carcerário e ao número crescente de fugas de prisões e casos que não conseguimos resolver – explicou Chris encarando o moreno de olhos verdes lhe fitar confuso.

- como assim os casos que não conseguimos resolver? – perguntou Scott fitando o seu chefe que suspirou.

- a nossa base é uma das poucas que tem conseguido resolver seus próprios casos. Ainda pegamos alguns que fora mandado para outras bases, pois elas não conseguiam achar uma solução sólida ou um jeito de capturar o culpado – explicou Allan encarando Scott e Derek que pareciam bastante surpreso com aquela informação que lhe fora dada.

- está dizendo que o nosso sistema está indo abaixo? – perguntou Scott encarando o Deaton, que lhe fitou com um pouco de decepção do olhar.

- é exatamente isso. O conselho achou que seria uma boa hora para entrarmos em desespero e decidiram ativar a iniciativa criada por Peter – respondeu Chris se levantando e caminhando até a mesa de Allan, pegando algumas pastas que jaziam ali.

- mas isso é muito imprudente. Se nosso sistema carcerário já está em crise, por que facilitar a fuga liberando os autores dos alguns dos nossos casos mais difíceis? – perguntou o moreno de queixo torto encarando os três homens mais velhos.

- de fato, seria bem estúpido libertar alguns dos prisioneiros mais difíceis de se prender apenas para tentar pegar mais – confessou Allison se erguendo se aproximando dos dois agentes mais jovens.

- e você é...? – perguntou Derek encarando a mulher.

- Allison Argent, não sou do departamento de vocês – respondeu a mulher estendendo a mão para os dois morenos ao seu lado. Derek apertou a mão da mulher, enquanto estreitava os olhos para ela.

- Argent? É a mulher do chefe? – perguntou Derek encarando a mulher sorrir, enquanto estendia a mão para Scott.

- eu sou filha dele – respondeu a mulher e Scott e Derek encararam Chris com surpresa.

- se não é do nosso departamento, o que faz aqui? – perguntou Scott encarando a mulher colocar uma mecha do cabelo atrás da orelha.

- a iniciativa criada por Peter inclui a contribuição de agentes de várias áreas. Allison é uma especialista em armas e táticas de captura... – falou Allan encarando os três jovens agentes. Scott tomou uma expressão confusa.

- você criou uma iniciativa ou um batalhão do exército? – perguntou o homem encarando o loiro, que bufou irritado com a interrupção do moreno.

- mas ela também é bastante experiente como perfiladora e agente de campo, senhor McCall – respondeu o loiro cruzando os braços na frente do peito.

- Derek e Scott são ótimos agentes de campo e tem experiência em algumas capturas bastante complicadas. Um bom histórico para serem qualificados para a iniciativa – falou Chris encarando o loiro.

- foi por isso que os indicou para a iniciativa? – perguntou Peter encarando o sobrinho fixamente, sendo correspondido da mesma maneira.

- sim. Creio que ambos sejam uma boa aquisição a sua equipe – respondeu Chris encarando o olhar incrédulo de Derek.

- “Sua equipe”? – perguntou Derek encarando os três mais velhos se moverem ao redor da mesa. Allan coçou a garganta antes de encarar o Hale.

- Estamos ativando a iniciativa, mas achamos melhor colocar a mente por trás dela como um dos líderes da equipe – disse o Deaton encarando o Hale fitar Peter surpreso.

- e quem será o outro líder? – perguntou Scott encarando os homens se fitarem antes de encararem o trio.

- achamos que Derek seria uma boa opção, embora já esperamos que ele passe a descordar bastante de algumas coisas – disse Chris encarando o moreno de olhos claros menear positivamente.

- algumas não, tudo – comentou o moreno cruzando os braços na frente do peito.

- Derek, entendemos o seu lado. Também achamos que isso pode gerar um erro gravíssimo, mas... Foi seu tio Peter que criou essa iniciativa. E acredite, já vi muitas coisas que no olhar geral só resultava em merda, que seu tio transformou em ouro – falou Chris encarando o moreno de olhos verdes lhe fitar com intensidade, como se o alertasse para medir suas palavras.

- Peter sempre foi muito astuto e bastante visionário. Eu confio nele. Se essa iniciativa, ao seu ver, irá nos favorecer, então dou o meu voto positivo – argumentou Allan encarando o loiro, que meneou a cabeça em sua direção, na forma de agradecimento.

- então me explica o seguinte: Essa nova divisão será formada só por nós? – questionou Allison encarando o loiro, que fora fitado por todos.

- Não. Na verdade, nós seremos apenas metade da equipe – disse o loiro caminhando até a mesa de Allan e pegando algumas pastas finas e entregando-as a mulher. Ele repetiu o mesmo processo com Scott e Derek.

- esses foram os membros selecionados por Peter na época. Mas fizemos algumas substituições. Alguns não estão mais vivos, outros foram considerados pelo conselho como muito instáveis para a equipe – explicou o Deaton encarando os três folhearem as pastas em suas mãos.

- Você só pode estar de brincadeira. Eu prendi esse cara. Ele é um dos seres humanos mais impossíveis de se lidar. Ele só obedece as leis da natureza – comentou Scott encarando a foto do primeiro nome da lista.

- entendemos que vocês não vão gostar nenhum pouco de trabalhar com eles, por vocês serem o motivo deles estarem presos, mas temos que tentar – explicou o Argent encarando os três agentes lhe fitarem sério.

- precisamos disso. Necessitamos dessa divisão. Se ela der resultados positivos... ela vai crescer, mas será a única. Ela é muito arriscada para sairmos reproduzindo ela por aí só por que uma deu certo – afirmou o Deaton voltando a se sentar elegantemente em sua cadeira.

- entendo. Mas com o que vamos contar para fazê-la funcionar? – perguntou Allison encarando os três homens a sua frente.

- serão disponibilizados poucos recursos. Ainda não colocamos muita fé de que ela vá dar certo – explicou o Deaton unindo as mãos e as apoiando em sua mesa.

- entendo – meneou a Argent enquanto voltava a analisar as fichas dos membros da equipe. Seu semblante mudou por um momento, ato que não passou despercebido por Chris.

- onde iremos atuar? Digo, onde será a base? Qual a nossa fronteira de atividade? – perguntava Scott, enquanto permanecia a analisar as fichas dos outros membros daquela divisão.

- já está tudo resolvido, Scott. Sua base já foi providenciada em u prédio não muito longe daqui. Eu gostaria que fosse aqui, mas infelizmente não podemos arriscar a colocar esses caras em nossa base primordial. – respondeu Chris encarando o seu antigo subordinado.

- e quanto a área de atuação... Vocês irão atuar em nível nacional – respondeu Allan causando espanto nos três agentes. Allison até se remexeu desconfortada na poltrona.

- está me dizendo. Que uma divisão recém criada, não testada, com poucos recursos e com riscos enormes de fracassos, fracassos intensos, devo acrescentar, foi designada par atuar em nível nacional? – perguntou a mulher embasbacada.

- isso apenas para demonstrar o nosso desespero à vocês – falou Chris encarando a filha, que lhe fitou surpresa.

- por isso esperamos que aceitem trabalhar na divisão. Vocês são uns dos melhores no que fazem. E se eles colaborarem, com o tempo, se tornarão uma ótima divisão – anunciou Allan encarando os três mais jovens.

- realmente parece assustador saber que vamos agir com poucos recursos, tendo o país inteiro como campo de atuação. Mas o conselho liberou alguns recursos bastante interessantes – anunciou Peter chamando a atenção dos três para si.

- vocês terão um laboratório aqui em quântico com analistas ao seu dispor. É só mandar o que querem que seja analisado, que será feito o mais rápido possível. Daremos prioridade à vocês. – explicou o negro voltando a se levantar.

- Também fornecemos um analista para a base de vocês, que ficará encarregado de fazer contato entre vocês quando precisarem se separar em grupos. Terão um jato para poderem se mover pelo país rapidamente. Acreditem, isso foi difícil de conseguir, mas o conselho achou válido, considerando o seu campo de atuação – argumentou Chris encarando os três agentes se fitarem antes de voltarem a encarar os mais velhos.

- eu aceito – respondeu Allison encarando os três homens suspirarem um pouco aliviados.

- sério? – perguntou Scott vendo a morena menear enquanto se virava para lhes encarar.

- será uma boa experiência. Começaremos nossa própria divisão, a única do nosso tipo, atuaremos em nível nacional, com pessoas complexas. Será uma experiência e tanto – explicou a morena voltando a folhear a pasta em suas mãos.

- não teme o que o fracasso possa gerar em sua carreira? – perguntou o McCall encarando a mulher desviar os olhos da papelada para lhe encarar.

- minha carreira é feita de sucessos. Um fracasso será apenas uma entrelinha no meio do currículo. Sem contar que eles nos consideram os melhores. Se não conseguirmos colocar isso para funcionar, ninguém conseguirá. E se não aceitarmos, o conselho designará novos agentes – explicou a mulher encarando os dois homens menearem em compreensão.

- adorei essa mulher – falou Peter sorrindo ladino, Allison lhe fitou um pouco, antes de sorrir vitoriosa e voltar sua atenção para Derek e Scott.

- sem contar que nós prendemos esses caras. Foi um trabalho árduo demais para deixarmos eles fugirem das mãos de novatos. Se eles serão liberados da cadeia, momentaneamente, por um motivo, devemos ficar de olho neles – concluiu a Argent, enquanto caminhava para o lado de Peter.

- e vocês dois? – perguntou Allan encarando os dois morenos ficarem pensativos.

- o que levou vocês a darem início a essa iniciativa hoje? – perguntou Derek encarando os três mais velhos, vendo os mesmos sorrirem. Os três sabiam que aquele era o modo de dizer “estou dentro” a la Derek Hale.

 

 


Enquanto isso, num presídio de segurança mínima.

Um homem estava trabalhando na fabricação de placas de automóveis normalmente. Bom, normalmente ao seu jeito. Ele analisava se havia defeitos nas placas, enquanto encarava a numeração das mesmas, procurando algum detalhe na tinta que não fosse agradar seus superiores e separando as placas em duas pilhas: pares e ímpares.

Ele era moreno, olhos castanhos escuros, pele morena, barba por fazer, corpo atlético. Assim como a maioria dos homens dali, vestia um macacão cinzento manchado pelo trabalho e pelo estilo de vida na prisão.

De vez em quando, ele olhava ao redor, reparando no movimento dos outros homens ali presentes, tanto guardas quanto presidiários. Ao ver que ninguém reparava em si, o homem pegou uma placa qualquer e a forçou contra borda da esteira de metal, fazendo a chapa de metal entortar, danificando a placa.

O homem caminhou normalmente até um objeto quadrado e grande que ficava ali perto. Aquilo se parecia com uma espécie de lixeiro. O homem se abaixou um pouco, como quem olha aonde vai colocar a mão. Ele olhou ao redor, notando que, novamente, ninguém reparava em si. Ele abriu um compartimento na parte da esteira que passava ao lado daquele compartimento de “placas defeituosas” e colocou a placa defeituosa ali.

O homem tampou o compartimento onde colocara a placa e voltou para o seu posto e voltou a trabalhar. Assim que o trabalho acabou, um policial designou um homem gordo para levar o lixo para fora e limpasse o local. Ele se intrometeu, dizendo que faria o serviço. O policial não estranhou, ele costumava fazer aquilo todos os dias.

O homem limpou rapidamente todo o local e voltou o seu olhar para as duas portas que haviam no local. Uma ao seu lado e a outra um pouco distante. Uma levava ao presídio, diretamente para o corredor que separava aquele local do refeitório, a outra levava para o lado de fora do prédio, onde ficavam as lixeiras para a coleta.

Ele pegou a placa que guardou durante o trabalho e a desamassou. Ele pegou um pequeno amontoado de placas, no mesmo compartimento onde guardara aquela placa e amarrou a mesma as outras com um barbante. Ele amarrou firmemente, de modo que as placas formassem uma barreira de chapa de metal, que impedisse qualquer um de ver o que havia atrás delas.

Ele dobrou ao amontoado de placas e o colocou dentro da lixeira. Ele pegou o saco de lixo e o levou para fora, se aproximou de uma enorme lata de lixo e jogou o saco plástico lá dentro. Olhou para o lado e viu que havia um caminhão de entregas ali. Ele estava quase partindo. Uma mulher com a farda da empresa do caminhão conversava animadamente com os guardas, que davam total atenção a mulher, ignorando completamente qualquer coisa que ocorria atrás deles.

Aproveitando a situação, o moreno pegou o amontoado de placas e correu na direção do caminhão, tomando o cuidado para não chamar a atenção dos guardas, que ainda conversavam animadamente com a mulher loira, enquanto o parceiro de entrega da mesma, conversava com um guarda, que assinava uma prancheta que fora entregue pelo rapaz da entrega.

Após tudo pronto, o caminhão saiu da prisão, parando no portão principal, para a revista. Um dos policias segurava um objeto parecido com um detector de metais, mas no lugar e um aparelho sofisticado, o que se encontrava na outra ponta do objeto era um espelho redondo, o que lembrava e muito um utensílio de consultório odontológico. O homem passava o espelho por debaixo do carro para ver se nenhum preso havia se pendurado embaixo do caminhão para fugir do mesmo.

Algo que chamou e muito a atenção do guarda fora o fato de encontrar um conjunto de placas de chapa de metal usadas para identificar carros e caminhões embaixo do veículo. Ele estreitou os olhos para aquilo. Julgou ser algum tipo de tráfico, um bem idiota, ou apenas um remendo mal feito no caminhão para consertar algum erro e liberou o mesmo. Não poderia impedir o veículo de sair apenas por causa daquilo.

No interior do veículo, durante toda a viagem, o motorista cantava a sua parceira, tentando leva-la a um jantar romântico. Ele já estava há muito tempo nisso. Ela era bonita, o que chamava e muito a atenção dele, sem contar que ela era engraçada. Quando estavam um pouco distantes do presídio, eles ouviram um barulho estranho no caminhão.

O motorista parou o caminhão, pedindo a Deus que não fosse nada. Eles estavam no meio do nada. Só para conseguir sinal de celular seria uma batalha enorme, quem dirá conseguir ajuda para concertar o caminhão. Quando ele desceu, ouviu o som de algo metálico atingir o chão. Ele deu a volta no veículo, analisando o mesmo.

Ao chegar na traseira do caminhão, ele fora surpreendido por um homem de cabelos negros e macacão da prisão da qual ele acabara de fazer uma entrega. Ele tentou gritar para sua colega de trabalho correr, mas fora impedido pela mão do homem, que tapou sua boca e forçou a sua cabeça para o lado com força, quebrando o seu pescoço facilmente.

A mulher percebeu que o amigo estava demorando demais. Ela olhou o relógio, olhou pelo retrovisor, mas nada. Ela já estava se estressando com aquilo, não queria perder tempo ali, no meio do nada. Ela foi surpreendida quando um moreno com uma roupa cinzenta apareceu ao seu lado, pela janela do carro. Ela o encarou com medo, sabia que era um presidiário.

A loira sentiu os cabelos de sua nuca serem puxados com força, quando a mão do homem se fechou ali. Ele empurrou a cabeça da loira contra o painel do caminhão, fazendo a mesma bater com o nariz e a testa com tamanha força que causara um corte no nariz da mesma, que desmaiou imediatamente.

 

Chapter 2: Earrings

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- cara eu nunca pensei que iria entrar nesse lugar – disse Scott enquanto todos estavam no elevador da base do FBI em Washington. Eles haviam utilizado o jato disponibilizado pelo conselho e conseguiram chegar em poucos minutos depois da conversa com Deaton.

Ah, não. Eles não vieram apenas dar uma olhada nos novos “parceiros”, não, não. A reunião com Deaton fora interrompida pelo aviso do primeiro caso deles como essa nova divisão. Um homem havia fugido da prisão durante a reunião dos agentes.

Derek encarava o tio, a frente de todos no elevador. Ele não conseguia entender qual era o problema do conselho. O seu tio fora acusado de corrupção e ocultação de homicídio, por que colocar alguém assim para trabalhar em nome do governo novamente?

Derek se lembrava do tempo em que era adolescente e, em uma discussão familiar chamou o tio de corrupto. No mesmo instante sua mãe o repreendeu, mas o moreno argumentou com os dados exibidos no noticiário. E fora naquela noite que ele recebera um tapa na face das mãos macias e suaves de sua mãe. Ele nunca entendeu o motivo de sua mãe sempre defender Peter.

O loiro tinha uma aura que indicava claramente o tipo de ação que poderia ser tomada por aquele homem. Mas Talia nunca permitiu que nenhum de seus filhos pensasse em se quer cogitar a ideia de desconfiar do tio. Derek sempre julgou aquele ato da mãe como atitude de gêmea mais velha, que não conseguia ver a verdade sobre o irmão mais novo.

Eles haviam acabado de falar com o conselho, informando que estavam indo buscar os outros integrantes da divisão, claro, se eles aceitassem os termos exigidos e os prêmios a serem entregues.

- hunf, um policial com medo de prisão? – perguntou Allison encarando o moreno de queixo torto que lhe fitou com uma expressão de “é sério?”.

- eu não tenho medo, falou? Eu só nunca pensei que chegaria a estar numa prisão de segurança máxima, ainda mais indo libertar algum prisioneiro – explicou o homem colocando as mãos no bolso enquanto encarava a mulher que lhe encarava dos pés à cabeça.

Logo as portas do elevador se abriram e eles saíram caminhando até um carro preto, com sirenes ao lado dos faróis. Derek se adiantou a ficar como motorista, enquanto Scott se sentava ao seu lado e Peter e Allison se sentavam atrás.

O moreno de olhos claros ajustou o retrovisor, aproveitando para encarar o tio, que fitava a janela desinteressadamente. O Hale bufou antes de dar a partida e acelerar para a prisão de segurança máxima. Chegando na mesma, eles desceram do veículo, se apresentaram e tiveram sua entrada liberada. Eles adentraram a prisão, ignorando os olhares de alguns criminosos que estavam no pátio, no seu horário de luz do Sol.

Todos caminharam até a ala feminina, se apresentando para os guardas e os acompanhando até uma sala mais privada. Peter deu um nome para um dos guardas e o mesmo se encarregou de ir buscar a prisioneira que queriam. Não demorou muito para que o guarda voltasse com uma morena muito parecida com Allison. A morena se sentou na cadeira reservada para si, do outro lado da mesa, enquanto apoiava as mãos na mesa de metal, exibindo as algemas que a prendiam.

Allison engoliu em seco, encarando a mulher a sua frente. A morena demorou para analisar o local, mas assim que o fez, um sorriso surgiu em seus lábios.

- Ora, Ora, vejam só. Se não é a minha pequena e adorável sobrinha – falou a mulher, sorrindo sádica enquanto encarava a agente Argent fixamente. Derek e Scott no mesmo instante encararam Allison com um olhar surpreso. Já a morena mais nova, fitava a mais velha com seriedade.

- tia Kate –fora tudo o que Allison respondera, enquanto repetia a atitude da mulher, mas sem algemas em seus pulsos.

- à que devo a honra? – perguntou a mulher encarando a sobrinha.

- viemos lhe fazer uma proposta – falou Scott encarando a mulher, que lhe fitou com desdém.

- e por que acham que eu quero aceitar alguma proposta? Não me lembro de pertencer a nenhuma sociedade criminosa para poder denunciar ela – falou a mulher ajeitando o cabelo atrás da orelha.

- não queremos que denuncie ninguém. Queremos que se junte a nós – falou Derek com cara de poucos amigos. Quando a mulher colocou os olhos no moreno de olhos esverdeados, um sorriso surgiu em seus lábios.

- olá, bonitão – cumprimentou Kate tomando um ar ousado, enquanto Derek revirava os olhos.

- eu mereço – sussurrou encarando a mulher.

- talvez eu esteja disposta a escutar a proposta de vocês, sabe? Mas só se você vier me fazer uma visita íntima – brincou a mulher em um tom provocativo, enquanto mordia o lábio inferior.

- queremos te tirar daqui – Allison foi direto ao assunto, fazendo a mais velha voltar um olhar surpreso para si, antes de começar a gargalhar.

- ah, essa foi boa. Allison, você nunca perde o seu senso de humor, não é mesmo? – perguntou a mulher encarando a sobrinha enquanto tentava se recuperar de sua crise de riso. Mas a gargalhada morreu em sua boca ao perceber que todos lhe encaravam com seriedade. – espera, isso é sério? – perguntou a mulher e Peter coçou a garganta.

- Kate Argent, nós somos do FBI. Estamos com uma nova iniciativa, criada por mim, que consiste no uso de algumas das maiores mentes criminosas para os nossos fins. E você foi selecionada para a iniciativa – falou o loiro se aproximando da mulher cruzando os braços na frente do peito, enquanto a morena lhe fitava seriamente.

 O silêncio que se seguiu fora um pouco estranho. Ninguém sabia se Kate estava a processar tudo ou apenas não sabia o que dizer. A mulher olhou para cada um dos agentes antes de colocar as costas ao encosto da cadeira em que se encontrava e cruzar os braços, fazendo uma expressão julgadora.

- e por que acham que eu os ajudaria? – perguntou a mulher voltando o seu olhar para Peter. Ela o reconhecia, aquele homem fora um dos que haviam lhe prendido. Ela se lembrava perfeitamente do ar despretensioso do homem.

- digamos que temos algo para lhe oferecer em troca de sua ajuda – falou Peter sorrindo vitorioso na direção da mulher que demorou um pouco para corresponder o sorriso do homem a sua frente.

 

Eles ordenaram para que os policiais encaminhassem Kate para uma van que fora disponibilizada para a transferência da mulher. Em seguida, o grupo caminhou pelos corredores da prisão até chegar na ala masculina do grande presídio. Eles entraram no mesmo e puderam ter uma boa visão dos presos em seu momento de lazer na área interna da prisão.

Haviam homens jogando pocker em algumas mesas, outros faziam queda de braço. Alguns outros apenas conversavam. Outros apenas fumavam ou procuravam alguém para poder satisfazer suas necessidades. Nos cantos, os guardas devidamente armados, assim como nos andares onde se localizavam as selas daquela ala.

Derek achava aquilo tão repulsivo. Não era só ele, Allison e Scott também torceram o nariz quando sentiram o cheiro podre do local. Aquela ala fedia a maconha e suor. Peter varreu os olhos pelo local até encontrar um homem careca com camisa rasgada e uma tatuagem de urso no braço esquerdo.

O homem disputava uma queda de braço com um homem negro, também careca de aparência velha. O homem com tatuagem de urso ganhou a disputa, batendo com força na mesa antes de se erguer e rugir para o homem a sua frente, o qual suspirava irritado, retirando uma quantia em dinheiro de sua calça e jogando para o homem a sua frente que rugia como um louco.

Peter tocou o peito de um dos guardas com as costas da mão, chamando a atenção do mesmo. O loiro apenas apontou para o homem com a tatuagem de urso no braço e o guarda sinalizou para os outros e todos caminharam na direção do prisioneiro. Os guardas tocaram o ombro do prisioneiro, que se virou para eles bruscamente, rugindo para os mesmos.

- nos acompanhe – falou um dos guardas mostrando as algemas para o homem, que lhe encarou por um tempo, antes de dar as costas e colocar as mãos para trás.

Quando o homem adentrou a sala, a sua raiva subiu ao avistar um moreno de olhos claros a sua frente. Ele tentou avançar contra o moreno, que se encontrava sentado na cadeira, encarando a cena com tédio, mas dois guardas o seguraram com muito esforço.

-HALE, EU VOU TE QUEBRAR AO MEIO SEU DESGRAÇADO – rosnava o homem enquanto tentava se soltar dos guardas. Derek apenas sorriu cínico.

- é bom te ver também, Ennis Bishop – disse Derek encarando o enorme homem a sua frente.

- o que faz aqui, seu desgraçado – Ennis ainda rangia os dentes de raiva para o agente a sua frente.

- eu vou ser direto, já que seu cérebro pequeno não irá colaborar comigo – anunciou apoiando as mãos sobre a mesa de metal, enquanto Ennis rosnava para o comentário feito.

- eu vim aqui te soltar – falou o moreno e o homem de pele morena a sua frente entrou em choque.

- como é? – perguntou o homem relaxando sobre a cadeira para tentar entender o que estava acontecendo.

- nós estamos montando uma nova equipe. E precisamos de alguns criminosos nela. Escolheram você como um deles – explicou o Hale, encarando o homem a sua frente.

- e por que eu ajudaria você? – perguntou o careca voltando a rosnar para o moreno.

- por que você não vai mais precisar ficar aqui, cercado por idiotas, com pouco tempo no pátio – respondeu o moreno encarando o homem a sua frente sorrir.

- duvido muito que me liberem assim, do nada – falou Ennis sorrindo desafiador na direção do moreno a sua frente.

- você não será solto. Não de vez. Você e os outros serão enviados para uma prisão de segurança mínima, onde nós poderemos ter mais acesso a vocês – disse Allison encarando o homem lhe fitar atenciosamente.

- vocês irão sair da prisão sempre que um caso for entregue à nossa divisão. Irão investigar junto com a gente e depois voltarão para a prisão – disse Scott tomando a atenção do homem a sua frente.

- entendi – respondeu o homem encarando Derek com um sorriso perverso.

- nem vem, haverá regras lá fora – disse o moreno de olhos claros.

 

Os guardas levaram Ennis dali para uma outra van, onde ele seria transferido para o presídio de segurança mínima de Maybelle, em Nova York, assim como Kate Argent. Agora, a porta da sala fora aberta e um loiro de cabelos cacheados adentrou a sala calmamente. Ele tinha uma aparência jovial, porte atlético, aparentava ter a mesma idade do agente de queixo torto, o qual estava sentado na mesa, encarando o loiro.

O homem caminhou calma e lentamente até o assento vazio e se sentou no mesmo. Ele sorria divertido ao ver quem se encontrava sentado à sua frente. Assim como Scott, o loiro levou suas mãos à mesa, as apoiando ali, exibindo as algemas que lhe prendiam. O loiro sorriu mais ainda ao ver o desconforto de Scott com tudo aquilo.

- olha só. Alguém lembrou que eu existo – falou o loiro em um tom divertido enquanto desviava os olhos do rosto do moreno de queixo torto para os outros agentes ali na sala.

 - e quem é essa galera toda? – perguntou vendo os três agentes de braços cruzados atrás do moreno de queixo torto.

- Isaac, eu quero lhe fazer uma proposta – anunciou o McCall engolindo em seco. Ele realmente estava incerto sobre ter Isaac Lahey na equipe.

- hm? Casamento? Dispenso, sou novo demais. Quem sabe daqui a uns anos no futuro? – respondeu o loiro mais novo do recinto e Peter se segurou, assim como os guardas atrás de Isaac, para manter o sorriso em seu interior.

- isso é um assunto sério, Isaac – falou Scott cruzando os braços e encarando o loiro, que passou a lhe fitar em silêncio.

- estamos aqui para tirar você daqui – explicou Allison encarando o loiro de braços malhados lhe fitar pelo canto dos olhos.

- e por que fariam isso? – perguntou o loiro encarando o McCall fundo em seus olhos.

- precisamos de sua ajuda – falou Derek vendo o loiro repetir o mesmo ato com Allison, agora consigo.

- e por que eu deveria ajudar vocês? – perguntou o loiro encarando Scott novamente.

- porque se o fizer, vamos de tirar da segurança máxima e colocar em Maybelle, em Nova York, que é uma prisão de segurança mínima. Você terá direito a TV, e a outros benefícios que não existem aqui – argumentou Peter se aproximando e se sentando na mesa de metal, para encarar o loiro melhor.

- me parece razoável. Me conte mais – falou o loiro encarando o loiro maior.

- você irá trabalhar conosco. Sempre que precisarmos de sua ajuda, iremos lhe tirar da prisão até resolvermos o caso. Depois, você irá retornar para Maybelle – falou Peter encarando o loiro, que sorriu com a ideia.

- e o que acontece se resolvermos o caso? – questionou o loiro e Scott se moveu, chamando a atenção do mesmo.

- nós tiramos um mês de sua pena a cada caso resolvido – respondeu o McCall e o loiro lhe fitou sério.

- interessante – respondeu encarando o moreno de queixo torto, que lhe estendeu a mão.

- temos um acordo? – perguntou vendo o loiro encarar sua mão com seriedade, antes de a ignorar completamente e encarar Peter nos olhos.

- eu aceito – respondeu o loiro menor e o maior sorriu vitorioso, que irritou e muito o moreno de olhos claros no local

Agora, Derek encarava as costas do tio com seriedade, enquanto Peter cantarolava alguma música que o moreno de olhos claros não conseguia identificar qual era. Peter se virou para encarar Scott, que fitava a telinha que indicava em qual andar eles estavam da ala subterrânea.

Sim, era uma prisão com uma área subterrânea. Pelo menos a ala utilizada como solitária pelo FBI. Eles julgavam que um andar de prédio exposto como um prédio comum seria muito arriscado, visto que grande parte ali era associada a grandes sociedades criminosas, que poderiam querer resgatar os seus a qualquer custo dependendo do seu valor.

- caramba. Vamos mesmo entrar na ala das solitárias? – questionou Scott, encarando a porta em tensão.

- não chega a ser grande coisa, se quer saber – comentou o loiro voltando a encarar a porta do elevador e logo o mesmo parou.

- quem é o próximo? – perguntou Allison quando todos começaram a sair do elevador e passaram a caminhar por um corredor vazio, com apenas guardas ali, os quais mexiam em seus celulares, ou simplesmente fumavam, ou liam um livro.

- um cara que será uma aquisição interessante – respondeu Peter quando eles chegaram a um guarda que lia um livro qualquer, o homem fechou o livro rapidamente, antes de se virar para a porta atrás dele.

O homem puxou um pequeno gancho que havia ali para o lado e uma parte pequena da parede deslizou, revelando um sensor, uma tela pequena e um teclado com números. O homem passou um cartão que estava preso ao seu pescoço pelo sensor e a tela se acendeu em uma luz verde. O guarda digitou um código curto antes de todos ouvirem um bip vir do aparelho no qual o guarda mexia e logo eles puderam ouvir o som de travas se mexendo atrás da parede.

Não demorou muito para que a porta se abrisse por dentro, revelando um outro guarda que, assim como os guardas do corredor, carregava um fuzil preso ao corpo. O homem deu espaço para os quatro agentes passarem, e foi quando eles puderam ver uma enorme caixa transparente, com algumas partes em vermelho.

A caixa era cercada por quatro guardas, todos muito bem armados. Os guardas encararam os quatro agentes, que os encararam de volta, antes de desviarem o olhar para a caixa transparente com partes vermelhas. A mesma era feita de metal e vidro, ambos muito resistentes, capazes de aguentar uma chuva de balas, sem danificar nada que esteja dentro, ou fora, caso o ataque venha de dentro.

Scott, Derek e Allison ficaram impressionados ao verem, no centro da caixa, um homem usando a roupa da prisão, mas esta possuía capuz. O homem estava sentado em uma cadeira de metal que se encontrava no centro da caixa. Ele folheava um livro qualquer, ignorando completamente os visitantes.

- Vernon Boyd – falou Peter, tentando chamar a atenção do homem para si, mas o mesmo continuava a ler seu livro.

- o que quer? – perguntou o homem dentro da caixa passando a página do livro.

- posso te chamar só de Boyd? Vernon é meio estranho – questionou Peter e os três atrás de si lhe lançaram olhares questionadores.

- eu agradeceria por isso – respondeu Boyd ainda encarando o livro.

- queremos lhe fazer uma proposta – disse Derek encarando o homem na caixa fechar o livro e o colocar na cama que havia ali dentro, antes de retirar o capuz, revelando sua pele negra, e encarar os quatro nos olhos.

- e o que quer de mim? – perguntou o negro vendo o loiro da equipe se aproximar, ficando bem próximo do vidro da caixa.

- queremos que se junte a nós – respondeu o loiro encarando o negro lhe encarar questionador.

- a que se refere? – perguntou cruzando os braços.

- estamos montando uma equipe, cujo objetivo é capturar fugitivos e criminosos, usando algumas mentes criminosas para isso – respondeu o loiro e logo Derek se aproximou.

- em troca de sua ajuda nos casos, lhe tiraremos desta prisão, o transferindo para o presídio de Maybelle... –o Hale fora cortado.

- o de segurança mínima? – perguntou o negro encarando o moreno de olhos claros.

- esse mesmo. E ainda por cima, a cada caso resolvido, iremos descontar um mês de sua pena – continuou Derek encarando o negro lhe fitar sério, parecia pensativo.

- então, estão querendo que eu seja uma espécie de policial? – perguntou o negro encarando os dois a sua frente.

- exatamente – respondeu Peter colocando as mãos dentro dos bolsos do casaco que usava.

- devo supor que existam regras – disse Boyd cruzando os braços diante do peito.

- para um cara que cresceu nas ruas e virou um traficante, você tem um palavreado bastante trabalhado – disse Peter encarando o negro que apenas se voltou para o livro jogado sobre sua cama.

- eu estou na solitária do FBI há anos. Livros são a única coisa que me entretêm aqui – respondeu o negro voltando a encarar os dois policias a sua frente.

- entendo – disse o loiro encarando o livro que o outro lia antes de eles interromperem a sua leitura.

- terei alguma arma? – perguntou o negro e Peter gargalhou.

- é claro que não. Nenhum de vocês – respondeu Allison encarando o homem, que lhe fitou rapidamente.

- entendo – disse o negro colocando a mão no queixo e meneando suavemente.

- e então, aceita? – perguntou Scott encarando o negro, que lhe fitou antes de encarar o loiro.

- estou dentro – respondeu criando um sorriso vitorioso nos lábios do loiro.

 

 

Os quatro saíram da sala onde conversaram com Boyd, com o negro sendo escoltado logo atrás deles. Boyd saíra algemado, cercado pelos quatro guardas que guardavam sua prisão de vidro. O negro fora levado para a van, enquanto os quatro agentes continuaram a caminhar mais para o fundo do corredor.

- Quantos ainda faltam? – questionou Scott encarando o parceiro, que negou com a cabeça, não sabendo a resposta.

- só falta mais um – respondeu Allison encarando os dois homens ao seu lado. Os três seguiam Peter pelos corredores daquela ala.

- e quem seria? – perguntou Derek encarando as costas do tio.

- Nós já temos a ladra, o sobrevivente, o químico e o traficante. Agora só falta o assassino – respondeu o loiro parando na frente de outra porta.

O guarda desta fumava um cigarro antes de o apagar para poder destravar a porta. A mesma fora aberta por dentro novamente, e logo todos avistaram uma caixa de vidro idêntica à que prendia Boyd. Dentro dela, estava um homem encapuzado caminhando em círculos pela caixa, enquanto embaralhava um baralho. Peter sorriu antes de se aproximar da caixa com os braços abertos. Ele parecia bastante animado.

- olá, Stiles – cumprimentou o loiro e logo o homem parou de caminhar para encarar os quatro agentes.

- Peter Tate. O que faz aqui? – questionou o encapuzado encarando o loiro, que se aproximou da caixa até ficar bem próximo do vidro.

- eu quero você na minha equipe – falou o loiro encarando o encapuzado, que não parava de embaralhar as cartas em sua mão.

- e o que eu tenho que fazer nela? – perguntou o prisioneiro encarando os outros três se aproximarem da caixa de vidro.

- vamos investigar casos, prender bandidos. Nada demais – explicou o loiro com animação em sua voz.

- serei como um policial? – perguntou o outro e Peter acenou positivamente.

- devo imaginar que não terei armas, já que sou um prisioneiro – argumentou vendo o loiro menear positivamente.

- isso mesmo – respondeu Allison encarando o homem.

- não creio que possa ajudar muito daqui – disse jogando as cartas de uma mão para outra com maestria parecia um mágico fazendo truques.

- vamos te tirar daí, te levar para Maybelle, onde poderemos te tirar de lá sempre que houver um caso a ser resolvido. Em troca, tiraremos um mês de sua pena a cada caso resolvido – disse Derek chamando a atenção do encapuzado.

- imagino que a parte de não possuir armas seja uma regra importante – disse Stiles vendo os quatro menearem positivamente – o que acontece se eu a quebrar? – perguntou o homem vendo Allison, Derek e Scott estreitarem os olhos.

- você será enviado de volta para essa caixa – respondeu Peter prontamente.

- e se eu tentar fugir? – perguntou voltando a caminhar e a embaralhar as cartas em suas mãos.

- você volta para cá – respondeu Allison encarando o outro dar a volta.

- e se eu cometer algum crime? – perguntou e Derek começou a se aborrecer com o questionário feito pelo outro.

- você volta para cá – respondeu Scott encarando o outro sorrir por debaixo do capuz.

- e se...

- cara, entenda. Eu vou resumir tudo para você: apronte qualquer coisa, saía um pouquinho da linha e você volta imediatamente para cá. Não há segundas chances, entendeu? Isso aqui não é um jogo – disse o moreno de olhos verdes encarando o outro, que havia parado de caminhar para lhe fitar.

- a vida é um jogo – respondeu o outro e Derek bufou irritado, passando as mãos pelos fios de cabelos negros.

- cansei dessa palhaçada. Responde logo: Você aceita ou não? – perguntou impaciente, fazendo os guardas lhe fitarem um pouco surpresos.

Os guardas pareciam temer algo desde que fora citado que o homem ali dentro seria liberto. O homem ficou um tempo pensativo antes de guardar o baralho com o qual brincava no bolso da camisa da prisão, antes de abaixar o capuz, revelando os cabelos castanhos, os olhos âmbar, a pele clara coberta de pintinhas e a barba por fazer.

- eu aceito – respondeu sorrindo na direção de Peter, que correspondeu ao ato do homem castanho.

- espera – falou Derek encarando o castanho melhor.

O Hale estava olhando mais especificamente para os brincos que estavam presos ao lóbulo das orelhas do homem. Aqueles brincos: Um era um coração vermelho enquanto o outro era o símbolo do naipe de espadas. Aqueles brincos eram muito familiares para si... Se pareciam muito com os brincos usados pelo...

- sem chance – falou Derek dando as costas e caminhando um pouco até a porta.

- Derek? – chamou Scott, que havia ficado confuso com a atitude do seu parceiro.

- o que houve? – perguntou Allison encarando o moreno de olhos claros passar as mãos pelos cabelos antes de voltar a encarar os três agentes atrás de si.

- não tem a mínima chance de eu trabalhar com esse cara. Ele não vai sair daí – falou o moreno de olhos claros voltando a caminhar para a saída daquela sala. A reação de Derek havia deixado todos confusos, mas o suspiro baixo de Peter chamou a atenção de Scott e Allison para o loiro.

 

Chapter 3: Cherry

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Derek estava uma pilha de nervos. Ele ainda não acreditava que estavam soltando aquele monstro. O pior de tudo fora saber que ele não teve como impedir isso. Infelizmente, a decisão de soltura dos detentos que foram escolhidos era feita pelos superiores E se os superiores de Derek quiseram soltar Stiles, ele não poderia fazer nada, além de avisar que era uma péssima decisão. O moreno estava em pé, de braços cruzados encarando os detentos olharem ao redor atentamente.

Os cinco olhavam ao redor, analisando tudo, decorando cada detalhe daquele pequeno prédio. Derek poderia dizer que estava de olhos em todos eles, mas a verdade era que ele encarava o modo como Ennis e Stiles se comportavam. O castanho parecia um pouco desconfortável na presença de Ennis e Kate, coisa que chamou e muito a atenção de Derek. Sempre que o castanho ficava ao lado de um dos dois, ele recuava alguns pequenos passos. Na verdade, todos eles pareciam se evitar, mas Ennis e Stiles eram os que mais o faziam. Eles não confiavam um no outro.

- então, o que faremos? – perguntou Kate se virando para os oficiais. Ela estava um pouco distante de Ennis e Isaac, se apoiando em uma das mesas do local. Alguns policiais traziam caixas com os arquivos do prisioneiro que fugira.

- Will Bate – disse Peter se aproximando do grupo para poder alcançar um quadro de vidro atrás deles. O loiro prendeu uma foto com um imã, já que atrás do quadro de vidro havia uma limalha de ferro branca.

- e quem é ele? – perguntou Isaac encarando o loiro mais velho caminhar por eles, com tanta preocupação quanto alguém que caminha pelo Shopping center atrás de um sorvete comum.

- ele é um detento que fugiu do presídio está manhã – respondeu o loiro pegando uma pasta e analisando as primeiras páginas antes de a entregar para Stiles, que começou a ler a mesma atentamente.

- Lydia, informações, por favor – disse o Tate apontando para a ruiva muito bem vestida que se encontrava sentada atrás de uma mesa repleta de computadores

- Will Bate, detento do presídio de segurança mínima do estado vizinho. De início ele foi condenado a segurança máxima, mas acabou conseguindo uma transferência devido ao bom comportamento e auxílio na limpeza do prédio. Preso por latrocínio e grandes golpes em bancos – disse a ruiva erguendo-se da cadeira e caminhando até o quadro, prendendo fotos de várias pessoas mortas.

- ele é violento, porém age educadamente, o que acaba por não levantar suspeitas aos olhos das vítimas – explicou Allison encarando o castanho folhear rapidamente a pasta que fora entregue a si, se questionando se o mesmo realmente estava lendo.

- até agora ninguém sabe como foi que ele fugiu – disse Peter encarando o castanho com os olhos brilhando.

- Lydia, não é? – perguntou Stiles vendo a mulher menear positivamente – pode me dizer se houve alguma visita de alguma empresa ao presídio esta manhã? – perguntou vendo a ruiva digitar rapidamente no teclado antes de passar a mover aos olhos rapidamente.

- sim, houve uma entrega de suprimentos no local. Ela está programada para acontecer no mesmo dia a cada mês – disse a ruiva e logo o castanho retirou algumas folhas de dentro da pasta, a entregando a Boyd, que lhe encarou até o castanho colar as folhas no quadro e voltar a pegar a pasta das mãos do negro.

- O presídio tem um sistema de trabalho para redução de pena. Lá eles trabalham com a fabricação de placas de carro. Esse cara recebeu várias reduções na pena atual devido ao trabalho – disse o castanho voltando a folhear a pasta em suas mãos.

- e o que isso tem a ver? – perguntou Scott encarando o rapaz com a sobrancelha erguida. Ele julgava aquela informação muito fraca.

- essa eu respondo – disse Isaac assim que Stiles abriu a boca para responder, analisando o quadro antes de encarar o moreno de queixo torto, que lhe fitou surpreso – Algumas placas de veículos possuem a parte de trás completamente prateadas, e placas feitas de ferro ou metal são muito utilizadas por mecânicos amadores para serem amarradas no inferior dos veículos, como um modo de sustentar alguma peça que esteja saindo do lugar e arriscando cair. E como alguns presídios olham na parte inferior dos carros que entram e saem do presídio, ele pode ter pego algumas placas e criado uma espécie de capa, que cobrisse a sua imagem no refletor e assim passasse despercebido pelos guardas – explicou o loiro encarando o castanho apontar para ele com o polegar.

- então foi assim que ele fugiu? – perguntou Lydia encarando os criminosos ali a sua frente. Ela se sentia um tanto incomodada por estar na presença de alguns dos piores seres que o país já sofreu nas mãos.

- é um bom jeito. E é fácil com os recursos que ele tinha no trabalho – disse o negro encarando a ruiva menear positivamente, depois de engolir em seco.

- não quero saber como ele fugiu. Quero que me digam onde ele está – falou Derek com um tom de voz grave, indicando sua impaciência, embora estivesse achando interessante o modo como eles cinco estava trabalhando. Três, na verdade.

- deve ter ido para casa. Seria a primeira coisa que eu faria ao fugir – disse Isaac dando de ombros e Ennis bufou risonho.

- esse é o primeiro lugar em que a polícia te procura, garoto. Casa, depois amigos, depois os seus lugares favoritos. A melhor coisa a fazer é mudar seus hábitos – disse a montanha de músculos vestida com o traje da prisão.

- Primeiro arranje dinheiro para se infiltrar novamente na sociedade, depois procure um lugar para se esconder. Um lugar onde ninguém te reconheça e fique nele por um bom tempo. Não saia na rua sem necessidade, e se o fizer, se disfarce – disse Kate encarando o loiro de cachinhos que lhe fitava um pouco boquiaberto, pensativo.

- podem parar com esse papo de fuga. Vocês estão aqui para prender esse cara – disse Derek apontando para a foto de Will Bate presa no quadro de vidro. O moreno de olhos verdes viu o castanho lhe fitar com uma sobrancelha erguida.

- que por sinal fugiu da prisão, então seria bom debater métodos de fuga para analisar qual ele pode ter usado – disse o castanho e o moreno se viu sendo encarado por todos, enquanto Allison e Scott meneavam positivamente em sua direção.

- Lydia, procure pelos parentes do senhor Bate. Vocês, vão se trocar. Esse caso será um teste para vocês. Nós iremos a campo daqui a pouco para... – o loiro fora interrompido por Lydia.

- correção, vocês vão agora. Encontraram um corpo em uma oficina ao norte da cidade. A vítima foi Louis Grant – disse a ruiva pegando alguns pacotes plásticos com roupas dentro – tomei a liberdade de escolher as roupas de vocês – terminou jogando os sacos para os presidiários.

- Louis Grant? Li o nome dele nos arquivos. Era amigo de Will, foi tido como cumplice do assalto em que prenderam o Bate, mas foi inocentado – disse o castanho encarando a ruiva, que se virou para Peter.

- ele é eficiente – disse a mulher ajeitando a própria roupa ao corpo antes de voltar a se sentar em sua cadeira atrás das telas em sua mesa.

O loiro mais velho sorriu encarando o castanho começar a tirar as próprias roupas ali, assim como Ennis, Isaac e Boyd, enquanto Kate caminhava até o banheiro para se trocar. O mais velho do grupo viu o Hale encarar o castanho com certa fúria no olhar. Qualquer um ali sabia que Derek estava desconfortável na presença de Stiles, e Peter não tirava a razão do sobrinho, mas pelos menos esperava mais profissionalismo do moreno de olhos claros.

 

 

 

 

 

 

 

 

Eles chegaram ao local, sendo recepcionados pela polícia, que lhes deu entrada, enquanto alguns vizinhos da vítima tentavam olhar o interior do local do limite estabelecido pela polícia local. Os nove caminharam na direção do corpo, vendo o mesmo coberto por uma lona. Isaac soltou um assovio assim que Derek retirou a lona que cobria o corpo. O mesmo estava bastante ensanguentado. A cabeça do homem estava parcialmente esmagada, como um brigadeiro em que alguém enfiou o dedo. Kate, se virou para trás, enquanto ignorava o corpo, sendo encarada por Allison, que ergueu uma sobrancelha para a atitude da tia.

- Deus, o que aconteceu com ele? – perguntou a morena mais velha, enquanto olhava para o teto buscando por ar. O que? Ela era criminosa, mas era apenas uma das maiores golpistas que Peter teve que lidar. Kate não era muito chegada a sangue.

- eu aposto no extintor de incêndio – disse Isaac apontando para um cilindro vermelho grande que se encontrava caído na cena do crime.

O loiro ergueu a mão enquanto via os outros lhe encararem curiosos e Stiles caminhar na direção do objeto. O castanho se abaixou e passou a analisar o extintor, tomando cuidado para não tocar no mesmo. Ele o analisou bem, antes de olhar ao redor, sendo copiado por Boyd, Ennis e os agentes. O negro se aproximou de uma caixa azul grande que se encontrava no canto da oficina. O homem retirou alguns objetos que se encontravam encima da mesma e a abriu, vendo a mesma repleta com artigos esportivos.

- eu acho que não. O extintor não está muito distante do lugar dele na parede – disse o castanho com brincos tocando a parede e vendo alguns arranhões na mesma.

- sem contar que não há sangue nele - disse Ennis encarando o objeto que, mesmo vermelho, não possuía manchas mais escuras como o sangue da vítima.

- então não foi o extintor – disse Isaac suspirando olhando ao redor.

- não. Foi um taco de beisebol – disse Boyd chamando a atenção de todos para si, enquanto o negro erguia um taco de beisebol ensanguentado.

- faz mais sentido. O modo como os olhos da vítima estão para fora, indica que não foi um só golpe. Ele foi atacado mais de uma vez. E o extintor teria feito muito mais estrago se fosse usado em uma sequência de golpes – disse o castanho apontando para o rosto da vítima.

- nós jurávamos que era o extintor – disse um dos policiais surgindo ali perto.

- a equipe de cientistas forenses já apareceu? – perguntou o castanho encarando o policial enfiar as mãos nos bolsos.

- apareceram, sim. Ainda estão aqui, querem levar o corpo – disse o homem vendo Derek acenar para alguns homens fardados.

- acreditam que ele ainda teve a vontade de se vingar e escreveu no chão usando o próprio sangue? – perguntou o policial apontando para uma área que fora isolada com alguns triângulos com números, indicando que era uma pista do caso.

- ele escreveu ali, estando aqui? – perguntou Isaac apontando para o local em que estavam antes de apontar para o canto da oficina onde estava marcado com sangue. Ficava a uma boa distância.

- o cara arrastou ele para cá. Viu a trilha de sangue? – perguntou o homem apontando para uma faixa vermelha que se estendia pelo chão.

- nem fodendo que esse cara escreveu isso – disse Ennis encarando o que fora escrito no chão com sangue.

- por que não? – perguntou o cientista que se abaixara para fechar a bolsa de lona onde o corpo fora guardado.

- está muito bem escrito para alguém que teve metade da cabeça achatada. Quando se tem muita dor, seus movimentos não são tão precisos. Isso é uma regra natural – disse encarando o recado dado para a polícia.

- nós já mandamos uma viatura para esse endereço – disse o policial encarando o grupo a sua frente.

- isso foi só uma distração. Uma pegada apontando para o lado errado – disse Ennis vendo o policial encarar.

- mande a viatura voltar – disse Derek vendo o policial menear positivamente e pegar o seu rádio preso ao ombro.

- por que ele estaria atrás desse cara? – perguntou Isaac encarando o local ao seu redor – o cara não tem nada de valor – finalizou vendo o grupo olhar ao redor, em busca de qualquer coisa.

- vingança – disse Kate encarando a todos lhe fitarem curiosos.

- como assim? – perguntou Ennis encarando a mulher cruzar os braços e se apoiar em uma das mesas que havia no local.

- pense bem, se você e um parceiro assaltam uma boa quantia, mas você vai preso e o seu parceiro não, você não iria se irritar por ele não ter te tirado da prisão? – perguntou a mulher vendo a montanha de músculos parecer pensar.

- é uma boa hipótese, mas, se ele já cumpriu o objetivo, o que vem agora? – perguntou Scott encarando a mulher suspirar e encarar o lado de fora da oficina.

- recomeçar, assaltar outro lugar, dessa vez ir aos poucos para não correr o risco de ser preso e se mudar para outro lugar – disse a mulher vendo os agentes parecem pensativos.

- eu acho que não. Will me parece ser do tipo luxuoso - disse Peter encarando a mulher erguer uma das sobrancelhas em sua direção.

- então o que mais ele poderia fazer? Acabou de sair da prisão, não tem recursos para um grande assalto. Nem uma arma ele deve ter – disse a mulher encarando o Tate com certa raiva, se sentiu ofendida por sua análise ter sido posta à prova.

- vamos voltar, eu preciso falar com Lydia – disse o castanho de brincos com as mãos no bolso do casaco vermelho que usava.

- ligue para ela – disse Peter jogando o celular para o castanho, mas o mesmo fora interceptado por Derek.

- se lembra das regas, Peter? – perguntou o moreno encarando o tio com um ar irritado.

- então liga você – disse o castanho encarando o moreno lhe fitar ainda com raiva.

- o que quer falar com ela? Se tem alguma informação, compartilhe – disse o moreno jogando o celular do tio de volta para o mesmo.

- eu queria saber se o dinheiro do assalto foi apreendido – falou o menor encarando o moreno com seriedade.

- o que isso tem a ver? – perguntou Isaac encarando o castanho em dúvida.

- isso faz sentido – disse Kate encarando o castanho, pensativa, chamando a atenção do grupo – sempre que você percebe que está sendo seguido, vocês se dividem e cada um fica com uma parte do dinheiro, impedindo que a polícia pegue tudo caso vocês sejam presos – terminou a mulher encarando Peter que lhe fitou sorrindo ladino.

- então você deve ter uma boa quantia guardada, hein? Nunca pegamos tudo o que você roubou – disse o loiro encarando a mulher dar de ombros.

- uma mulher deve estar sempre pronta para qualquer coisa – argumentou vendo a sobrinha negar com a cabeça em sua direção.

- vamos voltar, vai demorar, mas logo as análises dos forenses chegarão até nós – disse o moreno de queixo torto começando a caminhar na direção dos dois carros.

Todos começaram a fazer o mesmo. Stiles esbarrou em Ennis e se desculpou rapidamente, antes de começar a correr na direção de Allison. Kate, que encarava a cena, sorriu. Ennis apenas o encarou feio antes de voltar a caminhar, mas Derek parou na entrada da oficina, impedindo a passagem dele. O careca esbarrou no moreno de olhos verdes, que pareceu imóvel.

- qual foi? – perguntou o mais alto encarando o Hale com fúria por o mesmo ter parado perto demais de si.

- devolve – disse estendendo a mão na direção do maior, que lhe encarou confuso.

- do que está falando? – perguntou e todos pararam para ver o desfecho da cena.

- ele deve estar falando da faca de mesa enferrujada que você pegou e guardou no bolso do seu casaco – disse Isaac encarando o homem careca lhe fitar furioso.

- eu não peguei faca nenhuma, garoto – disse praticamente rosnando na direção do loiro.

- então o que foi que o carinha dos brincos roubou do seu bolso? – perguntou Kate encarando o castanho lhe fitar surpreso – o que foi? Achou que eu não perceberia um truque velho e barato desses? – questionou indignada na direção do homem que usava brincos, que retirou uma faca enferrujada do bolso.

- isso mataria qualquer um mais pelo tétano do que pelos danos físicos – disse o castanho apontando o cabo da faca para Allison que a pegou encarando o outro com todo o cuidado.

- nós temos que nos defender, cara. Vocês têm armas de fogo, nós só temos nossas mãos. Não estamos seguros – argumentou o Bishop para a carranca de Derek.

- se é segurança o que quer, eu fico feliz em te dizer que você vai voltar para a segurança máxima – respondeu o Hale retirando as algemas da cintura.

Ennis nada mais fez, apenas socou o Hale e correu. O Bishop corria com toda a sua velocidade, com os ombros encolhidos e a cabeça abaixada, já pensando nos disparos que seriam feitos contra si, mas o homem não contava com um corpo de massa musculosa negra se jogando em si. Boyd alcançou Ennis com facilidade, depois que o mesmo se colocou a correr, deixando o grupo para trás.

- SEU MERDA! O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – gritava Ennis quando Scott chegou e algemou o corpo do mais alto.

- foi mal, cara. Mas você sabia das regras: nada de armas ou furtos; e se alguém tentasse fugir, a gente deveria impedir ou falar – disse o negro erguendo Ennis do chão e ele e Scott empurraram o Bishop até um dos carros, colocando o homem no banco de trás do carro em que eles usariam para se mover pela cidade.

- que ele sirva de lição para os outros. Saiam da linha e vocês voltarão correndo para a prisão – disse o Hale vendo Isaac, Boyd e Stiles menearem positivamente, enquanto que Kate encarava a cena entediada.

- entendido – disse Isaac batendo continência, fazendo o castanho ao seu lado rir baixinho e o imitar.

 

 

 

 

 

 

 

Derek havia acabado de deixar Ennis na prisão, onde fora rapidamente transferido para a prisão de segurança máxima em Washington. Agora, já era noite, e ele, Scott, Kate e Stiles encaravam a frente do bar do irmão de Will. Estavam à espera de Will Bate. Peter, Isaac, Allison e Boyd estavam à espera do homem na casa do mesmo. Eles descobriram que Will Bate estava, de fato, atrás da quantia que ele retirara do tal banco no dia que fora preso. Eles interrogaram a dupla que fora atacada no caminhão de entrega durante a fuga da prisão. Eles pareciam apavorados. Até mesmo haviam pedido demissão do emprego. Estavam completamente traumatizados, segundo Allison.

- acho que devemos entrar – disse a mulher encarando o bar a sua frente.

- também acho, mas um grupo como o nosso seria facilmente percebido. Isso se o cara for inteligente como o irmão – disse Stiles enquanto embaralhava cartas.

- então não entra todo mundo – disse Kate dando de ombros ainda encarando o estabelecimento pela janela do carro.

- e o que faríamos lá? Chegaríamos no irmão do Will e diríamos: Olá, estamos aqui para prender você e o seu irmão. Me serve uma cerveja e traz uma porção de fritas? Obrigado – ironizou o moreno de queixo torto, encarando a mulher que lhe fitou irritada.

- nem sabemos se ele está com o dinheiro ou se ajudou o irmão no assalto – disse Stiles jogando as cartas de uma mão para a outra.

- qual é o seu lance com as cartas? – perguntou Scott encarando o castanho lhe fitar com seriedade.

- você não vai querer saber – respondeu puxando a carta que se encontrava no topo e a virou para o McCall, que notou se tratar do coringa.

- então tá – disse encarando Derek com um olhar de “Que porra foi isso?”, vendo o amigo apenas dar de ombros.

- podíamos tentar investigar para ver se ele faz parte ou não – disse a morena vendo os homens lhe fitarem.

- ele está lá dentro, não tem como a gente conseguir investigar nada lá – disse Derek vendo a mulher sorrir divertida para si.

- querido, com uma mulher como eu, a gente consegue isso fácil, fácil – disse encarando os dois agentes lhe encararem.

- o que quer dizer? – perguntou o moreno de olhos verdes vendo a mulher lamber os lábios de maneira sexy.

- bom, ele é solteiro. Duvido que consiga muita mulher trabalhando aí – disse a Argent encarando os dois agentes se fitarem.

- está querendo dizer que vai seduzir ele? – perguntou Scott vendo a mulher menear positivamente, enquanto mordia o lábio inferior.

- se você que é treinado, não consegue desviar os olhos dos peitos dela, esse cara não tem a menor chance – disse Stiles embaralhando as cartas com um ar entediado. Scott corou por ter sido pego no flagra, enquanto Kate sorria vitoriosa.

- mas tem um problema, eu não vou deixar você ir sozinha – falou o moreno de olhos verdes vendo a mulher focar o olhar em si.

- não é para eu ir sozinha. Alguém tem que ir comigo. Eu distraio ele enquanto o outro investiga – argumentou a mulher encarando os dois agentes se fitarem.

- então tudo bem, eu vou com você – disse Scott já se preparando para sair do carro.

- não pode ser nenhum de vocês dois – disse a mulher vendo os dois morenos lhe encararem curiosos.

- como é? – perguntou Derek encarando a mulher rolar os olhos.

- pelo amor de Deus, você viu aquele homem, não viu? Se eu apareço com um de vocês dois do lado, é claro que ele vai desconfiar. Eu preciso de alguém que seja menos... policial – disse a mulher e os três se encararam, antes de virarem os rostos na direção de Stiles, que parecia um tanto aéreo, se concentrando apenas em fazer pequenos truques de mágica com as cartas de seu baralho surrado

- o que foi? – perguntou encarando os outros três voltarem a se encarar.

- viu? Ele é perfeito – disse Kate encarando Derek bufar irônico.

- até parece que eu vou deixar vocês dois saírem desse carro sem a nossa companhia – disse Derek voltando a encarar o bar, agora com um ar irritado.

 

 

 

 

 

 

 

Kate adentrou o bar, acompanhada de Stiles, que se mantinha atento ao homem que estava atrás do balcão, mas sem levantar suspeitas. Eles escolheram uma mesa e se sentaram a ela. Ficaram um tempo encarando o balconista, que não tirava os olhos das pernas de Kate, que sorria de maneira pervertida para o homem. Stiles encarou o balconista, antes de se aproximar da orelha de Kate e sussurrar algo para ela. A mulher aumentou o sorriso, antes de Stiles sorrir traquino e a mulher se levantar, levando um tapa na nádega direita e caminhando na direção do homem de cabelos negros e barba mal feita.

- e aí, bonitão? – perguntou a mulher sorrindo travessa e fazendo questão de se sentar de pernas cruzadas, fazendo o tecido da calça apertar mais ainda a sua carne.

- o seu namorado sabe que você chama outros homens de bonitões? – perguntou o homem encarando a mulher sorrir largo.

- é claro que ele sabe, ele é quem pede para que eu faça – disse a morena mordendo o lábio inferior e pegando uma cereja em um pote que havia ao seu lado e a levando a boca sensualmente.

- é verdade? – perguntou o homem desviando o olhar para o castanho que encarava a cena sorrindo tão ladino quanto a moça a sua frente.

- nós somos muito... mentes abertas. Adoramos um joguinho com mais de dois jogadores – falou passando a brincar com o talo da cereja na boca.

- e o que vão querer? – perguntou o homem voltando a encarar a mulher. Ele estava bastante interessado na morena. Eram raras as vezes que mulheres com aquele corpo apareciam ali, ainda mais raras as vezes em que elas lhe cantavam.

- podemos começar com umas cervejas, mas no fundo, no fundo, queremos mesmo é o balconista - disse a morena ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha, enquanto piscava para o homem, que encarava a mulher com o lábio inferior sendo pressionado por seus dentes.

- o seu namorado também? – perguntou o homem olhando questionador para a mulher.

- como eu disse, somos um casal bastante mente aberta – falou vendo o homem abrir as duas garrafas.

- foi mal, gata, mas homem eu não curto – disse o moreno entregando as cervejas para a mulher.

- tem certeza, ele é melhor com a língua do que eu – argumentou passando o músculo citado pelos lábios.

- tenho. O meu negócio é mulher. Se fosse só você, eu aceitava de primeira – respondeu pegando um pano e voltando a limpar o balcão.

- foi o que todos disseram, mas no final acabaram cedendo. Tem certeza? Já vi homens mais durões toparem e aprovarem a experiência – argumentou pegando as garrafas com as mãos e se apoiando no balcão com os cotovelos, aproveitando para apertar os seios, os deixando maiores.

- tenho, dona – disse o homem abaixando um pouco o olhar e corando envergonhado. Ele nunca havia imaginado que receberia um convite do tipo. Kate sorriu vitoriosa.

- talvez eu devesse chamar ele aqui. Você faz o nosso tipo: Másculo, com pelos, voz gutural... – falou a mulher vendo o homem suspirar.

- moça, por favor. Eu não quero ser rude – disse o homem vendo o castanho se levantar e caminhar na direção do balcão.

- amor prova uma cereja – disse Kate levando uma das frutas aos lábios do castanho. Stiles sorriu antes de acolher a fruta vermelha com a língua, antes de introduzi-la em sua boca.

- uma delícia – disse encarando o homem com um olhar pervertido.

- olha, eu já... – o homem iria dispensar o casal educadamente, quando fora cortado pela mulher.

- aquele não é o seu time favorito? – perguntou Kate e Stiles ficou um pouco confuso, antes de se virar para a TV do local.

- cadê? – perguntou o castanho se virando e Kate apertou as nádegas do mesmo, mordendo os lábios na direção do homem que corou com a atitude da mulher.

- olha, moça. Eu agradeço o convite, mas eu não curto, entendeu – perguntou o homem e Stiles se virou para Kate.

- ele está se fazendo de difícil? – perguntou o castanho abraçando a morena de lado, enquanto se curvava sobre o balcão.

- ele insiste em dizer que não. Acho que não conseguimos dessa vez – disse a mulher soltando um suspiro chateado.

- acho que vamos ter que procurar outro então – disse o castanho retirando o talo de cereja da boca e o colocando sobre o balcão e Kate fez o mesmo. O balconista encarou corado os dois talos totalmente retorcidos, quase dando voltas em si mesmos.

- e eu estava louca para ver você deixando ele maluquinho com a sua língua – disse a mulher vendo o homem respirar fundo antes de se virar e passar a mexer em algo.

- o bar fecha às dez – disse o homem colocando dois copos e uma bebida dourada sobre o balcão na frente do casal, que sorriu ladino para si.

- temos bastante tempo – falaram em uníssono encarando o homem sair dali, os deixando sozinhos

 

Chapter 4: Ring

Chapter Text

Os três adentraram os fundos do local. Stiles e Kate se surpreenderam com o ambiente. Bom, devia ser esperado de alguém suspeito de roubar bancos e fazer lavagem de dinheiro. Porra! O local era bem mobiliado. Não parecia a sala de alguém que trabalhava como o dono de um bar, estava mais para o escritório de alguém muito importante. O homem de cabelos negros repicados e curtos dera espaço para que os dois passassem. Kate encarava tudo fascinada, enquanto Stiles parecia bastante analista. O homem trancou a porta e encarou o casal encarar todo o local bastante surpreso.

- caramba, esse bar deve dar um lucro e tanto – soltou Stiles encarando Kate de soslaio, enquanto ambos permaneciam de costas para o homem.

- nem tanto assim – disse o homem se aproximando da mesa que havia ali e se servindo de um pouco de whisky. – aceitam? – perguntou vendo Kate negar, mas Stiles aceitar.

- qual é o seu nome, mesmo? – perguntou Stiles encarando o homem virar o copo de uma vez só.

- Me chamo Charlie – disse se servindo de um copo da bebida novamente.

- hey, garotão. Assim não vai ter tanta graça – disse a mulher encarando o castanho que lhe fitou enquanto bebia do líquido da cor âmbar.

- Foi mal, é que eu estou um pouco nervoso. Enfim, como se chamam? – perguntou vendo a mulher se aproximar de si sensualmente, enquanto que o castanho permanecia a encarar a cena.

- pode me chamar do que quiser – sussurrou próximo ao rosto do homem, que mordeu o lábio inferior, encarando fixamente os lábios da morena.

- me chame de Stiles – disse o castanho balançando o copo em sua mão.

- e-e como isso funciona? – perguntou vendo o homem se aproximar da mulher e a abraçar por trás, passando a deslizar os lábios pela pele exposta do pescoço.

- funciona como você quiser que funcione. Podemos fazer tudo o que quiser, contanto que faça o que quisermos – respondeu vendo o homem engolir em seco rapidamente, ainda nervoso.

- podemos começar o jogo, se quiser. Pode ficar só assistindo no início, mas depois queremos você – disse a mulher vendo o homem parecer pensativo e um tanto quanto... desgostoso.

- na verdade, eu prefiro que vocês comecem – disse Stiles vendo Kate lhe olhar de canto de olho. Ela pareceu não ter gostado da ideia, mas não deixou que Charlie percebesse.

- tem certeza? – perguntou se virando para abraçar o castanho pelo pescoço, aproveitando para levar os lábios até a orelha do mesmo – o que pensa que está fazendo? Se acha que vou bancar a atriz pornô para você... – a mulher foi impedida de continuar pelo castanho, que lhe golpeou a nádega esquerda com força, antes de levar os lábios ao ouvido da mesma, sussurrando discretamente.

- apenas confie em mim – disse virando o corpo dela para Charlie, passando a deslizar as mãos pelo torso esbelto – olhe só, não vou deixar que comecem definitivamente sem mim. Apenas quero me excitar vendo vocês brincando um pouco antes de entrar no jogo – disse empurrando Kate para Charlie, que abraçou a mulher e passou a atacar o pescoço da mesma. Kate afundou o rosto do homem em seu pescoço, soltando falsos gemidos baixos, enquanto encarava Stiles com fúria nos olhos.

- isso, use um pouco mais os dentes – pediu a mulher vendo Stiles ficar encarando a cena enquanto bebericava a bebida em sua mão.

- tire a roupa – ordenou Charlie virando o corpo, colocando Kate sentada na mesa em que se apoiava. Kate encarou o homem sensualmente, enquanto começava a deslizar a blusa que usava para cima da mesma forma, enquanto que Charlie fazia o mesmo, mas de forma desesperada.

- Charlie, faça mais devagar. Seja mais sensual – pediu Stiles sentado em uma das cadeiras. O castanho se encontrava de pernas cruzadas, encarando a cena com o lábio inferior entre os dentes, lançando uma expressão sexy para o homem que lhe encarou assim que o mais baixo se pronunciou.

- certo – disse desafivelando o cinto bem devagar, fazendo o mesmo com o zíper.

- agora deixe ela cair – disse balançando o copo em sua mão fazendo movimentos circulares.

- ele gosta de estar no controle, não é? – perguntou vendo Kate sorrir em sua direção e lançar um olhar sugestivo para o castanho.

- você não sabe o quanto – sussurrou deslizando o pé pelo peito um tanto peludo do homem a sua frente.

- agora beije o pescoço dela – ordenou Stiles descruzando as pernas e passando a deslizar a mão por sobre a própria virilha, vendo o homem corar com o seu ato.

Charlie obedeceu, tendo a face escondida pelo pescoço da mulher. Kate afundou o rosto do moreno em seu corpo, aproveitando para erguer uma mão e dar o dedo do meio para o castanho que estendeu a mão, pedindo calma. A mulher apontou para o homem colado ao seu corpo com um olhar assassino sendo direcionado ao castanho. Stiles se levantou com o copo vazio em mãos e caminhou até os dois morenos.

- Charlie, se vire. Eu quero te chupar – disse com autoridade na voz. Kate encarou o castanho surpresa, enquanto que Charlie a encarava confuso.

- por que está surpresa? – perguntou e logo viu um sorriso safado tomar os lábios da mulher.

- você o interessou. Ele geralmente demora para chupar alguém – respondeu e o homem se ergueu.

Assim que Charlie se virou, ele viu algo se aproximar de sua face com velocidade. Kate encarou surpresa o homem de cabelos castanhos e brincos dos naipes de copas e espadas quebrar o copo que bebera whisky na cabeça do homem de cabelos negros, fazendo o mesmo cair desmaiado. Mas antes de o corpo do homem tocar o chão, o castanho segurou o mesmo pelos braços. Ele arrastou o corpo do homem até a cadeira onde estivera sentado e o colocou sentado ali. Kate se levantou e vestiu suas roupas, enquanto via o castanho pegar a camisa social que o homem estava usando antes e a utilizar para amarrar os braços dele atrás da cadeira, usando o cinto do homem para prender os pulsos presos pela camisa a madeira da cadeira.

- o que está fazendo? – perguntou Kate terminando de vestir a própria calça.

- enquanto estava sentado aqui e vocês se atracando. Eu estava analisando se a cadeira seria boa para prender alguém. Aceitei o copo com bebida para poder ter uma arma para apagar ele sem que ele suspeitasse de nada. Pedi para ele tirar a roupa devagar, para que eu pudesse pensar em como amarrar ele aqui – explicou o castanho se abaixando e pegando as meias do homem, fazendo uma bola com as mesmas assim que colocou uma dentro da outra, como se as tivesse guardando.

- o que vai fazer agora? – perguntou vendo o castanho abrir a boca do homem.

- esse bar tem paredes finas. Pude ouvir o som da TV quando fui no banheiro. Se ele gritar, podem ouvir – respondeu enfiando as meias na boca do homem.

- estamos com o FBI – falou Kate com desdém encarando o castanho retirar um celular do bolso e discar o primeiro número na lista de chamadas recentes.

- é, mas nosso método não foi muito profissional, Senhora Argent. Podemos colocar em risco toda a divisão – disse o castanho encarando a mulher lhe fitar com seriedade.

- vamos procurar logo qualquer sinal do dinheiro – disse a mulher se virando para procurar pela mesa do escritório enquanto o castanho lhe lançava um olhar sério, antes de a voz de Scott ecoar do celular.

- estamos no escritório. Fiquem de olho caso o Will Bate apareça – o castanho nem esperou pela resposta do moreno de queixo torto, encerrou a ligação e se pôs a procurar por qualquer sinal de ligação de Charlie ao seu irmão, Will, em relação ao dinheiro ou a fuga.

Eles passaram alguns bons minutos procurando qualquer ligação, mas não havia nada ali a não ser as contas e o histórico de despesas do bar. Aquilo irritou a ambos. Horas de tocaia, e busca para nada, absolutamente nada. Eles encararam o corpo desacordado do moreno, enquanto se perguntavam se havia a possibilidade de alguém como ele ter um cofre escondido ali. Cansados de esperar alguma resposta, eles decidiram ir atrás do possível cofre. Eles novamente não encontraram nada.

- vamos embora. Não tem nada aqui – disse o castanho saindo do escritório.

- vai deixar ele aqui? – perguntou a mulher encarando o homem de cabelos negros que estava amarrado e amordaçado.

- solta ele , então - gritou o castanho já do andar de baixo. A mulher suspirou soltando o homem e jogando as roupas dele para um canto.

 

 

 

 

 

- e aí? Conseguiram alguma coisa? – perguntou Derek encarando o homem adentrar o carro com seriedade no olhar.

- decepção e perda de tempo servem? – perguntou Stiles fechando a porta do carro.

- muito engraçado – soltou o Hale encarando o castanho, que voltou a retirar o baralho surrado do bolso e voltou a embaralhar o mesmo.

- onde está a Kate? – indagou Scott vendo o castanho apontar para a porta do bar, mostrando que a mulher já saía do mesmo e caminhava na direção do carro com certa calma.

- só nos resta esperar alguma resposta de Peter e dos outros – disse o castanho e logo o celular de Derek vibrou em sinal de ligação. O homem atendeu a ligação, enquanto Stiles entregava o aparelho que estava usando no escritório de Charlie Bate ao moreno de queixo torto.

- tudo bem, estamos indo – disse o moreno de olhos verdes encerrando a chamada e Scott já ligava o carro.

- o que foi? – perguntou Kate encarando o Hale apoiar o queixo na mão e encarar o lado de fora do carro.

- Peter e Allison estão perseguindo Will Bate. O cara está com a mulher que foi agredida por ele. É a namorada dele – disse o moreno de olhos verdes e o castanho de brincos sorriu ladino.

- qual é a graça? – perguntou Kate vendo o castanho conseguir embaralhar as cartas com facilidade, mesmo estando em um carro em alta velocidade.

- ela enganou vocês direitinho – falou o castanho sorrindo largo vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar através do retrovisor lateral.

- você deveria saber que ela estava mentindo – rosnou o moreno encarando o castanho, que deu de ombros.

- não sou nenhuma espécie de Deus para saber disso sem estar na presença dela – respondeu o castanho e Scott encarou o parceiro rapidamente.

- é, ele não estava com Allison e Peter. Eles que foram interrogar a mulher – disse o moreno de queixo torto e o moreno de olhos claros lhe fuzilou com o olhar.

- fica quieto – rosnou o Hale e o homem ao seu lado deu de ombros, focando-se apenas em alcançar Peter e Allison.

Eles demoraram, mas conseguiram alcançar Peter, Allison, Isaac e Boyd. Os quatro estavam estacionados, com Allison e Peter apontando armas para Will Bate e uma mulher loira, a qual ele atacou no dia de sua fuga. Os dois apontavam armas para os agentes. Boyd e Isaac se encontravam atrás do carro, apenas observando. Scott parou há algumas dezenas de metros do local do confronto. Eles estava atrás de Will, que ainda encarava fixamente a Argent e o Tate. O moreno de queixo torto encarou o parceiro.

- devemos ir de cara? Ou tem algum plano? – perguntou vendo Derek destravar a própria arma.

- vamos de frente. Ele está de costas, podemos pegá-lo assim – respondeu Derek. Boyd tentou se mover na direção de Will, mas o mesmo ergueu outra arma para si.

- eu tenho um plano – falou o castanho encarando a área ao redor do confronto.

- o que pretende fazer? – perguntou o moreno de olhos claros encarando o castanho de brincos.

- desçam do carro – falou Stiles e os três lhe encararam questionadores.

- o quê? – perguntou Derek encarando o castanho com indignação.

- só desce do carro – falou o castanho empurrando o McCall para o lado e passando a sentar no banco da frente. Scott, sem outra opção, desceu do carro encarando o castanho colocar o cinto de segurança.

- tente qualquer gracinha e eu coloco uma bala na sua cabeça – falou o homem de olhos verdes encarando o castanho e apontando a arma para a cabeça do mesmo.

- Kate, fica com o Scott. Derek vai comigo – falou o castanho ligando o carro.

- é o quê? – perguntou o moreno de olhos verdes encarando o castanho em confusão

O moreno de olhos verdes não obteve resposta e muito menos teve tempo de discordar do castanho, pois o mesmo já acelerara em direção ao confronto entre Will Bate e os agentes. Derek viu o castanho dirigir o carro com certa velocidade, antes de pisar no freio um pouco antes de bater na traseira do carro usado por Will e pela namorada. Derek encarou o castanho com incredulidade, antes de tomar um olhar de fúria. O castanho sorriu para si antes de descer do carro e ir analisar o estrago. Will o encarou por sobre os ombros, assim como a namorada.

- VOCÊ ENLOUQUECEU? – gritou Derek ao descer do carro. Peter estreitou os olhos para a cena, antes de Allison dar um passo a frente sem nenhum dos dois fugitivos notarem.

- Cara, a mamãe vai me matar – falou o castanho deslizando a palma da mão pelo rosto, encarando o pequeno amaçado nos dois carros.

- mamãe?! EU! EU vou lhe matar, seu louco! – rosnou o moreno encarando o castanho. Ele já não estava entendendo mais nada.

- escuta aqui, você não levanta a voz para mim – falou o castanho levando o indicador a frente do rosto, encarando o moreno com fúria.

- Stiles, não me estressa, não! – rosnou Derek apontando para o castanho. Ele ainda permanecia confuso, mas não estava gostando daquele tom de voz usado pelo menor.

- Derek, você é mais velho, mas não tem o direito de gritar comigo – rosnou o castanho apontando para o moreno de olhos verdes.

- “Mais velho?! Do que diabos ele está falando?” – se perguntou Derek encarando o castanho.

- vocês dois podem parar? – perguntou a mulher de cabelos loiros se virando para encarar melhor os dois homens que discutiam entre si.

- dá licença, fofinha, mas se você não percebeu, isso aqui é um problema familiar. Em outras palavras: fica na sua, vadia – ralhou o castanho voltando a sua atenção para Derek.

O moreno de olhos verdes encarou o castanho surpreso. O homem havia enfrentado uma mulher armada como se não fosse nada. Stiles colocou um dos braços sobre o carro, enquanto o moreno cruzava os braços, lhe encarando indignado. Ele já havia entendido que tudo não passava de uma distração. Agora só restava Scott entender o que teria que fazer. O moreno procurou algo para falar, continuar a encenação...

- essa foi a educação que nossos pais lhe deram? – perguntou se virando para a mulher – queira desculpar o meu irmão. Ele anda muito desvirtuado ultimamente – disse voltando a se virar para Stiles.

- Ah, falou o cheio de virtudes. Será que eu devo te chamar de Buda a partir de agora? – ironizou o castanho vendo o moreno lhe fitar com fúria.

- olha como fala comigo. Eu sou mais velho. E não me venha com essa, não. Olhe só para você. Até brincos está usando – apontou para as orelhas do castanho e Will bufou irritado com todo aquele barulho feito pelos dois “irmãos”.

- esses brincos foram um presente do papai. Não me venha com essa de “visual de drogado” de novo. Já basta o que escuto da tia Kate – falou o castanho erguendo o dedo em riste para o Hale.

- deveria escutar ela mais vezes. E não aponta o dedo para mim – rosnou apontando o dedo para o castanho, enquanto uma mão sua ia discretamente para a cintura.

- AQUELA VELHA CAQUETICA SE VESTE COMO UMA PUTA NO CIO! PELO AMOR DE DEUS! Faça um favor: Me poupe, se poupe e nos poupe – falou o castanho erguendo o dedo do meio para o agente.

- AH, CALA A BOCA VOCÊS DOIS! – gritou o Bate apontando a arma que antes estava voltada para Boyd, agora para os dois homens que discutiam.

- Wow! Hey, cara. Abaixa isso aí – disse o castanho erguendo as mãos e caminhando para trás lentamente.

- porra! Vocês não estão vendo que isso aqui está prestes a virar um tiroteio?! Vocês são o quê, idiotas?! – perguntou o homem balançando a arma na direção dos dois. Allison tentou mais um passo.

- mais um passo e você morre – ameaçou a mulher e a mesma se assustou quando Isaac saltou sobre o carro dela, correndo sobre o mesmo.

A mulher e Will, assustados com o movimento, tentaram acertar o loiro, mas acabaram se distraindo. Scott, que estava escondido atrás de uma van estacionada atrás de Will, do outro lado da rua, correu até o homem, que fora atingido no ombro por uma bala de Peter, que impediu que Isaac fosse acertado pelo Bate. Derek e Peter correram até a loira, apontando suas armas para a mesma, que sem chance nenhuma, se rendeu. Scott apontou a arma para a nuca de Will, chutando uma das armas da mão do homem, que voou até cair nas mãos de Boyd, que agarrou o objeto no ar e logo apontou o mesmo para Will Bate.

- mas que merda – guinchou o homem largando a outra arma e levando a mão, agora livre, para o ombro ferido.

- pois é, cara. O idiota foi você por ter duas armas apontadas para policiais, mas se distrair por uma briga besta – falou Stiles cruzando os braços e voltando a se apoiar no carro, enquanto Isaac se sentava ao lado de suas mãos.

- devo ressaltar que foi a briga mais cômica que eu já vi – falou Peter retirando as algemas e as colocando ao redor do pulso da mulher.

- espero muito, que essa sua tia aí, não tenha sido eu – falou a mulher surgindo do mesmo esconderijo que Scott.

- fora apenas uma encenação – falou Stiles dando de ombros e olhando para Isaac com um olhar sugestivo, do qual fora criado um gargalhar que o Lahey não conseguiu conter.

- você enlouqueceu?! – perguntou Scott encarando o loiro que estava sentado sobre o teto do carro.

- o quê? – questionou o mais alto encarando o moreno de queixo torto lhe fuzilar com o olhar.

- o que você fez foi muito arriscado, Isaac – respondeu Allison encarando o loiro encarar os dois com um olhar entediado.

- vocês estão me zoando, não é? – perguntou olhando para Peter – Fala para mim que eles estão me zoando – pediu vendo o mais velho sorrir ladino.

- vocês agem como se esse trabalho não fosse perigoso todos os dias – disse o loiro mais velho encarando os dois oficiais mais novos.

- Peter, ele se colocou na frente de duas armas – apontou o McCall indignado.

- e foi por causa disso que agora você tem um Will Bate algemado. Para de drama! Fala até como se você se importasse comigo – rebateu o loiro de cachos cruzando os braços e descendo, ficando em pé ao lado de Stiles.

Scott nada mais respondeu, apenas suspirou e empurrou Will na direção do carro. Eles voltaram a se dividir da mesma forma. Derek, Stiles, Scott e Kate em um carro, mas agora com um Will ferido entre o castanho de brincos e a amorena de seis fartos. Já a loira, fora com Allison, Peter, Boyd e Isaac. Quando eles chegaram a base, já havia uma Van parada na frente do prédio para Will e outra para a namorada do mesmo. Eles foram logo levados para presídios diferentes. Agora, estavam todos parados, no meio da base, sem ter mais o que fazer. Os quatro prisioneiros estavam a espera de suas vans, enquanto que Lydia, Allison, Scott, Peter e Derek estavam esperando os outros serem levados para irem embora.

- é, foi um bom primeiro serviço – falou Peter sentado despretensiosamente numa das cadeiras do local, encarando os prisioneiros já com os seus uniformes da prisão.

- é, até que foi divertido – respondeu Isaac que estava sentado sobre uma das mesas.

- lembrando que vocês não devem falar disso para ninguém – disse Allison encarando o quatros menearem positivamente.

- nós sabemos sobrinha – respondeu Kate encarando o relógio. Lydia atendeu ao telefone e logo respondeu positivamente, desligando logo em seguida.

- Boyd, sua van já está lá embaixo – falou a ruiva e o negro meneou positivamente.

- eu acompanho ele – disse Derek seguindo o negro até o elevador. Logo as portas se fecharam e o telefone tocou novamente.

- Isaac. Essa é sua – falou a mulher de cabelos ruivos e o loiro acenou positivamente.

- eu te levo lá – falou Allison se erguendo e caminhando até as escadas.

Quando Boyd e Isaac foram levados, Derek e Allison subiram pelo elevador. Os sete ficaram em silêncio apenas se encarando. Derek e Allison queriam fazer tantas perguntas aos dois prisioneiros, mas não o faziam por não saber como tocar no assunto daquele jeito e principalmente por terem companhia. O moreno de olhos verdes encarava o castanho de brincos, que estava sentado no chão, apenas embaralhando as cartas em suas mãos, já Kate insistia em analisar as unhas das mãos. Enquanto isso, Scott e Lydia conversavam amigavelmente, e Peter apenas encarava o teto, entediado. Até que a ruiva avisou que as Vans de Kate e Stiles haviam chegado. O castanho e a mulher se levantaram.

- finalmente! – exclamou a mulher de cabelos negros ao se levantar.

- me parece animada para voltar a prisão – disse Allison encarando a tia com desconfiança.

- não me levem a mal, mas apenas quero uma cama melhor e a minha televisão – disse sorrindo travessa para os agentes.

- talvez devesse revistar o sutiã de sua tia, agente Argent – falou Stiles passando ao lado de Kate e encarando a mulher com seriedade.

- seu tarado, como se fossemos suprir seus desejos pervertidos – falou a mulher encarando o castanho com nojo.

- o que quer dizer, Stiles? – perguntou Peter encarando o castanho com curiosidade.

- não é nada. Esse tarado fez com que eu ficasse quase nua na frente do irmão do Will Bate e agora quer ter uma amostra a mais de imagens para poder se satisfazer com a mão na cela dele – falou a mulher encarando o castanho com fúria.

- será? Eu faria algo do tipo, Peter? – perguntou o castanho encarando o loiro por sobre os ombros.

- eu duvido muito – disse o loiro encarando Kate com desconfiança.

- espera um pouco, Peter. Kate e Stiles ficaram um bom tempo sozinhos no bar do irmão do Will – falou Derek encarando o castanho com desconfiança.

- Exato, de fato, fiz com que Kate se livrasse de suas roupas para seduzir Charlie Bate. Mas em seguida, quando constatamos que Charlie não tinha nada a ver com o irmão, eu apareci primeiro no carro, em seguida Kate apareceu, depois de minutos – falou o castanho ainda embaralhando a cartas em sua mão.

- o que está insinuando? – perguntou a mulher encarando o castanho indignada.

- apenas revistem a mulher – disse o castanho jogando as cartas de uma mão para a outra.

- Allison, você que é mulher, por favor – disse Peter encarando a agente Argent, que encarava a tia um pouco indecisa.

- Allison, pelo amor de Deus. Por que eu jogaria essa chance fora? Eu vou poder sair mais cedo! – argumentava Kate encarando a sobrinha, que estreitou as sobrancelhas em sua direção.

- se ninguém for o fazer eu terei que fazer – falou o castanho jogando uma carta do baralho na direção de Allison.

Surpreendentemente, a carta girou no ar corretamente, até atingir a mulher de cabelos negros. Assim que a carta caiu no chão, ela estava com a face para cima, revelando a rainha de ouros. A Argent estreitou os olhos na direção da carta, antes de encarar o castanho de olhos da cor âmbar, este que lhe fitava com seriedade. A mulher engoliu em seco e recolheu a carta do chão, olhando para a mesma em dúvida, antes de voltar a encarar os dois prisioneiros. A mulher suspirou e caminhou até o castanho, entregando-lhe a carta e Peter negou com a cabeça.

- Kate Argent, erga os braços – falou a agente e Kate a encarou perplexa.

- eu não acredito que você vai dar ouvidos a esse aí. Quem cuidou de você quando criança? Quem é sua família? Você nem sabia da existência dele! – argumentou a mulher completamente indignada.

- quem foi a mulher que me levou a um shopping, para me usar em um assalto se passando de mãe coitadinha? – questionou a mais nova com um olhar severo e a mais velha rangeu os dentes.

- tudo bem. Revista aí – falou abrindo os braços e a sobrinha suspirou antes de começar a apalpar o corpo da mais velha, não encontrando nada.

- não há nada aqui – falou a Argent se virando para o castanho, este apenas apontou para o próprio peito.

- eu disse o sutiã – ressaltou e a mulher se virou para a tia.

- você vai mesmo... – a mulher nem teve tempo de finalizar a frase pois a mão da sobrinha se afundou entre os seus seios.

- o que é isso? – perguntou sentindo algo duro ali.

- isso é o anel de ouro que estava no dedo de Charlie Bate – respondeu Stiles assim que a morena retirou o objeto dali.

- como soube que estava com ela? – perguntou Scott encarando o castanho sorrir ladino, voltando a embaralhar as cartas em suas mãos.

- quando voltamos para os carros, ela estranhamente ficava deslizando o dedo por entre os seios – respondeu encarando a mulher lhe fitar com surpresa – o quê? Você não é tão discreta quanto pensa – finalizou se virando para caminhar até o elevador.

- Scott e eu acompanhamos ele. Peter e Allison, levem Kate de volta para a segurança máxima – disse o Hale pegando o paletó e o jogando por sobre os ombros, enquanto Allison algemava a tia.

Os quatro, acompanhados de Lydia, desceram pelo elevador. Ao chegarem no térreo, eles saíram do elevador, chegando até a garagem, vendo as duas Vans com guardas paradas no local. Peter caminhou até uma delas e dispensou a mesma, falando que a mulher seria levada para Washington. Os homens o encararam surpresos, antes de darem de ombros e saírem dali. Lydia vira Allison parar o carro ao lado dela, Derek, Scott e Stiles. Kate, no banco de trás, encarava Stiles com os olhos em fúria, sussurrando um “Você me paga”. O castanho sorriu docemente e mandou um beijo na direção da mulher. Peter adentrou o carro e Allison pisou fundo.

- é, acho que agora podem me algemar – falou encarando os dois guardas se aproximarem, sendo cobertos por mais dois guardas que carregavam dois rifles que intimidariam qualquer um.

- bom trabalho com a Kate – falou Scott encarando o castanho menear positivamente, com uma expressão séria.

- ela quebrou as regras, assim como Ennis. Desde o começo eu sabia que eles tentariam algo – falou encarando um dos guardas lhe algemar os pulsos, enquanto o outro lhe algemava os tornozelos. Ele fora guiado pelos homens para a traseira da Van, onde fora algemado ao banco feito de barras e o castanho encarou os dois agentes, que se aproximaram das portas.

- de qualquer forma, bom trabalho... Alice – falou o moreno de olhos verdes quando as portas estavam se fechando. Scott lhe encarou confuso, antes de voltar a encarar Stiles, vendo um sorriso divertido moldar seus lábios, que foram umedecidos pela língua do castanho antes de o inferior ser mordido sensualmente. As portas traseiras da van se fecharam completamente, escondendo o sorriso travesso do homem de cabelos castanhos e brincos.

Chapter 5: Death

Chapter Text

- eu só não entendo o porquê de você ter esse efeito nos agentes – falou Isaac enquanto se encontrava sentado no refeitório da nova prisão.

Ele estava brincando com aquele purê um tanto esverdeado que era servido, enquanto dialogava com Stiles e Boyd. Bem, Vernon só estava presente, não era como se ele estivesse se envolvendo muito na conversa. O negro só comia a sua comida, enquanto ouvia Isaac conversar com o castanho ao seu lado. Stiles não era exatamente o tipo sociável, mas respondia ao loiro de cabelos cacheados, ou comentava algo.

- eu não tenho efeito nenhum em ninguém, Isaac. Não viaja – respondeu o castanho com brincos dos naipes de copas e espadas, rasgando a carne malpassada do frango em seu prato com o garfo.

- vai negar agora? – perguntou o loiro de cabelos cacheados apontando com o garfo para o castanho com brincos. Stiles suspirou e se aproximou do loiro.

- lembra da regra de não falarmos nada sobre... o trabalho? – perguntou em um sussurro vendo Isaac menear positivamente.

- você está quebrando ela, quando fala “agentes” – disse Stiles antes de se afastar.

- oh, é mesmo – sussurrou o loirinho olhando ao redor para ver se ninguém os escutava.

- e falar sobre esse nosso lance, agora, é mais do que perigoso. Somos a carne nova nesse lugar. Muitos podem não saber que viemos de uma segurança máxima. Vão querer nos fazer brinquedo a qualquer momento. Fique esperto – ditou Boyd assustando o loiro, que lhe encarou por um bom tempo

- o que foi? – perguntou o negro ao ver o Lahey lhe encarando.

- você falou mais nesses poucos segundos, do que um dia inteiro, vulgo ontem – respondeu vendo o negro rolar os olhos.

Stiles sorriu minimamente, negando com a cabeça, enquanto abaixava o olhar. Um baque na mesa assustou Isaac, que deu um leve sobressalto. Boyd apenas ergueu a cabeça olhando na direção do homem que havia socado a mesa metálica. O homem com macacão da prisão sorria vitorioso encarando os três ali sentados sozinhos, enquanto o resto da prisão se sentava em grupo e os encarava com curiosidade, superioridade e até mesmo desejo.

- olha só se não temos carne nova no pedaço, hoje – ditou um homem de cabelos raspados, corpulento e com certa altura. Ele se encontrava cercado por dois homens, que fitavam o trio de novatos da mesma forma que o mais alto entre eles.

- o rei gosta de carne nova. – disse o mais magro, encarando Isaac com volúpia, antes de lamber o lábio inferior, descendo o olhar para a cintura do loiro.

- é. Carne nova significa lugares apertados – completou o mais baixo, encarando as expressões dos três novatos. Isaac os encarou com certa curiosidade, Boyd os encarou sem expressão alguma, já Stiles, nem se deu ao trabalho de direcionar o olhar para os três.

- e quem seria o rei? – perguntou o castanho levando um pedaço de frango malpassado a boca.

- eu sou o rei – falou o careca erguendo o queixo, encarando o castanho com superioridade.

- interessante – disse o castanho passando a brincar com o purê em seu prato. Isaac e Boyd encararam o castanho, tentando entender o que ele estava fazendo.

- o que é interessante? – perguntou o mais magro dos três, encarando o castanho com curiosidade, antes de descer o olhar para o macacão aberto do mesmo.

- eu gosto de cartas. Quando vocês falaram de rei, me lembrou muito delas – falou erguendo o olhar para fitar os guardas, vendo seis se aproximarem da grade que dava acesso ao refeitório.

- e o que a gente tem com isso, otário? – perguntou o mais baixo vendo o castanho gargalhar baixinho, antes de finalmente os encarar.

- se ele é o Rei, então você é a Rainha e você deve ser o Valete – disse apontando para o mais magro e para o mais baixo, respectivamente.

A frase do castanho causou risos em Boyd e em Isaac, assim como em alguns presos que escutavam a conversa de suas mesas. No mesmo instante uma onda de vaias fora feita para o trio de veteranos, enquanto Isaac morria de rir em seu lugar, espancando a mesa no processo. O “Rei”, encarou com seriedade o castanho, antes de olhar em volta, meneando positivamente, para em seguida tentar se aproximar do castanho, enquanto os seus dois parceiros faziam a volta na mesa. Antes mesmo de chegarem perto de Stiles, seis policiais armados se aproximaram da mesa, fazendo os três veteranos recuarem.

- Stilinski, Lahey e Boyd. Vocês três estão sendo chamados – disse um dos seis policiais que se aproximaram da mesa.

- vamos nessa – ditou Isaac animado, se erguendo para acompanhar dois guardas até a saída do refeitório.

- também vou indo – disse Boyd se erguendo e acompanhando outros dois guardas.

Stiles sorriu ladino, antes de se virar para os dois guardas que lhe apontaram o caminho para que fosse na frente. O castanho não deu nem dois passos antes de ouvir um “Vai ter volta, ô do baralho”. Stiles apenas sorriu e negou com a cabeça, continuando a caminhar, para, logo em seguida, ouvir um “Isso não vai ficar assim” sendo gritado pelo homem que se denominava rei. Quando o castanho fora levado até sua van, o mesmo vira Boyd lhe lançar um olhar severo.

Tudo o que Boyd queria era tentar passar despercebido por pessoas problemáticas e irritantes, como aquele trio de prisioneiros. Mas Stiles fizera justamente o contrário. O castanho provocou os três veteranos diante da prisão inteira. Aquilo era praticamente uma declaração de guerra contra o homem de cabelos raspados e seus dois prisioneiros de estimação.

Stiles havia feito algo que não teria como parar.

 


Não demorou mais do que dez minutos, devido ao transito louco de Nova York, para que os três sentissem suas vans pararem. Eles ouviram certas vozes, antes de as portas se abrirem, revelando os agentes os esperando no estacionamento da base. Derek encarava a todos os três com um olhar severo, enquanto Peter lhes lançava um sorriso de quem anda armando algo. Scott os encarava com normalidade, enquanto Alisson os encarava com tédio. Lydia? A mulher ainda os encarava temerosa. Tudo bem que ela era uma agente do governo, uma agente bem treinada. Mas aqueles homens... Aqueles três foram alguns dos casos mais complicados do FBI.

- estão atrasados – falou Derek vendo Isaac lhe lançar um olhar indignado, Boyd lhe fitar sem expressão e Stiles bufar irritado.

- você fala como se tivéssemos forçado os guardas a esperar para depilarmos nossas pernas e colocar um belo vestido de seda antes de vir, depois de receber o “convite” para a festa – argumentou o castanho vendo o moreno lhe lançar um olhar rigoroso.

- quer voltar para a segurança máxima? – perguntou o moreno de olhos verdes vendo o castanho revirar os olhos, calando-se.

- eles querem que você pare de pegar no pé deles por algo que eles não tem controle, muito menos você – disse Peter se aproximando e jogando as bolsas plásticas, que continham roupas, na direção dos três detentos, vendo os três agarrarem os pacotes.

- se vistam, temos trabalho – ditou Allison antes de dar as costas.

Os três não se incomodaram em se trocar ali mesmo, enquanto as vans partiam, os deixando ali com os agentes. Scott, Peter e Derek escoltaram os três prisioneiros para o andar de cima, onde discutiriam sobre o caso. Os seis encaravam a porta do elevador, esperando que a mesma se abrisse. Quando finalmente ocorreu, Isaac saíra apressadamente, antes de se jogar em uma das cadeiras que haviam ali. Stiles viera logo atrás, sendo seguido por Boyd, que era seguido por Peter, Scott e Derek.

- o que tem para hoje? – perguntou o loiro encarando Lydia e Allison a espera de uma resposta.

- e qual é a das malas? – perguntou Boyd apontando para as malas no canto do local com o queixo.

- Lydia – falou Peter apontando para a ruiva, que se aproximou de uma tela que havia ao lado do quadro e ligando a mesma, não demorou para que a imagem da bandeira dos Estados Unidos aparecesse na tela.

- vamos começar. Hoje, por volta das nove horas, o corpo de uma mulher foi encontrado jogado nos fundos de uma farmácia – disse a ruiva apertando um botão em um controle e logo a imagem de um corpo decapitado fora revelada.

- nossa! - exclamou o Lahey ao encarar a imagem sem nenhuma censura.

- para um criminoso você me parece bem incomodado com essa imagem – disse Derek vendo o loiro dar de ombros.

- o meu negócio é química e drogas, falou? Sangue e violência eu passo para o resto – disse dando de ombros e Stiles ergueu a mão.

- essa parte é minha – brincou o castanho de brincos, vendo o loiro de cachos sorrir.

- vocês vieram trabalhar ou não? – perguntou Derek vendo os dois prisioneiros se fitarem antes de voltarem o olhar para a tela.

- enfim, o corpo foi encontrado em Nova Orleans, mas segundo a identidade em sua carteira. Ela era de Miami. O nome é Tina Banner, vinte e quatro anos, estava cursando o último ano de enfermagem na faculdade. Iria se formar em dois meses. A colega de quarto não a deu como desaparecida, nenhuma ficha criminal ou coisa do gênero. Segundo os legistas, o corte em seu pescoço fora preciso. Não há sinais de luta ou coisa parecida. Ainda é desconhecido o paradeiro de sua cabeça, mas sabemos que a causa da morte fora a decapitação – disse apertando mais um botão e uma imagem 3D de uma cabeça computadorizada com o rosto de Tinna.

- o FBI vai investigar uma morte? Achei que fossemos para casos mais pesados – Argumentou Boyd se voltando para seus superiores.

- Lydia – disse Scott apontando para a ruiva.

- eu cheguei a esse caso não por indicação do chefe, mas sim porque andei fazendo ligações de mortes parecidas ou que ocorressem no mesmo estado ou método de assassinato parecido. Enfim. Há três meses, Jennete McCanzy fora encontrada morta em um beco na região de Meraux, que é próxima a Nova Orleans. Mas diferente de Tina, Jennete não estava decapitada. Ela teve as pernas cortadas, mas essa não é a parte mais brutal de sua morte. O filho da mãe usou as pernas dela para a espancar a pobre mulher antes da desova. Jennete era dona de casa e estava voltando do supermercado quando fora morta – disse a ruiva mostrando as fotos que a polícia tirara do corpo na cena do crime.

- alguma ideia de método de assassinato ou motivo? – perguntou Peter vendo os agentes negarem com a cabeça e Stiles erguer a mão.

- só foram esses casos? – perguntou vendo a ruiva negar

- Nada disso, bonitinho dos brincos – disse a ruiva apertando o botão, mudando de fotos e todos lhe fitaram com uma sobrancelha erguida. A ruiva se deu conta do que havia dito e se virou corada para o castanho.

- me desculpe. Eu me animo quando relato os casos – explicou gesticulando com as mãos em nervosismo.

- o que você descobriu, Lydia? – perguntou Scott vendo a mulher ajustar a saia que usava antes de voltar o olhar para a tela.

- então, eu fiz pesquisas sobre casos de mulheres encontradas mortas com pedaços do corpo faltando ou mortas de uma maneira estranha e descobri uma série de casos que vem subindo pelo estado de Luisiana até chegarmos a esse caso recente em Nova Orleans. Segundo o histórico, o primeiro assassinato ocorreu em Delacroix – falou apertando um botão no controle e a imagem de um corpo aparentemente comum, com um belo vestido azul.

- e qual foi essa? – perguntou Boyd e a ruiva passou a imagem para as costas da vítima, vendo tudo ali corroído.

- ácido clorídrico concentrado – respondeu e o loiro de cabelos cacheados soltou “Uh” mudo, enquanto fazia uma careta de dor.

- isso teria doído se ela estivesse viva – disse Isaac vendo a ruiva lamber os lábios.

- Megan Puckett, essa mulher, estava viva quando o suspeito lhe forçou a beber um litro e meio de ácido – disse a ruiva vendo Isaac arregalar os olhos.

- coitada – disse vendo Allison lhe fitar indignada.

- qual foi? Eu já disse que só trabalho com drogas, falou? E eu já me queimei com ácido, essa porra dói para cacete – falou erguendo a camisa para mostrar uma cicatriz em seu abdômen.

- certo, certo. Alguma ideia para suspeito? – perguntou Peter vendo a ruiva negar com a cabeça.

- Megan foi morta após a sua formatura da escola. Investigaram os alunos, mas nenhum suspeito. Funcionários da escola menos ainda. O ex-namorado até foi acusado, mas ele estava fora do estado visitando os avôs. Então, é. Sem suspeitos – respondeu mexendo no computador e logo as fotos de todas as vítimas apareceram.

- como foi feita a desova? – perguntou Stiles encarando a tela com certo tédio. Lydia lhe fitou receosa, enquanto Derek o encarava com seriedade.

- Ah... não temos informações. Todas as “testemunhas” dizem algo diferente em todos os casos – respondeu a ruiva vendo o castanho menear positivamente.

- mas o último caso não teve desova, não é? – perguntou vendo a ruiva arregalar os olhos rapidamente.

- eu ia dizer isso agora – respondeu apertando um botão de seu controle e a tela retornou a exibir a imagem do corpo de uma mulher decapitada.

- como soube que não houve desova? – perguntou Scott, mesmo ele mesmo sabendo a resposta.

- há muito sangue ao redor do corpo e há uma trilha de gotas de sangue, o que indica que o responsável carregou a cabeça, que ainda sangrava, por algum tempo – falou apontando para o ambiente, ignorando completamente a imagem do corpo na análise.

- por um tempo, não. O cara ficou com a cabeça da mulher. Não há nenhum sinal de onde ela possa estar – disse a ruiva vendo os investigadores lhe encararem curiosos.

- ele fica com pedaços da vítima? – perguntou Allison vendo a ruiva negar com a cabeça.

- segundos os legistas, essa é a primeira vez que algum pedaço do corpo está faltando – disse a ruiva vendo a morena estreitar os olhos.

- estranho, não... – a mulher fora cortada.

- não é muito comum assassinos em série mudarem os métodos que utilizam para matar – falou o castanho com uma expressão pensativa vendo Isaac estreitar os olhos em sua direção.

- é o que? Eles têm tipo uma regra? – perguntou o loiro encarando o castanho de brincos ao seu lado.

- Geralmente, assassinos em série tem um motivo para matarem, as vezes está relacionado a um trauma, as vezes a um desejo suprimido, as vezes até por preconceito – explicou Scott vendo o louro lhe fitar pela primeira vez no dia.

- existem várias maneiras de matar. Assassinos existem aí aos montes. Mas nós? Nós sentimos uma necessidade de deixar a nossa marca. Dizer que estivemos ali, que aquela vida e a de muitas outras foram marcadas por nós. Alguns pensam na dor que causam, tanto para a vítima quanto para os próximos, e se deleitam com isso outros pensam que estão libertando algumas pessoas, e há aqueles que apenas pensam no prazer que sentem ao sentir o sangue em suas mãos, ao saber que você tem o controle sobre algo – falou o castanho chamando a atenção de todos os presentes. O seu discurso fizera com que todos ali ficassem tensos. O silencio predominou.

- okay. Falamos de morte, falamos de vítimas, de métodos de assassinatos, mas nada respondeu a minha pergunta, apenas me gerou outra: O que nós temos a ver com um caso em Nova Orleans? Estamos em Nova York – questionou Boyd vendo os agentes lhe fitarem com seriedade, assim como fitavam os outros dois

- essa divisão, que formamos, atua em nível nacional – respondeu Derek vendo os três lhe fitarem surpresos.

- espera, espera, espera, espera um minutinho aí. Você está me dizendo que oito pessoas, vão cobrir o país inteiro? – questionou o negro vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar com seriedade, antes de menear positivamente.

- eles estão achando que nós somos o que? A Woop e as três espiãs demais? – questionou Isaac olhando para Boyd. Allison, Lydia e Scott riram.

- interessante – disse o castanho encarando Peter.

 

 

 

 

 

 

- você está de brincadeira! – exclamou Isaac ao adentrar o jato em que viajariam até Nova Orleans.

- não. Não estamos – disse Peter caminhando até o sofá que havia ali e se deitando no mesmo.

- okay. Mas por quanto tempo esse trabalho vai durar? – perguntou Boyd se sentando no primeiro assento livre que encontrou.

- vai levar o tempo que precisar. Compromisso por aqui, Boyd? – respondeu Derek entrando logo atrás de Stiles, que rolou os olhos para a fala do moreno.

- ele realmente não gosta de trabalhar? Ou só não gosta de trabalhar com a gente? – questionou Stiles batendo na cabeça de Peter, que erguera o dedo do meio para o castanho, antes de chutar as nádegas do mesmo, quando Stiles estava quase saindo de seu alcance.

- não, ele não gosta de vocês. Nem de mim – respondeu Peter se sentando para se levantar e caminhar até o pequeno freezer que havia ali e retirar um recipiente com gelo e o colocar ao lado de uma garrafa de Whisky e alguns copos.

- imaginei – disse o castanho se sentando em um assento e Derek se sentou no assento em frente ao do castanho.

- assim, eu não sei se vocês lembram, mas, Stiles, Isaac e eu temos que retornar para a prisão – apontou Boyd encarando Allison se sentar ao lado de Isaac e Scott se sentou ao seu lado.

- não precisa se preocupar com isso. Nós somos do governo. Os registros dizem que foram transferidos para um outro presídio – disse Scott vendo o loiro de cabelos cacheados encarar Allison, que estava sentada elegantemente ao seu lado.

- então vamos ter que mudar de presídio de novo? – perguntou vendo a morena negar com a cabeça.

- os registros são só para não causar escândalos, não deixar ninguém pensando que vocês fugiram. Quando retornarem a prisão depois do serviço, os registros serão deletados – disse a mulher puxando o celular do bolso, antes de ajustar o blazer que usava.

- em outras palavras, nunca saímos daquele presídio – falou o castanho, levando uma das mãos ao brinco com o símbolo de copas, passando a brincar com o mesmo entre os dedos, sendo encarado pelo moreno de olhos verdes a sua frente.

- exato – disse Derek encarando o castanho com um semblante fechado. O avião começou a se mover, fazendo Peter quase derramar o conteúdo de seu copo.

- alguém quer? – perguntou apontando para a bebida alcoólica ao seu lado. Isaac, Boyd e Scott ergueram as mãos e o loiro passou a preparar as doses dos três.

- não vai beber? – perguntou Derek encarando o castanho lhe fitar da mesma maneira.

- eu não bebo – respondeu vendo o moreno erguer uma sobrancelha em julgamento, antes de voltar a encarar o homem a sua frente com um semblante fechado, sendo encarado pelo mesmo da mesma forma.

- vocês dois querem um quarto? Podemos providenciar um, não será muito espaçoso, mas deverá dar para o gasto – ditou Peter rolando os olhos.

- por que está me encarando? – perguntou o agente de olhos claros vendo o outro nada expressar.

- por que você está me encarando? – questionou vendo o moreno de olhos verdes erguer uma sobrancelha novamente

- você me irrita – disse o moreno de olhos verdes vendo o presidiário sorrir ladino.

- você me irrita – falou vendo o moreno fechar mais ainda o semblante, tomando uma carranca no rosto.

- eu não gosto de você – ditou vendo o castanho cruzar os braços.

- novidades, por favor – disse vendo o homem rosnar, antes de Peter se sentar ao seu lado, após entregar os copos de todos o que pediram uma bebida.

- você pare com isso – disse apontando para Derek, que lhe fitou questionador – e você, ocupe sua mente com algo mais produtivo. Vamos jogar xadrez – finalizou retirando uma maleta de um compartimento ao lado da mesa e ao abrir a maleta, revelou ser um tabuleiro de xadrez com peças dentro. A tela acima da entrada que leva ao corredor que dá na cabine do piloto e a saída, parou de exibir o símbolo da agência e tomou a imagem de uma ruiva com fones de ouvido bluetooth e um copo de milk-shake em mãos.

- vocês devem chegar em Nova Orleans em uma hora e vinte minutos – disse a ruiva envolvendo a ponta do canudo com os lábios, sugando o conteúdo gelado do mesmo.

- alguma novidade? – perguntou Peter enquanto movia a sua primeira peça.

- não. Já alertei a polícia local, dizendo que o caso é nosso a partir de agora. Agora eu vou tentar achar alguma pista sobre um provável suspeito de acordo com alguns registros de cada cidade – anunciou a ruiva vendo os agentes menearem positivamente.

- nos avise quando tiver algo – falou Peter e a ruiva meneou positivamente antes de finalizar a video chamada e a tela voltar a exibir o escudo do FBI.

Eles levaram uma hora e meia para chegar até Nova Orleans. Os dez minutos foram para o aeroporto liberar a pista de pouso para os agentes aterrissarem. Ao chegarem na saída do aeroporto, alguns carros negros com sirenes já os estavam esperando. Eles seguiram direto para a delegacia da cidade, onde foram recebidos pelo delegado e um dos policiais responsável pelo caso. Claro que quando os agentes adentraram o prédio, quase todo mundo os encarava. Eles foram guiados para uma sala designada ao grupo, onde um policial já os aguardava com alguns arquivos.

- estes são os arquivos que temos sobre o caso – falou apontando para uma pequena pasta sobre a mesa redonda. Peter estalou os dedos e Stiles avançou sobre a pasta, começando a folhear a mesma rapidamente.

- muito obrigado – disse Allison se aproximando do homem.

- Jordan Parrish – disse o policial estendendo a mão para a mulher.

- Eu sou a agente Allison Argent, estes são os agentes Hale, McCall e Tate. Estes são... os agentes... Vernon, Isaac e Stiles - falou e todos acenaram para o homem, quando apresentados.

- o oficial Parrish e eu estaremos a disposição de vocês enquanto estiverem conosco – ditou o delegado vendo o castanho de brincos passar as páginas com velocidade, se questionando se ele estava mesmo lendo alguma coisa.

- muito obrigado por sua colaboração, Delegado – ditou o Hale estendendo a mão para o homem, que apertou a mesma, enquanto encarava o castanho com brincos jogar a pasta sobre a mesa e se aproximar de Peter.

- algo? – questionou o loiro mais velho vendo o castanho negar com a cabeça.

- nada que não saibamos ainda. Eles ainda não pegaram a análise sanguínea da vítima para ver se a mesma fora drogada, não tem pistas de suspeitos ou qualquer dado que nos aponte uma direção. Segundo eles a carteira estava intacta, ou seja, não foi uma tentativa de assalto. Mas não há nada ali que nos ajude a confirmar que de fato é um serial Killer – disse o castanho vendo o loiro acenar positivamente com a cabeça.

- entendo. Eu quero que você vá com Scott até os legistas, veja se encontra algo útil. Oficial Parrish, poderia os acompanhar, por favor? Derek e Boyd vão até a cena do crime. Allison e Isaac vão até a casa da vítima, conversem com a colega de apartamento e procurem por algo útil. Eu vou ficar aqui com a polícia e ver se recebemos alguma pista – disse o loiro e o moreno de queixo torto e o castanho se retiraram, sendo acompanhados pelo oficial Parrish.

- certo, vamos indo – falou Allison começando a caminhar para a fora da delegacia, com um loiro de cabelos cacheados em seu encalço. Os dois adentraram um dos carros negros e saíram, deixando o outro para Boyd e Derek.

- e então? – perguntou Scott, enquanto ele e o castanho seguiam o oficial Parrish até o necrotério.

- então... – disse o castanho vendo o moreno de queixo torto analisar a distância entre o oficial Parrish e eles.

- Alice? – perguntou o moreno de queixo torto vendo o castanho sorrir nasalado.

- o seu parceiro dono de um carisma sem igual não lhe disse? – perguntou o castanho vendo o moreno de queixo torto sorrir nasalado.

- não leve o Derek tão a sério. Ele é legal. Ele só... não parece gostar de você – disse o McCall vendo o castanho menear em concordância. – eu só não sei o porquê, mas ele meio que não gosta mesmo de você – finalizou vendo o oficial Parrish parar em uma porta.

- é, eu sei que ele me odeia – falou entrando na sala logo atrás do oficial Parrish.

- eu trouxe o pessoal de Nova York – falou o oficial vendo o legista lhe fitar curioso.

- E quem é o adolescente rebelde que usa brincos de garota? – perguntou o homem vendo o castanho lhe fitar com uma sobrancelha erguida.

- eu... não suportei o agente Hale por uma hora num jato fechado para isso – falou dando um passo para trás, erguendo as mãos. Scott sorriu para o senso de humor do castanho, antes de passar o indicador pelo lábio superior tentando disfarçar o riso.

- eu sou o agente McCall, esse é Stiles, um dos meus parceiros na equipe – falou apontando para o castanho que se aproximou de uma mesa metálica.

- devo imaginar que essa é Tina – falou notando a ausência da cabeça pelo volume escondido pelo tecido branco.

- o que indicou? A ausência da cabeça ou o fato de ser o único corpo que acabei de examinar? – perguntou irônico, vendo o castanho sorrir ladino.

- não. Ela é a única que fica dando dedo para você, mandando, silenciosamente, você ir a merda – disse pegando a mão do cadáver e mostrando o dedo do meio para o legista, que suspirou tentando conter o sarcasmo.

- você sabe que somos superiores seus, não é? E eu aconselharia a não irritar ele. Ele já deu sumiço em muita gente – falou vendo o castanho analisar um bisturi – larga o bisturi! – ordenou o moreno vendo o castanho rolar os olhos e largar o equipamento.

- eu não dou sumiço em ninguém. Nunca me importei de esconder os corpos – ditou vendo o moreno de queixo torto lhe fitar com repreensão.

- como é que é? – perguntou o legista encarando o castanho com questionamento.

- eu disse que nunca dei sumiço nenhum em corpo do necrotério. Pode ficar tranquilo – falou sorrindo antes de retirar o pano que cobria o corpo da mulher decapitada – ainda não será o seu corpo nessa mesa – sussurrou rapidamente vendo o moreno de queixo torto lhe fitar com seriedade.

- enfim, seja rápido e nos diga o que sabe – disse Scott vendo o legista suspirar e se aproximar do corpo. Quando o homem começou a falar, o castanho bocejou.

- ôh, agora eu te entendo, querida. Me diga onde esse bom homem lhe ajudou a não ouvir mais essa voz irritante. Eu adoraria que ele me ajudasse agora – falou vendo os três homens lhe fitarem com seriedade. Scott iria abrir a boca – cala a boca, eu entendi – falou se calando passando a analisar o corpo com os olhos.

 

Chapter 6: Tina

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- e então? – perguntou Peter ao ver Derek e Boyd adentrando a sala na delegacia.

- tudo o que encontramos foi um brinco e um provável percurso que o assassino seguiu com a cabeça, mas a trilha de sangue desaparece uma quadra depois do local do crime – falou o moreno de olhos verdes e Boyd jogou uma sacola plástica de evidencia com o brinco sobre a mesa.

- não tem sangue, provavelmente é da vítima. É comum algumas mulheres perderem as porcas de seus brincos ao mexerem no cabelo, principalmente quando o colocam atrás da orelha – falou o castanho imitando o gesto que citou.

- mande para a análise para confirmarmos – ditou o moreno de queixo torto vendo o parceiro menear positivamente.

- e vocês? Alguma coisa? – perguntou Derek, vendo o parceiro negar com a cabeça, enquanto Stiles se encontrava sentado no chão, na posição de lótus, brincando com o baralho em mãos.

- nada demais. Ela não tinha drogas no corpo. Ela foi assassinada sobrea. O corpo não apresentava nenhum sinal de briga ou lesões além do corte em seu pescoço. Se ela foi assassinada morta, o que quer que tenha a matado, ocorreu na cabeça – respondeu o McCall, vendo o moreno de olhos verdes tomar uma expressão pensativa.

- alguém pode ir comigo até a cena do crime? – perguntou o castanho, encarando os três agentes do governo. O pedido do castanho despertou curiosidade no oficial Parrish. Para ele era estranho ver um “agente” pedindo permissão para ir a cena do crime de um caso que ele investigava.

- será bom você dar uma olhada no local. Derek – falou o loiro apontando para o castanho com a cabeça e o moreno olhou com seriedade para o mesmo, enquanto o castanho de brincos jogava o baralho de uma mão para a outra elegantemente.

- tudo bem – falou o moreno de olhos verdes vendo o castanho se levantar num giro, sem colocar as mãos no chão. Quando o mesmo parou de girar, Boyd, Derek e Jordan ficaram surpresos ao ver que o baralho não se encontrava mais nas mãos do homem com brincos.

- vamos indo? – perguntou o castanho se aproximando do homem de olhos verdes, que recuou um passo ao ver que Stiles se encontrava em uma distância que a mão do outro podia o alcançar.

- vamos – falou o moreno dando passagem para o castanho, que colocou o capuz de seu casaco, antes de sair da sala, chamando a atenção dos policiais, que sempre encaravam os agentes quando os mesmo se movimentavam.

- quando entrarmos no carro, você será algemado – murmurou Derek para o castanho, vendo o mesmo sorrir ladino.

- já estou acostumado mesmo – sussurrou dando de ombros. Os oficiais acompanharam o castanho e o moreno de olhos verdes saírem lado a lado, nem notando a mão do agente Hale pousada sutilmente sobre a arma em seu coldre, enquanto uma das mãos do castanho se encontrava na manga do casaco.

- senhores – falou o delegado, surgindo ao lado de Stiles. Quando o castanho moveu o braço esquerdo, o qual se encontrava livre, Derek levou sua mão ao braço do castanho, segurando o mesmo.

- pois não? – perguntou Derek vendo o homem estreitar os olhos para a cena, enquanto o castanho encarava o moreno com tédio.

- acho que não é muito ético sairmos de braços dados durante o trabalho – falou o castanho puxando o braço sutilmente, vendo o Hale estreitar o olhar para si, antes de abraçar o torso com o braço, apoiando o cotovelo do braço, cujos dedos brincavam com o brinco de espadas, próximo ao punho.

- deixe de ser idiota, sabe muito bem... – o moreno de olhos verdes ralhou em voz baixa, mas fora cortado pelo castanho que se virou bruscamente para o delegado, que encarava a cena com o cenho franzido.

- ignore-o e prossiga – ordenou o castanho de capuz, encarando o policial piscar, antes de coçar a garganta.

- a mídia está querendo informações – falou o homem apontando para a porta, onde várias câmeras e repórteres estavam aglomerados. Stiles olhou para Derek, que encarou o lado de fora da delegacia antes de se virar para o delegado.

- diga a eles que todas as informações que temos até agora são confidenciais, mas que em breve estaremos liberando-as para a mídia – falou Derek vendo o homem menear positivamente antes de seguir na direção da saída.

- Stiles! Derek! Eu vou com vocês – falou Scott saindo da sala designada para os agentes e apressando o passo para alcançar os dois.

- ótimo – falaram os dois, antes de se encararem, para em seguida voltarem o olhar para o McCall.

- vamos logo – falou Derek se virando para a saída da delegacia.

Os três tiveram um pouco de trabalho para chegarem ao carro com tantos repórteres se colocando em seu caminho, principalmente com Stiles cobrindo o próprio rosto e com Scott e Derek ao lado do homem de cabelos castanhos, evitando que o mesmo tentasse se misturar aos repórteres, o que deu a entender que o detento era o culpado por algum crime da região. Os agentes sempre negavam quando os repórteres perguntavam se o castanho era responsável por algum crime na região e sempre que a mídia questionava o que ele havia feito para estar sendo escoltado, os agentes diziam não estar escoltando ninguém.

- arranca logo com esse carro antes que eu me estresse mais com essas pessoas – ditou o castanho, sentado no banco do passageiro.

- você não está em posição de dar ordens – falou o Hale, encarando o castanho de soslaio, vendo o mesmo rolar os olhos, entediado.

- se eu ficar mais dez segundos sob os flashs deles, nem vocês e nem eles estarão em condições de serem julgados como vivos – murmurou Stiles fitando um dos repórteres com ódio.

- apenas vamos logo com isso – disse Scott, sentado no banco de trás, logo atrás do castanho.

O moreno de olhos verdes começou saindo lentamente, dando chance aos repórteres que sem encontravam na frente do carro de saírem do caminho do mesmo, para em seguida começar a acelerar. O caminho inteiro fora feito em silencio, por parte dos dois agentes, já que o castanho insistia em cantarolar Pegasus Fantasy baixinho, enquanto encarava as pessoas pela janela, o que chamou a atenção de Scott para o mesmo. Para um assassino da segurança máxima do FBI, o castanho era bem... infantil, às vezes.

- chegamos – falou o moreno de olhos verdes, estacionando ao lado do local cercado pela fita amarela que ordenava que as pessoas não adentrassem o local. Stiles se calou e desceu do carro ao mesmo tempo em que os dois agentes.

- tente ser útil e achar algo que deixamos passar – falou o agente de olhos verdes e o castanho sorriu divertido em sua direção enquanto colocava as mãos no bolso do casaco fornecido a si por Lydia.

- estamos em uma cena de assassinato. Em resumo, estou em casa. Conheço isso aqui bem melhor do que você, mas para entender melhor, eu preciso de detalhes da vítima, a qual vou conhecer agora – falou saltando a fita de “fique longe” sem nenhum problema, ainda com as mãos nos bolsos, fazendo o agente McCall menear positivamente, fazendo um biquinho impressionado, enquanto se aproximava da fita.

- odeio esse cara – murmurou Derek, chamando a atenção de Scott.

- por que? – perguntou vendo o parceiro lhe fitar sério.

- só pelo fato de existir, ele já me dá um motivo para odiar ele – respondeu adentrando a cena, passando por baixo da fita.

Scott estreitou o olhar na direção do parceiro, que se aproximou de um canto, tentando não atrapalhar o castanho e o McCall fez o mesmo, antes de encarar o castanho, que voltou a cantarolar, mas dessa vez era uma música que os agentes desconheciam e, a julgar pelos movimentos rápidos dos ombros do homem, deveria ser uma música animada. A confirmação viera com o salto que o castanho dera, flexionando as pernas, antes de começar a mexer o corpo, enquanto analisava o chão. O encapuzado, girou sobre um dos pés e Derek bufou irritado.

- dá para deixar de brincadeira e andar logo? – perguntou Derek vendo o castanho permanecer a dançar, enquanto dava alguns passos para trás.

- Scott, o legista nos disse que o corpo dela estava um pouco duro, não disse? – perguntou o castanho, antes de se aproximar do moreno de olhos castanhos, que se encontrava ao lado de Derek.

- disse – respondeu o McCall, vendo o castanho parar de dançar e se abaixar para tocar uma mancha de sangue, afastada do resto do sangue, com os dedos, antes de levar os mesmos ao nariz, respirando fundo.

- ele disse que ela não estava drogada – falou o castanho e o moreno de queixo torto deu de ombros.

- os exames disseram que sim – falou vendo o homem se levantar e se virar para si.

- o Isaac foi preso por fabricar um tipo novo de droga, certo? – perguntou vendo os dois morenos menearem positivamente.

- e o que isso tem a ver? – perguntou Derek cruzando os braços.

- chamem a agente Argent e o Isaac para a delegacia, preciso que ele veja algo para mim – falou o castanho vendo os dois lhe fitarem com seriedade.

- por que ele? – perguntou Derek vendo o homem se erguer e cheirar os dedos novamente.

- porque ele, provavelmente, deve ser bom em química – falou vendo o moreno de queixo torto pegar o celular e levar ao ouvido.

- onde vocês estão? – perguntou o moreno de queixo torto se afastando – Stiles quer o Isaac na delegacia. Eu não sei, ele disse que quer que o Isaac veja algo para ele – ditou caminhando na direção do carro.

- ele mentiu – disse o castanho vendo as marcas de sangue no chão.

- o que disse? – perguntou o moreno de olhos verdes vendo o castanho se aproximar de si, enquanto olhava ao redor.

- o legista, ele mentiu. O corpo dela não estava relaxado na hora da morte. Ela estava tensa, provavelmente sabia que iria morrer – falou o castanho vendo o Hale estreitar os olhos em sua direção.

- você viu o corpo, por que achou isso só gora? – perguntou o moreno de olhos verdes vendo o homem de olhos castanhos olhar para a rua com certa desconfiança. Stiles via uma pessoa encapuzada lhe encarar, antes de dar as costas e adentrar uma loja de com um S como logo.

- eu toquei o corpo e ele já estava um pouco duro, considerei como efeito do tempo em que demorei para chegar até ele. Mas agora vejo que não fora efeito apenas do tempo – respondeu e Derek se virou.

- o quê? O que foi? – perguntou vendo algumas pessoas do outro lado da calçada olhar para eles.

- eu vi uma pessoa olhando para cá. Mas não tenho nenhuma certeza ainda – disse antes de voltar a encarar o moreno de olhos verdes, que passou um tempo olhando para as pessoas antes de voltar o olhar para o castanho.

- ainda tem as fotos da Tina no celular? – perguntou e o moreno puxou o celular do bolso, antes de colocar na galeria e entregar o aparelho para o castanho de olhos claros. Stiles mexeu um pouco no aparelho, antes de se virar para ficar de costas para o moreno de olhos verdes.

- aqui, não dá para perceber, porque o corpo fica na frente, mas tem uma trilha ali, que leva ao lado contrário da trilha longa que vocês seguiram, além daquela pequena possa de sangue ali – falou apontando para o celular, antes de apontar para uma possa bem pequena um pouco distante da possa maior.

- o que isso tem de importante? – perguntou o moreno dando de ombros e o castanho suspirou

- o que eu perdi? – perguntou o moreno de queixo torto, se aproximando.

- Stiles acha que o legista mentiu para nós – disse Derek vendo o parceiro estreitar os olhos.

- ela estava viva e acordada quando foi decapitada e ainda tentou fugir – falou o castanho vendo o moreno de olhos castanhos franzir o cenho.

- como sabe disso? – perguntou vendo o castanho suspirar.

- eu já decapitei alguém antes, falou? Vem aqui – falou se posicionando um pouco mais para a frente.

-o que? – perguntou encarando o castanho confuso.

- venha da fita para cá, como se mexesse em sua bolsa, distraidamente – ordenou o castanho e o McCall olhou para o Hale, que deu de ombros.

- vamos ouvir. Estamos sendo pagos para isso, mesmo – argumentou o moreno mais alto, vendo o parceiro suspirar antes de fazer o que o castanho diz.

- quando chegou aqui, ela foi surpreendida por ele, que tentou atacar ela, mas ela se virou para correr – falou o castanho assim que Scott se aproximou e o McCall se virou de costas e passou a caminhar.

- mas ele é experiente em capturar pessoas, então chutou o pé dela, para o outro pé, fazendo ela tropeçar e cair no chão – falou o castanho tocando o pé de Scott com o seu e o moreno de queixo torto deitou no chão.

- e o que mais? Esse não é o lugar em que ela morreu – falou Scott, encarando o chão.

- ele se aproximou e tentou golpear ela com a lâmina que usou para decapitar ela depois, mas ela rolou para o lado e o golpe atingiu o chão – falou o castanho simulando o golpe lentamente e Scott rolou para o lado, antes de olhar para o lado indignado.

- como sabe dessa parte do crime? – perguntou confuso e desconfiado.

- olhe para cá? A lâmina deixou uma marca no chão quando soltou faíscas pela força. É uma lâmina original de alguma marca – falou apontando para um risco curvo no chão ao lado de Scott.

- e daí? Pode ter sido qualquer coisa – falou o moreno de olhos verdes se aproximando.

- pela cor, ele é recente. Já viu pedra de amolar? Ela fica de uma cor parecida quando a ponta da faca risca ela – falou o castanho e Scott encarou Derek com os olhos arregalados.

- ok, e depois? – perguntou Derek, ainda pouco convencido da teoria do castanho.

- Ela chuta ele, quando ele insiste em agarrar a perna dela. Ela se levanta e tenta correr, mas ele foi mais rápido e, com sua arma bem afiada, ele dá um único e certeiro golpe em seu pescoço – falou simulando o golpe em Scott que parou de correr e se virou frustrado para o castanho.

- certo, e como sabe disso agora? – perguntou desconfiado, cruzando os braços, antes de trocar o peso do corpo sobre as pernas.

- olhe bem onde você se encontra – falou o castanho e Scott e Derek olharam para o chão, não percebendo nada.

- o que é que tem? – perguntou Scott antes de sentir a mão do castanho se enroscar em sua camisa.

- então a cabeça voa, mas o corpo, devido ao medo, continua seguindo o último estimulo lançado pelo cérebro. Mas ele não poderia deixar o corpo tão perto da saída do beco – falou o castanho e os dois homens de terno olharam para trás, vendo que Scott estava quase tocando a fita de “mantenha distância” com as costas.

- então o que ele faz? – perguntou Scott vendo o outro puxar a mão delicadamente.

- ele agarra sua roupa, exatamente como faço, e puxa o corpo para si – falou e Scott deu alguns passos antes de tentar se deitar, mas parou ao perceber que sua cabeça ficaria bem no centro da possa de sangue.

- mas que porra – murmurou se virando para o castanho.

- quando ele cortou a cabeça, o primeiro jato de sangue seguiu o corpo, o que explica essa trilha de sangue curta que leva a rua. Ele não tentou despistar ninguém. Aquela outra trilha, foi um jato da artéria que foi liberado durante a queda do corpo. E esse, é o jato lançado pela cabeça, enquanto voava. Ela voou baixo – falou o castanho apontando tudo com a mão, ignorando as expressões de surpresa dos morenos atrás de si.

- ele não é muito forte. Eu acho. Poderei dizer melhor se encontrarmos a arma do crime. A cabeça caiu aqui. Essa possa deve ter se formado enquanto ele guardava a arma do crime, ou se livrava dela. Eles verificaram essas lixeiras? – perguntou o castanho de olhos claros, se virando para os dois agentes, que trataram de concertar as expressões para seriedade.

-hm... Sim. Não encontraram a arma do crime – respondeu Derek, vendo o castanho negar com a cabeça e se virar para a possa.

- então ele guardou a arma em algum lugar consigo, antes de pegar a cabeça, com certeza pelos fios do cabelo, usando uma das mãos, antes de sair a carregando até algum lugar – falou começando a caminhar para fora da fita amarela que delimitava a cena do crime.

- como ele consegue fazer isso? – perguntou Scott em um sussurro, enquanto seguiam Stiles, que apenas encarava o ambiente ao seu redor, enquanto seguia a trilha e sangue.

- com certeza com muita prática em assassinatos – falou o moreno de olhos verdes, tomando uma expressão fechada, antes de seguir o castanho.

 

 

 


- ok, eu estou muito, mas muito impressionado com esse cara agora – anunciou Scott, encarando Peter assim que adentrou a sala na delegacia, enquanto apontava para Stiles, que entrou logo atrás de si.

- Isaac – falou olhando ao redor e logo o loiro de cabelos cacheados olhou em sua direção, atento, como um cachorro que escuta o apito do treinador ao longe.

- eu – falou, largando a pasta da investigação que faziam.

- você sabe identificar drogas? – perguntou o castanho encarando o loiro enquanto se aproximava.

- não sou nenhum cão policial, mas se ficar bem perto, posso sentir se estiver forte – falou dando de ombros e o castanho se sentou na mesa, bem a sua frente.

- eu quero saber se você sabe identificar qual é a droga que está em um local, tipo, numa mesa – falou vendo o loiro lhe fitar um pouco assustado.

- como eu disse, se estiver forte consigo – falou lentamente, enquanto olhava para Peter e Allison, assustado.

- ótimo. Cheire isso – falou o castanho pegando o casaco, a parte externa do bolso, que ficava contra o seu corpo para o homem, que segurou o objeto um tanto curioso, antes de o aproximar do nariz.

- o que houve? – perguntou Peter, encarando o sobrinho fechar a porta logo atrás de Allison.

- Stiles descreveu praticamente a cena toda que aconteceu, só de olhar o local por alguns minutos e cheirar um pouco o chão – respondeu o moreno de queixo torto apontando para o castanho encapuzado, que encarava Isaac com certo fascínio.

- e qual a necessidade do Isaac? – perguntou a Argent, encarando o loiro afastar o casaco do castanho do nariz.

- Wow, isso é tina forte, cara – falou o loiro coçando o nariz, antes de espirrar uma vez e Stiles se levantou da mesa animado.

- isso explica muita coisa – falou o castanho fechando o casaco e encarando os agentes os fitarem confusos.

- tina? – perguntou Derek encarando o loiro menear positivamente.

- Tina, é uma das nomeações da metanfetamina entre os usuários. Existem várias: Tina, Speed, Ice, Meth... – explicou o negro, vendo os agentes menearem positivamente.

- e o que a metanfetamina tem a ver com o isso? – perguntou o loiro mais velho, vendo o castanho lhe fitar sorridente.

- nosso assassino é viciado em drogas – disse vendo os agentes se entreolharem.

- bem, nós descobrimos que talvez, o assassino seja o ex-namorado da Tina – falou o loiro de cabelos cacheados, vendo o castanho lhe fitar um pouco confuso, assim como Peter.

- não Tina a droga, Tina a vítima – explicou, vendo Peter negar com a cabeça.

- nós entendemos. Apenas... Não faz muito sentido para mim – falou coçando o queixo com uma das mãos, olhando para o quadro que continha todas as informações que eles tinham até agora.

- por que? – perguntou Boyd e o Tate se virou para se sentar a mesa.

- tudo bem que alguns assassinos em série tem um objetivo em mente, mas... qual é o objetivo do nosso? Porque se o objetivo dele for se vingar da ex-namorada, podemos não o encontrar com vida – falou o loiro vendo o negro estreitar os olhos.

- por que ele mataria outras pessoas se ele só queria matar a ex-namorada? – perguntou vendo Derek se aproximar da pasta e abrir a mesma.

- alguns assassinos em série são como crianças numa escola nova: há a etapa de introdução, onde eles se acostumam com essa ideia de mundo novo; depois vem o desenvolvimento, onde eles começam a se arriscar mais com suas vítimas, tentando acompanhar o ritmo de desenvolvimento de sua libido; e temos o encerramento, onde eles finalmente atingem o objetivo que os levou a começar com aquilo – respondeu antes de fechar a pasta e se virar para o negro, que lhe encarava com seriedade.

- é isso mesmo? – perguntou o loiro de cachos, vendo o castanho encapuzado menear positivamente.

- exatamente isso. Quando não se é um assassino nato, qualquer serial killer passa por esse sistema – disse o castanho, vendo o moreno de olhos verdes lhe encarar com seriedade.

- bom, então vamos logo atrás do namorado da Tina Banner – falou Allison pegando uma das chaves dos carros e Isaac se levantou instantaneamente.

- eu vou com você – falou e a mulher meneou positivamente.

- e por que vai levar ele para um interrogatório com o provável assassino? Deveria levar o Stiles – questionou Scott, apontando para o encapuzado.

- na verdade, Isaac também será útil. Se o cara for um viciado em metanfetamina, Isaac vai ser o primeiro a nos dizer – falou a mulher vendo o loiro menear positivamente antes de os dois saírem da sala.

- ok, obviamente, nosso grupo ainda tem problemas – falou Peter, passando a mão nos cabelos, antes de o silêncio predominar na sala.

 

 

 

O seu corpo estava quente. Os músculos de suas pernas se tensionavam e relaxavam várias e várias vezes. Gemidos um pouco graves eram liberados naquele ambiente um tanto apertado e bagunçado. Era um rapaz de cabelos negros, deitado na cama do local, enquanto estocava com força contra a própria mão. Vez ou outra ele mantinha a virilha imóvel enquanto movia a sua mão. Os gemidos aumentaram e o seu ritmo fora intensificado.

Em questão de segundos o rapaz urrou, jogando a cintura para cima, enquanto se derramava no próprio torso. Ele ainda sentiu um pequeno jato úmido lhe acertar o rosto, mas estava relaxado demais para se importar com aquilo. Estar sozinho era tão bom. O moreno ficou algum tempo assim, com a boca aberta, ganindo baixo, enquanto sentia os espasmos musculares do orgasmo ainda dominarem o seu corpo. Não demorou muito para que seu corpo, aos poucos fosse perdendo toda aquele relaxamento mágico gerado pelo clímax. O rapaz ficou apenas regulando a respiração, enquanto encarava o teto de seu quarto. Foi quando batidas na porta foram ouvidas e o rapaz revirou os olhos, bufando irritado.

- LEVANTA, IDIOTA! A PORRA DO CHÃO ESTÁ COM MANCHAS VERMELHAS E TENHO CERTEZA DE QUE FOI CULPA SUA! – uma voz masculina se fez presente do outro lado da porta e o rapaz se irritou, erguendo o torso desnudo e sujo, encarando a porta com certa fúria.

- VAI SE FODER! ESTÁ ACHANDO RUIM? LIMPA VOCÊ, BABACA! – gritou irritado e logo uma pancada foi ouvida. A outra pessoa socara a porta com força, mas não adiantou muito, devido as várias trancas que existiam naquela porta.

- OLHA COMO VOCÊ FALA COMIGO, SEU VIADINHO! – gritou o homem do outro lado da porta.

- VIADINHO É VOCÊ, QUE TRANSA COM UM VIBRADOR NO CU, FILHO DA PUTA! ESTÁ ACHANDO RUIM AS MANCHAS? LIMPA COM A LÍNGUA, GARANTO QUE O GOSTO VAI SER MLHOR DO QUE A DA VADIA QUE ENFIA AQUELA PORRA NO SEU CU! – gritou o rapaz, antes de se jogar na cama.

- SÓ VOU ESPERAR VOCÊ SAIR DAÍ PARA A GENTE ACERTAR AS COISAS!  VOU FAZER VOCÊ DAR COM A LÍNGUA NOS DENTES, OTÁRIO! – gritou o homem antes de chutar a porta se retirar dali. O moreno se jogou na cama novamente, antes de suspirar pesado.

Aquela casa lhe dava nos nervos. Tudo ali lhe dava nos nervos. Nem mesmo no seu quarto ele poderia ter um minuto de paz. Ainda irritado e pouco se importando com a sujeira em seu torso, o rapaz se virou, direcionando o seu olhar para a cabeça pálida e de olhar vazio que se encontrava sobre o travesseiro ao lado do seu.

- o que acha? Devo fazer com ele? – perguntou o adolescente, encarando os olhos sem vida. 

Não houve resposta por parte da cabeça de Tina. Mas aquilo na o pareceu o irritar. Ele sabia que ela estava morta. Ele a matara. Mas aquilo não o impedia de tentar um diálogo de um lado só. Até mesmo a cabeça de um cadáver era uma companhia melhor do que a sua mãe e o maldito do seu padrasto.

- as vezes eu só queria amarrar ele embaixo de um carro e fazer o pneu passar por cima da barriga dele. Ele sempre foi de fala da boca pra fora – ditou o rapaz levando as mãos a cabeça de Tina, a erguendo do travesseiro e a trazendo para perto de si.

- por que uma mulher como você tinha que ser assim, hein? Você era tão bonita! Por que teve que fazer isso? – indagou em um sussurro, fazendo uso de um tom tristonho, enquanto acariciava os lábios frios da cabeça feminina a sua frente. Sem cerimônia, ele tomou os lábios gélidos e sem vida em um beijo calmo. Apenas um encostar se lábios, antes de se afastar e olhar com seriedade para a cabeça humana.

- o que você diria se me visse agora, hein? – questionou sorrindo largo logo em seguida.

 

Chapter 7: Another

Chapter Text

- ah, meu Deus! Eu estou morta – falou uma mulher, assim que voltou a empurrar o carrinho de supermercado. Todo o seu corpo doía. Mas o que mais lhe incomodava era o seu abdômen.

- a ginástica foi intensa, Molly? – questionou uma funcionária da área dos frios, vendo a amiga reclamar de dor.

- nossa, Jenny! Você não faz ideia! Está tudo doendo. Mas o que está me matando é o meu intestino. Eu estou toda desregulada com essa dieta nova – respondeu Molly se apoiando no balcão e analisando os tipos de carne.

- imagino, amiga. Eu também queria malhar para o Josh, sabe? Ficar bem gostosa. Mas eu desisto na primeira semana de dieta. Não consigo viver sem meus doces, meus carboidratos. Eu podendo comer bolo, vou comer pão integral por causa de homem? Estou boa demais. Me quer com esse pneuzinho ou não? Se não quiser é bye-bye, baby – argumentou Jenny vendo a amiga sorrir.

- ah. Nem me fale em carboidrato. Eu não consigo preparar o lanche das crianças sem babar, sabe? Eu imagino aquele sanduíche de geleia e manteiga de amendoim... – disse Molly tomando uma expressão de deleite, antes de gemer de frustração e voltar a se esparramar sobre o balcão.

- ai. Nem me lembre. Ontem eu acabei sozinha com a manteiga de amendoim enquanto assistia a morte de Dumbledore em Enigma do Príncipe. Ainda quero rasgar a garganta da autora por isso – disse a mulher recebendo o pedido de outro cliente e o providenciando enquanto conversava.

- ah, eu queria muito poder um, só um sanduíche de geleia e manteiga de amendoim – murmurou Molly, antes de fazer biquinho

- mas você está certa, amiga. Fique bem gostosa para o Baile de inverno. Você vai ser a sensação – disse Jenny antes de as duas sorrirem animadas.

- bom, eu vou querer o de sempre. Se eu mudar a carne, o David vai ficar chateado comigo por dias – disse a mulher com roupa de ginastica antes de ouvir a amiga gargalhar.

- bem que ele está precisando entrar em dieta também – disse Jenny providenciando o pedido da amiga.

- ah. Mas ele diz que nem a pau que entra em uma dieta. Correr e jogar? Até vai, mas mudar a comida? Se eu mudar a comida ele diz que come o meu braço – disse a mulher sorrindo, fazendo a amiga gargalhar.

 

 

 

- já sabe as regras, não sabe? – perguntou Allison, encarando o loiro, que olhava para a casa na qual iriam entrar.

- já – respondeu Isaac, meneando positivamente, antes de se virar para a morena.

- vamos indo, então – falou a Argent abrindo a porta do carro e o Lahey fez o mesmo.

Os dois caminharam lado a lado. Isaac encarando a casa pelas janelas, enquanto Allison estudava tudo ao seu redor, discretamente, ai mesmo tempo em que caminhavam na direção da entrada. Nada fora do comum. Era a típica casa de família classe média americana: casa de andar, jardim de grama aparada, portinhola de cachorro na porta. Quando chegaram a porta, Isaac tocou a campainha e ambos passaram a esperar, enquanto observavam o máximo de detalhes possível do ambiente ao seu redor. Não demorou muito para que uma mulher de cabelos negros e um avental sujo com um pó branco abrisse a porta e sorrisse gentil na direção dos dois.

- Olá! Em que posso ajudar? – questionou docemente, enquanto limpava as mãos no avental.

- senhora Frostt ? – questionou a morena, encarando a mulher lhe fitar um pouco confusa.

- sou eu – respondeu encarando o loiro de cabelos cacheados olhar por sobre o seu ombro.

- eu sou a agente Argent, este é o meu parceiro, Isaac. Estamos procurando por seu filho, Todd – ditou Allison, mostrando o seu distintivo para a mulher que fitou os dois com confusão no olhar.

- federais? O que querem com o meu filho? – questionou a mulher, nervosa, enquanto passava a esfregar as mãos no avental com frequência, fazendo uso de certa força.

- apenas queremos conversar com ele – disse a morena de blazer, calmamente, tentando acalmar a mulher que, obviamente, estava uma pilha de nervos. A senhora de cabelos negros encarou o loiro, que lhe fitava com um olhar sério, embora este não lhe causasse os arrepios que o olhar da Argent lhe causava, antes de menear positivamente.

- claro, claro. Ele está no quarto, jogando com um amigo. Vou chamar ele agora mesmo – disse a mulher, ainda nervosa com a presença dos federais em seu lar.

- por favor, podem se sentar – pediu a morena de avental, apontando para a sala.

- está tudo bem. Não queremos incomodar. Mas será que poderia nos levar ao quarto dele? – questionou Allison vendo a mulher dar de ombros.

- por que não? Venham – respondeu chamando os agentes com a mão.

Allison apontou para o caminho e Isaac fora na frente. O loiro e a morena seguiram a senhora Frostt até o andar de cima, onde foram guiados até a última porta do corredor. A mulher bateu na porta, antes de aproximar o rosto da mesma.

- Todd, querido, têm alguém querendo falar com você – a mulher soou calma e uma barulheira fora ouvida vindo do interior do quarto, antes de passos pesados serem ouvidos.

- ah, eu mereço. Se for aquela vagabunda de novo... – um rapaz de cabelos coloridos na cor do arco íris abriu a porta, enraivecido, mas travou ao ver Allison e Isaac. O rapaz fez uma expressão confusa para os dois agentes, antes de olhar confuso para trás.

- quem são vocês? – questionou o rapaz de cabelos coloridos encarando os dois agentes com confusão no olhar.

- eu sou a agente Argent e esse é o meu parceiro, podemos conversar com você? – questionou Allison, vendo o rapaz dar espaço para os federais entrarem no quarto.

- o que querem comigo? – perguntou se sentando ao lado dos pés de um rapaz loiro que estava deitado na cama com um joystick na mão.

- precisamos lhe fazer algumas perguntas – respondeu Allison parando na frente da tv e colocando as mãos na cintura.

- é sobre a Tina? – questionou o loiro deitado na cama.

- é, é sobre a Tina, sim – respondeu Allison encarando Isaac.

- onde você estava na noite do assassinato? – perguntou Isaac olhando ao redor – se importa se eu der uma olhada em seu quarto? – questionou vendo o rapaz ficar um pouco tenso.

- não sei o que está procurando mas não vai estar em meu quarto – respondeu Todd vendo o loiro sorrir.

- talvez não, mas eu preciso olhar, de todo jeito – disse o loiro abrindo a ultima gaveta da cômoda, antes de retirar a mesma. Todd ficou encarando Isaac e sua mãe, alternadamente, e Allison olhou para a Senhora Frostt.

- será que a senhora pode nos dar licença? – questionou Allison vendo a mulher abrir a boca e gaguejar.

- e-eu sou a mãe dele. Posso ficar aqui, estão em minha casa – disse a mulher, nervosa.

- infelizmente, não pode. Isso é um interrogatório e a sua presença pode interferir nos resultados – disse a morena se aproximando da porta e fechando a mesma.

Isaac esperou a morena fechar a porta antes de retirar algumas revistas pornográficas de varia dos gêneros. O loiro ergueu a sobrancelha antes de dar de ombros e colocar as revistas de lado para vasculhar melhor o fundo da cômoda.

- vocês não têm que ter um mandado? – questionou o loiro deitado na cama, sentando na mesma e se aproximando para se sentar ao lado do Todd.

- Não quando as pessoas colaboram. Você também deve sair.– Allison pontou para a porta e Todd segurou no braço do outro.

- ele, não, por favor – pediu o rapaz de cabelos coloridos e o loiro levou sua mão ao ombro do outro.

- preciso que se levantem – disse Isaac, após arrumar as revistas e a gaveta de volta na cômoda. Os dois mais novos se levantaram e Isaac virou o colchão, antes de o colocar de volta como estava.

- responda a pergunta. Onde estava na noite em que Tina foi morta? – questionou Allison vendo o rapaz estreitar os olhos.

- eu estava dormindo na casa do Brian. O pai dele pode confirmar – respondeu apontando para o loiro, que meneou positivamente.

- estávamos jogando Final Fantasy naquela noite. Eu lembro que o pai do Brian várias vezes vinha para a sala, nos oferecendo pipoca e bebidas – falou Todd encarando a agente nos olhos e Brian sorriu.

- até a hora em que ele pegou algo no ar – disse o loiro encarando o outro que sorriu também.

- é, depois daquilo ele subiu – falou Todd sorrindo ladino.

- a colega de apartamento de Tina nos informou que vocês tiveram um termino bastante conturbado – afirmou Allison, vendo Isaac passar a vasculhar o guarda roupas. Todd suspirou irritado.

- aquela vadia, nem morta te deixa em paz – murmurou Brian bufando logo em seguida.

- é, nós tivemos um termino bem conturbado. Ela vivia me ligando e me xingando. Me fazendo ameaças – falou o rapaz de cabelos coloridos.

- esse jaleco me parece grande demais para ser do seu ensino médio – disse Isaac mostrando a vestimenta branca.

- eu faço Engenharia Química na faculdade. Estou no antepenúltimo período – disse o rapaz e Allison estreitou o olhar para o Lahey, que deu de ombros.

- o que querem saber, exatamente? – perguntou Brian fitando a agente, que lhe ignorou prontamente. Allison olhou para Isaac, que passou a batucar nas paredes e chão.

- e podemos saber o motivo do termino conturbado? – perguntou Allison vendo o Frostt coçar a nuca.

- porque eu comecei a namorar outra pessoa – respondeu Todd vendo a mulher erguer a sobrancelha.

- preciso do nome dela – disse Allison e os dois adolescentes se entreolharam e ficaram em silêncio.

- vamos eu preciso de um nome para poder interrogar essa pessoa – disse a agente vendo os dois coçarem as nucas, indecisos.

- Brian. É com ele que você está namorando, certo? – questionou o Lahey, chamando a atenção de Allison, que olhou para o loiro e viu o mesmo abaixado, erguendo um pedaço de madeira do chão e mostrando um frasco de vaselina.

- mais alguma pergunta? – questionou Brian, vendo o loiro guardar o objeto e colocar a tábua no lugar.

- Tina não aceitou o fato de eu terminar com ela para poder namorar o meu melhor amigo. Então ela vivia nos fazendo ameaças e dizendo que a nossa homossexualidade iria despertar a ira divina e mais um monte de idiotices – respondeu o Frostt vendo a morena olhar para o loiro que se aproximou.

- mais alguma pergunta? – questionou Todd e Isaac se aproximou.

- sim, levante a cabeça – disse se abaixando na frente do rapaz.

- é o quê? – questionaram ambos, confusos.

- apenas levantem as cabeças e olhem para o teto – disse o loiro e os dois adolescentes o fizeram. Isaac observou atentamente as cavidades nasais, antes de se aproximar e cheirar cada um.

- pronto? – perguntou Allison e o loiro meneou positivamente.

- para que foi isso? – perguntou Brian encarando Isaac.

- já temos tudo o que queremos – disse Isaac saindo do quarto.

 


Molly estava em casa, cozinhando algo leve para não quebrar a sua dieta. O seu marido, David, havia saído para beber com alguns amigos, enquanto as crianças estavam na casa da avó. Molly já estava com uma ideia na cabeça. As coisas entre ela e David estavam começando a esfriar. Então ela iria fazer uma surpresa para o marido, naquela noite. Ela já havia preparado o quarto assim que David saiu. Agora ela iria comer, descansar e esperar até a hora de seu marido chegar para que pudesse se vestir adequadamente e retirar o vinho da geladeira.

A mulher comeu e tratou de lavar os pratos para que pudesse ir se deitar no sofá para assistir um filme qualquer . Enquanto lavava os pratos, Molly ouvia música um pouco alto, mas não o suficiente para incomodar os vizinhos. Ela dançava ao som de Sexy Back, enquanto esfregava um prato, distraída, e nem notou a porta da casa se abrir. Alguém passeava pela sala e corredor, silenciosamente, enquanto Molly tratava de enxaguar os pratos. Quando ela acabou tudo, fora surpreendida quando uma mão pousou em seu rosto, cobrindo a sua boca. Uma luva de couro negra abafava os seus gritos de desespero. Ela sentiu um corpo ser prensado ao seu, e um rosto ser esfregado em seu pescoço. Desesperada, Molly tentou se soltar, mas logo a pessoa assoprou por entre os lábios, a mandando ficar em silêncio.

- o seu marido se incomodaria se você transasse comigo, hoje? – a voz do outro invadiu os seus ouvidos num sussurro rouco e sexy, fazendo Molly sentir fúria e indignação tomarem o seu corpo. O homem lhe soltou e Molly se virou, revoltada, para estapear o outro.

- MAS QUE PORRA, DAVID. EU QUASE MORRO DE SUSTO, SEU IDIOTA – gritou a mulher, enquanto estapeava o homem, que gargalhava, tentando se proteger.

- desculpa, amor. Mas eu não resisti – disse Davi controlando a mulher e a virando para pia, a prensando novamente.

- você estava tão sexy dançando para mim – sussurrou no ouvido da mulher, fazendo o corpo da mesma estremecer.

- seu cafajeste – murmurou mulher, sentindo a mão do marido deslizar por seu corpo, até adentrar a sua calça. Molly suspirou com os dedos de David começando a lhe penetrar.

- lembrei de quando as crianças estavam de férias e eu te fodi aqui mesmo – o homem sussurrou, colocando mais um dedo dentro de sua amada, fazendo Molly tomar uma expressão de prazer.

- D-David – soltou Molly, enquanto movia o quadril, intensificando os movimentos da mão de seu marido em sua calça.

- o que? – questionou o homem enquanto abaixava a própria calça.

- vá tomar um banho, você está fedendo a álcool – ditou a mulher retirando a mão do marido de sua calça, ouvindo o mesmo soltar um muxoxo.

- ah, eu preciso mesmo fazer isso? – perguntou chateado.

- se quiser ter algum dos orgasmos que eu te preparei para hoje, sim – respondeu Molly mordendo o lábio inferior e se virando para o marido, que ergueu uma sobrancelha.

- algum dos? – questionou curioso.

- dos vários – acrescentou mulher, sorrindo para a animação evidente do marido.

- não saia daqui. Eu volto num instante – falou David correndo para o andar de cima, tropeçando nas escadas, caindo algumas vezes.

Molly gargalhou pela animação do marido. O homem adentrou o banheiro como um furacão e tratou de arrancar suas roupas e seguir para o box. David tomou um banho rápido, mas que fora o suficiente para tirar o cheiro de bebida que tanto incomodou Molly naquele momento excitante. O pai de família nem fez questão de se vestir e seguiu, ainda com o membro ereto para a cozinha. Ao chegar no andar de baixo ele notou que tudo estava escuro, as luzes estavam apagadas. Ele sorriu. Molly estava a sua espera.

- voltei – falou caminhando pela cozinha.

Silêncio. David não escutava nada. Muito menos via alguma coisa. Molly queria lhe pegar de surpresa, assim como ele o fizera. O homem caminhava pela cozinha, apenas esperando o momento em que Molly daria o bote.

- onde você está, amor? – perguntou impaciente. Ele estava mais do que excitado, precisava se aliviar.

- porra, Molly. Eu preciso muito de uma ajuda aqui – ditou impaciente, ainda recebendo o silêncio como resposta.

David se irritou e seguiu para a entrada da cozinha, ascendendo as luzes. A imagem que ele teve da cozinha mudou a sua vida completamente.

 

 

- ainda não temos nenhum suspeito? – perguntou voltando a envolver o canudo com sua boca, sugando o milk shake em seu recipiente.

- não. O único que tínhamos era o ex-namorado, mas, segundo Isaac e Allison, ele não é usuário de drogas e o relacionamento gay dele já é um bom álibi – respondeu Derek impaciente, batucando na mesa, enquanto encarava Stiles construir um castelo de cartas enorme.

- ah... Ele está construindo um castelo de cartas? – questionou a ruiva encarando o enorme castelo.

- está mais para palácio – respondeu Boyd, sentado em seu canto da mesa.

- eu tenho meus métodos de estimulação cerebral – disse castanho assim que finalizou de usar todas as cartas.

- quantos baralhos você têm? – perguntou Isaac, um tanto entediado.

- alguns – respondeu retirando mais um da manga.

- mas que porra! – exclamou Scott vendo o castanho embaralhar o jogo, elegantemente.

- acho melhor vocês dormirem. Já está tarde – disse o delegado, adentrando a sala dos agentes.

O homem estava impaciente com a aglomeração em sua delegacia devido a presença dos federais. A imprensa estava na entrada e grande parte dos oficiais não queriam se afastar da delegacia para marcar pontos com o governo.

- eu acho uma ótima ideia. Minha beleza não se manterá sem o meu sono da beleza. E vocês não se manterão sendo os meus docinhos de morango se eu não ingerir açúcar para continuar sendo esse doce de pessoa que sou. Pois uma Lydia com sono e sem açúcar igual a uma pessoa amarga e sem filtro na boca. E eu não posso ingerir muito açúcar pois meu corpo está perfeito e não quero engordar – disse a ruiva puxando o copo de milk shake para tomar mais do mesmo. Derek ergueu a sobrancelha, intrigado.

- Lydia qual é o período entre as mortes? – perguntou Allison um tanto sonolenta. A ruiva na tela do notebook digitou alguns comandos, antes de se virar para a webcam novamente.

- igual ao número de milk shakes que eu tomei nas ultimas três horas: nove. Nove dias – respondeu a ruiva causando risos no delegado.

- gostei dela – disse encarando Allison, que sorriu compreensiva.

- então vamos dormir. Está tarde – disse Peter bocejando

- é bom alguns de nós ficarem aqui para caso ocorra de alguma informação nova chegar – disse Scott, coçando o queixo com sono.

- exato. Vamos estabelecer um sistema de plantão para casos demorados – ditou o loiro se levantando.

- vocês podem ir, eu fico aqui – disse Derek apoiando o queixo na mão, sobre a mesa.

- tem certeza? – perguntou Allison encarando o moreno de olhos verdes, este que meneou positivamente.

- também vou ficar – disse o castanho de brincos e Derek ergueu o olhar surpreso, assim como Scott e Allison.

- como é que é? – perguntou o agente Hale, causando certa curiosidade no delegado.

- temos uma equipe de sete pessoas, não há necessidade de apenas um ficar. Eu fico com o Derek, vocês podem dormir – disse o encapuzado desfazendo o castelo de cartas, que se esparramou pela mesa.

- tudo bem, vamos nós cinco dormir e vocês dois resolvam as coisas por aqui – falou Peter, interrompendo qualquer chance de Derek argumentar contra a ideia de ficar com Stiles na delegacia.

- pronto. Uma reserva para cinco já foi feita. Mandei o endereço para o celular de vocês – ditou a ruiva encarando a tela do computador, vendo Derek fitar Stiles com seriedade, enquanto o castanho recolhia os baralhos que usara.

- certo, vamos indo. Vá dormir você também, Lydia – disse Peter e a ruiva bateu continência antes de afastar a cadeira.

- vou usar uma das salas, pois se precisarem de mim já estarei aqui. Beijos e bons sonhos para os que vão dormir. Para vocês dois, espero que não se matem – disse a ruiva desligando a vídeo chamada.

- bom, vamos indo. Qualquer coisa nos avisem imediatamente – disse Peter se dirigindo para a porta, mas foi impedido pela entrada do oficial Parrish

- acharam outro corpo – disse o homem, vendo todos lhe fitarem surpresos.

- e lá se vão os bons sonhos – disse Scott olhando para Isaac que lhe fitou também, meneando em concordância.

 

Chapter 8: One Day

Chapter Text

- então você e sua mulher estavam tendo uma noite comum, quando a encontrou desse jeito? – questionou Allison da maneira mais gentil e compreensiva possível para o homem sentado na calçada da casa. 
A residência fora completamente interditada pela polícia local. A agente Argent estava a interrogar David, o marido da vítima, Molly Vincent, enquanto o resto da equipe estava no interior da casa, analisando a cena de crime após os forenses terem feito o seu trabalho. A ação da polícia e a presença de federais na residência dos Vincent já estava chamando a atenção dos vizinhos e dos outros moradores da rua. David fungou algumas vezes, ainda inconsolado antes de menear positivamente. 

- e-eu subi para... Para tomar um banho rápido. Foi rápido mesmo. Ela disse que só transaria comigo depois que eu tirasse o cheiro de bebida de mim. Aí quando eu voltei, ela já estava assim – respondeu o homem, assoando o nariz com um lenço que um dos oficiais lhe entregara.

- lamento por sua perda, senhor Vincent – falou a morena apertando suavemente o ombro do homem, que abaixou a cabeça, cobrindo a testa com uma das mãos.

- o que eu vou dizer as crianças? Como vou criar elas sozinho? – questionou o homem, voltando ao pranto logo em seguida.

- procure ajuda. Isso ajuda bastante, no início. Procure a pessoa mais próxima a vocês e ela irá lhe ajudar da maneira que puder. Muitos pais que passam por isso sozinhos acabam não tomando um bom rumo – disse a agente, apertando o homem suavemente mais uma vez, antes de sinalizar para um dos oficiais e o mesmo fora encarregado de escoltar o homem até a delegacia.

A mulher de cabelos negros longos caminhou até a faixa de “afaste-se”, passando por debaixo da mesma, ignorando os vizinhos bisbilhoteiros ao redor da faixa e seguindo para o interior da casa. Assim que passou pela porta, Allison deu de cara com Isaac e Boyd, parados na sala, ao lado de Scott. A mulher, confusa, se aproximou os encarando. Isaac estava sentado no sofá, enquanto bebia um copo d’água. Ele parecia pálido e trêmulo.

- o que fazem aí? – questionou a morena, vendo o McCall lhe fitar com seriedade assim como Boyd, mas Isaac lhe fitar com súplica.

- você já viu como está a mulher? – questionou o loiro, respirando pesadamente.

- Isaac desmaiou ao ver o corpo. Boyd e eu não gostamos de ver essas coisas, então me voluntariei para ficar de vigia dos dois aqui na sala – respondeu o moreno de queixo torto vendo a mulher fazer uma expressão de surpresa, antes de menear em concordância.

- está tão ruim? – questionou vendo os legistas a espera da liberação do corpo por parte dos federais.

- Isaac caiu na hora que entendeu o que era aquele vermelho todo – respondeu Boyd fazendo a Argent sorrir minimamente e negar com a cabeça.

A morena se dirigiu para a cozinha e só então ela entendeu o motivo de o louro de cachos ter desmaiado. A mulher viu que a metade da mesa estava pintada com o vermelho do sangue da mulher que acabou sendo a vítima da vez. Ela viu Derek e Peter um pouco afastados no canto, analisando a cozinha, enquanto Stiles apalpava o corpo da mulher com uma luva de látex, que a agente não soube dizer de onde viera. Talvez ele tivesse pedido emprestado com os legistas, ou talvez da maleta que se encontrava na mão de Peter. Mas o que chocara o Lahey não fora nada disso e sim o corpo, sentado a mesa, com a cara jogada na madeira ensanguentada enquanto os órgãos internos de seu abdômen atravessavam o corte ali feito e caíam sobre o colo de Molly Vincent, a vítima, mas o intestino não estava entre eles. O enorme órgão do sistema digestivo se encontrava enrolado no pescoço da mulher.

- podem levar – ditou Stiles, retirando as luvas e as entregando para um dos legistas, que o encarou confuso. No mesmo instante, os legistas se aproximaram com uma maca e um compartimento feito de couro. Eles colocaram o corpo da mulher na maca e fecharam o compartimento, privando os civis de verem o estado do cadáver.

- e então? – questionou Peter se aproximando do castanho, assim como Allison e Derek.

- ela foi pega desprevenida. Há um ferimento na cabeça, indicando que o assassino a golpeou por trás. Isso lhe deu uma vítima completamente passiva ao ato. Ele a enforcou com o próprio intestino. Mas a dor do corte em seu abdômen a despertou, ela tentou se defender, mas não durou muito. A perda de sangue lhe deixou tonta. Mas a causa da morte, de fato foi a asfixia. O corte foi preciso o suficiente para não atingir nenhum órgão no processo – disse o castanho cruzando os braços enquanto os legistas levavam o corpo para a delegacia.

- e como está o marido? – questionou Derek vendo a Argent suspirar.

- como deveria estar. Arrasado – respondeu a agente encarando o Hale menear positivamente, antes de suspirar, lançando um olhar furioso para o castanho de brincos, que se encontrava de costas para si, brincando com o brinco com o naipe de espadas entre os dedos da mão direita.

- escória do inferno – bufou irritado olhando para o outro lado, antes que alguém percebesse do que se tratava.

Mas o seu ato não fora rápido o suficiente para o olhar atento de Allison, que franziu o cenho minimamente. Peter, por outro lado, se quer precisou olhar para o sobrinho para saber do que se tratava. O loiro suspirou pesado, antes de olhar de soslaio para o castanho, que, de costas para si, parecia pensativo e alheio a toda a situação, mas o castanho olhava de canto de olho para uma das panelas penduradas sobre a mesa, a qual exibia o reflexo dos três agentes.

- não tenho mais nada o que ver aqui – ditou Stiles, saindo de sua pose e começando a caminhar para a sala.

- não seja tão imprudente, você só vasculhou a cozinha – argumentou Derek vendo o castanho parar na cozinha e girar a face para que a sua imagem entrasse no campo de visão dele. O olhar sério causou um certo ressentimento em Derek, que o ignorou para manter sua pose de profissional. O olhar sério se tornou um divertido acompanhado de um sorriso simples.

- olhe as pegadas, Agente Hale. Ele sabia o que queria aqui. Conseguiu o que quis e depois foi embora – falou Stiles antes de passar pela porta da cozinha, deixando os três para trás.

- o que há entre vocês? – perguntou Allison vendo o moreno de olhos verdes cruzar os braços com um semblante nada amistoso.

- assuntos particulares – foi tudo o que Derek disse antes de seguir para a sala.

- é algo complicado. Tão complicado que ele não está pronto para falar disso ainda – disse Peter apertando o ombro da companheira de equipe, antes de seguir para a sala.

- consegue sentir algo? – perguntou Stiles vendo Isaac cheirar a porta da casa.

- tem o mesmo cheiro do seu casaco. Tina – respondeu o loiro de cabelos cacheados, fazendo o castanho sorrir ladino.

- estamos perseguindo um viciado – disse Scott ao ver Allison e Peter adentrarem o recinto.

- a mídia já chegou – disse o oficial Parrish surgindo ao lado do loiro mais velho e logo após ele olhou curioso e surpreso para Isaac, que ainda cheirava a porta.

- eu... devo perguntar? – questionou olhando para Peter, que sorriu divertido.

- é o mascote do grupo – respondeu o Tate, apertando o ombro do loiro mais novo e Isaac se afastou indignado.

- qual foi, Peter?! – exclamou o loiro de cachos, irritado.

- eu estava brincando. Acho que ainda não temos um perfil para liberar – falou o loiro mais velho, porém menor, encarando o seu grupo.

- na verdade, eu acho que temos um perfil, sim – disse Stiles vendo o loiro erguer uma sobrancelha para si.

- temos informações suficientes? – questionou o loiro vendo o castanho menear positivamente.

- então temos um perfil – disse Peter dando de ombros.

- pela manhã, mande a mídia para a delegacia. Diga que liberaremos o perfil – ordenou Scott e o oficial meneou positivamente, seguindo para o lado de fora da casa.

- acha mesmo prudente darmos um perfil feito por um assassino? – questionou Derek, em baixo tom para o tio.

- existe alguém melhor para perfilar um assassino do que o melhor do país? – questionou Peter, um tanto irritado.

- confia tanto assim num assassino? – questionou Derek irritado com a atitude do tio.

- pare já com isso. Sabe que se ele não fosse apto ao trabalho eu não o teria colocado nessa divisão – o loiro soou mais irritado do que o sobrinho.

- acontece que você não tem mais aptidão para julgar um criminoso, Peter – soltou Derek, também irritado.

- e eu acho que a DR deveria ser fora do local de trabalho – soltou Allison, vendo os dois lhe fitarem com fúria.

- vocês vão acabar chamando a atenção. E uma coisa que deveria ser segredo vai ser exposta para o país todo. É isso o que querem? – questionou Boyd, ainda de braços cruzados.

- eu ainda me assusto com esse cara falando tanto – disse Isaac causando risadas em Peter, Stiles, Scott e Allison.

- vamos logo para a delegacia soltar esse perfil e acabar com o trabalho o quanto antes – disse o negro vendo os agentes concordarem consigo.

- e então, perfilador? Qual é o perfil do nosso cara? – questionou Derek, se jogando de braços cruzados na cadeira da sala. Stiles apenas lhe ignorou para continuar brincando com seus brincos.

- vamos lá o que nós temos até agora? – questionou Peter, vendo o grupo ficar atento uns aos outros.

- obviamente, alguém que está metido com drogas, provavelmente um viciado – disse Scott, gesticulando com a mão, antes de se inclinar para a frente e apoiar o torso sobre a mesa.

- fabricantes também ficam com o cheiro em seus corpos, pode ser um traficante, também. Já vi muitos que matam – ditou Isaac vendo o moreno de queixo torto lhe fitar de soslaio.

- é claro que viu – soltou num sussurro, mas o Lahey acabou ouvindo.

- quer mesmo falar disso, Senhor perfeito? – questionou o loiro de cachos, irritado.

- talvez eu queria mesmo, Breaking Bad da realidade – respondeu o McCall, também irritado.

- Ah, eu adoraria ver os seus argumentos sobre a sua vida perfeita, livre de problemas. Ah, vai concertar o queixo, Palhaço! – o loiro soou irritado, encarando o moreno de olhos castanhos.

- quer voltar para a prisão? – questionou Scott enfurecido.

- vocês só sabem usar isso contra a gente? E se eu nunca mais tiver que ver a sua cara, traidor de merda, eu quero voltar para a prisão, SIM! – respondeu Isaac se levantando e caminhando até a porta.

- não saia ainda – disse Stiles vendo o loiro lhe fitar irritado.

- vocês querem espalhar para todo mundo que nossa equipe é feita com presidiários? – questionou Peter vendo Scott bufar irritado, antes de passar as mãos nos cabelos.

- tenham calma. É apenas o sono agindo em vocês. Estão todos estressados e impacientes – disse Stiles vendo o loiro de cabelos cacheados relaxar um pouco e retornar para o local em que estava sentado

- o que mais nós temos? – perguntou Allison, tentando mudar o foco da conversa.

- as vítimas são todas mulheres – disse Lydia, sonolenta, com um copo de café em mãos, do outro lado da tela da sala.

- é tudo o que temos – disse Boyd vendo Derek bufar irritado.

- Não temos como lançar um perfil. Mas a mídia acha que temos. Parabéns, idiota. Segundo trabalho e já ferrou tudo – falou Derek, impaciente, se levantando da cadeira e olhando para o quadro com as fotos das vítimas.

- é um homem – disse Stiles chamando a atenção para si.

- como sabe disso? – perguntou Boyd, vendo o castanho se levantar e caminhar até o quadro, parando ao lado de Derek.

- Todas as vítimas são mulheres. A maioria das mulheres, matam apenas homens, por ter algum tipo de ressentimento, ou trauma. E isso pode ocorrer com um homem. Quando ele é traumatizado por uma mulher, o seu desejo pela morte da pessoa que lhe traumatizou passa a fazer com que ele mate pessoas que lembrem a criadora de seu trauma – disse o castanho apontando para a foto de Molly Vincent.

- não entendi. O que isso nos diz sobre o cara? – perguntou Boyd, confuso.

- ele é um homem, traumatizado por alguma mulher. A namorada, talvez? Ou alguém desconhecido. Mas ele vê, nas vítimas, um grande fragmento dessa mulher – respondeu Stiles, se virando pra encarar os agentes antes de se afastar de Derek, que lhe fitava com seriedade.

- se ele é traumatizado e vê a pessoa que lhe traumatizou em suas vítimas, por que tem a coragem de matar elas? Mas não teve de enfrentar a mulher? – perguntou Scott vendo o castanho sorrir nasalado.

- ele vem criando coragem com o tempo. É por isso que as mortes se tornaram mais ousadas, ao ponto de ele matar uma mulher com o marido estando em casa. Ele não tem coragem, não ainda. Provavelmente a metanfetamina lhe dê a coragem necessária para enfrentar o problema, por isso que o cheiro da droga é perceptível no ambiente. Ele precisou ingerir ela por muito tempo e continua o fazendo para ter a coragem de matar o reflexo de sua agressora – explicou o castanho de brincos, vendo o loiro mais velho menear em concordância.

- isso explica o tempo de nove dias. Ele tem precisado consumir a droga para se acostumar a ideia e ter coragem para a próxima vítima – disse o Tate vendo o castanho parar para pensar.

- então ele está evoluindo – falou Derek voltando a encarar o quadro.

- e rápido – soltou Stiles vendo Isaac os fitar confusos.

- isso é o quê, agora? Pokemon? – questionou confuso.

- ele está evoluindo, significa, estar se tornando um assassino melhor. Nesse caso, ele está superando o medo de sua agressora. Já que não faz nem um dia que Tina Banner foi morta – disse Allison encarando o relatório do caso de Tina que se encontrava em suas mãos.

- eu sei. Uma evolução e tanto, o que faz com que eu pergunte: Ele realmente evoluiu, ou isso é só alguém aproveitando o caso para esconder seus rastros? – questionou Lydia vendo o grupo encarar a tela com certa seriedade.

- seria impossível. Se houvesse um segundo assassino, ele teria que estar na sala quando o Stiles pediu para o Isaac detectar a metanfetamina – respondeu Boyd vendo a ruiva ficar um pouco pensativa.

- ele tem razão. Nada ainda foi informado, não com detalhes. Sem contar que essa parte da metanfetamina nem está nos relatórios. Algo deve ter ocorrido para ele ter começado a acelerar as mortes – disse Peter vendo os agentes ficarem tensos.

- ótimo. Sabemos que é homem, traumatizado e drogado. Mas fora isso não sabemos de mais nada – disse Derek vendo o grupo ficar um tanto pensativo.

- ele também não tem um porte atlético – disse o castanho vendo o moreno de olhos verdes bufar irritado.

- e por que acha isso, rei da razão? – questionou Derek vendo o castanho sorrir ladino, antes de correr na direção da porta. No mesmo instante, Derek enlaçou o corpo do outro com os braços, o impedindo de alcançar a saída.

- viu? Se ele tivesse um porte atlético teria atacado a senhora Vincent sem ter apagado a mesma. Mas ele a fez desmaiar para que tivesse controle sobre ela – afirmou o castanho vendo os agentes respirarem aliviados ao verem que aquela não era uma tentativa de fuga do castanho.

- ouse uma gracinha dessas de novo e eu mato você – Derek rosnou no ouvido do castanho antes de o soltar.

- tão amistoso – ironizou Stiles, indo se sentar em seu lugar.

- certo. Acho que temos tudo para um perfil – falou Scott se levantando.

- ainda não sabemos como ele tem acesso as vítimas – disse Lydia chamando a atenção do loiro mais velho.

- ele precisaria de um lugar público – falaram Scott e Isaac ao mesmo tempo.

- um lugar em que ele tivesse acesso a informações das vítimas. Onde tivesse contato com elas – falou Peter vendo toda a equipe se tornar pensativa. Allison caminhou até a porta da sala, chamando a atenção dos oficiais, que tentaram disfarçar que estavam trabalhando.

- ALGUÉM AQUI SABE SE NA CIDADE HÁ ALGUM TIPO DE SERVIÇO DE ENTREGA? – gritou a Argent fazendo os oficiais erguerem a cabeça.

- há muito disso. Farmácias, lanchonetes... – respondeu a oficial mais próxima. No mesmo instante Peter se virou para a imagem de Lydia na tela pendurada na parede.

- descubra qual deles é o mais utilizado? – questionou o loiro vendo a ruiva digitar rapidamente nos vários teclados que se encontravam ao seu redor.

- brincadeira de criança. É o Supermercado Bayle’s, localizado no centro da cidade. Eles são o maior da cidade e têm um serviço de entrega – ditou a ruiva e logo a imagem de um supermercado surgiu na tela.

- perfeito. Scott, Isaac, Stiles e Derek, amanhã, pela manhã, vocês vão ao supermercado. Tentem não chamar a atenção. Finjam que vão comprar algo para comer ou coisa assim. Allison, Boyd e eu vamos dar o perfil para a imprensa. Tentem ver a reação de alguns funcionários ao nosso perfil – disse o loiro se erguendo no mesmo instante.

- mas por hora precisamos dormir. O hotel ainda está reservado caso queiram usar – ditou Lydia encarando os agentes sonolentos menearem em concordância.

- Lydia, reserva mais dois, por favor – pediu Peter vendo a ruiva e todos os agentes lhe fitarem em questionamento.

- mas Stiles e Derek vai ficar aqui caso haja mais algum ataque – comentou Scott, confuso.

- não há necessidade. Um corpo fora encontrado hoje. Vai demorar pelo menos vinte e quatro horas para ele matar de novo. Não tem como ele evoluir mais do que isso em tão pouco tempo – ditou Stiles embaralhando cartas em suas mãos.

- como pode ter certeza? – questionou Derek franzindo o cenho.

- a mente dele é perturbada e parece precisar de ação o quanto antes, mas uma morte parece ser o suficiente para ele aguentar por vinte e quatro horas. Ele evoluiu rápido, mas ainda consegue se controlar. Sem contar que a seleção de vítimas costuma demorar. Não é qualquer pessoa que um assassino como ele costuma matar. Ele é seletivo quanto as suas vítimas – respondeu Alice vendo o moreno de olhos verdes permanecer com o cenho franzido em sua direção.

- e como sabe que ele é seletivo? As vítimas são todas mulheres aleatórias – indagou o Hale vendo o castanho sorrir de canto.

- só o fato de todas serem mulheres já aponta que ele é seletivo. Mas há algo mais. Alguma coisa liga essas mulheres. Alguma coisa que ainda não descobrimos o que é. Mas que quando descobrirmos vai entregar todo o jogo dele – afirmou o homem de brincos vendo o moreno tomar uma expressão de raiva no rosto para com o seu sorriso.

- fala como se estivesse brincando com ele – ralhou o agente de olhos verdes vendo o sorriso nos lábios alheios crescer.

- e do que você chama isso que estamos fazendo? – argumentou Stiles vendo o homem a sua frente cerrar os punhos com suas palavras.

- Stiles! Já chega! – ralhou Peter vendo o castanho dar as costas para o Hale e seguir para a saída calmamente.

- eu sou contra todos irem dormir. Alguém tem que ficar acordado para vigiar eles – argumentou Derek vendo o grupo lhe fitar pensativo.

- ele está certo. Alguém pode...

- pelo amor! Me algemem na cama logo! Ninguém vai fugir. Isaac não faz mal a uma mosca e Vernon é inteligente o suficiente para saber o que o aguarda caso ele fuja – ditou o criminoso de brincos vendo Allison lhe fitar pensativa.

- e você? Vai tentar algo? – inquiriu a Argent tentando medir até onde o homem a sua frente era confiável em suas palavras 

Um sorriso largo surgiu nos lábios a sua frente. Um sorriso desafiador.

- eu sou louco demais para você ter alguma certeza – ditou Alice fazendo a mulher engolir em seco.

Com o punho cerrado, Peter desferiu um golpe com a mão direita na cabeça do Stiles, surpreendendo a todos, principalmente os agentes. Aquele era Alice, o assassino mais temido pelo FBI. Mas lá estava Peter acertando um pequeno soco na cabeça do castanho, como um mais velho repreendendo uma criança traquina.

- isso não está ajudando! Comporte-se! – ralhou o Tate vendo o mais novo sorrir alegremente 

- certo. Certo. Vou parar de brincar com eles por hora – disse o castanho coçando a cabeça enquanto Peter lhe lançava um olhar sério.

- você vai dormir comigo, hoje. Assim ninguém precisa ficar com medo de uma provável fuga dele – ditou Peter antes de voltar o olhar para o computador.

- prefiro ele algemado – comentou Scott vendo o louro mais velho lhe fitar com seriedade.

- deixe que eu lido com ele. Stiles é responsabilidade minha – ditou o Tate pegando na mão do castanho e começando a caminhar na direção da porta.

- certo. Tudo pronto. Vocês já podem ir – disse Lydia vendo os outros membros da equipe começarem a seguir o mesmo caminho que Peter e Stiles.

 

 

- já está pronto? – indagou Scott assim que sairá de seu quarto e encontrará Isaac parado, de braços cruzados na frente do próprio quarto.

- sim. Estou. E você? – questionou o Lahey vendo o McCall menear positivamente.

- nós temos que ir para o supermercado Bayle's – ditou Derek chamando a atenção dos dois 

- eu vou indo na frente – os três puderam ouvir a voz de Stiles vir de um quarto próximo, chamando a sua atenção. Ao olharem melhor para o corredor, puderam ver o castanho sair de um dos quartos.

- ótimo. Já está todo mundo aqui. Vamos logo – disse Scott enquanto via o assassino do grupo se aproximar deles calmamente, enquanto cobria a cabeça com um capuz.

- certo, eu estou cansado de ficar parado, mesmo – disse o loiro de cachos passando a mão no estômago.

Stiles, Isaac, Scott e Derek caminhavam pelos corredores do supermercado, analisando cada funcionário discretamente, enquanto fingiam escolher algum produto. As pessoas não percebiam os agentes as analisando. Durante todo o discurso de Peter para a imprensa, os quatro passavam de fileira em fileira, em duplas, já que os agentes não confiavam nos dois prisioneiros. Scott e Isaac estavam no corredor dos frios, enquanto Stiles e Derek estavam no corredor dos utensílios. Isaac empurrava um carrinho enquanto Scott colocava alguns pacotes de salgadinhos e algumas latas de refrigerantes no carrinho.

Aos olhos dos demais, aquilo parecia ser apenas dois amigos comprando besteiras para uma noite de filme, o que se passava despercebido aos olhos de alguns. Já Stiles e Derek chamavam um pouco a atenção de algumas senhoras, que viam os dois homens escolhendo entre alguns tipos de talheres e tigelas, enquanto, discretamente, analisavam todos a sua volta. Os dois caminhavam pelo corredor com Derek empurrando o carrinho normalmente, mas o moreno parou o carrinho ao sentir o castanho sumir de seu campo de vista.

- Stiles – chamou o Hale olhando para trás, encarando o castanho, parado em frente a uma prateleira com alguns utensílios de cozinha.

O mais baixo nada respondeu, apenas permaneceu a encarar os utensílios a sua frente. Derek estranhou, antes de encarar a prateleira e perceber do que se tratavam os utensílios. Todos eram lâminas. Havia lâminas de todos os tipos. De facas de pão, às de serras e às de carne, até cutelos. O moreno de olhos verdes sentiu uma sensação ruim lhe tomar o corpo. O homem de cabelos negros se aproximou no mesmo instante, com a mão perto do coldre. Ele tocou o ombro do castanho, chamando a atenção do mesmo, que abanou a mão em sua direção, fazendo careta.

- eu estou pensando – falou o homem com brincos e o moreno de olhos verdes suspirou aliviado e irritado.

- nem pense que vou comprar uma dessas coisas. Estamos aqui para outra coisa – ditou o moreno de olhos verdes, apertando o braço do castanho com certa força.

- eu sei que estamos aqui a trabalho e é justamente isso o que estou fazendo – murmurou o Stilinski, desviando o olhar para os olhos verdes do Hale, que lhe fitavam com intensidade.

- com licença, desculpe o incômodo e a ousadia, mas vocês são novos na cidade? É que eu costumo sair muito e conhecer muita gente, mas nunca os vi por aqui. – perguntou uma mulher, que segurava uma tigela quadrada em mãos. Os dois homens, instantaneamente disfarçaram a tensão entre eles e sorriram gentis.

- sim, sim, nós somos – respondeu Derek, enquanto Stiles se virava para pegar uma faca de carne enorme, afiada e brilhante, e colocando o pacote da mesma no carrinho a frente do homem.

- eu... suspeitei pelos produtos que estão escolhendo. Imaginei que estariam se mudando para cá. Eu me chamo Daisy e aquele é o meu marido, Arthur – falou apontando para um homem que escolhia entre dois tipos de conjuntos de tigelas coloridas. O homem acenou brevemente, sendo correspondido da mesma forma.

- vocês formam um belo casal – disse Stiles, sorrindo gentil, antes de parar ao lado de Derek normalmente e cruzar os braços.

- vocês compraram a casa de vocês onde? Se não for incômodo perguntar – questionou a mulher, um tanto envergonhada por temer estar sendo invasiva.

- Ah... – os dois homens se olharam brevemente, antes de Derek, num estalo de memoria, lembrar o nome de uma rua pela qual passaram na cidade.

- na segunda com a Belles Fleurs – respondeu o moreno de olhos verdes e o castanho meneou positivamente.

- Ah, que maravilha! Vocês moram pertinho de nossa rua! – exclamou a mulher animada. Daisy abraçou a tigela que estava em mãos, como uma adolescente abraça o livro didático.

- amor, vamos levar esse aqui – falou Arthur, se aproximando e passando o braço por sobre o ombro da mulher.

- tudo bem. Arthur, estes são... Eu esqueci de perguntar o nome de vocês – falou a mulher, pegando o conjunto de tigelas da mão do marido.

- Eu sou Derek, este é Stiles – disse o moreno de olhos verdes apertando a mão do homem de cabelos castanho abraçado a mulher. O casal aparentava ter os seus trinta anos de idade.

- prazer – falou Arthur ao apertar a mão de cada um.

- eles são novos e moram perto. Apenas quatro ruas de distância – disse a mulher ao marido, animada.

- bom, nesse caso, por que não os convidamos? – perguntou Arthur orrindk para a mulher que sorriu em resposta.

- convidar? Para que? – perguntou Derek apenas para manter o disfarce, pois tudo o que ele queria era tirar Stiles de perto de civis.

- nós vamos dar um jantar, hoje a noite. Nós convidamos os mais íntimos do bairro e alguns amigos para uma festa pequena. Se quiserem aparecer por lá... – respondeu Arthur encarando os dois homens a sua frente.

- por que não? Não é mesmo? – questionou Stiles, sorrindo gentil.

- me desculpem a pergunta, mas vocês... são parentes, amigos... um casal? É que eu vi que os dois estão com um carrinho só e estão escolhendo as coisas juntos – questionou Daisy apontando para o carrinho do dupla com uma das mãos. Derek e Stiles se entreolharam, antes de Stiles sorrir para o casal a sua frente, sendo seguido por Derek.

- sim. Nós somos namorados – respondeu o castanho, sorrindo gentil e o moreno lhe enlaçou pelos ombros, assim como Arthur fazia em Daisy. A mulher deu alguns pulinhos animada, enquanto o marido sorria da excitação da mulher.

- ela sempre quis ter um amigo gay – disse Arthur tentando deixar a animação de sua mulher menos estranha para o casal a sua frente.

- Ah. Eu preciso que vocês apareçam. É o primeiro casal gay que conheço! – exclamou a loira puxando a mão de Stiles e anotando um número nela.

- este é o meu número. Por favor, compareçam. Será bom para vocês se enturmarem um pouco com o bairro – disse a mulher sorrindo animada.

- tentaremos aparecer. Faremos de tudo para não sermos abduzidos por tantas caixas de mudança! – brincou o castanho vendo a mulher gargalhar antes de se afastar junto do marido.

- era só o que me faltava – murmurou Derek ao dar as costas ao casal, sendo acompanhado por Stiles, que ainda estava sendo abraçado pelo moreno.

- nem me fale – ditou o castanho ao olhar para trás e constatar que o casal já não lhe fitava mais.

- já podemos parar? – questionou o Hale e o castanho retirou o seu braço dos ombros.

- já. O que faremos agora? – questionou vendo o Hale pegar a faca de carne no carrinho e voltar um pouco.

- voltar para a delegacia – respondeu tentando voltar para guardar o produto no lugar.

- você se disfarça tão bem que o nosso carrinho está quase vazio para pessoas que se mudaram recentemente – disse o castanho, provocando o mais alto, que lhe fitou com fúria.

- não pense que vou permitir que pegue algo do tipo novamente. Sei do que é capaz e o que quer com isso – Derek soou visivelmente furioso, fazendo o castanho sorrir ladino.

- se soubesse mesmo, saberia que não preciso disso – ditou o castanho com simplicidade, dando as costas e pegando um pacote de salgadinhos na forma de nachos que se encontrava no carrinho e passando a comer o mesmo.

- o que pensa que está fazendo? – questionou o moreno de olhos verdes vendo o castanho dar de ombros.

- pagaremos na saída – ditou o castanho empurrando o carrinho com a barriga, enquanto comia o salgadinho de queijo.

Eles deram a volta no supermercado, analisando cada funcionário minuciosamente. Mas não conseguiram nada. Ninguém parecia ser compatível com o perfil. Isaac não sentia o cheiro de metanfetamina em ninguém de quem conseguia se aproximar e Stiles não via sinais de trauma em nenhum dos funcionários. Quando decidiram voltar para a delegacia. Derek e Stiles encontraram Isaac e Scott passando todas as comidas que pegaram em um caixa distante.

- Stiles! Derek! – a voz de Daisy alcançou os ouvidos dos dois e ambos se viraram sorridentes.

- Daisy! Arthur! – exclamou Stiles animado. O casal simpático estava passando as compras em um caixa vizinho.

- esperamos mesmo que vocês compareçam no jantar de hoje a noite – falou a mulher, animada

- não queremos desfeita, rapazes – ditou Arthur, pagando o caixa.

- tentaremos não nos atrasar – disse Derek, sorrindo simpático.

- agora nós temos que ir. Nós ainda temos muita coisa para comprar. E se demorarmos demais, minhas pernas estarão me matando hoje a noite – falou Daisy, sorrindo logo em seguida.

- não fale coisas assim, Senhora Deveniel. Minha mãe sempre disse que as palavras tem poder – disse o caixa sorrindo simpático.

- então vamos manter um pensamento positivo – disse a mulher sorrindo para o caixa antes de acenar para Stiles e Derek, que acenaram sorridentes em resposta.

- até mais tarde! – exclamou Stiles piscando para o casal que saiu acenando para si.

- se palavras realmente tivessem poder, ele não teria nem mais um dia - murmurou Derek, encarando o castanho ainda de costas para si.

- nem mais um dia -

Chapter 9: Words

Chapter Text

O adolescente comia os seus cereais normalmente. Ele fitava a tigela com leite e flocos de milho com certo tédio. As vezes ele se pegava questionando a si mesmo o motivo da vida. Qual era a razão para ele ter nascido? Por que ele nasceu? Para onde ele tinha que ir? O que tinha de fazer? Qual era o seu propósito?  Ele enfiou mais uma colherada do alimento na boca e logo passando a mastigar o mesmo, ouvindo o som dos flocos de milho se quebrarem em sua boca ecoar pela casa.

 

Logo um homem surgiu no ambiente, vestindo apenas uma cueca triangula branca, ou aquilo era para ser branco, e empurrou a sua cabeça com os dedos, antes de dar um tapa na mesma e caminhar até a geladeira. O garoto de cabelos negros apenas rolou os olhos, focando em se alimentar. O homem bebeu o leite direto da garrafa, antes de fechar a mesma e a colocar no lugar.

 

- cadê a sua mãe? – questionou o homem, parando do outro lado da mesa.

 

O garoto ergueu o olhar, vendo o homem tentando ajustar o pênis de uma forma mais confortável dentro da cueca, enquanto sentia o mesmo pulsar devido a sua excitação. O adolescente encarou o membro pulsante do mais velho, antes de negar com a cabeça e abaixar a mesma. Agora ele lembrava o motivo de ter nascido.

 

Ele nasceu porque a sua mãe era uma tremenda vadia.

 

- foi trabalhar – ditou o garoto, encarando a sua tigela, que agora tinha mais leite do que flocos de milho.

 

O adolescente nem percebeu quando o outro se aproximou. O garoto se esticou para pegar a caixa de cereal, mas fora impedido pelo mais velho, que a afastou de si. O Adolescente respirou fundo, tentando conter a irritação em seu interior. O homem acariciou as mechas negras com uma mão, antes de o garoto lhe encarar de soslaio.

 

- eu tenho algo melhor do que cereal para colocar no seu leite – falou o homem, antes de abaixar a cueca e puxar a tigela com leite para perto de sua virilha com a mão, mergulhando seus testículos no líquido perolado.

 

O adolescente encarou a cena com seriedade, antes de encarar o padrasto de estilo Skinhead, vendo o mesmo erguer o saco peludo com leite gotejando de seus pelos pubianos. Ele viu o homem sorrir ladino em sua direção, antes de erguer o membro, deixando o escroto totalmente acessível ao rapaz.

 

- por acaso os dedos de minha mãe não estão bastando para saciar o seu fogo no rabo? – perguntou o adolescente com uma expressão furiosa em sua direção.

 

- vamos lá, sabe que só é divertido quando você brinca – falou o homem, sorrindo safado para o adolescente, antes de forçar a cabeça do mesmo contra a sua virilha.

 

O garoto até tentou resistir, mas ele sabia que o seu maldito padrasto tatuado não iria desistir tão cedo daquela ideia. Então ele cedeu. Preferiu ceder com repulsa, ao ser obrigado com violência. Se ele já se sentia enojado com o cheiro forte de bebida e metanfetamina do homem tatuado a sua frente, ao sentir o gosto da pele mal lavada da região, juntamente com o leite lhe fez sentir a bile se contrair, indicando o refluxo.

 

Ainda a contragosto, ele passou a subir a língua pela virilha do homem, sentindo os pelos grossos deslizarem por sua língua, alguns passando a ficar presos a mesma, lhe causando mais desconforto ainda. Ele deslizou os lábios e a língua pela extensão do membro rígido e pulsante de seu padrasto, antes de engolir a cabeça do membro, passando a ser forçado a fazer movimentos de vai e vem rigorosos.

 

- ah, consegue ser melhor do que a vadia da sua mãe – gemeu o homem encarando o próprio falo sumir na boca do adolescente.

 

Ele fazia o garoto engolir toda a sua extensão em um ritmo bruto, que causava tanto desconforto na garganta do garoto, que fazia os olhos do mesmo lacrimejarem pelo incômodo sentido. O rapaz sentia a glande bater no fundo de sua garganta com força, antes de ser forçado a permanecer na posição, com todo o membro pulsante do padrasto em sua garganta, o fazendo se engasgar.

 

- agora é a minha vez, vamos. Que para me chupar eu tenho a sua mãe, mas um pau para chupar eu só tenho o seu – falou o homem careca com uma tatuagem de escorpião na cabeça, soltando a cabeça do adolescente, que tratou de retirar o membro de sua boca rapidamente, antes de tossir algumas vezes, deslizando as costas das mãos pelos lábios, limpando os resquícios de saliva e leite que haviam ali.

 

O adolescente se ergueu e se apoiou com as nádegas na mesa, enquanto o seu padrasto se ajoelhava entre as suas pernas e tratava de desamarrar o short do garoto com certa necessidade. Um pau meio bomba adentrou o seu campo de visão, antes de o homem o engolir sem cerimônia alguma, passando a sugar e lamber o membro com habilidade, enquanto fazia movimentos de vai e vem com a cabeça.

 

O rapaz encarou o homem fazer o trabalho em seu falo, enquanto sentia o mesmo endurecer cada vez mais. Não era fácil para ele adquiriu uma ereção estando naquela situação. Ele odiava aquilo. Odiava o deu padrasto. Odiava a sua mãe. Odiava a sua vida. Se forçar a ter uma ereção para não irritar i desgraçado ajoelhado a sua frente era um trabalho duro. Eles ficaram minutos nisso, antes de o seu padrasto se erguer e se virar, abaixando a própria cueca, a deixando jogada no chão da cozinha. O homem se aproximou da pia, a sua frente e apoiou o torso na mesma, fazendo questão de empinar bem a bunda, deixando as pernas abertas.

 

- está esperando o quê? – questionou olhando por sobre os ombros, mordendo os lábios.

 

O adolescente aproximou-se e levou a mão ao próprio membro coberto com a saliva do homem de cabeça raspada e tatuagem de escorpião, o levando até encaixar-se no ânus de seu padrasto, antes de o penetrar devagar. Ele sabia que se machucasse o mais velho a coisa ficaria feia para si. O adolescente esperou o mais velho se acostumar com a invasão, antes de começar a estocar com força, como o mais velho sempre pedia.

 

- isso! Ah! Mais forte, vai! Anda! Me fode com força, vai, meu macho! – ordenava o mais velho, enquanto o garoto apenas o obedecia em silêncio, sem abrir a boca ou gemer nem uma única vez.

 

Em alguns bons minutos, o seu padrasto gozou contra o armário da pia, sujando as portas de madeira com o seu sêmen, antes de o garoto se retirar do seu interior. O homem empurrou o adolescente, antes de se abaixar e limpar o membro do mesmo com a boca. Em questão de segundos, ele se levantou, pegou a cueca que usava, limpou o armário da pia e saiu, seguindo para o andar de cima.

 

O adolescente?

 

O garoto de cabelos negros apenas se vestiu corretamente e limpou a mesa, tirando todos os vestígios de alimento da mesma, colocando tudo em seu lugar, antes de seguir para o andar de cima, onde se trancou em seu quarto. Ele correu para tomar um banho e retirar o cheiro daquele homem de si. Aquilo estava lhe dando ânsia.






 

- para quê tanta coisa? – questionou Peter, vendo os quatro adentrarem a delegacia com algumas sacolas. Isaac e Stiles comiam alguns salgadinhos, com sacolas pequenas penduradas em seus cotovelos, enquanto Scott adentrava o local com algumas sacolas de salgados, biscoitos e refrigerantes. Já Derek carregava algumas sacolas com utensílios de cozinha.

 

- estamos com fome – falou Scott jogando as sacolas sobre a mesa da sala, enquanto Derek colocava as suas em um canto da mesma.

 

- e você? Vai comer tigelas? – questionou o loiro vendo o sobrinho lhe fitar entediado.

 

- eu estava precisando – respondeu dando de ombros e indo se sentar em uma das cadeiras.

 

- gente. Eu nunca achei que diria isso. Mas que saudades dessa porcaria! – falou Isaac, encarando um pacote de salgadinhos em sua mão.

 

- pensei que odiasse isso – disse Scott, encarando o loiro menear positivamente.

 

- e ainda odeio. Mas depois que você come na prisão, até reboco fica comestível – argumentou o loiro de cachos, retirando mais alguns salgados do pacote e os enfiando na boca rapidamente, causando risadas em Lydia, que gargalhava do outro lado da tela.

 

- Deus! Eu amo esse homem! – gritou a ruiva, enquanto cobria a boca com uma das mãos, escondendo o seu riso.

 

- é tão ruim assim? – questionou Allison, vendo o loiro a fitar com uma sobrancelha erguida.

 

- olha só, o que vocês chama de verde limo, lá a gente chama de verde batata. Isso responde a sua pergunta? – questionou o Lahey, vendo a agente fazer uma careta, antes de alcançar um dos pacotes de salgados jogados sobre a mesa.

 

- hm... isso é bom – falou Stiles encarando o salgado em suas mãos, o qual ele havia acabado de abrir.

 

- não é?! É o meu favorito – soltou Isaac apontando com um salgado para o castanho, antes de jogar o mesmo para cima e o apanhar com a boca.

 

- achei que estávamos aqui para resolver um caso e não degustar salgados – ditou Derek, cruzando os braços e encarando Scott congelar ao abrir uma lata de refrigerante.

 

- saco vazio não para em pé – rebateu Allison, dando de ombros e colocando os braços sobre a mesa.

 

Eles passaram algumas horas, apenas pensando e encarando o quadro de mortes, procurando algo que pudesse ligar a alguém ou algum tipo de pessoa, de modo que eles reduzissem os suspeitos, que até agora se resumiam a um grande grupo masculino. Foi então que o oficial Parrish e o delegado adentraram a sala. O oficial Parrish carregava alguns papeis em uma mão. Ele os balançou no ar, antes de os colocar a mesa.

 

- estes são os resultados da autópsia de Molly Vincent – disse após jogar os papéis sobre a mesa. No mesmo instante Derek puxou as folhas para si e passou a analisar a mesma.

 

- de fato a morte foi a asfixia. E encontraram traços de metanfetamina nos fios de cabelo da vítima – disse antes de jogar as folhas sobre a mesa.

 

- esse cara teve muita coragem de matar a mulher com o marido estando em casa – falou o delegado, encostado na porta.

 

- nem me fale. Eu estou morrendo de vontade de apertar o pescoço desse cara. Os Vincent eram tão amigáveis – falou o oficial Parrish cerrando o punho com força, enquanto era encarado pelos agentes.

 

- vai devagar, Scott. Sabe que você tem gastrite. Depois está aí, morrendo de dor no estômago de tanto ácido que vai ter nele – falou Derek, encarando o parceiro abrir a segunda lata de refrigerante. No mesmo instante Stiles ergueu a cabeça, como se tomasse conhecimento de algo que houvesse esquecido.

 

- bem lembrado. Meu estômago sempre me corrói por dentro quando tomo muito refrigerante – disse o McCall, largando a lata na mesa, antes de entortar os lábios em um bico.

 

- repete – falou o castanho apontando para os dois morenos.

 

- o quê? – questionou Scott, confuso, encarando o castanho encarar a lata que se encontrava sobre a mesa.

 

- ignora. Deve estar carente de atenção – falou Derek, encarando o castanho desviar o olhar para a mesa e fechar os olhos.

 

- só repitam o que disse, idiota – falou o castanho abaixando a cabeça e apoiar as mãos nas têmporas. Derek deu de ombros e cruzou os braços, ignorando o castanho.

 

- Derek disse: “Vai devagar, Scott. Sabe que você tem gastrite. Depois está aí, morrendo de dor no estômago de tanto ácido que vai ter nele” – falou Boyd, encarando o castanho ainda de olhos fechados pressionando as têmporas.

 

- aí o Scott disse: “bem lembrado. Meu estômago sempre me corrói por dentro quando tomo muito refrigerante” – disse Peter, vendo o castanho se erguer e caminhar até o quadro onde as fotos das vítimas e das cenas dos crimes estavam penduradas.

 

- tá. O Scott tem gastrite, mas o que isso implica? – questionou Peter, vendo o castanho puxar todas as fotos das vítimas e se virar para si.

 

- é, o Scott tem gastrite desde novo. Qual é o problema? – questionou Isaac, encarando o castanho se aproximar da mesa. O delegado e o oficial Parrish também o fizeram, para encarar o que ocorria.

 

- o problema não é a gastrite do Scott. O problema são as palavras. Se você colocar a frase do Scott na frase do Derek, e mudar tudo para a primeira pessoa e pegar as palavras certas você terá “estou morrendo com o meu estômago me corroendo por dentro de tanto ácido que tem nele” – falou o castanho, vendo todos lhe fitarem confusos.

 

- e daí? O que isso tem com o caso, Alice? – questionou Derek, já irritado com o falatório do mais baixo.

 

- Alice? – questionou Parrish, mas fora ignorado pelo moreno de olhos verdes.

 

- também queria saber – falou Scott encarando o oficial lhe fitar confuso.

 

- uma de nossas vítimas morreu ao ser forçada a engolir ácido – falou o castanho revelando a foto da vítima sobre a mesa.

 

- o que é isso?! Que tipo de brincadeira é essa?! Alguma piada sem graça?! – questionou o delegado, visivelmente incomodado com a analogia do outro.

 

- isso! – exclamou Stiles batendo palmas e apontando para o delegado com a mão – vamos brincar. Eu vou mostrando as vítimas e vocês me mandam uma frase parecida que tenha a ver com a sua morte – falou o castanho vendo todos lhe fitarem com indignação, exceto Peter e Boyd.

 

- Daphyne Tennant– falou Stiles mostrando a mulher que tinha os olhos perfurados.

 

- você é ridículo – falou Derek, cruzando os braços e encarando o castanho lhe ignorar e focar em Peter e Boyd.

 

- a dor em meus olhos está me matando – falou Boyd, vendo o castanho apontar para si e jogar a foto sobre a mesa.

 

- e a nossa vítima que fora espancada com os próprios pés? Jennete McCanzy – questionou o castanho, revelando a foto para os dois homens.

 

- minhas pernas estão me matando – disse Peter vendo o castanho jogar as fotos sobre a mesa e dizer cada uma das frases que se assemelhava a situação.

 

- estou com tanta fome que comeria a mim mesma. Meus ouvidos vão explodir. Estou queimando – falou o castanho jogando as fotos sobre a mesa.

 

- Tina está sem a cabeça, e aí? – questionou o delegado vendo Allison pegar a foto da mulher.

 

- Tina estava passando por um tempo difícil na faculdade. A colega de quarto dizia que ela vivia a dizer que estava perdendo a cabeça – falou a Argent vendo a foto do corpo sem cabeça jogado no beco.

 

- Molly dizia estar com o intestino desregulado. Mas o que isso tem a ver com ela ser morta sendo enforcada com o próprio intestino? – questionou o oficial Parrish sendo encarado pelos agentes.

 

- “meu intestino está me matando”. Qual o outro jeito para concretizar essa frase você vê? – questionou Stiles, encarando o homem lhe fitar confuso.

 

- o que essas frases tem a ver com o caso? – questionou o delegado, vendo o agente McCall se erguer surpreso.

 

- ele escolhe o jeito de matar as vítimas pelas frases que falam – disse o moreno de queixo torto, vendo o delegado lhe fitar confuso.

 

- como é? – questionou o homem cruzando os braços para os agentes.

 

- o que faz ele escolher o jeito de morrer das vítimas são essas frases que nós normalmente falamos – falou o moreno de queixo torto, vendo o homem estreitar o olhar, pensativo.

 

- não só o jeito da morte, como também as vítimas – falou Lydia, pelo computador. – segundo os dados de Megan Puckett, a vítima do ácido, ela tinha gastrite. Daphyne Tennant tinha tendências a usar óculos. E Jennete McCanzy, a mulher que teve as pernas arrancadas tinha problemas ortopédicos. Ou seja, todas elas soltavam as frases que se assemelham as suas mortes com frequência – falou a ruiva, vendo os agentes lhe fitarem pensativos.

 

- então esse cara tenta personificar o ditado: As palavras tem poder – falou Boyd, vendo Derek lhe fitar surpreso.

 

- certo. Sabemos como ele escolhe as vítimas. Mas como vamos pegar ele? – questionou o delegado, vendo todos tomarem uma expressão pensativa.

 

- Lydia, você tem como acessar as câmeras do mercado que nos indicou hoje? – questionou Derek, vendo a ruiva dedilhar pelo teclado.

 

- me dê alguns poucos segundos – falou a ruiva e logo a imagem das câmeras do supermercado foram jogadas na tela presa a parede daquela sala.

 

- escolhe uma – falou a ruiva vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar rapidamente.

 

- eu quero as imagens dos caixas. Avance para o horário em que eu e Stiles estamos passando as coisas – falou o moreno vendo as imagens avançarem e apenas as imagens do caixa ficarem na tv e as mesmas serem ampliadas.

 

- prontinho – disse a ruiva e as imagens pararam de avançar, revelando o moreno de olhos verdes e o castanho chegando ao caixa com o carrinho de compras.

 

- o que está procurando? – questionou Peter, vendo o moreno de olhos verdes cruzar os braços e levar o polegar aos lábios.

 

- as palavras tem poder. O nosso assassino tenta fazer dessa frase uma realidade – falou o moreno de olhos verdes e o castanho se colocou ao seu lado, encarando a tela com atenção.

 

- um dos caixas soltou essa frase, enquanto uma mulher conversava conosco – disse o castanho e logo, nas imagens, ele se virou, assim como Derek, para encarar um casal que estava no caixa ao lado.

 

- esse cara – falou apontando para o caixa que atendia o casal.

 

- vou identificar ele – falou a ruiva, passando a dedilhar pelos teclados, indo de um a outro, antes de sempre retornar ao central.

 

- certo, vocês acharam o cara. Mas como provar? – questionou o delegado encarando o moreno de olhos castanhos lhe fitar com seriedade.

 

- espera, volte um pouco as imagens – falou Peter e a ruiva fez como pedido.

 

- o que? Por que? – questionou o oficial Parrish, curioso.

 

- a mulher falou alguma frase como as das vítimas? – questionou Peter encarando as imagens com seriedade.

 

- não. Não no presente. Ela disse que, pela noite, as pernas poderiam estar a matando – respondeu Derek, encarando o tio sorrir ladino.

 

- Pause a imagem. Não é o caixa – falou Peter apontando para o canto da tela, no exato momento em que Daisy e Arthur saíram da imagem. No canto da imagem gravada pela câmera, havia um rapaz encarando o casal com seriedade. Ele tinha a farda do supermercado, indicando que trabalhava nele.

 

- por que acha que é ele? – questionou o delegado vendo o loiro se virar para lhe encarar.

 

- ele é o único que fica encarando a mulher ir embora. Já o caixa se concentra no próximo cliente. Se o caixa tivesse um trauma com essas frases, ele encararia a próxima vítima até ela sumir, como o garoto aqui está fazendo – respondeu Peter vitorioso.

 

- então aquela mulher é a próxima vítima? – questionou Isaac, curioso.

 

- muito provavelmente. Lydia, identifique a mulher, também – falou Allison, antes de Stiles se virar para si.

 

- não precisa. Já sabemos quem é – falou Stiles, encarando as imagens.

 

- e quem é? – questionou Boyd, surpreso.

 

- Daisy Deveniel. O seu marido se chama Arthur Deveniel. Eles vão dar um jantar daqui há algumas horas – falou o castanho encarando o garoto na imagem.

 

- e como sabe disso? – questionou Scott, também surpreso.

 

- ela conversou conosco, achando que somos vizinhos novos – respondeu Derek, encarando o parceiro lhe fitar confuso.

 

- isso vai ser ruim. O assassino pode ser um dos convidados. Como vamos saber se não podemos nos aproximar demais para não assustarmos os envolvidos? – questionou Allison, vendo Peter tomar uma expressão pensativa.

 

- tem um jeito de entrarmos lá – falou Derek, encarando o castanho com seriedade, o qual lhe fitou entediado.

 

- suponho que para estar sugerindo isso, você deva estar sem opções – falou o castanho vendo o moreno de olhos verdes lhe ignorar, para encarar a mesa, antes de passar o celular para o castanho.



 

- pegue uma faca perto de algum civil e eu mato você – sussurrou Derek, enquanto ele e Stiles caminhavam para a porta da casa dos Deveniel.

 

- Pela milésima vez, eu não vou fazer nada. Tente não matar os convidados com o seu mau humor – sussurrou o castanho, enquanto tocava a campainha. Logo a porta fora aberta por Daisy, que os encarou animada.

 

- Vocês vieram! – exclamou a mulher, abrindo a porta para que os dois homens adentrassem a mesma.

 

- trouxemos vinho. Já que não tive tempo de cozinhar nada. Acabamos nos perdendo no horário – falou o castanho e Derek ergueu a garrafa para a mulher, que pegou a mesma, fazendo uma expressão cômica de surpresa, enquanto balançava o objeto de vidro no ar.

 

- eu amo vinho! – exclamou a mulher que usava um vestido vermelho apertado, o qual valorizava as suas curvas.

 

- espero não estarmos atrasados demais – falou Derek, puxando as mangas de sua camisa para cima, enquanto via Stiles ajustar o colete que usava.

 

- que nada. Arthur e Joe acabaram de colocar a carne na churrasqueira – falou a mulher, passando a guiar o “casal” pela casa, os levando para o lado de fora, onde alguns casais e alguns adolescentes se encontravam espalhados ao ar livre, conversando, comendo e bebendo o que podiam.

 

- Gente, os moradores novos do bairro chegaram! Eles não são lindos? – Daisy anunciou a chegada dos dois e todos se viraram para a mulher, encarando o moreno e o castanho. Uma das crianças correu até os dois, os encarando com olhinhos frustrados.

 

- sem criança? – questionou o garoto, encarando os dois homens lhe fitarem um tanto surpresos. Derek segurou a respiração ao ver Stiles se abaixar para encarar o garoto nos olhos.

 

- ainda não, coelhinho apressado – respondeu o castanho, sorrindo para a criança, antes de bater de leve com o indicador no nariz de ponta vermelha devido ao frio.

 

O garoto sorriu minimamente com a citação da história infantil, antes de surpreender o castanho, abraçando o mesmo, para em seguida correr para perto dos amiguinhos. Derek encarou, surpreso, o castanho se erguer e encarar Daisy com um sorriso simpático tanto que não percebeu o grupo de mulheres sorrirem derretidas para os dois e a cena ocorrida.

 

- fiquei preocupado que vocês não viessem – falou Arthur, aparecendo ao lado da mulher, que lhe entregou a garrafa de vinho.

 

- foi mal. Acabamos nos perdendo no tempo, enquanto desfazíamos as caixas – respondeu Derek, apertando a mão do homem, antes de o mesmo estender a mesma para Stiles.

 

- entendo perfeitamente. Vamos, peguem uma cerveja e venham para perto da churrasqueira com a gente – falou Arthur apontando para o grupo de homens que se encontrava próximo a churrasqueira. O homem, com a outra mão, entregou duas garrafas de cerveja para os dois, as quais foram pegas por Derek, que apontou para o castanho com uma das mãos.

 

- Stiles não bebe – falou vendo o homem encarar o castanho surpreso.

 

- Ok, eu não vou permitir que os rapazes monopolizem vocês dois. Então um de vocês tem que vir conversar comigo e as garotas sobre a vida de vocês – falou a Daisy, vendo os dois se entreolharem.

 

- eu fico com o que gostar de esportes – falou Arthur, erguendo as mãos em defesa. Stiles sorriu para o homem, antes de sorrir simpático para Daisy.

 

- eu vou com vocês. Derek é um pouco tímido com algumas perguntas pessoais. E nosso gosto para esporte é um pouco... conflituoso. Ele gosta de esportes com bola. Eu prefiro esportes violentos – falou o castanho piscando para mulher, que sorriu para si, antes de o puxar pela mão para perto da mesa, onde as mulheres lhe encaravam com sorrisos animados, enquanto algumas lhe fitavam com um ar predatório.

 

- gente, não sei quem é mais gato. Você ou o seu namorado – falou uma das mulheres, assim que o castanho se sentou ao lado de Daisy.

 

- me diz como é que você deixa o seu homem em forma. Preciso que o Dennis fique com aquele corpo – falou outra mulher, encarando Derek ser recepcionado pelos maridos de todas com apertos de mão.

 

- graças a Deus não preciso fazer nada. Ele é meio rigoroso. Faz atividades físicas todos os dias, em casa – falou o castanho vendo uma das mulheres lhe servir com um refrigerante.

 

- gente, uma delícia. Sério – falou a mulher ao lado de Stiles, encarando o moreno, que fitou o grupo rapidamente, vendo algumas mulheres sorrirem em sua direção, enquanto o castanho olhava por sobre os ombros, antes de sorrir, negando com a cabeça e a retornar a olhar para a frente.

 

- queremos saber de tudo. Onde se conheceram, como começaram a namorar e quando decidiram morar juntos – falou uma das mulheres, provavelmente a mais animada com a presença do casal no jantar.




 

- eu gostaria muito de ver isso – falou Peter, que se encontrava de tocaia do outro lado da rua, encarando a entrada da casa.

 

- nem me fale. Eu daria tudo para ser uma mosquinha e ver como aqueles dois estão se saindo – falou Allison, dando uma olhada ao redor.

 

- por que não colocamos escutas neles? – questionou Peter, um pouco indignado.

 

- não tínhamos nenhuma escuta discreta conosco, Peter – respondeu Allison, vendo o mais velho tomar uma expressão tristonha.

 

- eu imagino aqueles dois, os caras que mais se odeiam no grupo, fingindo ser o casal perfeito – falou Scott, encarando Isaac e Boyd sorrirem ao seu lado.

 

- deve ser cômico – falou Boyd, vendo Isaac menear positivamente.

 

- se bem que eles sabem que tem que fingir perfeitamente. Até ensaiaram assuntos e a história deles – falou Allison vendo Peter menear positivamente.

 

- alguém pode me dizer por que acham que a senhora Deveniel é a próxima vítima? Se me lembro bem, uma mulher já teve as pernas arrancadas e foi espancada com elas – questionou o oficial Parrish no rádio.

 

- o fato de a frase já ter sido concretizada não quer dizer que ele fará uma única vez – respondeu Allison, soltando o botão do rádio para ouvir uma resposta.

 

- mas disseram que ele é traumatizado por uma mulher e as vítimas são um reflexo dessa mulher, então por que procurar vítimas por frases? – questionou o oficial que se encontrava com a viatura escondida entre dois muros. Ele estava tentando entender a lógica daquilo.

 

- o nosso assassino é traumatizado por uma mulher que provavelmente usa algumas dessas frases. Para ele, “As palavras tem poder”, não é apenas uma frase e sim um tipo de afirmação, de que se você desejar algo, esse algo ocorre. Por isso ele persegue mulheres que falam frases dessa forma, despreocupada – respondeu a agente Argent, encarando a casa e viu Peter fazendo o mesmo.

 

- provavelmente é a mãe – falou Peter, encarando a agente Argent menear em concordância.

 

- por que diz isso? – agora fora a vez de Isaac de perguntar, um tanto indignado.

 

- geralmente, quem nos ensina que “as palavras tem poder” são nossas mães. Independente da forma que seja passada a mensagem – falou o loiro, encarando o loiro mais novo pelo retrovisor.

 

- ou pode usar frases como a das vítimas, enquanto abusa de nosso suspeito de várias formas – continuou o Tate, antes de ouvir um “entendido” vir do rádio.

 

- quanto tempo será que irá durar? – questionou Allison, encarando a casa. Ela odiava ficar de tocaia.


 

O garoto de cabelos negros estava jogado na própria cama, em seu quarto, encarando um caderno jogado em suas pernas com certa concentração. Para ele estava ficando cada vez mais difícil de se concentrar com os gemidos vindos do quarto ao lado. Aquilo lhe irritava. Ele não podia nem estudar para a porcaria de sua prova de geografia sem ter que escutar a sua mãe gritando para os quatro cantos do mundo para que o seu padrasto a fodesse com mais força.

 

Não demorou para que ele escutasse um gemido alto de ambos. Ele agradeceu aos céus por aquele momento, pois sempre que a sua mãe e o seu padrasto gozavam, havia um intervalo de pelo menos quarenta e cinco minutos de paz para si. Então ele finalmente poderia estudar para a porcaria de sua prova.

 

Mas parecia que a sua paz estava esgotada naquele dia. Pois assim que se passaram dois minutos, ele ouviu a sua mãe gritar para onde o seu padrasto iria e ele responder que iria comprar cigarros. Ele achou que aquele era o fim do barulho, mas assim que a porta da casa fora batida, ele foi surpreendido com a porta de seu quarto ser aberta com certa brutalidade e uma mulher de mais ou menos quarenta anos adentrar o mesmo a passos rápidos e jogar uma cueca branca em sua direção.

 

- eu sei que você fez de novo! – rosnou a mulher, antes de puxar o garoto pelos cabelos e forçar o mesmo a abaixar a cabeça até estar com o rosto afundado na cueca branca usado, sentindo algo viscoso tocar o seu rosto.

 

- eu sou uma desgraçada mesmo. Minha cabeça deveria estar cheia de ponta. Toda pregueada com chifres. Ser corneada por um homem e depois pelo filho dele com o padrasto – falou a mulher, antes de puxar os cabelos negros para cima.

 

- você é um lixo, igual ao seu pai. Não sei por que Deus não me leva logo. Deve ser porque eu tenho que te matar algum dia, como fiz com o seu pai – rosnou a mulher, antes de voltar a esfregar a cara do adolescente contra a peça de roupa usada.

 

- vamos, limpe tudo. Limpe a sua própria porra com a língua. Eu mereço. Um filho puto. Uma vadia dentro de casa. Nem para se engasgar com isso. Nem para morrer asfixiado no pano. Não basta chegar morta do trabalho em casa, com as pernas me matando, a cabeça doendo de morrer e uma fome desgraçada, para ainda ser feita de corna por um vagabundo como você – falava a mulher, enquanto esfregava o rosto do adolescente contra a cueca suja, ouvindo o adolescente chorar baixo, enquanto aguentava tudo calado

 

- maldita a hora que eu coloquei você no mundo. Eu queria que as palavras tivessem poder, que aí eu dizia “Morra” e você ia morrer – falou a mulher, antes de empurrar a cabeça do jovem com mais força, antes de largar a mesma e sair do quarto.

 

O adolescente permaneceu chorando contra aquele pano sujo, antes de puxar o mesmo contra o seu rosto com raiva, urrando contra o pano e o colchão. A sua raiva por aquela mulher era tanta. Ele sentia um ódio tão grande pela própria mãe, que tudo o que ele queria era pegar aquela maldita faca e cravar no peito da mulher e descer com a mesma rasgando a desgraçada em duas. Mas ele não tinha coragem. Ela sempre fora mais forte do que si. Ele ainda tinha medo de sofrer o mesmo que sofreu quando criança.

 

Ele puxou o pano com mais força, ouvindo e sentindo o mesmo rasgar, antes de ser dividido em dois. Ele precisava saciar aquela vontade, aquele ódio. Ele precisava fazer de novo. O rapaz desceu da cama, jogando aquele pano nojento no chão, antes de erguer o colchão e retirar, de debaixo do mesmo, o objeto que sempre lhe ajudou com aquele seu desejo, aquele seu ato libertador. Ele pôde ver, embaixo de sua cama, a cabeça de sua última vítima, vendo a mesma já começar a atrair certo insetos.







 

- isso é uma marca de aliança? – questionou um dos homens, encarando a mão de Derek, que bebia o final de sua cerveja. O moreno de olhos verdes encarou a própria mão e sorriu para o homem.

 

- é sim – respondeu pegando outra garrafa e abrindo a mesma com a ajuda da mesa ao seu lado, surpreendendo alguns homens.

 

- já foi casado? Com outro cara? – questionou Arthur, encarando o moreno negar.

 

- uma mulher – respondeu bebendo um gole de sua cerveja, antes de pegar um dos salgadinhos ali perto com a outra mão e os levar a boca.

 

- e o que houve? Não deu certo? – questionou um dos homens e Arthur se virou para o amigo, com uma expressão de “é sério?”.

 

- porra! É claro que não deu certo, Bobby! Eles não teriam se separados se tivesse dado certo! – exclamou Arthur, vendo o homem sorrir para a própria gafe.

 

- é, não deu muito certo. Foi quando eu conheci ele. Eu fiquei um tanto para baixo depois do divórcio. Aí ele me deu a motivação para seguir em frente. E agora estamos aqui – falou o moreno de olhos verdes, vendo os homens menearem positivamente e alguns inclinarem a cabeça “discretamente” para encarar o castanho, vendo o mesmo gargalhar junto de algumas mulheres.

 

- e aí? Sente falta de uma mulher ou o cara da conta do recado? – questionou um homem que Derek reconheceu como Dennis, enquanto o mesmo jogava dardos em um alvo que estava ali perto. No mesmo instante o Hale engasgou com a cerveja que colocara na boca e passou a tossir.

 

- confesso que bateu curiosidade da resposta – falou Arthur encarando o moreno de olhos verdes tomar uma coloração avermelhada, enquanto limpava a garganta, depois da tosse.

 

- seja sincero. Daqui não sai – falou Bobby, vendo o moreno os fitar surpreso.

 

- pelo engasgo já vi que bate uma saudade de alguma coisa aí – falou Arthur, brincando.

 

- n-não. É que eu fiquei um pouco surpreso com vocês, homens casados, pais de família, questionarem isso – explicou-se o Hale vendo os homens se entreolharem e darem de ombros.

 

- ah, nós sempre conversamos sobre nossas mulheres e como elas nos satisfazem, então não vimos problema nenhum em perguntar como são as coisas entre vocês. Até porque nós nunca fizemos isso, então temos curiosidades, mesmo sem ter vontades – explicou Arthur, vendo o moreno de olhos verdes coçar a barba um tanto desconfortável.

 

- e aí? Sente falta ou dá conta do serviço? – questionou Bobby encarando o castanho se erguer, junto de uma das mulheres e caminhar para o interior da casa, vendo os dois surgirem na janela da cozinha, mexendo em alguns armários.

 

“Casal perfeito. Ser o casal perfeito”. Derek repetia em sua cabeça, antes de sorrir ladino. Enquanto via Dennis passar os dardos para Arthur.

 

- ele dá mais do que pro gasto – respondeu Derek, encarando a própria cerveja, antes de tomar um gole da mesma.

 

- olha só. E você já... – Dennis questionou, enquanto gesticulada uma masturbação diante da boca, enquanto empurrava a bochecha com a língua – sabe? – finalizou vendo o moreno de olhos verdes tomar um coloração vermelha na face, enquanto coçava o pescoço.

 

- todas as vezes – respondeu um tanto envergonhado.

 

- e como é? – questionou Bobby vendo o Hale abaixar o rosto.

 

- vamos parar por aqui, agora. O cara é um pouco tímido – falou Arthur passando o braço por sobre os ombros do moreno de olhos verdes e passando os dardos para o mesmo.

 

- ok, só mais uma pergunta. Com qual frequência vocês transam? – questionou Dennis vendo o moreno de olhos verdes sorrir um tanto tímido.

 

- quase toda semana – respondeu o Hale, vendo os caras lhe fitarem um tanto questionadores.

 

- há quanto tempo vocês moram juntos? – questionou Arthur, vendo Derek estreitar o olhar para os três.

 

- há quatro anos – respondeu vendo os três tomarem expressões chocadas. Vendo Bobby pegar os dardos, eles estavam jogando isso há um tempo e até agora, Dennis havia acertado o centro, mais vezes do que todos, o que se resumia há duas vezes.

 

- e ainda transam toda semana?! Vem cá, como é que vocês fazem isso? Preciso muito fazer a Ellen voltar a ter esse fogo! – questionou Dennis, surpreso. Derek foi impedido de falar quando algo lhe enlaçou a cintura.

 

- desculpa a intromissão, mas as garotas querem saber quando que essa carne vai ficar pronta, pois a que estava no forno já está no ponto – falou o castanho e no mesmo instante Derek jogou o braço por cima dos ombros do castanho, puxando o mesmo para si.

 

- está quase no ponto. Quer tentar? – questionou Bobby oferecendo os dardos para o castanho.

 

- olha, até agora eu estou na liderança – falou Dennis, sorrindo simpático.

 

- quantas vezes você acertou o centro? – questionou Stiles, pegando os dardos e Derek engoliu em seco.

 

- duas vezes. Mas pelos pontos eu também estou na frente – falou o homem vendo o castanho pegar um com a mão direita e o apontar para o alvo.

 

- e aí? Como eu faço? – perguntou Stiles encarando Derek, que deu de ombros.

 

- faça o seu melhor – respondeu o Hale, rezando para que o castanho não ousasse acertar ninguém.

 

- certo – respondeu Stiles antes de lançar o primeiro, acertando o centro.

 

- olha! De primeira! – exclamou Arthur vendo o castanho sorrir, antes de pegar o outro dardo e o lançar, acertando o centro, bem ao lado do primeiro.

 

- UOU! – exclamaram os homens, não notando a expressão de surpresa de Derek.

 

- e por último – falou o castanho, pegando o último dardo pela ponta afiada, antes de o lançar no alvo, acertando o centro, bem acima dos outros dois.

 

Os homens ficaram abismados com a habilidade do castanho, antes de o mesmo se virar para o moreno de olhos verdes, vendo o mesmo lhe encarar um tanto surpreso. O castanho sorriu, ao ver os homens encararem os dois, antes de enlaçar o pescoço do mais alto e se esticar um pouco para alcançar o ouvido do outro. Derek, no início, teve o reflexo de se afastar, mas logo se lembrou do motivo de estarem ali.

 

- tente não beber demais, agente Hale – sussurrou o castanho, antes desse afastar e se virar para voltar a caminhar na direção da mesa onde as mulheres se encontravam encarando a cena.

 

- onde ele aprendeu a fazer isso? – questionou Dennis, encarando o castanho se afastar o grupo.

 

- faculdade – respondeu Derek, encarando o castanho olhar um grupo de crianças que passou correndo por si.




 

- tira a faca da mão da Britany pelo amor de Deus! – exclamou Dennis encarando a mulher de Bobby lhe fitar um tanto ofendida.

 

- é, você é horrível com facas, amiga – falou Daisy encarando a mulher lhe fitar um tanto indignada, antes de largar a faca e o garfo de carne.

 

- nenhuma de vocês é boa cortando a carne – falou Arthur, vendo as mulheres exclamarem em resposta.

 

- ok, senhor das facas. Quem vai cortar então? – questionou Daisy encarando o marido se virar parar os amigos.

 

- alguém aí é melhor de faca do que nossas mulheres? – questionou ouvindo as mulheres bufarem em risadas.

 

- espera sentado, Arthur. Esses aí nunca pegaram numa faca, ah não ser para cortar a carne do próprio prato – falou Britany, vendo os homens lhe fitarem um tanto indignados, mas rindo.

 

- assim fode, não é, amor? – questionou Bobby vendo a mulher dar de ombros.

 

- é a realidade, amor – respondeu a mulher beijando o marido e logo um garoto abraçou ambos.

 

- ok, então vejamos. Um de vocês dois – falou Daisy encarando Stiles e Derek, que se encontravam sentados lado a lado, com Derek com o braço sobre os ombros de Stiles e o castanho com uma mão sobre a coxa do moreno.

 

- eu vou. Esse aqui é capaz de quebrar o prato com tanta brutalidade – falou o castanho se levantando e Derek, temeroso, acabou se esquecendo completamente do disfarce.

 

- Alice! – repreendeu o moreno, encarando o castanho se virar questionador, assim como todos da mesa, antes de dar de ombros. Só então Derek notou a merda que havia feito.

 

- relaxa, eu vou tomar cuidado – disse o castanho pegando a faca e o garfo.

 

- Alice? – questionou Daisy, vendo o castanho sorrir simples, enquanto cortava o primeiro pedaço lentamente, testando a habilidade de corte da faca.

 

- é o meu nome do meio – respondeu o castanho, vendo a mulher lhe fitar surpresa.

 

- o seu nome do meio é Alice? – questionou Dennis, estranhando aquilo.

 

- meus pais adoravam Alice no País das Maravilhas. Então decidiram que independente do sexo, o nome do meio seria Alice. Então acabou sendo. Stiles Alice. Um pouco estranho, não é? – questionou o castanho vendo o homem menear positivamente.

 

- meio que não combina – argumentou Britany vendo o castanho menear positivamente, antes de começar a acelerar o corte, sempre fazendo pedaços proporcionais em tamanho.

 

- gente. Não é que ele é bom? – questionou Daisy, vendo o castanho não demorar a fatiar tudo e empurrar a fileira de carne para o lado, fazendo a mesma se inclinar, revelando o interior um tanto rosado.

 

- agora podemos comer! – exclamou Bobby começando a fazer o próprio prato.

 

Após comerem, todos se dirigiram para a sala, onde ficaram a conversar. Derek já não estava aguentando mais aquela farsa. Ele sempre tinha que tocar o outro, assim como o mesmo fazia em si, para passar a imagem de casal apaixonado. Maldita a hora em que eles responderam a pergunta dos Deveniel no supermercado. Não demorou muito para que o mais temido por ambos fosse posto em prática no assunto da conversa.

 

- mas gente, eu ainda não vi um beijinho se quer entre vocês! – exclamou Daisy, encarando o casal novo do bairro lhe fitar um tanto surpreso, enquanto sorriam tímidos e desconfortáveis.

 

- como eu disse, Derek é um pouco tímido e não gosta muito de certas demonstrações de afeto em público – disse o castanho, dando uns tapinhas leves no ombro do moreno. O mais baixo estava sentado no braço do sofá, ao lado do Hale, que estava sentado no mesmo.

 

- ah, vamos. Deixem de timidez vocês dois. Estão entre amigos, agora – falou Britany encarando o moreno coçar a nuca um tanto desconfortável.

 

- melhor não. As crianças estão na sala, não queremos acabar criando dúvidas nas cabecinhas deles – falou Derek, apertando a mão do castanho, tentando desfazer o olhar questionador no rosto de Britany.

 

- ora que nada. As crianças de hoje em dia compreendem isso rapidinho – argumentou Daisy, vendo as crianças desviarem o olhar para os adultos. Exceto um garoto, que encarava a janela, vendo, pela cerca dos fundos, um estranho invadir o local e se espreitar pelo gramado do quintal, até alcançar uma das paredes.

 

- tem certeza? – questionou Derek um tanto desesperado internamente.

 

- beija logo, homem. Parece até que não quer! – exclamou Arthur, vendo o moreno de olhos verdes sorrir tímido, antes de encarar o castanho, que lhe fitou rapidamente.

 

“Eu mereço” pensou Derek encarando o castanho sorrir ladino e erguer uma sobrancelha.

 

“Alguém tinha que fazer isso, não é?!” Se questionou Stiles, um tanto irritado.

 

Derek puxou as costas do castanho com uma mão, enquanto o mesmo se inclinava para a frente, abaixando o rosto até o seu. Fora apenas um toque singelo de lábios, o qual eles se forçaram a fazer movimento, sugando os lábios do outro sem vontade alguma, antes de se afastarem dramaticamente. Eles encararam Daisy assim que a mesma soltou um “Que lindo!”.

 

- eu preciso ir ao banheiro – falou Derek se levantando, vermelho, enquanto Stiles se recostava ao encosto do sofá, passando a brincar com os brincos em seus lóbulos com o indicador, enquanto a outra mão segurava o copo de suco que tomava.

 

- eu te mostro onde fica – falou Daisy se levantando e guiando o moreno de olhos verdes até o andar de cima.

 

Assim que chegaram no mesmo, a mulher o deixou na porta do banheiro enquanto se movimentava até o quarto no fim do corredor. Derek se trancou no ambiente e ligou a torneira, lavando o rosto, fazendo questão de esfregar os próprios lábios. Ele se sentia enojado. Havia beijado um cara e para completar da escória que ele tanto odiava. O homem por trás de todo o ódio e rancor que ele tinha no peito. Assim que saiu do banheiro ele viu o corpo de Daisy caído no chão ser arrastado para o interior do quarto e a porta se fechar. Derek nem quis saber, puxou a arma que se encontrava presa em sua perna, coberta pela calça que vestia e correu até a porta do quarto, mas a mesma já estava trancada.

 

- merda - soltou tentando abrir a porta a força. Derek se irritou e tomou uma certa distância, antes de começar a chutar a porta.

 

- mas o que merda está acontecendo? – questionou Arthur, ouvindo s barulhos no andar de cima, enquanto todos olhavam para o teto.

 

- ele está aqui – murmurou Stiles, sorrindo e se levantando, colocando o copo na mesa de centro.

 

Quando o castanho alcançou as escadas, Derek conseguiu abrir a porta e pôde ver um garoto de cabelos negros e roupa negra se jogar da janela, deixando o corpo de Daisy no chão, intacto. Ele correu até a janela, apenas para ver o outro cair de mal jeito no chão.

 

- STILES! ELE ESTÁ NO QUINTAL. FUGINDO PELOS FUNDOS! – gritou correndo até o corpo da mulher, para verificar se a mesma estava bem.

 

- ele quem? – questionou Bobby vendo o castanho correr na direção da porta que levava para os fundos da casa.

 

No caminho, o castanho viu a faca que utilizou para cortar a carne no jantar e rapidamente a pegou, abrindo a porta logo em seguida. Ele viu o assassino, um tanto manco devido a aterrissagem ruim que fizera após saltar do segundo andar da casa, caminhar desengonçadamente na direção da cerca. O garoto se virou, apontando a faca grande que segurava para o castanho. Stiles sorriu ao ver uma faca parecida a qual ele pegou no mercado e Derek guardara logo em seguida.

 

- se aproxime e eu mato você – falou o adolescente, tremendo.

 

- você não pode. É fraco. – sorriu o castanho, vendo o adolescente começar a tentar pular a cerca.

 

- você está machucado. Se tentar pular essa cerca, eu te mato antes que possa chegar do outro lado – falou o castanho manuseando a faca em sua mão com certa habilidade.

 

- Peter, pegamos o cara – falou Derek surgindo na porta, sendo seguido pelos casais que se surpreenderam ao ver o castanho ameaçar um adolescente com uma faca.

 

- mas o que está acontecendo aqui? – questionou Arthur vendo o moreno de olhos verdes com uma arma na mão.

 

Assim que Derek iria apontar a arma para o adolescente, o mesmo, no desespero, lançou a faca no moreno de olhos verdes e Derek disparou. Britany gritou ao ver sangue de Stiles escorrer pelo braço do mesmo, do local onde a bala lhe atingira, enquanto a faca lançada pelo adolescente subia, após ser acertada pela faca de Stiles. Derek, surpreso, viu o castanho agarrar a faca no ar, pela lâmina, entre os dedos, com o braço ferido, o movendo como se nada tivesse ocorrido com ele.

 

- você não chega nem mesmo aos pés da sujeira presa nos dedos dos pés de um valete de espadas, sabia? – questionou o castanho, vendo o adolescente tremer o lábio inferior, segurando o choro antes de tentar pular a cerca.

 

Assim que a mão do outro tocou o topo da cerca. Um tiro fora disparado e gritos ecoaram pelo local. O adolescente gritou de dor, sentindo uma dor horrenda na perna e em sua mão. Ele olhou para a perna, vendo um buraco pequeno sangrar e em seguida olhou para a mão, vendo uma faca atravessar a mesma, a prendendo no local.

 

- merda. Me deixa ir! – exclamou o adolescente tentando retirar a mão e colocar o pé no chão. Mas a sua perna e sua mão doíam demais para ele ousar as magoar ainda mais. No instante seguinte, Peter, Allison, Scott, Isaac e Boyd chegaram ao local, acompanhados de alguns policiais.

 

- o que merda está acontecendo? – questionou Arthur um tanto assustado.

 

- Todd Mason, você está preso pelos assassinatos de Molly Vincent, Tina Banner, Jennete McCanzy, Megan Pucket e mais algumas mulheres – falou Peter vendo o oficial Parrish algemar o rapaz, antes de Stiles se aproximar e retirar a faca da mão do adolescente, o ouvindo gritar com a dor.

 

- alguém vai me dizer o que significa isso? – questionou Arthur, aterrorizado, enquanto via Derek pegar o celular e ligar para um ambulância.

 

- senhor Deveniel, fique calmo. Nós somos agentes do FBI – falou Allison, se aproximando do grupo de civis.

 

- FBI? – questionou o homem vendo Derek desligar o celular e se aproximar.

 

- é, estávamos atrás desse rapaz. Ele é um assassino de mulheres. Derek e Stiles também são agentes – explicou Scott, vendo o homem se surpreender.

 

- nós nos infiltramos no supermercado para procurar suspeitos. Mas vocês se aproximaram e tivemos que manter o disfarce. Para a nossa surpresa, descobrimos que Daisy seria a próxima vítima. Então eu e Stiles nos infiltramos no jantar, com receio de que o ataque ocorresse hoje. E de fato ocorreu. Mas conseguimos impedir. Já chamei uma ambulância para a sua mulher. Ela está bem, só está desacordada – falou Derek, encarando o homem tomar uma expressão de desespero, antes de correr para o interior da casa.





 

- no final das contas ele não era um viciado – falou Scott, se jogando em seu acento, com um copo de bebida em mãos.

 

- não. O padrasto era traficante e a mãe era uma operaria e mula. Ele fedia a metanfetamina porque a casa vivia fedendo a metanfetamina – falou Isaac de olhos fechados, deitado no acento que estava inclinado.

 

- foi um bom serviço. Acabamos pegando três coelhos numa cajadada só – falou Peter, se jogando sentado ao lado do sobrinho. O qual parecia cansado.

 

- finalmente podemos dormir direito – disse Boyd, já confortável em seu acento.

 

- não me parece com sono – falou Allison, encarando o castanho comer alguns salgadinhos, que Scott e Isaac compraram.

 

- e não estou – disse o castanho, levando mais alguns salgados de milho a boca.

 

- nos acorde quando chegarmos – falou Peter, já fechando os olhos para dormir

 

- certo – respondeu o castanho, encarando o lado de fora pela janela, ignorando o olhar analista do agente Hale em si.

 

Chapter 10: White Rabbit

Chapter Text

Derek suspirou um tanto cansado. Já era difícil acordar cedo depois de dois dias seguidos de trabalho sem dormir, aí para completar a sua vida o seu chefe decide fazer uma reunião sobre os resultados da nova divisão formada justamente no dia seguinte ao trabalho, bem no horário em que os prisioneiros que faziam parte da mesma seriam libertos para trabalharem consigo.

O Hale encarou a agente Argent cruzar as pernas elegantemente, enquanto relia os relatórios feitos por eles sobre cada um dos prisioneiros e sobre os colegas de equipe do FBI que participavam da divisão. Já fazia um bom tempo, um mês e três semanas para ser mais exato, que eles estavam trabalhando com essa nova divisão.

No último caso, eles prenderam um importante traficante que estava dando dores de cabeça ao FBI. O moreno de olhos verdes se surpreendeu com a quantidade de informações que Vernon tinha sobre o modo de agir dos traficantes. O negro praticamente entregou de bandeja todo o esquema sem se quer fazer parte do grupo de traficantes que prenderam. O Boyd apenas leu is arquivos do FBI sobre o grupo e conseguiu deduzir, sozinho, em minutos, o que os agentes treinados não conseguiram em dias.

Isaac também não ficou para trás, identificando os fornecedores e locais em que era possível fabricar a droga, que no caso era um porão de um prédio do subúrbio próximo a uma fábrica abandonada que teve os equipamentos necessários para a fabricação da droga roubados. Fora um bom trabalho, não havia como mentir. Allison, Boyd e Isaac foram peças indispensáveis do trabalho, assim como Peter, que coordenava os passos dos agentes minuciosamente. Derek poderia falar qualquer coisa do seu tio, mas, uma coisa ele admitia e sabia que tinha que admitir: Peter era um gênio. O homem conseguia organizar um grupo completamente explosivo e cheio de atritos como aquele de uma maneira incrivelmente positiva. O mais velho conseguia utilizar as habilidades daqueles detentos muito bem.

A porta da sala de reuniões se abriu, revelando Lydia, que usava um vestido curto tomara que caia e segurava um copo de raspadinha em uma das mãos, enquanto sugava o final do alimento com vontade, fazendo o canudo soltar um som irritante. A mulher passou pelos colegas de trabalho, acenando para os mesmos, se aproximando da lixeira e jogando o enorme copo transparente com uma logo vermelha na mesma.

- já está todo mundo aqui? - questionou a ruiva caminhando para se sentar em um dos sofás, antes de colocar a bolsa sobre o colo e puxar um pequeno espelho e um batom da mesma, passando a retocar a maquiagem.

- falta apenas o diretor - respondeu Allan, vendo a ruiva guardar tudo, antes de cruzar as pernas elegantemente, encarando o ambiente com tédio.

Não demorou nem meio minuto e a porta se abriu, revelando um homem sério, calvo, com alguns poucos fios grisalhos e uma expressão cansada. Ele era acompanhado por alguns homens vestidos com ternos e logo atrás dele estava Chris Argent. Todos se levantaram para cumprimentar o homem, antes de o mesmo se dirigir para Allan, apertando a mão do mesmo e o vendo menear positivamente, para em seguida se virar para os agentes.

- eu devo dizer que velhos hábitos não mudam, certo, Peter? - questionou o homem mais velho do ambiente vendo o loiro lhe fitar com um sorriso ladino.

- eu falei que essa divisão era um bom investimento, Gerard - respondeu o loiro vendo o grisalho sorrir ladino, antes de encarar a neta, sorrindo orgulhoso para mesma, para em seguida lançar um sorriso idêntico para todos.

- eu fiz questão de ler todos os relatórios de vocês e devo dizer que essa divisão, até agora, tem estado longe de ser um fracasso - falou o Argent mais velho vendo os agentes sorrirem orgulhosos do próprio trabalho, mas logo retornarem a seriedade.

- obrigado, mas o que quer falar com a gente? Para você ter vindo nos elogiar pessoalmente algo deve lhe preocupar - questionou Peter vendo o grisalho suspirar, tomando uma expressão séria, o que fez com que os agentes engolissem em seco.

- de fato, eu tenho uma preocupação, sim. E gostaria de a revelar para todos os membros da divisão para saber que rumo essa divisão deve tomar daqui para a frente - falou o diretor do FBI, vendo os agentes ficarem receosos, enquanto Peter erguia uma sobrancelha, questionador.

- você acabou de dizer que a divisão é um sucesso e agora diz que pode acabar com ela? - questionou o loiro, confuso, vendo o grisalho respirar fundo.

- é, Peter. A divisão pode ter sido um sucesso nos casos que investigaram até agora, mas não quer dizer que ainda não seja considerada estável. Eu vou fazer alguns questionamentos simples, os quais foram baseados em seus relatórios e vocês devem me responder diretamente. Obviamente podem se opor as respostas de seus colegas de equipe, o que irá gerar um debate que poderá ou não sanar a minha preocupação e a de todos que sabem da existência de vocês - falou o homem encarando o grupo se entreolhar antes de voltarem o olhar para o mais velho, que pegou uma pasta com o símbolo do FBI e passou a folhear o conteúdo da mesma.

- agente McCall, no seu primeiro relatório, você julgou o prisioneiro Stiles como "cheio de ideias" e "um possível candidato a fugitivo". Isso, de fato, foi um ponto muito interessante do seu relatório. Ainda o considera como um possível fugitivo? - questionou o diretor do FBI, vendo os agentes encararem o McCall, que o fitava com uma expressão pensativa.

- para falar a verdade, eu acho, sim. Todos ali são grandes candidatos a fugitivos. Nos casos em que prendemos fugitivos da prisão, eles mostraram que sabem muito bem como fugir de uma - respondeu o moreno de queixo torto e olhos castanhos vendo o grisalho menear positivamente, antes de encarar a neta.

- agente Argent, em um de seus relatórios você citou que o prisioneiro Lahey conhecia meios químicos muitos bons para se criar uma distração e até mesmo envenenar alguém. Você diria que, em algum momento, o prisioneiro poderia... eu não sei... criar alguma distração e fugir? - questionou o Argent mais velho vendo a mais nova estreitar os olhos, pensativa e Derek bufou divertido.

- quem?! Isaac?! Aquele cara pode entender de química mas uma criança teria mais chances de fugir do que ele! - exclamou o moreno de olhos verdes cruzando os braços e encarando a morena lhe fitar por um tempo.

- não. Eu não acho que o Isaac possa tentar fugir em algum momento - respondeu Allison vendo o avô estreitar o olhar para o Hale e para a Argent.

- e por que acha isso? - questionou o homem vendo a mulher trocar a posição das pernas, ainda as mantendo cruzadas, antes de responder.

- Isaac é inteligente, mas não iria durar como um fugitivo do FBI - respondeu a morena vendo o avô menear positivamente.

- segundo eles mesmos, é preciso ter um padrão de vida quando se foge da prisão. O Isaac não está apto a viver nesse padrão - ditou o moreno de olhos castanhos e queixo torto, vendo o grisalho lhe encarar meneando positivamente, enquanto folheava o arquivo em seu colo.

- agente Hale, em todos os seus relatórios você faz críticas ao comportamento do prisioneiro Stiles. Críticas estas que não tem nenhuma similaridade com as palavras de seus colegas nos relatórios sobre o rapaz. Exceto nos primeiros, todos, com exceção de Peter, pareciam bastante ameaçados com a presença dos prisioneiros. Analisando o histórico criminal do prisioneiro 44.626, o Stiles, e o seu histórico pessoal, devo crer que suas palavras sejam escolhidas por um lado pessoal? Ou devo me preocupar mais ainda pela possibilidade de haver um lado da história que apenas você consegue ver? - questionou o Argent, vendo todos os agentes encararem o moreno de olhos verdes, o qual tomou um semblante sério com as citações do mais velho.

- você sabe que o prisioneiro 44.626 mexe comigo. Ainda não entendi o fato de ele ter sido selecionado para esse projeto, ou eu ter sido selecionado, já que ele foi selecionado há mais tempo. Mas uma coisa eu posso afirmar, nenhuma palavra nesses relatórios foram originadas pelo meu lado pessoal - respondeu o moreno de olhos verdes encarando o homem parcialmente careca lhe fitar com seriedade.

- então pode me explicar o motivo de seus colegas não se referirem ao prisioneiro 44.626 do mesmo modo? - questionou Gerard vendo o moreno estreitar as sobrancelhas em sua direção.

- isso até um leigo saberia, Gerard. Derek mantém os olhos e ouvidos totalmente focados no Stiles. Se brincar, ouso dizer que ele até dorme focado no rapaz. Ele vê um comportamento no prisioneiro 44.626 que nenhum outro agente veria após o convívio que temos - respondeu o loiro começando a se movimentar de um lado para o outro da sala.

- alguém discorda do argumento dado? - questionou o diretor vendo os agentes negarem com a cabeça.

- agente Martin. Mesmo não sendo uma agente de campo, você tem presenciado o trabalho deles melhor do que Deaton e eu. Mas as suas únicas críticas foram feitas contra os membros que foram expulsos da divisão e contra o agente Hale - falou Gerard e todos viraram surpresos para a ruiva - podemos saber o motivo? - questionou o grisalho vendo a ruiva lhe fitar com seriedade.

- para prisioneiros da segurança máxima do FBI, Vernon Boyd e Stiles Stilinski tem se mostrado bastante pacíficos. Não buscam brigas, intrigas ou quebram as regras da divisão sem que os agentes responsáveis presentes abram exceções. Isaac... Eu ainda me pergunto como ele conseguiu manter um espírito ingênuo e infantil dentro de uma das maiores prisões do país. Os três são inteligentes ao seu modo e são peças indispensáveis para a nossa divisão - relatou a ruiva, ajustando uma mecha do cabelo, a colocando atrás da orelha.

- e a crítica quanto a mim? - questionou Derek, vendo a ruiva ignorar Gerard e focar em si.

- a crítica foi justamente feita ao seu foco centrado no controle do Stiles dentro daquela divisão. Você se mantém tão centrado em analisar o cara, em controlar ele, criticar o jeito dele, a existência dele, que você acaba deixando o clima tenso, a sua produtividade cai e acabamos tendo menos rendimento do que poderíamos ter - respondeu Lydia vendo o moreno de olhos verdes lhe encarar questionador.

- o meu rendimento cai? - questionou o Hale vendo a Martin menear positivamente.

- cai. Você é um dos líderes da divisão, mas também é um dos que menos contribui para a resolução dos casos. Não precisamos de você vigiando o Alice. Outras pessoas estão sendo pagas para isso. Temos agentes seguindo vocês em campo para isso. O seu foco principal é nos ajudar com os casos, o seu secundário era vigiar o Enis. Enis foi preso novamente. Alice é o foco secundário do Peter - disse a ruiva vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar um tanto indignado, antes de dar de ombros e encarar toda a equipe.

- alguém quer me explicar o porquê do nome Alice? - questionou Scott vendo Allison lhe fitar indignada.

- você leu sobre os prisioneiros antes de trabalharmos com eles? - questionou a morena vendo o moreno de queixo torto lhe fitar indignado.

- é claro que eu li! E nada naquelas fichas tinha alguma coisa a ver com Alice. Só o nome do caso dele - respondeu o moreno de queixo torto vendo a mulher suspirar.

- leia o histórico criminal completo, Scott - falou a morena vendo o moreno de queixo torto ficar pensativo.

- eu não consigo ficar calmo perto dele. Isso é algo que vocês não podem exigir de mim - ditou Derek vendo a ruiva menear em concordância.

- eu imagino que não possa ficar calmo. Mas isso não significa que você possa ou deva criticar tudo o que ele faça para tentar nos ajudar nos casos. Ele é um assassino? É. Merece o seu desprezo? Não tenho dúvida disso. Eu também o desprezo. Mas enquanto ele estiver conosco, mantenha a sua ironia e a sua vontade de mostrar superioridade trancadas em você, para serem liberadas posterior ao trabalho. Ele está em uma segurança mínima. Lá você pode visitar ele e jogar toda raiva, ódio e desprezo nele. Mas no trabalho o que você tem que fazer é focar em analisar a possibilidade de ele estar certo e o corrigir quando necessário - falou a ruiva vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar com seriedade. Antes de o silêncio dominar a sala.

- alguma objeção aos argumentos da agente Martin? - questionou Gerard recebendo o silencio como resposta.

- ótimo. Peter, em seus relatórios, você cita precisar de uma substituição de peças". Posso saber o porquê disso? - questionou o Argent mais velho vendo o Tate cruzar os braços e olhar pela janela o lado de fora da sala.

- essa divisão foi montada para trabalharmos com o pensamento cognitivo de criminosos usando as habilidades deles. Para isso usaríamos as cinco habilidades cruciais que um grande criminoso pode ter: a habilidade de poder usar o ambiente do modo que puder, que é o Isaac; a habilidade de poder alcançar o que quer, usando dos meios necessários; que era a Kate; a habilidade de sobreviver ao submundo da sociedade, que é o Boyd; a habilidade de sobrevivência, era o Enis; e a habilidade de matar, que é o Stiles. - ditou o loiro, vendo a correria do dia a dia da agência, sentindo uma certa nostalgia lhe tomar a memória.

- disso todos sabemos - falou Chris se manifestando pela primeira vez. Peter se virou para encarar os dois Argent's mais velhos da sala e Allan.

- acontece que, em alguns casos, sofremos maiores perdas de civis e tempo para conseguir capturar nossos alvos, por perdermos muito tempo tendo que usar o Vernon e o Stiles para substituirmos Enis e Kate várias vezes. Foi por isso que eu citei a substituição de membros várias vezes - disse o loiro vendo os três superiores do FBI ali lhe fitarem questionadores.

- está querendo pedir mais dois prisioneiros? Isso é muito arriscado - ditou Chris vendo o loiro negar com a cabeça.

- quando fiz a seleção há um tempo, eu também fiz uma seleção de substituição, Chris. E nós temos uma pessoa perfeita que pode substituir Enis e Kate em uma intensidade bem melhor do que Stiles e Boyd - ditou o loiro vendo Allan passar um arquivo para Chris e para Gerard.

- é sério isso? - questionou Chris ao ver de quem o loiro falava.

- acha mesmo que pode dar certo? - questionou Gerard ignorando o filho mais velho lhe fitar indignado.

- do mesmo jeito que Stiles e Boyd deram - respondeu o loiro vendo o grisalho suspirar.

- fique a vontade. Mas vou logo avisando. Esse será o último membro que poderá escolher. Se falhar, os próximos serão escolhidos por mim - falou o mais velho se erguendo e jogando o arquivo sobre a mesa de Allan.

- vou ligar para Washington. Conseguirei a liberação do novo membro em pouco tempo - disse Allan vendo o loiro menear positivamente.

 

 

 


Boyd estava sentado em uma das mesas do pátio, enquanto jogava baralho com alguns prisioneiros daquela prisão de segurança mínima. O negro estava adorando aquele lugar. Os caras daquele lugar eram horríveis em jogos de baralho. O homem já havia adquirido uma boa quantia para se manter naquele lugar com um padrão de vida bom, levando em consideração, é claro, que se trata da prisão. Ele sorriu minimamente antes de abaixar a mão contendo suas cartas.

- ganhei! - anunciou vendo os outros presos lhe xingarem, enquanto retiravam o dinheiro para lhe pagar.

- como diabos você faz isso? - questionou um dos prisioneiros vendo o negro dar de ombros, antes de se levantar deixando um lugar vago na mesa.

- eu só sei jogar - respondeu antes de acenar para um dos homens, que acenou de volta no mesmo cumprimento mudo, antes de começar a embaralhar as cartas.

O Boyd esticou a coluna, estalou o pescoço e moveu os ombros, relaxando o torso antes de olhar ao redor. Ele já havia enjoado de jogar cartas. Ele queria fazer alguma outra coisa. No entanto, ele era um prisioneiro em uma cadeia de segurança mínima, não havia muitas opções de entretenimento para si. A maior delas era quando lhe chamavam para resolver algum caso do FBI.

Ele estava gostando daquela coisa de ser como um policial. Talvez ele tivesse se dado bem como um se a sua vida não tivesse sido uma merda no início. O negro avistou um loiro de cabelos cacheados, que conversava com outro prisioneiro normalmente. O loiro se afastou do prisioneiro, ao avistar o negro e passou a caminhar na direção do mesmo.

- e aí? Ganhando muito no baralho? - questionou Isaac vendo o mais baixo menear positivamente, antes de revelar uma boa quantia em dinheiro para um presidiário.

- e você? Como anda com as apostas? - questionou o Boyd vendo o loiro sorrir e retirar uma quantia em dinheiro quase tão boa quanto a sua de dentro da calça.

- vai bem - respondeu o loiro olhando ao redor.

- procurando pelo Stiles? - questionou Vernon, também passando a observar o ambiente ao seu redor.

- é. Ele é o único que não tem faturado nada - falou o loiro vendo o negro menear positivamente, antes de apontar com o queixo para uma direção.

- impossível não achar esse cara - ditou o Boyd apontando para uma parede, onde um castanho com brincos estava apoiado, brincando com um baralho em mãos, sozinho.

- por que será que ele não faz nada para ganhar dinheiro? - questionou o loiro vendo o homem de cabelos raspados dar de ombros.

- vai ver ele está faturando e a gente não sabe. Vai que o negócio dele é outro, sabe? - respondeu o negro vendo o loiro lhe fitar surpreso.

- acha que ele é garoto de programa?! - perguntou Isaac, chocado.

- nunca se sabe - respondeu o Boyd dando de ombros e logo uma figura alta surgiu em seu campo de visão, sendo acompanhada por outras duas figuras cinhecidas.

- e lá vem - murmurou o negro, vendo o tal Rei abrir caminho por entre outro prisioneiros. Isaac rolou os olhos, enquanto rezava para o trio os ignorar. Mas, como sempre, os caras foram certeiros em si.

- cadê ele? - questionou o careca alto, enquanto os seus dois parceiros cercavam o loiro e o negro.

- bem ali - Vernon não demorou a apontar para a direção do castanho, que ainda encarava o próprio baralho.

- ótimo. Ele está encurralado. - falou o careca mais alto estalando os dedos e os seus dois parceiros se separaram, se misturando a multidão da pátio.

- eu quero começar por ele - falou o careca estalando os dedos, antes de começar a caminhar na direção do castanho.

- tu entregou o cara tão fácil! - exclamou Isaac, um tanto incomodado com a atitude de Vernon. 

Mas ele sabia que fora necessário. Eles dois não conseguiriam dar conta daqueles três. Pelo menos ele pensava que não. Nunca fora o melhor em briga. Sempre preferiu meios pacíficos a violência. No entanto, ele também não gostava de gente dedo duro. Mas, aquilo poderia abrir uma chance. Se eles fossem por trás dos três, poderiam abrir uma brecha para que pudessem enfrentar eles.

- foi necessário. Sem contar que quem procurou a briga fora ele, não nós. Eu não sei você, mas eu não vou me encrencar por irresponsabilidade dos outros - comentou Vernon vendo o louro lhe fitar surpreso.

- e-espera. V-você pretende deixa ele sozinho com aqueles três? - questionou Isaac surpreso vendo o parceiro de trabalho lhe fitar com seriedade 

- pretendo, sim. Não me leve a mal, Isaac. Mas eu preciso fazer isso. Preciso saber até onde aquele cara pode ir - respondeu Vernon vendo o Rei continuar a se aproximar do castanho que eles conheciam como Alice.

- é o quê? Mas ele está com a gente, cara! - exclamou o Lahey, confuso.

O louro de cachos já não estava entendendo mais nada.

Vernon suspirou.

- isso não é uma colônia de férias, Isaac. Não viemos aqui fazer amigos - falou o Boyd vendo o louro de cachos lhe fitar indignado.

- mas também não quer dizer que não possamos fazer. Não estou dizendo que quero ficar afastado de vocês. Você é inteligente. Vai entender o que estou fazendo. Pense bem, Isaac. Os nossos superiores temem aquele cara. Temem mais do que qualquer outro criminoso. Basta um mover de dedos em falso do Stiles que todos eles se borram de medo. Scott e Derek principalmente. E eles são bons. São treinados. Eu quero saber do que aquele cara é feito para deixar aqueles caras com tanto medo. Sem contar que, se eu souber do que o Alice é feito, poderemos trabalhar melhor juntos - explicou Vernon, calmamente, olhando na direção de Stiles, que permanecia embaralhando cartas.

Isaac permaneceu em silêncio, pensativo.

- Alice? - questionou Isaac, confuso.

- eu também não sei, mas é assim que chama ele - respondeu Vernon, também pensativo.

- eu já sei do que você é feito. O seu nariz é ótimo, sua capacidade de assimilação é surpreendente, sua capacidade de adaptação ainda não foi mostrada aos agentes, mas eu já vi que ela é igualmente surpreendente. Sei que você não vai atrasar o grupo. Mas Alice... Ainda é muito incerto. Ele é incrível, mas eu preciso de dados para definir o quanto - ditou o Boyd antes de desviar o olhar, pelo canto dos olhos, para Isaac, que sorria ladino em sua direção.

- garanto que você está excedendo as expectativas que ele temem você -ditou o Lahey e Vernon ergueu uma sobrancelha, confuso.

- Peter - especificou e o outro meneou uma vez em concordância, antes de voltar o olhar para Alice.

- é claro. As expectativas dos outros são completamente irrelevantes para mim. Foi o Peter quem nos deu essa chance. E se depender de mim ele vai ter o que quer - ditou o Boyd vendo que o Rei já estava chegando perto.

- eu não sei, não. As expectativas de Allison parecem ser interessantes - disse antes de encara Stiles mais uma vez 

O Rei sorria vitorioso, já imaginando como espancaria o castanho, o deixaria bem debilitado para em seguida conseguir o que queria bem mais fácil: usar o corpo do novato. Quando atingiu o centro do pátio, o careca que se denominava rei viu o castanho guardar o baralho e lhe fitar com seriedade, antes de se virar e começar a andar na direção dos corredores das celas. O rei crispou os lábios, estalando a língua no céu da boca, mas, ao se lembrar de que poucos guardas ficavam na área das celas, ele sorriu.

Agora ficaria tudo mais fácil ainda. Ele espancaria o mais baixo até ele apagar e, se bobeasse, poderia usufruir do corpo do outro naquele momento mesmo. Ele sinalizou para os amigos, vendo os mesmos menearem positivamente, antes de o seguirem para a área das celas. Eles viram o castanho, um tanto distante, os encarar e negar com a cabeça, antes de adentrar uma das celas.

- ele não se trancaria, trancaria? - perguntou um dos parceiros do rei, vendo o mesmo correr na direção da cela.

Eles correram o máximo que puderam, para tentarem pegar a cela aberta e suspiraram aliviados quando viram a mesma com a porta escancarada. Eles adentraram a cela com velocidade, já se preparando para socarem o novato até o mesmo apagar. Mas, quando os três se encontravam no centro da cela, eles notaram que a mesma estava vazia.

Eles olhavam ao redor, desesperados para encontrarem o alvo. O rei apontou para debaixo das camas e os seus ajudantes se abaixaram para procurarem pelo castanho ali. Eles nem se quer cogitaram a ideia de aquilo ser apenas uma armadilha. Quando deram por si já era tarde demais. Os seus corações gelaram ao ouvirem o som da porta da cela sendo batida com força e a trava se fechar. Ao olharem para trás eles viram o castanho negar com a cabeça, antes de se afastar.

- SEU DESGRAÇADO! SOLTA O REI AGORA! - gritou o mais magro vendo o castanho dar as costas e colocar as mãos no bolso, retirando um baralho do mesmo.

- não adianta gritar, Rainha. Eu sou Alice - disse o castanho, olhando por sobre o ombro, vendo os três engaiolados rangerem os dentes de ódio.

- você vai se arrepender. Está me ouvindo? VOCÊ VAI SE ARREPENDER! - gritou O rei, vendo o castanho beijar a pontado de dois dedos e os assoprar, ainda lhe fitando por sobre os ombros.

- desculpe eu dar uma de coelho branco, mas eu não posso me atrasar - falou Stiles dando as costas totalmente e começando a caminhar para a direção do pátio novamente. Antes mesmo de alcançar o pátio, um policial surgiu, dizendo que ele estava sendo chamado.

 

 

Chapter 11: Confidence

Chapter Text

As três vans adentraram a sede da divisão e estacionaram uma a lado da outra. Derek desceu a porta do estacionamento e se virou para se aproximar dos outros agentes. Os guardas desceram das vans e se dirigiram para os fundos dos veículos, abrindo as portas e vendo os três prisioneiros descerem das traseiras dos veículos. Boyd e Isaac se encararam e viraram os rostos para a van que transportava Stiles. Eles esperavam encontrar o rapaz com marcas roxas, ferimentos e sangue coagulado, mas, para a surpresa dos dois, castanho desceu inteiro, sem um arranhão se quer.

- você está bem? Não te acertaram no rosto? – questionou o loiro não vendo os agentes estreitarem os olhos na direção dos três prisioneiros.

- eu posso cuidar de três cartas idiotas, Isaac – disse o castanho começando a retirar a própria roupa.

- estão com problemas na prisão? – questionou Scott sorrindo na direção dos três. Boyd e Isaac se entreolharam, antes de fitarem o castanho, vendo o mesmo completamente nu, esperando as roupas serem entregues a si.

- no dia que idiotas como aqueles forem problema, o mundo vai estar perdido – respondeu Stiles vendo Peter se aproximar e lhe entregar a bolsa plástica contendo as suas roupas.

- do que vocês estão falando? – questionou Allison, vendo o loiro começar a retirar a própria roupa.

A agente de cabelos negros compridos logo desviou o olhar quando o castanho se curvou para a frente, no intuito de pegar a camisa que estava na bolsa, que se encontrava no chão. Revelando uma grande tatuagem em suas costas. Era a metade de um grande símbolo de copas que se encontrava em seu ombro direito. A tatuagem vermelha começava em seu ombro, seguindo até a sua cintura, onde ficava a pequena ponta do coração.

“Ele realmente é gosta de baralhos”

Pensou a agente encarando o castanho se virar de costas para pegar as roupas da prisão e as colocar dentro da bolsa. Assim que Boyd e Isaac terminaram de se vestir, Scott se aproximou da porta da garagem, abrindo a mesma para as vans saírem. Quando o moreno fechou a garagem e retornou ao grupo, todos se dirigiram para o elevador.

- uns caras estão pegando no nosso pé por sermos a carne nova – respondeu Isaac vendo o castanho ajustar o brinco a orelha.

- e porque esperavam que o Stiles tivesse levado uma marca de surra no rosto? – questionou Derek, vendo o castanho lhe encarar por sobre o ombro, antes de sorrir ladino, soltando um “Hunf”, para depois as portas do elevador se abrirem e todos começarem a sair.

- os palhaços foram para cima do Stiles, hoje, antes de vocês nos chamarem – falou Boyd, se encaminhando para a mesa, mas parou ao ver uma figura que não conhecia parada, sentada, os encarando com seriedade.

- a treta ia ser em público, mas o Stiles saiu do pátio e eles foram atrás. Não deu para ver – explicou Isaac, encarando os agentes, antes de esbarrar em Boyd e se surpreender.

- por que está parado aí? – questionou o loiro de cachinhos, antes de olhar para a mesa e ver uma figura loira os encarando.

- quem é? – questionou Isaac apontando para a pessoa sentada a mesa, de braços cruzados e cara de poucos amigos.

- eu quero apresentar a vocês a pessoa que vai substituir Enis e Kate. Erica Reyes. Ela tem habilidades criminosas parecidas com as dos dois. É uma velha conhecida do agente Hale – explicou Peter vendo a loira encarar Derek com certa raiva no olhar, antes de encarar os três homens parados a sua frente.

- quem são eles? – questionou a loira, encarando o castanho lhe ignorar e caminhar para se sentar de frente para si.

- Stiles. Pode me chamar de Alice, se quiser – disse o castanho, cruzando os braços e encarando a loira com certa seriedade.

- Alice? – questionou Isaac vendo Boyd dar de ombros, e os dois desviaram o olhar para os agentes, esperando que eles pudessem lhes responder a pergunta que eles já se faziam há um tempo.

- por que Alice? Não é um nome feminino? Ou é o seu nome de guerra? – questionou a loira, ligando os brincos do castanho ao nome e questionando a sexualidade do homem a sua frente.

- se você se referir ao meu nome de assassino quando diz nome de guerra, sim, é o meu nome de guerra – respondeu o castanho vendo o loiro e o negro se sentarem ao seu lado.

- como assim? – questionou Isaac vendo o castanho sorrir ladino para o sorriso que surgiu nos lábios da loira.

- você também mata? Então você é o assassino. O loiro é mais magro do que o negro ali. Ele deve ser o químico e o gostosinho ali deve ser o traficante. Acertei? – questionou a loira vendo Isaac lhe fitar surpreso.

- sua habilidade de dedução e reconhecimento é boa. Você é uma sobrevivente, certo? – questionou o castanho vendo a loira sorrir.

- ladra também – completou Erica erguendo uma caixa de chicletes do sabor menta e colocando um na boca.

- de onde você... – Scott iria questionar, mas ele logo associou a caixa nas mãos da loira a uma que deveria estar em seu bolso.

- já masquei melhores – disse a loira jogando a caixa para o moreno de olhos castanhos, que a pegou irritado.

- por que o seu nome de assassino é Alice? Não tinha um mais assustador, não? – perguntou Isaac vendo o castanho sorrir ladino.

- se você visse o jeito que ele deixava a assinatura dele, iria entender que o nome pode parecer fraco na pronuncia, mas poderoso quando assinado – disse Peter vendo o loiro de cabelos cacheados lhe fitar confuso.

- eu ainda me lembro das fotos dos arquivos – falou Scott encarando o loiro com seriedade.

- você leu o arquivo dele hoje – argumentou Lydia passando por cada um e os entregando arquivos criminais curtos.

- e eu não almocei por causa disso – falou o moreno de queixo torto, ouvindo Stiles gargalhar com a sua fala.

- eu adoraria ver a sua reação quanto ao coelho – ditou o castanho vendo o agente lhe fitar questionador, não notando o olhar assassino de Derek para si.

- vamos ao trabalho – o moreno de olhos verdes cortou o assunto vendo Lydia se posicionar ao lado do monitor.

- o trabalho de hoje é um pouco simples. Mas não quer dizer que não haverá perda de civis se não nos concentrarmos nele. Um homem, Lincon Stuart, escapou de sua prisão hoje cedo. Os seus crimes começaram sendo simples. Um roubo aqui, outro ali. Até que ele começou a se tornar violento. Batia em suas vítimas, principalmente homens, passou a violentar mulheres e prostitutas. Então piorou, ele passou a cometer latrocínio – explicava a ruiva, passando as imagens que havia preparado.

- como ele fugiu? – questionou o castanho vendo a ruiva passar para uma imagem de um acidente de carro.

- ele estava sendo transportado quando atacou os guardas. Ele tomou a arma do que ia consigo na traseira e depois matou todos, o que gerou um acidente. E foi nesse acidente que ele fugiu. Depois ele parou um civil e roubou ele, mas, o mais estranho foi que ele não o matou. Ele apenas o deixou nu na estrada, bem onde o acidente ocorreu – ditou a mulher de cabelos ruivos, vendo todos estreitarem o olhar para si.

- ele simplesmente mudou o hábito? – questionou Scott vendo a ruiva menear positivamente.

- alguém estava com a vítima quando ela foi roubada? – questionou Derek vendo a ruiva menear positivamente.

- o filho da vítima, que não teve nada levado, além de sua carona, que foi o carro do pai – ditou a ruiva.

- ele gosta de crianças – disseram os quatro detentos ao mesmo tempo, que se entreolharam, antes de voltarem o olhar para a ruiva.

- já rastreou o carro? Sabemos a placa? – questionou Peter, vendo a ruiva lhe fitar entediada.

- querido, já fiz muita mais do que isso. Eu rastreei o nosso criminoso, se bem que não foi difícil. O cara seguiu com o carro do nosso pai peladão e parou em uma lanchonete, onde roubou uma viatura e matou os dois policiais. Ele pegou as munições deles e seguiu para um apartamento. Ele invadiu o local, mas só agrediu um morador. Teddy Louis. A vítima teve todo o apartamento destruído. O endereço está no arquivo em suas mãos – ditou a ruiva e todos encararam os arquivos

- há algo que indica um padrão? – questionou Boyd, encarando a ruiva negar com a cabeça.

- esse cara me parece um tanto confuso. Mas eu não sou especialista em padrões de assassinato. Esse é o trabalho de Stiles. Então deixei para ele julgar o nosso fugitivo melhor – respondeu Lydia encarando o castanho dar de ombros.

- até agora o que vejo é alguém vingativo e carente de atenção – disse o homem de brincos e Derek sorriu nasalado.

- conheço alguém assim. Mas por que acha isso dele? – questionou o moreno de olhos verdes vendo o castanho lhe fitar com seriedade. Stiles fez uma arma com os dedos e apontou para Derek, que o fitou com raiva.

- ele não pensa duas vezes antes de envolver a polícia inútil e agravar ainda mais a sua situação – disse o castanho de brincos abaixando o polegar e simulando um ricochete de tiro com a mão.

- quem é você para chamar a polícia de inútil? Você está preso! – argumentou o Hale, irritado.

- meu querido, quem melhor para julgar a polícia, senão a pessoa que matou policiais e fugiu da polícia mesmo estando nas mãos dela várias, e várias, e várias vezes? – indagou o castanho vendo o moreno se enfurecer ainda mais.

- e digo mais, não estou preso graças aos esforços inúteis daquele bando de incompetentes. O seu tio Peter me prendeu. É sério, o dinheiro dos impostos de vocês são tão mal gastos – comentou o castanho sorrindo divertido para o agente Hale, que começou a avançar na direção do mais novo, mas fora logo parado por Peter e Allison. Erica analisava tudo calmamente.

- Derek, pare! – a agente de cabelos petros tratou de repreender o moreno.

- Stiles, controle a língua – Peter tratou de repreender o castanho.

Stiles apenas deu de ombros, mas Peter sabia que aquilo era o assassino abaixando a cabeça e aceitando a sua ordem. Já Derek, precisou de um pouco mais de tempo para se acalmar, antes de se soltar de Allison e do tio em um movimento brusco, indicando a sua insatisfação com aquela situação.

- há algum parente por perto? – questionou Allison vendo a ruiva menear positivamente.

- a mãe, apenas. Ela se encontra internada em um asilo em uma cidade próxima – disse a ruiva apertando um botão e um mapa do estado surgiu ali e a ruiva indicou a cidade. Além da localização da mãe do suspeito, o mapa revelava os locais de ação do mesmo, dando uma certa ideia da distância entre o fugitivo e sua única ligação familiar.

- ela já esteve internada em um outro asilo, mas fora transferida para esse. O primeiro asilo em que ficou internada fica na mesma cidade em que o filho estava preso. Embora tenha pesquisado bastante, eu ainda não sei o motivo da transferência da paciente – disse a ruiva se virando para os agentes e vendo os mesmo ficarem pensativos.

- é só o que temos? – questionou Peter vendo a agente Martin menear positivamente.

- já até sei. Vamos nos separar em grupos. Alguém acompanha o Stiles até a cena do crime e eu vou com a Allison conversar com a velhinha gente boa – disse o louro de cachos já se levantando.

- Derek, Erica e eu vamos com o Stiles para as cenas do crime. Boyd fica com a Lydia, tentando achar prováveis locais em que ele deve se esconder e mais pistas do caso. Scott, Allison e Isaac vão conversar com a senhora Stuart – disse Peter já se erguendo.

 

 

 

 

 

 


Eles chegaram a cena do segundo crime, vendo o apartamento realmente destruído. Os quatro já haviam visto a cena em que o fugitivo se libertou. Peter e Stiles usaram a cena para averiguar a habilidade de Erica em reconhecer o ambiente. Stiles tinha de admitir. Erica era melhor do que Enis. Aquela mulher sabia identificar cada pedaço do cenário que eles tinham que instigar, descrevendo bem as atitudes tomadas pela vítima e pelo criminoso naquele local .

Stiles encarou atentamente tudo, vendo, principalmente o que mais assustou os agentes. Marcas de arranhões nas paredes. Mas não eram marcas simples. Pareciam aquelas de ficção, deixadas por seres sobrenaturais como lobisomens e demônios. Derek tocou uma das marcas com as mãos, sentindo a textura da mesma.

- mas o que diabos ele usou para fazer isso? – questionou Derek vendo as marcas manchadas com um pouco de sangue.

- unhas – respondeu Erica retirando um vestígio de uma lasca de unha de um dos arranhões. Derek a fitou surpreso.

- é o quê? Como diabos esse homem fez isso com as próprias mãos? – questionou Derek vendo o castanho ao lado de uma mesa.

- algo que todos nós temos, chamado fúria. Ele está revoltado com alguma coisa – respondeu Stiles espalhando os papeis sobre a escrivaninha do quarto daquele pequeno apartamento que não havia paredes dividindo os cômodos. Na madeira, havia escrito “Se foder”. Aquilo fora feito com algo afiado, algo que não foram as unhas daquele assassino.

- e eu achando que eu precisava lixar as unhas – ditou a loira retirando um pedaço maior de unha, a mesma estava ensanguentada e se mostrava bastante grossa e mal tratada com uma leve tonalidade amarelada, indicando a saúde um tanto questionável do homem. Aquilo não era, simplesmente um pedaço da unha. Era a unha quase inteira, indicando que, embora tenha deixado uma bela marca naquele apartamento, o homem não fizera isso sem sofrer danos.

- a cor indica uma clara falta de higiene – disse o castanho ao lado da loura.

- o sangue está do lado errado. Esse sangue é dele. Ele está com raiva o suficiente para ignorar a dor física – falou a loira se virando para a parede e simulando o ataque da mão do fugitivo na parede, indicando o modo como ele atacara a mesma diversas vezes com as próprias mãos.

- algo em seu peito dói mais do que as suas mãos – completou Stiles vendo a marca das unhas de Erica no papel de parede.

- suas unhas são bem resistentes – disse o castanho levemente surpreso por nenhuma delas se quebrar.

- essas belezinhas aqui sempre tiveram um tratamento especial – sorriu a loira acariciando a face do castanho com a unha do indicador, raspando a pele do homem.

- você frita as suas unhas – disse o castanho vendo a mulher a sua frente lhe fitar surpresa.

- como sabe? – questionou a mulher vendo o castanho segurar a sua mão e, surpreendentemente, lamber a sua unha de forma um tanto sensual, mesmo sem perceber.

- o esmalte vermelho disfarça o gosto, mas o cheiro do óleo eu consigo sentir – respondeu largando a mão da mulher e se focando em analisar a cena de crime a sua frente.

- estou esperando – disse Peter sentado na poltrona, como o poderoso chefão.

- de quem dessa vez? – questionou o castanho de brincos puxando, da manga de sua camisa, um baralho.

- de onde caramba você tira essas coisas? – questionou Derek vendo o castanho dar de ombros e sorrir ladino, soltando um “Um mágico nunca revela os seus segredos, Derek”.

- bom. Como a Erica já lhe apresentou uma parte do que ela sabe fazer, acho justo que seja a sua vez... e eu também quero algo bem detalhado – disse o loiro vendo a mulher se aproximar para se sentar no braço da poltrona e encarar o castanho com um olhar curioso.

- nem tem tantos detalhes assim. Esse cara não faz questão alguma de esconder o que faz – disse o castanho chutando a lata de lixo vazia, enquanto embaralhava as cartas em suas mãos.

- só começa logo – ditou Derek, entediado.

E então Stiles começou a ditar o que ele via que tinha ocorrido. Foi impossível para Erica não se ver surpresa e até mesmo animada. Já Derek... O homem de olhos verdes ainda ficava fascinado com aquela habilidade do castanho. Era como... era como se Stiles pudesse ver, ali, bem a sua frente, toda a cena se repetir para que ele pudesse narrar a mesma para os dois agentes. Ele até mesmo se jogou de costas na cama imitando as reações da vítima quanto ao seu assassinato.

Aquilo fez Derek se sentir ainda mais furioso quanto ao castanho. Coisa que Erica não demorou a notar. O Hale achava aquilo muito repugnante. Stiles sabia. Ele sabia exatamente como as vítimas se sentiam, mas mesmo assim, mesmo sabendo de tudo isso ele era um assassino frio e calculista. O moreno de olhos verdes viu o castanho terminar a sua “palestra” dos fatos com um olhar fuzilador para o prisioneiro. O homem de olhos castanhos lhe fitou no final, antes de sorrir ladino e puxar um valete de espadas para cima, o mostrando para o homem de olhos verdes, antes de girar a carta por entre os dedos e, quando a exibiu a mão aberta em uma palma revelou não ter mais nada na nela.

- olha, o Daddy aqui não estava brincando quando falou sobre os detalhes – disse a loira enquanto eles saíam do apartamento. Não havia nada ali que pudesse indicar o motivo do assassinato ou o motivo dos atos do fugitivo e qual passo ele daria a seguir.

- eu apenas digo o que vejo – disse o castanho caminhando pelo corredor.

- amos de experiência, creio eu – soltou Erica, para o ódio profundo de Derek, arrependimento de Peter e diversão de Stiles.

- eu fiz o que pude – brincou o castanho fazendo Derek rosnar.

Era inadmissível. Eles estavam tratando a vida de pessoas como se não fosse nada. Eles brincavam com a vida alheia como uma garota brincava de boneca. O seu peito se enchia de ódio e indignação com as palavras dos dois prisioneiros, mas o seu surto de raiva teria que esperar.

Peter passou os olhos pelo corredor, tentando pensar em algo que pudesse ajudar na investigação. Foi quando os seus olhos passaram pela fresta da porta em frente a porta do apartamento do crime. O loiro viu uma sombra por baixo da porta e pôde ver a mesma se mover assim que ele se aproximou da porta. O homem com alguns fios brancos não demorou a bater na porta, ouvindo uma movimentação atrás da mesma.

- alguém em casa? – questionou o loiro apenas por educação e em um teste. Os outros três pararam no corredor para encararem a cena. Uma movimentação ainda maior fora ouvida e Peter pode ouvir coisas se movendo.

- FBI, abra a porta – anunciou o loiro, já levando a mão a sua arma.

Derek repetiu o ato do tio, apenas por precaução. Stiles se colocou atrás do moreno de olhos verdes, assim como Erica. Ambos olhavam por sobre os ombros do homem, enquanto viam Peter começar a bater com mais força. Já irritado, Peter chutou a porta. Apartamentos baratos, no subúrbio, e suas péssimas condições estruturais. Um único chute do homem foi o suficiente para arrombar a porta. O loiro viu um rapaz de cabelos pretos olhar para trás, assustado, antes de pular a janela na qual se encontrava sentado com uma mochila nas costas.

- ELE ESTÁ FUGINDO. MORENO, DE MOCHILA NAS COSTAS – gritou o loiro e Erica olhou ao redor, tentando achar algo útil, enquanto Derek avançava contra o apartamento que o tio invadira, seguindo o mesmo.

Erica não demorou em correr na direção dos dois. A mulher de cabelos loiros cacheados passou pelos dois como um foguete. Ela socou a caixa de emergência, quebrando o vidro da mesma, antes de puxar a mangueira de incêndio e a enrolar no corpo. A mulher pegou um pouco de distância e, surpreendendo Derek, que parou na porta para encarar a cena, viu a mulher pular a janela do corredor, quebrando o vidro com o corpo e cair.

- ERICA! – gritou o moreno de olhos verdes, antes de olhar para trás e ver um Stiles pensativo sorrir na direção da janela do corredor pela qual a mulher pulara.

- estamos no segundo andar. A rua que pegamos fica aqui. Estamos na... – o castanho fora cortado por um grito do Hale.

- O QUE DIABOS ESTÁ FAZENDO? POR QUE NÃO IMPEDIU ELA? – questionou Derek, irritado correndo na direção da janela, apenas para ver uma Erica cair no chão sem nenhum grande impacto, desenrolar a mangueira da cintura e correr para trás do prédio.

- ele não vai fugir a pé – disse o castanho erguendo o olhar e olhando o moreno lhe fitar furioso. Stiles correu até o quarto em que ocorreu o assassinato, enquanto o moreno lhe fitava confuso. Derek viu Stiles abrir a janela e pular da mesma.

- só pode estar de brincadeira – murmurou o homem correndo até a janela e vendo o castanho cair em uma lixeira repleta de sacos de lixo.

- ah, não vai – disse Derek vendo o castanho se levantar e se retirar da lixeira.

Foi nesse momento que o agente pulou a janela, tomando o cuidado de calcular bem onde cairia. Derek sentiu algo metálico lhe machucar as nádegas quando caiu nas bolsas de lixo, mas ele não ligou. No momento, tudo o que ele queria, era prender Stiles de novo. Quando saiu da lixeira, ele viu um carro sair do estacionamento do prédio e o castanho se aproximar de uma moto.

- perseguição policial em andamento, sai – disse o castanho derrubando o piloto da moto, que conversava com uma garota. Derek correu até o castanho, que ligou a moto enquanto o piloto se preparava para a tomar de volta. Stiles chutou o homem e olhou para Derek, que estava quase o alcançando.

- ANDA LOGO – gritou o rapaz de brincos deixando Derek confuso.

O moreno de olhos verdes subiu na moto e o castanho arrancou, a empinando no processo. Derek se segurou firmemente no outro antes e o encarar irritado. Eles passaram a perseguir o carro que avançava com velocidade. Stiles desviava dos carros com certa habilidade surpreendendo ainda mais o moreno de olhos verdes. O carro fez uma curva fechada, derrapando no processo, já Stiles praticamente atravessou a parede do prédio que ficava na esquina ao passar pela calçada, no pequeno espaço entre o prédio e o poste.

- onde merda você aprendeu a pilotar? – questionou Derek se soltando do castanho e puxando a sua arma.

- no mesmo lugar em que aprendi a matar -  disse o castanho antes de ouvir um disparo ser efetuado e o carro a sua frente começar a derrapar quando um dos pneus fora furado pela bala e passou a dançar embaixo do carro.

- vai dar merda – murmurou Derek ao ver o carro começar a dançar na rua quase deserta, antes de começar a capotar.

O carro girava, e girava, e girava, chamando a atenção dos pedestres, que logo puxaram os celulares para filmar a cena. O castanho acompanhou o carro a uma certa distância e quando o mesmo parou, o rapaz de brincos freou a moto e colocou o pé no chão, fazendo a moto girar em um ângulo agudo

- acho que alguém está com o rabo muito preso – disse Stiles descendo a moto e caminhando até o carro, abrindo a porta e vendo um rapaz desacordado preso pelo cinto.

- por favor, me diz que esse é o cara que o Peter viu – implorou o moreno de olhos verdes vendo o castanho lhe encarar com uma sobrancelha erguida.

- você atira em alguém que a pessoa em quem você não confia está perseguindo sem saber quem é? – questionou o castanho, alfinetando o Hale que lhe empurrou para o lado. O Hale suspirou aliviado ao ver um rapaz moreno, com uma mochila no banco. Stiles cutucou o rapaz e o mesmo acordou e os fitou desesperado.

- e então? Vai ser do jeito fácil ou do jeito divertido? – questionou Stiles levando uma das mãos ao rosto do rapaz, posicionando o polegar sobre o olho do mesmo e fazendo um leve pressão, indicando o que ocorreria caso fosse contrariado. Derek encarou o castanho com seriedade. Ele iria repreender o outro quando o rapaz no carro o cortou.

- FÁCIL! FÁCIL! FÁCIL! NÃO FAZ ISSO, POR FAVOR! – implorou o rapaz e Stiles retirou a mão dali e olhou para Derek com uma expressão de “Não disse? Eu sou incrível”.

O moreno de olhos verdes se levantou e chamou por um serviço para poder levar o carro para a delegacia, enquanto via a polícia se aproximando. Stiles ajudava o rapaz a sair do carro. Ele tentou fugir quando se colocou de pé, mas o castanho o puxou pelos cabelos e colou os corpos, assustando os policiais. O homem de brincos passou um dos braços pelo pescoço do rapaz, apertando o local, enquanto levava a outra mão ao rosto do mesmo, voltando a pressionar o seu olho esquerdo com o dedo do meio, enquanto lambia o lóbulo da orelha direita do rapaz.

- pensei que tivesse dito querer do jeito fácil. Só por essa, vamos passar um tempinho brincando no modo divertido – Stiles disse sorridente e os policiais ergueram armas para eles três. O rapaz iria implorar por socorro, mas Derek o cortou puxando o próprio distintivo.

- FBI. Está tudo sobre controle. Cuidem do carro que nós cuidamos do suspeito – disse o Hale antes de ouvir o seu fugitivo implorar por ajuda enquanto ouvia o mesmo dizer que estava doendo.

- já está bom! Está machucando ele! – Derek soltou irritado, vendo o castanho lhe fitar entediado antes de retirar a mão do rosto do rapaz, que passou a ter um dos olhos vermelhos e lacrimejando.

- vamos voltar com ele. Lá o interrogamos – disse Derek ligando para Peter, que não demorou a atender, enquanto Stiles pedia por algemas para uma policial, sorrindo encantador na direção da mulher, que, um tanto sem jeito, acatou o pedido do belo castanho de brincos.

 

Chapter 12: Masticator

Chapter Text

- qual é o problema de vocês? – questionou Derek, irritado. 

Ele estava em sua sala, de pé, caminhando de um lado para o outro. Peter estava na porta da sala, de braços cruzados, encarando o seu sobrinho dar o show que sempre quis dar. No centro da sala, Stiles e Erica estavam sentados, encarando o agente Hale. Stiles com um olhar entediado, enquanto Erica parecia concentrada, o que era surpreendente para o perfil da loira, que se parecia tanto com o do castanho. 

- vocês simplesmente pularam de janelas do terceiro andar. Vocês têm o quê? Demência? – questionou irritado encarando os dois prisioneiros a sua frente. 

O que mais lhe irritava não eram as consequências que poderiam ser geradas para si e para o seu histórico, mas sim a expressão entediada de Stiles. O rapaz estava com um dos pés sobre a cadeira, próximo as nádegas, enquanto apoiava um braço no joelho e o outro estava apoiado no braço da cadeira, com a mão erguida, para que os dedos brincassem com o brinco em sua orelha. 

- ora, por favor! O demente seria você, que nos seguiu de imediato, também pulando pela janela – ditou Stiles entediado, sem encarar o agente Hale. Derek era tão entediante que lhe dava desgosto só de olhar para ele. 

- exatamente, eu podia ter me ferido gravemente por sua causa – rosnou Derek, puxando qualquer argumento que viesse a sua cabeça, para rebater o do Stilinski. Stiles riu nasalado, antes de lhe encarar com um olhar sério, que fez o Hale engolir em seco, mas sem demonstrar. 

- você sabe muito bem que a responsabilidade por seu corpo é sua, não minha. E outra, fizemos o que fizemos para pegar o cara. Não pegamos ele? Então pare de dramatizar. Não haja como se você se importasse com o que fosse nos acontecer – disse o castanho vendo o agente bufar irritado e dar a volta na mesa. 

- ele tem razão. Deveríamos estar interrogando o suspeito, não os nossos – argumentou Peter vendo Derek lhe fitar furioso. 

- escuta aqui – ditou o homem de olhos verdes assim que se colocou de frente para o castanho. 

Derek levou a mão ao pescoço do castanho, surpreendendo Erica. Peter largou a pose de durão instantaneamente. Ele sabia de todo o ódio que Derek nutria por Stiles, e sabia também que o sobrinho era explosivo quando cego pelos sentimentos acumulados que sentia. 

Derek estava furioso. Ele estava fora de si. O homem esperava ver um pouco de submissão por parte do outro com o seu ato, algo que lhe acalmasse, mas ele apenas se enfureceu mais. Lá estava aquela expressão que ele via em seus pesadelos desde adolescente. Lá estava aquele olhar sério, impassível e entediado, como se nada mais pudesse o surpreender. O olhar de quem já havia assistido aquela cena milhões de vezes. 

- Derek – Peter advertiu o agente, mas o Hale lhe ignorou prontamente 

- você tem razão, não me importo com vocês. Mas a porcaria do governo se importa. E se vocês morrerem, advinha de quem vai ser a culpa? – questionou Derek encarando o castanho com fúria, enquanto cerrava os dedos ao redor do pescoço dele. 

Ele estava odiando aquilo. 

Por mais que apertasse o pescoço de Stiles, o desgraçado não mudava de expressão por nada. Não tossia, não engasgava, não deixava um músculo se mover, indicando dor. Aquilo lhe deixava mais furioso ainda. 

- Derek – repreendeu Peter, novamente, ao ver a mão do sobrinho tremer, indicando a força que usava. 

“faça” 

Sibilou Stiles, encarando Derek nos olhos. 

“Me bata. Me machuque. Me mate. Faça o que sente vontade de fazer” 

O castanho sibilava ainda sem mostrar expressão alguma. Ele parecia até uma estátua. Se Stiles não piscasse os olhos, Derek até suspeitaria que o castanho a sua frente fosse uma. O Hale rosnou irritado, apertando ainda mais o pescoço de Stiles, antes de o puxar para si, com força, antes de o empurrar de volta, fazendo o castanho bater com as costas no encosto da cadeira. 

Erica encarou, surpresa, assim como Peter, a cadeira ter os pés dianteiros erguidos e se inclinar para trás. Peter se moveu para segurar a cadeira, mas parou ao ver a mesma parada sobre os dois pés traseiros. O loiro, confuso, olhou para o castanho, vendo o mesmo com os pés embaixo da parte de cima da mesa de Derek, impedindo que a cadeira virasse para trás. 

- você não sabe o quanto eu odeio você – rosnou o Hale vendo o Stilinski sorrir ladino. 

- ah, eu faço uma certa ideia – disse usando os pés para fazer a cadeira voltar ao normal. 

- vamos logo, Derek. Deixe de drama e vamos interrogar o suspeito – ditou Peter vendo o sobrinho lhe fitar furioso. 

- você age como se eles estivessem certo em arriscar as vidas de merda deles – ditou o Hale, irritado com o posicionamento do tio. 

- você age como se eles fossem frágeis. Eles são prisioneiros de segurança máxima, Derek. Segurança máxima do FBI, Derek. Eles são capazes de decidir o que conseguem ou não fazer. Se a Erica acha que sabe pular do terceiro andar usando uma mangueira de incêndio como um rapel violento? Então ela sabe. Ela é a sobrevivente do grupo. E Stiles não passou anos sendo fugitivo do FBI, sendo mais procurado do que terrorista, sem saber pular da porra de um prédio – ditou Peter, já irritado com todo o escândalo que o sobrinho estava fazendo. 

- anos?! – questionou Erica surpresa, encarando o castanho ao seu lado. 

- foi divertido enquanto durou. Na verdade, foi divertido apenas no começo. Depois eu fui percebendo o quão incompetentes eram e perdi o interesse na brincadeira – ditou o castanho dando de ombros. 

Derek lançou um olhar furioso para o castanho, se surpreendendo com o sorriso psicopata que moldava os lábios finos do mais novo, enquanto o mesmo olhava divertido para Erica. 

- agora vamos deixar isso para depois, quando já tivermos com Lincon atrás das grades de novo, e ir atrás desse idiota – rosnou o loiro encarando o sobrinho com seriedade, vendo o mesmo passar as mãos pelos cabelos, antes de ver o tio bater duas vezes na mesa, com as juntas dos dedos, dando as costas logo em seguida. 

- acabou! – Stiles exclamou de forma infantil, como a criança que acaba de ouvir o sinal indicando o fim da aula, se levantando e seguindo o loiro, que abriu a porta da sala e saiu da mesma com velocidade. O castanho saiu da sala, deixando uma Erica receosa para trás, ao lado de um Derek ainda furioso. 

 

- Vamos – ditou o Hale saindo da sala, sendo seguido pela loira. 

 

 

 

Scott, Isaac e Allison caminhavam atrás de uma enfermeira, que analisava os prontuários em suas mãos. Ela guiava os três agentes, tentando, ao máximo, não se revelar curiosa para o caso que os agentes atrás de si estavam investigando. Embora ela soubesse da fuga do filho de sua paciente, ela jamais iria esperar que o FBI fosse aparecer ali. 

Ela chegou perto do balcão daquele andar e se virou para os agentes, que lhe fitavam com seriedade. Ela suspirou encarando os três federais. A paciente que eles queriam ver era um pouco complicada e ela temia que aquilo não desse certo. 

- é o seguinte. A senhora Stuart tem uns problemas dos quais vocês precisam saber. Ela não confia muito nas pessoas e também vive delirando, perguntando do filho e sobre alguns pertences dela que nós não fazemos ideia do que são. Então eu peço compreensão de sua parte e que peguem leve com ela – disse a enfermeira vendo os três menearem em sua direção. 

- vamos apenas conversar com ela – soltou o moreno de queixo torto e a mulher meneou em sua direção. 

- tudo bem, me sigam – disse a enfermeira antes de seguir por um corredor. Não demorou muito para que eles chegassem em uma porta e a mulher adentrasse o local sem se quer bater. 

- Senhora Stuart? A senhora tem visitas – falou a enfermeira dando espaço para os três agentes adentrarem o local. A senhora deitada na cama olhou para a enfermeira, esperançosa. 

- é o meu filho? – questionou com sua voz trêmula. 

- não, senhora Stuart. É o FBI – disse a enfermeira vendo a mulher suspirar aliviada. 

- encontraram as minhas jóias? – perguntou a mulher, esperançosa, vendo o trio adentrar o seu quarto. 

Isaac olhou perdido para Alison, vendo a agente Argent encarar a senhora Stuart com seriedade, antes de suspirar e tomar um sorriso gentil nos lábios. O loiro deu um passo para trás, deixando a morena a frente na investigação. 

- estamos quase lá, senhora Stuart. Mas primeiro nós gostaríamos de falar um pouco sobre o seu filho – ditou a agente encarando a mulher com doçura, mesmo com a sua expressão severa. 

- ah, o Lincon é um amor de filho – disse a mulher com ternura e orgulho. O que deixou Scott e Allison confusos. 

- ele f... – o McCall iria atualizar a mulher sobre o filho, mas Isaac o cortou. 

- me conte mais do Lincon, senhora Stuart – pediu o loiro chamando a atenção da mulher para si. 

- oh, ele tem os seus olhos, sabe? Ele me olha igualzinho do jeito que está me olhando. Com esse brilho nos olhos. Eu os acho tão meigos – disse a mulher encarando o loiro com mais ternura ainda, como se o mesmo fosse o seu próprio filho. 

Scott e Allison se encararam, enquanto viam a mulher se sentar na cama e bater na cama com a mão, indicando que Isaac se sentasse. A mulher tomou uma das mãos do loiro nas suas, a acariciando, o que deixou Scott e Allison confusos. Para alguém com problemas, a senhora Stuart parecia ser muito carismática. 

- me diga, o que você fez de ruim – pediu a velhinha, surpreendendo os três. 

- como sabe que eu fiz algo de ruim? – questionou o loiro sorrindo tímido para a mulher. 

- uma mãe sabe quando o seu filho apronta – disse a senhora Stuart encarando o homem olhar para as suas mãos e apertar uma sua, suavemente. 

- eu produzi drogas e as vendi – disse o rapaz vendo a mulher menear positivamente, antes de dar leves tapinhas em sua mão. 

- nós não nos orgulhamos do que fazem, mas sabemos pelo que fizeram – ditou a senhora surpreendendo o loiro. 

- sabe? – questionou Isaac surpreso. 

- é claro que sabemos. Você é como o meu filho – disse a senhora Stuart aproximando a mão do homem do seu rosto e a beijando. 

- você tem que ser um bom garoto quando ela partir – murmurou a senhora, com pesar e um pouco de orgulho na voz. 

- ela já partiu – murmurou o loiro em resposta, beijando a mão da senhora, assim como ela fizera consigo – e eu já prometi ser um bom garoto e estou cumprindo – o loiro sorriu para a senhora, apertando as mãos das mesma entre as suas. 

- desculpe interromper, senhora Stuart. Mas precisamos saber mais sobre o seu filho – disse Scott se aproximando da cama e a mulher se arrastou sobre a mesma. 

Os três encararam a cena confusos. Os agentes não entenderam a reação da mulher, já Isaac teve as pupilas dilatadas com aquilo. Era como se a senhora Stuart estivesse evitando contato físico com o agente McCall. 

- meu filho já foi preso e foi solto. Vocês já sabem tudo o que precisam saber sobre ele. Ele não me visita já tem alguns anos – disse a senhora Stuart, um pouco acuada. 

- Scott, se afaste da cama – ordenou Isaac vendo as mãos inquietas da senhora que até então lhe tratava como um filho ou neto. 

- tudo bem – disse Scott vendo a mulher relaxar um pouco com o seu afastamento. 

- a senhora poderia me falar de suas jóias? – perguntou Isaac vendo a senhorinha menear positivamente para si. 

- eram as jóias da minha mãe. Um anel lindo. Você precisava ver. Tinha uma pedra de jade nele. Era tão majestoso. Pena que o levaram – a senhora Stuart começou a falar toda animada e com ar de admiração, mas terminou com murmúrios ao lembrar de sua perda 

- vamos tentar encontra-lo, senhora Stuart – disse Allison, tentando acalmar a senhora sentada na cama. 

- eu agradeço – disse a senhorinha encarando a agente Argent com gratidão. 

Os três se retiraram do quarto, se despedindo da senhorinha, que se despediu sorridente, enquanto via os três sorrirem em sua direção. Os dois agentes viram Isaac caminhar para a outra parede, pensativo e de braços cruzados. Mas eles não se importaram, eles focaram mais em pensar no motivo da reação da senhora Stuart quanto a aproximação de Scott. 

- eu não entendi foi nada – disse o agente McCall encarando a agente Argent pensativa. 

- confesso que também fiquei confusa. Ela não se retraiu com o Isaac, mas se afastou de você desesperadamente – murmurou Allison, pensativa. 

- por que ela tem medo de mim? – questionou Scott vendo a mulher permanecer pensativa. 

- eu sei o porquê – respondeu Isaac se virando para os dois agentes, que lhe fitaram surpresos e com seriedade. 

 

 

 

 

 

 

 

- e então? – questionou Derek encarando o rapaz algemado naquela sala. 

Derek estava sentado do outro lado da mesa, com Peter, Stiles e Erica atrás de si. O rapaz estava um tanto apreensivo com tantos agentes naquela sala, mal sabendo ele que dois eram apenas prisioneiros. 

- vai nos dizer porque fugiu? – questionou Peter vendo o rapaz brincar com os dedos. 

- é o seguinte, eu vou ser direito. Eu estava com o cu na mão com vocês lá, por que eu achei que vocês estavam lá para matar a testemunha. Sabem? Limpar a bagunça que o outro fez – disse o rapaz vendo os quatro estreitarem o olhar para si. 

- como é que é? – questionou Peter, encarando o rapaz lhe fitar temeroso. 

- é, a testemunha do assassinato do senhor Louis. O cara que viu tudo e saiu correndo – disse o rapaz encarando os quatro estreitarem o olhar em confusão. 

- nos diga exatamente o que você ouviu sobre o assassinato de Teddy Louis – ordenou Peter vedo o rapaz dar de ombros. 

- eu ouvi a gritaria. O assassino gritava algo sobre um anel e a mãe dele. Aí o senhor Louis falou algo sobre uma construção, ele trabalhava em uma. Aí o cara ficou mais irritado perguntando de um cara aí, um tal de Finstock. Foi quando eu me aproximei da porta para olhar pelo olho mágico. Aí eu vi um cara abrindo a porta do apartamento, ele viu o senhor Louis morto e saiu correndo. Aí eu vi o assassino correndo atrás dele – narrou o rapaz encarando os agentes se entreolharem. 

- lá fora, agora – disse Stiles saindo da sala. Peter não pensou duas vezes antes de se levantar e seguir o castanho, assim como Erica. 

- eu posso ir embora, agora? – questionou o rapaz vendo o moreno se aproximar da porta. 

- não – respondeu Derek, irritado, batendo a porta com força, o que assustou o rapaz. 

- para quê isso tudo? – murmurou o rapaz, voltando a encarar suas mãos algemadas. 

Derek seguiu o tio e Erica, os quais se sentaram a grande mesa redonda. Stiles passou a encarar os dois, enquanto via Lydia e Boyd debaterem algo na mesa da ruiva, antes de o negro se levantar, meneando positivamente para a ruiva e se aproximando do quadro de vidro. 

- nós ouvimos a conversa pela escuta e pesquisamos os nomes e algo sobre a construção. Encontramos alguns resultados, mas eu não faço ideia de como ligar eles ao caso – disse o negro colando os papéis no quadro com o uso de imãs. Foi nesse momento em que o elevador se abriu, revelando Scott, Isaac e Allison. 

- temos informações sobre a senhora Stuart e sobre o Lincon – ditou Scott se jogando na primeira cadeira que viu. 

- temos uma testemunha que diz que o Lincon está procurando um tal de Finstock e um anel – disse Erica vendo o trio lhe fitar confuso. 

- Vamos organizar essa merda porque eu já me perdi toda – disse Lydia se aproximando. 

- é o seguinte. Lincon fugiu e procurou por Teddy Louis. Ele está procurado Finstock e um anel, e está furioso. Só não sabemos o porquê – disse Stiles escrevendo no quadro com a ajuda de um pincel. 

- nós sabemos o porquê. Lydia disse que a senhora Stuart foi transferida do asilo em que estava. Foi porque ela foi abusada por algum empregado de lá – disse Scott vendo Derek lhe encarar surpreso. 

- como sabem disso? – questionou Derek e Allison apontou para Isaac. 

- Minha mãe foi estuprada pelo meu pai antes de ele nos deixar. Ela ficou traumatizada com isso. Não deixava homem nenhum se aproximar. E quando eu a abraçava de surpresa, ela se debatia e sentia medo. Quando Scott se aproximou da senhora Stuart, eu vi a mesma reação que a minha mãe tinha – disse o loiro de cachos, vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar surpreso. 

- espero muito que o seu pai esteja morto – disse Erica de punho cerrado. 

- e ele foi. Um agiota o matou. E, sim, isso me alivia – disse o loiro vendo a loira sorrir em sua direção. 

- acabei de fazer umas pesquisas e advinha quem foi demitido do asilo do qual a senhora Stuart foi transferida na mesma semana da transferência? – questionou Lydia pegando uma foto que acabara de sair da impressora e a colando no quadro. 

- Teddy Louis – respondeu Peter vendo a imagem da vítima de Lincon ao lado da foto do assassino. 

- isso explica a fúria dele no apartamento – disse Erica vendo Stiles ligar ambas as fotos. 

- certo. Mas e o tal Finstock? – questionou e Lydia sorriu em sua direção. 

- advinha quem fazia trabalho comunitário lá, depois que condenado a horas de trabalho comunitário depois de roubar algumas bolsas? – questionou a ruiva colando a foto de um homem no quadro. 

- espera aí – disse o castanho pegando a foto e correndo para a sala onde o seu prisioneiro estava.  Não demorou para Stiles retornar pensativo. 

- e aí? – perguntou Erica vendo o castanho colar a foto no quadro e traçar uma linha ligando a mesma a Lincon. 

- foi ele que apareceu no apartamento do Louis na hora do assassinato – disse Stiles olhando para o quadro antes de tomar distância para analisar o mesmo melhor. 

- tem alguém aí? – questionou Scott vendo Derek menear positivamente. 

- uma testemunha que tentou fugir, mas Stiles e eu destruímos o carro dele – respondeu o Hale, como se não fosse nada demais, ainda focado no quadro. 

- qual é a do anel e a da construção? – questionou Erica encarando a imagem da construção. 

- a senhora Stuart teve um anel roubado – respondeu Allison vendo Stiles escrever “anel” no quadro. 

- Finstock foi preso por roubar bolsas. Logo ele deve ter roubado o anel quando estuprou a senhora Stuart – ditou o Stilinski ligando o anel para a construção. 

- essa construção é a construção em que Finstock trabalha como operador de máquinas – disse Lydia encarando o castanho ligar a construção ao homem citado. 

- o anel está lá – afirmou Boyd chamando a atenção. 

- algumas pessoas, quando roubam, tendem a enterrar o objeto em um local conhecido por si, para que possa passar de inocente. Aí quando a poeira abaixar, ela vai lá e o desenterra – explicou o negro vendo o castanho ligar a palavra a construção. 

- então é para lá que ele vai. Se ele pegou Finstock, ele não vai matar ele até conseguir o anel da mãe – disse Derek vendo o castanho estalar os dedos apontando para si. 

- exato. Temos que chegar lá o mais rápido possível. Se ele já pegou o Finstock, eles já devem estar lá – disse o castanho e os agentes correram para o lado de fora, onde pegaram os carros. 

 

 

 

 

 

 

 

Eles estacionaram em frente a construção e desceram dos carros às pressas. O grupo adentrou a construção, que se encontrava vazia. Já era fim de tarde, era comum construções vazias naquele horário. Eles passaram por um armário e Stiles encarou o mesmo com certa fixação. 

- acho que eles ainda não chegaram. Não escuto nada – disse Erica encarando uma parte do terreno. 

- e eu digo que eles já chegaram – disse Stiles abrindo o armário onde se encontravam algumas ferramentas, exibindo o corpo de um homem vestido de vigia. 

- merda – murmuraram Derek e Scott já puxando as suas armas. 

Eles adentraram mais o local e logo puderam ouvir o som de algo, como um motor, ligado. Allison sinalizou para eles irem devagar. Assim que eles puderam ver toda a construção em seu campo de visão, foi que eles viram, ao lado da mesma, um enorme triturador, ligado. 

A esteira que levava os entulhos para o triturador estava ligada e funcionando perfeitamente. Ao olharem para o início da esteira, puderam ver Lincon Stuart, abaixado ao lado da mesma, terminando um nó nas mãos e pés de Finstock. 

- sabe qual vai ser o melhor de deixar você ir na esteira, Finn? Pois é você que vai decidir como vai morrer. Se ficar quieto, você morrer no triturador, mas se você rolar para o lado, você morre da queda – disse Lincon, sorrindo orgulhoso para Finstock, que, em prantos, implorava por misericórdia. 

- não faz isso, cara. Por favor. Eu já lhe dei a porcaria do anel – implorava o homem amarrado, enquanto sentia o Stuart lhe colocar sobre a esteira. 

- isso é o que você ganha por tocar na minha mãe, seu depravado filho da puta – rosnou Stuart chutando o homem para a esteira, vendo o mesmo cair deitado nela. 

- merda – soltou Scott, correndo para o triturador, mas assim que ousou se aproximar do mesmo, balas atingiram o chão ao seu lado. 

No mesmo instante, o moreno de queixo torto correu para o lado, indo se esconder na atrás de um caminhão. Lincon estendeu os tiros para onde o resto da equipe se encontrava e todos se esconderam onde puderam. Peter, Stiles e Erica estavam atrás de uma escavadeira, enquanto Isaac, Allison e Derek estavam atrás dos banheiros químicos. 

- ACHAM QUE VÃO ACABAR COM A MINHA VINGANÇA, SEUS DESGRAÇADOS? – questionou o homem voltando a disparar mais vezes. 

- acham que conseguem subir lá rápido o suficiente para salvar o Finstock? – questionou Peter vendo os dois olharem para a construção, vendo o homem chorar e gritar enquanto era deslizado pela grande esteira. 

- se ele parar de atirar, acho que sim – respondeu Erica encarando o homem recarregar. 

- com ele atirando não dá. Temos que distrair ele – disse Stiles vendo o loiro pensar. 

- HEY. Atirem de volta. Ele não tem onde se esconder! – gritou Peter para Allison, que meneou positivamente. 

Os agentes começaram a devolver os tiros feitos pelo Stuart, vendo o mesmo recuar na construção em busca de proteção, mas não havia muito lugar para ele usar como proteção. Nisso o homem recuou ao ponto de se afastar do triturador. 

- agora – disse Erica e os dois saíram correndo na direção da construção. 

- é muito alto – falou a mulher ao ver a distância da primeira barra que sustentava a plataforma do triturador. 

- pela lateral – disse Stiles passando pela loira e seguindo para a lateral. 

Um dos disparos de Lincon passou ao lado de Erica, quase a atingindo, mas ela continuou, pois sabia que aquele era o limite da mira do homem, do local em que ele se encontrava. Os dois pegaram impulso e saltaram, Stiles usou uma viga vertical da construção como apoio, antes de saltar novamente para alcançar as barras que davam apoio a esteira. 

- desgraçados – rosnou o fugitivo voltando a disparar contra os agentes, ignorando completamente Stiles e Erica, mas apenas momentaneamente. 

Caso algum dos dois aparecesse na escada que levava a esteira, ele iria disparar em qualquer um deles. Allison encarou, surpresa, os dois prisioneiros escalarem aquelas vigas com tamanha facilidade, que em pouco tempo os dois já estavam alcançando a esteira. 

Ela suspirou aliviada ao imaginar que não teriam mais uma vítima. Ela só não contava que fosse difícil subir a esteira. Erica e Stiles tentavam, mas a mesma empurrava os seus braços para os lados, quase derrubando os dois daquela altura. Os dois xingaram alto, enquanto tentavam subir a esteira. 

- esquece, a gente não vai conseguir – disse Stiles olhando ao redor. 

- para o triturador. Podemos desligar ele, ou então subir por ele – disse a loira e no mesmo instante os dois percorreram aquela estrutura metálica, seguindo para o triturador. 

- você sobe e eu desligo – disse o castanho ouvindo a loira confirmar. 

Após alguns instantes, eles alcançaram o triturador. Erica subiu ao mesmo a tempo de ver o corpo de Finstock alcançar a ponta. Ela gritou para Stiles alcançar, sendo seguida pelo homem amarrado. Stiles percorreu os olhos pelo painel de comando, procurando um modo de desligar o mesmo. 

Finstock caiu e Erica segurou no pé do mesmo. Stiles achou a alavanca e puxou a mesma para baixo, ouvindo o grito de Finstock logo em seguida. Ele ouviu a máquina parar e subiu par ajudar Erica a retirar o homem dali, mas assim que subiu, viu apenas o corpo decapitado do homem e a máquina coberta de sangue e o rosto de Erica com alguns respingos. 

Os dois encararam a imagem do sangue escorrer pelas paredes do triturador e pelos dentes do mesmo, assim como o liquido jorrar pelo pescoço do homem. Stiles encarou Erica suspirar irritada, antes de socar a máquina com força, frustrada. 

- ele era um merda mesmo. De todo jeito seriam esforços desperdiçados – disse o castanho dando de ombros e descendo dali, caindo ao lado do triturador. Ele colocou as mãos no bolso, enquanto via a loira descer, ainda frustrada. 

 

Chapter 13: Important

Chapter Text

Os legistas faziam a retirada de ambos os corpos - o de Finstock e o do vigia da construção – com todo o cuidado, para não deteriorarem quaisquer que fossem as provas que houvessem naqueles corpos. A polícia local já havia isolado o local, enquanto que os agentes davam espaço para os forenses investigarem ambos os assassinatos, mesmo que o FBI já soubesse o que havia ocorrido ali.

Allison encarava, confusa, Erica chutar o chão frustrada, enquanto esperava os agentes resolverem seguir com a investigação que conduziam. Ela não conseguia entender o que se passava na cabeça da mulher de cabelos louros cacheados. Para uma mulher que já havia matado alguns homens a sangue frio, a loira parecia tão piedosa para com a vida do tal Finstock. Mal sabia Allison que o único motivo para a chateação de Érica não era a pessoa em si que estava para ser salva, mas sim o fato de não ter sido tão eficiente quanto desejava ser naquele trabalho.

A agente Argent teve o seu raciocínio cortado pela entrada daquele que era o único motivo para aquela equipe ainda estar no local. Chris adentrou a cena sendo seguido pelo parceiro, ambos encarando a nova divisão com um olhar sério. Rafael encarava, surpreso a quantidade de presidiários da segurança máxima que se encontrava no local, enquanto se aproximava do grupo. Ele não esperava que Peter e Derek fossem ser tão descuidados ao ponto de trazer simplesmente todos os detentos para campo, onde apenas Erica e Stiles seriam perigosos o suficiente para matar todos aqueles agentes e policiais e fugirem para retornarem ao mundo do crime. Para completar, Vernon Boyd estava ali. Tudo o que o homem precisava para fugir era colocar as mãos em uma única arma de fogo.

O McCall estava visivelmente preocupado.

- e então? – questionou Peter encarando os dois morenos os encararem seriamente.

- trazemos um recado do Deaton – disse Chris encarando os agentes lhe encararem com certo receio.

- e qual é? – questionou Allison encarando o pai lhe fitar com um brilho um tanto tristonho.

- os superiores estão insatisfeitos com a sua atuação nesse caso, Peter. Acham que está havendo perdas demais dessa vez – disse Chris encarando o loiro suspirar um tanto cansado.

Peter não queria ter que lidar com aquilo. Não agora. Eles haviam voltado para a estaca zero, no caso. O grupo tinha mais o que fazer do que ficar ouvindo reclamações de outros agentes movidos pela revolta e preconceito.

- eu sei – murmurou o loiro cruzando os braços e encarando os legistas carregarem o corpo de Finstock para fora da construção.

- vocês tem que melhorar. Tem que mostrar serviço. Pois se continuar assim, a minha equipe é que vai assumir o caso – disse o McCall mais velho encarando o filho, com receio, notando quem se encontrava ao lado do mesmo.

Rafael sabia da nova divisão e temia o envolvimento do filho na mesma. Scott poderia saber se virar, e Rafael sabia disso, mas ele ainda temia por dois motivos. Um loiro e um castanho. Ele sabia da história de Isaac com Scott. Sabia muito bem de como os dois eram unidos no passado. Mas o que mais lhe aterrorizava ainda era o prisioneiro do caso Alice.

O moreno de olhos castanhos encarava o castanho de brincos brincar com os mesmos entre os dedos de uma mão, enquanto encarava os forenses fazerem o seu trabalho. O assassino não parecia ter se importado com a sua presença e a do seu parceiro ali. Na verdade, ele parecia bem... Entediado. Rafael engoliu quando os dedos de Stiles pararam de se mover e as íris da cor âmbar foram direcionadas a si pelos cantos dos olhos. Um sorriso divertido moldou os lábios finos e róseos, antes de a ponta da língua do homem deslizar ali.

- e vocês nos prenderam aqui por vinte minutos, impedindo o nosso trabalho, para nos dizer que podem nos substituir se falharmos nesse caso? – questionou Isaac indignado com a atitude sem sentido algum dos dois agentes.

- o mais irônico não é isso. É o fato de o FBI não conseguir cuidar dos próprios casos, mas ainda assim quer tomar os nossos – disse Stiles ainda encarando o McCall mais velho.

- não sabe o que se passa em nossos departamentos – ralhou Rafael, vendo o castanho sorrir ladino enquanto liberava uma leve rajada de ar pelas narinas.

- o quê? Vai dizer que é mentira? Que não andam acumulando casos? Vão me dizer que realmente tem homens o suficiente para prenderem a escória de sua sociedade hipócrita? – inquiriu o castanho, ainda de lado para o homem, de costas para Scott, desafiando o McCall e o Argent.

- Stiles! – repreendeu o McCall mais novo.

- vai! Diz isso. Minta para nós como se já não soubéssemos o motivo de estarmos fora de nossa jaula de exposição de seres humanos maus – disse o castanho com autoridade em sua voz, surpreendendo os agentes com os quais trabalhava.

Derek encarou o castanho, surpreso. Ele se perguntava se era loucura sua, ou Stiles parecia irritado com a atitude dos seus, agora, colegas de trabalho? Era a primeira vez que ele via o mais novo demonstrar qualquer sinal de sentimento. Aquilo lhe deixara sem palavras, em choque, estático. Stiles nunca falara daquele jeito agressivo com qualquer um deles. Ele já havia feito piadas antes, todas de péssimo gosto envolvendo a morte. Mas o assassino do grupo nunca fora agressivo em suas piadas. Stiles sempre usava deboche e o sarcasmo como armas contra os seus superiores. Mas, naquele momento, ele estava sendo seco e direto.

- Stiles, por favor. Não aja assim– pediu Peter esfregando as têmporas com as pontas dos dedos em uma massagem leve.

- hunf – fora tudo o que o castanho soltou antes de dar as costas para os dois agentes que não faziam parte daquela divisão.

- eu não posso e nem vou mentir, concordo com o bonitinho dos brincos – disse Erica encarando o McCall mais velho lhe fitar de cima a baixo.

- então você é a substituta – soltou o McCall com um pouco de desdém.

Ele trabalhara com Derek no caso de Erica. Não fora difícil descobrir que era ela a culpada. Mas o difícil mesmo foi pegar a loira. A Reyes sabia se esconder muito bem, sabia também manipular as pessoas a sua volta e sabia melhor do que ninguém como usar o campo ao seu redor para se esquivar dos policiais. A mulher despistou eles por semanas antes de finalmente ser presa.

- eu mesma. Algum problema com isso? – questionou Erica cruzando os braços e Stiles parou atrás de si, ainda de costas para os dois agentes mais velhos.

- É claro que sim. Se lembre que somos a escória da sociedade deles. Os piores dentre o lixo julgado por eles. Somos as cartas do baralho que não se encaixam no jogo idiota deles – respondeu o castanho de olhos fechados, girando a cabeça para exibir o seu sorriso mínimo para os dois por sobre o próprio ombro e o de Erica.

- olha como fala com um superior seu – repreendeu Rafael, encarando o castanho com seriedade.

Stiles abriu os olhos lentamente, sorrindo ladino para o homem com um olhar predador para o mesmo. Os olhos do castanho estavam minimamente abertos, o suficiente para a pupila e uma parte da íris serem vistas pelo homem. O homem de cabelos castanhos ergueu a palma aberta da mão direita, a exibindo para Rafael, ainda estando de costas para a dupla.

- você não é o meu superior, agente McCall. Não confunda as coisas só porque eu resolvi brincar de policial. Eu não sei se você se lembra docque vivemos no passado, mas você foi e continua sendo apenas mais uma carta que não pode comigo – disse o castanho movendo os dedos rapidamente e logo uma carta surgiu de trás de sua mão, girando entre os mesmos.

O castanho de olhos da cor âmbar parou de mover os dedos, exibindo a carta para a dupla atrás de si. Se Scott já havia engolido em seco apenas de saber que Stiles sabia que o homem a sua frente era o seu pai, imagina quando ele vira a carta estranha que o castanho revelara para o seu pai.

Derek estranhou. Ele jurava que Stiles tinha apenas cartas de baralhos baratos, do tipo de carta que se pode arranjar em um presídio. Mas lá estava o Stilinski, exibindo uma carta azul com um palhaço assustador, que continha os símbolos dos quatro naipes em suas roupas, enquanto este erguia uma cabeça ensanguentada em uma das mãos. O palhaço gargalhava com a língua para fora, enquanto sustentava um olhar psicótico para os seus observadores.

- isso é uma ameaça? – perguntou o McCall mais velho encarando o rapaz de cabelos castanhos voltar a girar a carta por entre os dedos com velocidade e logo a mesma desapareceu por entre eles.

- não vou perder meu tempo explicando as coisas para você, Rafael. Já está bem grandinho para precisar de alguém que lhe ensine a jogar – disse o castanho voltando a abaixar a mão e a dar as costas, completamente, para os dois agentes mais velhos que não pertenciam a divisão para qual trabalhava.

- você não pode me ameaçar e... – o moreno de olhos castanhos fora cortado rapidamente.
 
- na verdade ele pode. Não deve, mas poder ele pode. Todos se ameaçam todo santo dia, é algo comum, não leve para o lado pessoal – ditou Peter vendo o moreno lhe fitar confuso e surpreso.

- você está mesmo apoiando um criminoso contra um agente do FBI? – questionou Rafael encarando o loiro mais velho dar de ombros.

- todos tem os seus motivos, mesmo que eles estejam fazendo algo errado para isso – respondeu Peter, enfiando as mãos nos bolsos enquanto encarava o agente de queixo erguido.

Peter já estava velho demais para ficar se envolvendo em discussões contra pessoas que mantinham a sua mente fechada. Sabia que não daria em nada bater de frente com Chris e Rafael. Peter sempre soube que era alguém com uma mentalidade a frente do seu tempo, desde adolescente. E, a medida em que o tempo passava, ele ia percebendo o quanto tinha razão.

- se lembre de que não é mais um agente, Peter. Esta é a sua última chance de trabalhar para o FBI. Tome muito cuidado com o que faz. Uma decisão errada é tudo o que o conselho precisa para lhe chutar da agência mais uma vez – ditou Chris em um tom sério, enquanto dava indícios de que iria se afastar.

- se o FBI tivesse o foco em prender criminosos na mesma proporção em que vocês tem o foco em prejudicar o Peter por ser melhor do que vocês, o sistema carcerário não estaria o lixo que está hoje – alfinetou o castanho de brincos, chamando a atenção de todos para si, devido a sua escolha de palavras.

- seu... – Rafael estava para avançar, quando a mão de Chris em seu ombro o parou.

- não caia no jogo dele, Rafael. Ele sempre foi bom em brincar com as pessoas. Fazer todo mundo de peão no seu jogo de xadrez. Apenas o ignore – disse o Argent mais velho vendo o parceiro recuperar a postura, ajustando a gravata.

Alice apenas sorriu sem mostrar os dentes, ainda de costas para todo mundo.

- já estão avisados – falou Chris antes de dar as costas e começar a se afastar do grupo, rumando para a saída da cena de crime em que aquela construção havia sido transformada.

Todos os policiais que encaravam o grupo de agentes ficaram chocados e boquiabertos quando, do nada, o agente moreno de queixo torto correu na direção do castanho de brincos e desferiu um soco na face do criminoso de brincos, vendo o mesmo girar o corpo ao receber o golpe.

Nem mesmo Derek estava preparado para a reação do parceiro. O moreno de queixo torto e olhos castanhos avançou contra Stiles novamente, mas o seu soco passou longe do rosto do castanho, quando o mesmo jogou o torso para trás. Scott tentou uma rasteira, aproveitando o afastamento desalinhado do Stilinski, mas o seu pé passou direto quando Stiles jogou mais ainda o torso para trás, apoiando as mãos no chão e erguendo os pés, se afastando mais rápido do agente furioso.

- vai ameaçar o meu pai de novo, vai? – questionou o McCall assim que Derek e Vernon lhe seguraram pelos braços.

- talvez eu vá, sim. E não aja como se isso não fosse natural. Isso se chama instinto, agente McCall. Rafael me ameaçou e eu apenas o ameacei de volta – respondeu Stiles encarando o queixo torto tentar se soltar para lhe atacar novamente após a sua resposta.

- você não vai precisar voltar para a cadeia. Porque eu vou acabar com a sua raça! – rosnou o moreno de olhos castanhos tentando, inutilmente se soltar.

- Scott! Pare já com isso! Precisamos focar em encontrar Lincon – disse Allison vendo como o homem se contorcia para se livrar dos braços de Vernon e Derek.

- eu estou pouco me fodendo para esse caso, Allison. Eu só quero matar esse desgraçado – rosnou o moreno de olhos castanhos vendo o castanho sorrir divertido em sua direção.

- você não vai durar muito como agente, sabia? Vai morrer fácil, ou então vai afundar nas drogas – o castanho anunciou vendo o moreno de queixo torto se enfurecer mais ainda.

- cala a boca! – rosnou o agente McCall vendo o castanho se curvar para a frente como se falasse como uma criança.

- preste atenção e vê se usa esse cérebro que você alega ter, mas usou somente para passar na prova de admissão do FBI: se você for casado e um dos seus alvos matar a sua mulher para lhe atingir, você, obviamente, vai dar tudo o que ele quer. Vai enlouquecer, vai se mostrar furioso e violento. A primeira coisa que vão fazer é lhe tirar do caso, mas você não vai aceitar e vai atrás dele você mesmo. Será expulso do FBI, e vai ficar cego para todo e qualquer passo lógico do seu adversário, enquanto corre furiosamente atrás dele – disse o castanho, finalizando imitando o gesto de passos com os dedos do meio e indicador.

- e é aí que ele vai lhe pegar e matar você. Se ele for como eu, ele ainda vai se divertir com você antes de acabar com a sua vida patética de homem da lei. Você vai ser a bonequinha com quem eu brincaria de casinha. Mas se ele for como um coelho branco apressado, ele vai cuidar de você rapidamente e se esquecer completamente de sua existência logo após. Você vai ser apagado, como a chama de uma vela de aniversário, que chama a atenção apenas enquanto brilha, mas quando é apagada, perde toda a atenção para o bolo – disse o castanho erguendo o indicador e assoprando o mesmo, como se este fosse uma vela.

- eu realmente vou matar você – falou Scott rangendo os dentes enquanto via o castanho se erguer com um sorriso vitorioso nos lábios.

- como se você tivesse habilidade para realizar tal feito – debochou o castanho sorrindo ladino na direção do McCall, antes de dar as costas ao mesmo, enquanto chamava por Peter.

- onde você arranjou esse cara, hein? Não tinha alguém melhor não?– questionou Stiles encarando Peter. O loiro lhe fitou repreendedor, mas no fundo ele sabia que o prisioneiro falava a verdade.

- Scott, estão todos olhando – rosnou Allison entredentes, vendo o moreno se acalmar aos poucos.

- hunf, o cachorro louco de sempre - ditou Isaac, de braços cruzados, encarando o moreno de olhos castanhos lhe fitar furioso.

- cala a boca – ralhou o McCall irritado.

- típico – falou o loiro dando as costas para o moreno de olhos castanhos.

- apenas cale a boca e trabalhe, Isaac – ralhou Scott vendo o loiro lhe lançar um sorriso ladino.

- eu já fiz isso, enquanto você bancava o cachorro louco para o forenses. Eu já sei para onde Lincon está indo. E isso não é mistério nenhum! – ditou o loiro de cabelos cacheados vendo o moreno lhe fitar um tanto surpreso.

- para onde ele está indo, então? – perguntou Vernon vendo o loiro lhe fitar com seriedade.

- ele está indo ver a mãe – ditou o loiro vendo o negro lhe fitar confuso.

- ele quer aliviar a dor dela devolvendo o anel roubado e dizendo que os homens que a maltrataram não podem mais fazer mal à ninguém – explicou Erica encarando o negro lhe fitar compreensivo, meneando positivamente.

- nós temos que ir para o hospital em que a mãe dele está internada. Ele já deve estar chegando lá, se ele roubou algum veículo – ditou Peter e logo todos trataram de se encaminhar para o hospital, enquanto ainda eram encarados pelos cientistas forenses que ali trabalhavam.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eles chegaram ao hospital em alguns bons minutos. O local era um tanto longe e, para completar, o trânsito estava horrível. Parecia até que os semáforos não se abriam. Derek pedia aos céus, o caminho inteiro, para chegar logo naquele maldito hospital. Scott não parava de bufar irritado, no veículo e o Hale já estava para jogar o melhor amigo e parceiro para fora do carro e mandar o mesmo ir a pé.

Eles desceram do carro às pressas, enquanto Peter instruía Isaac para o mesmo não ser pego desprevenido pelo criminoso ou até mesmo pelo tiroteio que ele tinha certeza de que iria ocorrer. Os oito adentraram o local com certa pressa, tentando, ao máximo, disfarçar o desespero para não acabar assustando as pessoas ao redor.

No entanto, toda a sua estratégia fora por água abaixo quando um tiro fora ouvido, sendo seguido por gritos de desespero e pessoas correndo desesperadas. Os agentes e prisioneiros apertaram o passo, tentando saber a direção do tiro, mas ficava difícil quando todas as pessoas se focavam em sair correndo para toda e qualquer direção.

- se separem em duplas. Eu e Isaac vamos pelo corredor da direita – disse Peter já virando a direita e sendo seguido pelo loiro de cabelos cacheados.

- Erica, comigo – ditou Allison apontando para a esquerda e a loira de cachos meneou positivamente, antes de a seguir.

- eu fico com o Boyd – disse Scott, mal-humorado, antes de seguir pela frente, ao lado de Derek e Stiles e logo virar a direita.

- e olha a gente de novo – ditou Stiles, normalmente, como se nada estivesse acontecendo. 

O castanho caminhava calmamente, atrás do moreno de olhos verdes, que andava encolhido e armado, com a arma apontada para o chão. Era até engraçado de se ver o contraste em seu modo de agir. Derek estava preparado para qualquer coisa, andando levemente abaixado e com a sua arma destravada e preparada para uso. Já Stiles caminhava despojadamente, como se desfilasse pelos corredores do hospital em um dia comum, onde nada demais ocorria, enquanto jugava, silenciosamente, o preparo do agente a sua frente.

“Ano s de treinamento apenas para isso”

Pensava enquanto seguia o moreno pelo corredor.

“Enfim! Não é como se eu esperasse evolução alguma no modo de operação deles”

- isso só pode ser Karma – murmurou Derek seguindo o caminho, atento enquanto instruía as pessoas a se esconderem nos quartos dos pacientes e a fechar a porta.

- concordo plenamente – Stiles comentou dando de ombros.

Os dois caminharam por um tempo, sempre instruindo as pessoas a entrarem nos quartos e se esconderem embaixo das camas, enquanto eles averiguavam alguns quartos, procurando por Lincon. Não demorou muito para eles encontrarem o seu alvo, mas, assim como o esperado, também não demorou para o mesmo disparar contra eles. Derek se escondeu atrás da parede do corredor, enquanto Stiles usou o banheiro do hospital. Derek viu o castanho sumir no banheiro, antes de surgir na porta do mesmo com pedaços de espelho. O moreno de olhos verdes estreitou o olhar para o castanho, o qual lhe ignorou prontamente.

Stiles se sentou ao lado da porta, colocando o pedaço de espelho suavemente no chão, no corredor, ao lado da porta, em tempo de ver Lincon dar mais dois tiros na direção de Derek e correr pelo corredor. Stiles sinalizou para Derek atirar e o mesmo saiu do esconderijo e disparou contra o Stuart, mas errou os disparos.

Lincon se encontrou com Erica e Allison em um corredor, ao virar à esquerda, mas antes que Erica abrisse a porta que separava as duas alas, o Stuart sorriu, apontando a arma para a testa da loira. A Reyes, sem opção, apenas ergueu as mãos e se afastou da porta, a mando do Stuart, que a trancou, antes de erguer a chaves que ele pegara ao disparar contra um funcionário do hospital.

Lincon se virou para se afastar da porta e foi quando ele viu o moreno de olhos verdes e o castanho de brincos surgirem do corredor. No mesmo instante ele ergueu a arma para os dois novamente. Derek disparou no mesmo instante em que Lincon, não dando para ouvir um terceiro disparo. Stiles girou para o lado, envolvendo o torso do agente Hale com os braços, antes de o puxar para de trás da parede do corredor. Erica e Allison se abaixaram, antes de a agente Argent ver o corpo do Lincon se abaixar.

Derek encarou surpreso o castanho lhe soltar para voltar a usar o pedaço de espelho em sua mão para ver a situação em que se encontravam. Ele pôde ver Peter e Scott surgirem do corredor pelo qual o homem, provavelmente, iria seguir e renderem o mesmo ainda no chão.

- acabou – comemorou o castanho caminhando até o prisioneiro vendo o mesmo ser algemado e erguido a contragosto, enquanto gritava por sua mãe.

Eles levaram o homem para um carro mandado pelo FBI. Por ironia, quem dirigia o mesmo era Chris, acompanhado por Rafael. Os dois agentes encararam o homem algemado com desdém, enquanto viam Derek e Boyd levarem o mesmo para a traseira do veículo. Isaac encarava o semblante irritado do homem, vendo um brilho tristonho em seus olhos.

Silenciosamente, ele se aproximou.

- eu entrego para ela – disse estendendo a mão para o homem, que lhe fitou questionador.

- como se eu fosse confiar em você. Ela foi estuprada e a polícia não fez nada – ditou o homem virando o rosto para não encarar o loiro em sua frente.

- eu não sou policial. E sua mãe disse que você e eu somos iguais. E eu vejo isso, agora. Fizemos coisas por nossas mães. Coisas ruins. Coisas das quais elas não se orgulham. Por isso eu sei como se sente. Se você me entregar, eu entrego a ela, e digo que foi você quem mandou – disse o loiro conseguindo a atenção do prisioneiro novamente, ainda que o mesmo estivesse um pouco desconfiado.

- e por que você faria isso? – questionou Chris vendo o loiro lhe ignorar com os olhos.

- os meus motivos não lhe interessam, agente Argent. Nada do que eu faço lhe diz respeito. – disse o loiro, seco, surpreendendo até Derek pelo seu tom de voz.

- por favor, não diga que fui preso de novo – murmurou o homem estendendo as costas, revelando o anel entre os seus dedos e ainda um colar de pérolas em sua mão.

- não se preocupe com isso – disse o loiro pegando as joias e sua mão fora agarrada pelas duas do homem, que a apertou.

- se eu souber que não entregou para ela, eu acabo com você, exatamente como fiz com eles – disse o homem furioso.

- não se preocupe com isso. Não sou nenhum ladrão – disse o loiro vendo o homem parecer relaxar um pouco.

- não pense que vai entrar lá sozinho com isso aí – ditou Scott, desconfiado.

O moreno de queixo torto ainda estava mal-humorado, mas esqueceu completamente o seu mal humor quando os olhos frios de Isaac, que não apresentavam mais a mesma inocência que carregavam nos outros dias, caíram sobre si. Scott congelou. Todo o seu corpo gelou com o olhar de Isaac. Aquele olhar que beirava um olhar assassino. 

- faça o que quiser. Não estou nem aí para você – ditou o loiro dando as costas ao moreno de queixo torto e seguindo sério para o hospital, sendo encarado por Lincon, através do vidro do carro.

Scott não conseguiu se mexer. Ainda estava em choque por ver como o olhar doce e inocente que Isaac sempre sustentou, se transformara em algo tão agressivo e ameaçador. O Lahey nunca usara aquele olhar contra si. Contra ninguém além do próprio pai, na verdade.

- deixa que eu vou – disse Allison se apressando a seguir o loiro.

Isaac encarou a porta do quarto da senhora Stuart com seriedade, antes de desviar o olhar para as joias da mulher em suas mãos. Ele sentia um certo aperto no peito, mas sabia que perderia esse aperto quando encontrasse os olhos da mulher sendo direcionados para si. Em tão pouco tempo ele havia adquirido um apreço enorme por aquela senhorinha. Ele via, na senhora Stuart, a sua mãe, que falecera um tempo depois que fora preso. O homem apertou as joias em suas mãos, sendo encarado por Allison, que estava ao seu lado. 

A agente Argent não sabia mais o que pensar daquele homem. Ele era tão... confuso para si. O Lahey apresentava uma inocência incrível para um prisioneiro da maior prisão do . Isaac era piedoso e infantil, mas agora, ali, na sua frente, ele era um outro homem. Havia sido agressivo com agentes e se mostrado maduro demais para a inocência que carregou por dias em sua presença.

Era um outro Isaac.

- eu vou entrar sozinho – disse o loiro, com seriedade. Allison pensou em negar, mas parou ao ver os olhos úmidos e brilhantes do loiro para as próprias mãos.

- tudo bem – murmurou a morena vendo o loiro adentrar o quarto do hospital.

- Senhora Stuart? – o loiro chamou vendo a mulher olhar para si um tanto receosa.

- o que houve? Eu ouvi uma gritaria do lado de fora – questionou a mulher vendo o homem de cabelos cacheados fechar a porta e se aproximar de si.

- houve um acidente do outro lado do hospital. Um homem surtou e começou a ameaçar as pessoas, mas já foi tudo resolvido – respondeu o loiro vendo a mulher relaxar e aliviar a expressão preocupada.

- tudo bem com você, querido? – questionou a mulher ao analisar o homem a sua frente – me parece um pouco triste – finalizou acariciando o rosto do loiro.

- não é nada. Eu apenas me lembrei da minha mãe. Mas eu vim aqui por outro propósito e não para falar de mim – disse o loiro se sentando na cama da senhora Stuart, vendo a mesma sorrir ao ver um sorriso mínimo surgir nos lábios do loiro.

Um sorriso um tanto maroto.

- e o que você está aprontando? Seu sorriso está me entregando tudo – brincou a mulher apertando uma das mãos fechadas do loiro.

- o seu filho me pediu para te entregar isso – disse o loiro abrindo as mãos e os olhos da mulher brilharam quando descobriu do que se tratava.

- são as minhas joias! – exclamou a mulher animada.

- ele disse que não pôde lhe visitar esse tempo todo porque estava atrás disso. E também venho lhe dizer que os homens que lhe fizeram mal não podem mais fazer mal a ninguém – disse o loiro vendo a mulher sorrir feliz, enquanto colocava as joias nela mesma.

- vê como é lindo? – perguntou exibindo o anel para o Lahey.

- ele é lindo, mas fica perfeito na senhora. Uma joia linda para alguém mais linda ainda – disse o loiro vendo a mulher sorrir divertida.

- oh, mas olha só se não temos um galanteador, aqui – ditou a mulher de idade dando um tapinha leve no ombro do loiro. Isaac gargalhou tímido e eles ficaram em silêncio. O loiro viu a alegria da mulher se esvair aos poucos, sobrando apenas um sorriso mínimo em seus lábios ressecados e enrugados pela idade.

- ele os matou e foi preso de novo, não foi? O meu Lincon? – perguntou a mulher vendo, pelo canto dos olhos, o loiro engolir em seco. Isaac ficou mudo por um tempo, chocado pela habilidade de ligar os pontos, da mulher.

- não. Ele... só recuperou as joias. Eu e os agentes que estavam comigo hoje mais cedo é que prendemos uma mulher, que também foi abusada por aqueles dois. Ela acabou os matando. O ódio reprimido que ela sentia a forçou a isso – explicou o loiro vendo a mulher sorrir um pouco mais, enquanto negava com a cabeça.

- então ele vai vir me visitar, a partir de agora? – questionou a mulher vendo o loiro dar de ombros.

- eu não sei. Ele apenas me pediu para lhe entregar isso, antes de me dizer que iria resolver um outro problema fora da cidade – disse o loiro vendo a mulher menear positivamente, ainda encarando, tristonha, as joias em seu corpo.

- obrigado, meu rapaz. Sabe? A sua mãe deve ter muito orgulho de você. Você realmente se tornou um bom menino – disse a mulher, antes de acariciar a face do loiro novamente, como se ele fosse o seu próprio filho, que há muito tempo não via.

Do lado de fora, Allison ouvia tudo um tanto emocionada pelo que ouvia.

- eu... Tenho que ir, agora. Foi muito bom lhe conhecer Senhora Stuart. – falou Isaac, com um certo pesar na voz.

O desejo do louro de cabelos cacheados era de ficar ali, para sempre com aquela mulher. Isaac queria que aquele pequeno quarto de hospital se transformasse em algum tipo de limbo, onde ele pudesse ficar com a senhora Stuart pelo resto de sua vida. Mas ele sabia que não tinha como isso acontecer. Principalmente por ele ser um prisioneiro da segurança máxima.

- oh! Eu entendo. Não se preocupe. Espero que algum dia eu posso lhe ver mais uma vez – a voz da senhora Stuart carregava um carinho pelo qual ela só tinha com o filho. Aquele mesmo tom de voz que a mãe de Isaac usava quando ainda estavam juntos.

Aquele tom de voz fora tudo o que Isaac precisava para que seus olhos já não aguentassem mais segurar as lágrimas, permitindo que elas rolassem por seu rosto sem controle algum. O homem deu as costas para a senhora deitada na cama, não a vendo lhe fitar com confusão no olhar. O louro tentava parar o choro, mas não conseguia de jeito algum. Mesmo que enxugasse as lágrimas em seu rosto, mais delas minavam de seus olhos.

- eu vou tentar lhe visitar algumas vezes – foi tudo o que o Lahey disse, permanecendo de costas para a senhora Stuart, enquanto tentava parar de chorar.

- você sabe que não precisa fingir que é inabalável, certo? Digo, mesmo sendo um agente. Homens também choram. Homens também são humanos. Não precisa seguir essa ideia machista absurda e idiota que muitos homens seguem. Você também pode mostrar fragilidade, querido – a mulher tentou ajudar o homem a sua frente a superar a onda de emoções que sentia. 

Para a completa surpresa da velhinha, o louro lhe lançou um sorriso doce e gentil, mesmo com as lágrimas ainda brotando de seus olhos sem controle algum.

- eu não finjo ser forte. Eu apenas prefiro mostrar o que ainda restou de bom em mim – as palavras do louro surpreenderam não apenas a senhora Stuart, como também a agente Argent, que se encontrava ao lado da porta, atenta a conversa do Lahey com a civil.

Após ouvir um adeus ser proferido com a voz de Isaac, a agente se afastou da porta. Bem a tempo de o louro abrir a mesma e sair do quarto, cabisbaixo. Allison tentou falar com o louro, mas desistiu assim que o mesmo apertou o passo na direção do banheiro do hospital. Ela sabia que Isaac precisava de um tempo para ele. O homem levantaria muitas questões que com certeza não iria querer responder, caso aparecesse naquele estado na frente dos outros membros da divisão.
 

 

 

 

 

 

 

Stiles fora empurrado pelo guarda para o interior daquela sala quase vazia. O castanho estranhou que o homem, se quer, adentrou a sala para lhe prender a mesa, mas logo o seu cérebro trabalhou para lhe fazer pensar no motivo e não fora muito difícil para si descobrir qual era.

O homem de brincos olhou para a frente, vendo, do outro lado da mesa, o agente Hale sentado na outra cadeira, enquanto batucava com uma mão na mesa, impaciente e nervoso. O castanho de pele clara com algumas poucas pintinhas espalhadas, ainda com a sua típica expressão de tédio, caminhou para a cadeira vazia, do seu lado da mesa, e se sentou a mesma, ainda algemado.

- demorou para você vir. Tentou resistir à saudade, mas não conseguiu? – questionou o Stilinski vendo o homem de olhos verdes suspirar, irritado, olhando para qualquer canto da sala, antes de direcionar o olhar para si.

- eu vou ser direto

- isso é bom. Muito bom.

- por que me protege, Alice? – questionou o Hale, voltando o olhar para o castanho de olhos claros, vendo o mesmo menear levemente a cabeça, antes de erguer as mãos algemadas e as colocar sobre a mesa, se debruçando sobre a mesma.

- também serei direto em minhas resposta, lobinho – ditou o castanho vendo o moreno tomar uma expressão furiosa ao ouvir o apelido carinhoso que, com toda a certeza, não deveria ser pronunciado pelos lábios de Stiles.

- não me chame assim - repreendeu Derek, vendo o assassino dar de ombros, claramente indicando que não se importava com a repreensão.

- ele é o único homem que pode me chamar assim, e vai continuar sendo – ralhou vendo o castanho menear positivamente com um sorriso largo. Um sorriso quase psicótico. Stiles estava gostando de lhe ver com raiva.

- tudo bem, mas ele não se incomodava quando eu te chamava assim – argumentou Stiles, sorrindo maroto, vendo o moreno socar a mesa furioso.

- não ouse falar dele – ralhou em um tom de voz mais alto.

- tudo bem, Derek. A resposta para a sua pergunta é: você é importante para mim. Por isso me sinto responsável por você – disse o castanho vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar surpreso.

 

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- por que me protege, Alice? – questionou o Hale, voltando o olhar para o castanho de olhos claros, vendo o mesmo menear levemente a cabeça, antes de erguer as mãos algemadas e as colocar sobre a mesa, se debruçando sobre a mesma.

- também serei direto em minhas resposta, lobinho – ditou o castanho vendo o moreno tomar uma expressão furiosa.

- não me chame assim - repreendeu Derek, vendo o castanho dar de ombros.

- ele é o único homem que pode me chamar assim, e vai continuar sendo – ralhou vendo o castanho menear positivamente.

- tudo bem, tudo bem. Mas... ele não se incomodava quando eu te chamava assim – argumentou Stiles vendo o moreno socar a mesa furioso.

- NÃO... OUSE... falar dele – ralhou em um tom de voz mais alto.

- tudo bem, Derek. A resposta para a sua pergunta é: você é importante para mim. Por isso me sinto meio responsável por você – disse o castanho vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar surpreso.

- pode não parecer, mas eu gosto de você – finalizou o castanho, aproveitando o silêncio em que o mais alto se encontrava.

Stiles encarou, atentamente, o moreno de olhos verdes lamber os lábios, meneando, antes de suspirar e balançar a cabeça de um lado para o outro, enquanto um sorriso divertido surgia nos lábios do homem de cabelos negros. O Hale ergueu o olhar para o castanho, lançando um sorriso para o mesmo, enquanto gargalhava baixinho.

- você gosta de mim? – perguntou Derek, descrente, enquanto via o outro suspirar.

- sim – respondeu Stiles encarando o moreno gargalhar alto.

O Stilinski não se arrependia em nenhum momento de ter dito a verdade para o outro. Ele também não se importava em ver o homem pisar na única coisa pura que restava em si, que eram os seus sentimentos. Ele viu o agente Hale gargalhar forçadamente, batendo na mesa, fingindo achar aquilo a coisa mais engraçada do mundo.

- você está ridículo – pontuou o castanho de olhos claros vendo o Hale parar aos poucos, ainda mantendo um sorriso no rosto.

Um sorriso indignado.

- ridículo é você dizendo que é capaz de sentir algo por alguém – ditou o agente dos olhos verdes, cruzando os braços e voltando a encarar o detento com seriedade.

- todo mundo está preso aqui por alguém, Derek – argumentou o castanho repetindo o ato do moreno a sua frente, enquanto ambos se estiravam nas cadeiras, quase se deitando na mesma.

Pareciam adolescentes entediados em uma detenção, enquanto esperavam a liberação para saírem daquele inferno. O castanho levou uma de suas mãos para o interior de seu macacão de presidiário, retirando de lá um baralho negro, passando a jogar o mesmo de uma mão para a outra, como um croupier profissional.

- eu não aceito que você fique preso a mim – disse o moreno de olhos verdes vendo o castanho colocar o baralho na mesa, antes de, elegantemente, começar a espalhar as cartas suavemente com a mão, formando um grande arco negro naquela velha mesa prateada repleta de ferrugem.

- e quem lhe iludiu dizendo que você tem voz para decidir isso? – questionou o castanho puxando uma carta, aleatoriamente e a virando para cima revelando o desenho de um homem de cabeça baixa, com um nome esquisito abaixo dele.

- eu digo que eu tenho voz para isso – o Hale soou irritado.

O castanho riu baixinho.

- esse é o problema de vocês policiais. Como a maioria é regida por leis idiotas e os policiais são as mãos que punem aqueles que erguem as cabeças para esse sistema falho e sem sentido, vocês acham que podem domar todo mundo com palavras patéticas escritas em um papel velho e uma arma na cintura. A arma pode até surtir algum efeito com os outros, mas não comigo – disse o castanho deslizando os dedos pelas outras cartas, antes de puxar mais uma e a virar para cima, mostrando a imagem de uma foice estranha.

- o que é isso, agora? Estou em alguma consulta com um cartomante? – questionou Derek, irônico, vendo o castanho puxar uma carta da ponta e a virar para cima, revelando uma pessoa brincar com uma marionete e um nome estranho abaixo e acima da imagem.

- eu não acredito em tarô e você deveria saber disso – respondeu o castanho vendo o moreno erguer uma sobrancelha para si.

- eu deveria? – indagou o agente, indignado.

- bom, você entrou para o FBI por minha causa, não? Você deveria saber me ler como eu sei ler cartas – o prisioneiro respondeu antes de, violentamente passar a mão pela mesa. Derek olhou para o lado, esperando que as cartas negras voassem da mesa, mas nada ocorreu.

Literalmente nada. Nenhuma carta voando, nenhuma carta sobre a mesa. Elas simplesmente sumiram nas mãos do detento de cabelos castanhos. O moreno de olhos verdes notou que nem todas as sumiram. Ainda haviam cartas ali.
 
- e o que seriam essas aí? – questionou o Hale vendo que apenas as cartas viradas estavam sobre a mesa.

- é como eu vejo você – respondeu o castanho antes de revelar uma carta presa entre os seus dedos e a jogar para cima.

Derek encarou o castanho seriamente, enquanto a carta caía na mesa, entre os dois. Ele não estava nem um pouco gostando daquela baboseira toda. Quando a carta caiu sobre as outras três, as ligando, Derek engoliu em seco ao ver um esqueleto segurar uma foice, enquanto apontava para a frente. Ele não precisava saber ler os nomes esquisitos na carta para saber o que aquela significava.

A Morte.

- por que me vê com a carta da morte? – perguntou vendo o outro dar de ombros e se aproximar da mesa, apontando para a primeira carta que ele virou.

- você é fraco e não sabe disso. Você é afiado e perigoso como uma foice. É fácil de ser manipulado por quem sabe jogar – respondeu o castanho, apontando para as três cartas que eram ligadas pela carta da morte.

- e a outra? – perguntou Derek, achando tudo aquilo ridículo.

- toda a sua vida gira em torno da morte – disse o castanho antes de começar a recolher as cartas e as guardar onde antes estavam. Derek engoliu em seco mais uma vez, enquanto o seu coração acelerava.

- você é patético – ralhou o Hale vendo o castanho dar de ombros.

- pense o que quiser de mim. Você tem poder para isso. Foi bom ver você, Derek. Mas está na hora de voltar para casa. Não deixe a sua mulher esperando, preocupada – disse o castanho se erguendo e dando as costas para o moreno de olhos verdes.

Derek sentiu o sangue gelar ao encarar o castanho bater na porta e a mesma se abrir revelando os guardas, que logo passaram a levar o castanho de volta para a sua cela. Stiles olhou por sobre os ombros, apenas para ver o moreno de olhos verdes, pálido, lhe encarando. O Stilinski sorriu vitorioso, antes de a porta se fechar. O gargalhar baixo de Alice fora a última coisa que Derek ouviu antes de o som do trinco da porta ecoar pela sala.

O Hale encarava o nada, chocado. Como Stiles sabia sobre a sua mulher? Ninguém sabia que ele era casado. Quer dizer, tinha Scott e Chris. Também havia Peter... Peter! Mas é claro! Derek iria matar o loiro por ter contado para o castanho de olhos claros que ele era casado. Ele queria sua mulher longe de todo e qualquer caso do FBI. Ele queria a sua família fora do alcance de Alice.

 

 

 

Isaac encarou, confuso, o castanho de brincos. Stiles estava sentado no alto da arquibancada de madeira, encarando o lado de fora daquele cercado. Ele via o castanho rabiscar algo em um caderno com um lápis. Recebeu leves tapinhas nos braços e olhou para o lado, vendo um moreno apontar com o queixo para o rapaz de brincos de naipes de cartas.

- o que ele está fazendo? – perguntou o moreno, antes de levar um cigarro a boca.

- eu não faço ideia – respondeu o loiro de cachos, vendo o rapaz rabiscar no caderno com velocidade.

- ei, você já viu o Stiles com aquele caderno, antes? – perguntou Vernon, se aproximando do loiro e do moreno, que estavam sentados em uma das mesas de xadrez pouco usadas para o propósito original.

- nunca – respondeu o Lahey vendo o castanho passar a folha.

- eu fiquei sabendo que ele recebeu duas visitas, hoje. Na segunda, ele saiu com esse caderno – um homem de cabelos raspados e mangas do macacão arrancadas, sentado ao lado de Isaac, pontuou seguindo o olhar dos três para o castanho.

- eu vou lá, falar com ele – disse o loiro se levantando em um salto e seguindo para o castanho.

- você tem coragem de ir falar com esse cara. Ele é esquisito demais para o meu gosto. Da última vez que um esquisito entrou nesse presídio, ele foi matou três pessoas antes de ir para a cadeira elétrica – comentou o moreno vendo o louro de cachos lhe fitar por sobre os ombros. 

O loiro parou assim que viu quem passou a caminhar na direção do castanho. Isaac deu meia volta e retornou para o grupo, fazendo uma careta de “agora fodeu”, a qual era correspondida por uma expressão de animação e expectativa do careca e do moreno, respectivamente. Os dois sorriram para a cena do trio se aproximando do prisioneiro isolado. Stiles parecia não perceber a movimentação em sua direção.

- o pátio, hoje, vai ser divertido – soltou o moreno apoiando o braço na mesa, apoiando o queixo no punho, sorrindo ladino.

- eu aposto cinquenta que o carinha vai levar uma surra do Rei – disse o careca vendo o moreno sorrir.

- olha o cara, mano! Só o Jimmy dá conta do recado – pontuou o moreno e o creca riu.

- o valete? – questionou risonho vendo o moreno gargalhar.

- olha lá, vão alcançar ele – ditou o moreno, animado.

Stiles fechou o caderno ao notar a aproximação dos três idiotas que vinham lhe enchendo o saco. Para a completa surpresa de todos, até mesmo do trio de manda chuvas, o castanho se jogou para trás, após guardar o caderno dentro de seu macacão, sumindo da vista de todos assim que caiu atrás da arquibancada. O Rei e um dos seus capangas correram até o topo da arquibancada, onde o castanho se encontrava, para olhar para baixo. O homem que Stiles chamara de Rainha deu a volta na arquibancada. Eles já sorriam imaginando o idiota todo machucado e mancando após a queda, mas assim que chegaram ao limite da arquibancada, eles não viram nada além do gramado um tanto seco da prisão. Isaac e Boyd sorriram divertidos quando Stiles saiu de debaixo da arquibancada, normalmente, como se nada tivesse acontecido, assim que o Rei e o Valete chegaram ao topo, e o Rainha alcançou os fundos da arquibancada. Os três não puderam ver o castanho caminhar normalmente para o interior da prisão, como se não tivesse se esquivando de três estorvos, e apenas estivesse caminhando para o interior por vontade própria.

Não era como se ele estivesse fugindo dos homens com medo deles ou coisa do tipo. Alice sabia bem do que era capaz e até onde poderia ir. No entanto, ele também era inteligente e sabia quando e onde deveria agir. E não estava em seus planos espancar três homens até a morte no meio do pátio, o que ocasionaria em ele matando guardas da prisão e, consequentemente, retornando para Alcatraz. Ele não queria voltar.

Ele não deveria voltar.

No instante seguinte, o sinal para todos entrarem tocou, indicando que era a hora do almoço. Todos os prisioneiros se dirigiram, calmamente para o refeitório. Estranhamente, Isaac não encontrou Stiles lá. O castanho fora um dos últimos a adentrar o refeitório, apesar de ter sido um dos primeiros a adentrar o presídio. Ele fora servido pelos funcionários do local, como sempre, antes de se dirigir para a mesa de Isaac.

Enquanto caminhava na direção da mesa onde o loiro de cabelos cacheados, que acenava para si, estava sentado, Stiles passou por uma mesa onde se encontrava um homem gordo e enorme em altura, com alguns piercings na orelha. O homem notou a aproximação do castanho e ergueu a mão, batendo na bandeja do rapaz de brincos, vendo toda a comida do mesmo se esparramar no chão e a bandeja fazer barulho ao cair no chão.

O silencio tomou conta do local. Todos queriam ouvir e ver o estranho que se isolava de todo mundo ser rebaixado por um dos veteranos. O Rei sorriu na direção da cena, enquanto Boyd negava com a cabeça. Isaac olhou rapidamente para o negro, a tempo de ver o mesmo soltar uma lufada de ar pelas narinas, sorrindo ladino. Isaac sorriu cumplice, desviando o olhar para Stiles mais uma vez. 

Era tudo o que eles queriam. Saber como Stiles agia, como ele reagiria àquilo. Saber do que Alice era capaz. O castanho piscou algumas vezes, descrente do que via. Olhou para as suas mãos, apenas para ter certeza de que a sua bandeja não estava mais em suas mãos e sim no chão. O homem de brincos deixou as mãos caírem ao lado do corpo, antes de coçar a garganta e cutucar o homem que lhe fizera perder o almoço. O homem de piercings olhou por sobre o ombro que fora cutucado pelo castanho, vendo o mais baixo lhe fitar com um olhar comum, quase pedinte.

- o que você quer, carne nova? – indagou o homem vendo o castanho magricela cujo macacão ficava enorme em si.

- acho que você derrubou a minha comida – disse o castanho de brincos vendo o homem com argola no septo lhe encarar com um sorriso vitorioso.

- e daí? – questionou o gordo se erguendo para encara o castanho de frente. O mais baixo apenas ergueu a mão na direção da bandeja do homem, que ainda estava cheia, mas o mesmo agarrou o seu braço.

- o que pensa que está fazendo? – questionou o prisioneiro vendo o castanho lhe fitar entediado.

- você derrubou a minha comida, agora eu vou comer a sua – o menor falou calmamente, com naturalidade, como se aquilo fosse tão obvio como a água cair durante a chuva. O maior sorriu divertido antes de gargalhar.

- até parece, babaca. Se quiser comer, vai ter que ser do chão, como o ratinho que você é – ditou o homem com autoridade, sorrindo largo ao ver o castanho encarar a comida aos seus pés.

- agora ela é comida para porcos – argumentou o rapaz

- e daí? – indagou o gordo.

- você é o único que parece um porco, por aqui – respondeu o castanho vendo o homem se enfurecer com as risadas que a sua resposta gerou.

- eu vou lhe ensinar a respeitar os mais fortes, baixinho – o gordo ameaçou, estalando os dedos.

- Você é fraco. Eu estou mais preocupado com o que eu vou comer. Pois se minha comida está no chão e eu não posso comer a sua, só me resta uma coisa para comer que é – o castanho se calou para desviar do soco que lhe fora desferido.

Fora tudo muito rápido. 

Stiles se abaixou, permitindo que o punho grande e o braço grosso do homem gordo a sua frente passassem por cima de si, antes de avançar contra o gordo, que estava um pouco abaixado para lhe socar com força. O rapaz bloqueou o golpe do outro punho do homem, socando o pulso do mesmo e aproximou o seu rosto do rosto do seu adversário, vendo o mesmo lhe fitar surpreso. Stiles praticamente estava de lábios colados aos do outro quando ele passou a língua sensualmente pelos próprios lábios, vendo a surpresa tomar o olhar alheio 

- você – disse antes de agarrar a argola no septo do outro com os dentes e a puxar com violência para trás.

O sangue jorrou e o homem urrou, erguendo-se de prontidão, enquanto levava as mãos ao nariz para tentar conter a dor e o sangramento gerado pelo rasgo feito pelo ato do castanho. Os policiais olharam surpresos para o homem que urrava de dor e foram surpreendidos pela imagem do prisioneiro mais baixo se pendurar no maior, para colocar os pés no peito do mais alto e o empurrar para trás com os mesmos, enquanto ele mesmo era jogado para trás, no processo.

Stiles caiu em pé, enquanto o gordo acabou tropeçando na comida jogada no chão pelo mesmo e acabou escorregando e caindo. O homem ainda urrava de dor, enquanto Stiles se aproximava da bandeja do mesmo e a puxava para si, não sendo interrompido por nenhum dos amigos do mesmo.

- acho que agora você vai me deixar comer o seu almoço – ditou Stiles encarando o homem se espernear no chão. 

- o que foi? Está doendo? Me desculpe, mas não dá para te entender enquanto você fica aí roncando e grunhindo de dor feito o porco que é. – dizia o homem de cabelos castanhos enquanto pisava no rosto e na cabeça do homem várias vezes.

O castanho se virou para dar a volta na bagunça que havia feito e seguir caminho para a mesa de Isaac, ainda ignorando os respingos de sangue em seu rosto, quando fora surpreendido pela imagem de policiais armados lhe encarando e apontando as armas para si.

- você vem com a gente – disse um dos guardas encarando o castanho fixamente.

- para onde estão me levando, eu posso levar o meu almoço? – indagou vendo os dois homens menearem positivamente.

- você está indo passar a noite na solitária – ditou um dos guardas, esperando uma reação de arrependimento ou irritação por parte do castanho, mas se viu surpreso assim que um sorriso surgiu nos lábios alheios.

- uh! Ainda bem! Eu já estava cansado de ver gente – exclamou o castanho, seguindo os guardas com um sorriso nos lábios.

- sabia que esse cara não toma banho? É sério ele fede mais do que todo mundo aqui. Por isso chamei ele de porco. Aposto que vocês dois pensaram que era por causa do peso dele. Você é o guarda Winston, certo? E você o guarda Phillip. – o castanho desatava a falar enquanto seguia os dois guardas pelo caminho.
-  Sabia que as pessoas vivem criticando as outras por seu peso e tal? Acho isso uma completa ridiculisse. Quer dizer, o que porra tem de errado em comer? Elas vivem criticando as pessoas gordas, mas vivem entupindo os seus animais de estimação de comida até explodirem de tão gordos. Sério, um dia desses vi um cachorro que mal encostava os pés no chão. Uma hipocrisia só! Vocês tem que admitir. – o castanho continuava a falar enquanto era levado para a solitária.

- caramba! Os fios brancos caem bem em você, cara. Você é jovem mas já têm cabelos brancos. Mas fica bonito. Se a sua barba também tiver uma fios brancos você deve ficar um bonitão em tanto. Vocês gostam de ler? Eu gosto. Existe algum exemplar da Agatha Christie na biblioteca daqui? Eu não pude começar a ler Morte no Nilo, porque algum imbecil queimou o livro para fumar as folhas, na última... –

- cala a boca, imbecil! – ralhou Phillip vendo o castanho sorrir em sua direção.

- ah, você é um amor! – exclamou o castanho antes de receber um golpe do cassetete na cabeça.

- já disse para calar a boca – ralhou o guarda.

- já calei – ditou o castanho, ainda sorrindo largo 

 

 

 

Derek adentrou o bar normalmente, enquanto procurava pelo seu amigo de queixo torto. Os dois haviam marcado de sair para tomar uma cerveja naquela noite. O moreno de olhos verdes não demorou para encontrar o moreno de olhos castanhos sentado em uma mesa no canto, com uma cerveja na mão e um olhar sério para a mesma.

O Hale caminhou pelo bar, parando brevemente no balcão para pedir uma cerveja, a qual lhe fora prontamente entregue, antes de seguir até a mesa onde o seu parceiro se encontrava sentado. Scott só percebeu a presença do amigo e parceiro, quando o mesmo se sentou a sua frente. O moreno de queixo torto lambeu o lábio inferior, incomodado, antes de se remexer no banco, desconfortável.

- e aí? – Derek cumprimentou o moreno de olhos castanhos, vendo o mesmo menear positivamente.

- e aí? – Scott respondeu estendendo a mão para o parceiro, que a apertou prontamente.

- sobre o quer falar? Sempre que você me convoca assim é porque quer falar de alguma coisa – indagou o Hale vendo o McCall entortar os lábios rapidamente, em um sorriso envergonhado.

- você sabe mesmo me ler, não é, cara? – questionou Scott vendo a aliança dourada brilhando no dedo anelar da mão esquerda do Hale.

Derek tremeu ao processar as palavras de Scott.

“Você deveria saber me ler como eu sei ler cartas”

A voz de Alice ecoou em sua mente, lhe trazendo se volta toda a preocupação que sentira desde que sairá da prisão, após visitar o assassino da divisão.

- são cinco anos, Scott. Não é pouca coisa, não – respondeu Derek tomando um gole de sua bebida enquanto dava uma olhada no movimento do bar.

- enfim, o que eu quero falar com você é algo que é do meu interesse e do seu também – falou Scott tomando um grande gole de sua cerveja antes de encarar o parceiro.

- e o que seria? – questionou Derek vendo o amigo respirar fundo antes de procurar as palavras certas.

Tudo bem! Derek tinha de admitir que aquilo estava estranho demais. Scott era um agente treinado e mesmo assim estava se mostrando bastante nervoso para o assunto que queria tratar consigo. Ele estava começando a ficar receoso. Scott nunca teve muito filtro consigo. O McCall sempre fora espaçoso e agora estava ali, encolhido a sua frente, procurando palavras para se expressar. Aquilo estava suspeitosamente estranho.

- é sobre o Stiles – ditou o moreno de olhos castanhos vendo o moreno de olhos verdes estreitar o olhar em sua direção.

- o que tem o Stiles? – questionou Derek vendo o McCall engolir em seco.

- eu não estou gostando nada do jeito que ele tem se comportado, Derek  - falou o agente McCall encarando o amigo e parceiro lhe fitar questionador, antes de suspirar.

- confesso que também não gosto nada do jeito que ele age. Mas fazer o quê, não é mesmo? Devido ao meu histórico, todo mundo acha plausível – argumentou o Hale vendo o amigo negar com a cabeça.

- eu não acho, não. Aquele cara tem se mostrado bom demais, Derek. – argumentou o moreno de olhos castanhos vendo o Hale tomar mais um gole de sua bebida.

- isso é bom, não é? De certa forma, é isso um dos fatores que empurra a nossa divisão para a frente – falou o moreno de olhos verdes vendo o amigo negar com a cabeça.

- bom demais para estar solto, Derek. Ele sabe coisas sobre nós que eu não sei como que ele descobriu – pontuou Scott e Derek estreitou o olhar na direção do amigo.

- onde quer chegar com isso? – perguntou Derek vendo o moreno de queixo torto se aproximar de si, se acomodando melhor a mesa.

- Derek, o que você acha que impede o Stiles de matar algum de nós e fugir? – indagou o McCall vendo o Hale ficar pensativo por pouquíssimos segundos.

- nada – respondeu Derek vendo o parceiro apontar para si.

- exatamente. E o que acha que vai acontecer se Alice sair por aí novamente? – questionou o McCall vendo o Hale lhe fitar confuso.

- onde quer chegar com isso Scott? – perguntou Derek, desconfiado.

- Derek, eu vou ser bem direto. Você tem motivos para querer o Stiles atrás das grades, eu também tenho motivos – respondeu Scott dando um tempo para Derek assimilar as suas palavras.

- e daí? – indagou o Hale, curioso. Ele não sabia onde Scott pretendia chegar com aquilo.

- nós não podemos deixar o Stiles solto de maneira alguma, Derek – argumentou o McCall com convicção.

- você está sugerindo que...

- é, eu quero sabotar o Stiles – respondeu o McCall, com seriedade, encarando o parceiro e amigo.

 

 

 


Já era o segundo dia de Stiles naquela cela. A solitária não era nada incômoda para si. Ele até gostava de ficar só por todo aquele tempo. Lhe fazia pensar e refletir sobre tudo. O castanho, nesse momento, estava sentado, no escuro em que aquela cela apertada sempre se encontrava. O homem estava recostado a parede, com os olhos fechados quando ele trocou, do nada, a sua expressão séria por um sorriso largo.

O homem cantarolava, em seu canto, uma música que ele conhecia muito bem. Ele fora quem a criou. O castanho com brincos passou a brincar com os acessórios entre os dedos, enquanto cantarolava aquela música com uma certa nostalgia. Stiles sorriu largo quando a luz da sala se ascendeu. Ele abaixou a cabeça, ainda sorrindo largo e a porta rangeu, indicando que alguém a abria.

- Stilinski, seu castigo acabou – ditou o guarda, com um parceiro armado logo atrás de si.

- Do sono profundo não puderam acordar – o castanho cantou suavemente, enquanto se erguia.

- o quê? – indagou um dos guardas, confuso.

- No Páis das Maravilhas eles ficaram sempre a vagar – o prisioneiro voltou a cantar, antes de se calar e sair da cela, caminhando lentamente para a saída do corredor da solitária. Os dois guardas encararam o detento, confuso, antes de se entreolharem.

- você entendeu alguma coisa? – questionou um dos guardas vendo o outro negar com a cabeça.

- nadinha – respondeu encarando o prisioneiro, mas desviou o olhar assim que o outro guarda segurou firme em seu braço.

- mas o que merda ele fez aqui? – perguntou o homem vendo o que antes era apenas cimento cinzento, agora estava repleto com desenhos vermelhos.

Os dois adentraram o local, receosos. Aquela cela parecia um cenário de filme de terror. Havia um desenho em cada uma das três paredes sem porta. O da parede a esquerda era uma mulher, e o desenho de uma carta ao seu lado. O da parede contrária a parede da porta era um homem com um olho que chorava sangue, ao seu lado havia outra carta. O desenho da parede a direita era somente uma mão, com uma carte entre os dedos. Um deles tocou um dos desenhos perturbadores com os dedos, sentindo os mesmos ainda frescos.

- isso é... – o homem cheirou aquele líquido vermelho se surpreendendo ao sentir o cheiro metálico do mesmo – sangue – falou recuando junto ao parceiro.

- Tyler... olha para o chão – pediu o guarda que se encontrava na porta impedindo que a mesma se fechasse. O homem obedeceu, confuso.

- mas o que diabos ele tem na cabeça? – se perguntou Tyler vendo um enorme rosto de coelho desenhado no chão, com sangue. Em um dos olhos dos coelho havia um monóculo, mas onde deveria estar uma lente, havia um relógio.

- mas que porra é essa? – indagou o outro guarda, confuso com todo o clima macabro que aquele lugar apresentava.

- só vamos embora daqui logo – ditou Tyler, tratando de fechar a porta, apavorado.

 

Chapter 15: Bad Wolf

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- e então? O que temos para hoje? – perguntou Isaac se jogando sentado em uma das cadeiras ao redor da mesa redonda.

- não é mais um assassino em série.  Vamos precisar das cabecinhas brilhantes de todos vocês... Mas o que foi isso em seu pulso? – disse Lydia, se virando e encarando, surpresa, o pulso enfaixado do castanho de olhos claros.

Os outros agentes também estavam com aquela dúvida em suas cabeças. Stiles havia descido da van com o pulso enfaixado e com as bandagens um pouco avermelhadas na parte de baixo do pulso. Isaac também não sabia o que havia sido aquilo. Vernon se quer fazia ideia  O castanho fora o último a chegar. Ele fora liberado da solitária naquela manhã e logo que ele saiu eles foram chamados. Para completar os questionamentos dos agentes, o homem estava mais pálido do que o normal. Stiles agia com normalidade, embora parecesse debilitado.

- eu acabei me cortando em um acidente – respondeu o castanho erguendo o pulso e analisando a bandagem com a mancha vermelha.

- esse acidente foi o motivo de você ter ido para a solitária? – perguntou Derek vendo o castanho dar de ombros.

- quem sabe? – respondeu o homem de brincos vendo o moreno estreitar o olhar em sua direção.

- vocês, qual foi o motivo? – perguntou o Hale com frieza para o negro e o loiro de cabelos cacheados

- somos obrigados a responder? – inquiriu Vernon vendo Isaac olhar para Allison, perdido.

- não, não são. Mas eu agradeceria se o fizessem. Sou uma investigadora, logo sou extremamente curiosa – Allison falou, cortando a chance de Derek de dizer que os dois eram obrigados a responder.

- eu posso? – questionou Isaac observando o castanho dar de ombros, dizendo que não se importava com aquilo.

- é claro! Eles têm um certo controle sobre a gente lá dentro – respondeu Stiles vendo o loiro olhar para Allison imediatamente

- derrubaram o almoço do Stiles, ontem. Daí ele arrancou o piercing do idiota com os dentes, fazendo um rio de sangue sair do nariz do cara – o loiro ditou animadamente batendo com a mão sobre a mesa.

Erica soltou um grito animada, olhando para cima e batendo as mãos em uma palma com força. Derek, Scott, Peter e Lydia olhavam para o castanho, surpresos, enquanto Allison sorria divertida e confusa para a animação de Erica. A loira secou uma lágrima no canto do olho e olhou para o castanho animada.

- como eu amo esse cara! Eu daria tudo para ver isso – ditou Erica, animada, ainda gargalhando.

- tudo que restou foi isso – disse Stiles jogando a mão na direção da loira e todos puderam ver uma argola prateada deslizar pela madeira brilhosa da mesa.

- AAAAAH, VOCÊ AINDA TROUXE ISSO?! – gritou a loira, sorridente, agarrando a argola entre os dedos, vendo uma listra vermelha de sangue coagulado no anel prateado.

- por que merda você ainda tem isso? É nojento! – indagou Scott encarando o castanho sorrir ladino em sua direção.

- você não entenderia. É algo que só as pessoas que têm psicológico forte compreendem. Infelizmente, você não cobre o requisito – rebateu o castanho vendo a loira jogar a argola para si.

Scott tomou uma careta no rosto, ao não conseguir conter o desgosto que sentia para com o orgulho daquele homem em ser um criminoso. Stiles não apenas não tinha escrúpulos, como também não tinha vergonha nenhuma em admitir isso. O assassino da divisão apenas ergueu a mão e a argola atingiu a mesma. Scott encarou o assassino com uma expressão severa, antes de desviar o olhar para Derek. O homem lhe fitou com seriedade, antes de lhe dar as costas e se aproximar da mesa. Derek não concordava com aquela ideia de Scott. Por mais que ele odiasse Alice, e por mais que ele concordasse com o moreno de queixo torto quanto ao fato de achar que Stiles deveria permanecer atrás das grades em Alcatraz, ele não concordava com a sabotagem. Eles faziam parte daquela divisão. Sabotar Alice, seria sabotar eles mesmos.

- continue, Lydia. Quanto mais cedo começarmos com isso, mais cedo acaba – ditou o moreno de olhos verdes, encarando o tio com uma expressão de poucos amigos.

- enfim, ignorando... o piercing... e a coisa toda, temos um pedófilo a solta – falou Lydia apertando um botão e o projetor exibiu a imagem de um homem no quadro de vidro.

- Eu lhes apresento Stephen Michaels. Ele foi preso há um ano atrás, quando foi denunciado pelos pais de Kara Mackson, de nove anos – disse a ruiva apertando mais um botão e logo a imagem do homem encolheu dando lugar a uma garota sorridente em uma foto ao lado dos pais.

A mãe usava um vestido parecido com o da filha, enquanto o pai usava calças jeans, cinto com fivela e uma camisa branca e camisa xadrez por cima. A garota era erguida pelo homem, enquanto era beijada pelos dois pais. Erica socou a mesa com força, enquanto encarava o quadro de vidro com fúria.

- odeio esses homens – rosnou a mulher enquanto arranhava a madeira com as unhas.

- hunf. Nem sempre só os homens são culpados em pedofilia – ditou Stiles, cruzando os braços e voltando a dar atenção para a ruiva.

- o que? Vai me dizer que mulheres também estupram garotos? – questionou Erica, irritada.

- a pedofilia não se trata só do ato sexual. Muitas mulheres sabem que seus maridos abusam de crianças mas não fazem nada para ajudar. Elas fingem não ver. E muitas mulheres são inocentadas por se relacionarem com menores de idade, por os mesmos já terem idade para serem manipulados por elas para dizer que queriam. Muitas mulheres sedentas por sexo procuram por garotos mais jovens com quatorze ou quinze anos. Mas há casos mais graves, com garotos de onze ou até mesmo dez anos. Não é só porque é menos frequente que não deixa de ser um crime – explicou Peter vendo a loira cruzar os braços e voltar a dar atenção para Lydia.

- voltando, Stephen foi preso. Para revoltar ainda mais a população local, Stephen era pai de dois garotos, um da mesma idade que Kara Mackson, e era professor da garota na escola municipal. Ele foi preso em casa, junto da família – disse a ruiva passando fotos da escola, da família Michaels e do momento de prisão do homem.

- hoje pela manhã, Michaels fugiu da prisão estadual em que se encontrava, se disfarçando de um dos produtores da emissora de tv que fazia uma reportagem no pátio nessa manhã – explicou Peter vendo a ruiva colocar imagens da reportagem feita.

- agora, nós achamos que Michaels pode ir atrás de Kara – ditou Derek vendo o loiro de cabelos cacheados se erguer imediatamente.

- então vamos logo! – exclamou Isaac, sério, surpreendendo Derek e Allison.

- antes de irmos, eu gostaria de dizer que é melhor não deixarem as emoções aflorarem durante esse caso. Lembrem que uma criança está envolvida. Errar nunca foi uma opção, mas agora é mais importante ainda manter a calma e se focar no caso com cautela – alertou Peter encarando os prisioneiros menearem positivamente, enquanto todos se levantavam.

 

 

 

 

 

 

 

- é um pouco estranho o FBI querer falar com uma de nossas alunas – disse uma das professoras enquanto eles caminhavam pelos corredores da mesma.

- é, eu tenho certeza de que isso não acontece todo dia – falou Derek, enquanto eles seguiam a mulher pela escola.

- aconteceu algo com que devemos nos preocupar? – perguntou a mulher se virando brevemente para os agentes.

- só nos mostra a garota – ditou o Stilinski passando pela mulher quando a mesma parou brevemente na porta de uma sala.

Stiles olhou para o interior da sala, mas logo a mulher se colocou em sua frente. O detento ergueu a sobrancelha, enquanto voltava a erguer o torso que ele havia abaixado para olhar pela pequena janela de vidro na porta da sala. A mulher engoliu em seco assim que o castanho lambeu os lábios, estreitando os olhos para a mesma. Stiles tomou um ar ameaçador, enquanto mordia o lábio inferior e se inclinava brevemente na direção da mulher.

- sinto muito, mas não posso deixar qualquer um chegar perto dos meus alunos – ditou a mulher vendo o castanho sorrir na direção sua direção. Um sorriso irônico.

- Peter... – ditou Stiles antes de simplesmente dar as costas para a mulher e passar a seguir, de sala em sala, parando nas portas, olhando pelos vidros das mesmas.

- ei, o que está fazendo? – perguntou a mulher vendo o castanho a ignorar completamente.

- não pode discutir conosco, Senhora Gardner. Apenas nos leve até Kara Mackson – ditou o loiro mais velho encarando a mulher engolir em seco.

- as salas estão vazias – ditou o castanho voltando para perto do loiro, passando um braço por dentro do braço do mais velho, abraçando o membro do homem.

Os agentes encararam a cena um tanto desconfiados, enquanto o loiro apenas ajustava o braço no abraço do castanho e acariciava os seus cabelos com um certo apreço. Derek estreitou o olhar para a dupla. Peter era muito próximo ao castanho e isso lhe irritava. Era óbvio que o loiro passava informações deles para o prisioneiro. Erica sorriu divertida para a cena, antes de negar com a cabeça. Para ela era mais do que óbvio o tipo de relação que os dois homens a sua frente mantinham. O que deixava aquela divisão mais interessante ainda. Quando fora chamada para trabalhar com a equipe, ela imaginava que seria algo chato e monótono. Mas fora seriamente surpreendida com o desenrolar das coisas.

- são nove e meia. Eles estão no intervalo – ditou o loiro vendo o castanho menear positivamente em compreensão.

- ótimo. Assim fica mais fácil de encontrarmos a Kara – falou Scott passando pela dupla, esbarrando no ombro do castanho no processo.

Stiles encarou o próprio ombro, antes de desviar o olhar para as costas do agente McCall, o encarando com seriedade. Isaac suspirou, negando com a cabeça, seguindo Allison que foi atrás do homem de queixo torto. Peter encarou o castanho ao seu lado com seriedade, engolindo em seco com a lambida de lábio que o mais novo de todos os membros daquela divisão deu para o agente de queixo torto.

- apenas o ignore, garoto. Venha! Vamos procurar pela Kara – o loiro falou com suavidade, abraçando o castanho pelos ombros, o apertando brevemente, antes de começarem a caminhar.

- não se preocupe. Eu estou cansado demais para fazer qualquer coisa contra ele – ditou o rapaz com brincos começando a caminhar ao lado do loiro mais velho

- eu sei que você não faria nada contra ele. Mesmo ele sendo um pé no saco, às vezes – sussurrou o loiro contra o ouvido do castanho, antes de lhe beijar os cabelos.

Os dois haviam se esquecido totalmente de Derek atrás deles. O moreno de olhos verdes encarava o tio com os olhos estreitos. O Hale começava a suspeitar da aproximação do seu tio para com o prisioneiro que ele odiava. Stiles poderia muito bem estar usando o seu tio para conseguir algo. Peter sempre teve tendências a ser manipulado por pessoas de má índole, tanto que chegou a perder o distintivo por causa disso.

Os agentes adentraram o pátio sendo encarado por professores e crianças de todas as idades. Eles varreram o local com o olhar, mas era difícil achar uma garota em específico em meio a tantas crianças. No entanto, Erica conseguiu identificar a garota, ao longe, um pouco distante das crianças, próxima a mata que ficava logo atrás da escola. Em frente a menina, estava ninguém mais ninguém menos do que Stephen Michaels.

A garota coçava o braço, um pouco desconfortável, enquanto o homem falava com ela e se aproximava lentamente. Erica cerrou o punho para a cena e gritou o nome da garota, vendo a menina olhar em sua direção, assustada, assim como o fugitivo, que olhou arregalado para todos aqueles adultos e não demorou para perceber que eram oficiais. O fugitivo desatou a correr na direção da mata, se embrenhando na mesma. Erica não tardou em avançar na direção da mata, passando por todas aquelas crianças e passar com velocidade por Kara, assustando um pouco a menina, que soltou um gritinho agudo devido a voracidade dos passos de Erica, que se embrenhou na mata, ignorando totalmente os gritos de repreensão de Derek e Scott. Allison e Isaac correram até a garota, que os encarou assustada.

- está tudo bem, querida. Ele não vai machucar você – dizia a agente Argent, abraçando a garota que a abraçou de volta, enquanto encarava a mata com os olhos assustados.

Eles levaram a garota para o ginásio da escola, onde ficaram a protegendo enquanto os pais eram chamados ao colégio. Assim que os pais chegaram, a menina se encolheu nos braços da mãe, enquanto as duas estavam sentadas, e o pai apenas encarava os agentes, revoltado. Ele estava de braços cruzados sobre o peito, enquanto respirava pesadamente, furioso, como um touro em uma tourada. Ele estava deixando bem claro, não apenas em ações, como também em palavras, o quanto estava indignado com a situação pela qual estava passando.

- eu quero saber porque aquele desgraçado ainda não foi preso – ralhou o homem, apontando com o indicador para os agentes.

- senhor Mackson, estamos fazendo de tudo para conseguir colocar Stephen no lugar dele. Inclusive, uma de nossas agentes de campo está o perseguindo nesse momento pela mata em que ele tentou contato com a sua filha – anunciou Derek, encarando o homem com seriedade.

Ele não gostava nada da pose daquele homem para o grupo de agentes. Ele nunca gostou de afrontas, e o dedo erguido daquele homem lhe dava vontade de quebrar o mesmo. Mas ele relevou, pois, no fundo, sentia a mesma indignação do homem. Como se já não bastasse traumatizar a menina uma vez, Stephen fugiu para tentar abusar da garota mais uma vez, piorando ainda mais a sua situação psicológica.

- não é o suficiente! Eu quero aquele homem preso. Se possível eu gostaria que ele estivesse morto – ralhou o pai de Kara enquanto a menina se encolhia mais ainda nos braços da mãe.

- eu poderia providenciar isso – murmurou Stiles, sorrindo fraco e Derek olhou severamente para o castanho, vendo o mesmo ainda pálido.

- eu sei, Bryan, que você odeia aquele homem e tem todos os motivos do mundo para isso. Mas você tem que entender que é uma situação difícil procurar ele por essa mata. Precisamos de tempo, por isso que quero deixar alguns de nossos agentes com sua mulher e sua filha, em sua casa. Eles vão proteger as duas enquanto Stephen estiver solto. Ele não ousaria chegar perto delas com federais no encalço das duas – ditou Peter encarando o homem fechar o semblante para si.

- nem fodendo que eu vou deixar estranhos perto da minha família – ditou o homem vendo o loiro suspirar.

- infelizmente, o senhor não tem querer.  Nós somos federais – argumentou Vernon vendo o homem olhar torto para si. Aquilo o irritou.

- Eu. Já disse. Que não, negão – rosnou o homem e a mulher o fitou repreensiva.

- BRYAN! – a mulher elevou a voz ai repreender o marido.

- como ele disse. Você não tem querer. Somos do FBI. Nós somos o poder. A gente manda, você só cala a boca e obedece. É simples. Entendeu ou eu vou ter que desenhar para um idiota racista como você? Apenas me dê um bom motivo para não lhe prender agora por desacato a autoridade e racismo! – rosnou Derek ficando de frente para o homem, que se preparou para socar o agente Hale, irritado.

Derek ergueu o braço para bloquear o golpe do homem, mas se surpreendeu ao ver que o mesmo já havia sido bloqueado. Ele olhou para o lado vendo Stiles ao seu lado, com o punho do pulso enfaixado segurando o punho do Mackson firmemente. Derek encarou o castanho por um tempo, antes de sorrir nasalado.

“Até que eu estou gostando disso”

- como ele disse. Nós vamos e você só cala a boca e... – o castanho não terminou a fala.

O Mackson apenas usou do outro punho para socar Alice, que se viu tonto ao tentar desviar. O corpo do castanho reclamou com o movimento brusco, o deixando zonzo. A esquiva fora bem sucedida, fazendo o punho do homem passar ai lado do seu rosto, mas o castanho não conseguiu se manter de pé após o ato. A visão de Stiles se tornou turva e logo ele não tinha mais forças para ficar sobre os próprios pés. O rapaz caiu ajoelhado na frente do senhor Mackson, vendo tudo girar e um estranho pássaro cobreado surgir sobre algo da cor azul e uma imensidão branca logo acima. Peter correu até o castanho, juntamente com Isaac, enquanto viam Derek agarrar Alice pelos ombros, impedindo que o corpo do mesmo caísse no chão.

- ele está sangrando – ditou a senhora Mackson vendo, do pulso enfaixado, sangue começar a escorrer pelo braço do homem.

- preciso fazer outro curativo – ditou Isaac pressionando o pulso do castanho.

- a enfermaria não é longe. Lá tem bandagens – ditou a diretora, que estava no local, vendo a agente morena lhe pedir que a levasse ao local. Assim que Allison retornou com alguns itens em mãos, Isaac desfez o curativo mal feito da prisão e começou a usar tudo o que a Argent trouxera.

- você sabe o que está fazendo? – perguntou Scott, surpreso, vendo o loiro começar a passar álcool no ferimento do castanho, ficando mais surpreso ainda ao não ouvir Stiles gemer de dor com o líquido em seu corte. O castanho parecia não sentir nada.

- sei – respondeu o loiro já começando a fazer o curativo no pulso do castanho.

- foi um corte preciso demais para ter sido um acidente – murmurou Allison, analisando o corte perfeito no pulso do mais novo.

- o que merda você fez, garoto? – murmurou Peter, pensativo.

 

 

 

 

 

 

- aqui, você deve estar com fome – disse a senhora Mackson, colocando um prato com biscoitos sobre a mesa de centro em frente ao castanho, que se encontrava sentado em seu sofá.

- biscoitos! – Kara soltou um pouco animada pegando um dos biscoitos e o levando a boca, enquanto permanecia a desenhar, sentada no chão, próximo ao homem ferido que estava ali para lhe vigiar.

- não vai ser um dos melhores que vai comer, mas eu espero que goste – ditou a mulher, simpática.

- é a primeira vez que como isso – soltou o castanho, baixinho, surpreendendo Derek que se encontrava próximo a si. A garota encarou o homem de cabelos castanhos com surpresa no olhar, vendo o mesmo analisar o alimento circular de cor bronzeada.

- disse alguma coisa? – perguntou a mulher se virando para o rapaz de cabelos um pouco longos, já indicando um certo tempo que não eram cortados.

- ele disse que parece estar gostoso – ditou o moreno de olhos verdes, vendo Scott pegar um dos biscoitos e morder o mesmo com vontade.

- e está mesmo – falou o moreno de queixo torto, de boca cheia, encarando a mulher sorrir para si.

- isso é bom – murmurou o Stilinski, passando a comer o doce entregue a si.

- eu gostaria de pedir desculpas pela atitude do meu marido, mais cedo. Ele anda muito estressado desde a notícia de que aquele monstro havia fugido – disse a mulher, calmamente, enquanto se dirigia para a cozinha, indo preparar o almoço.

- você nunca comeu biscoito? – perguntou Kara timidamente, vendo o castanho negar com a cabeça.

- não. Você gosta de biscoitos? – respondeu o Stilinski, vendo a garota menear positivamente.

- e do que mais você gosta? – inquiriu vendo a garota continuar a desenhar

- eu gosto de pipoca e algodão doce – respondeu a menina, concentrada, e Stiles se esticou para alcançar mais um biscoito.

- você só gosta de comida? – questionou o prisioneiro, vendo a menina negar com a cabeça.

- eu gosto de desenhar, brincar. Eu gosto de jogos e da escola – respondeu a garota fazendo um estalo ocorrer na mente do castanho de brincos.

- você gosta da escola? – perguntou vendo a menina parar e voltar a desenhar.

- você não é médico da cabeça, é? Mamãe já me levou em um. Eu não gosto deles – indagou a garota finalizando o desenho que fazia e passando a fazer um novo na mesma folha.

- você quer dizer psicólogo? – perguntou o castanho, ainda comendo vendo a menina dar de ombros.

- eu não sei o nome. Eu só sei que eu ia lá e ele me fazia perguntas e me mandava desenhar – respondeu a menina, calmamente, como uma criança faria, sempre se embolando nas palavras que escolhia.

- Derek, vem cá – Scott chamou o parceiro para um canto, enquanto o mesmo encarava a interação entre o assassino e a menina.

Derek, um pouco receoso em se afastar da menina, estando ela na presença de Alice, acabou seguindo Scott, lentamente, para um canto da sala. O Hale se aproximou, de braços cruzados, sempre encarando Stiles e Kara na mesa redonda no centro da sala de estar da casa. O moreno sussurrou em resposta, encarando Stiles se aproximar da mesa, encarando o trabalho da menina.

- nós estamos sozinhos com ele. É a nossa chance de sabotar ele, cara – murmurou Scott encarando o castanho pelos cantos dos olhos.

- Scott, velho, esquece isso. Ele ameaçou o seu pai e daí? Não é como se ele pudesse fugir e matar ele, mano. Estou dizendo que isso é uma furada. Se ele a divisão fracassar de novo, não sei o que pode acontecer com a gente, com as carreiras que demoramos muito pra construir – murmurou Derek, em resposta. Ele não gostava muito da ideia de fazer algo errado em seu trabalho, mesmo que fosse contra Stiles.

- Derek, mano, você quer mesmo esperar que o Stiles faça algo contra alguém antes? Quer mesmo deixar que ele mate alguém antes de colocar ele no lugar de onde ele nunca deveria ter saído? – indagou Scott encarando o melhor amigo e parceiro suspirar, coçando a nuca, nervoso.

- Scott, esquece isso. Ele é importante para a nossa divisão. Se ele voltar para a cadeia a nossa divisão vai ficar fraca. Lembra de quando o Enis e a Kate foram presos? Imagina sem o Alice. Sem contar que não estou afim de sujar a minha carreira sabotando algo que deveria alavancar ela. Eu não estou protegendo ele. Eu estou protegendo nós fois – ditou Derek vendo o parceiro suspirar indignado.

- depois não diga que eu não avisei – disse o McCall, com o semblante fechado, encarando o castanho se abaixar e se sentar no chão, entre o sofá e a mesa de centro.

O celular de Derek vibrou e o mesmo puxou o aparelho da calça, desbloqueando a tela e vendo uma mensagem de Lydia. A ruiva havia mandado uma mensagem dizendo “Peter pediu para o Stiles dar uma olhada nisso”. Derek estranhou, antes de começar a baixar os arquivos que a ruiva lhe mandara. Eram desenhos e PDF’s de arquivos sempre envolvendo o nome da garota que se encontrava distraída desenhando sentada no chão da sala. O moreno de olhos verdes abriu a primeira imagem e se aproximou do castanho, se sentando no sofá ao lado do mesmo e sussurrou a mensagem de Lydia para o rapaz, entregando o aparelho nas mãos do castanho.

Stiles leu cada página dos arquivos no celular de Derek em uma velocidade surpreendente para o moreno de olhos verdes. O Hale se quer conseguia ler um parágrafo completo no tempo em que Stiles lia uma página inteira. Era incrível como Stiles tinha tantos dons incríveis que foram desperdiçados em uma repleta de crimes, sangue e mortes. O rapaz era extremamente inteligente, capaz de recitar um texto que lera apenas uma vez; era violentamente bom com o corpo, se mostrando ágil e bom em lutas, segundo o seu arquivo. Uma vez que Derek nunca o vira lutar, para falar a verdade. Ainda segundo o arquivo, o castanho era bom com armas, sejam elas brancas ou de fogo, além de ser ótimo em anatomia e em interrogatórios.

Stiles era um agente profissional do crime.

Ele tinha todos os requisitos para um agente do FBI desde os onze anos, mas havia seguido carreira no crime. E uma carreira de sucesso, diga-se de passagem.

- não tem nada que nos ajude – ditou o castanho, entregando o celular para Derek, que suspirou decepcionado.

- o que você está desenhando? – perguntou Stiles, simpaticamente, vendo a garota parar de desenhar.

- esses somos eu, a mamãe e o papai. Aqui é você – disse a garota apontando para cada um dos bonecos.

Stiles, Derek e Scott olharam para a garota, surpresos. Ela havia gostado do castanho de brincos. O bonequinho do mesmo até possuía os brincos da cor vermelha e negra. Stiles estranhou ao ver a ordem dos bonecos, enquanto Derek se lembrava dos desenhos que Lydia havia mandado.

- Lydia também mandou alguns desenhos – sussurrou para o castanho que olhou para si quase que imediatamente.

- eu quero ver – sussurrou Stiles, vendo Derek abrir as imagens e passar o aparelho para si.

O castanho analisou cada um dos desenhos um tanto malfeitos da criança que estavam juntos com os arquivos do psicólogo da menina. Ele conseguia ver algumas coisas ali, que lhe indicavam que havia algo errado naquilo tudo. Foi então que, em um desses desenhos, Stiles o viu. Aquele mesmo pássaro grande que ele havia visto mais cedo ao quase desmaiar.

- qual é o seu nome, tio? – perguntou a menina, enquanto escrevia o nome de cada um dos personagens de seu desenho acima da cabeça dos mesmos.

- pode me chamar de Alice – respondeu o castanho, analisando o desenho detalhado que havia sido feito pela menina.

Aquele desenho só podia ser uma marca do trauma da garota. Ela não conseguiria trabalhar tanto tempo em um desenho, sem ter sofrido algum trauma grande. Assim que ouviu a fala do homem de brincos a menina ergueu a cabeça na direção do mesmo, confusa e animada. Ela coçou a garganta, antes de fazer a pergunta que tanto lhe martelava a mente no momento.

- como a do País das Maravilhas? – perguntou animada, vendo o homem sorrir em sua direção e menear positivamente.

- exatamente. Se escreve igualzinho – respondeu o rapaz, vendo a garota sorrir divertida para si.

- por que o senhor usa brincos? – perguntou a garota vendo o castanho tocar um dos objetos com os dedos.

- eu uso esses aqui porque eu gosto deles. Gostava muito da pessoa que me deu esses brincos – respondeu vendo a menina menear positivamente.

- entendi – disse voltando a desenhar, perdendo completamente o olhar preocupado do castanho, que logo direcionou esse olhar para o agente Hale, que lhe fitou confuso.

- o quê? O que foi? – perguntou Derek, confuso para a cara que o castanho ao seu lado tomou ao encarar aquele desenho de uma águia por um tempo.

Stiles lambeu os lábios, olhando para a garota ao seu lado brevemente, tendo a certeza de que ela não os ouviria. O castanho se sentou no sofá, ainda encarando a garota, antes de se virar para Derek, que lhe fitava confuso e receoso. Scott fitava o rapaz de brincos com uma expressão de poucos amigos na face. Ele queria muito poder colocar aquele prisioneiro de volta na solitária da segurança máxima do FBI, mas ele sabia que não conseguiria isso sem ajuda. Pois ele sabia muito bem que Peter e Lydia, assim como o próprio Derek, poderiam desmentir a sua façanha.

- não estamos caçando apenas um pedófilo – sussurrou o Stilinski vendo como a garotinha parecia entretida no seu trabalho.

- o quê? Acha que tem mais de um? Quem seria? – inquiriu Derek, perplexo, vendo o castanho negar com a cabeça, prontamente.

- estamos caçando um lobo mau – ditou Stiles vendo os dois morenos estreitarem o olhar em sua direção.

 

Chapter 16: Monster

Chapter Text

Peter parou o carro perto de uma quadra de basquete, onde Erica disse estar, após lhe ligar de um telefone público. A loira estava a encarar um prédio não muito distante. Os agentes desceram do carro, acompanhados de Vernon e Isaac, que encaravam o mesmo prédio que a mulher, confusos. 

- ele está lá dentro? – perguntou Boyd olhando para a mulher de cabelos loiros, que se aproximou assim que eles fizeram o mesmo. 

- sim. Eu achei melhor chamar vocês do que entrar lá sozinha – respondeu Erica, vendo Allison encarar as janelas e porta fixamente. 

- você fez certo, Erica. Mas sabe se esse prédio só tem essa saída? – perguntou a Argent vendo a loira negar com a cabeça. 

- não sei dizer – respondeu Erica vendo a morena menear positivamente. 

- tudo bem, Erica. Agora é com a gente – ditou Peter antes de começar a caminhar na direção do prédio, sendo seguido pelos outros quatro. 

- cadê o resto? Onde está o Stiles? – perguntou a loira ao ver que apenas aqueles quatro estavam ali. 

- estão cuidando da família da Kara – respondeu Vernon vendo a loira menear em compreensão. 

- mas acha que foi certo deixar ele com aqueles dois? Eu senti que eles não gostam muito do Alice – inquiriu a loura, surpreendendo Allison por sua capacidade de percepção. 

A mulher mal havia entrado para o grupo e já havia percebido que Derek e Scott odiavam Alice. Não era como se os dois homens escondessem o ódio pelo castanho, mas mesmo assim as pessoas demoram para tirar a conclusão quanto ao assunto “relação” das outras pessoas. Mas Erica já havia atirado aquelas palavras contra eles, sem se quer esperar um pouco de tempo parar tirar as suas conclusões. 

- acho. Eles podem ser idiotas e mente fechada, na maior parte do tempo. Mas tem inteligência o suficiente para trabalhar conosco. Sabem que não podem fazer nada com ele durante o caso. Então, sim. Foi certo – respondeu Peter já atravessando a rua. 

- e o Stiles passou mal depois que os pais da Kara chegaram. Então achamos melhor deixar ele de lado da ação, hoje – comentou Isaac, vendo a Reyes lhe fitar surpresa. 

- o carinha passou mal? – perguntou vendo o loiro menear positivamente. 

- sim, o corte dele abriu de novo e ele perdeu um pouco de sangue. Sendo que ele já deve ter perdido muito quando o ganhou, por isso que estava pálido hoje mais cedo – respondeu Isaac vendo a loira ficar pensativa por um tempo. 

- o que um pedófilo poderia querer em um escritório de advocacia? – perguntou Allison, encarando a entrada do prédio, antes de passar pela mesma. 

- realmente ele tem agido um pouco estranho – comentou Erica, vendo a morena lhe fitar por sobre os ombros. 

- o que sabe sobre pedófilos? – perguntou Allison vendo a loira rir em deboche, soltando o ar pelas narinas. 

- eu não sei se você sabe, mas foi por matar pedófilos que o agente Hale me prendeu – respondeu a loira, fazendo Isaac lhe fitar surpreso. 

- prossiga – disse Vernon assim que eles alcançaram o elevador. 

- esse homem tem agido diferente de qualquer um que eu já cacei. Ele não apresenta o perfil comum que a maioria tem – disse a loira vendo os agentes lhe fitarem com seriedade. 

- o que você fez até agora? – perguntou Peter, vendo a mulher dar de ombros, cruzando os braços. 

- você disse para nos controlarmos quanto ao emocional, então eu controlei a vontade de arrancar o pau dele e fazer ele engolir, para ficar observando ele por um tempo – ditou a loira ignorando a expressão de choque de Isaac. 

- e o que descobriu? – perguntou Allison vendo a loira suspirar. 

- nada demais. Ele passou na casa dele, mas como a polícia estava lá, ele deu a volta e veio para cá. O que mais me chocou foi que, no caminho para cá, Stephen não tentou nada com criança alguma, até deu uns trocados para uma criança de rua – respondeu a loira e a porta se abriu no penúltimo andar. 

- estranho. Mesmo que estivesse controlando a sua libido. Ele passou um ano na cadeia. Deveria ser o suficiente para estar explodindo de excitação só de estar perto de uma criança – murmurou Allison, pensativa. 

- uma pergunta, como sabem para qual andar a gente vai? – perguntou Isaac, vendo todos caminharem pelo corredor, calmamente. 

- esse é o escritório da advogada do Michaels na época da acusação de estupro. É óbvio que ele veio dar uma palavrinha com ela – respondeu Peter e todos se viram surpresos com uma mulher caída no chão do corredor, com uma perna ferida. 

- me ajudem, por favor – pediu a mulher e Isaac correu na direção da mesma. 

- o que aconteceu? – perguntou Allison, se aproximando da mulher. 

- Stephen Michaels aconteceu – respondeu a mulher, enquanto se levantava com a ajuda de Isaac. 

- você era advogada dele, não era? – perguntou Erica, vendo a mulher menear positivamente. 

- onde ele está? – perguntou Vernon encarando a mulher olhar para o mesmo lado do corredor em que eles vieram. 

- ele correu para a única saída do andar. Não sei se ele foi pela escada ou pelo elevador – respondeu a mulher e no mesmo instante Erica e Vernon correram para as escadas. 

- Melissa King eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre o caso do Michaels – ditou Peter, vendo a mulher se afastar um pouco de Isaac, ajustando as próprias roupas. 

- eu teria todo o orgulho de os convidar para a minha sala. Mas infelizmente Stephen Michaels também aconteceu nela – disse a mulher e só então os agentes notaram a bagunça em que se encontrava o escritório da advogada. 

- caramba! Isso parece até o quarto do Scott! – exclamou Isaac, vendo todas aquelas folhas jogadas no chão e armários virados. Allison olhou para o loiro, confusa e risonha, vendo o mesmo assoviar quando o vendo que adentrou o local pela janela levantou algumas folhas, as fazendo dançar no ar, bagunçando ainda mais o local. 

- o que exatamente ele queria? – perguntou Peter, antes de o seu celular vibrar em seu bolso. 

- me culpar por ele estar preso – respondeu a mulher, antes ver o homem atender a ligação. 

- o que é? – perguntou Peter, encarando o escritório da mulher, enquanto falava com o sobrinho. 

- Peter, eu tenho uma pergunta séria para fazer – ditou Derek, causando uma certa desconfiança no tio. 

- então faça – ditou o loiro, olhando para o chão, vendo um nome peculiar em um documento que estava no chão. 

- eu preciso saber o quanto você confia no Stiles? – perguntou Derek fazendo Peter estreitar o olhar na direção do chão, antes de se abaixar para recolher o papel em mãos. 

- eu entregaria minha vida na mão desse garoto – disse Peter passando a ler o documento, antes de estreitar o olhar para a advogada, que já havia entrado no escritório e passado a recolher as folhas, alheia aos agentes. 

- ao ponto de parar toda a investigação por ele achar que está errada? – perguntou Derek e Peter mordeu o interior da bochecha, pensativo. 

- o que ele disse, Derek? – perguntou o Tate, já desconfiando do que poderia ser. 

- ele... ele disse que estamos atrás do cara errado. Ele disse que o Stephen é inocente – respondeu Derek, um tanto receoso. 

- e então de quem nós deveríamos ir atrás? – perguntou Peter, ouvindo o sobrinho suspirar do outro lado da linha. 

- Bryan. Bryan Mackson – respondeu Derek, não podendo ver o momento de choque na face de Peter. O loiro passou a lembrar do comportamento do homem para com a investigação. 

- tudo bem, eu vou ligar para a Lydia para saber onde ele trabalha – ditou Peter antes de finalizar a chamada antes mesmo que Derek pudesse argumentar que aquilo tudo era uma loucura. 

- o que houve? – perguntou Allison vendo o loiro dobrar o papel que se encontrava em mãos e o colocar no bolso. 

- sinto muito, senhorita King, mas houve um imprevisto. Mas mais tarde estarei aqui para conversarmos sobre Stephen Michaels – ditou Peter, sorrindo ladino na direção da mulher, que o fitou confusa. 

- ah... tudo bem. Eu não vou embora tão cedo com o meu escritório desse jeito – argumentou a mulher, vendo os agentes começarem a se retirar. 

- não encontramos nenhum sinal dele – ditou Erica, surgindo das escadas ao lado de Vernon. 

- está tudo bem. Allison e Isaac vão atrás dele. Você, Boyd e eu vamos atrás de uma outra pessoa. – ditou Peter, adentrando o elevador junto dos outros quatro. 

 

 

Derek suspirou assim que percebeu que o tio havia encerrado a chamada. 

- o que foi? – inquiriu Scott vendo o amigo guardar o celular no bolso. 

- ele desligou. Está confiando no Alice – respondeu desviando o olhar para o assassino, o vendo sorrir vitorioso. 

- você tem certeza disso? – perguntou Derek, vendo o castanho menear a cabeça positivamente. 

- tenho. Faz todo o sentido, agora – respondeu Stiles encarando a garota, desenhando na mesa de centro, um pouco distante deles. 

- você sabe que só a sua palavra não basta, certo? Você tem que arrancar uma confissão. Seja dela, ou do pai – murmurou Scott de braços cruzados, encarando o castanho com extrema seriedade. 

- eu só preciso de um tempo com a garota e tudo certo – ditou Stiles vendo a menina lhe encarar, antes de sorrir tímida e voltar a rabiscar com o giz de cera. 

- como se nós fossemos lhe deixar sozinhos com ela – rebateu o agente McCall, imediatamente. 

- não preciso ficar sozinho. Tudo o que eu preciso é que ela se sinta confortável e que você cale a sua boca - disse o rapaz com brincos encarando o moreno de queixo torto com tédio. 

- eu não sei. Ainda não me sinto confortável com isso. Ela é só uma criança, Alice – argumentou Derek, vendo o castanho sorrir nasalado. 

- diga isso ao pai dela – rebateu Stiles, com seriedade, encarando o moreno de olhos verdes lhe fitar severo. 

- não é só dela, como também do pai dela que estamos falando, aqui. Não podemos fazer qualquer coisa só porque somos federais. O mundo não é a porra de um jogo. Esse trabalho não é a porra de um jogo. É da vida de pessoas que estamos falando – ditou Derek vendo o castanho prontamente lhe ignorar imagem, virando o rosto apenas para sorrir ladino por sobre o ombro. 

- pode deixar comigo. Afinal de contas, é com a vida dos outros que eu mais gosto de brincar – argumentou o castanho voltando a caminhar na direção da garota. O ódio tomou conta dos dois agentes, que cerraram os punhos para as palavras do detento. 

- Alice! Alice! – Derek tentou impedir o castanho, mas o mesmo já havia se sentado ao lado de Kara e pedido uma folha para a menina. 

- você gosta de desenhar? – perguntou a menina vendo o mais velho menear positivamente com um sorriso no rosto. 

- eu adoro desenhar. Inclusive, no meu quarto, eu tenho um caderno de desenho. Quando não estou trabalhando, eu fico desenhando deitado na minha cama – disse o rapaz, pegando um lápis vermelho e passando a rabiscar na folha de papel. 

- eu desenho sempre – disse a menina, continuando a desenhar, alheia ao desenho que o castanho fazia. 

- você deve desenhar muito bem, não é? – perguntou o castanho, vendo a menina sorrir tímida. 

- eu sou boa, sim – respondeu a menina, sorrindo para o papel a sua frente. 

- e eu? Sou bom? – inquiriu Alice erguendo a sua folha, mostrando um desenho perfeito feito no centro do papel. 

O que para a garota era um simples coração, feito simetricamente perfeito; para Derek era uma afronta direta para si e para o FBI. Aquilo não era um simples coração. Era o naipe de copas. 

- ficou certinho! – exclamou a garota para a perfeita simetria do desenho. 

- agora só falta pintar – comentou o castanho passando a preencher o coração com a cor vermelha. 

- a gente pode falar sobre o que aconteceu com você? – indagou Stiles, vendo Kara se encolher um pouco. 

- eu não gosto de falar disso – ditou a menina, séria, com um brilho tristonho no olhar. 

- é um segredo, não é? – perguntou o castanho, vendo a garota menear positivamente. 

Derek encarou a cena, receoso. A menina havia se encolhido com a introdução que Stiles dera ao assunto. Aquilo não poderia ser nada bom. Se Stiles estivesse errado e o pai da menina fosse inocente, eles poderiam estar seriamente encrencados. A divisão poderia ser fechada, ou todos os agentes envolvidos seriam retirados da mesma e substituídos, além de serem processados. 

Scott não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim. Se Stiles estivesse errado, poderia ser bom, já que o castanho cometer um erro grave poderia resultar na expulsão do mesmo da divisão, o que seria o seu maior prazer, já que ele nem precisaria sabotar o mais novo. Mas se o erro fosse grave demais, poderia envolver toda a divisão, incluindo ele, e isso seria péssimo para si. 

- eu também tenho um segredo ruim – disse o rapaz e no mesmo instante os agentes o fitaram surpresos e receosos. 

“Ele não vai falar dos crimes dele, vai?” 

Se perguntaram os dois agentes, em seus pensamentos, observando, nervosos, o decorrer da cena. Stiles falava e desenhava como quem não queria nada, o que os assustava ainda mais. Eles não sabiam o que esperar daquilo. E a vontade de intervir era grande. No entanto, eles deixavam a conversa entre os dois acontecer. Se Stiles estivesse certo, eles poderiam estar livrando a menina de um grande mal. 

- e qual é? – perguntou a Mackson observando o castanho fazer beicinho e dar de ombros. 

- eu também não gosto de falar sobre isso... Mas... – Stiles deixou em aberro, esperando que a criança mordesse a isca. 

- mas? – a garota não demorou em cair na armadilha do mais velho, que sorriu vitorioso internamente. 

- mas... Se eu te contar o meu... você pode me contar o seu? – perguntou o castanho vendo a menina lhe fitar com seriedade, receosa e pensativa. 

- eu não posso – murmurou, baixinho, cabisbaixa. 

- você não tem do que ter medo, Kara. Se você me contar, ninguém vai saber e eu ainda posso dar um jeito de afastar o homem mau de você – disse o castanho vendo a garota coçar o ombro, nervosa, enquanto pensava se deveria ou não contar. 

- eu não sei... Acho que não – comentou, receosa. 

- quando eu contei o meu para a polícia. Eles me ajudaram. Se me contar, eu posso lhe ajudar – argumentou o mais velho vendo a garota morder o lábio inferior, nervosa. 

- certo... eu conto – murmurou a garota, encolhida, temerosa. 

Alice sorriu e passou a desenhar em uma nova folha. 

- eu também tive um homem mau na minha vida. Ele me fez as mesmas coisas que fez com você – disse o castanho, calmamente, enquanto permanecia a rabiscar. 

- você teve? – perguntou a Mackson, surpresa, vendo o mais velho menear positivamente. 

- é, ele me fazia usar vestido e roupas de menina. O homem mau não gostava de me ver sem elas, e me batia sempre que eu as tirava. Inclusive, foi ele que me deu esse nome: Alice – falou o castanho, causando um certo aperto no peito da menina. 

- ele batia em você? – perguntou a menina, surpresa. 

- sim. Ele me prendia no sótão, assim ninguém me encontrava – respondeu o castanho vendo a menina lhe fitar surpresa. 

- ele prendia você? – perguntou Kara visivelmente assustada. Stiles apenas meneou positivamente e mostrou o pulso que não estava enfaixado. 

- aqui, se você olhar bem, dá para ver que eu ainda tenho as marcas das correntes nos meus pulsos – disse o rapaz e a menina se esticou um pouco para ver melhor. 

- isso não sai? – perguntou a menina vendo o rapaz negar com a cabeça. 

- não. Eu passei muito tempo com as correntes me cortando e me machucando – respondeu o castanho vendo a menina tocar o seu pulso, sentindo a diferença entre a pele normal e a cicatriz no pulso do mais velho. 

- ele não me dava comida direito e eu ficava cada vez mais fraco. Mas ele gostava quando eu ficava mais magro, ficava mais fácil para ele abusar de mim. Aquele homem passava as mãos em minhas pernas, me tocava em lugares estranhos, me beijava em lugares que eu não queria que ele me tocasse. Era horrível – falou o rapaz de brincos, vendo a menina se encolher um pouco. Antes de o rapaz terminar de falar, a senhora Mackson adentrou a sala e se viu furiosa ao ver o assunto que o homem tratava com sua filha. 

- O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! – gritou a mulher, assustando tanto a garota quanto os agentes. 

- ELA JÁ ESQUECEU TUDO ISSO! – argumentou a mãe de Kara, correndo até a filha e a pegando nos braços. 

- será que esqueceu? – perguntou Stiles encarando a mulher lhe fitar com indignação. 

- eu quero que você saia da minha casa, agora! – ordenou a Mackson mais velha, apontando para a porta da casa. 

- estou tentando ajudar a sua filha e é assim que nos trata? Não é à toa que está na situação em que está – disse o castanho se levantando e pegando a folha em que ele havia desenhado. 

- que situação? – perguntou a mulher, confusa com a fala do mais novo, em resposta, Stiles apenas virou a folha de desenho na direção da criança, revelando o mesmo pássaro que Kara havia desenhado no psicólogo. 

- você conhece esse pássaro, não conhece? – perguntou o castanho, vendo a menina arregalar os olhos, surpresa. 

- eu não quero mais ouvir. Apenas saia daqui – ordenou a mulher voltando a apontar para a porta. 

- senhora Mackson, nós suspeitamos que Stephen Michaels não seja o homem que estuprou a sua filha – disse Derek, vendo a mulher lhe fitar surpresa. 

- como não? Já prenderam ele! – argumentou a mãe de Kara, se afastando dos agentes, desconfiada. 

- Stiles analisou os arquivos do psicólogo de Kara – ditou Scott, de braços cruzados, encarando a mulher desviar o olhar para o castanho. 

- com apenas um desenho eu já descobri o que sua filha queria tanto dizer, mas estava impossibilitada pelo medo – disse Stiles, vendo a menina lhe encarar surpresa. Ele havia desenhado, exatamente, o mesmo pássaro que ela. 

- me diga, senhora Mackson, Kara já fez um desenho tão bem feito quanto esse alguma outra vez na vida? – perguntou Stiles vendo a mulher negar com a cabeça. 

- não. Quando o psicólogo nos mostrou esse desenho, nós ficamos surpresos – respondeu a mulher, abraçando a filha fortemente. 

- a senhora sabia que quando passamos por um trauma intenso, nós temos a capacidade de memorizar um detalhe desse evento e conseguir o reproduzir de várias maneiras, como por exemplo um desenho? – perguntou o castanho, vendo a mulher lhe fitar desconfiada. 

- o psicólogo nos disse a mesma coisa – respondeu a mãe de Kara, vendo o castanho sorrir ladino, antes de caminhar até um aparador que havia ali perto. 

- agora, eu lhe pergunto, a senhora reconhece esse pássaro? – perguntou Stiles vendo a mulher negar com a cabeça. 

- eu não entendi porque ela mudou de cor ou de pose. Mas o desgraçado do Stephen Michaels tem um broche de pássaro, daquele filme “Jogos Vorazes” – respondeu a mulher, vendo o castanho negar com a cabeça. 

- é, como o esperado. A suas emoções bloqueiam a sua mente. Vamos tentar assim – disse o castanho largando o desenho e puxando um porta-retratos e virando o mesmo para a mulher. 

A senhora Mackson ficou confusa com o ato do homem a sua frente. A foto exibida por Stiles era a mesma foto que Lydia havia mostrado no slide em que ela preparou para explicar o caso para eles. Na foto, o pai de Kara erguia a menina no colo, enquanto beijava a bochecha direita da mesma, enquanto que a mulher beijava a bochecha esquerda da garota, que sorria feliz no meio dos dois. 

- o que isso tem a ver com o caso? – perguntou a mulher, confusa e desconfiada. 

- olhe bem para esta foto. Se você achar o pássaro cobreado, tudo vai se resolver sozinho em sua cabeça – ditou o castanho, entregando a foto para a mulher, que desviou o olhar para a mesma, passando a analisar. 

- eu já vi essa foto um milhão de vezes. Não tem animal nenhum, aqui – respondeu a mulher, entregando a foto ao “agente” de cabelos castanhos. 

- eu nunca disse que o pássaro estava vivo – ditou o castanho apontando exclusivamente para Bryan, fazendo a mulher erguer uma sobrancelha para si, enquanto Kara se encolhia nos braços do mulher. 

- o que você quer dizer com isso? O meu marido jamais faria uma coisa dessas com a nossa filha! O meu marido não é um monstro! – ralhou a mulher, furiosa, encarando o castanho nos olhos. 

- senhora, eu fui estuprado pelo meu próprio pai por quatro anos. Eu acho que eu reconheço uma criança que teme o próprio pai. Na escola, Kara se abraçava a você, não por medo de Stephen, ou de qualquer outro. Ela escondia o próprio corpo no seu, porque o homem que vem abusando dela estava do outro lado, bem ao lado dela, sem que ninguém soubesse. – disse o castanho vendo a mulher negar com a cabeça desesperadamente. 

- está errado! Bryan não é um monstro. Ele até saiu no braço com o Michaels por causa da Kara – exclamou a mulher vendo o rapaz sorrir nasalado negando com a cabeça. 

- eu fiz uma pesquisa nos arquivos que Lydia, a nossa agente especialista em computadores, me passou. A senhora sabia que Stephen Michaels, além de professor, era o psicólogo da escola? – perguntou Stiles vendo a mulher dar de ombros. 

- estou pouco me importando para o que esse homem era ou é. Eu só quero ele longe da minha filha – respondeu a mulher vendo o castanho suspirar cansado. 

- eu entendo que como mãe e amante, a senhora não queira olhar para o seu marido como um dos suspeitos. “É sempre alguém de fora do ninho”. Todos pensam. Mas nós não conhecemos ninguém por completo. Sempre pode existir um monstro no ninho. Nem sempre eles vêm de fora – disse o rapaz de brincos, pegando o desenho e o colocando ao lado da foto. 

- sabia que há espécies de pássaros que são chamadas de “Parasitas de ninhos”? – inquiriu Alice, vendo todos lhe fitarem confusos. – as mães colocam os ovos em ninhos de outros pássaros. Os donos do ninho chocam os ovos, sem notar o intruso. Algumas espécies, quando nascem, devoram os filhotes do dono do ninho. E no seu ninho, tem um parasita. – explicou o castanho vendo a mulher olhar horrorizada para si. 

- olhe bem para esse pássaro. Eu só olhei para ele por pouco tempo e ainda assim consegui retratar tão perfeitamente quanto a sua filha. Esse pássaro, é o mesmo pássaro que tem na fivela do cinto do seu marido. Kara retratou ele tão bem, porque esse cinto é a primeira coisa que ela vê antes de o monstro se revelar para ela. E foi a última coisa que vi antes de desmaiar na frente do seu marido – explicou o castanho vendo a mulher negar com a cabeça. 

- se não acredita, porque não deixamos a Kara, falar? - sugeriu Derek, vendo a mulher apertar a filha nos braços. 

- MEU MARIDO NÃO É UM MONSTRO! – gritou a Mackson mais velha, olhando para o agente Hale com seriedade. 

- e se ele for? E se ele for esse monstro que eu falo e, ao invés de proteger a sua filha, como acha que está fazendo, você só está alimentando o monstro e traumatizando a Kara? – perguntou Stiles, vendo a mulher morder o lábio inferior, pensativa. 

- o meu marido não é um monstro – ditou a mulher, já chorando. 

- Kara, lembra que eu disse que o meu pai fez as mesmas coisas horríveis que fizeram com você, comigo? – perguntou o castanho, vendo a menina menear positivamente, chorosa. 

- eu contei para a minha mãe e para os policiais quem era o homem que fazia aquilo e eles prenderam o homem. O meu homem mau era o meu pai, Kara. Assim como o seu homem mau. Desde então ele nunca mais se aproximou de mim. Agora é a sua hora de dizer. Você pode colocar o monstro para fora! Pode mandar ele embora! Você só tem que dizer quem é o monstro que eu faço ele sumir. Ir embora – disse o castanho, com seriedade, vendo a menina encarar o chão, antes de olhar para a própria mãe. 

- diga, querida. Quem é o monstro? – questionou a senhora Mackson, receosa e esperançosa ao mesmo tempo. 

- é o seu pai, não é? Esse pássaro é o mesmo que fica na fivela do cinto do seu pai. Foi por isso que desenhou ele, não foi? – perguntou Stiles e tudo o que a menina fez foi menear positivamente. 

- o monstro... é o seu pai? - indagou a mulher vendo a filha começar a chorar, meneando positivamente. 

No mesmo instante a senhora Mackson se colocou a chorar, abraçando a filha apertado. Ela começou a pedir desculpas para a garota, dizendo não fazer a mínima ideia do que estava acontecendo a ela. Enquanto isso, Peter, Erica e Boyd adentravam o restaurante que pertencia a Bryan Mackson. Assim que os oficiais adentraram o local, o homem veio em sua direção, um pouco mais calmo. Erica arriscaria dizer que ele estava nervoso. 

- e aí? Pegaram o desgraçado? – perguntou Bryan, sorrindo nervoso na direção dos oficiais. 

- é claro que pegamos – respondeu Peter, com seriedade, vendo o homem respirar aliviado. 

- olha, me desculpem por hoje mais cedo, é que eu estava... – o Mackson começou a explicar, enquanto era encarado com seriedade pelo homem. 

- podemos conversar em particular? – inquiriu o Tate vendo Bryan menear positivamente, os guiando até o seu escritório no restaurante. 

Assim que adentraram o ambiente, Peter tratou de chamar por im garçom, deixando Bryan confuso. 

- Erica, você está afim de bater em um pedófilo? Porque se estiver, eu não vou fazer nada caso você agrida esse homem a minha frente – perguntou Peter, deixando Bryan mais confuso ainda. No mesmo instante, Erica avançou contra Bryan, enquanto Vernon se movia para trás do homem, segurando os braços do mesmo. 

- o que pensa que estão fazendo? – perguntou o Mackson, confuso enquanto se debatia para fugir dos braços de Vernon e dos socos de Erica, que os distribuía com fúria contra o abdômen do homem. 

- você, Bryan Mackson, está preso por estuprar a sua própria filha – ditou Peter, se sentando em uma cadeira que estava ali ao lado e erguendo uma mão para o garçom, chamando a atenção do pobre homem aterrorizado – um whisky, por favor – pediu o loiro, enquanto ignorava os vários golpes que Erica distribuía no culpado do caso. 

O homem meneou positivamente e, nervoso, tratou de servir o homem com o pedido do mesmo. 

- eles podem fazer isso? – perguntou o garçom, assim que retornara com o pedido do louro, vendo o patrão ser espancado, na sua frente sem que ele pudesse fazer nada. 

- fazer o quê? Eu não estou vendo eles fazerem nada. E você também não – respondeu o loiro, erguendo o copo com whisky para o garçom, como se estivesse brindando a algo. 

 

 

 


Ah, como eles odiavam todos aqueles sanguessugas. Eles deixavam de ser seres humanos a partir do momento em que exerciam suas profissões. O Hale sentia isso. O moreno de olhos verdes piscou os olhos algumas vezes, devido ao flashs desnecessariamente potentes de alguns daqueles jornalistas. Derek e Scott escoltavam a senhora Mackson e Kara da delegacia local para uma das viaturas. A polícia as deixaria na casa da família, onde a senhora Mackson faria as malas e seguiria com a filha para a casa da mãe. 

A mulher se sentia desolada. O homem com quem havia casado se revelara um monstro, maltratando a própria filha daquela forma. Acima de tudo, ela se sentia culpada. Culpada por não ter percebido o monstro com quem se casara antes, por não ter protegido a filha esse tempo todo. E, além disso tudo, se sentia culpada por colocar um homem inocente na cadeia. 

Com o depoimento de Kara sobre o que o pai fazia com ela, Stephen Michaels fora inocentado, sendo liberado da prisão. Agora, o homem estava em pé, ao lado da família, sendo alvo dos flashs, enquanto dava uma rápida coletiva. Algumas respostas simples era tudo o que o homem dava para os repórteres, enquanto abraçava a mulher e era abraçado pelos dois filhos. Assim que o homem fora liberado, fora a vez do xerife dar algumas respostas para a imprensa, mas ele não demorou muito, já que todas as perguntas ali tinham como assunto um caso do qual ele não participou da resolução. Sendo assim, logo Peter fora chamado para falar com os repórteres. O loiro se aproximou, com o seu típico sorriso galanteador. 

- o caso foi um pouco complicado, tenho que admitir. Nós viemos para cá focados em Stpehen Michaels, mas no final descobrimos ser Bryan Mackson. Não foi uma total surpresa, devo dizer, mas ainda assim descartamos completamente a possibilidade de ser o Senhor Mackson quando o encontramos pela primeira vez – explicou Peter, vendo todos focados em si, esperando a deixa certa para lhe encher de perguntas. 

- e como foi que vocês descobriram que não era Stephen Michaels o culpado pelo crime? – perguntou uma mulher, com um câmera Man logo ao lado. 

- a primeira duvida de que Stephen talvez não fosse o culpado, fora um documento na sala da advogada dele, que por sinal, está chegando ali – disse o loiro apontando para uma viatura, onde a advogada de Stephen Michaels descia, algemada. 

- olá, senhorita King. É um prazer revê-la, ainda mais nesta situação – cumprimentou o loiro encarando a mulher abaixar o rosto, tentando desviar das câmeras. 

- a advogada Melissa King foi uma peça chave para a prisão de Stephen. Como se já não bastasse o depoimento dos pais de Kara, sendo o pai o autor de todos eles. Bryan Mackson ainda comprou Melissa King, a advogada de Stephen, para que ela arruinasse a defesa do homem. Não sabendo que Bryan era o estuprador, e eu duvido muito que fizesse diferença se ela soubesse, Melissa King aceitou o acordo. A prova disso foi o documento que encontramos em seu escritório revirado pela vítima Stephen Michaels, enquanto conversava com outro agente ao telefone – disse o loiro, cruzando os braços diante do peito. 

- e que documento seria esse? – perguntou outro repórter. 

- era o comprovante de uma boa transferência em dinheiro feito pela conta de Bryan Mackson para a conta da advogada de Stephen Michaels. Assim que encontrei o documento, o agente Hale me informou que um de nossos especialistas descobriu que Bryan era o culpado e não Stephen – respondeu o loiro encarando várias mãos sendo erguidas. 

- e como o especialista descobriu isso? – perguntou outro repórter, vendo o loiro olhar para trás, encarando o único encapuzado dos membros da divisão federal que se encontravam atrás de si. 

- acho melhor deixar que ele mesmo explique – disse o loiro, vendo o castanho, por debaixo do capuz, lhe fitar em questionamento. 

- não – murmurou Stiles se aproximando um pouco de Allison e Scott, tentando se esconder atrás dos mesmos. 

- o quê? – perguntou Allison, confusa, também em sussurros, para não acabar chamando a atenção. 

- eu não devo ir lá – respondeu o castanho, vendo a morena lhe fitar brevemente, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Scott o empurrou para a frente, fazendo o castanho cambalear para a frente. 

- o que foi? Tem medo do público? – questionou Scott, sorrindo ladino na direção do encapuzado, que suspirou, irritado. 

- eu vou fazer de você um sete de ouros – ameaçou o castanho, antes de caminhar na direção do loiro, que apontava com a cabeça para os repórteres, enquanto lhe encarava. 

- vamos lá. Você não tem o que temer. Na verdade, duvido que tema até mesmo a morte – falou o Tate, longe do microfone, estendendo a mão para o castanho. 

- você lembra o que ocorreu da última vez que tentaram me fazer dar uma coletiva, não lembra? – indagou Alice, ainda longe do microfone vendo o Tate tomar um leve brilho tristonho nos olhos. 

 

Chapter 17: Kill

Chapter Text

A sua respiração era calma. Sabia o que estava fazendo. Não era a primeira vez, muito menos seria a última. Era incrível como era fácil prever o que aqueles homens iriam fazer que chegava a ser patético. Mas era mais incrível ainda como, desde antes dos dez anos de idade, já sabia manusear uma arma daquele porte. Suspirou uma vez mais, deixando toda a mínima tensão que ainda existia em seus músculos ir embora, antes de voltar a colocar o escopo a frente de seu olho, ampliando o seu campo de visão.

- quer um doce? – perguntou com sua voz calma.

Através do escopo, via o homem de tenro negro se aproximar da estrutura em que vários microfones estavam preparados para captarem sua voz. O homem começou a falar, com seriedade, encarando a multidão de repórteres que se encontravam a sua frente. Os flash’s eram lançados em sua direção há muito tempo, o que de certa forma o irritava, mas ele sabia que era necessário.

O país estava em crise com todas aquelas mortes estranhamente assustadoras. Eram tantas perguntas, mas o FBI ainda não havia dado nenhuma resposta. Ao fundo, na entrada do prédio do FBI, havia um grupo de homens muito bem vestidos. Enquanto o homem que se encontrava diante dos repórteres respondia a todas as perguntas, os agentes olhavam ao redor, preparados para qualquer situação, inclusive a de prováveis cidadãos revoltados.

- então que tal uma bala? – perguntou encaixando a mira do escopo abaixo do mamilo esquerdo.

O gatilho fora puxado e a bala fora disparada. O projetil voou pelo ar com tremenda velocidade, girando, com a ponta direcionada para a frente, cortando o ar, criando uma série de ondas no mesmo. Primeiro o calor gerado pela velocidade do projetil queimou o terno azul escuro, para em seguida atravessar o mesmo, criando um buraco que lembrava um pouco o seu formato. Depois atravessou a camisa social branca, também a queimando, antes de queimar a pele morena, perfurar a mesma, atravessando vasos sanguíneos, os rompendo, fazendo sangue jorrar no interior do corpo. A bala acertou a parte inferior de uma das costelas, rachando a mesma, arrancando até um pedaço dela, antes de ser redirecionada para baixo, onde atravessou o coração e se alojou no fundo da caixa torácica, enquanto era banhada pelo líquido vermelho que jorrava descontroladamente. O caos era grande. Pessoas corriam de um lado para o outro, desesperadas. Elas gritavam aterrorizadas, enquanto o corpo do homem caía para trás, com uma mancha escura surgindo em seu terno. No mesmo instante um dos homens correu na direção do homem baleado, se apressando em pressionar o ferimento.

- merda! Merda! Merda! – repetia o homem, erguendo o peito do outro, enquanto o pressionava, e o arrastava para longe do local.

- você... – o agente baleado falou, levando uma de suas mãos trêmulas para o peito do outro, apertando os seus dedos ao redor do tecido do terno azul escuro do outro.

- merda! Você é mesmo um idiota – soltou o homem, encarando o moreno em seus braços.

- você... C-con... – o moreno tentou falar, mas a dor em seu peito era tamanha, que ele não possuía forças.

- cala a boca, porra. Você só vai falar depois que isso se curar – ordenou o homem, pressionando o ferimento com mais força, mas o maldito sangue continuava a sair do maldito buraco de bala.

- me escuta – disse o moreno depois de uma boa inspirada.

- parceiro, cala a boca – ordenou mais uma vez.

- continue. Você tem que continuar – falou o moreno encarando o outro nos olhos.

- Para! Você vai sair dessa. Não pense merda agora – ordenou mais uma vez, encarando o moreno engolir com dificuldade.

- você tem que continuar. Isso tem que parar – ditou o moreno, com dificuldade, começando a respirar com dificuldade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

- quem diria que o grande Alice, o cara que todo os agentes veteranos temem, é, na verdade, uma pessoa bem tímida, ao ponto de ter medo de público! – exclamou Scott, assim que chegaram a base, onde Lydia os esperava, analisando alguns arquivos.

- morra – fora tudo o que o castanho dissera, antes de se isolar em uma das cadeiras de uma das várias mesas daquele local, passando a apenas encarar uma carta do seu baralho, enquanto brincava com o brinco de copas com a mão que não segurava a carta que ele encarava.

- confesso que também fiquei surpresa – falou Allison, encarando o castanho, encolhido na cadeira giratória de uma das mesas do canto.

- deixem o garoto em paz – falou Peter, se sentando na grande mesa redonda em que eles normalmente se reuniam.

- eu não entendi o motivo do medo do público. Ele falou tão bem. Nem parecia estar nervoso – pontuou Isaac, vendo Allison dar de ombros.

- eu também não – fora tudo o que Vernon dissera, observando os agentes encararem o castanho, isolado.

- do que vocês estão falando? – perguntou Lydia, confusa, enquanto levava o telefone fixo ao rosto, discando o número para o qual sempre ligava quando o caso se encerrava.

- da entrevista do Stiles – respondeu Isaac, vendo a ruiva o fitar confusa.

- quando o caso foi encerrado, Peter e ele deram umas palavrinhas com a imprensa – explicou Scott, olhando para a ruiva, que meneou em compreensão, antes de olhar para Peter, em um questionamento silencioso.

- ele até que falou bem, mas aquele final foi um pouco... estranho – falou o moreno de queixo torto, encarando o castanho, novamente.

- podemos falar de outra coisa? – inquiriu Derek vendo os agentes lhe fitarem questionadores, com exceção de Peter, que apenas abaixou a cabeça, coçando a nuca.

- você também era prisioneiro do FBI, Isaac? – perguntou Erica, curiosa, encarando o loiro lhe fitar surpreso, pela pergunta.

- pelo que eu saiba, ainda somos, só não estamos mais em Alcatraz – respondeu o loiro, vendo a loira sorrir em sua direção.

- e como você foi preso? – perguntou a mulher vendo o loiro tomar uma expressão séria.

- bom, eu fui preso pelo meu melhor amigo, antes mesmo de ele sair do colégio para se tornar um agente – respondeu o loiro, vendo a Reyes lhe fitar confusa.

- mas eu achei que... – comentou apontando para Scott, antes de tomar uma expressão de choque.

- vocês eram melhores amigos? – indagou a loura surpresa, observando o McCall lamber os lábios, encarando a mesa, enquanto Isaac apenas olhava através da janela do local, entediado.

- erámos mesmo. Antes de alguém me abandonar para se tornar uma versão adolescente e loira do Breaking Bad – respondeu Scott, ouvindo Isaac bufar irônico, soltando um “Ha!” logo após.

- é sério isso? Ainda quer bancar a vítima? Pensei que tivesse crescido, pequeno Mascott – o Lahey soou venenoso na pronúncia do apelido do moreno de olhos castanhos.

- não me chame disso – rosnou o moreno de queixo torto, vendo o loiro de cabelos cacheados sorrir ladino.

- ou o quê? Vai me bater? Me machucar? Me prender? – perguntou o loiro, vendo o moreno sorrir nasalado.

- calem a boca – eles puderam ouvir o castanho da divisão dizer, de seu canto, de costas para o grupo.

- fica quieto que o papo não é com você – ralhou Scott, ignorando o castanho e focando o olhar no loiro.

- eu disse para calar a boca. Vocês ficam discutindo o passado como se isso pudesse mudar alguma coisa. Aconteceu, já foi. Scott prendeu o Isaac. Isaac sofreu na prisão e pronto! Falar disso agora não vai mudar nada. Nem o passado, nem o futuro. Vocês se odeiam e vão continuar assim se não esquecerem essa merda. Vocês são patéticos! Parecem até damas. Seguem em frente, mas mais cedo ou mais tarde voltam atrás – falou o castanho, chamando a atenção do grupo, que lhe fitou um tanto surpreso.

- já disse para você ficar de fora! Você não sabe de nada do que aconteceu. Não pode ficar opinando sobre nossas vidas – o agente McCall voltou a ralhar irritado pela intromissão.

- sei que não entrei para essa divisão para um agente inexperiente ficar discutindo o seu passado simplório com um gênio da química – rebateu Stiles, ainda de costas para a mesa redonda onde os outros se encontravam.

- ui – alfinetou Erica, vendo Scott soltar o ar pelas narinas debochado.

- e você acha que eu vim para cá para ouvir um assassino falando do meu passado mal resolvido, enquanto ele e o meu parceiro vivem se alfinetando para cima e para baixo? – argumentou o moreno de olhos castanhos, ouvindo o castanho de olhos da cor âmbar soltar uma risada.

Era possível ver o corpo do castanho tremer, enquanto o mesmo ria. Stiles levou a mão com a carta que tanto encarava ao rosto, tentando abafar a sua risada. Ele gargalhava, enquanto tentava controlar o som que saía de sua boca. Desistindo de controlar a si mesmo, o castanho apenas se permitiu colocar para fora aquilo que tanto lutava para sair por seus lábios. Jogando a cabeça para trás, Stiles gargalhou alto.

O encapuzado se levantou e, ainda gargalhando como se alguém tivesse lhe contado a piada mais engraçada do século, caminhou em direção a mesa. O homem com capuz parou de gargalhar, observando o moreno de olhos castanhos com um olhar predatório. O clima havia se tornado tenso. A gargalhada nada inocente do Stilinski deixou todos alarmados. Stiles era um assassino muito habilidoso para se deixar de lado após um ato daqueles. Derek engoliu em seco quando viu o castanho lamber os lábios na direção de Scott, que o encarava com intensa seriedade.

- vamos deixar algo bem claro aqui, agente McCall – disse o castanho colocando as mãos sobre a mesa, antes de colocar o joelho e se içar para subir na mesma.

- Stiles! – repreendeu Peter, mas o castanho lhe ignorou prontamente, engatinhando sobre a mesa, de forma lenta e manhosa, quase erótica.

- nada... no seu passado simplório de filhinho do papai... – dizia o castanho, jogando a caneca com água e algumas folhas para o lado, antes de se colocar cara a cara com o moreno de queixo torto, que já tinha uma das mãos na própria arma, a apontando para cima, discretamente.

- Stiles – repreenderam os agentes Argent e Hale, tentando se aproximar.

- pode se comparar com o meu. Então não venha comparar a sua situação com o Isaac a minha com o Derek, pois elas não chegam nem perto uma da outra. Então faça um favor a si mesmo: fique calado, fique quieto e na sua. Apenas faça o seu trabalho. E não tente discutir a sua relação com a cachinhos dourados e me irritar ao mesmo tempo – disse o castanho se aproximando ainda mais do McCall que teve que recuar um pouco na cadeira para que apenas a ponta de seu nariz tocasse a ponta do nariz do castanho a sua frente.

- ou o quê? – o moreno de queixo torto ousou provocar, em um sussurro, enquanto deixava o dedo preparado no gatilho. Stiles sorriu, fazendo o ar que soltara por suas narinas atingir os lábios do agente de queixo torto, que se encontrava nervoso com a situação, embora tentasse não demonstrar para os outros, já que Stiles, provavelmente, já sabia como ele se encontrava.

- ou eu vou pegar essa mesma arma que você está apontando para mim e vou me divertir muito com ela. Mas brincar sozinho não tem graça. Por isso vou chamar alguém para se divertir comigo. Alguém como o seu pai. Aí, sim, você... – o castanho fora impedido de terminar quando uma mão se agarrou em seu pescoço e lhe jogou para o lado, o fazendo rolar na mesa, antes de cair da mesma.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rafael caminhava por entre todos os entulhos daquele lixão. Havia de tudo ali. Sucata, comida, objetos velhos, panos, móveis acabados. De tudo o que pudesse imaginar que alguém jogasse fora. Mas havia algo que não se encaixava naquele lugar. O moreno de olhos castanhos escuros suspirou, puxando do bolso do sobretudo um lenço branco, com bordados feitos a mão e o levou ao rosto, cobrindo o nariz e a boca com o mesmo, tentando amenizar o mau cheiro que emanava do local.

Ele não demorou para achar o parceiro, próximo há mais algumas faixas de contenção amarelas. O agente passou pelas faixas e encontrou o motivo de estar ali. O McCall encarava o tal algo que não se encaixava naquele lixão. Ele parou ao lado de Chris Argent, vendo o mesmo com o braço sobre o nariz, esperando que o perfume em sua roupa amenizasse o mau cheiro.

- mais um – falou Chris, encarando o corpo pálido jogado naquele lixão a céu aberto.

- e como sempre, é um cadáver recente – disse o McCall encarando o corpo jovem, pálido, porém conservado.

- advinha só – pediu o Argent, encarando o parceiro lhe fitar questionador.

- nenhum sinal de golpe, asfixia ou qualquer ferimento – chutou Rafael, vendo o parceiro de cabelos um tanto grisalhos menear positivamente.

- deve ser mais um dos drogados – ditou Chris, vendo um dos legistas se aproximar, enquanto os forenses finalizavam a perícia.

- e é. Olhe as olheiras. Ele não passa bem há um bom tempo – falou um dos forenses, batendo com a câmera na palma da mão.

- acharam algo no corpo? – perguntou Rafael vendo o rapaz negar com a cabeça.

- se houver algo nesse corpo, só acharemos na autópsia. Mas, até agora, tudo o que encontramos foi apenas pó azul nas narinas – disse o perito, esticando o lábio para a esquerda, em contentamento.

- pó azul – murmurou Rafael, pensativo e cansado.

- de novo! Com certeza vamos mandar para a equipe da Narcóticos e eles vão nos dar a mesma resposta – soltou Chris, cansado daquilo tudo.

- não é como se fosse impossível rastrear esses caras. Tem que ter um jeito. Não dá para não deixar rastros. Nem mesmo Alice conseguia isso! Aquele filho da puta deixava rastros, mas esses aqui também devem ter deixado algum – argumentou o agente McCall já cansado de toda aquela situação. Eles estavam naquele caso há algum tempo. Era sempre assim. Corpos e mais corpos, mas nenhuma pista.

- a diferença, Rafael. É que Alice deixava os rastros de propósito. Esses caras não me parecem ter a mesma intenção – falou Chris, analisando com cuidado, novamente, o corpo magro, de pele clara e cabelos castanhos repicados.

- eles não podem ser fantasmas, Chris – o McCall voltou a argumentar.

- eu sei. E é por isso que temos que revisar tudo. Estamos deixando algo passar – respondeu o Argent, liberando o corpo para os legistas, que passaram a remover o mesmo.

- temos que fazer isso rápido. Se demorarmos mais, vão acabar dando o nosso caso para eles – ditou Rafael, vendo o parceiro se erguer e lhe fitar com seriedade.

- é pouco provável. Mesmo que não tenham falhado em nenhum caso, ainda, eles são inexperientes demais para receber um caso dessa magnitude – argumentou Chris trocando de braço para cobrir o nariz mais uma vez.

- eu concordo. Mesmo que Peter seja experiente, por mais que, estranhamente, Alice esteja obedecendo ao Peter como um cachorrinho, eles ainda não estão prontos para algo tão grande. Mas... – comentou o McCall vendo o Argent lhe fitar esperando pela continuação.

- mas? – inquiriu Chris, curioso, enquanto analisavam a cena de crime.

- eu não sei. Alan parece animado com essa divisão. Ele está se divertindo com os resultados – ditou Rafael vendo o parceiro fitar com seriedade

- ele não é nem doido de passar o nosso caso para eles – ralhou Chris, irritado com a ideia.

- então não podemos falhar – comentou Rafael encarando o parceiro com determinação.

- isso não. Eu não vou ser mais um agente que não consegue resolver casos – soltou o mais velho dos dois, levemente irritado.

- nós vamos pegar esses caras – ditou Rafael, determinado, apertando o ombro do parceiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para a surpresa de quase todos ali presentes, o castanho caiu abaixado com as mãos e a ponta dos pés apoiados no chão. O assassino ergueu o olhar quando passos ecoaram pelo carpete que cobria o chão de madeira do local, vendo um par de tênis negros se aproximar e, novamente, uma mão lhe agarrou, mas dessa vez em seu colarinho, o forçando a se erguer parcialmente. Logo a imagem de Derek surgiu em seu campo de visão.

- eu quero falar com você. Na minha sala. Agora! – rosnou o moreno de olhos verdes, antes de soltar o castanho e se dirigir para uma das salas que ficavam de frente para a sala de interrogatório. Stiles se ergueu, sorrindo largo, antes de começar a caminhar na mesma direção que o moreno de olhos verdes seguiu.

- eu vou com você – falou Peter, já se levantando.

- você fica aí. Isso é entre nós dois – ditou Stiles, seco, embora o seu sorriso ainda estivesse em seus lábios, o que deixou todos confusos.

Stiles adentrou a sala, em silêncio, fechando a porta devagar. Derek se encontrava ao lado da janela, de braços cruzados, apenas esperando pelo outro. Assim que a porta se fechou, Peter sinalizou para Lydia, que apertou um botão no computador e logo em seguida mexendo nas caixas de som, aumentando o volume.

- o que quer? – perguntou o castanho, se dirigindo para uma das cadeiras da sala, se sentando na mesma, despretensiosamente, com as pernas sobre a mesma.

- conversar – respondeu Derek, friamente, encarando as pessoas caminhando logo abaixo, seguindo com a vida delas.

- conversar?! Você?! Comigo?! Hunf! Apenas pergunte o que quer saber e me libere daqui – falou o Stilinski levando uma das mãos ao brinco de copas, brincando com o mesmo entre os dedos.

- é assim que você demonstra gostar de mim? Ameaçando o meu parceiro? – perguntou Derek, vendo o castanho bufar entediado.

- eu disse que gosto de você, não dele. O luto é passageiro. Você chora agora, mas depois esquece. Sem contar que eu disse para você me perguntar o que quer saber, mas está enrolando – respondeu o castanho, retirando o capuz que vestia.

- espera! Eles se odeiam, mas se gostam? Eu já não estou entendendo nada – indagou Erica, confusa.

- Stiles tem um certo apreço pelo meu sobrinho, mas Derek o odeia – explicou Peter, vendo a loira lhe fitar.

- esse cara é ridículo! – exclamou Scott, cruzando os braços.

- fica quieto! – ordenou Isaac, concentrado na conversa.

- você por acaso sabe o que eu quero saber? – perguntou Derek, vendo o castanho soltar um “hunf”, dando de ombros e se levantando.

- eu estou mais do que surpreso por não ter me perguntado antes – respondeu Stiles cruzando os braços e começando a caminhar pela sala.

- você quer saber sobre o que eu disse lá na casa dos Mackson, certo? – inquiriu o castanho, vendo o moreno de olhos verdes dar as costas para a janela, cruzando os braços e se apoiando no batente da mesma.

- aquilo era verdade? Ou foi só mais uma mentira sua? – indagou o Hale vendo o prisioneiro deslizar os dedos pela madeira de sua mesa.

- muito inteligente de sua parte não manter fotos de sua família no trabalho – murmurou o castanho, pensativo.

- não se esquive da minha pergunta! Me responda! – ordenou Derek, encarando o castanho suspirar, cansado e se aproximar de si.

-talvez seja verdade, talvez não seja. Agora... a pergunta que eu tenho para fazer é: - falou o castanho, despretensiosamente, enquanto ajustava a jaqueta de Derek ao corpo do mesmo, que o encarava com seriedade, tentando decifrar qualquer mentira nas palavras do mais novo.

- o que isso tem a ver com você? Por que se importa? – perguntou o o assassino, finalmente encarando os olhos verdes que lhe fitavam com seriedade, vendo, agora, os mesmos tomarem um leve brilho surpreso no olhar.

- como assim? – perguntou Derek vendo o outro dar de ombros e se afastar.

- bom, eu não vejo a diferença que lhe fornecer essa informação ira fazer em sua vida, ou em nosso jeito estranho de nos relacionarmos. Você vai continuar me odiando, sendo verdade ou não. Então por qual motivo eu devo lhe responder? – argumentou Stiles se posicionando do outro lado da mesa, sentando sobre a mesma e balançando as pernas, inocentemente.

E lá estava a coisa que mais assustava a Derek no castanho: a falsa inocência. Stiles, às vezes, se comportava de forma mais inocente do que Isaac, chegando a se parecer com uma criança em um corpo jovial de um rapaz de vinte e um anos. O castanho balançava as pernas, que não alcançavam o chão, enquanto sorria minimamente, com a cabeça inclinada para o lado, apoiada em um dos ombros, que estavam encolhidos por causa das mãos apoiadas na madeira da mesa.

- tem razão. Foi besteira. Isso não vai me fazer deixar de lhe odiar. Nada vai me fazer deixar de lhe odiar – ditou o moreno de olhos verdes, vendo o mais novo dar de ombros.

- é, né? Fazer o quê? É a vida, não é? – disse Stiles vendo o moreno de olhos verdes cerrar os punhos.

- é. Faz parte da vida odiar o homem que matou o meu pai – ditou Derek irritado. 

Fora da sala, os olhos de Erica, Isaac e Vernon se arregalavam para a fala do agente Hale.

- ele matou o pai do Derek? – perguntou Isaac, perplexo, encarando Peter, que suspirou cansado, levando uma das mãos aos cabelos.

- é isso aí. Eu lhes apresento o motivo de Derek Hale odiar o Alice. O pai do Derek foi a última vítima dele – respondeu Scott sorrindo ladino para a expressão de choque dos prisioneiros.

- então está explicado todo esse ódio pelo carinha – murmurou Erica, pensativa.

Stiles sorriu orgulhoso e divertido.

- hehe! Eu tento fazer o meu melhor – ditou com um sorriso largo no rosto, vendo o moreno de olhos verdes lutar para não avançar contra si.

- você realmente não vale nada. Você é um lixo! Eu tenho nojo de você! – ralhou o agente Hale com todo o ódio que poderia expressar em sua voz.

Derek ficou ali, vendo o castanho fazer um pequeno bico inocente com os lábios, antes de dar de ombros, lançando um olhar pidão para si. O moreno de olhos verdes odiava ainda mais quando o castanho fazia isso. Ele odiava quando Stiles desprezava a vida das pessoas. Ainda mais quando a vida desprezada era a do seu pai.

- eu... deveria me sentir mal com suas palavras? – inquiriu o castanho, erguendo as mãos, confuso.

- é, você deveria, sim! Mas eu acabei de lembrar que você deve estar ocupado de mais, sendo um monstro que não liga para a vida dos outros – rosnou o moreno de olhos verdes, entredentes, encarando o outro sorrir docemente em sua direção, com um brilho divertido nos olhos.

- sim! Você tem razão. Ser quem eu sou toma muito do meu tempo. Ser o monstro de sua história boba me toma tempo, paciência e emoções suficientes. Não preciso pensar em mais ninguém – falou o castanho de olhos claros, vendo o Hale cerrar o punho, enquanto respirava fundo.

- entretanto, acabei de perceber que tenho um espaço vaho na minha agenda. Sabe como é, não é? Essa vida perfeitinha de mauricinho é uma loucura! Não sei como vocês conseguem lidar com ela desde que nasceram! Olha, eu vou fazer uma forcinha para ver se consigo algo para você. Só não lhe prometo flores, lágrimas e um luto de dias – disse o Stilinki, surpreendendo o moreno de olhos verdes, que se viu mais irritado ainda.

- posso ir agora? – perguntou Stiles, vendo o moreno finalmente se mover pelo ambiente.

Derek marchou a passos rápidos e pesados em sua direção, fazendo com que os seus passos pudessem ser ouvidos até no andar de baixo. O moreno de olhos verdes empurrou o castanho contra a parede, após o mesmo sorrir divertido para si. As mãos de Derek se prenderam firmemente nas roupas de Stiles, enquanto encurtava o espaço entre os seus corpos.

- não deboche da morte do meu pai, Stiles! Isso é algo que eu nunca vou admitir – rosnou o Hale, entredentes, vendo o prisioneiro rolar os olhos.

- certo. Sinto muito por isso. Mas lhe irritar é o único meio de fazer você retirar tudo o que você tem aí dentro – falou o Stilinski, voltando a ajustar a jaqueta do Hale ao corpo do mesmo.

Derek estava sem reação. Era a primeira vez que ele via Stiles agir como um ser humano normal, que se importava com algo. O moreno olhou desconfiado para o castanho, que ignorava o seu rosto em função de se concentrar na tarefa de desfazer o amassado no bolso do peito da jaqueta do homem a sua frente.

- você está brincando comigo – o moreno de olhos verdes soltou, ainda desconfiado.

- talvez eu esteja, talvez não – argumentou Stiles, soltando o moreno, que lhe empurrou mais uma vez contra a parede, com mais força, antes de lhe soltar.

- Deus sabe o que faz. Você merece ter um pai como o da Kara – murmurou o moreno, se afastando do castanho, que sorriu nasalado.

- ah, com certeza. Misericordioso seja o nosso bom Senhor – soltou o castanho, irritado, o que surpreendeu Derek.

Antes mesmo de o moreno de olhos verdes expressar alguma reação a fala do outro, Stiles já batia a porta com força, fazendo todos os vidros das paredes da sala tremerem. Derek ficou ali, parado, confuso. Ele procurava entender o que diabos havia ocorrido ali. Stiles nunca fora de demonstrar qualquer tipo de fraqueza, seja física ou psicológica. Então, sim, o agente Hale estava bastante surpreso com a irritação alheia para com as suas palavras.

- mas o que...

Chapter 18: Jaded

Chapter Text

Derek chegou em casa, cansado. Não fisicamente. Uma vez que, naquele caso, ele praticamente não fizera nada demais, apenas cuidar da garota e da mãe da mesma. Ele estava esgotado emocionalmente. Aquilo sempre acontecia desde que começara a trabalhar naquela divisão. Lidar com Alice lhe desgastava e muito. Ele se quer tinha ânimo fora do trabalho. Estar sempre perto do assassino do seu pai era desgastante. Sempre que começava a se distrair com algo, aquele maldito vinha em sua cabeça, e com ele, todo o ódio que Derek nutria pelo castanho. O Hale suspirou cansado, ainda dentro do seu carro, na garagem, enquanto encarava o nada, pensativo. Levou as mãos ao rosto, escondendo o mesmo, antes de deslizar as mesmas pelos cabelos negros.

Derek simplesmente não entendia o que merda estava acontecendo com a sua vida. Já havia se passado muitos anos. O Hale não tinha mais quinze anos, mas as mesmas emoções que ele possuía na época vinham lhe atingindo com a mesma intensidade que lhe afetavam há anos. Ele se lembrou de tudo. Das reportagens, do luto de sua escola, do funeral, de tudo. Até mesmo da primeira vez em que viu Stiles: o julgamento.

Aquele, sem dúvida alguma, foi o momento em que seu ódio pelo castanho surgiu. Ele se lembrava muito bem daquele dia. Tudo ainda estava fresco em sua mente, embora ele tivesse feito consultas com o psicólogo do FBI, quando adolescente e até mesmo quando já estava na academia. Ele se lembrava do ódio que adquiriu por baralhos devido aos brincos do castanho. Até se afastava de garotas que tinham o nome dele: Alice.

Stiles, mesmo sendo apenas uma criança, havia lhe traumatizado fortemente. E tudo apenas piorou quando ele, assim que entrou no FBI, passou a pesquisar sobre o castanho. Derek adquiriu novas aversões. Ele odiava a pascoa, odiava coelhos. Odiava fábulas, principalmente a de Alice. Havia tanta coisa que Derek passou a odiar por causa do castanho, que sua família não sabia como interagir com o homem. Os Hale evitavam a chama do ódio que residia no peito do moreno. Portanto, evitavam, sempre que podiam aborrecer o mesmo. 

Talia tentava, mas o filho nunca se abria com ela. Laura e Cora então? Elas se quer ousavam tocar em qualquer assunto ligado a morte do pai. Mas elas não chegavam a ser tão diferentes de Derek. Elas tinham uma leve aversão a baralhos, odiavam armas, evitavam, ao máximo, a história de Alice no País das Maravilhas. Odiavam a pessoa que havia lhes tirado o pai. No entanto, Derek extrapolava os limites. Qualquer sinal de baralho já era o suficiente para o homem se retirar a passos pesados, ou até mesmo surtar.

No dia em que Cora ganhou um coelho do namorado veterinário no dia dos namorados, Derek só faltou colocar o bicho, Cora e o cunhado para fora da casa. Ocorreu uma grande discussão na casa, a qual Derek saiu perdendo. Laura e Talia já estavam cansadas do jeito obsessivo do moreno de olhos verdes para com a morte do pai. Uma coisa era sofrer pela morte de alguém e guardar ressentimento; criar uma obsessão odiosa que lhe causava ataques de fúria era outra coisa completamente diferente.

- por que merda tudo isso teve que acontecer comigo? – perguntou em um murmúrio, enquanto encarava o painel do carro.

Derek desceu do veículo, travando o mesmo logo em seguida. Ele retirou a aliança do pescoço, a colocando no dedo e se dirigindo para a porta que levava ao interior de sua casa. O moreno de olhos verdes adentrou o corredor, fechando a porta da garagem e colocando a chave do carro no recipiente em que sempre colocavam as chaves de seus carros ou da casa. Ele alcançou a sala, suspirando um pouco relaxado por se encontrar em casa.

- estou em casa! – falou o moreno de olhos verdes, em alto e bom tom.

- já estava ficando preocupada. Ouvi o carro entrando na garagem, mas você não saía – falou uma mulher castanha, com a cabeça para o corredor, enquanto o corpo se mantinha na cozinha.

- é. Me desculpe. Eu estava pensando – ditou Derek caminhando pela casa até chegar a porta do cozinha, onde se apoiou com o ombro da parede.

- trabalho? – perguntou a mulher se aproximando e tomando os lábios do homem em um beijo calmo e rápido.

- sim – mentiu Derek vendo a mulher em seu pijama de camisa rosa e calça vermelha.

De cerra forma, não era, realmente, uma mentira.

- é mais um caso sigiloso ou eu posso saber sobre esse? – perguntou a mulher, voltando imediatamente para o fogão, passando a mexer uma colher de madeira em uma das panelas.

O cheiro da comida estava excelente. O jeito como Paige cuidava da casa era mais um dos vários motivos de Derek para amar a mulher a sua frente. Ela era sempre tão carinhosa e compreensiva, mas sabia ser durona quando precisava. Tanto que foi assim que eles se conheceram. Em uma festa, a mulher estava sendo cantada por um grupo de rapazes, que começaram a forçar a barra. Quando Derek e seus amigos da academia iriam defender a moça, a mesma já havia derrubado todos, chamando a atenção do Hale para si.

- e o que temos para hoje? – perguntou Derek vendo a mulher sorrir ao entender que ele não falaria nada.

- bolo de carne. Estou fazendo o favorito da Valerie para a sobremesa – respondeu a castanha, erguendo a colher de madeira, revelando uma cauda escura.

- por falar nisso, onde ela está? A casa está meio quieta – perguntou Derek, olhando para a mulher com certa desconfiança.

- ela está nos Mourmon’s, brincando com o David – respondeu Paige, encarando a casa ao lado pela janela.

Derek seguiu o olhar da mulher para a casados Mourmon’s, vendo a mãe de David, a sua vizinha, passando pelo corredor com uma caixa em mãos. Derek sentiu o peito apertar. Desde o final do caso que ele ansiava pegar a filha nos braços e a apertar forte. Querendo ou não, ele via muito da filha em Kara. Valerie adorava desenhar, e era por isso que a geladeira atrás de Paige mais parecia um mural do que uma geladeira.

- seria muito rude eu ir buscar ela? – inquiriu o homem de olhos verdes vendo a mulher estreitar o olhar, confusa, em sua direção.

- por que? – perguntou desconfiada, mas antes que Derek respondesse, a mulher estalou os dedos.

- o caso de hoje. Eu vi o seu tio no noticiário – a mulher respondeu a própria pergunta, vendo o marido menear positivamente.

- é claro que não vai ser rude, docinho. Você precisa dela depois de tudo o que presenciou hoje. Vá em frente. Eu já iria pedir para que você fosse buscar ela para o jantar, mesmo. A Megan jamais iria se incomodar – disse Paige, antes de se aproximar do marido, abraçando o mesmo e o beijando na bochecha, antes de voltar a sua atenção para o fogão.

 

 

 

 

 

 

 

 

Stiles teve as algemas retiradas e logo fora empurrado para dentro da própria cela. Ele suspirou, cansado assim que a grade da cela fora batida, indicando o seu trancamento. O castanho subiu na cama de cima de sua cela solitária, tentando, em vão, não se importar com as memórias de seu passado. O som de descarga fora dado e Stiles estreitou os olhos, encarando o teto.

O castanho ouviu passos virem do pequeno quartinho que era o banheiro e suspirou, cansado, levando as mãos ao rosto. O mundo só poderia estar de brincadeira consigo. O universo realmente só poderia lhe odiar. Sem usar os braços, Stiles se sentou na cama, lentamente, como uma daquelas cenas de filme de terror em que a pessoa possuída passa a levitar sobre a cama.

- eu sugiro que vocês fiquem quietos – ditou o castanho, calmamente, ainda com as mãos na frente do rosto, não podendo ver os sorrisos vitoriosos que moldaram os lábios dos três.

- vocês têm cinquenta minutos – disse o guarda, erguendo a dinheiro que recebera dos três para que os colocasse ali.

- deve ser o suficiente para a gente se divertir com a nossa nova garota. Não é, Rei? – perguntou o mais magro do três, o qual Stiles gostava de chamar de Rainha.

- estarei no final do corredor – disse o guarda, batendo com o cassetete na grade, antes de se afastar.

- você vai descer daí ou quer que a gente lhe desça? – questionou o mais baixo, enquanto o Rei já começava a retirar a própria roupa.

- vocês querem mesmo fazer isso? – perguntou Stiles, ainda com as mãos cobrindo o rosto.

- só desce logo daí que meu pau está doido por atenção de carne nova – ditou o Rei, sorrindo ladino na direção do castanho.

- vamos, seja uma boa menina e nós podemos ser um pouco carinhosos com você – brincou o mais baixo, também já retirando as próprias roupas.

- aí é que está o problema – argumentou o castanho, fazendo os três bufarem irritados.

- SÓ DESCE LOGO, PORRA! – gritou o mais magro se aproximando e agarrando o tornozelo do castanho, tentando o puxar para baixo.

Stiles chutou o rosto do homem ao jogar a perna para o lado, fazendo o homem girar para o lado, com as mãos no rosto. O mais baixo tentou se aproximar para ajudar, mas Stiles se inclinou para a esquerda, dando as costas ao grupo e jogou a pernas para trás, fazendo o calcanhar acertar a orelha do mais baixo, que também girou para o lado com o golpe. O Rei se aproximou e agarrou a perna do castanho com força, mas Stiles puxou a perna para si, fazendo o homem se aproximar um pouco.

Para o porte atlético do castanho, ele era incrivelmente forte. Os prisioneiros da cela em frente se animaram com a briga e começaram a incentivar a mesma, gritando para animar os outros presos e torcendo para qualquer um que estivesse ganhando. O Stilinski voltou a empurrar o pé, atingindo o nariz do careca com força, fazendo o mesmo cambalear para trás, com a mão no nariz dolorido. Assim que retirou a mão do nariz, o homem que se auto intitulava Rei viu sangue na mesma. Ele sentia o líquido vermelho escorrer do seu nariz, o que lhe deixou mais furiosos ainda. O homem olhou para o castanho, vendo o mesmo rolar para o lado, se jogando da cama, ainda com o rosto cobrindo as mãos. Stiles caiu de quatro, antes de se erguer calmamente. Nenhum dos três ousava cogitar a ideia de que o rapaz estava distraído.

Se com as mãos no rosto Stiles já fizera tudo aquilo, sem elas o rapaz deveria ser ainda mais difícil de se enfrentar. O castanho se virou, com um olhar sério, quase entediado, para o trio, que engoliu em seco, com receio, mas que não deixava de demonstrar a raiva que sentia, muito menos deixando de lado a ideia de agredir o castanho.

- eu já cansei de ser uma boa menina – o castanho falou calmamente, enquanto cruzava os braços, enfiando as mãos dentro do macacão laranja que usava.

- hunf. E o que pensa que pode fazer? Somos três contra você sozinho – perguntou o mais baixo, vendo o castanho sorrir ladino.

- eu vou lhe mostrar como um verdadeiro valete faz – disse o castanho, retirando as mãos de dentro do macacão, revelando dois baralhos, um em cada mão.

- Há! O que pensa que vamos fazer? Jogar pocker? – inquiriu o careca, sorrindo largo para o castanho.

- não. Eu vou brincar de ser a primeira – respondeu o castanho, deixando os homens confusos.

Stiles encurtou o espaço entre os dedos, forçando as cartas a se curvarem para trás, antes de serem disparadas contra o trio, que sorriu. No entanto, o trio de prisioneiros parou de sorrir logo que todas aquelas cartas começaram a acertar os seus rostos, os impossibilitando de ver qualquer coisa. Assim que a chuva de cartas em seus rostos parou, Stiles já se encontrava diante deles.

O castanho chutou a barriga do mais baixo, antes de golpear a virilha do mais magro, que se curvou, com as mãos no local. Stiles chutou a clavícula do mais magro, aproveitando para se erguer, desviando do chute que o Rei desferiu contra si e erguendo a perna para o alto. Quando passou a descer, o castanho desceu a perna com força, acertando a clavícula do rei, que jurou ouvir a mesma se quebrar, antes de uma dor extrema tomar conta do local atingido.

Stiles, antes de tocar o chão, chutou o peito do careca com a outra perna, enquanto forçava o membro que golpeara a clavícula do homem para baixo, ganhando impulso no peito e ombro do homem para girar para trás em um mortal, caindo abaixado, encarando os três gemendo e dor. Stiles recolheu duas cartas com as mãos, sendo uma um valete e a outra um ás, ambos de espadas. Todas as cartas no chão possuíam o símbolo do naipe negro que se assemelhava ao de copas.

- filho da puta – rosnou o rei, com a mão no próprio ombro.

- diga-me uma novidade – sorriu Stiles, girando as cartas por entre os dedos, as movendo de um lado da mão para o outro.

- cansei de ser bonzinho – rosnou o Rei e logo o mais baixo do trio correu na direção do castanho.

O homem tentou golpear o castanho com os punhos, mas Stiles desviava ou bloqueava os golpes, não deixando nenhum ter o mínimo de êxito possível. O castanho, em um momento em que desviava dos golpes do homem, passou uma das mãos com força na frente do rosto do mesmo. A carta deslizou pela pele do nariz homem, criando um corte ali.

- acha que sou só mais um idiota que nasceu em um berço qualquer? – perguntou o castanho chutando o peito do homem, fazendo o mesmo cair de costas no chão. O castanho pisou sobre ele, sem o menor receio, passando por seu corpo e seguindo para os outros dois.

- eu vou acabar com a sua raça! – exclamou o Rei avançando sobre o castanho.

Stiles apenas encarou o homem se aproximar a passos rápidos. Quando o careca iria lhe golpear, o castanho apenas deu um passo para o lado, antes de puxar o braço do homem para si, fazendo o mesmo cambalear e tropeçar sobre o corpo do próprio parceiro, caindo sobre o mesmo e batendo a testa no joelho alheio.

- vamos pela ordem, sim? – sugeriu o castanho voltando a girar as cartas em seus dedos.

- eu desisto. Eu desisto – disse o mais magro, erguendo as mãos para o alto, indicando que não tentaria nada para o castanho, que riu mudo, antes de jogar a cabeça para o lado.

- ah, não. Começou a brincar, agora vai ter que terminar – disse o castanho, sorrindo vitorioso na direção do rapaz.

O prisioneiro apelidado de rainha engoliu em seco quando, ao ver o rei se erguer atrás do castanho, o adversário apenas desferiu um golpe do cotovelo para trás, sem se quer olhar para a sua retaguarda, acertando a nuca do rei, que se abaixou com a dor forte no local.

Exatamente cinquenta minutos depois, o guarda começava a retornar para a cela onde o prisioneiro Stilinski dormia sozinho. Ele não se sentia nem um pouco mal por ter encurralado o jovem castanho. Aquele cara era um prisioneiro, um criminoso. Se ele havia feito um criminoso sofrer, o guarda já havia ganhado o dia. E envolvendo dinheiro então? Ele estava mais do que satisfeito.

O homem se aproximou da cela, já esperando ouvir os gemidos de dor e lamúria do prisioneiro Stilinski. Mas quando ele se aproximou mais, ficou um tanto chocado ao ouvir risadas, juntamente com gemidos de dor e reclamações de outras vozes. O homem fardado se aproximou, confuso. Estava estranhamente silencioso. Ele esperava que os outros presos estivessem exaltando o tal “Rei”, pedindo para serem os próximos qualquer dia desses, mas nada disso ocorria.

- o que está acontecendo aqui? – perguntou a si mesmo, em um sussurro.

- porra, Jimmy! Não se mexe, caramba! – o homem pôde ouvir a voz do rei ecoar dolorida.

- cala a boca, Marcos! E para de pulsar esse caralho. Está doendo! – exclamou um dos parceiros do Rei.

Qual não foi o choque do guarda ao encontrar, no chão da cela, todos os três idiotas que lhe pagaram para estuprarem o castanho, nus, no chão. Jimmy estava deitado de barriga para cima, com as pernas erguidas para o ar, enquanto Billy estava deitado de bruços, com o corpo de Jimmy entre suas pernas, ao mesmo tempo em que o Rei estava sentado sobre o colo de Jimmy, inclinado para a frente.

- mas o quê? - perguntou confuso.

- acho que o meu pau vai quebrar – gemeu Billy, dolorido.

- ah, a carona de vocês chegou – disse o castanho descendo da cama, ainda rindo dos outros três prisioneiros no chão de sua cela.

- amém. Já não... – falou Marcos, o Rei, tentando se mover, mas foi impedido por um chute de Stiles em suas costas, lhe fazendo mover a cintura para a frente, fazendo não só ele, como os outros dois gemerem, por motivos diferentes.

- eu não disse que poderiam sair, ainda – disse o Stilinski, com seriedade

- certo, certo – murmurou o homem, de cabeça baixa devido a humilhação que sofria.

- fica quieto, Marcos! – ralhou Billy, irritado, olhando as costas do homem sentado em seu colo.

- o que você... – o guarda foi impedido de continuar quando a mão do castanho lhe alcançou a farda e lhe puxou com força para a grade, fazendo o homem se bater nela.

Stiles permaneceu a empurrar e a puxar o corpo do homem várias vezes através da farda do mesmo, fazendo o guarda se bater contra a grade enferrujada. O castanho só parou assim que viu o sangue escorrendo pelo nariz do homem de cabelos negros, que se encontrava zonzo. O assassino puxou o homem uma última vez, antes de aproximar o rosto da face do guarda colada a grade.

- isso é por tentar fazer algo contra mim – ditou Stiles, vendo o homem tentar alcançar o cassetete, mas as suas mãos foram mais rápidas.

- tsc, tsc, tsc, tsc, tsc. Que coisa feia! – exclamou o castanho roubando o cassetete do homem com uma mão, enquanto a outra se fechava ao redor do pescoço do guarda.

- m-me solta – pediu o homem, tentando, o em vão, se soltar.

- vamos ter uma conversa rápida, guarda... Josh – falou Stiles, calmamente, enquanto o homem tentava puxar a própria arma de choque.

Josh tateou a própria cintura, procurando por sua arma de choque, mas quando deu por si, a mesma já estava dentro da cela, junto do castanho. Stiles sorriu ladino, vendo o desespero no olhar do homem. O rapaz lambeu os lábios, encarando o homem começar a respirar com dificuldade. Marcos viu ali, a sua chance de apagar o castanho. O cassetete estava em uma das camas de baixo. Ele só precisava se levantar e acertar o castanho, mas assim que ousou se mover, Stiles apontou a arma de choque para si, novamente sem precisar olhar em sua direção. Aquele homem de porte pequeno e cabelos castanhos já estava lhe assustando. Ele conseguia fazer coisas que Marcos acreditava acontecer apenas na televisão.

- se qualquer um dos três se mover, eu só preciso acertar um para vocês sentirem um vibrador elétrico em suas bundas – disse o Stilinski e, no mesmo instante, Marcos voltou a abaixar a cabeça, recolhendo a própria mão para o próprio corpo, voltando a usar a mesma de apoio no corpo de Billy.

- eu pensei que tivesse entendido a sua nova vida, Rei – ditou Stiles, com seriedade, fazendo o corpo dos três tremer.

- e-eu entendi, Alice, eu...eu... eu entendi – o careca falou rapidamente, tentando ao máximo acalmar o homem em pé a sua frente.

- então é melhor não me desapontar de novo – soltou Stiles, abaixando a arma.

- agora, guarda Josh, eu vou explicar para você, assim como fiz com eles três, a sua nova vida – disse o castanho, sorrindo vitorioso para o homem.

- eles três, são as minhas putas a partir de agora. Se eu estalar os dedos dizendo querer uma mesa no refeitório, eles vão me dar uma, nem que tenham que expulsar geral na porrada. Se eu quiser privacidade no chuveiro, eles vão colocar todos para fora. Se eu quiser uma bunda para foder, eles simplesmente abaixam as calças e levantam os traseiros gordos deles para mim com o cu piscando em honra por me receber. Essa é a nova dia deles. Viu só? Mandei eles ficarem quietos, por me irritarem. Queriam tanto enfiar o pau pequeno deles em uma bunda, que forcei um a dar a bunda para o outro simultaneamente – disse o castanho e no mesmo instante Josh desviou o olhar para os três que se encontravam enfurecidos e envergonhados no chão da cela.

- mas essa é a nova vida deles. A sua? Ah, a sua vai ser melhor. Eu vou dar trabalhos simples para você, meu querido. A sua função é me livrar dos outros guardas quando eu precisar. Você vai ser a minha puta de luxo. Vai me trazer coisas que não se podem ser arranjadas aqui e vai fazer tudo isso com um sorriso largo no rosto, por eu não te matar sempre que te encontrar ou por eu não mandar matarem a sua família – disse o castanho, vendo o homem engolir em seco.

- já pensou? Se um dia, quando você acha que se livrou de mim, você entra em casa e encontra esses rostinhos ensanguentados, no chão? – perguntou Stiles puxando a carteira do homem para cima e abrindo a mesma, revelando a foto da mulher e da filha do homem.

- você não sabe onde moro – disse Josh, em um ímpeto de coragem para proteger sua família.

- e é exatamente por isso que eu amo carteiras de motoristas. Elas nos dizem tudo o que precisamos saber sobre vocês, cidadãos americanos – soltou o castanho, sorrindo divertido.

- olha só! Você mora perto de onde eu cresci! Tem vinte e sete anos, apenas alguns meses mais novo do que aquele idiota – murmurava Stiles, pensativo, fingindo completa inocência quanto aos dados que lia.

- tudo bem, tudo bem. Eu faço o que você quiser – disse o homem vendo o castanho sorrir largo.

- eu sei que você vai fazer. E não pense que eu vou soltar você, daí você vai pedir demissão, se mudar e irá se livrar de mim. Ah, não. Quando você menos esperar, um sorriso vai se formar diante de você, do nada, como fumaça. Um sorriso tão largo quanto o de um gato. E então então do mesmo jeito que o meu sorriso surgiu como fumaça, a sua vida vai desaparecer, junto com a de sua família, como a fumaça que a lagarta azul solta some no ar – falou o castanho, antes de suspirar sensualmente na face do homem.

- certo, eu vou fazer tudo o que você quiser. Só deixe a minha filha e a minha mulher em paz – pediu o guarda Josh vendo o castanho sorrir docemente em sua direção.

- mas é claro! Eu vou cuidar muito bem de todos vocês, se todos vocês cuidarem de mim – disse o castanho, acariciando a face ensanguentada do homem, que lutava para não derramar uma lágrima de medo na frente daquele castanho assustadoramente bipolar.

- sim, senhor – disse Josh com o orgulho ferido.

- tsc, tsc, tsc. Me chame de Alice, querido. Apenas Alice. Agora você vai fazer um favor para mim – pediu o castanho vendo o homem engolir em seco.

- e o que é? – perguntou vendo o castanho sorrir em sua direção, ainda acariciando o seu rosto. Ele sentia nojo do toque do castanho em si.

- você vai levar eles três para a enfermaria. Eu tive que adestrar eles rigorosamente. Eram um rebanho de porcos chorões. E agora eles precisam de cuidados médicos. Espero não ter que lhe adestrar desse jeito – falou Stiles, sorrindo divertido na direção do homem, que abria a cela, ainda preso ao castanho.

- n-não será necessário – ditou Josh, sendo solto por Stiles para que abrisse a cela completamente.

- ótimo. Lembrando que eu quero que vocês todos se deem bem. Não quero intrigas no meu País das Maravilhas – disse o castanho, sendo encarado por Josh com receio.

- Marcos, Jimmy, Billy. Vamos! – ordenou o guarda Josh, mas nenhum dos três se moveu, permanecendo ligados daquela forma humilhante.

- vamos, eu não tenho a noite toda – disse Josh, já levemente irritado.

- Rei, Rainha, Valete. Vão com o Arlequim – disse Stiles e no mesmo instante Marcos, o rei, se levantou, se retirando do interior de Billy, Valete, enquanto sentia Jimmy, Rainha, sair de dentro de si.

- com quem? – perguntou Josh, confuso e irritado.

- seu novos nomes. Quando eu falar eles, vocês vão saber que devem me obedecer. Quando eu lhes chamar por seus nomes próprios, significa que podem fazer o que bem entenderem, para que ninguém perceba que estão sob i meu controle – ditou Alice, sorrindo ladino, vendo os três se levantarem, recolherem as suas próprias roupas, ignorando a ardência dos cortes que haviam por seus corpos e se dirigindo para o lado de fora da cela.

- olha só se o Rei não virou escravo – zombou um dos prisioneiros da cela em frente.

Marcos mordeu o lábio inferior, irritado. Aquilo era humilhação demais para si, o cara que um dia fora o rei daquele lugar. Os três prisioneiros cabisbaixos deram um salto, completamente assustados, ao ouvirem um grito de dor ser emitido pelo mesmo homem que zombara de si. Eles olharam para a cela apenas para verem o homem, caído no chão, se debatendo, enquanto cabos ligavam os seus olhos a mão de Stiles, que acabava de abaixar a arma de choque.

- três, dois, um – disse o castanho, caminhando para fora da cela e se aproximando da grade da cela em frente a sua, vendo o homem, ainda se debater, devido aos espasmos musculares que a corrente elétrica ainda criava. Quando a contagem acabou, a corrente elétrica parou de ser liberada pela arma e os espasmos diminuíram.

- vamos deixar uma coisa bem clara, aqui. Sabe o que aconteceu nessa cela? Nenhum de vocês viram. Sabem o que eu conversei com eles? Nenhum de vocês ouviu. E sobre o Rei ter se tornado um escravo... Ele é o meu escravo. Só eu, e apenas EU, posso destratar qualquer um desses quatro. Se eu pegar qualquer um mexendo com as minhas cartas, eu irei honrar a tatuagem em minhas costas e lhe corto a cabeça. Vocês me entenderam? – indagou Stiles e todos os prisioneiros daquela cela engoliram em seco, meneando positivamente.

- isso também envolve Arlequim. Só eu posso usar ele. Ele faz parte do meu baralho. E, como eu disse, mexam no meu baralho e o vermelho em meu corpo é a última coisa que vocês verão em vida – disse o castanho, puxando o cabo que ligavam os dardos nos olhos do prisioneiro, ouvindo o mesmo rugir de dor quando o projeteis saíram de seu corpo, fazendo os seus olhos sangrarem.

- e-eu não consigo ver – murmurou o prisioneiro levando as mãos aos olhos, sentindo um líquido quente ali.

- é claro que não, idiota. Eu acabei de fritar os seus olhos com um choque de cinquenta mil volts direto neles. O que você esperava? Sem contar que os dardos furaram os cantos dos seus olhos – disse o castanho, calmamente, como seu tudo o que ele tivesse acabado de fazer não passava de uma brincadeira com pistola de água e ele não tivesse cegado um homem com uma arma de choque.

- devo levar ele também, Alice? – perguntou Josh, vendo o castanho se virar sorrindo para si.

- você que decide. Por mim ele fica aí até alguém aparecer. Se ele atrapalhar a minha noite gritando por ajuda, eu termino o serviço – disse o castanho, jogando a arma para o guarda, antes de entregar o cassetete para o mesmo.

- agora, vão logo! Eu quero ficar sozinho – ordenou Stiles, adentrando a própria cela e batendo a grade com força, a trancando.

- se eu não o levar e souberem que foi da minha arma que esse choque saiu, eu vou ser demitido – argumentou Josh, um tanto preocupado.

- alguém viu se a arma do guarda Josh foi disparada em alguém? – perguntou Stiles, inocentemente, lançando um olhar perdido inocentemente para a cela em frente.

- o guarda Josh nem apareceu aqui, hoje. Esse idiota que surtou e enfiou os dedos nos próprios olhos – respondeu um dos prisioneiros da cela em frente, vendo o castanho tomar um olhar predatório e um sorriso ladino.

- e você? Viu quem lhe cegou? – inquiriu Alice se referindo ao homem que tivera os olhos eletrocutados. O homem engoliu em seco ao perceber que aquele ser monstruoso estava falando consigo.

- e-eu surtei e enfiei os dedos nos olhos – respondeu ouvindo um leve gargalhar vir da cela em frente.

- muito bem – Stiles simplesmente deu as costas e subiu em sua cama.

- vamos. Deixe ele aí – disse Marcos, começando a caminhar na direção da enfermaria, após vestir as próprias roupas.

- você não manda em mim, vagabundo – ralhou Josh, irritado.

- estamos no mesmo barco agora, cara. Ninguém aqui está tentando mandar em você – falou Billy, olhando para Marcos, vendo o careca com um semblante fechado, tentando esconder a ferida em seu orgulho, assim como ele.

- estamos todos fodidos na mão dele – comentou Jimmy abaixando o olhar, envergonhado, assim como todos os outros.

Chapter 19: Finally

Chapter Text

- e daí? – perguntou Derek encarando a irmã mais velha sentada ao seu lado na mesa. 

- e daí que, se você está mais perto, você deve pegar e passar para mim – respondeu Laura, com calma enquanto servia a si mesma do arroz. 

Derek desviou o olhar da irmã mais velha para o purê de batata a sua frente. Ele ficou intercalando o olhar, desse mesmo jeito, por algum tempo. Antes de erguer uma das sobrancelhas para Laura, que lhe encarava com seriedade. A mais velha dos três irmãos ergueu uma sobrancelha em resposta a sobrancelha do mais novo. Paige, ao lado do marido, gargalhou com a atitude dos dois irmãos. Talia sorriu encarando os filhos, enquanto Peter sorria encarando o próprio prato. Eles estavam em mais um domingo de reunião familiar. Aquilo era comum entre os Hales desde que Derek, Laura, Cora e Malia eram pequenos. 

- pode pegar que eu sei que você quer me dar – ditou a mais velha vendo o único irmão homem estreitar o olhar em sua direção. 

- eu não! Está mais perto de você. Você só não quer esticar o braço – argumentou Derek vendo Laura lhe fitar indignada. 

- queridinho, você não nasceu para ficar debatendo comigo, não. Irmão mais novo nasceu para servir o mais velho. Agora me passa o purê – ditou Laura apontando para a travessa a sua frente. 

- ah, mas é cada uma! Ouviu uma coisa dessas? – perguntou Derek apontando para Laura enquanto encarava a mulher ao seu lado. 

- Meu Deus! – exclamou Paige rindo do marido, que se voltou para a irmão, indignado. 

- eu vou pegar o purê apenas para mim. E depois colocar de volta no lugar, e você, se quiser, que pegue – ditou Derek, mas, antes que a sua mão alcançasse a travessa com o prato pedido por Laura, a mesma se afastou de sua mão, se aproximando de Cora, que passou o recipiente para a mãe. 

- Não sei a política de irmãos, mas sei que coloquei vocês no mundo para me servirem – ditou Talia, confiante, sorrindo enquanto se servia do purê. 

- tem certeza de que não sabe a política dos irmãos? – perguntou Peter sem encarar a irmã. 

- cala a boca e me passa o suco – respondeu Talia vendo o irmão lhe fitar questionador. 

- eu não! Você está mais perto do que eu – argumentou o louro vendo a mulher lhe fitar indignada. 

- caralho! – exclamou Cora observando, surpresa, os dois mais velhos. 

- até vocês dois? – perguntou Malia, ao lado da prima, vendo o pai e a tia se entreolharem antes de darem de ombros. 

- está no sangue – argumentou Peter voltando a se concentrar em sua comida. 

- eu já acabei – disse a criança ao lado de Paige vendo Talia e Peter sorrirem derretidos em sua direção. 

- então vá brincar, querida – falou Talia vendo a pequena menear positivamente antes de descer de sua cadeira e sair em disparada na direção da sala. 

- eu queria tanto que o David tivesse vindo com você – comentou Talia encarando a filha mais velha fazer uma careta de contentamento. 

- esse é o final de semana que ele passa com o pai, mãe. Não posso monopolizar ele – argumentou a filha mais velha vendo a mãe suspirar compreensiva. 

- tsc. Eu sei, querida. É só que... eu gosto tanto de estar com os meus netos – argumentou Talia encarando Valerie, na sala, brincando com uma casinha de bonecas. 

Peter observou a irmã encarar a neta com um incômodo no peito. Ele sabia o que a mulher estava pensando. O homem queria a consolar, mas sabia que não poderia falar o que a irmã estava sentindo. Isso deixaria o almoço estranho. E foi por isso que ele apenas dirigiu sua mão para a da irmã, a apertando. Talia sorriu, derretida, ainda encarando a neta, mas apertando a mão do irmão, enquanto se recostava no mesmo. Malia achava bonito o jeito que o pai se relacionava com a irmã. Eles eram tão unidos que as vezes nem falavam nada, apenas se tocavam e pareciam entender muito bem o que o outro queria dizer. 

- nós estamos tão velhos – argumentou a mulher vendo a neta brincar, sozinha. Peter riu, assim como os filhos da irmã, sua filha e a esposa do sobrinho e parceiro de trabalho. 

- fale por você, Mun Rá – falou o louro vendo a moreno estreitar o olhar em sua direção, se afastando de si, para logo em seguida lhe desferir um tapa. 

- se enxerga, coroa! – exclamou a mulher vendo o irmão sorrir contido. 

- eu não esqueci de dizer?! Uma amiga minha estava dando em cima do papai um dia desses – ditou Malia vendo a família inteira direcionar o olhar para o homem mais velho. 

- como é que é? – perguntou Talia observando o irmão dar de ombros. 

- fazer o quê se você tem um irmão lindo desses? – questionou o louro sujando o nariz da mulher com purê. 

- gente, espera. Eu não vi essa reportagem ainda – disse Laura apontando para a TV e agarrando o controle do aparelho no canto da mesa, aumentando o volume. 

- temos mesmo que ver isso? – perguntou Derek, com seriedade. 

- qual é o problema? – inquiriu Cora encarando o irmão, desconfiada. 

- esse é a reportagem do meme, não é? – perguntou Malia olhando para Cora, que riu minimamente meneando positivamente. 

- que meme? – questionou Paige olhando para a televisão e vendo Peter dando uma entrevista sobre o caso do estupro, enquanto o seu marido aparecia ao fundo, ao lado dos outros agentes. 

- pegaram uma foto do cara que fala com o capuz escondendo o rosto e colocaram a legenda “Eu apresentando trabalho na faculdade” – respondeu Malia vendo a mulher do primo rir um pouco. 

- me deixa ouvir – disse Laura encarando o tio, na reportagem, se virar para trás e a imagem fora cortada para o momento em que um encapuzado falava. 

Derek encarou Stiles, na reportagem, falar sobre o caso, respondendo às perguntas dos repórteres com um semblante irritado. Ele perfurava as ervilhas em seu prato com raiva enquanto o castanho ainda falava. Laura concordava a cada frase do castanho sobre o caso, o que mais irritava a Derek. Elas não sabiam quem, na verdade, era aquele encapuzado. Ela não sabia que estava apoiando a análise psicológica do assassino do próprio pai sobre outro monstro. Paige encarou o marido, confusa, assim como Cora. Derek, do nada, havia ficado irritado. Ele adorava as reuniões dos domingos e quase nada abalava ele nesses domingos. Aquilo a havia deixado extremamente curiosa. 

O que poderia ter ocorrido naquele caso, naquela reportagem para deixar o seu marido tão alterado? 

- “E foi só com uma foto e um desmaio que percebeu que o pai da criança era um louco que abusava da própria filha?” – perguntou um dos repórteres, vendo um sorriso vitorioso surgir nos lábios do homem ali em cima. Tudo o que eles conseguiam ver era a boca de Stiles, já que o castanho cobria a maior parte do rosto com o capuz. 

- “Ele não é louco. Eu conheço gente louca. As melhores pessoas são loucas. Eu sou louco. Esse homem é um monstro” – foi a resposta de Stiles antes de dar as costas e se afastar dos microfones, ignorando completamente as perguntas dos repórteres. 

- lacrou – falou Laura antes de voltar a abaixar o volume. 

- não foi? Adorei esse final – comentou Cora vendo a irmã menear uma única vez, exageradamente, indicando que concordava com a mais nova. 

- quem era esse homem, Peter? Derek quase nunca fala do trabalho – perguntou Paige vendo o marido olhar pelo canto de olho para o Tio, que sorriu gentilmente para a mulher do sobrinho. 

- infelizmente, temos ordens de não revelar nada sobre o nosso pessoal e como as coisas funcionam lá – respondeu o louro ainda sorrindo na direção da mulher. 

- isso é chato! Nossa família é do FBI mas a gente não sabe de quase nada – exclamou Cora, irritada. 

- não. Isso foi depois que eles entraram nessa nova divisão. Antes eles falavam sobre as coisas do trabalho – argumentou Laura, vemdo o tio e o irmão lhe fitarem questionadores. 

- o quê? Eu gosto de ficar informada – argumentou a mais velha dos três irmãos levando o copo de suco aos lábios. 

- as vizinhas fofoqueiras também só gostam de se manter informadas – argumentou Peter vendo a sobrinha mais velha lhe fitar indignada. 

- gente! Mas eu nem falo nada e sou comparada a essas velhas mal comidas? – perguntou Laura vendo a família inteira rir. 

- isso é um absurdo! – exclamou Derek fingindo ultraje enquanto encarava a irmã, que apenas lhe ergueu o dedo do meio. 

- você usou vinho nessa carne? – perguntou Peter desviando do assunto, assim como o sobrinho tinha feito ao implicar com a mais velha dos três irmãos. 

- sim. Branco. O tinto havia acabado – respondeu Talia antes de ouvir Cora se manifestar dizendo que amanhã passaria no mercado e compraria mais. 

 


Stiles adentrou o pátio, entediado. Ele estava com o seu caderno de desenho com a capa vermelha de baixo do braço. Só Deus sabia o quanto odiava o pátio. Era só um bando de homens, brutamontes para ser mais específico, em uma área cimentada ou parcialmente natural, fumando, malhando, assediando alguém sexualmente de forma um tanto discreta para mais tarde o estuprar. Ninguém ali fazia nada de produtivo. Ninguém ali lhe fornecia entretenimento. Era uma prisão, no final das contas. O máximo que ele poderia fazer era ler um livro ou matar alguém. Isso lhe deixava extremamente irritado. Fora por isso que Peter havia lhe dado aquele caderno de presente. Quando Stiles alegou estar perdendo o juízo por estar cercado de neandertais, o louro se preocupou de o rapaz fazer algo que poderia o prejudicar. E fora por isso que ele o presenteou com um caderno de desenho. Para manter a mente ocupada em alguma coida que não fosse assassinato. 

Isaac encarou o castanho se aproximar das mesas de xadrez, as quais eram ocupadas por drogados que estavam a se entorpecer. Os homens o encararam entediados. Alguns deles estavam tentando disfarçar o medo, enquanto outros estavam a lhe desafiar com os olhos. Os que tinham medo de Stiles o adquiriram quando o castanho simplesmente humilhara o homem que derrubou a sua comida no refeitório. Todos os prisioneiros julgavam o castanho devido ao seu porte nada atlético, mas quando viram aquele pequeno ser de brincos, que não lhe ajudavam em nada a construir uma péssima imagem para impressionar os outros prisioneiros, derrubar aquele brutamontes no refeitório usando apenas a boca e os pés em dois golpes rápidos, os criminosos que temiam o homem derrotado passaram a temer o castanho de brincos. 

- o que você quer aqui? – perguntou um dos que desafiavam Stiles com os olhos. 

- a manicure fica para outro lado, frutinha – zombou outro homem que se encontrava com os olhos tão vermelhos quanto o de seu amigo. 

- eu quero uma mesa – respondeu o castanho encarando, entediado, os homens a sua frente lhe fitarem questionadores, antes de gargalharem. 

- a bichinha quer uma mesa? Então vai ter que trabalhar por ela – ditou um dos homens, em um tom divertido, enquanto acariciava o próprio pau. 

Uma onda de risadas fora gerada pela fala do homem, que se virou para gargalhar enquanto olhava os amigos lhe acompanharem nas risadas. Stiles lambeu os lábios, irritado, antes de suspirar cansado. O castanho passou a respirar fundo, tentando conter a sua irritação. Ninguém a percebia, já que a sua expressão de tédio não havia mudado nem um mísero detalhe se quer. Nenhum músculo havia se movido em seu rosto. Ele contou até dez antes de olhar ao redor para ter certeza de que ele estava perto de suas “cartas”. E lá estavam os três. O Rei, a Rainha e o Valete estavam afastados, sentados nas arquibancadas, cheios de curativos devido aos cortes que Stiles havia lhes causado. Os três encaravam o castanho com fúria, mas, assim que o mesmo direcionou o olhar para eles, eles tentaram disfarçar. 

Isaac, que estava perto de uma roda de apostas, encarou a cena, confuso, vendo o castanho parado em frente dos homens mais barra pesada daquele lugar, assim como o Rei e os seus capangas. O loiro bateu de leve no ombro de Boyd, assim que o negro ganhou uma disputa de queda de braço. O homem olhou para o louro de cachos e o mesmo apontou para a área onde ficavam os drogados e traficantes. 

- isso vai dar merda, não vai? – perguntou Isaac vendo o castanho negar com a cabeça. 

- é. Isso vai dar merda, sim – respondeu o Boyd ainda observando o castanho negar com a cabeça. 

- eu só vou falar mais uma vez. Eu quero essa mesa – disse o homem de brincos encarando os outros gargalharem olhando em sua direção. Os mais acovardados apenas não se retiravam pois não queria ter sua fama de durões manchada. 

- e o que eu tenho a ver? Vai ficar querendo, otário – respondeu o homem lhe encarando com certa irritação. 

Stiles apenas ergueu o braço para o lado, o exibindo para as pessoas certas e então estalando o dedo. Ele esperou vendo os homens lhe fitarem confusos. No entanto, nada ocorreu. Stiles voltou a estalar os dedos antes de olhar por sobre os ombros, vendo os três homens que ele chamava em segredo apenas abaixarem a cabeça, não ousando lhe encarar nos olhos. Alice os encarou questionador antes de voltar a estalar os dedos mais uma vez. Os homens começaram a fazer piadas sobre o que ele estava fazendo, mas Stiles se concentrou unicamente em tentar conter a fúria dentro de si. 

- apenas mais uma vez – murmurou o castanho para si mesmo antes de estalar os dedos mais uma vez, mas, novamente, o Rei e seus amigos lhe ignoraram. 

- não façam nada. Ele não pode fazer nada em público – ditou o Rei olhando para a cena do homem que os humilhara na noite anterior. 

- e se ele fizer depois? – perguntou o que Stiles gostava de chamar de Valete. 

- então ele vai para a solitária e vai se encrencar sozinho – respondeu Marcos vendo o castanho, ao longe, negar com a cabeça. 

- ah, já entendi. Ele está tentando chamar alguns dos amigos imaginários dele – zombou o homem se erguendo e tomando o caderno vermelho do castanho, que nada fez para o impedir. O homem folheou o caderno observando alguns desenhos muito bem feitos. Começou com borboletas, árvores, baralhos, até ele chegar em páginas em que haviam desenhos humanos. Pessoas nas mais variadas poses. 

- olha aqui um deles! – exclamou o homem em zombaria se preparando para arrancar a folha com o desenho. 

Assim que o homem segurou a folha de um lado com uma mão e com a outra ele segurava o caderno de mal jeito, Stiles arregalou os olhos. Aquele desenho era um dos seus preferidos. O homem foi impedido de concretizar o ato, quando algo lhe acertou o queixo, passando por baixo da folha que ele rasgaria. O homem cambaleou para trás ao mesmo tempo em que o caderno fora retirado de sua mão com velocidade. Stiles chutou a virilha do homem de olhos avermelhados de tanto usar entorpecentes naquele dia, o fazendo se ajoelhar. Os presos soltaram exclamações enquanto viam o homem cair de joelhos com as mãos cobrindo o próprio pênis. 

- vamos deixar uma coisa bem clara, aqui. Encoste no que é meu e eu mato você – ditou o castanho segurando a gola da camisa suja do homem, o trazendo para perto de si. 

O Stilinski desviou de um soco mal desferido do homem e o puxou para si com força, enquanto dava um passo para o lado, fazendo o homem se colocar de quatro. Stiles o utilizou como degrau e pisou em suas costas para em seguida subir no banco, com o intuito de alcançar a mesa, no final. Um dos homens tentou lhe derrubar ao tentar lhe acertar as pernas com o braço, mas Stiles saltou, fazendo questão de cair em pé, sobre o braço do homem, o prendendo na mesa, enquanto o osso se quebrava. 

- saia da minha mesa – ordenou o castanho saindo de cima do braço do homem para o chutar no rosto e o jogar deitado no chão. 

- eu vou matar... – o homem que Stiles agrediu primeiro ousou o ameaçar enquanto se levantava, mas o castanho saltou da mesa golpeando as costas do homem com os dois pés, fazendo o homem cair de cara no chão, enquanto ele caía sobre os próprios pés, com o corpo do homem entre eles. 

- cale a sua boca. Aqui, quem mata sou eu. E para lhe deixar avisado disso, vamos lhe retirar alguns dentes de lembrança – ditou o castanho agarrando os cabelos do homem e passando a golpear a cabeça do mesmo contra o chão, várias e várias vezes. 

- Stiles, para! – pediu Isaac se aproximando. 

O castanho parou o que fazia, sorrindo de forma assustadora para o sangue do homem no chão a sua frente. Ele sentia falta da emoção que sentia quando via o sangue de suas vítimas. Alice sentia um prazer tão grande quando via aquela cor pintar qualquer coisa. Era tão intenso e difícil de explicar que ele apenas se permitia sentir e não procurar entender. O homem de brincos ergueu a cabeça na direção de Isaac, sorrindo inocentemente, perdendo a expressão assassina, mas a sua aura perigosa permanecia ali, assustando a todos. Isaac engoliu em seco vendo o castanho largar a cabeça do homem, que já se encontrava tonto demais para fazer qualquer outra coisa além de gemer de dor e implorar por ajuda. Stiles pisou no corpo do homem, ignorando o gemido de dor do mesmo, quando o castanho passou para o outro lado, seguindo sorridente para o Lahey, que engoliu em seco com a atenção do assassino do grupo para si depois do show de todo o seu show de violência. 

- oi, Isaac. Precisa de alguma coisa? Eu estava um pouco ocupado ensinando esse lixo a me deixar em paz – falou Stiles observando o loiro engolir em seco. 

- estão chamando a gente – disse Isaac apontando para o interior do presídio com o polegar. Stiles sorriu divertido antes de puxar o caderno vermelho que estava largado sobre a mesa e se aproximar do mais alto. 

- finalmente! Eu já não estava me aguentando de tédio – exclamou abraçando o braço de Isaac, que ficou receoso em rejeitar o toque do castanho, por isso apenas permaneceu a caminhar, rezando para que Stiles permanecesse dócil consigo. 

 


Aquele ambiente era muito úmido d frio. Aquele era um lugar bem escuro, mas havia um corpo se movia pelas sombras do ambiente com naturalidade. Parecia acostumado a aquela ambientação trevosa. Desviando de todos os ursos de pelúcia e móveis que eram iluminados pelo brilho da tela de uma televisão que estava ligada em um canal qualquer, o corpo se movia preguiçosamente, arrastando os pés com suas pantufas surradas de coelho rosa. Uma mão fora a nuca, coçando a mesma, antes de a abaixar novamente. 

Um bocejo escapou de seus lábios, ao mesmo tempo em que um grunhido fora ouvido. Um sorriso escapou de seus lábios quando uma série de grunhidos começou a alcançar os seus ouvidos. A mão que antes coçou a sua nuca se ergueu para alcançar um ombro desnudo, molhado de suor e sujo com uma substância seca e áspera que sabia ser sangue coagulado. O corpo que sua mão tocava tremia demasiadamente em receio e aversão. 

- ah, eu também queria muito lhe ver! Bom dia! – exclamou docilmente encarando os olhos azuis fixados nos seus, refletindo o horror que tomava aquele homem de cabelos cobreados. 

O homem tentava, a todo custo, se afastar daquele ser que lhe causava arrepios só de ouvir os passos arrastados do mesmo. O corpo atravessou o local, deslizando a mão pelos ombros ensanguentados do homem amarrado a uma cadeira e amordaçado. Seguindo para a mesa onde se localizava a pequena televisão, encheu de leite uma tigela e jogou flocos de milho despojadamente sobre o líquido branco perolado, enquanto isso, o homem amarrado já choramingava, ao imaginar todas as torturas que iria sofrer dessa vez. Os seus dedos ainda doíam por suas unhas arrancadas a força com um alicate, o seu pé ainda estava um pouco infeccionado as várias agulhas que foram enfiadas nele, em um tipo louco de acupuntura cujo o único objetivo era despertar a dor no paciente e saciar o desejo louco de quem a cometia, isso sem contar nos vários pregos que atravessavam os seus dedos dos pés, os ficando a um pedaço de madeira. 

O seu corpo tremeu ao ouvir um metal sendo arrastado pela mesa de madeira. Ele olhou para a pessoa que lhe causava tanto mal e dor, respirando aliviado, minimamente, por ver que ela possuía apenas uma colher na mão e não alguma outra arma para lhe ferir. O corpo chutou uma cadeira, lhe assustando, fazendo a mesma se arrastar até parar ao lado da cadeira em que ele estava amarrado. Mastigando alguns flocos de milho, sentou-se ao lado de sua vítima, se sentindo prazerosamente bem com o medo que o ruivo sentia com a sua aproximação. 

- o que está passando? – perguntou normalmente, encarando a televisão. Como se eles não fossem um criminoso e a sua vítima. O ruivo grunhiu qualquer coisa em resposta. Sabia que não importava o que grunhisse, aquela escória da sociedade iria imaginar algo para pôr em sua boca. 

- “Como descobriu que o pai era o verdadeiro estuprador?” – perguntou um dos repórteres para o encapuzado ali na frente. 

- “Com um desenho. Em um desenho que fez no psicólogo, Kara Mackson representou a imagem de pai horrível que tinha. Era o pássaro que o pai tinha na fivela do cinto que usava. Segundo a mãe, a filha dera aquele cinto ao pai em um dos aniversários do mesmo e desde então nunca deixou de usá-lo. Então aquele cinto se tornou o símbolo daquele ato para ambos. Para o pai, aquele pássaro representava o amor carnal que possuía pela filha, tendo uma ilusão de que era correspondido da mesma forma. No entanto, para Kara, aquele cinto era a marca do horror que passava. Tanto que fora o desenho mais bem feito que já vi uma criança dessa idade fazer” – respondeu o encapuzado e, no mesmo instante, o corpo ao lado do ruivo parou de comer para encarar a tela, surpreso. 

- “Mas não é comum crianças desenharem elementos que veem no dia a dia?” – perguntou outra repórter. 

- “Como soube que aquele pássaro tinha a ver com o crime?” – perguntou um outro repórter. 

- “é normal, sim. Mas não com aquele nível de detalhamento. Kara desenhou o pássaro perfeitamente, com poucos erros considerando o real por completo. Analisando os seus outros desenhos, era notável que aquele era o efeito de um trauma. Foi o mesmo pássaro que vi quando quase desmaiei na frente do pai de Kara durante o caso. A minha visão ficou turva e eu caí de joelhos diante de Bryan. Quando olhei para a frente, a primeira coisa que vi foi um pássaro enorme, igual ao desenhado por Kara. Daquela forma, eu possuía a mesma altura que a vítima. Sendo assim, aquele pássaro era a coisa que separava Kara do seu momento de tortura. Ele representava o predador que o pai era, indo ali, lhe roubar a sua paz, a sua inocência e a sua felicidade” – respondeu o encapuzado ainda encarando os repórteres a sua frente por debaixo do capuz. 

- “E foi só com uma foto e um desmaio que percebeu que o pai da criança era um louco que abusava da própria filha?” – perguntou um dos repórteres, vendo um sorriso vitorioso surgir nos lábios do homem ali em cima. Tudo o que eles conseguiam ver era a boca daquele homem, já que o mesmo cobria a maior parte do rosto com o capuz. 

- “Ele não é louco. Eu conheço gente louca. As melhores pessoas são loucas. Eu sou louco. Esse homem é um monstro” – foi a resposta dada pelo homem antes de dar as costas e se afastar dos microfones, ignorando completamente as perguntas dos repórteres. 

No mesmo instante a colher e a tigela que se encontravam na mão do corpo ao lado do ruivo caíram no chão e o mesmo se ergueu para se aproximar da televisão. Ele sentia o coração acelerado e o seu corpo possuía uma sensação estranha, quase como se estivesse atingindo o orgasmo. Ele estava feliz e o seu sorriso largo não lhe deixava negar o contrário. O seu corpo inteiro tremia de excitação, enquanto sentia os seus músculos aquecerem com a ideia que lhe surgia em mente. 

- finalmente! Finalmente alguém que pode me divertir de verdade! – exclamou com suavidade, porém com a voz carregada em entusiasmo. 

- eu finalmente vou poder ter você! – disse acariciando a imagem do encapuzado através da televisão. 

Ele parou a carícia que fazia no cristal do aparelho televisor quando a imagem do castanho, que adentrava a delegacia sendo seguido por um grupo, sumiu, dando lugar a imagem dos ancoras do noticiário. O ruivo encarava a animação da pessoa a sua frente com temor. Aquilo era ruim, muito ruim. Quando estava animado, sempre sobrava para si. A animação do outro significava dor em seu corpo. E foi o que ocorreu. O corpo iluminado pela tv cerrou o punho, animado e se virou com velocidade, desferindo um único golpe contra o ruivo, que, já debilitado há muito tempo, não teve forças para resistir ao golpe das costas do punho em seu queixo. O seu rosto virou e sangue jorrou de seus lábios, um estalo audível fora liberado por seu pescoço, antes de o seu corpo amolecer e a sua cabeça cair sobre para a frente, ficando pendurada pelo pescoço, enquanto sangue passava a gotejar de sua mordaça. Ele estava ali há muito tempo. Dias aguentando aquela tortura. Dias sem comer, apenas bebendo água e sofrendo nas mãos de seu assassino. 

- enfim eu vou poder me divertir com você... – dizia entre suspiros, com as bochechas coradas e os lábios úmidos. 

- Alice – gemeu o nome do outro assassino, sentindo o seu corpo tremer em excitação, enquanto deslizava a mão para a própria virilha, a deslizando ali, estimulando o próprio corpo a atingir o orgasmo que sentia se aproximando 

 

Chapter 20: Move

Chapter Text

Ficar encarando aquela imagem por horas naquele notebook não parecia lhe incomodar. Nem mesmo o cheiro do sangue no cadáver atrás de si parecia o incomodar. Ele estava tão fascinado por aquela imagem que nada que não interferisse no seu campo de visão iria lhe incomodar. Ajeitando o capuz com uma mão, moveu os dedos da outra pela tela, a acariciando, enquanto ouvia aquela voz tão doce e melodiosa pela milésima vez naquela manhã. O vídeo parou de ser reproduzido e finalmente os seus olhos se moveram para outra coisa que não fosse aquela tela que reproduzia uma imagem quase divina. Os seus dedos que antes estavam em seu capuz, agora acolhiam o mouse com um certo desespero, enquanto reiniciava o vídeo. Assim que o vídeo retornou ao início, o encapuzado trouxe as mãos para si, as acolhendo entre as pernas, enquanto encolhia os ombros, focando-se na imagem a sua frente. 

Não parecia nada preocupado em o que fazer com o corpo sem vida que se encontrava no ambiente. Faria com ele o mesmo que fizera com tantos outros desde que passou a viver daquele modo: derreter em ácido e jogar os dejetos no ralo, de forma adequada após diluir todo o ácido. Os ossos seriam cremados e as cinzas seriam colocadas nos jarros das várias rosas que se encontravam no chão ao redor da mesa. Parecia ter mais preocupação quanto ao vídeo que estava assistindo desde que o mesmo fora baixado em seu computador do que se livrar das provas do assassinato que cometera. 

- “Como descobriu que o pai era o verdadeiro estuprador?” – perguntou um dos repórteres para o encapuzado ali na frente. 

- “Com um desenho. Em um desenho que fez no psicólogo, Kara Mackson representou a imagem de pai horrível que tinha. Era o pássaro que o pai tinha na fivela do cinto que usava. Segundo a mãe, a filha dera aquele cinto ao pai num dos aniversários do mesmo e desde então nunca deixou de usá-lo. Então aquele cinto se tornou o símbolo daquele ato para ambos. Para o pai, aquele pássaro representava o amor carnal que possuía pela filha, tendo uma ilusão de que era correspondido da mesma forma, já para Kara, aquele cinto era a marca do horror que passava. Tanto que fora o desenho mais bem feito que já vi uma criança dessa idade fazer” – os lábios finos se moveram fora da proteção do capuz. 

- “Mas não é comum crianças desenharem elementos que veem no dia a dia?” – perguntou outra repórter. 

- “Como soube que aquele pássaro tinha a ver com o crime?” – perguntou um outro repórter. 

- “é normal, sim. Mas não com aquele nível de detalhamento. Kara desenhou o pássaro perfeitamente, com poucos erros considerando o real por completo. Foi o mesmo pássaro que vi quando quase desmaiei na frente do pai de Kara durante o caso. A minha visão ficou turva e eu caí de joelhos diante de Bryan. Quando olhei para a frente, a primeira coisa que vi foi um pássaro enorme, igual ao desenhado por Kara. Daquela forma, eu possuía a mesma altura que a vítima. Sendo assim, aquele pássaro era a coisa que separava Kara do seu momento de tortura. Ele representava o predador que o pai era, indo ali, lhe roubar sua paz, sua inocência e sua felicidade” – responderam ambos os encapuzados. 

- “E foi só com uma foto e um desmaio que percebeu que o pai da criança era um louco que abusava da própria filha?” – perguntou um dos repórteres, vendo um sorriso vitorioso surgir nos lábios do homem ali em cima. 

- “Ele não é louco. Eu conheço gente louca. As melhores pessoas são loucas. Eu sou louco. Esse homem é um monstro” – o encapuzado murmurou as palavras no mesmo momento em que eram ditas pelo encapuzado do vídeo, sorrindo ao conseguir reproduzir todas as palavras no mesmo tempo em que o outro encapuzado. 

- eu ainda não acredito que finalmente te encontrei – falou pausando o vídeo e erguendo a mão para a tela novamente, acariciando o homem de capuz no centro da imagem. 

- você fez o seu movimento, Alice. Está na hora de eu fazer o meu – disse lambendo os lábios enquanto esticava as mãos para o alto, ao mesmo tempo em que entrelaçava os próprios dedos. 

Forçando as mãos para fora, acabou fazendo com o que todos os seus dedos estalassem. Um sorriso sádico cresceu em seus lábios ao mesmo tempo em que os seus dedos se moviam com velocidade sobre as teclas do aparelho eletrônico. Mais e mais abas se abriam na tela do computador enquanto a voz do encapuzado do vídeo voltava a ecoar pelo ambiente. Dados e mais dados eram baixados naquele computador, arquivos e mais arquivos eram abertos enquanto os seus dedos ágeis ainda se movimentavam coordenadamente. Eles pareciam dançar uma coreografia ensaiada sobre os teclas do computador, ao mesmo tempo em que faziam o que haviam sido treinados para fazer. Mais algumas teclas aqui, alguns arquivos lá e uns megabytes ali e o som das teclas sendo pressionadas cessou, deixando apenas o silêncio absoluto naquele ambiente escuro. 

- vamos ver se você consegue seguir esse coelho branco – ditou sorrindo divertido para a imagem do encapuzado, de costas para os repórteres, enquanto tratava de adentrar a delegacia. 

 

 

 


- e então? O que temos para hoje? – perguntou Stiles, animado, saindo do elevador praticamente saltitando. 

- eu me pergunto como não amar você? Mas aí eu lembro que você é o maior assassino que o nosso país já teve. Então eu lembro o motivo de não poder amar você como eu deveria – disse a ruiva encarando o castanho lhe fitar sorridente. 

- talvez seja melhor assim – falou Stiles piscando para a ruiva que tentou não sorrir com a leve insinuação do castanho. 

- enfim, vamos direto ao caso – ditou Peter se aproximando e se sentando ao lado do castanho, que levou uma das mãos ao brinco de copas. 

- dois assassinatos, em menos de uma semana aqui mesmo, em Quântico – disse a ruiva apertando o botão do controle e duas imagens foram exibidas na tela. 

- e... estamos no meu departamento, de novo – brincou Stiles sorrindo para a tela, já compreendendo a metodologia apenas ao observar os corpos. 

- as vítimas são William Talbot e Dylan Jovovich. Ambos com doze facadas em seus corpos, eles foram encontrados estranhamente... – a ruiva fora interrompida por Stiles. 

- organizados. O assassino moveu os corpos, os limpou, trocou as roupas e os colocou em posições que normalmente indicam paz e serenidade – apontou Stiles vendo todos lhe fitarem desconfiados. 

- você está bem? – perguntou Erica vendo o castanho sorrir em sua direção. 

- é claro que estou! Por que diabos eu não estaria? – respondeu o castanho de brincos vendo a mulher estreitar o olhar em sua direção. 

- porque você está sorrindo há mais de meia hora. E pelo que eu me lembre, você se chama Alice e não Coringa – respondeu a loira encarando o castanho rir um pouco, antes de fechar o semblante. 

- me desculpe, eu vou me controlar – disse o castanho vendo o grupo inteiro lhe fitar desconfiado, antes de todos voltarem a sua atenção para a ruiva. 

- os assassinatos não tiveram ligação nenhuma, para mim. Eu simplesmente não consegui ver nada que os relacionasse que não fosse o modo em que morreram e como foram encontrados – explicou a ruiva passando a imagem para um mapa de Quântico. 

- as vítimas foram mortas em um raio de cinco quilômetros, podemos considerar como sua zona de conforto? – pontuou Scott vendo os agentes ficarem pensativos por alguns segundos, enquanto que os prisioneiros olhavam para Stiles, fixamente em busca de respostas. 

- eu acho que não. Creio que ainda é muito cedo para isso – falaram Derek e Stiles ao mesmo tempo. 

- e por que? – perguntou Scott ignorando o castanho e se focando no amigo. 

- eu acho que com apenas dois corpos não se pode definir uma zona para um assassino. Isso nos impede de focar na possibilidade de a zona de conforto dele ser bem maior, sem falar que nossas duas vítimas morreram bem perto, isso aumenta e muito a sua verdadeira zona de conforto – respondeu Derek, calmamente 

- não existe – ditou Stiles encarando os agentes lhe fitarem questionadores. 

- ele está certo. Olhem o modo como os corpos estão. Stiles disse que isso simboliza paz e serenidade. Esse cara esfaqueia doze vezes e depois trata do corpo? – indagou Peter vendo os mais novos lhe fitarem questionadores. 

- o que isso quer dizer? – perguntou Vernon, confuso. 

- é como uma situação normal do dia a dia. Por exemplo, Isaac e Scott brigam. O Isaac ganha a discussão, mas ele se sente culpado. Então, o que ele faz? Ele tenta se redimir. É isso o que esse assassino faz. Ele mata, com raiva, mas depois que a raiva se vai, vem a culpa. Então ele limpa os corpos, troca as roupas dele e os coloca como se estivessem dormindo calmamente – explicou Stiles imitando a posição dos corpos na cadeira. 

- então deixa eu ver se eu entendi. Ele comete o crime, mas no instante seguinte ele se sente culpado e tenta pedir desculpas aos mortos? – indagou Erica visivelmente chocada. 

- é exatamente isso – respondeu o castanho de olhos claros vendo os agentes direcionarem o olhar para o mapa, antes de encararem a si e a Peter, confusos. 

- e no que isso implica em a zona de conforto não existir? – questionou Scott vendo o louro mais velho da equipe encarar o mapa com seriedade. 

- o que estamos tentando dizer é que ele se sente confortável para matar em qualquer. Não existe uma área em que ele se sinta mais confortável. Se ele estiver com raiva, ele vai matar independente de qual seja o lugar. – afirmou Peter vendo todos tomarem expressões sérias, até mesmo Stiles, o que lhe chamou a atenção. Sempre que assassinatos eram envolvidos no caso, Stiles ficava animado, mas dessa vez ele parecia tão... focado. 

- então nós temos que ser rápidos. Temos que encontrar esse cara antes que ele mate mais alguém – ditou a agente Argent se levantando, sendo seguida pelos outros membros da divisão, com exceção de Lydia. 

- Erica, Vernon e eu vamos para cena de crime número um. Isaac, Allison e Scott vão para a cena de crime número dois. Quero a maior quantidade de detalhes possível. Derek e Stiles vão para a delegacia da cidade tomar o controle da investigação de lá, tomando conhecimento de todas as informações que eles têm – ditou Peter já pegando o casaco e rumando na direção do elevador. 

- Lydia, tente conectar as nossas duas vítimas de alguma forma – ordenou Derek pegando o terno que usava e se preparando para descer, sendo acompanhado pelo castanho. 

A ruiva apenas meneou positivamente antes de se dirigir para a pilha de monitores que se encontrava perto de seu computador. Os membros que faziam parte da ação em campo se encaminharam para a garagem, onde se dividiram nos grupos previamente estabelecidos. Cada grupo adentrou um veículo negro com sirenes embutidas antes de, um a um, cada veículo começar a se retirar do local. As pessoas se assustaram um pouco com os veículos negros, altos, se retirarem daquele prédio aparentemente comum com velocidade. Alguns até pularam de susto quando ao fazerem a curva para se alinharem no asfalto, os veículos cantaram pneu e passaram bem perto dos civis. 

Derek dirigia com tranquilidade pelas ruas de Quântico, enquanto tentava, ao máximo, ignorar a única presença que lhe fazia companhia ali. O moreno de olhos verdes tamborilava com os dedos no couro do volante, ao mesmo tempo em que observava, pelo canto dos olhos, o castanho no banco ao seu lado, sentado confortavelmente no acento de couro, de costas para o agente Hale, encarando as ruas de Quântico pela janela. Stiles estava, estranhamente, quieto demais. Isso preocupava um pouco ao moreno de olhos verdes. Já que, quando o silêncio reinava em um gênio do crime, como o castanho ao seu lado, significava que a cabeça criminosa estava maquinando algo. Eles chegaram a delegacia, ainda em silêncio. Como esperado, assim que se aproximaram da entrada da delegacia, os oficiais já estavam de olhos cravados nos dois. 

- é um prazer conhecer a todos, eu sou o agente Derek Hale, este é o agente... 

- Doutor – o castanho cortou o moreno de terno ao seu lado. 

Derek se martirizou por sempre esquecer de não chamar os prisioneiros de agentes. Eles haviam estabelecido essa regra quando quase foram pegos por um suspeito, que exigiu ver todos os distintivos, mas Peter rapidamente alegou dizer ter necessidade de apenas um. Desde então, eles decidiram não os chamar mais de agentes, pois era uma mentira que poderia ser facilmente desmascarada. Stiles passou pelos oficiais com naturalidade, ignorando todos, seguindo para a sala do delegado. 

- Doutor Stiles Stilinski. Somos do FBI. Viemos liderar o caso – ditou o moreno de olhos verdes não se importando com os murmúrios dos oficiais que observavam os dois alcançarem a porta da sala do delegado. No entanto, antes que pudessem bater na mesma, q porta se abriu, revelando o delegado. O homem pareceu surpreso com os dois homens a sua frente. 

- posso ajudar em alguma coisa? – perguntou o homem de cabelos negros encarando os dois homens parados na porta de sua sala. 

- FBI. Nós viemos liderar o caso. A nossa equipe já está nas duas cenas de crime – falou Derek, mostrando o seu distintivo para o homem, que lhe fitou surpreso, rapidamente, antes de menear positivamente. 

- me desculpem a surpresa. É que eu não esperava que vocês fossem tão jovens – falou o homem apertando a mão de Derek. 

- não somos tão jovens quanto aparentamos – argumentou Stiles, vendo o homem estreitar o olhar para si, por um momento, antes de erguer a mão para si. 

- você usa brincos? – perguntou o delegado vendo o castanho sorrir ladino em sua direção. 

- a não ser que isso em minhas orelhas sejam miniaturas de elefantes voadores. Sim, eu uso brincos. – respondeu o castanho vendo o homem se desculpar, rapidamente, pela pergunta idiota. 

- acalme-se. Eu estou apenas brincando – ditou o castanho vendo o homem menear positivamente. 

- entrem. Os arquivos estão aqui – disse o delegado dando espaço para os “agentes” entrarem. 

- eu sou o delegado Marshall Miriam – se apresentou o homem se sentando em sua cadeira. 

- muito prazer. Esperamos acabar com tudo isso o mais rápido possível – falou o agente Hale vendo o castanho menear na direção do delegado, antes de puxar um arquivo que se encontrava ao lado de uma caixa e passar a folhear o mesmo. 

- como vocês sabem, nós estamos tendo alguns problemas para ir atrás desse cara. Nós fizemos algumas poucas análises, mas pelo menos sabemos que é um homem adulto – disse o homem vendo Derek e Stiles se sentarem nas outras duas cadeiras. 

O moreno estava lhe dando total atenção, enquanto o castanho folheava os arquivos com velocidade, o que fez com que o delegado estreitasse os olhos para ele. O moreno de olhos verdes seguiu o olhar do homem, vendo o castanho a analisar os arquivos reunidos pela polícia local com uma velocidade surpreendente para qualquer um. Derek estreitou o olhar para o homem ao fim da fala do mesmo. Nem mesmo eles haviam descoberto se era uma mulher ou um homem, mas os oficiais da cidade já o haviam feito? Algo estava estranho. Para completar a sua desconfiança, Stiles sorriu nasalado, enquanto jogava a pasta sobre a mesa. 

- O senhor vai nos desculpar, mas, nem mesmo nós temos essa informação ainda. Como descobriu isso? – indagou Derek vendo o castanho puxar mais algumas folhas e passar os olhos sobre elas. 

- bom, é violência demais para uma mulher. Sem contar que ele move os corpos. Uma mulher não teria forças para isso – explicou o delegado vendo o moreno de olhos verdes erguer uma sobrancelha em questionamento. 

- Genene Jones, Joanna Dennehy, Berlinda Rossy, Kali Dartagnan, Jayden Walker... – Stiles desatou a falar nomes ainda encarando as folhas em seu colo. 

- quem são? – perguntou o delegado encarando o castanho sorrir encarando as folhas em seu colo. 

- apenas algumas das assassinas mais brutais do mundo. Algumas delas poderiam matar lutadores profissionais na porrada. Você iria ficar surpreso com algumas delas, principalmente Jayden Walker. Ela era uma garota de treze anos quando começou a matar. Era apenas uma criança, mas podia deixar qualquer um mole como gelatina usando apenas um músculo – explicou Stiles, antes de colocar a língua sensualmente para o lado de fora e apontar para a mesma. 

- a língua? – indagou o homem confuso – como uma língua pode ser um músculo melhor do que braços fortes?! – questionou em espanto para palavras que ele julgava como absurdas. 

- os braços podem machucar fisicamente e empurrar objetos. A língua, quando bem usada, pode controlar a mais incontrolável das bestas e cegar o mais analista dos homens – respondeu o castanho encarando o homem mais velho da sala lhe fitar pensativo, assim como o Hale. 

- noventa por cento de chance de ser uma mulher – ditou o castanho, chamando a atenção do delegado, o despertando de seus pensamentos ao jogar as folhas sobre a mesa. 

- o quê? – questionou o delegado, indignado. 

- na segunda cena de crime encontraram as roupas esfaqueadas, lavadas, na secadora. A maioria dos homens se livraria delas, uma mulher, ou um homem com problemas de organização e higiene, as lavaria – explicou o castanho cruzando as pernas e apoiando as mãos, unidas, sobre os joelhos, o que fez o delegado arregalar um pouco os olhos antes de tomar uma expressão séria. 

- então estamos procurando por uma mulher, ou, muito pouco provável, um homem – ditou Derek encarando o delegado com seriedade. 

- você ao menos leu os arquivos que possuímos? – perguntou o homem, indignado por sua teoria ser jogada por água abaixo em questão de segundos. 

- você não o viu lendo? – indagou Derek, estreitando o olhar para o homem. Ele já estava se irritando com as perguntas sem sentido do mesmo, mas ele relevou nesse momento por Stiles realmente causar aquela dúvida. 

- está brincando?! Ele simplesmente passou os olhos por cada folha em segundos! Vai me dizer que ele realmente consegue ler naquela velocidade? – perguntou o homem encarando a dupla com indignação. 

- o consciente de nossas mentes pode processar 16 bits de informação por segundo, já o nosso inconsciente pode processar 11 milhões – respondeu Stiles, calmamente, vendo ambos os homens estreitarem o olhar em sua direção. O castanho suspirou, tomando um olhar entediado. 

- em outras palavras, sim, eu posso – ditou o rapaz estreitando o olhar para o moreno ao seu lado, que piscou algumas vezes, entendendo aquilo como um “muda essa cara, agora”. 

- precisamos de uma sala para liderarmos o caso. Um local onde possamos nos reunir para nos focarmos nele e onde possamos tratar de assuntos sigilosos – anunciou Derek, com seriedade, vendo o homem abrir os braços. 

- podem usar a minha sala se quiserem – sugeriu vendo os dois agentes se entreolharem. 

- nunca tivemos problemas com oficiais antes, então por mim tudo bem – respondeu Stiles se levantando e seguindo para a janela, onde pôde ver alguns oficiais disfarçando que não estavam se focando no escritório do delegado. 

- ótimo! Nós vamos ficar aqui, então – disse Derek encarando o homem menear positivamente, desviando o olhar para Stiles, antes de se erguer para sair da sala. 

- qualquer coisa é só me chamarem – ditou antes de fechar a porta. 

- mais um para a lista– comemorou um castanho 

- que não vai com a sua cara? – perguntou Derek, irônico. 

- exatamente – respondeu Stiles surpreendendo o Hale, que lhe encarou. 

- o quê? 

- apenas se concentre no caso, agente Hale – ditou Stiles retornando para a mesa e se sentando na mesma, de fronte a Derek, cruzando as pernas e levando uma das mãos ao brinco em sua orelha. 

 

 

 

- ah, qual é, Tommy? Eu disse que foi uma ideia ridícula! Todo mundo falou, só você que não quis acreditar – ditou um adolescente, se jogando no sofá, com o celular ao lado do ouvido. 

- cara, você mostrou o seu pau para a garota mais problemática da escola. Esperava o quê? Que ela se animasse e se ajoelhasse para lhe pagar um boquete? – indagou sorrindo divertido enquanto ouvia o amigo praguejar do outro lado da linha. 

Ele estava tão focado no jogo e em conversar com o amigo que se quer ouviu a porta dos fundos se abrindo. Devido ao encosto do sofá, que alcançava até um pouco acima de sua cabeça devido ao modo como estava deitado, ele se quer pôde ver a movimentação atrás de si. Para completar, o som das bombas explodindo em seu videogame ajudava a abafar os passos atrás de si. O garoto se quer sentiu alguém o encarando ou uma mão se erguendo. Quando ele viu, já fora tarde demais.  A lata de refrigerante caiu sobre sua virilha a atingindo com força o suficiente para lhe fazer gemer de dor enquanto se encolhia. 

- aí está a porra do seu pedido, cuzão – ditou um rapaz louro maior do que ele, em pé, atrás do sofá, encarando o rapaz menor se contorcer de dor. Ele jogou uma sacola com a marca de alguma lanchonete no sofá onde antes o outro estava esparramado. 

- MAS QUE PORRA, CHADD! PRECISAVA DISSO?! – gritou o menor encarando o maior sorrir divertido em sua direção. 

- foi mal, cara. Não era para ter acertado. Eu achei que você iria segurar. Mas que bom que acertou. Assim você aprende a não contar mais para o papai quando eu sair de noite – ditou o mais alto começando a se retirar da sala. 

- FILHO DA MÃE! VOCÊ VAI VER SÓ! – gritou o mais novo encarando o irmão mais velho subir as escadas. 

- ah, qual é? Não é como se você usasse ele, de todo jeito – reclamou o mais velho sorrindo. Irritar o irmão era sempre algo que animava Chadd. 

- filho da puta – rosnou o rapaz, alcançando o celular com uma mão, enquanto permanecia agarrando o próprio membro, tentando não choramingar de dor. 

- não foi nada, foi apenas o meu irmão idiota – disse assim que ouviu o amigo perguntar o que houve. 

- tudo bem, eu tenho que ir jantar, também. Nos falamos mais tarde – disse desligando e passando a ficar deitado no chão, ainda com as mãos nos países baixos. 

Enquanto isso, no andar de cima, Chadd estava jogado na cama, com os fones de ouvido no máximo, ao mesmo tempo em que lia uma revista sobre carros. Ele não era o melhor da turma, mas pelo menos estava em uma faculdade. Ele e o irmão caçula tinham a vontade de exercerem a mesma profissão do pai. Pareciam sempre discutir, mas no fundo eram bons irmãos um com o outro. Ele não conseguia ouvir nada além de sua música. O irmão esquentava o jantar no micro-ondas, faminto, ao mesmo tempo em que Chadd não tinha fome já que comeu fora com os amigos. 

Durante aquela madrugada, um carro parou na frente da casa, surpreendendo quem estava em seu interior por encontrar a mesma com as luzes apagadas. O casal se encarou por um momento antes de darem de ombros e descerem do veículo, conversando sobre como o baile fora uma maravilha e como todos pareciam animados para dançar e conversar naquela noite. A mulher fora a primeira a entrar em casa, ao mesmo tempo em que o marido se certificava de que o carro estava realmente fechado. O primeiro grito veio e com ele o desespero do marido. O homem correu para o interior da casa, já se preparando para acertar qualquer um, até mesmo os seus próprios filhos se os mesmos estivessem aprontando. Ele só não esperava que o acertado seria ele. Ver a imagem do filho, nos braços da mãe, enquanto a mesma chorava sem parar, repetindo negações várias vezes. 

- o que aconteceu? – perguntou se aproximando e vendo a mulher cobrindo o torso do garoto com as mãos, fazendo uma certa pressão contco a barriga do filho exposta. 

A imagem fora forte demais para si. Ver aquelas marcas... todas as doze aberturas sangrentas no torso do adolescente lhe apertou o peito de uma forma inimaginável. Ele não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Ao olhar ao redor ele viu que havia uma enorme trilha vermelha no carpete que ligava a cozinha ao segundo andar. A mulher começou a gritar pelo mais velho, afim de saber onde o mesmo estava e quem sabe obter alguma explicação, mas nada ocorreu. O homem sentiu o peito apertar mais e subiu as escadas com velocidade, ao mesmo tempo em que discava o número da polícia. Assim que chegou no corredor do andar de cima ele pôde ver a mesma trilha que ligava a cozinha ao banheiro do corredor, ligar o banheiro e o quarto do mais velho. 

- não – murmurou sentindo o peito apertar mais. 

Ele abriu a porta lentamente, encontrando o quarto escuro. Ao acender a luz, a imagem lhe acalmou um pouco. O mais velho estava deitado, com os fones de ouvido. Ele suspirou, ao mesmo tempo em deixava as lágrimas rolarem por seu rosto. Pelo menos o mais velho estava bem. Mas ele se enfureceu. Onde diabos Chadd estava quando o irmão havia precisado dele? Não é possível que ele não tenha ouvido o irmão gritar por ajuda. 

- Chadd! – chamou, choroso, enquanto a polícia atendia. 

- Eu preciso de ajuda! Esfaquearam o meu filho – disse o homem ouvindo a mulher pedir o endereço. Ele respondeu, antes de ouvir que a ajuda estava a caminho. 

- Chadd, levanta! – disse mais alto, se aproximando e batendo na perna do filho, mas não obteve reação alguma. 

- Chadd! – o homem chamou mais alto, batendo algumas vezes na barriga do filho. 

Foi quando ele sentiu. Havia uma deformidade ali. Ele apertou o local, suavemente, sentindo o dedo afundar na camisa do filho e logo uma mancha vermelha se formar no local. O homem passou a negar, repetidamente, ao mesmo tempo em que rezava à Deus para ser uma mentira. Quando ele levantou a camisa do filho, lentamente, as lágrimas rolaram mais forte por seu rosto. Doze. Doze buracos no torso do seu filho mais velho, buracos retos, como os de uma faca na carne. O homem se ergueu, chorando mais, com uma das mãos na boca. Acima da cabeça do filho, o relógio na parede marcava exatamente meia noite. 

 

Chapter 21: Cinderella

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- e então? – perguntou Derek, ao lado do delegado, enquanto mexia na cômoda do adolescente e Stiles analisava a terceira cena de crime.

Allison e Peter estavam no andar de baixo, interrogando os pais dos garotos, enquanto Derek e Stiles analisavam o andar de cima, Erica e Isaac analisavam o andar de baixo, já Scott e Boyd estavam na delegacia. O castanho analisava o corpo do mais velho, já que havia acabado o do mais novo que ainda estava deitado no sofá da sala. Ele tateou um dos ferimentos, antes de abrir um pouco o mesmo e olhar bem no fundo com a ajuda de uma lanterna de um oficial que se encontrava ao lado do delegado.

- eu estou terminando. Tenha calma -  respondeu Stiles enquanto o agente Hale abria o armário para analisar o mesmo. O castanho ainda verificou a musculatura do adolescente mais velho antes de suspirar e largar o braço do garoto.

- podem levar – ditou com seriedade retirando as luvas que os forenses lhe emprestaram e devolvia a lanterna ao oficial.

- e como estamos aqui? - perguntou Peter surgindo com Allison, Isaac e Erica no quarto.

- já sabe como aconteceu? – inquiriu Allison vendo o castanho menear positivamente.

- é melhor tirarem os pais da casa. Esse foi um jogo bem interessante – ditou o castanho colocando as mãos nos bolsos e sorrindo na direção do corpo, causando uma certa indignação nos oficiais, em Allison e em Derek.

- jogo? – perguntou o delegado Miriam, indignado.

- assassinato é um jogo de sobrevivência, delegado. Se você não souber jogar, você pode virar a vítima ou perder a sua chance – pontuou o castanho encarando o homem com um sorriso vitorioso nos lábios que era acompanhado por Erica.

- é como aquelas atividades de karatê em que se quebra algo. Se você acertar, o objeto quebra, se errar, a sua mão sofre o dano – disse a loura de cachos vendo o louro ao seu lado lhe fitar um pouco surpreso, antes de dar um passo na direção de Allison.

- as vezes vocês dois me assustam – comentou o Lahey ouvindo a mulher gargalhar baixinho.

- vamos logo para o andar de baixo. Enquanto conversamos, o desgraçado está descansando para mais uma – ditou Derek, irritado pelo tópico que estava sendo debatido ali.

- houve sinais de arrombamento? – perguntou Stiles ouvindo Erica negar.

- acharam as roupas? – questionou o castanho ouvindo Derek responder que estavam na lavanderia.

- e então? – indagou o delegado assim que todos se posicionaram na sala. Os pais se encontravam do lado de fora, sendo guiados para uma viatura, pela qual seriam levados para a delegacia para explicarem tudo melhor.

- os pais, Donna e Jim Trimen, chegaram em casa e encontraram os filhos mortos – ditou Derek, se apoiando no sofá enquanto via o castanho olhar ao redor mais uma vez.

- nos diga como eles morreram – pediu Peter encarando o castanho bater as mãos em uma palma, animadamente, indicando que começaria

- vamos lá. Voluntários para o papel de vítima? – indagou Stiles vendo Derek apontar para Isaac e Erica.

- por que eu? – perguntou Isaac vendo o moreno dar de ombros.

- não vai ser grande coisa, mas eu prefiro assistir – respondeu Derek observando o louro lhe fitar indignado.

- vem cá? O que realmente ele vai fazer? – indagou o oficial vendo Stiles apontar para Isaac.

- você vai ser Chadd Trimen, enquanto Erica vai ser o Oliver – disse Stiles vendo a loura dar de ombros, enquanto Isaac meneava positivamente.

- Oliver estava sentado no sofá, provavelmente vendo televisão ou jogando videogames, enquanto o irmão estava no quarto ouvindo música nos fones de ouvido – falou Stiles vendo Erica se jogar no sofá, despojadamente, lhe encarando, enquanto Isaac permanecia em um canto, ao lado de Allison e Peter.

- ele houve batidas na porta e vai ver quem é – ditou seguindo para a porta dos fundos, se colocando do outro lado, enquanto Erica seguia para abrir a mesma.

- ele a reconhece e abre a porta. Ela parece desesperada e pede ajuda, provavelmente, alegando ter um assassino atrás dela – disse Stiles ignorando o olhar de frustração do delegado por ele se referir ao assassino como mulher e não como um homem.

- Desesperado, ele tranca a porta e corre para a cozinha, onde há um telefone fixo – ditou o castanho e logo Erica correu para a cozinha, de forma desesperada.

- ele puxa o telefone, mas, quando pensa abrigar a vítima, ele apenas deu a passagem para a pessoa que lhe tomaria a vida. Ele se vira fazendo questionamentos enquanto discava o número da polícia, e é nesse momento em que ela ataca – explicou Stiles vendo Erica encenar tudo o que ele dizia, antes de ele avançar contra ela e fingir a golpear na barriga.

- por que primeiro na barriga e não no peito? – perguntou o delegado vendo o castanho se virar com os olhos indignados.

- os órgãos do peito são essenciais para a sobrevivência em caso de ferimentos graves. Se eles sofrem danos, a morte vem mais rápido – respondeu Erica observando Stiles lhe apontar com o dedo.

- e tudo o que ela menos quer é matar de cara – completou Stiles, antes de se virar para a loura novamente, voltando a encenar.

- ela o esfaqueia aqui, doze vezes, sendo as últimas no peito. Então a assassina larga o corpo, permitindo que ele dê o seu último suspiro – ditou Stiles apontando para o chão.

- isso explica os respingos no carpete e a enorme poça no canto – ditou Isaac vendo o carpete manchado de vermelho onde Erica se encontrava de pé.

- então ela segue para o andar de cima. Ela sabia que Chadd estaria nos fones de ouvido. Um adolescente um tanto rebelde com pôsteres de bandas de rock gosta de se isolar com música alta. Então é claro que ele não ouviu os gritos do irmão. – disse Stiles começando a subir as escadas, sendo seguido por Isaac.

- ela abriu a porta, levemente, apenas para ver Chadd, deitado no chão, de olhos fechados – falou o castanho e Isaac se moveu até deitar onde começava o rastro de sangue que seguia para o banheiro do corredor.

- ela se aproxima calmamente e então dá o primeiro golpe. Em choque e com dor extrema, Chadd se contorce assustado. Mas ela não parou. Estava cega pela fúria. E como o abdômen do rapaz estava retraído, a lâmina causou um estrago maior em sua pele do que na pele do seu irmão, o que explica os cortes maiores – disse vendo o louro se levantar e lhe fitar surpreso.

- como é que você faz isso? – perguntou o oficial ao lado do delegado, que encarava tudo com confusão.

- certo. Ela os matou, mas como se livrou das roupas e do sangue? – questionou Marshall vendo o Stilinski rolar os olhos.

- depois de um tempo, se acalmando, ela percebe o que fez e começa a se culpar. Então é aí começa o seu ritual de desculpas – explicou segurando no nada, curvado, e começando a fingir puxar algo.

- primeiro ela limpa Chadd, no banheiro. Se livra das roupas sujas e o deixa no box do banheiro, esperando que o sangramento pare. Enquanto ela esperava o sangue do mais velho parar de jorrar, ela vai buscar o mais novo, levando consigo as roupas do mais velho. Ela coloca as roupas dos dois para lavar, antes de começar a levar o corpo de Oliver para o andar de cima – narrou Stiles, agora apontando com os dedos, ao invés de descer e encenar.

- então ela deixa os dois no box, para que pudesse limpar o carpete. Depois de esfregar tudo ao máximo que se permitiu, ela decidiu que era hora de cuidar dos corpos. A assassina os banhou, os vestiu e então colocou onde os encontrou. Chadd no quarto, mas dessa vez na cama, e Oliver no sofá da sala. – ditou vendo todos lhe fitarem. Estando o oficial, o delegado e Isaac com surpresa, Erica com diversão, já Derek, Allison e Peter com seriedade.

- e então ela foi embora – disse o delegado

- não. Na verdade, ela retirou as pilhas de todos os relógios, de forma que os ponteiros apontassem para o número doze permanentemente – ditou Peter apontando para o relógio do corredor e para o do quarto de Chadd.

- na outra cena de crime que analisamos, todos os relógios de ponteiro também estavam parados no número doze – comentou Allison

- ela com certeza tem problemas sérios com o número doze – soltou Isaac, encarando Erica menear positivamente.

- alguma ideia de suspeito ou alguma ideia de perfil? – perguntou Peter encarando Derek, Allison e Stiles.

- a única coisa que posso dizer é que ela sabe lavar roupas. As manchas nas roupas são quase inexistentes – ditou Allison vendo o louro mais velho estreitar  o olhar pensativo.

- eu posso fazer uma análise nos químicos para roupas que tem na casa para ver se encontro algum tipo de alvejante ou outro químico que possa nos dizer alguma coisa sobre ela – disse Isaac vendo Peter menear positivamente, antes de o rapaz se dirigir para a lavanderia.

- nós temos que nos reunir para reavaliar tudo – falou Derek encarando o tio menear positivamente.

- eu quero ir ao necrotério fazer a autópsia – ditou o castanho observando o louro mais velho menear positivamente mais uma vez.

- claro! O Derek leva você até lá – ditou Peter apertando o ombro do sobrinho levemente.

 

 

 


- eu odeio física! – exclamou uma garota de cabelos louros colocando, corretamente, o livro da matéria no seu armário.

- pelo amor de Deus, Cindy! Você só fica lixando as unhas na sala de aula. Se quer presta atenção em alguma coisa – exclamou Nancy, uma garota de cabelos negros, que segurava a alça da mochila em seus ombros.

- eu presto atenção é na bunda daquele professor. Garota, colocar as mãos naquela bunda seria como ir no paraíso e voltar – ditou Cindy observando o grupo de amigas rir de si.

- o Josh está tão gatinho, hoje – disse Mindy encarando o rapaz se aproximar do grupo, junto de dois de seus amigos.

- nem me fala. Ele pisca esses olhos verdes e eu pisco outra coisa – murmurou Bella para o grupo, que gargalhou baixinho, encarando os garotos se aproximarem.

- e aí, Nancy? – cumprimentou Josh, um rapaz louro de olhos verdes abraçando a morena e beijando o topo da cabeça da mesma.

- chora – disse a garota, causando risos nos rapazes.

- oi, Josh – cumprimentou Cindy, brincando com uma mecha de cabelo nos dedos, tentando chamar a atenção do rapaz a sua frente.

- ah, oi – o rapaz mal olhou para ela e já retornou a falar com a garota.

- você não quer almoçar com a gente hoje? – perguntou um rapaz ao lado de Josh encarando a garota dar de ombros.

- claro! Podemos falar do jogo dos Lakers que teve ontem – respondeu Nancy sendo guiada pelos três rapazes para o refeitório.

- nos vemos depois, meninas – despediu-se a garota acenando para as meninas, que encaravam a cena surpresas.

- eu ainda não sei o que ele vê nela – comentou Mindy, encarando o, agora, quarteto se afastar.

- eu também não sei. Ela é tão sem graça e certinha – argumentou Bella, cruzando os braços, olhando, indignada, para o garoto mais popular da escola abraçado a garota de cabelos negros.

- mas isso não vai durar. E eu vou cuidar para ter certeza disso – ditou Cindy, com um olhar furioso, observando a garota sumir de sua vista.

- e então ele fez aquela cesta de três pontos e eu fiquei: “Nããão, sem chance” – falava Nancy vendo os rapazes rirem de seus comentários sobre o jogo.

- cara, eu adoro essa garota! – exclamou um dos amigos de Josh, socando o braço do outro.

- a Nancy é a melhor, galera – falou Josh sorrindo ladino na direção da garota, que sorriu um tanto convencida, dando de ombros, antes de sorrir gentil para os três.

- nós vamos para a quadra de basquete no final da aula. Não quer ir com a gente? Josh disse que você é boa no basquete – convidou um dos rapazes, vendo a garota estalar os lábios, olhando para a pizza na própria bandeja.

- não vai dar. Eu tenho que ajudar a minha mãe com as compras. Mas eu posso ir na casa do Josh assistir ao jogo de hoje. Por que não nos reunimos lá? – respondeu vendo os garotos darem de ombros.

- fechado, então – ditou Josh, animado, encarando a garota sorrir estendendo o punho fechado em sua direção. O rapaz socou, levemente, o punho da garota, vendo a mesma lhe zoar dizendo que ele tinha a força de uma garotinha.

 

 

 

- quem são vocês? – pergunto o legista assim que Derek e Stiles adentraram o necrotério.

- eu sou o agente Derek Hale, este é o Doutor Stiles Stilinski. Ele vai lhe acompanhar durante a autópsia dos filhos dos Trimen – anunciou Derek, vendo o homem estreitar o olhar na direção do castanho.

- eu não preciso de ajuda, senhores. Muito obrigado – disse o homem se preparando para abrir o corpo de Oliver.

- legistas devem ter um problema comigo. Acho que tem uma matéria no curso de medicina que consiste em os fazer me odiar – disse Stiles se dirigindo para o corpo de Oliver, após vestir um par de luvas.

- o que pensa que está fazendo? – perguntou o homem vendo o castanho começar a retirar a roupa do corpo mais novo.

- o meu trabalho – respondeu o assassino seguindo para os sapatos.

- apenas faça o seu trabalho, doutor. Esse aí tem experiência em abrir corpos – falou Derek, de braços cruzados, no canto da sala.

Derek observou, atentamente, o Stilinski despir o corpo do adolescente de quinze anos, com cuidado para não danificar qualquer pista que se encontrassem nas roupas ou debaixo delas. Stiles passou a analisar o corpo despido do jovem, procurando qualquer coisa que não tivesse visto na cena do crime. O castanho virou o corpo para procurar nas costas do rapaz, mas parou assim que ouviu o legista murmurar algo sobre “incomum”, ao olhar para o mesmo, ele pôde ver o homem com um dos sapatos do rapaz na mão, enquanto encarava o corpo na mesa.

- parece que esse rapaz fora uma vítima especial – comentou o legista encarando os pés do cadáver.

Derek sentiu uma leve agonia passar por seu corpo. Aquilo não havia sido encontrado nas outras vítimas. Os dedos do pé de Chadd Trimen, assim como uma parte das laterais de seus pés haviam sido cortados. Stiles, no mesmo instante, ignorou o corpo de Oliver e se aproximou do corpo de Chadd, se aproximando do pé para analisar melhor os cortes nos pés do adolescente. O legista viu o rapaz de brincos tocar os ferimentos com as mãos vestidas de luvas.

- o que está fazendo? – perguntou o homem vendo o rapaz lhe ignorar prontamente.

- por que diabos... – murmurou vendo que alguns pedaços do calcanhar também foram cortados.

- não havia visto isso? – perguntou Derek, surpreso.

- não. Não pensei que os pés de um deles sofreriam algum corte, já que ela se foca no torso – respondeu Stiles tateando todo o pé de Chadd Trimen.

- sabe o motivo de ela ter feito isso? – indagou Derek vendo o castanho se calar para pensar.

- por que acham que é ela? - perguntou o legista ouvindo o agente Hale suspirar.

- limpeza das roupas e da cena de crime. Sem contar que a maior parte das mulheres prefere matar apenas homens. Não houve vítimas do sexo feminino, logo... – o Hale respondeu a pergunta do legista vendo o mesmo ficar pensativo, encarando o corpo sobre a mesa.

- o que está fazendo? – perguntou o homem vendo o castanho tatear o pé de Oliver Trimen.

- eu não estou acreditando nisso – murmurou Stiles, pensativo pegando um dos sapatos de Oliver e se aproximando do corpo de Chadd

- o que? – perguntou Derek encarando o castanho calçar o pé mutilado do cadáver.

- preciso dos dados das outras vítimas – disse o castanho retirando as luvas e as jogando em qualquer canto, ao mesmo tempo em que era seguido pelo agente Hale para a delegacia.

 

 

 

 

- vocês tem alguma ideia de quem possa ter feito isso aos seus filhos? – indagou Allison observando os pais das duas últimas vítimas, desolados, enxugarem as lágrimas constantemente.

- não. – respondeu o homem

- nenhum inimigo? Mesmo alguém da escola ou uma ex-namorada? – perguntou Scott vendo os dois negarem com a cabeça.

- eles não tinham inimigos nenhum. Era mais fácil um ser o inimigo do outro, pelo jeito que brigavam – respondeu a mulher, fungando e limpando o nariz com um lenço.

- Chadd terminou recentemente com a namorada, mas ela não seria capaz disso – completou o marido da mulher, abraçando a mesma, enquanto ela logo voltava a chorar.

- nós precisamos do nome da ex-namorada do Chadd, senhor Trimen – disse Allison, calmamente, vendo o homem menear positivamente.

- Karoline, Karoline Davis – informou o homem vendo a morena menear positivamente, enquanto o agente de queixo torto puxava o celular e discava um número qualquer na discagem rápida.

- Lydia, preciso que nos mande o endereço de Karoline Davis – falou Scott, já se retirando do local, enquanto Allison agradecia a paciência do casal e se erguia.

Os dois se dirigiram para a sala do delegado, onde Peter, Vernon e Erica analisavam um quadro com as informações que tinham. Scott colocou o telefone no viva-voz enquanto deixava o aparelho sobre a mesa do delegado e cruzava os braços. Erica encarou o aparelho, logo sabendo que se tratava de uma chamada com a “ruiva matrix”, como ela gostava de chamar. Não havia um ser humano normal que Lydia não conseguisse rastrear com aqueles computadores que eles tinham em sua base.

- então, minha equipe de mortais capazes de resistirem a minha beleza mortal, acho que já podemos excluir Karoline Davis de nossa lista de suspeitos. Ela está em Orlando com a família. Até postou algumas fotos na hora do assassinato, passeando com a família – falou a ruiva e o celular de Allison vibrou. A morena mexeu no mesmo antes de virar para o grupo, revelando ser uma foto de uma garota, com dois adultos atrás da mesma, enquanto sorriam para a câmera.

- ela e a família viajaram um dia antes do assassinato do ex-namorado. E a foto foi postada do hotel em que estão hospedados – finalizou a ruiva e Peter suspirou cansado.

- isso já está me irritando. Essa vadia não nos deixou nenhum rastro. Parece até uma profissional – falou Scott, irritado, vendo Vernon coçar a cabeça.

Aquele caso realmente estava ficando complicado. O assassino não tinha um tempo definido para matar, como alguns serial killers tinham. O espaço de tempo entre as mortes variava muito. As cenas de crime não tinham nenhuma pista sobre o assassino, além do modo que ela matava, o que Stiles podia deduzir bem, e do modo como as vítimas reagiam, que Erica poderia deduzir tão bem quanto o Stilinski. Mas não havia nada sobre ela. Nenhum fio de cabelo, nenhum DNA, nada. Tudo o que eles haviam conseguido, até agora, era uma maldita pegada de um sapato masculino, o que podia quebrar a hipótese de Stiles de o culpado pelos crimes ser uma mulher, mas ainda assim os agentes seguiam a dedução do Stilinski.

Isso irritava o delegado. A pegada era de um sapato masculino, mas eles ainda insistiam em perseguir uma mulher. Marshal estava quase liberando fumaça pelos ouvidos. Ele julgava aqueles agentes como os mais incompetentes do mundo. O homem os via como completos idiotas que não conseguiam perseguir o óbvio. Os crimes eram brutais, havia uma pegada masculina que não se encaixava em nenhuma das vítimas. Era óbvio que eles estavam perseguindo um homem.

- eu sei. Parece até que estamos perseguindo algo que não existe – ditou o negro, vendo o moreno de queixo torto menear positivamente.

- bom. Mas nós sabemos que existe, e precisamos achar antes que ataque novamente – ditou Peter, com seriedade, suspirando. Eles não dormiram desde que pegaram o caso, estavam todos cansados.

- vamos recapitular tudo o que temos – ditou Allison, tentando não deixar o cansaço vencer a equipe.

- o sujeito tem a possibilidade de ser do sexo feminino, usa sapatos masculinos, provavelmente somente nos crimes, tem uma fixação pelo número doze e utiliza uma faca que, pelos ferimentos, deve ter doze polegadas – narrou o Boyd, encarando todos menearem positivamente. O oficial Mason adentrou a sala antes de o negro finalizar a narração.

- conseguiu descobrir o tipo de arma apenas vendo o ferimento? – indagou o oficial, surpreso.

- Vernon é o nosso especialista em armas, assim como Allison. Os dois são incríveis na matemática e análise de armas. São ainda melhores empunhando ela - explicou Peter vendo o homem oferecer café para todos.

- obrigado – agradeceu Erica bebendo do líquido negro quentinho e suspirando logo em seguida.

- conseguiram alguma coisa? – perguntou o homem vendo os agentes negarem com a cabeça.

- não. Estamos completamente cegos. Não há nenhuma pista para seguir. Temos pegadas diferentes nas cenas do crime, mas todas são de sapatos masculinos. Sabemos que é fanática por limpeza, sabemos que tipo de arma ela usa e como ela mata. Mas fora isso não temos mais nada – respondeu Allison vendo o oficial fazer uma careta.

- a imprensa já está fazendo fila aí na porta procurando mais informações sobre O assassino da meia noite – anunciou o oficial bebendo do próprio café antes de ver os agentes menearem positivamente.

- assassino da meia noite? – perguntou Erica vendo o homem dar de ombros.

- a imprensa sendo a imprensa – comentou Isaac, cansado.

- estamos esperando o Hale e o Stilinski retornarem para traçarmos um perfil – ditou Scott, vendo o homem assentir.

- temos que pegar esse cara antes da meia noite de hoje – disse o oficial, chamando a atenção de Erica para suas palavras. Antes que Erica falasse algo, Stiles e Derek adentraram a sala um tanto apressados.

- precisamos dos arquivos de todas as vítimas – disse Derek ao ver Stiles ignorar a todos e avançar sobre a mesa com urgência.

O castanho folheou duas pastas de arquivos, seguindo para os dados pessoais. Peter encarava o assassino da divisão com esperança no olhar, enquanto o resto apenas observava o rapaz com curiosidade. Stiles parou em uma folha nas duas pastas, passando a ler ambas ao mesmo tempo, surpreendendo o oficial Mason, que encarou a cena boquiaberto. Com força, Stiles golpeou a mesa do delegado, o qual acabara de entrar, curioso devido a velocidade em que Stiles e Derek invadiram a delegacia, atravessando a mesma ignorando todo mundo, novamente.

- como fui tão cego?! – exclamou revoltado.

- do que está falando? – perguntou Scott Vendo o castanho se virar para o grupo.

- está tudo tão óbvio e eu não prestei atenção. Ficar preso naquela caixa me deixou enferrujado demais – falou Stiles sorrindo indignado.

- Stiles! Fala coisa com coisa! – ditou Derek, já impaciente.

- vamos lá: Limpa a roupa dos outros, se encontra com um homem na casa dele, acaba a meia noite, doze vezes – falou o castanho começando a bater na mesa em um ritmo calmo.

- eu não entendi nada – ditou Isaac dando de ombros voltando a beber do seu café.

- nós estamos caçando uma... – o castanho encorajou a equipe, movendo a mão pedindo por palavras.

- eu não faço ideia do que ele quer – disse o oficial Mason bebendo mais um gole de café

- vamos lá! Não é tão difícil assim. Vocês só têm que pensar de maneira infantil. Vamos se lembrem da infância de vocês – ditou o castanho esfregando as palmas das mãos.

- está dizendo que o assassino é uma criança? – questionou o delegado, indignado.

- não. É pouco provável que aconteça de novo – respondeu Stiles vendo o Miriam lhe fitar questionador.

- de novo? – perguntou vendo o castanho lhe ignorar.

- qual é o problema de vocês? Eu vou facilitar um pouco mais para vocês. De novo: Mulher, lava as roupas dos outros, usa sapatos que não são seus, vai para o castelo de um homem, sai a meia noite, doze vezes – ditou o Stilinski vendo todos ficarem pensativos. e Erica estalou os dedos chamando a atenção do castanho.

- Cinderela! – exclamou a loura de cachos longos vendo o castanho bater as mãos em uma palma e apontar para si.

 

Chapter 22: First Choice

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- Cinderela?! – questionaram Derek, Scott, Isaac, Allison e Boyd vendo o castanho menear positivamente, enquanto Peter e Erica se aproximavam do quadro para analisar o mesmo.

- isso mesmo! Essa garota é o lado negro de Cinderela – respondeu Stiles se sentando sobre a mesa da sala e erguendo a mão até o seu brinco de copas.

- como assim o lado negro de Cinderela? – perguntou o oficial, confuso, observando o homem de brincos lhe direcionar um olhar divertido.

- toda fábula que existe hoje é apenas a manipulação de uma história trágica e dramática que ocorreu no passado. Chapeuzinho vermelho, o Flautista de Hamelin, João e Maria.... Todas elas tem uma maldade profunda em sua originalidade. – ditou o castanho encarando o grupo, até mesmo Peter e Erica lhe encarar atentamente.

- Qual é? O Flautista de Hamelin?! Maldade profunda?! Como que existe maldade naquilo?! – indagou o oficial, indignado.

- O Flautista limpou a cidade dos ratos, mas quando a mesma se negou a lhe pagar por seus serviços, ele esperou até o cair da noite para hipnotizar as crianças com sua flauta e as levou para uma caverna, os fazendo de refém. Na fabula, ele divertiu e encantou as crianças com a sua música, mas no lado negro da história, ele as estuprou enquanto esperava pelo pagamento da cidade. – respondeu o castanho lançando um olhar sério para o oficial que tomou uma expressão de surpresa no olhar.

- isso não pode ser verdade! – exclamou o homem tentando rebater o argumento do castanho.

- então por que não tenta olhar para a nossa investigação? Cinderela era obrigada a fazer as tarefas de casa: cozinhava, limpava, lavava. Tudo isso sem nunca ser recompensada ou agradecida. Ela foi ao baile escondida e, ao fugir do mesmo quando o relógio bateu meia noite, perdeu o seu sapato de cristal. Quando o príncipe anunciou que se casaria com aquela que calçasse o sapato, todas as mulheres decidiram experimentar – ditou o castanho se erguendo e se aproximando do oficial, passando a rondar o mesmo.

- e daí? Nosso assassino também usa meia noite e um relógio. Ele também limpa e lava. Isso não é o suficiente – argumentou o delegado vendo o castanho olhar para si predatoriamente e em um movimento rápido, como um animal que fora surpreendido.

- aí é que está, delegado. O nosso assassino também exige que as vítimas calcem sapatos – ditou o castanho se afastando do oficial e se aproximando do delegado.

- não me recordo de termos analisado isso – disse o delegado vendo o castanho erguer uma folha de papel a qual ele nem vira que o outro tinha em mãos. A folha era a foto dos sapatos da primeira vítima.

- qual é o número que a nossa primeira vítima calçava? – perguntou o Stilinski vendo o homem franzir o cenho em sua direção.

- eu não sei. Ele era uma adolescente. Pode calçar um número pequeno, normal ou grande – respondeu o Miriam vendo o castanho sorrir largo.

- ele calça trinta e sete – respondeu Stiles vendo o homem lhe fitar ainda com seriedade.

- e daí? – perguntou o delegado vendo o outro sorrir largo.

- quanto o senhor acha que Chadd Trimen calçava? – indagou o castanho vendo o outro rolar os olhos.

- onde você quer chegar? – perguntou Derek, também impaciente. Ele não estava conseguindo acompanhar o raciocínio do assassino. E os rodeios que Alice estava dando estavam lhe tirando a calma.

- Chadd Trimen calçava um número maior do que o do irmão, que também calçava trinta e sete. Mas quando retiramos os sapatos dele, agora no necrotério, o sapato que Chadd usava era um de número trinta e sete – respondeu Stiles vendo os investigadores lhe fitarem com expressões pensativas.

- como ela calçou o sapato nele, então? – perguntou Scott confuso.

- do mesmo jeito que as irmãs de Cinderela calçaram o sapatinho de cristal na versão original. Na fábula, os pés eram grandes demais e elas foram ignoradas pelo príncipe. No entanto, na história original, não calçar aquele sapato estava fora de cogitação para elas e a mãe. Quando o sapato não dava, elas cortavam um pedaço do pé com uma faca para poderem calçar o sapato. A primeira tirou o calcanhar, mas o sangue denunciou a farsa. A segunda cortou os dedos, mas também foi denunciada pelo sangue. Todas as duas quase se casaram com o príncipe – disse o castanho vendo o grupo lhe fitar com questionamento.

- está me dizendo que... – Peter fora cortado pelo castanho.

- nossa assassina cortou partes do pé de Chadd para poder calçar o sapato nele – respondeu Derek vendo o tio olhar para o quadro com seriedade.

- chocada! – exclamou Erica.

- então você não viu isso na casa? – perguntou o delegado, controlando o sorriso, vendo o castanho negar com a cabeça.

- eu não tirei as roupas de Chadd para perceber isso lá. Vocês estavam analisando a casa, vocês que deveriam ter notado que os sapatos no armário eram maiores do que os que estavam nos pés, não eu – rebateu o castanho e o sorriso controlado do homem morreu.

- eu deixei isso passar – murmurou Derek, frustrado.

- não se desculpe. Não é você que está atrasando a nossa investigação – comentou Stiles encarando o delegado com seriedade. Alice não estava fazendo a mínima questão de disfarçar a sua intensão com aquele comentário.

- o que está insinuando? Eu quero pegar esse desgraçado mais do que vocês! – questionou o homem, irritado.

- então pare de ir contra nós e apenas aceite os fatos. Não estamos forjando informações, estamos as tirando de debaixo do tapete – ditou o castanho dando as costas para o homem enquanto seguia para Peter, abraçando o mais velho, deitando a cabeça no peito do mesmo, ao mesmo tempo em que o homem mais velho lhe acariciava os fios castanhos.

- para mim chega. Eu não vou ficar aqui e escutar desaforos de um estranho como você – ditou o homem saindo da sala, irritado, batendo a porta com força.

- está tudo bem, garoto – murmurou Peter ao mesmo tempo em que Stiles afundava parte do rosto em seu peito. Os agentes encararam a cena questionadores, assim como Boyd, enquanto Erica, Isaac e o oficial não faziam questão de esconderem as suas expressões confusas.

- olha, perdoem o delegado Miriam. Ele... apenas não está aceitando muito bem esse negócio de Serial Killer da meia noite – disse o oficial, chamando a atenção para si.

- Cinderela – a Reyes corrigiu vendo o oficial lhe observar brevemente.

- é. Ele só... não vai muito bem com isso. Peço que relevem com ele – disse o homem enquanto se preparava para se retirar.

- acho que já podemos soltar o perfil – falou Allison vendo Peter menear positivamente.

- vamos lá fora – disse o mais velho começando a caminhar para fora da sala, enquanto ainda era abraçado por Stiles.

- eu só vou deixar o almoço dele na sala e já volto – pediu uma garota encarando uma das oficiais lhe fitar compreensiva.

- eu sinto muito, mas a sala do seu pai está ocupada e você não pode entrar – disse a mulher vendo a garota suspirar cansada.

- Nancy – chamou o oficial que ajudava os agentes na investigação, vendo a garota olhar em sua direção.

- tio Ben! – exclamou a garota ignorando a oficial e seguindo para o homem.

- veio trazer o almoço? – perguntou o homem vendo a garota menear positivamente.

- mas pelo visto eu não posso entrar na sala. Você pode entregar para mim? – pediu a menina vendo homem responder positivamente.

- quem são eles? – inquiriu a garota vendo o grupo atrás do homem.

- ah! Esses são os federais que vieram nos ajudar em um caso – respondeu o homem, cuidadosamente, vendo a garota ficar em silêncio, antes de menear positivamente.

- entendi. Bom, eu vou indo. Tomara que peguem esse assassino logo – disse a garota acenando e saindo apressada.

- quem era a garota? – perguntou Erica vendo a adolescente sair correndo da delegacia.

- aquela é Nancy Miriam. A filha do delegado Miriam. É uma boa menina. Vive trazendo o almoço do pai quando ele não pode ir para casa – respondeu Ben seguindo de volta para a sala com o intuito de deixar o almoço do delegado, como a menina havia pedido.

 

 

 

 

- viu?! O cara não vai matar a gente! – exclamou Marcos encarando Billy lhe fitar com seriedade.

- espero que você esteja certo, Marcos. Aquele cara fodeu a gente em uma cela minúscula. Três contra um! E nós três fomos completamente humilhados – ditou Billy cruzando os braços enquanto observava, no refeitório, o homem espancado por seu “suposto mestre” comer o jantar bem lentamente, devido aos seus ferimentos.

- cara, relaxa. Não estamos mais naquela cela. Ele não tem mais uma arma de choque. Estamos seguros, estamos numa boa – falou Jimmy vendo o Rei menear, ao mesmo tempo em que Billy olhava ao redor, nervoso.

- eu não vejo o tal do Alice desde a surra que ele deu no Adam. Isso está estranho – murmurou Billy vendo Marcos e Jimmy olharem ao redor também.

- você também notou, não é? – perguntou Marcos encarando Billy lhe fitar com seriedade.

- notou o quê? – inquiriu Jimmy, confuso.

- aquele cara... Ele some, de vez em quando. Quando todo mundo deveria estar comendo, aquele cara não está – explicou Billy vendo Jimmy olhar ao redor.

- agora foi que eu notei que ele não está aqui – comentou Jimmy, o mais baixo, encarando os dois parceiros se encararem com seriedade.

- deve ter ido ao banheiro – argumentou Jimmy vendo os dois lhe fitarem com seriedade.

- qual é, Jimmy? Eu sei que você é mais inteligente do que isso – argumentou Marcos vendo o mais baixo morder o lábio inferior.

- ele está esperando a gente, não está? – questionou Jimmy vendo os outros dois lhe fitarem com um certo espanto.

- ele está na nossa cela, assim como a gente esteve na dele. Não é isso? – inquiriu o mais baixo não notando as gargantas dos amigos engolirem em seco.

Marcos e Billy não haviam pensado naquela possibilidade. Não se passou pelas cabeças dos dois que, talvez, Alice não estivesse ali por estar usando o plano deles contra eles. Fazia sentido. O guarda Josh era manipulado por Alice, assim como eles três deveriam ser. O homem poderia muito bem ter transportado o seu novo superior para a cela deles enquanto os três estavam ocupados demais comendo.

Medo. 

Desespero.

Arrependimento.

Era isso o que os três homens sentiam naquele momento. A fome havia ido embora em pouco tempo. Eles se lembravam perfeitamente do que ocorreu na cela do prisioneiro novato. Aquele castanho de brincos parecia não estar no mesmo cubículo que eles enquanto se movia naquela briga. Enquanto Marcos, Billy e Jimmy se moviam com certa dificuldade naquele pequeno espaço, o homem de brincos parecia estar se movendo em algum tipo de campo de futebol. Ele tinha a mobilidade e a agilidade que os três homens tinham fora da cela. Alice se divertiu ao mesmo tempo em que os punia lentamente. Os três ficaram cabisbaixos enquanto o peito de cada um apertava com o medo de encararem o castanho novamente.

O desespero crescia cada vez mais. Eles se lembravam da voz do outro, que indicava a sua diversão claramente, ao mesmo tempo em que ele explicava as regras de sua dominância para os três. Jimmy se lembrava bem de como encarava o castanho de brincos de baixo, vendo o mesmo de uma perspectiva que realmente o assustava, uma vez que Stiles havia chegado até mesmo a colocar o pé sobre sua cabeça, indicando que ele não deveria nunca erguer a cabeça para o homem, e sim a abaixar.

- estamos fodidos – murmurou Marcos encarando o próprio prato, não sentindo mais a fome que sentia antes.

Eles se arrependiam de não terem feito como o castanho havia ordenado. Os três se xingavam mentalmente por não terem aceitado aquele jogo ridículo antes. Agora, a voz do castanho ecoava em suas mentes, repetindo tudo o que eles iriam sofrer caso eles o desobedecessem. Marcos, Jimmy e Billy se lembravam do sorriso divertido do rapaz enquanto pronunciava coisas violentas que correriam com eles caso o homem fosse decepcionado.

E ele fora mais do que decepcionado.

Alice fora enfurecido.

- a gente devia ter ido lá – murmurou Jimmy brincando com a massa verde que aqueles homens que os mantinham naquela prisão chamavam de purê de batatas.

 

 

 


- CINDY! EU PRECISO QUE VOCÊ FAÇA UM FAVOR PARA MIM! – Cindy ouviu a sua mãe gritar do andar de baixo.

- EU ACABEI DE PINTAR AS MINHAS UNHAS! – gritou a garota em uma tentativa de argumentar.

- NÃO SE PREOCUPE! NÃO VAI ESTRAGAR ELAS. MAS SÓ SE NÃO FOR BURRA OU DESASTRADA! – gritou a mulher, revirando os olhos pela atitude preguiçosa da filha

- O QUE EU TENHO QUE FAZER? – gritou a garota fechando a sua maleta de esmalte após arrumar tudo o que havia usado.

- VÁ COMPRAR ALGUNS OVOS! – gritou a mulher e Cindy revirou os olhos, ao mesmo tempo em que rosnava para o teto.

- vê se eu tenho cara de quem vai comprar ovos? – murmurou a garota enquanto andava com os dedos das mãos estirados para que não acabasse por borrar as unhas.

- VOCÊ OUVIU? – gritou a mais velha do andar de baixo.

- SIM! ESTOU CALÇANDO MEUS SAPATOS! – gritou a garota se aproximando do seu armário.

- calçar esses sapatos sem borrar as minhas unhas... – murmurou ao mesmo tempo em que tentava calçar aqueles sapatos de salto alto sem usar as mãos – deveria ser modalidade olímpica – finalizou assim que conseguiu realizar tal feito, depois de muito esforço.

- O DINHEIRO ESTÁ NO APARADOR! – gritou a mulher enquanto Cindy caminhava para fora do quarto.

A garota desceu as escadas, pegou o dinheiro e saiu. Ela caminhou pela cidade, entediada. Chegou ao seu destino depois cumpriu o seu objetivo e se dirigiu de volta para casa. No caminho, ela acabou se deparando com algo que a animou. Os seus olhos até brilharam ao admirar o corpo pouco definido do adolescente de cabelos negros e olhos verdes. Josh caminhava descamisado pela praça, com o corpo um tanto suado e uma garrafa de água na mão. Ela sentiu o peito acelerar ao ver o rapaz caminhar em sua direção, despreocupado. Ajustando a própria roupa, Cindy tratou de colocar um sorriso sedutor nos lábios e a encarar o garoto com um ar sexy.

Josh a observou por um tempo, sorrindo minimamente, antes de desviar o olhar para o lado e sorrir largo. O rapaz parou de andar na direção de Cindy e se virou para o lado, cruzando os braços e sorrindo divertido. A garota ficou desanimada e indignada, perdendo a postura recém montada. Ela caminhou um pouco mais na direção do rapaz e logo pôde ver a imagem de uma garota de cabelos trançados, camisa de manga cumprida, calça e tênis.

- Nancy... – rosnou Cindy cerrando o punho ao ver a garota beijar o rosto do rapaz e sair apressada, acenando.

Josh fitou a garota ir embora, antes de sorrir largo e mudar de direção, correndo, animado. Cindy cerrou mais ainda os punhos. Ela queria gritar de ódio. Como aquele rapaz podia notar aquela garota que se cobria, enquanto ela tinha um corpo perfeito na vitrine apenas para ele?! Cindy estava furiosa, puta, possessa. Marchando na direção de sua casa, a garota murmurava palavras de ódio para a filha do delegado.

- eu vou matar essa garota – murmurou a garota de cabelos louros enquanto caminhava a passos pesados.

- eu vou matar a Nancy, sim! – ela soou mais alto, desta vez, chamando a atenção de algumas pessoas

 

 

 


- você tem certeza? – perguntou Peter vendo o louro menear positivamente.

- eu tenho, Peter. Absoluta. Eu sei que você diz que está tudo bem mas... o Stiles me assustou hoje, na prisão  - disse o homem encarando o mais velho lhe fitar com seriedade.

- o que ocorreu? – inquiriu Peter observando Isaac fitar Stiles brincando com baralhos do lado de dentro da sala.

- quando vocês nos chamaram, o Stiles estava... batendo a cabeça de um homem contra o chão, no meio do pátio - respondeu o Lahey vendo o outro suspirar, cansado.

- eu não sei o que está acontecendo, mas eu vou conversar com ele. Obrigado por me contar e me mantenha informado sempre que puder. Aqui, o número do meu telefone. Me ligue se as coisas ficarem estranhas na prisão – falou o homem entregando um cartão para Isaac e apertando o ombro do mais novo rapidamente.

- certo – respondeu escondendo o cartão.

- e então? Você vai falar ou vai ficar me encarando o dia todo? – perguntou Stiles jogando as cartas de uma mão para a outra, novamente, enquanto via Derek lhe fitar com seriedade.

- falar o quê? – perguntou o Hale observando o criminoso embaralhar o baralho novamente, antes de repetir a façanha anterior.

- você sabe do que eu estou falando. Eu sei que você está com isso na garganta desde que descobrimos o nome de assassina de nosso alvo – respondeu Stiles observando o agente com tanto ânimo quanto o que Derek tinha no olhar enquanto lhe encarava.

- não sei do que você está falando – respondeu Derek se virando e dando atenção ao quadro criminalístico que montaram.

- santo Deus! Para que enrolar, homem?! – indagou Erica brincando com o anel em seu dedo, ao mesmo tempo em que olhava o agente Hale lhe fitar pelos cantos dos olhos, antes de lhe ignorar e se focar nas informações do quadro.

- você não precisa enrolar. Você sabe disso, não sabe? – inquiriu Isaac encarando o moreno de olhos verdes lhe fitar indignado.

- até você!

- o quê?! Eu sou ingênuo, não idiota – rebateu o Lahey vendo o Hale estreitar o olhar em sua direção.

- para mim, você é as duas coisas – rosnou Derek vendo o louro lhe fitar ultrajado.

- pegou pesado – murmurou Vernon, sentado ao lado de Allison, que meneava a cabeça em concordância.

- já chega! Eu não gosto mais dele – ditou Isaac encarando Scott, enquanto apontava para Derek, que rolou os olhos.

- eu só acho que é completamente desnecessário você tentar esconder as coisas da gente, sabe? Somos um grupo de investigação. Nós investigamos até uns aos outros – argumentou Erica colocando as duas pernas sobre um dos braços da cadeira em que estava sentada.

- vocês querem calar a boca? Temos que prender uma assassina em série! – ralhou Derek, irritado, e o silêncio se instalou na sala do delegado.

- agora eu gosto menos ainda dele – Isaac quebrou o silêncio cruzando os braços, causando risos em Allison, Scott e Peter.

- você tem certeza de que não pode ser outro como você? – indagou Peter observando o castanho menear positivamente.

- ela não é um prodígio, Peter. É só mais uma mulher qualquer matando – respondeu o Stilinski encarando o quadro montado por eles.

- você também é um prodígio? – indagou Isaac, surpreso, encarando o castanho lhe fitar de soslaio.

- é. Stiles é como você, mas no departamento dele – respondeu Peter vendo o castanho sorrir ladino enquanto erguia dois dedos em um V para o Lahey, que fez o mesmo em um tipo de cumprimento a distância.

- maravilhoso! – comentou a Reyes sem se quer encarar o castanho.

- não é hora, nem lugar para isso, Erica – repreendeu Allison vendo a loura erguer as mãos, dando de ombros.

- por que uma mulher usaria sapatos masculinos para cometer crimes? – perguntou Isaac encarando o quadro, de sua cadeira.

- é apenas distração. Sapatos femininos como tênis, também são confortáveis e úteis nessas situações. Mas ela usa sapatos masculinos para que a gente faça o que a polícia local fez: achar que o culpado era um homem – respondeu Erica vendo o louro mais alto lhe fitar atentamente.

- esse caso está sendo difícil – murmurou Scott passando as mãos pelo rosto.

- não podemos fazer nada além de pensar enquanto esperamos pela próxima vítima – disse Boyd se acomodando a cadeira e tomando uma expressão pensativa.

- como é?! Você quer mais uma vítima?! – perguntou o McCall indignado e irritado.

- não é questão de querer, agente McCall. É a lógica. Não temos nada que diminua o número de suspeitos e nos aproxime dessa mulher. E se tem uma coisa que eu aprendi trabalhando aqui, é que, quando isso ocorre, sempre aparece mais uma vítima. E é com essas vítimas novas, que o círculo vai se fechando para o outro lado – respondeu Vernon vendo o moreno de queixo torto lhe fitar com seriedade, antes de respirar fundo.

- você tem razão. Me desculpe. Eu estou irritado, estou cansado, e essa merda não está se resolvendo – falou o agente McCall, irritado.

- tudo bem. Todos nós estamos – ditou Vernon suspirando e se acomodando melhor na cadeira, novamente. Suas costas doíam, mas ele queria deitar a cabeça.

- ela lava as roupas e limpa tudo. Podemos supor que sua idade deve ser dos... vinte aos cinquenta? - argumentou Peter vendo Allison menear positivamente.

- por que essa idade? – indagou Isaac encarando o louro mais velho anotar no quadro a faixa etária estimulada.

- Aos vinte anos é a idade em que geralmente as mulheres começam a sair de casa, se tornam independentes. E cinquenta é a idade em que muitas mulheres não podem mais sustentar peso por muito tempo, o que elimina as mais velhas do que isso – respondeu Peter vendo o louro mais novo menear positivamente, em compreensão. Derek puxou o celular do bolso, discou um número na discagem rápida e colocou o viva voz.

- sempre pronta para os meus bebês. É só mandar que faço – a voz de Lydia fora reproduzida pelo aparelho, enquanto o Hale o colocava sobre a mesa.

- Lydia, preciso que faça uma lista com mulheres da cidade entre os vinte e cinquenta anos – ditou Derek ouvindo o som dos dedos ágeis da ruiva nos teclados.

- mamão com açúcar. O que devo fazer a seguir? – perguntou levando o canudo de sua raspadinha aos lábios e os sugando com vontade. Os agentes se entreolharam, pensativos.

- quantas são apenas dona de casa? – perguntou Vernon e a ruiva voltar a digitar comandos rapidamente.

- vinte – respondeu a Martin vendo os nomes na tela do computador.

- quantas estão na cidade? – perguntou Scott e a ruiva voltou a dedilhar com velocidade.

- quinze – respondeu atenta as próximas ordens.

- nos dê os nomes. Vamos dar uma olhada em todas as quinze – ditou Peter e todos já se preparavam para se levantar.

- é bom alguém ficar para caso ocorra de mais uma vítima surgir – alertou Allison

- certo, vocês podem ir. Eu vou voltar para o necrotério para ver se descubro mais alguma coisa no corpo de Chadd – disse Stiles já se preparando para sair. Derek iria argumentar, mas fora cortado por Peter.

- eu fico com ele. Vocês podem ir – ditou o louro mais velho vendo os outros seguirem para a saída da sala.

 

 

 


Os dedos ágeis se mexiam sobre as teclas de forma coordenada. Ele já sabia quais comandos digitar para poder quebrar aquela barreira insignificante que o separava do seu objetivo. O cadáver que antes estava atrás de si, já havia sido descartado. Ainda era possível encontrar um osso ou outro em seus vasos de planta. Mas ele não se importava. Depois era só entregar para algum cachorro que tudo se resolvia. Com velocidade, a barreira digital fora quebrada e ele pôde visualizar o que queria.

A página na janela anônima exibia um catálogo de compostos químicos, assim como alguns detonadores já prontos. Ele analisava os produtos com cuidado. Não era um mero amador. Ele sabia o que estava fazendo. Ele era um profissional. Não poderia errar, muito menos envergonhar aquele em quem tanto estava obcecado. Após colocar os produtos desejados no carrinho, o homem tratou de efetuar o pagamento usando um cartão de crédito clonado.

- ótimo. A primeira fase está quase completa – disse direcionando o olhar para a tela ao lado, vendo as imagens de algumas pessoas ali.

- vamos começar por você, Erica Reyes – ditou clicando na imagem da loura que estava no computador.

Ao clicar na foto, uma pasta com vários tipos de arquivos surgiu. Alguns eram manchetes de jornais, outros eram relatórios policiais, um era um vídeo e o último era um relatório do FBI. Enquanto estudava minuciosamente os arquivos que havia conseguido, ele soltava algumas exclamações e sorrisos. Ele se viu para lá de surpreso ao descobrir que Erica também havia sido presa. Ele só não entendia o que diabos havia dado no FBI para liberar alguns dos seus prisioneiros mais perigosos. Não que ele estivesse se importando ou reclamando. Ele havia gostado. Graças a essa atitude estranha dos federais, ele pôde encontrar quem tanto queria. E seria graças a essa atitude que ele conseguiria fazer o que tanto desejava.

- eu conheço esse nome – soltou antes de se virar para outro computador. Ele passou a dedilhar, concentrado no que fazia, antes de seus olhos se arregalarem e um sorriso animado crescer em seus lábios.

- ora, ora, mas olha só o que eu descobri aqui! – exclamou, baixinho, enquanto passava os olhos pela página, lendo o arquivo com mais determinação. Seu sorriso apenas crescia a medida em que lia as palavras que se encontravam no monitor.

- eu não poderia encontrar pessoa melhor para ser a primeira – ditou risonho com um sentimento de realização crescendo em seu peito, acompanhando sua animação.

 

Chapter 23: Secret

Chapter Text

- algo lhe incomoda – soltou Peter ao ver o homem de cabelos castanhos olhando fixamente para as informações reunidas no quadro.

- eu sei. Mas eu não consigo dizer o que é – respondeu o castanho ainda encarando o quadro a sua frente.

O louro sorriu contido. Ver o castanho tão concentrado em algo completamente diferente do que ele fez no passado lhe passava uma estranha sensação de trabalho bem feito. No entanto, o relato de Isaac sobre o ocorrido no pátio da prisão o preocupava e muito. A sanidade de Stiles parecia estar indo embora por algum motivo e isso era algo que deveria ser evitado a todo custo. Ele tinha que evitar a possibilidade de Stiles voltar a fazer o contrário do que fazia no momento. Stiles não podia voltar a ser um assassino. Alice não poderia voltar, custe o que custar.

- eu não estou falando do caso, Stiles – disse o louro vendo o castanho rir nasalado brevemente.

- está falando da surra que dei hoje na prisão – afirmou Stiles vendo o mais velho estreitar o olhar em sua direção.

- então a resposta foi para isso? – questionou vendo o mais novo negar com a cabeça.

- a prisão fora da minha cela é interessante e estressante, Peter. Posso ter mudado, mas não garanto que meus desejos se mantenham longe de mim do jeito que as coisas estão lá – respondeu o castanho olhando para as próprias mãos.

- não posso fazer nada para ajudar? – perguntou Peter vendo o rapaz tomar um sorriso divertido nos lábios e negar com a cabeça.

- não. Não precisa. Ninguém pode assegurar que eu fique consciente por muito tempo. Mas eu já estou dando o meu jeitinho – respondeu Stiles vendo o louro erguer a sobrancelha em sua direção.

- o que quer dizer com isso? - questionou o homem mais velho vendo o presidiário dar de ombros.

- quer dizer que eu estou reduzindo o meu estresse, Peter – respondeu o especialista em assassinatos da equipe olhando para o seu agente tutor, o observando estreitar o olhar em sua direção.

Peter estava preocupado. Stiles, antes da prisão, era perigoso demais. Eles haviam arriscado muito liberando o assassino mais perigoso do país. Somente o fato de ter a sua sanidade reduzida assustava, imagina então ter a sanidade reduzida estando parcialmente livre. A única coisa que segurou Alice por meses foi a sela de metal e vidro blindado do FBI. Se Alice voltasse, seria uma catástrofe, ainda mais estando nessa idade, com aquela altura e aquele corpo. Stiles faria uma chacina até que fosse localizado, imagina, então, até ser detido. O castanho de olhos claros deveria criar o caos no país, o destruindo de dentro para fora.

Peter começou a cogitar, em silêncio. Aquela informação teria que ser mantida entre ele e Isaac. Se Derek soubesse que Stiles está enlouquecendo novamente, ele vai surtar e fazer o maior escândalo, o que vai acabar por colocar o ex-assassino na solitária da segurança máxima, novamente. Essa informação teria que estar o mais distante de Derek possível. O louro se distraiu tanto, pensando, que nem viu quando o castanho se aproximou de si, sorrateiramente. O mais novo deu a volta no homem louro, silenciosa e habilidosamente, parando ao lado do mesmo. O Stilinski aproximou o rosto do rosto do mais velho, lambendo os lábios no processo. O Tate tremeu ao sentir a respiração de Stiles acertar o ponto sensível em sua orelha.

- volte, Peter. Você precisa manter os olhos abertos aqui, não no País das Maravilhas – Alice sussurrou no ouvido do mais velho, vendo os fios louros da nuca do homem se arrepiarem.

- me desculpe – pediu o ex-agente vendo o mais novo sorrir em sua direção.

- está tudo bem. Apenas me ajude aqui. O homem que me prendeu é o único que pode me ajudar com Cinderela – falou o castanho voltando a olhar para todas aquelas imagens e informações no quadro a sua frente.

- você é tão humilde – ironizou o louro vendo o Stilinski sorrir em sua direção.

- eu vou ao necrotério, analisar os corpos novamente. Pode ser que os policiais tenham deixado outra pista passar – falou o prisioneiro vendo o louro menear positivamente.

- na volta, me traga um café – pediu Peter ouvindo o castanho confirmar que havia entendido.

- eu espero muito que isso não esteja virando moda – murmurou Peter para si mesmo, observando as informações básicas e o nome “Cinderela” escrito no quadro de vidro na sala do delegado Miriam.

Assassinos com nome de princesas ou de personagens de fábulas eram o seu maior pesadelo desde Stiles. A imagem de um garoto castanho com uma adaga ensanguentada na mão e uma carta de baralho entre os lábios ainda lhe atormentava. O homem até evitou contar a história da garota sonhadora para a sua filha, pois ele não conseguia ver a capa do livro de Alice no País das Maravilhas sem sentir um aperto no peito e na garganta. Aquela história foi proibida na residência Hale por anos, até que Malia criou gosto pela leitura de clássicos. Quando a adolescente chegou com um exemplar original em casa, a família inteira ficou tensa e evitando conversar com a garota enquanto ela tivesse o livro em mãos.

Hoje, apesar de saber da triste história da família com a garota sonhadora de cabelos louros e vestido azul, Malia ainda afirma que o livro era o seu favorito para todo e qualquer ser humano que lhe perguntasse sobre livros. Um dos motivos pelo qual Derek não falava muito com a prima. A Tate não podia pronunciar o nome da personagem que Derek só faltava jogar o sofá na prima, enquanto a mesma jogava a mesa em si.

Peter suspirou, cansado. Aquele trabalho estava mexendo com o seu emocional. Isso não deveria acontecer. Ele foi treinado para ser o menos atingível possível, e conseguia ser. Mas em casos como aquele... Era impossível, para ele, não ser atingido.

- quem é você, Cinderela? – indagou o louro vendo as fotos das três vítimas e seus torsos perfurados doze vezes.

 

 


- Senhora Cryssi? – chamou Scott, após descer do carro, vendo a mulher parar em frente a própria casa.

A morena de cabelos curtos se virou, com as compras em mãos, vendo o moreno de queixo torto e terno se aproximar ao lado de um louro de cabelos cacheados de camisa de botão e calça jeans. A mulher franziu o cenho para os dois homens, tratando a abrir a porta com velocidade. Ela colocou as compras no interior da casa, ao lado da porta, antes de se virar para os dois homens, que já se encontravam próximos as escadas da frente.

- quem são vocês? – indagou a mulher, nervosa.

- eu sou o agente McCall. Este é o doutor Lahey. Estamos investigando os assassinatos recentes – respondeu Scott tratando de mostrar o seu distintivo para a mulher, que pareceu se sentir mais aliviada.

- graças a Deus! Pensei que fossem assassinos – murmurou a mulher não disfarçando o seu alívio.

- não assiste aos jornais? O assassino é uma mulher – questionou Isaac vendo a mulher lhe fitar surpresa.

- uma mulher?! Que tipo de doente faria aquilo com adolescentes?! – questionou indignada.

- o tipo que estamos perseguindo – respondeu Scott vendo a mulher lhe fitar apreensiva.

- e em que posso ajudar vocês? – perguntou cruzando os braços, tentando não parecer intimidada.

- queremos dar uma olhada em sua casa, se não se incomodar – respondeu Scott vendo a mulher franzir o cenho, confusa.

- eu não acho que o FBI revirando a minha casa criará uma boa imagem ao meu marido – argumentou a mulher sendo a vez de Isaac de franzir o cenho.

- e o que o seu marido tem a ver com a nossa investigação? – questionou o Lahey, confuso.

- o meu marido é candidato a prefeito da cidade. Temos que manter uma boa imagem para a nossa população – respondeu a senhora Cryssi, ainda de braços cruzados.

- novamente, e o que isso tem a ver com a nossa investigação? – indagou o louro vendo a morena lamber os lábios.

- nossa casa também não tem a ver com a sua investigação. Ninguém morreu aqui – argumentou a mulher vendo o louro suspirar.

- ainda – respondeu Scott vendo a mulher lhe fitar surpresa, assim como Isaac.

- isso é uma ameaça? – questionou a morena, indignada.

- veja como quiser. Estou apenas fazendo uma análise. O que será que vai acontecer com a imagem do seu marido se os federais precisarem de um mandato para revistarem a sua casa? Uma vez que você se nega a nos deixar dar uma olhada rápida – falou Scott, se colocando de lado para olhar para Isaac com uma falsa expressão pensativa, vendo o louro sorrir contido.

- ah, isso como certeza vai matar a reputação dele, junto com as chances de se eleger. Seria um homicídio duplo – respondeu o Lahey e ambos direcionaram o olhar para a mulher, vendo a mesma engolir em seco.

- sintam-se em casa – disse a senhora Cryssi, a contra gosto, abrindo a porta para os dois.

- ah, a senhora é um doce! – ironizou Isaac ao adentrar a casa, sendo seguido por Scott.

Com poucas palavras e com bastante dedicação, eles analisaram toda a casa, dando uma atenção especial ao quarto do casal e a área de serviço. Eles não acharam nada. A mulher calçava o número trinta e sete, o que era próximo ao número calçado usado pelo assassino durante as mortes. O marido calçava quarenta, o que, obviamente, permitiria a mulher a comprar um calçado masculino de número quarenta sem chamar atenção alguma e o esconder para uso próprio, vulgo as mortes. Mas o que a livrava de ser uma suspeita era um álibi que ninguém iria ignorar: Jully Cryssi não limpava a casa nem lavava as roupas. Na área de serviço, Isaac encontrou a empregada da casa lavando as roupas da patroa. Ele conversou um pouco com a velha empregada da casa, que alegou apenas limpar a casa e as roupas, já que a comida e as compras ficavam por conta da patroa. A mulher também disse que fora contratada pois a patroa era horrível em limpeza e lavagem de roupas.

- Inúmeros carpetes e camisas foram perdidas por erro dela na hora de usar os produtos de limpeza – sussurrou a senhorinha, em um tom de deboche, sorrindo para o louro bonitão que sorriu consigo.

- obrigado por sua rápida e voluntária colaboração com a nossa investigação, senhora Cryssi – disse Scott enquanto descia as escadas, sendo encarado pela mulher mal humorada.

- menos uma para a lista – disse Isaac, suspirando cansado.

- acho que esse é um daqueles casos – falou Scott, também suspirando cansado enquanto abria a porta do carro, vendo Isaac olhar ao redor.

- vai ser difícil achar essa desgraçada no meio dessa cidade sem termos quase nada de pista – comentou o Lahey observando o McCall parar e lhe fitar.

- o que me deixa mais irritado é que ela tem a ousadia de fazer isso aqui, em Quântico – argumentou Scott vendo o mais alto menear positivamente.

- a sede de vocês fica aqui, não é? - indagou o prisioneiro vendo agente menear positivamente.

- exatamente. Ela tem que ter muita coragem para fazer isso bem debaixo do nosso nariz – respondeu o moreno de queixo torto já entrando no carro.

- ISAAC! – o Lahey ouviu alguém gritar o seu nome.

O louro de cachos olhou ao redor, assim como Scott, quando foram surpreendidos pelo grito. O homem alto de cabelos cacheados localizou uma mulher, do outro lado da rua, na porta de uma casa, olhando desesperada em sua direção. No início ele ficou confuso. O Lahey viu a mulher largar sacolas no chão e começar a correr em sua direção. O homem não a conhecia, mas, pelo visto, a mulher lhe conhecia. O louro, nervoso, notou que a mulher estava olhando um pouco mais para baixo. Aquilo era mais estranho ainda. Isaac era alto, mais alto do que ela. Por que ela olharia para baixo? E foi seguindo o olhar da mulher que o louro se surpreendeu. Agora tudo fazia sentido. O louro ouviu o som de pneu derrapando no asfalto e olhou para o lado, notando que um carro freava bruscamente. A mulher gritou assustada e Scott saiu do carro as pressas.

 

 

 

- a gente tem que pensar – falou Billy caminhando de um lado para o outro do corredor.

- não sei como podemos evitar um encontro com ele. Estamos presos, não temos muito espaço para onde ir – argumentou Jimmy encarando o mais baixo dos três fazer a volta para permanecer caminhando de um lado para o outro.

- é porque não tem para onde correr, cara – ditou o Rei, pensativo, olhando para o chão, concentrado, chamando a atenção dos dois parceiros, que lhe fitaram abismados.

- o quê?! Que porra é essa?! Você está louco?! Você é o Rei, cara! Vai mesmo deixar o cara tomar o seu reino assim?! – indagou Billy indignado, vendo o mais musculoso suspirar e olhar em seus olhos.

- não dá para ir contra aquele cara. Você viu... Você sentiu! Todos nos vimos as coisas que aquele cara... Alice é capaz de fazer. Nós não podemos com aquele cara – argumentou Marcos vendo os amigos permanecerem lhe olhando com indignação.

- você está drogado?! – questionou Jimmy irritado.

- não, Rainha, eu estou sendo realista. Porque, a menos que algum de vocês seja um tira super treinado ou algum tipo de... Sei lá, ninja fodão, nós não podemos fazer nada! – exclamou o calvo se desencostando da parede para encarar os dois parceiros de frente.

- Rainha?! Está mesmo entrando na dele? – indagou Jimmy, intrigado.

- deve ter alguma coisa que a gente possa fazer. Sei lá. Achar um ponto fraco nele – argumentou Billy, desesperado.

- tipo o quê? – questionou Marcos irritado.

- Sei lá. Qualquer coisa. Parentes, amigos – Billy começou a tentar puxar algo de sua mente, algo que lhe fosse útil contra Alice.

- não adianta – uma quarta voz os alcançou e eles olharam para o lado, surpresos, vendo o guarda Josh se aproximar de braços cruzados.

- o quê não adianta? – indagou Billy, confuso.

- eu tentei puxar a ficha do cara, para saber mais dele. Tentei fazer o que está tentando fazer agora – respondeu vendo o trio lhe fitar surpreso, estando Billy e Jimmy com brilhos esperançosos no olhar.

- e aí? O que conseguiu? – indagou Jimmy, animado.

- nada – respondeu Josh vendo o trio lhe fitar confuso.

- como assim, nada? – questionou Marcos, perdido.

- não tem nada útil na ficha dele. Apenas o que já sabemos. Ele é doente da cabeça. Segundo a ficha, ele é polipolar. E, para completar, ele foi preso por uma série de assassinatos – respondeu o guarda com vários curativos no rosto, assustando um pouco mais os presos quando proferiu a palavra “assassinato”.

- realmente não tem jeito – suspirou Marcos, coçando a nuca, nervoso.

- eu soube que vocês ignoraram o Alice – ditou o guarda se apoiando na parede com uma expressão de poucos amigos. Billy bufou irritado.

- isso não é da sua conta, palhaço de farda – ralhou o mais baixo.

- é da minha conta, Valete, quando o cara que você irritou me tem na palma da mão psicopata dele – respondeu Josh vendo o mais baixo coçar a cabeça, nervoso.

- então vamos trabalhar com esse negócio dele. Esse tal de polipolar – sugeriu Jimmy vendo o guarda lhe fitar questionador.

- está doido?! Isso vai matar você! – argumentou o guarda vendo os três lhe fitarem atentamente.

- o que pode dar errado? – indagou Billy.

- eu pesquisei sobre isso. Polipolaridade, em pessoas como ele, é muito perigoso. Não dá para saber o que ele vai fazer, como ele vai reagir. Se você o atacar, por exemplo, primeiro ele fica de um jeito, e então – Josh explicava antes de estalar os dedos da mão – em um segundo ele muda da água para o vinho. E daí – ele voltou a estalar dos dedos – de novo, e de novo, e de novo. Não tem como dizer como ele vai reagir a qualquer coisa que faça – explicou o homem de farda vendo os dois prisioneiros com cabelos lhe fitarem frustrados.

- eu disse. Não temos nada a fazer, a não ser aceitarmos a surra – ditou Marcos frustrado e nervoso.

A sua clavícula ainda estava quebrada e enfaixada, logo, o seu braço era inútil. Não poderia se defender e evitar danos graves, além de que o seu superior poderia muito bem usar a sua clavícula quebrada como meio de torturá-lo. Marcos encarou o próprio ombro nervoso. Ela já até podia sentir a dor que aquilo lhe causaria. Alice os alertou que havia pegado leve naquele dia, pois eles não haviam sido avisados do que lhes poderia ocorrer. Mas agora... Agora eles sabiam muito bem o que iria acontecer a eles. Ele olhou para os rostos cheios de cortes de Billy e Jimmy, antes de começar a rir, chamando a atenção do grupo.

- o que foi? – indagou Billy vendo o Rei negar com a cabeça.

- nós estamos bem fodidos. Olhe o tipo de cara com quem a gente foi mexer – disse o calvo vendo os outros três lhe fitarem curiosos.

- quem diria que um cara desses iria estar aqui, e não em uma prisão de segurança máxima? – comentou Josh ouvindo os prisioneiros suspirarem.

- eu odeio aquele cara – ditou Jimmy vendo o guarda Josh olhar ao redor, nervoso.

- cuidado com o que fala, cara. Aquele cara... Ele some do nada e aparece do nada. Se ele escutar você dizendo isso, vai ficar irritado. E eu não quero aquele irritado, entendeu? – ralhou o guarda cruzando os braços antes de começar a andar pelo corredor, como se nada tivesse acontecido.

- é impressão minha, ou ele parece ter aceitado essa história “Alecrim” muito fácil? – ditou Billy vendo o guarda caminhar calmamente pelo corredor.

- é Arlequim. E, não. Eu também acho muito estranho esse cara ter aceitado aquilo muito rápido. Ele sempre foi um cara muito cheio de si. – respondeu Marcos vendo o guarda sumir a direita no corredor.

- é, isso está muito estranho – concordou Jimmy olhando na mesma direção que os colegas.

 

 

 

 


- onde está o Stiles? – indagou Derek entrando na sala do delegado Miriam com velocidade e vendo apenas Peter na sala.

- tirando um cochilo para pensar – respondeu o louro dando de ombros e vendo o sobrinho fechar o semblante para si.

- você não está de olho nele?! – indagou irritado, em sussurros, enquanto fechava a porta da sala.

- ele precisa de um descanso, Derek – disse Peter voltando a encarar o quadro, pensativo.

- descanso?! Me poupe, Peter. Estamos trabalhando! Enquanto ele descansa, a colega de trabalho dele está lá fora, procurando mais alguma vítima! – exclamou o Hale, irritado.

- Derek, controle a sua língua. Sabe que não deve falar disso durante o trabalho, muito menos dentro de uma delegacia – repreendeu o Tate vendo o sobrinho rir irônico.

- Peter, onde o Alice está? – questionou Derek em um tom que indicava o quanto ele tentava controlar a raiva que crescia em seu peito.

- Derek, se acalme – ordenou o louro vendo o sobrinho cerrar os punhos.

- apenas me diga onde ele está – ditou Derek vendo o tio suspirar e apontar para a porta.

- ele está dormindo no necrotério – respondeu o Tate e Derek abriu a porta com tanta força que os oficiais juraram de pés juntos que o agente fosse arrancar a mesma.

Derek avançou para o necrotério a passos pesados, os quais Isaac tentava seguir sem parecer um desesperado. Scott seguiu o parceiro e o seu prisioneiro até o necrotério, sendo acompanhado pelo resto da equipe, vendo Derek adentrar o local como um furacão. A porta bateu na parede e retornou, lentamente, assustando Isaac. O homem de cabelos negros varreu o ambiente com os seus olhos verdes se irritando mais ainda ao não encontrar sinal algum do castanho de olhos claros.

- ele não está aqui! – ralhou o Hale se virando para o corredor vendo o tio se aproximar lentamente.

- se o Stiles realmente fugir, você nunca vai pegar ele, se continuar assim – disse Peter vendo o sobrinho avançar em si, o prendendo contra a parede.

- você está achando isso engraçado?! O maior assassino que o FBI já prendeu, e deu duro para prender, escapa por sua imprudência e você acha graça?! – indagou o Hale, furioso, praticamente cuspindo as palavras na cara do tio.

- Derek – Allison tentou acalmar o agente Hale, mas o mesmo apenas a olhou furioso.

- ele ainda está dentro do necrotério, Derek – falou Peter se soltando das mãos do sobrinho e caminhando, calmamente, para o interior do local.

- então cadê ele? – perguntou Erica vendo o necrotério vazio.

- acontece que, para achar Alice, você tem que pensar como Alice – disse Peter se aproximando das câmaras frigoríficas, onde os cadáveres são armazenados até o encerramento do caso.

- ele... – Alison fora cortada quando Peter abriu uma das câmaras e a puxou, revelando o corpo do castanho de brincos de naipes de baralho deitado, com uma expressão serena. O rapaz realmente parecia mais um cadáver guardado para análise.

- Stiles, acorde – ditou Peter e o outro abriu os olhos no mesmo instante.

- Jesus – murmurou Isaac olhando o castanho se sentar e bocejar.

- eu estava pensando, antes de dormir, e se estivermos procurando no grupo errado? – indagou Stiles vendo Scott franzir o cenho para a sua indagação.

- temos uma informação que a polícia não compartilhou com a gente – comentou o moreno de queixo torto vendo o castanho lhe fitar curioso.

- e o que é? – questionou o Stilinski vendo o McCall abrir a boca.

- vamos sair daqui? Eu não gosto muito desse lugar – perguntou Isaac já se retirando do necrotério.

 

 

 

 

 

Nancy caminhava calmamente pelas ruas escuras da cidade. Já era noite e ela estava caminhando rumo a casa do seu amigo, como eles haviam marcado. O grupos de amigos iria assistir ao jogo de hoje, sentados no chão da sala, comendo porcarias. Josh morava um pouco longe de sua casa, mas ela conhecia o caminho muito bem. Já havia dormido na casa do rapaz algumas vezes, mesmo a contra gosto do pai. O delegado tinha um pé atrás quanto a sua filha andar dormindo na casa de amigos homens. Ele insistia para que Nancy andasse mais com garotas do que com garotos, mas a filha se recusava a largar os amigos assim.

A garota ajustou a mochila nas costas e olhou para o relógio em seu pulso.

- merda! Eu estou atrasada! – exclamou apertando o ritmo de seus passos.

Ela não estava muito atrasada, mas não queria chegar no meio do jantar, na casa do amigo, muito menos chegar justo na hora do jogo. Nancy chegou a esquina do parque e parou, olhando ao redor, pensativa. Ela poderia escolher dois caminhos para a casa do seu amigo: o mais longo, que consistia em ir pelas calçadas das ruas, todas muito bem iluminadas; ou o mais curto, que consistia em pegar um atalho pelo parque, um tanto escuro, e uma série de becos sem iluminação alguma até os fundos da casa de Josh. A primeira opção era, certamente, a mais viável nesses tempos de crise com esses assassinatos ocorrendo, mas ela estava tão atrasada... Para completar, a garota estava com a estranha sensação de que estava sendo seguida. Ela se sentia observada desde que havia saído de casa. No início, achou ser o seu pai, mas o mesmo ainda estava trabalhando no caso do assassino Cinderela.

A Miriam ouviu um barulho atrás de si e se virou, instantaneamente, vendo um gato revirando a lixeira de uma loja de conveniência. Rindo do seu próprio susto, ela negou com a cabeça, enquanto olhava para o parque, pensativa. Talvez hoje, só hoje, ela devesse pegar aquela caminho. Olhando ao redor novamente, a garota começou a caminhar na direção do parque um pouco escuro. Assim que a filha do delegado adentrou o parque, de trás da lixeira alguém saiu, carregando uma faca grande, com a lâmina na cor laranja. No mesmo instante, o gato correu, assustado com a movimentação próxima a si. A pessoa tratou de seguir o mesmo caminho que a filha do delegado Miriam, não se importando em olhar ao redor antes de seguir a adolescente. Assim que adentrou o parque, ela tratou de esconder a faca laranja no bolso do seu casaco, enquanto colocava o capuz, cobrindo o seu rosto.

Chapter 24: Slut

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- ow, ow, ow! Segura a onda aí, queixo torto. Devagar que o baque foi grande – disse Erica erguendo as mãos, enquanto via um moreno de olhos castanhos e queixo torto lhe direcionar um olhar irritado.

- você tem certeza disso? – indagou Allison vendo o louro de cabelos cacheados menear positivamente.

- temos. A própria mulher dele nos disse que não é a primeira vez que isso acontece – respondeu o Lahey vendo Peter tomar um olhar pensativo.

- então não é a primeira vez que Cinderela ataca – murmurou o Tate, levando a mão ao queixo.

- e não é só isso. Da outra vez, ninguém sobreviveu aos ataques – informou o louro vendo Stiles franzir o cenho.

- mais uma prova de que a polícia não está servindo de nada nesse caso – resmungou o castanho de brincos cruzando os braços, antes de cruzar as pernas.

- eu vou pegar os arquivos dos ataques do primeiro caso de Cinderela – disse Derek já se dirigindo para a saída.

- isso! Pode ser que nos ajude, agora – incentivou Peter vendo o sobrinho menear, dizendo ter pensado o mesmo.

- não adianta. O caso não bate – ditou Scott vendo todos lhe fitarem confusos.

- como não?! Ambos não são de Cinderela? – questionou Boyd, confuso.

- acharam o culpado no último ataque. No primeiro caso, todas as vitimas foram mulheres das mais variadas idades. Mas o último foi um homem, cujas digitais batiam com as encontradas nas cenas de crime – explicou o McCall vendo o Hale lhe fitar com o cenho franzido.

- então essa Cinderela não é a mesma da primeira vez? – indagou o moreno de olhos verdes vendo o de olhos castanhos menear positivamente.

- o cara foi encontrado morto em um cativeiro. Amarrado, do mesmo jeito que fazia com suas vítimas, antes de matar elas e desovar em qualquer lugar para que fossem encontradas – explicou Scott cruzando os braços.

- talvez seja um parceiro do passado – sugeriu Vernon chamando a atenção.

- talvez, a mulher que estamos perseguindo agora, seja uma parceira dele. E talvez até a culpada pela morte dele – explicou o Boyd vendo o grupo ficar pensativo por um tempo.

- precisamos dos arquivos de um jeito ou de outro – falou Allison vendo o moreno de olhos verdes menear positivamente e sair da sala.

- no que está pensando? – indagou Erica ao olhar o modo como Peter estava concentrado

- é sobre o caso de anos atrás. Para Lydia não ter ligado os casos... Só pode haver uma explicação – explicou Peter vendo Vernon, Scott e Allison ficaram pensativos, enquanto Erica e Isaac apenas esperavam pela resposta.

- não devem ter ligação – disse Vernon vendo os agentes negarem com a cabeça.

- não. O que poderia fazer as ligações não deve ter sido descoberto no caso anterior – explicou Allison vendo o louro mais velho menear positivamente.

- Por isso não havia como serem conectados no banco de dados – disse Scott vendo a morena assentir em concordância.

- sendo assim, os arquivos que o senhor mal humor foi buscar não vão adiantar de nada – falou a Reyes apontando para a porta com a mão.

- na verdade. Eles podem ser úteis se analisados novamente – argumentou Allison olhando para o quadro que montaram com todas as pistas que já haviam reunido.

- como vocês ficaram sabendo desse caso, mesmo? – questionou Erica se virando para Isaac, que coçou a bochecha, um tanto envergonhado.

- Isaac salvou a vida do filho mais novo do delegado Miriam – falou Scott vendo todos direcionarem o olhar para o louro, que apenas os encarou, tímido.

- o garoto estava atravessando a rua, quando um carro estava vindo. A mãe chamou pelo nome dele, que por sorte é Isaac, também. Quando eu olhei, o Isaac já estava do outro lado da rua com o filho do delegado no colo – explicou o agente McCall, vendo o mais alto sorrir minimamente ao lembrar do ocorrido.

- e como isso levou a informação? – questionou Stiles vendo o agente fechar o semblante ao lhe direcionar o olhar.

- ela nos convidou para entrar e soltou a informação sem se quer perguntarmos nada. Bastou dizermos que éramos do FBI e ela já soltou um “O meu marido está muito tenso por ter que passar por isso de novo”. Perguntamos um pouco mais e descobrimos que ocorreu há quatro anos e meio. – explicou Isaac vendo o castanho desviar o olhar para a mesa do delegado.

- ela também pediu desculpas, já sabendo como o marido estaria de cabeça quente lidando com esse caso – informou Scott olhando diretamente para Stiles, assim como todos os outros, com exceção de Peter.

- irrelevante - ditou o castanho dando as costas e se aproximando do quadro que haviam montado.

- Stiles – Peter repreendeu com a voz suave, quase contrariada.

- qual é o seu problema? – indagou Scott, irritado.

- não enche – respondeu o castanho jogando a mão para o lado, como se afastasse um inseto, o que irritou mais ainda o agente de queixo torto.

- escu... – o moreno iria se aproximar com o dedo erguido, mas Isaac colocou o braço na sua frente, ao mesmo tempo em que a outra mão abaixava a do agente McCall.

- Scott, deixa para lá – disse o louro olhando com certo receio para o castanho.

- é melhor deixar ele quieto – alertou Vernon de braços cruzados, olhando para as costas de Stiles.

- aconteceu alguma coisa? – indagou Allison, desconfiada, vendo os dois prisioneiros se entreolharem, antes de olharem para as costas de Stiles, receosos.

- nada – respondeu Stiles, ainda de costas, enquanto pegava as fotos dos torsos de todas as vítimas e passava a os analisar em conjunto.

- é melhor deixarem ele em paz. Não é seguro provocar ele, hoje – alertou Erica olhando para o castanho, que sorriu ladino, lhe fitando pelo canto do olho por sobre o ombro. O olhar de todos fora desviado para a porta quando Derek adentrou a sala.

- más notícias: os arquivos foram perdidos – anunciou Derek vendo os agentes franzirem o cenho.

- como é? – indagou Scott vendo o parceiro dar de ombros

- pois é. Parece que houve um incêndio há alguns anos. E o fogo levou todos os arquivos para o inferno. Todos os arquivos que ainda não haviam sido digitalizados foram completamente perdidos. Dos arquivos do caso que queremos não sobrou nem um pedaço – respondeu o Hale vendo os parceiros de equipe suspirarem.

- o incêndio foi investigado? – indagou Vernon vendo o moreno de olhos verdes menear positivamente.

- sim. Ocorreu pela parte da noite. Os policiais foram atender a uma ocorrência e alguns ficaram na delegacia, quando ocorreu uma queda de energia e a sala dos arquivos pegou fogo. Foi uma falha na fiação. Alguns fios desencapados acabaram dando início a tudo – explicou o agente de olhos verdes e Allison suspirou, sendo acompanhada por um bocejo de Isaac.

- está tarde. Não vamos prender ninguém se nossos cérebros não trabalham direito. É melhor a maioria de vocês ir dormir – alertou Peter vendo Scott, Isaac, Allison, Erica e Vernon menearem positivamente.

- eu vou ficar acordado para o caso de alguma vítima nova ocorrer – disse o louro vendo o grupo menear positivamente.

- vamos usar as salas vazias da base como quartos para já estarmos preparados caso algo aconteça – ditou Allison guiando um Isaac sonolento pelos ombros.

- eu vou ficar com você – disse o castanho já retirando um baralho do bolso.

- eu também vou ficar – falou o Hale se jogando sentado na cadeira em que antes Erica estava sentada.

- ainda estamos deixando passar alguma coisa – murmurou Peter se colocando ao lado de Stiles que jogou uma carta para cima, antes de a pegar entre dois dedos

 

 

 

 

 


Josh estava jogado no sofá da sala junto de seus amigos. O rapaz estava um tanto preocupado. Nancy já deveria ter chegado há dez minutos atrás. A garota havia lhe mandado uma mensagem quando saiu de casa. E não era a primeira vez que um ia na casa do outro. Eles já se conheciam do maternal. Os seus pais eram amigos e os dois adolescentes eram muito próximos. Tanto que já sabiam que o tempo de caminhada entre suas casas era de quinze minutos. Mas já fazia vinte e cinco minutos desde que Nancy mandada mensagem e nada de a garota chegar. Algo parecia estar errado.

- a Nancy não vem? – questionou Adam, um dos amigos de Josh enquanto levava um pouco de pipoca a boca.

- ela já deve estar chegando – respondeu Josh já desbloqueando o celular para poder mandar uma mensagem para a garota.

O rapaz mal terminou de digitar a própria senha que a campainha da casa tocou, despertando a atenção não só dos três adolescentes, como também dos pais do louro de olhos claros. Josh saltou do sofá e correu na direção da porta, abrindo a mesma com velocidade, sentindo o alívio dominar o seu corpo ao ver a garota de cabelos negros presos em um rabo de cavalo parada com uma mochila nas costas. A garota sorriu para o desespero do amigo em abrir a porta.

- quem está morrendo? – indagou Nancy vendo o louro sorrir um pouco tímido.

- ninguém. Eu só... Estava preocupado. Você demorou – respondeu Josh observando um sorriso tímido surgir nos lábios da outra.

- foi mal. Aconteceu uma coisa estranha no caminho – comentou a morena enquanto o rapaz abria espaço para que ela entrasse.

- o que foi? – questionou o louro vendo a garota cumprimentar a todos antes de subir as escadas, sendo seguida por si.

- eu estava no caminho para cá quando senti alguém me observando – a garota começou a explicar ao mesmo tempo em que adentrava o quarto de hóspedes da casa.

- mas alguém mexeu com você? – indagou vendo a garota se jogar sentada na cama em que sempre dormia quando passava a noite na casa do amigo.

- não. Eu entrei no parque para pegar um atalho, mas aí eu escutei um grito de susto. Eu me assustei e corri. Aí eu encontrei um sapato no chão. Me lembrei das mortes que estavam ocorrendo e corri para outra direção. Foi quando vi um cara correndo atrás de mim. Eu corri pelos lugares em que pensei estarem mais movimentados. Tive que dar várias voltas antes de ter certeza de que tinha me livrado dele, para poder vir para cá – explicou a morena vendo o louro tomar uma expressão de surpresa no rosto.

- você está bem? – perguntou Josh vendo a garota menear positivamente.

- sim, sim. Ele não conseguiu me alcançar. Amém dias de jogo na quadra da escola! – exclamou a filha do delegado se levantando e se aproximando da porta

- venha. Vamos descer antes que nos chamem – disse a morena batendo de leve no ombro do louro, que ainda lhe fitava preocupado.

- você tem certeza de que você está bem? – questionou vendo a morena retirar os sapatos, os jogando na direção da cama.

- tenho, Jo. Não precisa ficar tão preocupado. Está parecendo o meu pai! – respondeu a Miriam vendo o rapaz de olhos verdes lamber os lábios, nervoso.

- não sei, não, Nan. Eu acho bom avisar ao seu pai que você foi perseguida – alertou o louro vendo a garota se aproximar de si.

- ei. Eu vim aqui passar a noite com você e os caras. Se avisar ao meu pai ele vai fazer todo aquele melodrama e me levar embora. Você quer que eu vá embora? – perguntou a garota vendo o amigo ficar pensativo por um tempo.

- não. Mas eu também me preocupo com você! – exclamou um tanto envergonhado pelas palavras que saíam de sua boca.

- você se preocupa? – indagou a morena, surpresa, assistindo às bochechas do louro se tornarem rosadas.

Josh sentia o rosto esquentar, enquanto as mãos começavam a suar. Ele não se sentia confortável em deixar Nancy saber como ele realmente se sentia. Aquilo lhe constrangia e lhe causava um certo temor. Ele tinha medo. Não havia como negar. Medo de ser rejeitado. Ele gostava demais de Nancy. Não era como uma paixonite adolescente. Ele realmente gostava da garota. Chegava a duvidar que um dia fosse gostar tanto de alguma outra pessoa. Aquela garota de cabelos negros e jeito carinhoso havia lhe roubado o peito no momento em que lhe cumprimentou quando se esbarraram no corredor no ensino médio. Até aquele dia, Josh nunca havia a visto com aqueles olhos. Notando estar muito tempo calado, o rapaz tentou buscar algo para dizer.

- é claro que sim! V-você é a minha melhor amiga! – exclamou ainda corado, vendo a morena sorrir em sua direção.

Após processar as palavras que haviam saído de sua boca, o louro sentiu vontade de se estapear ali mesmo. A sua expressão mudou, brevemente, para uma de indignação, sem que ele percebesse, mas Nancy percebeu. A morena sorriu mais ainda com o jeito do rapaz a sua frente, chamando a atenção do mesmo, que, ainda envergonhado, olhou para Nancy, vendo a garota se aproximar de si, ainda rindo do seu jeito desajeitado.

- eu agradeço a preocupação, mas eu sei me virar – disse a Miriam antes de se aproximar ainda mais, deixando o louro mais nervoso ainda.

A garota aproximou o seu rosto do rosto do rapaz, dando um beijo na bochecha, próximo aos lábios do louro, que se viu incrivelmente perdido e impressionado, enquanto suas bochechas tomavam uma coloração rosada e intensa. A garota se afastou, sorrindo, ao mesmo tempo em que segurava a mão de Josh, que ainda a fitava com surpresa no olhar. Nancy sorriu ao ver a reação lenta do louro e passou a puxar o mesmo pela mão, na direção da porta. Quando se virou para a porta, a morena fora surpreendida pela imagem de um dos amigos de Josh, que olhava surpreso para os dois.

- e-eu vim avisar que o jantar está pronto... Mas p-podem continuar aí... Eu já estou descendo – falou o moreno envergonhado por ter atrapalhado, provavelmente, uma boa chance do amigo de ficar com a garota que ele gostava. Ao ouvir o amigo, Josh finalmente despertou do seu devaneio feliz e confuso.

- a gente já está descendo, também – ditou Nancy vendo o rapaz se virar para o corredor, lançando um olhar envergonhado para Josh, como se pedisse desculpas por algo.

 

 

 

 

 

 

 


Stiles estava sentado na cadeira do delegado Miriam, se entretendo com um dos seus baralhos enquanto montava um enorme castelo de cartas. O agente Derek Hale se encontrava jogado na cadeira do outro lado, apenas assistindo a construção do castelo, que mais parecia a muralha da China, por sua extensão ocupar toda a mesa de madeira da sala. O Hale estava surpreso com a habilidade do outro naquele passatempo. Nunca havia visto um castelo de cartas ser construído completamente antes, e agora via a construção do que parecia ser o castelo dos castelos bem a sua frente. Stiles até mesmo construíra uma torre de cada lado do monumento.

O moreno de olhos verdes, de braços cruzados, observava, boquiaberto, o castanho subir na cadeira do delegado para poder alcançar o topo do castelo. O Stilinski cantarolava uma música que o agente não conseguia identificar. Pelo modo como o mais baixo parecia relaxar com ela e até mesmo se divertir. Aquilo lhe deixava curioso, o que era bom, pois lhe tirava o sono.

- qual é a da música? – indagou Derek vendo o outro, com todo o cuidado possível, colocar mais duas cartas no castelo, se aproximando cada vez mais de finalizar o mesmo.

- nada. Eu só gosto de cantar ela – respondeu o mais novo puxando mais duas cartas do baralho e se inclinando um pouco sobre a mesa para conseguir colocar as duas cartas no local mais alto.

- não está com sono? – questionou o Hale ao ver o outro sorrir largo enquanto cantarolava.

- não. Eu sofro de insônia – respondeu o Stilinski pegando mais cartas e as colocando sobre as outras.

- eu não sabia dessa. Por acaso fica vendo os rostos de suas vítimas durante o sono? – ironizou Derek sorrindo ladino.

- e por que eu iria ver isso? Elas não eram importantes para mim – perguntou Stiles não vendo o semblante do outro se fechar em aborrecimento.

- você por acaso se lembra delas? Sabe quem são? – questionou o agente, tentando controlar a raiva que sentia crescer em si.

- eu tenho uma memória afiada, Derek. Você sabe que eu me lembro de todas elas – respondeu o castanho sorrindo travesso.

- qual foi a que você mais gostou de matar? – questionou Derek vendo o castanho puxar uma carta roxa com preto, que se parecia com uma carta de tarô, e lamber a mesma sensualmente, rindo maleficamente, antes de gemer manhoso e jogar a cabeça para trás.

- não vai me responder? – inquiriu o Hale vendo o castanho abaixar a cabeça com um brilho assassino no olhar.

- o seu pai – respondeu o Stilinski antes de jogar o braço na direção de Derek, que apenas viu a carta roxa voar em sua direção antes de sentir algo em seu pescoço.

A dor não demorou a vir. O moreno de olhos verdes levou as mãos ao próprio pescoço, se sentindo engasgar com velocidade. A carta parecia ter se prendido ao seu pescoço. Quando ele puxou a mesma, um fino jato vermelho fora disparado de seu corpo, manchando a parede ao seu lado. Levando a carta para o seu campo de visão, o agente viu a carta da morte em seus dedos, suja de sangue. Algo escorria por seu corpo. Levando a mão, sem conseguir dizer nada por ainda estar engasgado, o moreno sentiu um líquido quente molhar sua mão. Ao olhar para a mesma, notou que era o seu sangue que estava escorrendo por seu corpo. Ainda engasgado no próprio sangue e sofrimento, o moreno direcionou os seus olhos verdes para o causador daquilo tudo, vendo o homem de cabelos castanhos sorrir largo em sua direção.

- o seu sangue é ainda mais bonito do que o do seu pai – falou Alice antes de puxar uma carta do centro do castelo, surpreendendo Derek ao manter o castelo de pé, mesmo perdendo uma das peças.

- já passou da hora de você ir se encontrar com o seu pai, Derek – ditou o castanho se aproximando do Hale, que tentava se afastar a todo custo, chegando a cair da cadeira.

Stiles gargalhou com a tentativa inútil do outro de se afastar de si. Ser um agente treinado não havia adiantado de nada naquele momento. Derek sentiu o outro pisar em suas costas, lhe forçando a manter o peito contra o chão, antes se sentir o pé ser substituído pelas nádegas alheias. Alice simplesmente puxou os seus cabelos, lhe fazendo olhar para cima, onde Peter assistia a tudo, não se importando com o que ocorria, mesmo com todas as súplicas mudas de Derek.

- você está atrasado, Derek – Alice sussurrou sensualmente em seu ouvido, antes de passar a carta que segurava no pescoço de Derek, abrindo um corte novo e grande, fazendo mais do seu sangue sujar o chão da sala do delegado Miriam.

- Derek! – a voz de Stiles alcançou a si quando tudo começou a ficar escuro.

- Derek! – e de novo, antes de Derek sentir uma leve dor em seu rosto e tudo voltar a ficar claro.

Stiles estava próximo a si e Peter estava logo atrás, lhe observando. O Hale se ergueu de prontidão, empurrando o castanho de brincos, que caiu sentado por estar abaixado ao lado da cadeira. O agente fora, instantaneamente segurado por Peter e Boyd, que viram quando o homem iria avançar contra o Stilinski, que apenas o encarava com a sua expressão calma de sempre.

- mas o que porra foi isso? – indagou Isaac, surpreso.

- não se aproxime de mim! – ralhou Derek furioso, quase desesperado, vendo o castanho se erguer.

- Derek, ele estava apenas lhe acordando porque temos trabalho – ditou Peter vendo o sobrinho se acalmar aos poucos.

- é, cara. Acharam outro corpo e o cara estava lhe acordando para a gente ir – falou Issac vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar furioso.

- não quero saber, sabe que eu odeio ele. Que outra pessoa me acorde, mas ele não – ralhou o Hale já se soltando e se dirigindo para a saída, não se importando com o que ocorria atrás de si.

- você está bem? – indagou Allison estendendo a mão para Stiles, que lhe encarou antes de aceitar a ajuda para se erguer.

- não foi nada. Eu estou numa boa – ditou o Stilinski já se direcionando para a saída.

- tem vezes que eu odeio aquele cara – ditou Erica de braços cruzados, encarando a porta, onde podia ver Derek sair do banheiro masculino.

- é complicado. Eu peço para que deixem ele. Não me importo com isso, contanto que ele esteja vivo – disse o castanho colocando as mãos nos bolsos, despertando a atenção de Allison e Scott, que o encararam confusos com as palavras do homem.

- vamos logo? – indagou Derek parando na porta e apontando para a saída da delegacia.

- vamos. Não quero que o xerife acabe estragando alguma pista com a sua mente fechada – respondeu Stiles passando por Derek, que evitou permitir que o assassino se aproximasse de si.

O castanho sorriu ladino quando o Hale deu alguns passos para trás quando ele se aproximou. Derek ainda estava receoso. O seu sonho havia mexido com o seu psicológico. Ele estava nervoso com o que Stiles poderia fazer. A sua respiração ainda estava descompassada e a sua garganta ainda tinha dificuldades com a deglutição, suas mãos suavam e seus dedos pareciam inquietos, sempre cutucando uns aos outros, com as unhas arrancando alguns pequenos pedaços de pele. Erica pareceu sentir o seu nervosismo. Maldita habilidade natural que a loura possuía. A Reyes sabia identificar quando alguém estava nervoso, ansioso e com instintos aguçados. E o sorriso debochado da mulher denunciou que a mesma sabia o que se passava consigo.

- depois eu tenho que falar com você – sussurrou Scott em seu ouvido, lhe apertando o ombro e depois seguindo Isaac, que andava um tanto entediado a sua frente.

- acalme-se. Foi ridícula a sua reação naquela sala – ditou Peter, ao passar por último, vendo o sobrinho lhe fitar com fúria.

- não ligo para o que você pensa, Peter – ralhou o Hale seguindo Vernon, deixando o tio para trás, lhe observando com seriedade no olhar.

Eles seguiram para os carros fornecidos pelo governo, tomando o cuidado de afastarem Derek de Stiles, discretamente. Allison tinha a estranha sensação de que o agente Hale explodiria se ficasse em um ambiente com pouco espaço junto do castanho. Por isso ela tratou de chamar pelo nome, em um tom alto, as pessoas que iriam consigo no carro, para que não ocorresse de o agente e o prisioneiro acabarem no mesmo veículo.

Ela dirigiu por Quântico até alcançar o parque em que fora encontrada a vítima hoje, pela manhã. Quando finalmente chegaram, foram recebidos pela imprensa, mas Allison os dispensou ao já descer do carro pronunciando um sonoro “Sem comentários”. Eles foram permitidos a passar pela polícia, que logo voltou a barrar a imprensa. O grupo de agentes adentrou o parque, sendo guiados por um policial, até a cena do crime, onde puderam contemplar o seu novo trabalho do dia. Isaac e Vernon deixaram os seus queixos caírem, assim como Scott, enquanto Allison, Peter e Derek se tornavam inexpressivos. Erica franziu o cenho para o que via, sentia o seu corpo ficar tenso. Aquilo era atípico, segundo a experiência de Peter em assassinatos, mas o sorriso de Stiles parecia dizer que ele esperava por aquilo.

- isso não faz sentido – argumentou Boyd olhando para a vítima que mantinha o seu olhar vazio em sua direção, o que lhe gerava um embrulhamento no estômago.

- isso significa que a nossa Cinderela está evoluindo – ditou Derek olhando para os policiais que olhavam horrorizados para a vítima.

Stiles riu, chamando a atenção de Peter, que o encarou preocupado. A risada do castanho não era forçada. No entanto, Stiles não era uma pessoa que ria com frequência. Isaac e Boyd olhavam receosos para Alice, que se abaixou ao lado da vítima e envolveu o cabo verde da faca que estava cravada em seu peito. Erica franziu o cenho para o castanho, vendo o mesmo puxar a faca com força e admirar o sangue da vitima na lâmina laranja da faca de cozinha. Os seus instintos não lhe alertavam de perigo quanto a Stiles, mas algo estava errado com o castanho e ela sentia isso.

- o que pensa que está... – o legista tentou questionar ao ver o castanho retirar a faca sem cuidado algum. No entanto, ele fora parado por Scott, que o segurou e negou com a cabeça.

- sua vadiazinha – ditou o castanho passando o dedo no sangue da vítima e começando a brincar com o mesmo entre os dedos, analisando a textura.

- solta isso, Stiles! – ordenou Derek já irritado, mas o castanho lhe ignorou.

- o que foi Stiles? – indagou Isaac, curioso e receoso, vendo o homem lamber a faca, surpreendendo a todos.

- essa vítima... Ela não significa evolução alguma. Essa pessoa, simplesmente, não passa um gato que quase pega o nosso rato – ditou Stiles se erguendo e jogando a faca na direção de uma árvore, vendo a arma ficar presa no tronco da mesma, surpreendendo aos policiais e o legista.

 

Chapter 25: Bullies

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 - você está me dizendo que essa vítima sabia quem era a Cinderela, foi atrás dela e acabou aqui? – indagou Allison vendo o castanho menear positivamente.

- em parte, você está certa. Não sei se ela sabia sobre a outra pessoa ser a Cinderela. Ela podia simplesmente querer se aproveitar da presença do serial killer nos jornais para experimentar matar alguém, ou talvez tivesse rancor da assassina. São várias as possibilidades. A única certeza é que essa aí queria matar a nossa assassina, independente do motivo. A diferença foi o nível de habilidade. Cinderela é uma intermediária e essa garota era uma simples e ridícula amadora - respondeu Stiles levando os dedos ensanguentados ao rosto, os direcionando para os lábios, onde a ponta de sua língua já dava sinal de sua presença, mas logo fora parado por Peter.

- não é muito inteligente atiçar você – sussurrou o louro vendo o castanho suspirar limpando o sangue em um lenço estendido por si, enquanto o abraçava apertado, sentindo o perfume que usava marcar presença em seu sentido olfativo.

- vocês dois podem se soltar, por favor? Estamos em campo – pediu Scott, irritado, ao mesmo tempo em que via, atrás da dupla abraçada, o delegado Miriam se aproximar.

- deixe eles, Scott – disse Erica chamando a atenção de Allison e do McCall.

A Argent havia notado o olhar da loura para o castanho. Ela sabia das habilidades naturais e instintos da mulher, principalmente para caça. A Reiyes o encarava com a atenção de uma lebre olhando para algo estranho, como se estivesse se preparando para o bote de algum predador. A loura até mesmo estava com um pé para trás, preparada para se afastar, caso necessário. A loura notou o olhar dos dois agentes para si e se aproximou do moreno e sussurrou algo em seu ouvido, fazendo questão de exibir os seus lábios para Allison, sabendo muito bem que a morena podia ler os mesmos e saber do que ela estava falando.

Scott lançou um olhar questionador para a mulher a sua frente, antes de olhar para Peter e Stiles, notando o mais velho acariciando, suavemente, os cabelos do castanho, que ainda escondia o rosto nas roupas do agente de cabelos alourados. Vernon e Derek apenas se entreolharam, não sabendo ao certo o que significava aquela série de acontecimentos.

- se essa morte não fazia parte da programação de mortes dela, por que ter todo esse trabalho? – indagou Boyd apontando para a cena a sua frente.

Ele já havia estado em várias cenas de crime no tempo em que trabalhou naquela divisão, a sua maioria envolvendo mortes e roubos. Mas aquela... Aquela cena era única. Não fora como as outras cenas da Cinderela. As outras cenas eram comuns, quase cotidianas, se não fosse o fato de se tratar de cenas de crime. Pessoas em posições comuns de relaxamento, com roupas limpas e perfeitamente comuns, em ambientes comuns. Mas aquela cena era completamente atípica. No chão, ao redor do corpo adolescente havia um enorme relógio desenhado na terra. O espaço marcado por algum objeto que formava um relógio era preenchido pelo sangue da vítima, cujo o corpo fazia o papel dos ponteiros, apontando para o número doze, indicando meia noite. O corpo da vítima, diferente de todos os outros, não estava deitado, como se estivesse dormindo. Muito pelo contrário, estava dobrado, como se tivesse a sua coluna quebrada, o que causava um leve desconforto no psicológico dos oficiais.

- puta merda! – exclamou o delegado Miriam ao parar ao lado de Peter e Stiles.

- você a conhece – confirmou Stiles vendo o homem menear positivamente.

- ela estuda com a minha filha – respondeu o delegado passando a mão pelos cabelos.

- qual é o nome? – indagou Derek vendo o homem, em sua agonia, suspirar.

- Cindy. Cindy Boomer. Estuda com a minha filha desde que chegamos a cidade – respondeu o delegado e o castanho analisou o mesmo por um tempo, antes de olhar para Vernon, ainda abraçando Peter.

- alguns improvisos podem ser úteis, mesmo que custem algum tempo. Ela não podia lavar as roupas da vítima no meio do nada, e também, Cindy não é um garoto. Logo, ela não merece o tratamento especial que eles recebem – o castanho respondeu a pergunta do colega de equipe vendo o mesmo ficar pensativo, absorvendo a informação.

- então por que simplesmente não a matou e a largou? Por que não deu doze facadas dessa vez? – inquiriu Isaac vendo o olhar frio e sem vida da adolescente, que tinha as costas dobradas para trás, devido a coluna quebrada.

- E qual é a do relógio? – desta vez a pergunta fora de Derek, que ainda não entendia aquela cena de crime.

- porque essa vítima era especial o suficiente para não ser abandonada. Ela não é uma vítima qualquer. Ela é um recado – respondeu Peter vendo o grupo lhe fitar curioso.

- o relógio quer dizer que o nosso tempo está acabando. Que ela sabe que estamos caçando ela. Também sabe que não temos suspeito nenhum e que, se não agirmos logo, também não haverá sobreviventes dessa vez. É um alerta de que ela está chegando ao clímax de seu ato nesta peça sangrenta – ditou Stiles se afastando de Peter e olhando bem ao seu redor.

- está melhor? – perguntou Erica vendo o outro sorrir e menear em negação.

- eu nunca estive mal – respondeu Alice antes de passar a brincar com o brinco de espadas com os dedos.

- e então? Eu ou você? – indagou o Stilinski olhando para a loura, que o fitava questionadora.

- você. Eu não consigo entender nada do que ocorreu aqui – respondeu a Reiyes sendo a mais sincera possível em suas palavras.

Ela realmente não conseguia entender aquela cena. Por mais que tentasse, aquela era a cena mais confusa de todas para si. As pegadas não condiziam com o que via, nem o corpo, muito menos o relógio. Ela estava perdida. A única coisa que seus instintos diziam era que Stiles estava mais calmo e que ela poderia relaxar um pouco.

- ele vai fazer de novo? – indagou o delegado vendo os agentes todos se focarem no “doutor” Stilinski.

- não sei o que nossa assassina estava fazendo, mas ela estava sendo seguida por Cindy – começou Stiles, se dirigindo para a faca presa na árvore e a retirando dali.

- ela foi morta pela faca que ela mesma carregava, todos podem pensar. Mas a faca em minha mão não foi a mesma que causou a morte desta garota. Estou certo Boyd? – ditou o castanho chamando a atenção de todos para Vernon, que lhe encarava sorrindo.

- você não erra uma, não é? – questionou o homem se aproximando do corpo e se abaixando ao lado dele. 

- não sei muito sobre corpos e morte, mas sei que esse corte aqui é da faca que Cinderela sempre usa. Ele é maior do que o buraco que ficou quando Stiles retirou a faca laranja. Ou seja... – o homem fora cortado por Scott.

- a faca laranja foi colocada nela depois que perdeu a posse dela na luta – o moreno de queixo torto viu Vernon menear positivamente.

- que luta? – questionou Stiles vendo os outros lhe fitarem confusos.

- não houve luta? – indagou Isaac, perdido.

- não. Tudo o que houve foi um diálogo. Essas pegadas aqui, foram feitas pelos mesmos sapatos. Ou seja, uma delas trocou muitas vezes o peso do corpo de apoio enquanto conversavam, provavelmente Cinderela. A sua calma diante da situação causou muita raiva em Cindy, que por sua vez se movimentou muito, nervosa e furiosa – explicou imitando as atitudes das duas personagens de sua narrativa.

- então como ela perdeu a faca? – questionou Allison, curiosa.

- Cindy atacou Cinderela – ditou o castanho de brincos avançando alguns passos.

- estou me perdendo com os nomes parecidos – murmurou Isaac para Derek, que negou com a cabeça, sorrindo minimamente.

- mas Cinderela só fez um movimento com a sua faca para quebrar o ataque de Cindy para que, ferida, ela se tornasse vulnerável. A dor e o ferimento assustaram a garota, o que fez o coração bombear mais rápido e, como o corte era no órgão que bombeava o sangue, ela perdeu muito do mesmo com extrema facilidade e não demorou a morrer. Enquanto Cindy agonizava, sentada, Cinderela pegou um graveto e desenhou o relógio ao redor de Cindy. Assim que ela morreu, a nossa assassina quebrou a coluna dela com um chute forte – terminou Stiles parando ao lado do corpo do Cindy, olhando bem para o corpo da adolescente.

- espera aí. Você está me dizendo que Cindy Boomer tentou matar alguém?! – questionou o Miriam, indignado 

- você perdeu alguma coisa do que eu disse? – indagou o homem magro ignorando a imagem do homem parrudo para se focar na vítima ainda dobrada no meio.

- eu não acredito que ela mataria alguém – argumentou o homem tentando provar a inocência de alguém.

- o fato de você não acreditar em algo, não quer dizer que esse algo não exista. Assim como só o fato de você acreditar, não quer dizer que ele exista. – ditou o castanho se aproximando de Allison e pedindo para a mesma ligar para Lydia.

- no quê você está pensando? – indagou a morena já discando o número da base deles.

- Cinderela deve ter sido algo marcante demais para o FBI não trabalhar no primeiro caso. Sem contar no banco de dados do país. Copias do caso devem estar arquivadas em forma digital ou física no FBI. E diga que mais tarde precisarei dela novamente – ditou o castanho vendo a morena colocar no viva-voz enquanto a conexão era feita.

- por que precisam dos arquivos da primeira onda de ataques? – inquiriu o delegado direcionando um olhar furioso para Alice, que lhe direcionou um olhar divertido ao mesmo tempo em que lambia os lábios sensualmente. O homem franziu o cenho para a língua atrevida do mais novo.

- qual é a sua, pervertido? – ralhou irritado.

- você é tão inútil e presunçoso que me excita – ditou o castanho sem vergonha alguma, na opinião da maioria dos presentes, mal sabendo o verdadeiro significado daquela palavra.

- é óbvio que queremos avaliar as informações dos arquivos e adquirir alguma vantagem nesse caso – respondeu Erica olhando com atenção para o seria kiler com quem trabalhava.

Allison franziu o cenho para a cena a sua frente antes de se afastar para poder se comunicar com Lydia, retirando a chamada do modo viva-voz, adquirindo um pouco de privacidade.

- você está ativo demais para não ter uma pista nova – afirmou Derek, de braços cruzados, olhando bem para o castanho. Em todas as cenas de crime era assim. Stiles praticamente trabalhava sozinho nela, mas ele sempre exigia a presença de todos quando as visitava.

- ela cometeu um erro matando Cindy – pontuou o castanho chamando a atenção de todos para si, os deixando em alerta.

- e qual foi? – questionou Isaac, curioso.

- também quero saber – disse Allison já encerrando a chamada.

- eu não entendo muito de adolescentes, já que nunca fui um normal, mas sei o suficiente para perceber algo aqui. Olhem bem para Cindy – ditou o castanho pegando a vítima pelo pescoço e desfazendo a dobra em seu corpo e a erguendo como uma boneca de pano, a colocando sentada, surpreendendo os legistas por sua força. Eles não esperavam que alguém tão magro erguer um cadáver com tamanha facilidade. Eles, mais do que qualquer um ali, sabiam que cadáveres adquiriam um peso maior do que os que seus corpos tinham quando em vida.

- ela parece alguém que partiria para briga com alguém mais velha ou mais alta, de porte físico maior? – questionou o castanho chamando a atenção dos agentes.

- aonde quer chegar? – perguntou Derek menos irritado.

- eu vejo uma típica patricinha queridinha da escola que chama a atenção de todo mundo pela beleza e reputação – respondeu Allison vendo Erica menear positivamente.

- ela não me parece alguém que brigaria por outra coisa a não ser roupas e garotos – ditou Erica vendo o castanho sorrir na hora.

- e o que tem de errado nisso? – indagou o delegado, já irritado.

- a idade de nossa assassina. Nós erramos ela – respondeu Alice, largando a garota morte como se ela não tivesse valor algum, o que, para o castanho, era um fato inegável, vendo Peter franzir o cenho, pensativo.

- Cinderela não é uma mulher adulta. Ela é uma adolescente – concluiu o louro vendo o assassino da divisão menear positivamente.

- isso é loucura! – exclamou o delegado vendo o grupo de agentes e doutores desviar o olhar para si.

- pode até ser, mas o que seria do mundo sem a loucura? – indagou Peter vendo o homem lhe fitar incrédulo.

- um lugar melhor, talvez? – sugeriu um oficial enquanto apontava para o corpo da vítima, que já era levado pelos legistas.

- pode até ser, novamente, mas é impossível de se dizer, já que o comum e o padrão geram a loucura – respondeu o louro mais velho vendo o homem ficar pensativo por um tempo. Ele não havia compreendido o ponto filosófico do homem de topete alourado.

- o que vão dizer, agora? Que estavam brigando por um príncipe? Que ela mata as pessoas por culpa da madrasta cruel? Que ganhou a faca da madrinha? – questionou o delegado, irônico. Stiles bufou em desdém enquanto dava as costas ao homem.

- depois de tudo no que trabalhamos, alguém duvida que isso ocorra? – indagou Allison vendo a divisão da qual fazia parte se manter em silêncio, sem nenhum tipo de manifesto.

- foi o que pensei – disse a morena antes de todos começarem a analisar melhor a cena do crime.

Como esperado, eles não conseguiram encontrar mais nada que ajudasse nas investigações. Era como se Cinderela tivesse apenas atravessado o parque e passado pela cena do crime, já feita. A cena não abrangia uma grande área, como é de se esperar em cenas de crimes. Geralmente, as cenas de crime eram formadas por um raio de bons metros quadrados, uma vez que, em sua maioria, tanto a vítima, quanto o assassino, costumam deixar vários rastros em sua caminhada, fuga ou perseguição. Mas Cinderela havia feito um verdadeiro milagre naquela cena. O asfalto e a calçada não colaboravam na busca, já que não costumavam deixar rastros, como o solo natural. Sendo assim, a cena de crime se resumia àquela trilha no parque.

O grupo passou o dia discutindo a análise nova que fizeram da assassina. Eles praticamente tiveram que começar do zero com a nova idade que determinaram para Cinderela. Lydia demorou para conseguir adquirir os arquivos do primeiro caso da Cinderela, por esse motivo os agentes tiveram tempo de interagir com a mulher do delegado, que passou na delegacia para chamar o grupo para um almoço, em agradecimento ao ato de Isaac em salvar o pequeno Isaac de um atropelamento. Derek e Scott estavam prestes a negar quando Stiles, Allison e Peter disseram que o grupo aceitaria o convite. Quando a mulher e o delegado, o último um tanto receoso e estressado, saíram, os dois morenos se viraram para o trio, questionadores.

- o nosso trabalho aqui é prender essa louca antes que ela mate mais, Peter. Não fazer almoços democráticos com os policiais – repreendeu Derek, irritado.

- não podemos perder tempo almoçando com eles – ditou Scott, indignado, vendo Allison suspirar e olhar para os dois parceiros com um olhar um tanto desapontado.

- não queremos comida, Scott – disse a Argent tentando incentivar as mentes dos parceiros.

Scott e Derek não eram o tipo de agentes que percebiam estratégias que envolviam interação social facilmente. Eles eram mais do tipo jogadores do jogo de tabuleiro “Detetive”. Eles tinham cenas e suspeitos, então eles apenas precisavam de tempo e pistas. Já Peter e ela, eram do tipo que sabiam explorar as pessoas a sua volta até onde a jurisdição e a sua noção social permitiam.

- se não sabem o que estamos fazendo, então deixem os adultos resolverem as coisas. Se preocupem apenas em brincar de polícia e ladrão – disse Stiles jogando as cartas que embaralhava de uma mão para outra, como costumava fazer enquanto pensava.

- seu... – Scott rosnou irritado ao mesmo tempo em que cerrava o punho.

- você e Isaac abriram nossos olhos para algo interessante, Scott – falou Peter enquanto dava uma última olhada para o novo quadro que haviam montado, antes de dar as costas ao mesmo e passar o braço por sobre os ombros de Stiles.

- e o que seria? – indagou Scott, ainda irritado com o castanho de brincos.

- se a mulher do delegado, que não trabalha em caso algum, sabe de alguma coisa do primeiro caso da Cinderela. O que o delegado não guarda escondido de nós? – disse Allison vendo o restante do grupo tomar expressões de surpresa em seus rostos.

- aquele filho da mãe sempre contestava as nossas pistas e deduções! – exclamou Erica, furiosa.

- agora sabemos de onde vem tanta desconfiança. Ele deve achar que é algum tipo de discípulo – ditou Vernon enquanto o grupo se preparava para ir à casa do delegado Miriam.

- tentem ao máximo esconder que queremos interrogar ele. Deixem as perguntas com a gente – ditou Peter para o grupo de detentos, vendo Erica e Isaac, que menearam positivamente, Vernon dar de ombros e Stiles sorrir ladino.

- Erica e Stiles, a função de vocês vai ser nos dizer se ele está mentindo ou não – ordenou Allison vendo a dupla menear positivamente.

- ao seu dispor – disse o castanho já abrindo a porta da sala para que o grupo saísse.

O almoço não fora exatamente desagradável na visão de Derek e Scott. Erica e Allison conversavam bastante com a mulher do delegado, trazendo a mesma mais para perto de ambas no sentido confiança, para caso o delegado quisesse manter algo para ele, assim elas poderiam usar a mulher como um meio para alcançar a resposta que queriam. Stiles, para o temor de Derek e Scott, passava a maior parte do tempo brincando com o filho caçula do casal, fazendo mágica para o garoto, que aplaudia a mesma animado, mesmo que não entendesse muito o que acontecia ali.

- ele já foi mágico? – indagou o Miriam apontando para o homem de brincos que se encontrava sentado ao lado da cadeirinha com assento do seu filho.

- ah, isso? – indagou Peter vendo Stiles sumir com a chupeta do pequeno, antes de retirar a mesma da barriga do garoto, como se a mesma estivesse escondida ali o tempo todo.

- não sabemos. Ele já sabia fazer isso quando entrou para a divisão – respondeu Derek vendo o pequeno Isaac gargalhar com a brincadeira.

- peguei o seu nariz – brincou Stiles e, no mesmo instante, o pequeno levou as mãos ao rosto.

- o seu filho é uma gracinha – disse Erica em um tom derretido enquanto se aproximava do pequeno e de Stiles, passando a brincar com o mesmo.

Atrás de Erica, vinha Allison carregando uma travessa com o que seria macarrão com queijo, enquanto a senhora Miriam colocava a molheira sobre a mesa. A mulher sorriu para como o castanho e a loura pareciam se dar bem com o seu filho. Isaac Miriam não gostava muito de estranhos, chegando a gritar a plenos pulmões quando um estranho se aproximava dele. No entanto, Stiles e Erica conseguiram domar a criança em poucos segundos.

- vocês dariam ótimos pais. Nunca vi o Isaac interagir tanto com alguém que não conhece – disse a mulher tentando amenizar o mal humor do marido, que ainda não estava nem um pouco a vontade com aquele almoço.

- ah, eu não tive esse prazer – falou a loura apertando o nariz da criança de leve.

- ah, querida. Você ainda vai ter e vai amar – ditou a senhora Miriam e tudo o que a Reiyes conseguiu fazer fora sorrir um pouco sem graça.

- quando você entrou para a polícia? – questionou Peter vendo o homem começar a se servir.

- há vinte anos – respondeu o delegado vendo o louro menear positivamente.

- você faz um bom trabalho na delegacia. Não são todas em que vemos tanta organização e eficiência – elogiou Allison vendo o homem menear positivamente, enquanto começava a comer.

“Ele não está engolindo”. Pensaram os agentes. O mal humor do homem estampava a desconfiança dele com aquele almoço. Ele estava incomodado com algo. Era notório. Eles apenas não sabiam o que era.

- você começou a trabalhar em Quântico, mesmo, ou foi transferido? – questionou Stiles chamando a atenção de Peter, enquanto Derek, Scott e Allison suspiravam. 

Eles haviam deixado bem claro que apenas os agentes deveriam fazer as perguntas. O delegado Miriam lançou um olhar analítico para o homem de brincos sentado a sua mesa de jantar pouco usada, vendo o mesmo provar da comida de sua mulher e desviar o olhar para elogiar a mesma.

- sim. Comecei aqui, mesmo – respondeu antes de voltar a olhar para o próprio prato.

- vocês tem mais uma filha, certo? Nós a vimos na delegacia uma vez – questionou Vernon vendo a senhora Miriam alimentar o pequeno Isaac.

- sim, nós temos. A Nancy leva o almoço do meu marido de vez em quando, já que se depender dele, não volta para casa nem para comer – disse a mulher e os agentes não deixaram de notar o tom ligeiramente ofensivo da mulher.

- ela parece ser uma boa menina – disse Derek bebendo um pouco do suco feito por Allison.

- e é. Ela sempre me ajuda quando pode. Fico até preocupada, ás vezes, de estar roubando algum tempo dela. Mas ela sempre diz não ser nada – a mulher do delegado parecia estar animada em receber visitas.

- cheguei! – eles ouviram a voz de uma adolescente ser acompanhada pelo som da porta batendo.

- ah, olha ela aí. Querida, temos visitas! – alertou a senhora Miriam e, no mesmo instante Nancy apareceu na sala de jantar, largando uma mochila no corredor.

Quando olhou para a frente, a menina fora surpreendida pela imagem dos agentes do FBI que estavam na cidade para investigar o caso dos assassinatos. Ela os reconheceu de imediato e sorriu para eles, sendo correspondida por todos.

- não sabia que teríamos visitas – disse a garota enquanto colocava uma das mãos no bolso de trás da calça – é bom ver vocês de novo – cumprimentou os agentes.

- eu os convidei de última hora – falou a mãe de Nancy, sorrindo para a filha.

- é bom ver você também – falou Peter enquanto os agentes apenas meneavam para a adolescente.

- você está bem? Eu fiquei sabendo sobre a Cindy. Ela era uma amiga sua, não era? – questionou a mulher do delegado vendo a menina entortar uma sorriso e suspirar.

- eu vou ficar bem. As meninas estão horrorizadas – respondeu Nancy agora com as duas mãos nos bolsos de trás.

- entendo. Todos devem estar arrasados – falou a senhora Miriam negando com a cabeça.

- o pior é que nem tanto. Ela não era exatamente uma pessoa bem querida por todo mundo – falou Nancy, dando de ombros, surpreendendo os pais.

- não fale assim! – exclamou a mulher limpando a boca do filho mias novo após dar mais uma colher de papinha para o mesmo.

- não me culpe! Eu só disse o que vi na escola – argumentou a filha do delegado, dando de ombros mais uma vez.

- eu vou só guardar a mochila e desço para comer – ditou a adolescente dando a volta, pegando a mochila e correndo para o andar de cima.

Stiles se inclinou para trás, espiando a garota subir pelas escadas com velocidade. O delegado Miriam pareceu não gostar muito da ideia, já que tomou uma expressão irritada no rosto, antes de questionar o que o homem estaria olhando. Com um sorriso simples nos lábios, Stiles apenas disse ter gostado do estilo da garota e que estava olhando os brincos da mesma.

 

 

 

 


- no fim, acabamos não descobrindo nada – disse Isaac se jogando deitado no chão da sala da delegacia

- aquele homem realmente não gosta da gente – ditou Vernon sentando-se em uma das cadeiras. O celular de Peter começou a tocar e logo o homem suspirou aliviado.

- é a Lydia – ditou o homem já atendendo a ligação.

- pelo amor de Deus, diga que encontrou alguma coisa! – suplicou o Tate assim que atendeu a chamada.

- conecta o computador na tv e deixa eu fazer o seu cu cair da bunda – ditou a ruiva do outro lado da chamada, fazendo Erica rir.

- você é hilária, Lydia – disse Isaac sorrindo enquanto Scott fazia como a ruiva havia ordenado.

No instante em que ele conectou o cabo HDMI no televisor, a imagem de Lydia surgiu em ambas as telas e a chamada que a mesma fazia com Peter fora encerrada. A ruiva estava linda com o casaco vermelho e os brincos dourados brilhando entre os seus fios ruivos. A mulher colocou um milshake de lado, enquanto se focava em encarar a câmera.

- preciso saber quem está aí – disse a agente Martin vendo Derek franzir o cenho para as suas palavras.

- todo mundo – respondeu o moreno de olhos verdes.

- quero os nomes – falou a mulher e Derek estranhou mais ainda.

- Peter, Isaac, Scott, Erica, Allison, Vernon, Alice e eu – ditou o Hale vendo a ruiva menear positivamente.

- ótimo, fechem as portas e janelas, lembrem das persianas também – ditou a ruiva deixando todos confusos.

- para que isso? – questionou Scott, desconfiado.

- eu fiz minhas buscas e achei algo que vai ajudar, mas que só pode ser dito para vocês – ditou a ruiva enquanto Allison e Peter fechavam as cortinas e Vernon trancava a porta.

- o que houve? – questionou Isaac receoso.

- pronto – ditou Peter se aproximando do alcance da webcam.

- vocês me falaram que houve uma primeira Cinderela e que ela havia atacado Quântico – disse a ruiva antes de várias manchetes de jornais surgirem na tela.

- vocês estavam certos. O culpado foi um homem de trinta e seis anos: Matthew Polansk – a ruiva explicava enquanto as manchetes eram substituídas pela imagem da identidade de Matthew.

- mas ele foi encontrado morto - concluiu Allison e logo a foto do corpo do homem em meio ao parque em que Cindy fora encontrada.

- exatamente. Ele ficou conhecido apenas por “Assassino de mulheres”, já que não durou muito nem matou com tanta frequência. Enfim, ele foi o último a ser encontrado com doze facadas e o caso foi dado por encerrado – disse a ruiva antes de tomar um olhar misterioso engraçado.

- por que está fazendo esse olhar de Youtuber tentando ser misterioso? – questionou Scott vendo a ruiva tomar um olhar de decepção antes de fazer um bico com os lábios.

- idiota! – exclamou a ruiva antes de uma manchete de jornal ser exibida.

- acontece que a polícia disse que ele cometeu suicídio, para a imprensa, tentando abaixar a poeira. A história foi dita como muito trágica, mas com um fim breve. No entanto ele foi encerrado apenas para a imprensa, porque teve uma sobrevivente e o final das investigações ocorreu às escuras dos noticiários – ditou a ruiva e todos olharam confusos para a mesma.

- houve? – questionou Derek curioso.

- por que eles ocultaram isso? – questionou Scott, pensativo.

- e o choque vem agora. O motivo de a polícia ter ocultado o final da história vai se esclarecer assim que vocês ouvirem o nome da sobrevivente – disse Lydia, voltando a ter um sorriso maroto nos lábios.

- está de brincadeira! – exclamou Erica ao ver a foto da garotinha.

- Nancy Miriam foi sequestrada durante as investigações. Ela sumiu da escola sem deixar rastro algum. A mãe, desesperada, chamou a polícia em instantes, mas o sequestro só pode ser confirmado no outro dia. A mãe encontrou Nancy quando a garota entrou em casa em estado de choque, na noite do dia em que Matthew fora encontrado morto. Levaram ela para o hospital e a garota foi internada – explicou a ruiva e logo o laudo médico surgiu ao lado de seu rosto, na tela.

- tirando as doze facadas, existe outro fator que se encaixa no caso atual – disse a ruiva e logo uma pequena parte do laudo médico de Nancy fora destacado.

- o que isso quer dizer? – questionou Isaac, confuso.

- quer dizer que ele pegou pedaços dos pés das outras vítimas e os costurou em Nancy para deixar ela com o tamanho perfeito – disse Peter vendo Stiles ler todo o laudo médico com cuidado.

- Lydia, procure uma mulher morta com cabelos escuros curtos e que calçava o mesmo número fanático da primeira Cinderela – ditou Stiles e logo a ruiva sorriu largo.

- eu já fiz isso meu sorvetinho de Kit Kat – ditou a ruiva e logo a imagem 3x4 de uma mulher castanha surgiu na tela.

- Susanna Polansk, era a irmã de Matthew que morreu quando o mesmo estava passando por problemas com drogas. Segundo os familiares, Matthew surtou com a morte da irmã, a quem ele era muito próximo. A família alegou que ele era uma boa pessoa e que amava a irmã, mas a polícia sabia que ele amava a irmã muito mais do que deveria – ditou a ruiva jogando um documento policial na tela.

- isso é uma ordem de restrição? – questionou Vernon, surpreso.

- pois é, Susanna alegou que, por muitas noites, acordou com o irmão ao seu lado, a acariciando “demais”, digamos assim – disse a ruiva e logo a imagem da tela voltou a ser apenas ela em seu local de trabalho.

- Lydia, pesquise pela turma, deste ano, de Nancy Miriam – ditou Allison e logo a mesma surgiu na tela.

- aqui, é a Cindy – disse Stiles apontando para o nome da última vítima.

- não fiquem apenas com a turma deste ano. Eu lhe dou a lista dos alunos da turma de Nancy quando ela voltou do hospital, após o sequestro – disse a ruiva e logo uma outra lista surgiu

- esses garotos... – disse Derek pegando a lista de vítimas.

- todas as vítimas estudaram com ela no ano do sequestro – concluiu Scott vendo a ruiva menear.

- mas por que diabos ela está matando os antigos colegas de escola? – questionou Peter, confuso.

- porque eles não são amigos dela. São bullIes – ditou Isaac e Erica e Vernon menearam positivamente.

- crianças podem ser monstros, quando querem – ditou Vernon olhando para os agentes.

- com certeza eles tiraram proveito da condição dela. Pés deformados, autoestima baixa após o sequestro. Ela era a vítima perfeita – disse Erica vendo os dois prisioneiros ao seu lado menearem em concordância.

- o degrau perfeito para se tornar um popular na selva que é uma escola – pontuou Vernon.

- ela se sentia deslocada, ameaçada e estranha. Isso deve ter feito ela se afastar e chamar atenção deles – falou Isaac vendo os outros dois concordarem com a sua teoria.

- mas isso seria o suficiente para levar alguém a isso? – questionou Derek vendo a imagem das vítimas novamente.

- sem contar que, o jeito como ela deixa as vítimas não parece ser o de alguém furioso – completou Scott.

- você era jogador, Scott. Não sofreu Bullying. O que você via como brincadeira é o que nós chamamos de bullying – argumentou Isaac, indignado.

- e sim, bullying faz você largar tudo para saciar a sua raiva e frustração – ditou Vernon olhando para Derek.

- o mundo do crime não é muito melhor do que uma turma com bullying – argumentou Derek, confuso.

- mas não tem falsas regras. Não tem ninguém dizendo que é proibido e permitir que outras pessoas façam mal a você, mas que quando você faz mal a elas as regras se aplicam – argumentou Isaac cruzando os braços e dando as costas.

- a única coisa que vocês tem que saber é que ela está fazendo ele pagar, não tentem entender as razões dela se não conseguem se colocar em seu lugar – ditou Erica visivelmente irritada.

- está dizendo que ela está certa em matar eles? – questionou Derek também irritado.

- ela está dizendo que você tem que calar a boca enquanto não souber o que se passa fora do seu mundinho perfeito – ditou Stiles ignorando todo mundo para seguir até a tela e analisar a imagem de Nancy com cuidado.

- Lydia, tem alguma imagem de quando ela foi encontrada? – questionou Stiles e a ruiva meneou positivamente, antes de uma imagem de Nancy, completamente abatida surgir no lugar da primeira foto. O castanho levou uma das mãos até a tela, deslizando a ponta dos seus dedos pela imagem pixelada da garota.

- essa menina sofreu nas mãos de Matthew. Você não faz ideia de como a dor pode transformar alguém. No caso dela, a tornou em uma assassina intermediária perfeita – ditou Stiles vendo as marcas roxas no pescoço e ombros da menina.

- ela foi estuprada – disse Allison vendo o silencio tomar os outros agentes.

- já sabemos quem é a assassina. Consiga um mandato – ditou Stiles cruzando os braços e dando as costas ao grupo.

- cara, só conseguimos descobrir que ela já foi uma vítima, não que ela é uma assassina – disse Scott vendo o castanho olhar na direção de Peter.

- Lydia, providencie o mandato – ditou o louro com um tom de voz enigmático.

O olhar de Peter era de tristeza pura. Aquilo havia deixado todos confusos. Eles se voltaram indignados para o homem, tentando questionar se o mesmo estava louco, mas pararam com o olhar tristonho do Tate. Aquilo havia pego eles de surpresa. Peter estava apático e parecia não muito interessado em discutir o assunto.

- não vai pegar esse mandato – disse Derek, calmamente, tentando não ser muito grosso com o tio.

- Lydia, o mandato – ditou Peter sabendo muito bem que a ruiva estava confusa sobre qual dos dois responsáveis pela divisão ela deveria seguir.

- confia no que ele diz tanto assim? Vai jogar a sua chance de voltar apenas porque ele diz que ela é uma assassina? – questionou Derek apontando para Stiles.

- você a viu? – questionou Stiles em um tom de voz calmo.

- eu vi – respondeu Peter ainda abatido.

- do que estão falando? – questionou Allison, confusa.

- eu vi nos pés dela – Stiles ignorou a pergunta ainda de costas para todos.

- quando saímos da casa do delegado, eu vi uma marca de molhado no tapete da porta – falou Peter chamando a atenção de todos.

- uma marca? – questionou Scott.

- a marca de um sapato. A sola era idêntica a marca que vimos no parque – explicou Peter juntando as mãos na frente do rosto e apoiando o mesmo nas duas.

- e daí? Sabe quanto sapatos tem solas parecidas? Vocês nem fizeram uma análise para dizer se é a mesma sola – argumentou o moreno de queixo torto vendo Vernon negar com a cabeça.

- por mais que eu aceite o argumento do Scott, eu ainda concordo com Peter e Stiles – ditou o homem se posicionando atrás de Peter.

- se não for ela, podemos soltar. Mas se for ela, podemos salvar mais vidas muito mais rápido – ditou Isaac encarando os agentes que eram contra a ideia de prender a garota.

- nós já trabalhamos muitas vezes juntos. Alguma vez já falhamos? – questionou Stiles chamando a atenção para si.

- somos a porra da última esperança de vocês de conseguirem restaurar o país e vocês querem ficar discutindo? Não me impressiona que o FBI não está conseguindo resolver porra nenhuma – ditou Erica sentando na mesa e cruzando as pernas e os braços.

- não podem nos culpar de nos sentirmos desconfiados. Estudamos durante anos e... – Lydia fora cortada por Peter.

- a melhor arma de um investigador não são as pistas, é a sua intuição – ditou Peter e no mesmo instante Lydia se calou.

- eu não aprendi isso nos livros. Isso se aprende em campo – ditou Peter vendo o moreno de olhos verdes cerrar os punhos enquanto olhava para Stiles.

O pai de Derek dizia aquilo para ele sempre que falava do trabalho. O homem sempre lhe dizia que, se o moreno quisesse ser como ele, precisaria aprender muitas coisas e uma delas era a ter instintos. Usar aquilo fora um tipo de golpe baixo. Um golpe baixo que ele teria de aceitar.

- Lydia, o mandato... providencie ele – ditou Derek ainda olhando para Peter.

- já está sendo impresso aí – disse a ruiva surpreendendo Derek ao produzir o mesmo antes que o moreno permitisse.

- peguem ela – ditou Lydia antes de encerrar a vídeo chamada. Ela tinha um certo peso na consciência. Ela sentia que havia fracassado com o seu objetivo e não estava afim de ouvir qualquer conversa que poderia vir a seguir para não acabar se sentindo pior.

 

 

 

Chapter 26: Indictment

Chapter Text

- mas o que é isso? – questionou o delegado ao ver o local para o qual os agentes levaram os seus policiais.

- estamos prendendo a Cinderela – respondeu Derek com seriedade enquanto verificava, mais uma vez, a arma em sua mão.

- do que diabos está falando? – indagou o delegado, irritado.

- me deixe falar com ela – disse Peter, impedindo que Allison fosse na frente.

- por que estamos na minha casa? – questionou o Miriam, já irritado.

- nós já sabemos de tudo, delegado. A sua filha foi vítima da primeira Cinderela – ditou Vernon chamando a atenção do homem para si.

- e agora, ela é a nova – disse Erica enquanto verificava a munição da arma que tinha em mãos.

Fora muito difícil fazer os agentes liberarem os armamentos para eles dois, mas, depois que Stiles insistiu tanto, alertando que a garota era perigosa demais para Vernon e Erica estarem desarmados, os agentes acabaram cedendo, com muito esforço. Derek e Scott, como sempre, eram contra desde o começo e perduraram a soltar o osso. No entanto, os argumentos de Lydia e Allison pareceram clarear a mente dos dois morenos, principalmente quando Stiles pediu para Isaac ficar com Lydia. Aquilo realmente chamou a atenção de Peter.

- por que tanto suspense por uma adolescente? – questionou Scott assim que Allison permitiu que Peter fosse na frente.

- porque Stiles foi preso tendo uma idade menor do que a dela, e mesmo assim foi direto para a solitária da segurança máxima – ditou Derek vendo o tio se aproximar da porta e permitir que a senhora Miriam saísse com o pequeno Isaac no colo.

Peter adentrou a casa, sendo seguido por Derek e Allison, com Scott logo atrás dos dois. O homem de cabelos louros seguiu para o quarto de Nancy, local em que a senhora Miriam havia dito que a filha estaria. No entanto, quando chegou ao quarto o mesmo estava vazio. Sinalizando com a mão, Peter ordenou que vasculhassem o andar de cima. Eles reviraram a casa toda, mas não encontraram sinal algum de Nancy. Quando saíram da casa, eles se aproximaram dos Miriam, vendo os mesmos olhando desesperados para a casa, enquanto alegavam, aos berros que a filha não era uma assassina.

- ela não está aqui – ditou Peter enquanto se aproximava do casal.

- A MINHA FILHA NÃO É UMA ASSASSINA! – gritou o delegado, segurando Peter pelo colarinho e se preparando para socar o mesmo.

Em questão de segundos o mundo girou e o homem se viu deitado no chão. Ao olhar para trás, sentindo o seu braço ser torcido com força, ele notou o rapaz de brincos sorrir ladino em sua direção. A fúria do homem aumentou e ele forçou o outro a lhe soltar, conseguindo a proeza, mal sabendo que ele havia sido solto. O delegado tentou socar as pernas de Stiles, mas o castanho saltou o homem, se colocando atrás do mesmo novamente.

- sua filha aprendeu com a Cinderela Original. Ela mata tudo o que a ameaça. Se fizer mal para ela, então merece morrer – disse Stiles desviando de mais um golpe do delegado.

- segurem ele – ordenou Derek e os policiais avançaram.

- deixem ele – ordenou Stiles e o delegado avançou em si novamente.

- desde que eu lhe vi que eu quero lhe bater. Se não teve educação antes, vou fazer o que seu pai deveria ter feito – ditou o delegado puxando o cassetete e os policiais avançaram, mas foram impedidos por Peter, que ergueu a mão para eles.

- vou lhe dar a surra que seu pai não lhe... – o delegado fora calado quando golpeou o castanho, vendo o mesmo bloquear o golpe com o braço, sem expressar dor alguma.

- sinceramente, uma criança poderia me bater mais forte – disse o castanho antes de, com o calcanhar, desarmar o delegado ao chutar a mão do mesmo.

- ela não mataria ninguém! – ralhou o delegado avançando contra o castanho, vendo o mesmo lhe derrubar no chão mais uma vez.

- e quem você acha que matou Matthew Polansk? Você lembra desse nome não lembra? Ele é a Cinderela Original – indagou Alice e o Miriam pareceu ficar surpreso com a revelação.

- isso mesmo. Anos atrás, quando a sua filha foi sequestrada. Em um momento de fraqueza, Polansk foi pego por ela e morto da mesma forma que ele matava outras mulheres. A sua filha destronou a Cinderela e agora ela é quem calça os sapatinhos de cristal – ditou o Stilinski se afastando do homem para se virar para a mulher.

- vamos. Temos que achar ela – ditou Peter vendo Stiles se aproximar da mesma.

- qual é o local em que ela mais vai? – questionou o castanho vendo a mulher abraçar Isaac um pouco mais forte.

- na casa do Josh. É um colega da escola – respondeu a mulher. A Miriam deu o endereço e logo os agentes estavam entrando nos carros.

- Peter, vá na frente. Eu preciso ver algo com a Lydia – ditou o castanho já se afastando do carro.

- sozinho? – questionou Derek, irritado.

- vai a pé? – indagou o louro vendo o castanho menear positivamente.

- eu posso chegar lá rápido – disse o castanho vendo o homem menear positivamente.

- precisa de uma arma? – perguntou Peter já imaginando a resposta do outro. 

- eu sou a minha própria arma – respondeu Stiles retirando o colete a prova de balas e jogando o mesmo para os agentes.

- você não vai sozinho – ditou Derek vendo o castanho dar se ombros.

- tanto faz, só não pense que vou desacelerar apenas por você não conseguir me acompanhar – ditou o Stilinski já se preparando para correr.

- Alice, não me provoque – alertou o vendo o castanho começar a correr com velocidade.

Derek se viu correndo atrás do castanho segundos após. Para a sua surpresa, Stiles era rápido. Rápido o suficiente para começar a se afastar de si, quase sempre desviando de tudo e todos sem precisar desacelerar. Foi apenas questão de mais alguns segundos para que o agente Hale, aos berros, perdesse o castanho de vista.

Demorou um pouco para que Derek chegasse ao prédio onde Lydia e Isaac estavam, o mesmo que eles usavam como base. Desesperado, o homem apertou o botão de fechar as portas do elevador. O seu receio de que Stiles tivesse fugido estava lhe matando. Se eles perdessem o assassino do seu pai, Derek nunca se perdoaria, sem contar que seria demitido e muitas pessoas morreriam. Assim que as portas se abriram, o agente Hale saiu do elevador como uma bala, vendo Lydia e Isaac lhe fitarem antes de se entreolharem.

- sete minutos e trinta segundos de diferença – falou a ruiva vendo o louro de cachos tomar um olhar surpreso.

- ele é rápido! – exclamou o Lahey vendo a Martin concordar consigo.

- pelo amor de Deus... – Derek estava exausto. Correr até ali com o colete era bastante cansativo.

- sim, Stiles esteve aqui e já foi embora – disse Isaac levando o canudo do milkshake aos lábios.

- onde ele está? – questionou ainda com dificuldade, antes de Isaac lhe estender a bebida gelada.

- nesse momento, chegando em um galpão a oeste – respondeu Lydia e o moreno a fitou confuso.

- como sabe? – questionou Derek vendo a mulher virar o monitor para si.

- mandei ele levar o meu celular. Não sou idiota! – argumentou a mulher voltando a virar o monitor para si.

- vire a direita – disse a mulher e logo a voz de Stiles ecoou pela caixa de som.

- certo –

- ele pode ouvir? – questionou Derek, ainda arfante.

- eu disse que não iria lhe esperar – disse o castanho e logo ele confirmou que havia chegado.

- que galpão é esse? – perguntou o Hale vendo a ruiva lhe ignorar para dar instruções para o seu tio.

- é o galpão em que ela foi feita de refém. Enquanto era interrogada, Nancy revelou o esconderijo em que era mantida refém, na época do sequestro – respondeu Isaac antes de levar o canudo do milkshake aos lábios e os sugar com vontade.

- e por que diabos ele está indo lá? – questionou o moreno de olhos verdes vendo os outros dois darem de ombros.

- não fazemos ideia. – disse Lydia olhando para a tela, vendo o ponto vermelho, indicando a posição de Stiles, graças ao seu celular, se aproximar do ponto azul, que era o galpão.

- eu vou lá – falou o agente Hale já se virando para o elevador.

- eu prefiro que fique aí. Isso vai ser uma festa particular – ditou Stiles e Derek gargalhou ironicamente.

- até parece – foi tudo o que o moreno disse antes de sinalizar para Lydia enquanto erguia o celular.

A ruiva meneou positivamente e, no mesmo instante, Stiles avisou que iria desligar pois havia chegado ao local de destino. Assim que a chamada fora encerrada e o moreno de olhos verdes já havia entrado no elevador, a ruiva se sentou na cadeira giratória com velocidade, enquanto passava a dedilhar no teclado com a sua facilidade costumeira, o que deixava o louro de cachos encantado com a velocidade dos dedos da mulher.

- o que está fazendo? – questionou o Lahey vendo a ruiva passar a usar apenas uma mão enquanto levava o próprio milkshake aos lábios, sugando o conteúdo gelado.

- não gosto de ficar as escuras. O lugar já foi comprado desde o incidente com a primeira Cinderela e já foi abandonado de novo – respondeu a Martin voltando a usar as duas mãos.

- e daí? – questionou o homem, perdido.

- você vai entender daqui a pouco – respondei a ruiva continuando o seu trabalho no teclado.

 

 

 

Peter parou o carro na residência da família do tal Josh que ele estava procurando e, no mesmo instante, os policiais o seguiram. Assim que chegaram na porta da residência, um homem abriu a mesma, confuso. Ele estava na sala quando viu as sirenes da viatura. O homem gelou quando viu a polícia aglomerada em sua porta.

- em que posso ajudar? – questionou o homem, nervoso.

- o seu filho se chama Josh, certo? – indagou Peter e o homem meneou positivamente.

- a sua família tem que vir com a gente – disse Peter e no mesmo instante a mulher do homem e o filho do mesmo estavam na porta da casa, olhando confusos para todos aqueles policiais.

- o que está acontecendo? – perguntou a mulher vendo o marido se virar para o filho.

- você fez alguma coisa? – inquiriu o homem vendo o filho negar com a cabeça desesperadamente.

- o que está acontecendo? – perguntou o adolescente e Peter se colocou de frente para o mesmo.

- eu sou Peter Tate, do FBI. Você e a sua família estão sendo colocados sob a nossa proteção. Acreditamos que você possa ser um alvo do assassino que estamos perseguindo – disse o louro vendo o adolescente empalidecer.

- eu? Por que? – indagou o rapaz, amedrontado e confuso.

- quando chegarmos na delegacia você e seus amigos serão interrogados para sabermos quem pode ser o alvo dela, mas, até lá, todos os alunos de uma antiga turma sua estão sendo levados para a delegacia – ditou Peter e logo o pai de Josh empurrava o filho pelos ombros na direção da viatura.

- estamos com o Josh – disse Peter no rádio e logo ouviu o mesmo receber uma mensagem.

- estamos com três deles, os encontramos na casa do Luke. As famílias foram alertadas por telefone – disse Allison e o louro pareceu mais aliviado.

Eles não tinham homens o suficiente para proteger todas as famílias cujos filhos fizeram parte da turma de Nancy no fundamental. Por isso estavam escoltando todos para a delegacia. Assim seria mais fácil proteger todos e eles irritariam Nancy, o que a faria ser descuidada.

- estou levando duas delas para a delegacia. Para nossa sorte, algumas panelinhas decidiram se reunir hoje – disse Scott, no rádio.

- tomara que ela não tenha decidido reunir alguns deles em algum lugar – disse Peter enquanto entrava na viatura.

- quem é o assassino? – questionou Josh na parte de trás da viatura. O rapaz era escoltado por Peter, enquanto os pais do mesmo iam atrás, no próprio carro.

- você conhece Nancy Miriam? – questionou Peter e, no mesmo instante, Josh gelou.

- a Nancy?! É a Nancy?! Impossível! Eu a conheço... – 

- desde o fundamental? – questionou Peter surpreendendo o rapaz.

- me diga, sabe de algum lugar em que ela se sinta segura? Confortável? – questionou Peter vendo o rapaz atordoado no banco de trás.

- e-em qualquer lugar. Ela nunca foi como a Cindy que... Ah! Meu Deus! Foi ela quem matou a Cindy! – exclamou Josh passando as mãos nos cabelos.

- faz sentido para você? Nancy ter matado Cindy parece fazer sentido? – questionou o louro, curioso.

- b-bom, a Cindy era uma pessoa horrível, e ela pegava muito no pé da Nancy no fundamental. Principalmente com os pés dela, depois que a Nancy sofreu um acidente de carro – explicou o rapaz e Peter meneou positivamente.

- o mundo está louco – murmurou Peter enquanto estacionava na delegacia.

 

 

 

Nancy estava irritada e desesperada. A sua expressão era ódio puro, mas o seu corpo era puro desespero. Ela havia sido descoberta e sabia disso. Ela soube no exato momento em que voltou para casa, no almoço. Ao ver todos aqueles agentes sentados a mesa de sua casa, ela soube que algo estava errado. A garota havia assassinado muitos que lhe machucaram no passado. Não poderia ser coincidência que, na manhã seguinte ao assassinato da vadia da Cindy, todos os agentes tivessem resolvido fazer uma visita ao seu pai.

Era muito óbvio.

Tão óbvio que chegava a ser ridículo.

No momento em que disse que iria subir para guardar as coisas, ela aproveitou para colocar roupas em sua mochila, colocar a sua faca que comprou na internet. A Miriam estava furiosa com aqueles agentes. Eles haviam estragado o seu plano de vingança, eles tinham arruinado tudo. Eles não entendiam que ela sabia o que estava fazendo. Ela sabia que era errado. Tinha noção de justiça e iria se entregar quando acabasse tudo. Mas os filhos da mãe tinham que descobrir tudo antes que ela terminasse o seu plano.

Ter mudado a sua assinatura com Cindy não serviu de nada no final das contas. Os desgraçados haviam lhe descoberto com apenas dois dias de investigação. Aqueles filhos da puta eram bons no que faziam. Por isso ela precisava mostrar que era melhor ainda do que o desgraçado que veio antes dela. A garota se embrenhou na cerca do galpão, antes de entrar pela entrada comum e a trancar com correntes e cadeado. Ela havia preparado aquele lugar para ser o grande final de sua vida criminosa. Tinha trancado todas as entradas com correntes e cadeados, limpado o local e preparado colchões para colocar os três principais alvos ali. Mas uma delas, a vadia da Cindy, havia lhe procurado antes do esperado, então ela teve que dar um improviso.

A adolescente se jogou sentada em um dos colchões e jogou a mochila ao seu lado. Ela havia jogado o seu celular fora para não ser rastreada e havia comprado um descartável no caminho. Iria usar ele para falar com Josh. Não poderia deixar que o único que havia lhe tratado bem fosse manipulado por aqueles demônios vestidos de terno. Assim que a garota ligou o celular, ela, discretamente, buscou por sua faca em sua mochila. Estava preparada para usar ela, seja lá como fosse. Estava pronta para o que viesse acontecer.

- não precisa ser discreta. Temos muito tempo, já que esse lugar inteiro está trancado – a voz jovial e um tanto aguda de um dos agentes lhe chamou a atenção.

- como sabia que eu estaria aqui? – questionou Nancy se erguendo e se virando para um grande container cilíndrico que havia ali, vendo, no topo do mesmo, pernas balançaram inocentemente.

- você pode enganar muita gente, Cinderela, mas não uma Alice – disse o castanho vendo a garota ligar a lanterna do celular e a direcionar para si.

- está muito tarde para brincadeiras... Alice – ditou a garota vendo o outro sorrir para si quando ela aceitou a troca de codinomes.

- eu digo o mesmo. Os seus sapatos já não brilham tanto. A meia noite está chegando – ditou o homem se jogando do container e caindo em pé, sem esforço algum. O local de onde ele pulou não era muito alto, mas, mesmo assim, faria uma pessoa comum se abaixar e protestar de dor nos tornozelos. Mas ele apenas se curvou, flexionando os joelhos, com as mãos nos bolsos.

- então, Alice, como soube que eu estaria aqui? – questionou a garota vendo o homem sorrir vitorioso.

- ora, um bom filho a casa torna – falou o castanho vendo a garota estreitar o olhar em sua direção.

- foi aqui que tudo começou, não foi? Foi aqui que você se tornou Cinderela – disse o Stilinski e a garota teve as pupilas dilatadas levemente antes de gargalhar alto.

- você fez o seu dever de casa – pronunciou a garota e Stiles sorriu largo.

- era com você que eu queria falar – as palavras do castanho chamaram a atenção da garota que tinha uma faca militar em mãos.

- você sabe a diferença entre nós? – questionou a Miriam, surpresa.

- você nasceu aqui. É o lugar perfeito para se esconder. Ninguém imaginaria que a vítima do sequestro iria fugir da polícia e se esconder onde foi torturada. Você é inteligente, eu tenho que admitir – respondeu o Stilinski enquanto olhava ao redor.

- é um lugar meio caído – comentou enquanto voltava a colocar as mãos nos bolsos.

- mas você não me parece ser muito inteligente. Veio me enfrentar desarmado – falou a garota manuseando a faca com habilidade.

- alguém andou treinando – comentou Stiles ainda sorrindo.

- eu aprendi vendo aquele idiota do meu sequestrador passar horas tentando impressionar uma outra vítima com isso – explicou Nancy jogando a faca para cima e a agarrando com a mão, novamente, com facilidade extrema.

- e aí? O que vai usar contra mim? – questionou a garota entrando em pose de luta com a faca na mão.

- cinquenta e duas cartas dão para o gasto – disse o castanho retirando um baralho do bolso e dividindo o mesmo em dois, segurando uma metade em cada mão.

- você está de brincadeira, certo? – indagou a Miriam rindo do homem a sua frente.

- você não sabe o quanto eu posso fazer apenas usando um ás de copas – afirmou Stiles, sorrindo ladino e embaralhando as duas metades usando apenas uma mão em cada.

- não, não sei. Mas você vai aprender o que eu posso fazer com isso aqui – brincou a adolescente se preparando para avançar, quando ouviu alguém tentar abrir a porta.

- você trouxe alguém. Você tinha que trazer alguém – reclamou a adolescente já se preparando para correr.

- STILES! ABRA ESSA COISA! – gritou Derek, do outro lado, tentando abrir um portão, mas o mesmo não se movia se quer três centímetros devido as correntes.

- FIQUE FORA DISSO, DEREK! ESSA BRIGA É DE GATO GRANDE! – gritou Stiles e Nancy sorriu com aquilo.

- que tal assim? Eu mato você primeiro e, depois, eu brinco com ele? – questionou a garota achando que iria surtir algum efeito no castanho, mas Stiles apenas sorriu para a provocação.

- é melhor calar a boca antes que eu lhe corte a cabeça – alertou Stiles vendo a garota se animar com a resposta.

- acertei o ponto fraco? – ironizou Nancy enquanto sorria acariciando a lâmina da própria arma.

- se quer mexer com pontos fracos, é melhor me matar, do contrário o Josh vai sofrer muito em minhas mãos – ditou Stiles e Nancy passou a sorrir um tanto forçado.

- eu não me importo com aquele babaca – ditou a garota, com certa raiva na voz.

- você, pode até ser que não. Mas a Nancy, sim – ditou o castanho e o sorriso da garota morreu por completo.

- tente dar o seu ultimo suspiro apenas após a décima segunda vez – ditou a garota voltando a apontar com a lâmina de sua faça para o homem a sua frente.

- eu não vou nem ouvir a primeira badalada – brincou o homem caminhando na direção da garota, calmamente, como se simplesmente desfilasse na calçada, enquanto fazia algo banal do dia a dia.

 

 

 


- Isso é ridículo! Eu já falei que a minha filha não é a assassina! – exclamou o delegado Miriam enquanto adentrava a própria sala com fúria, vendo dois dos agentes reunidos ali, sendo um deles o líder da operação.

- não vou discutir isso com você, Marshall. As provas já estão se encaixando e todas apontam para a sua filha. Não há como fugir da verdade. A sua filha é a nova Cinderela – ditou Peter, calmamente, vendo o homem avançar em si a passos pesados .

- a minha filha já sofreu demais com essa história. Você ainda ousar fazer ela reviver tudo isso?! Toda a dor que ela sentiu! Toa a vergonha pela qual a minha filha teve que passar! – inquiriu o Miriam, indignado.

- eu só queria que ela esquecesse isso tudo! – argumentou em meio a dua fúria, golpeando a própria mesa.

- foi por isso que causou o incêndio? – perguntou Allison chamando a atenção de Peter e surpreendendo Marshall.

- como é?! – questionaram ambos os homens. Peter com curiosidade e Marshall com indignação.

- foi você que causou o incêndio na delegacia. O incêndio que destruiu todos os arquivos do primeiro caso da Cinderela. O caso em que Nancy foi uma vítima – acusou a Argent com indiferença.

- isso é um absurdo! Foi um incêndio acidental! Como diabos eu iria causar um incêndio se eu nem estava mais na delegacia?! – inquiriu o Miriam irritado.

- sabe, eu pedi o vídeo de segurança da delegacia na época do incêndio para a nossa especialista em tecnologia. Ela me mandou os vídeos pelo celular. Devo dizer que a sua filha é tão inteligente quanto você para cometer crimes. – ditou Allison vendo o homem fechar o semblante para si.

- lave a sua boca para falar da minha família! – ralhou o delegado apontando com o dedo para a morena, que olhou na direção de Peter, que meneou positivamente indicando que ela continuasse.

- no dia do incêndio, você alegou ter ouvido ratos no local em que o curto circuito ocorreu. No vídeo, você verificou o local da origem do curto circuito com uma barra de chocolate em mãos. Eu sei o que você fez. Colocou um pedaço do chocolate na boca e o derreteu até ficar pastoso. Foi quando você cuspiu na mão e o colocou no fio que gerou o curto circuito. O rato, induzido pelo doce, fez exatamente como você queria. Comeu o chocolate até começar a roer o fio. Foi quando o curto circuito aconteceu. As lâmpadas das salas dos arquivos eram antigas, assim como a fiação do cômodo – a medida em que a Argent ia falando o rosto do Miriam ia empalidecendo.

- funcionou tudo como você planejou. Os arquivos sumiram. A mídia não sabia sobre a Nancy. Então a sua ficaria em paz. Mas a única coisa que você não calculou fora o bullying que a sua filha iria sofrer, bem como isso afetaria a mente dela durante o estresse pós traumático. A raiva e a dor foram se acumulando, até que um desejo intenso de vingança surgisse.

O delgado abriu e fechou a boca varias vezes, tentando formular algo. O seu corpo tremia e a deglutição estava se tornando difícil com o choro subindo por sua garganta. Ele não queria aceitar. De forma alguma ele queria acreditar que aquela mulher estava certa. Mas a sua mente não lhe permitia negar ao se lembrar de todas as vezes em que ouvira a sua filha chorando sozinha no quarto.

- já que não negou. Creio que a agente Argent esteja certa sobre o incêndio e você esteja admitindo a sua culpa no assunto – disse Peter se aproximando do homem a passos calmos.

- eu sei que é difícil, como um pai, aceitar que a sua filha seja a culpada de uma barbárie com essa. Acredite, eu sei. Eu sou pai. Tenho dois filhos. Um está na solitária de segurança máxima do FBI. Mas se estivermos certos, e eu sei que estamos, poderemos impedir que Nancy se machuque mais, além de impedir que ela machuque ainda mais famílias. Aquelas famílias – ditou o Tate, surpreendendo Allison e Marshall, apontando com a mão para a janela da sala, mais especificamente para as famílias dos adolescentes que se encontravam alojados em uma das salas.

- a minha filha não é um monstro – o delegado socou a sua mesa mais uma vez, tentando segurar o choro, mas falhando miseravelmente.

- eu sei que não. A Nancy é só mais uma vítima que acabou cedendo para a dor que sentia. Agora, você vai ter que nos deixar seguir com a investigação. Se você realmente ama a sua filha, nos deixe parar ela antes que seja tarde demais para a Nancy – ditou o louro enquanto seguia para a porta da sala, deixando o Miriam desolado para trás.

Assim que adentrou a sala, Peter se deparou com uma Erica furiosa tentando conter a si mesma para não agredir aqueles adolescentes. A Reyes agradeceu aos céus quando notou a presença de seu superior na sala. Os adolescentes perceberam o olhar da mulher para o homem de topete e logo desferiram suas perguntas contra o mesmo.

- por que estamos aqui? – questionou um dos adolescentes vendo os dois agentes de cabelos louros em pé diante deles.

- todos vocês estudaram na mesma turma há alguns anos atrás. Vocês estavam na faixa dos onze anos – começou Peter e fora logo cortado por mais perguntas.

- e daí? – questionou uma garota olhando irritada para os adultos.

- alguns de vocês cometeram Bullying com uma garota nessa época. Ela tinha os pés deformados e era muito calada – disse a mulher e um garoto se recordou imediatamente da garota.

- Frankestein? Nancy Franky? Eram só brincadeiras! Não podem nos prender por isso! – exclamou o rapaz e logo ele teve que desviar de uma pasta voadora, o que gerou vários protestos por parte dos adolescentes.

- Erica! – exclamou Peter reclamando de toda a gritaria que a loura gerou.

- CALEM AS BOCAS SUJAS, SEUS LIXOS! – gritou a loura assustando a todos.

- por que raios fazer aquilo com uma garota?! – perguntou a loura, irritada.

- porque era engraçado – respondeu uma garota e ela teve que desviar de outra pasta.

- você achou engraçado? Você achou engraçado? – indagou a loura, indignada.

- nunca foi engraçado, Jessy – ditou Josh chamando a atenção do grupo.

- já que vocês acharam engraçado, que tal eles? – questionou Erica, girando o quadro atrás dela, mostrando todas as vítimas da Cinderela, atualmente.

- o que isso tem a ver com a gente? – questionou o garoto que teve que desviar da pasta lançada por Erica.

- o que vocês fizeram já é errado por si só, mas, vocês ao menos sabiam o motivo de ela estar daquele jeito? – indagou Peter vendo todos darem de ombros, inclusive o próprio Josh.

- Nancy Miriam, ou Nancy Franky, para vocês, foi sequestrada por um serial killer e foi torturada – ditou Erica vendo os adolescentes ficaram com expressões sérias.

- então... Os pés dela... – a garota tentou formular a pergunta, mas nem precisou terminar.

- o sequestrador de Nancy tinha uma paixão por uma certa mulher e ele sequestrava mulheres para poder recriar ela. Nancy foi uma dessas vítimas. Ele deformou o pé dela para poder ficar parecido com o de sua amada. Por isso que ela tinha aquelas cicatrizes – ditou Peter vendo alguns tomarem olhares arrependidos enquanto outros permaneciam sem se importar.

- novamente, o que isso tem a ver comigo? – questionou o rapaz, cruzando os braços.

- acontece que essa garota, agora, está caçando vocês – ditou Erica vendo todos tomarem olhares assustados.

- então...

- sim. Ela matou esses adolescentes, se lembrando sempre de deformar os seus pés, caso eles não tivessem o tamanho certo – ditou Erica vendo, agora, a grande maioria se encontrar nervosa.

- e quando vão prender ela? – questionou um garoto, receoso, vendo a loura bater as mãos em uma palma, irritada.

- ah, a madame acha que é assim tão fácil? Isso é difícil pirralho! Não é só fazer “Hm, alguém quer que a gente prenda ela, então pronto, está presa.”. Isso leva tempo, filhinho mimado do caralho. E vocês têm sorte. Porque se a lei permitisse assassinato por vingança, eu fazia questão de levar cada um de vocês para ela – disse a Reyes, surpreendendo não só os adolescentes como o próprio Peter, antes de sair da sala, irritada.

- o que perguntaram para eles? Quanto tempo pretendem manter o meu filho preso? – questionou uma mãe, visivelmente irritada.

- por mim o seu filho morria. Aquele inútil não sabe se quer tratar uma garota com respeito. Merece ser caçado pela assassina – respondeu a loura dando as costas para a mulher, que lhe fitou indignada.

- isso é jeito de falar comigo? – questionou vendo a loura apenas erguer o dedo do meio para si, enquanto seguia para perto de Allison, Boyd e Scott.

- EU VOU LHE PROCESSAR! – ameaçou a mulher e Erica se virou, irritada.

- ME PROCESSA, FOFA! ME PROCESSA QUE EU ENFIO ESSE PROCESSO NO TEU CU! ENFIO ELE E A PORRA DO TEU FILHO INÚTIL! - gritou a mulher de cabelos cacheados antes de bater a porta da sala, irritada.

- Erica, se controle! – ralhou Allison.

- não dá! – bradou a Reyes enquanto caminhava de um lado para o outro, antes de o celular de Scott tocar.

- é a Lydia – disse o moreno já atendendo a vídeo chamada.

- o que... – ele fora prontamente cortado

- reúnam-se e conectem o notebook na televisão novamente. Vocês precisam ver isso – disse a ruiva, com Isaac sentado ao seu lado, com os olhos vidrados na tela.

- olha! Olha! Olha! Ah, caramba! – exclamava Isaac, enquanto cutucava o ombro da ruiva com o indicador, a chamando para prestar atenção em outra tela.

- o que estão...

- VAI LOGO, SCOTT! – gritou Isaac, fazendo Lydia rir enquanto cobria uma orelha com a mão.

- já chamei – disse Allison, já entrando na sala com o louro.

- qual é a emergência? – questionou Peter e logo a imagem de Stiles conversando com Nancy surgiu na tela.

- mas como? – questionou Scott, surpreso.

- Stiles sabia para onde ela iria esse tempo todo – disse Lydia na vídeo chamada vendo Scott tomar uma expressão séria.

- e não nos disse?! O que ele está aprontando? – indagou o McCall, irritado.

- ele não queria prender ela com armas de fogo e uma equipe – falou Peter se sentando na cadeira do delegado, passando as mãos no rosto.

- como é? – questionou Erica, confusa.

- ele quer vencer ela no mano a mano. Serial killer contra seria killer. Cinderela versus Alice. E ele não queria ninguém atrapalhando – respondeu Peter vendo o momento em que Nancy avançava correndo contra Stiles, que desviou da garota sem problema algum.

- MAS QUE PORRA É ESSA?! – questionou o delegado furioso.

- a prova de que sua filha é a culpada – respondeu Peter e o homem se focou na televisão, vendo a própria filha tentar esfaquear um investigador.

- não! Minha filha...

- larga de ser cego! Ela está tentando matar um dos nossos só porque ele descobriu o esconderijo dela! – exclamou Erica, irritada. 

- agora cale a boca que eu quero assistir – ralhou a mulher se sentando ao lado de Peter.

 

 

 


Nancy correu na direção do homem, mais uma vez, vendo o mesmo desviar a sua lâmina, mais uma vez, ao golpear o seu punho com as costas da mão. Ela já estava ficando furiosa. Passou anos treinando a sua habilidade com aquela faca para, agora, vir aquele homem e os transformar em nada?! Era demasiadamente humilhante e revoltante.

Aquele castanho de brincos quebrava todas as suas investidas com extrema facilidade. Mas o que mais a irritava vinha sempre que ele quebrava o seu ataque, pois, mesmo tendo a chance, ele nunca atacava. Ela não havia levado um soco, um tapa, um empurrão, se quer. Era sempre aquele homem quem se movia, mas nunca lhe acertava. Ele estava dominando aquele duelo mas sem atacar uma vez se quer. Aquilo estava consumindo os nervos da garota, que agora rosnava com ódio a cada ataque.

Pela esquerda, pela direita, por cima, por baixo, pelo meio, em diagonal, horizontal, vertical e até mesmo em giros. Nancy tentava de tudo, mas aquele homem simplesmente era inalcançável para a sua lâmina. Sempre que ela jurava que tinha o pego, ele a surpreendia desfazendo toda a sua estratégia complexa com um movimento simples. Aquilo a irritava tanto. Ele se quer usava o baralho que havia escolhido como arma. O desgraçado apenas usava as costas das mãos para fazer tudo.

Em um momento de descuido, a garota atacou com a faca, mas Alice se abaixou, girando sobre o próprio eixo, com o torso inclinado para a frente e erguendo o pé esquerdo. O calcanhar acertou a mão da adolescente, jogando a arma da mesma longe. A adolescente tratou de correr até a arma, enquanto o homem a ignorava enquanto a mesma estava desarmada.

- você é boa, tenho que admitir – falou Stiles no instante exato em que a Miriam pegava a arma do chão.

- você vai se arrepender – ameaçou a garota enquanto se aproximava, manuseando a arma branca com facilidade.

- porque não puxa a outra que está em sua cintura? Com duas você deve ter mais chances – sugeriu Alice enquanto dava uma voltinha.

Assim que ele se colocou de frente, Cinderela lançou a faca que tinha em mãos, enquanto, com a outra mão, já recolhia a segunda faca que tinha escondida na cintura. Ela estava esperando um momento melhor para usar. Nancy esperava que, em um momento em que fosse atacar, o castanho abaixasse a guarda, por se encontrar no ataque, e assim ela pudesse fincar a segunda lâmina em sua garganta. Mas, pelo visto, o castanho era melhor do que ela poderia imaginar.

Entretanto, Nancy possuía uma mira perfeita.

Resultado de anos de treinamento, assim como a sua habilidade na luta com facas. Mas, novamente, aquele homem se mostrou superior a ela. Stiles abriu as cartas em suas mãos, as segurando de forma que, juntas, parecessem um leque. Com um deles, o castanho golpeou a faca de baixo para cima, fazendo a arma girar no ar, enquanto subia. Aproveitando a altitude da arma, o Stilinski saltou, girando o corpo do ar e chutando a ponta do cabo da faca, a jogando contra a dona, que se viu em choque quando a faca passou ao lado do seu rosto. A ponta da guarda da faca tocou o lóbulo da orelha da garota, indicando o perigo que correr realizando aquele ataque.

Mas aquele toque em sua orelha não era o único motivo do estado de choque da adolescente. Ela tinha um plano ao lançar a faca. Já imaginando que o seu disparo seria bloqueado, ela aproveitou o salto do castanho para jogar a segunda faca nele. No entanto, o homem também havia previsto isso  e, agora, a faca estava presa, atravessada nas cartas que ele tinha na mão esquerda. Mas apenas aquele leque não conseguiu parar a lâmina a tempo de a mesma criar um leve arranhão em seu rosto. A garota não sorriu com a sua conquista.

Stiles desviou o olhar para o lado de seu rosto que fora tocado pela lâmina, passando as costas da mão no arranhão, limpando o risco cinzento de sua pele. Ai olhar para o próprio rosto através do reflexo da lâmina lançada contra si, o rapaz franziu o cenho. Quando a cor vermelha que tomou a sua pele surgiu em seu campo de visão, o castanho suspirou, cansado. Ele adorava o seu rosto e odiaria que alguma cicatriz surgisse no mesmo. O seu rosto jovial e com poucos pelos era uma boa arma quando ele precisava. Principalmente para disfarce e sedução de homens sem escrúpulos ou mulheres desesperadas.

- você já deve ter notado – ditou o castanho vendo a garota cerrar os punhos, irritada.

- como você...

- eu sou melhor nisso do que você. Você está nesse ramo há alguns dias, eu estou há doze – ditou o homem e a garota lhe fitou furiosa.

Nancy se virou para poder pegar a faca lançada em si e então avançou contra Stiles, gritando de puro ódio, enquanto chorava por se sentir diminuída novamente na frente de alguém. Ela sentia a mesma vontade de chorar quando aqueles adolescentes estúpidos lhe zoavam por causa dos seus pés.

Em questão de segundos, o seu coração, que antes queimava de ódio, congelou de medo. Em um movimento simples, o homem lhe desarmou e lhe abraçou por trás, apontando com o leque de cartas para o seu pescoço. Ela se sentia imóvel. Não conseguia mexer o corpo, que estava paralisado de medo. A garota se sentia como um filhote que era abraçado por uma cobra.  O modo como os braços do homem deslizaram pelo seu corpo para deter um de seus braços fora fácil como se sua pele fossem escamas escorregadia. A sensação que aquele cara lhe passava não era mais a de um homem atrevido que lhe desafiava. Agora a sensação que Nancy tinha era a de estar desarmada com o rosto há centímetros de uma mamba-negra.

Cinderela não conseguia pensar no que fazer. Ela havia treinado por anos para ser uma boa assassina. Uma assassina adolescente que nem mesmo um time de futebol pudesse detê-la. No entanto, aquele homem parecia ser o assassino perfeito. Pois o material simples que ele usava como arma pressionava a pele do seu pescoço como se fosse a lâmina de uma faca, o que a deixava demasiadamente surpresa. Como raios cartas poderiam ser tão afiadas como facas?

- esse jogo já me cansou. Você tem duas opções: ou você se entrega e alega insanidade, já que Nancy acabou criando você aqui. O transtorno de dupla personalidade já é o suficiente para livrar ela da cadeia e lhe colocar na ala psiquiátrica; ou você luta, eu lhe mato, alego autodefesa e ganho mais uma morte no meu placar – ditou o castanho enquanto deslizava um pouco as cartas pela pele da adolescente, fazendo a mesma sentir quando as mesmas começavam a rasgar a sua pele levemente.

- e se eu lhe matar? – questionou a adolescente e o homem riu em seu ouvido.

- você sabe que não consegue – ditou Stiles e, em um súbito ataque de adrenalina, a Miriam retirou mais uma faca, desta vez de sua bota, e tentou golpear o homem. Mas, para a sua surpresa, novamente, o homem se moveu envolta do seu corpo como uma serpente e conseguiu lhe imobilizar o braço, o algemando ao seu outro braço.

- e aí? Se entrega? – questionou Stiles sorrindo ao ouvir a garota suspirar, irritada.

- eu te odeio – rosnou a garota ouvindo o outro rir baixinho em seu ouvido.

- você pode me odiar estando morte, ou me odiar dentro da ala psiquiátrica. Qual você escolhe? É melhor escolher rápido. Já está quase na hora do chá – ditou o castanho criando mais um leve corte no pescoço da garota ao deslizar o seu baralho pela pele da adolescente.

- está bem. Vamos tentar esse negócio da ala psiquiátrica – ditou a garota e, no mesmo instante, Derek derrubou a porta na base do chute, fazendo a mesma ficar pendurada pela corrente que o impedia de a abrir normalmente.

O Hale adentrou o local com a arma na mão, a apontando em todas as direções, verificando a segurança do perímetro. Stiles o olhou com tédio, assim como a garota, que erguia a sobrancelha para o agente. Os dois assassinos se entreolharam, antes de voltarem a encarar o agente de cabelos pretos.

- isso é sério? – questionou a Miriam vendo o moreno de olhos verdes os fitar.

- estamos brigando há algum tempo. Se houvesse alguém aqui, já teria ido embora, Derek – ditou Stiles vendo o agente se aproximar enquanto guardava a arma.

- os outros já estão vindo. Onde conseguiu as algemas? – questionou Derek, guardando as próprias quando notou que a adolescente já estava algemada.

- roubei do pai dela quando ele tentou me bater – respondeu o castanho ao mesmo tempo em que guiava a adolescente algemada para o lado de fora.

- outra vez que você fugir desse jeito... – Derek fora interrompido em seu sermão quando o castanho lhe ignorou para conversar com a adolescente.

- não ouse trocar de lugar até lhe interrogarmos – ditou o castanho, deixando o moreno de olhos verdes confuso.

- do que está falando? – questionou Derek enquanto os três rumavam para o lado de fora do galpão, já ouvindo as sirenes se aproximando.

- nada demais – respondeu o Stilinski sentando a prisioneira em um bloco de cimento enquanto as viaturas os cercavam.

 

 

 

 


- o que vai acontecer com a nossa filha? – questionou a senhora Miriam enquanto abraçava o pequeno Isaac e via a filha ser levada para a cela da base da divisão.

- a sua filha será presa em uma cela só para ela até que o julgamento ocorra – ditou Peter e o delegado socou uma mesa com força.

- isso é impossível! Vocês estão errados! – exclamou o homem, revoltado.

- a sua filha já confessou tudo – ditou Scott enquanto via o homem ser tomado por frustração e raiva.

- o que diabos ela tinha na cabeça? – questionou o homem, indignado.

- onde foi que nós erramos? – questionou a mulher, já chorando.

- a sua filha sofre de um problema grave – disse Stiles enquanto via o casal lhe fitar apreensivo.

- sofre? – questionou Lydia, surpresa.

- ela sofre de transtorno de desvio de identidade. Quando ela foi torturada por Polansk, uma nova identidade começou a surgir nela. Uma identidade que identificava as ameaças para ela. Essa identidade nasceu definitivamente quando ela matou o seu sequestrador. Essa nova identidade passou anos dentro dela, apenas aperfeiçoando Nancy para matar a todos que a ameaçassem, que no caso, foram os colegas de classe dela que a humilharam em toda a escola. Por isso que, até mesmo um rapaz mais velho fora morto por ela. No passado, ele a humilhou, também, junto do irmão caçula. Por isso ambos foram mortos na mesma noite – explicou Stiles enquanto via os pais da garota começarem a chorar.

- e ela vai ser presa assim? – questionou a Miriam, desesperada.

- se conseguirem provar o transtorno dela, Nancy será transferida para uma ala especial onde terá a sua própria cela e receberá tratamento psiquiátrico – respondeu Scott vendo a mulher menear positivamente enquanto abraçava o filho mais novo mais apertado ainda.

- eu preciso de um ar. Alguém pode descer comigo, por favor? – pediu Stiles, chamando a atenção de Derek, já que, normalmente, ele simplesmente começaria a descer.

- eu posso ir – disse Allison já se preparando para se levantar.

No entanto, Derek se lembrou que o castanho esteve perto de armas em seu confronto com Nancy Miriam e cogitou na possibilidade de o Stilinski ter pego alguma das lâminas da assassina que haviam capturado, ter guardado a mesma para si, apenas esperando o momento certo de usar em alguém da equipe.

- não. Pode deixar que eu vou – ditou o Hale e Vernon e Isaac rolaram os olhos, enquanto Erica suspirava, irritada.

- começou – falou a loura cruzando os braços e ignorando, completamente a imagem de Derek lhe lançando um olhar furioso.

- tanto faz – ditou Alice enquanto seguia para o elevador.

Derek não tardou em alcançar o assassino da divisão, tratando de se colocar ao lado do mesmo, do outro lado do elevador, enquanto via o Stilinski apertar o botão do térreo, antes de apertar o botão para fechar as portas. Assim que as portas do elevador se fecharam e o mesmo começou a descer, o moreno de olhos verdes se virou para o outro.

- a faca – pediu o Hale, estendendo a mão para o castanho, que lhe fitou confuso.

- como? – questionou Stiles, olhando o outro rolar os olhos para si.

- eu sei que tem uma faca. Eu vi o pescoço dela. Você tinha uma faca quando lutou com ela – afirmou o moreno vendo o outro olhar para si com um olhar julgador.

- eu não preciso de armas, Derek – fora tudo o que o castanho disse antes de abrir os braços e as pernas.

 Derek pensou duas vezes antes de revistar o homem. Stiles era ardiloso e sabia mexer com a cabeça das pessoas. Era como se ele soubesse o que as pessoas precisavam ouvir e ver para fazerem o que ele queria que elas fizessem. Mas então ele se lembrou de que ele era um agente treinado e ambos estavam em um elevador. Stiles não poderia fazer muita coisa ali dentro.

- tente não abusar da sorte – brincou Stiles quando o Hale passou a lhe apalpar suas pernas e as nádegas, na sua revista atrás da tal faca, ouvindo o mesmo soltar um grunhido de raiva, quase um rosnado.

- você a deixou no galpão – afirmou Derek enquanto se afastava do outro, que dava de ombros e voltava a ficar de pé.

O elevador se abriu e  então agente e assassino começaram a caminhar para fora do mesmo.

- o que veio fazer aqui embaixo? Vai tirar um cigarro de dentro da orelha e fumar? – ironizou o Hale enquanto se aproximavam da saída da base, parando na porta do prédio.

- isso seria clichê demais – ditou o castanho ao mesmo tempo em que retirava o baralho de sua manga.

- onde mantém essa coisa guardada? – indagou o Hale e o Stilinski sorriu ladino.

- um mágico não revela os seus segredos, Derek. – foi tudo o que o castanho disse antes de o silêncio surgir, novamente.

- vocês são tão estranhos – disse o castanho enquanto olhava para as pessoas que passavam diante de si como loucas, correndo, provavelmente para casa ou para algum compromisso noturno.

- vocês quem? – questionou Derek, confuso

- pessoas. Perdem o tempo de vocês tentando ganhar dinheiro, cegamente, como se fossem viver para sempre – explicou o castanho enquanto viam uma mulher de casaco se aproximar, de cabeça baixa pelo capuz.

- vai me dizer que é religioso? – questionou Derek, irônico.

- Deus não existe. É apenas uma fábula criada para controlar outras pessoas. – respondei Stiles com seriedade enquanto abaixava a cabeça.

A mulher encapuzada tropeçou e caiu bem diante dos dois homens. Derek tratou de ajudar a mulher a se levantar, se surpreendendo quando viu quem era.

- Laura? – questionou Derek, surpreso.

- Derek? – indagou a mulher, animada.

- o-o que faz aqui? – perguntou o moreno e logo a irmã mais velha olhou para Stiles.

- eu estava indo para casa. Então é aqui que você trabalha, agora? – respondeu a mulher enquanto se erguia.

- s-sim – Derek estava nervoso. Se a sua irmã descobrisse sobre Stiles, ela iria surtar.

- você é colega de trabalho do Derek? – questionou a morena mais velha vendo o castanho, parado, lhe fitando com um olhar de surpresa.

- ah... S-sim – respondeu Stiles, nervoso.

- já está na hora de ir, Laura – ditou Derek nervoso com a aproximação da irmã com o assassino do seu pai.

- calma, cara. Deixa eu pelo menos me apresentar para... – Laura travou quando olhou para Stiles mais uma vez.

Derek achava que ela havia reconhecido o rosto do castanho, já que ela era maior do que ele na época do julgamento do responsável pela morte do seu pai. Mal sabia ele que Laura não fazia ideia de quem Stiles era, pelo rosto, mas os olhos dela estavam vidrados nos brincos de naipes de baralho que ornamentavam os lóbulos do homem de cabelos castanhos.

- você... 

Chapter 27: Agreement

Chapter Text

- então é aqui que você trabalha, agora? – indagou a mulher enquanto se erguia.

- s-sim – Derek estava nervoso. 

Se a sua irmã descobrisse sobre Stiles, ela iria surtar.

A existência de Alice naquela divisão era um segredo federal. Se Laura acaba por liberar essa informação, o FBI teria a imagem manchada e todos os agentes seriam a comédia da instituição pelo resto de suas vidas. Era de fundamental importância que Laura Hale não reconhecesse Stiles. Alice não deveria existir para o mundo. Ele deveria continuar como o fantasma que era.

- você é colega de trabalho do Derek? – questionou a morena mais velha vendo o castanho, parado, lhe fitando com um olhar de surpresa.

- ah... S-sim – respondeu Stiles, um tanto desastrado.

- já está na hora de ir, Laura – ditou Derek nervoso com a aproximação da irmã com o assassino do seu pai.

- calma, cara. Deixa eu pelo menos me apresentar para... – dizia Laura enquanto se erguia.

A mulher se virou para o colega de trabalho do seu irmão, a fim de se apresentar para o mesmo. Mas, assim que o homem castanho de belos olhos claros entrou em seu campo de visão, ela teve a sua atenção chamada para o par de brincos que o homem exibia em suas orelhas. Pareceu coisa de filme. No exato momento em que Laura deixou o seu olhar cair sobre Stiles, os brincos do homem refletiram a luz, atraindo o olhar da mulher para os pingentes coloridos. Estranhamente, eles lhe traziam uma sensação de déjà vu. A mulher sentia uma sensação nostálgica tomar o seu peito.

Laura Hale travou quando passou a pensar onde ela já havia visto aqueles brincos.

Derek achava que ela havia reconhecido o rosto do castanho, já que ela era maior do que ele na época do julgamento da morte do seu pai. Mal sabia ele que Laura não fazia ideia de quem Stiles era pelo rosto. Laura reconheceria, sim, Stiles, de fato, caso ele ainda tivesse a mesma aparência. No entanto, Alice não era mais um garoto com uma aparência feminina. Stiles não tinha mais os cabelos longos que batiam na cintura, muito menos tinha o rosto inocente e jovial de uma criança. No entanto os olhos da Hale estavam vidrados nos brincos de naipes de baralho que ornamentavam os lóbulos do homem de cabelos castanhos, e não no belo assassino de cabelos curtos.

- você... Alice? – questionou a mulher ao reconhecer os brincos e os associar as suas memórias.

- está louca, Laura? É claro que ele não é o Alice! – exclamou Derek enquanto empurrava o castanho para longe de sua irmã.

- não! É ele, sim! Eu sei que é! Eu sei! Eu reconheceria esses brincos em qualquer lugar! – exclamou Laura ao mesmo tempo em que tentava se aproximar do castanho.

- Laura! Alice é um prisioneiro de segurança máxima. Um prisioneiro da solitária desde os onze anos. Não tem como ele estar aqui! Ele está em Alcatraz! – exclamou o Hale mais novo vendo a irmã tentar lhe empurrar para trás.

- ME RESPONDE SE VOCÊ TEM A CORAGEM DE OLHAR EM MINHA CARA! – exclamou Laura enquanto tentava passar pelo irmão, vendo o castanho, de costas para si, se dirigir para o elevador.

Stiles parou de andar, para a surpresa de Laura e para o pavor de Derek. O homem de cabelos castanhos e brincos das cores vermelha e preta se virou para os irmãos, sorrindo largo, como se tivesse ganho na loteria. Aquele sorriso fez um frio percorrer as espinhas dos dois morenos. Laura reconheceu o sorriso. Mesmo estando há metros de distância do garoto que matara o seu pai, durante o julgamento, a mulher, na época uma garota, pôde ver claramente o sorriso do culpado. Um sorriso largo, de dentes incrivelmente brancos. Aquele mesmo sorriso que ela, agora, via ser direcionado para si por sobre os ombros do homem de cabelos castanhos.

- foi bom te ver, “Puppy”. Você está uma mulher linda - disse o castanho antes de dar as costas para a dupla de irmãos e apertar o botão que fechava as portas do elevador.

- DESGRAÇADO! – gritou Laura enquanto socava o irmão, tentando passar pelo mesmo.

- Laura! Laura! Se controla! – o Hale tentava acalmar a irmã, que agora chorava de raiva.

- ELE ESTÁ SOLTO! ELE ESTÁ SOLTO, DEREK! SOLTO! E VOCÊ SABIA! – gritou a mulher, agora direcionando a sua raiva para o irmão, passando a socar o mesmo com mais raiva.

- Laura, se acalme e venha comigo – falou o moreno de olhos verdes vendo a irmã parar de lhe agredir, mas permanecer a chorar.

- você... Tem muito... O que me explicar, Derek – a raiva da mais velha era visível para o mais novo. Laura mal conseguia controlar a sua voz. A mulher parecia nem mesmo ter controle sobre a sua respiração.

- você vai subir comigo e eu vou lhe explicar tudo – ditou Derek olhando ao redor e constatando o óbvio: eles eram encarados por todas as pessoas ao redor.

Ainda enfurecida, Laura seguiu o irmão para o andar de cima. Assim que as portas do elevador se abriram, ela foi surpreendida pela imagem de Peter, sentado em uma cadeira, jogando baralho com dois louros de cabelos cacheados, uma morena e, surpreendentemente, Alice. Em um canto, o parceiro do seu irmão, Scott, estava conversando com uma ruiva, ao mesmo tempo em que a mesma parecia escrever algo no computador.

- VOCÊ! – gritou a mulher antes de jogar um porta lápis de uma mesa vazia na direção de Stiles, que havia pego uma carta no baralho e a juntado em sua mão, antes de se jogar para trás, colocando a cadeira sobre duas pernas e usando as suas para se segurar na mesa, por baixo da mesma, fazendo o porta lápis passar diante do seu rosto de expressão entediada e atingir a parede.

- Laura?! – perguntou Peter surpreso com a presença da sobrinha, ali.

- TIO PETER! O QUE FAZ JOGANDO CARTAS COM ESSE MONSTRO?! – a mulher já se preparava para jogar mais alguma coisa em Alice, quando o mesmo ergueu as mãos, analisando as cartas que tinha e jogava uma delas sobre uma pilha de cartas.

- ah, pronto. Mais uma – ditou Erica e, no mesmo instante, todos os detentos voltaram a dar atenção ao jogo, assim como Allison. 

- sinceramente, eu não sei o que se passa na cabeça deles – ditou Isaac puxando uma carta e jogando outra sobre a pilha no centro da mesa.

- talvez seja porque nossos pais foram uns merdas – comentou Vernon pegando a carta jogada por Isaac e jogando outra no lugar.

Enquanto isso, Scott e Lydia tratavam de descer os Miriam, com exceção de Nancy, que se encontrava algemada na cela da base da divisão. Os dois já imaginavam que a presença da irmã de Derek, ali, iria gerar debates sobre a divisão e os seus membros, o que não poderia ser discutido com o casal ali presente.

- BATI! – exclamou o castanho e logo ele jogou as cartas sobre a mesa, mas logo Boyd cobriu as suas cartas.

- é meu – disse o homem, vendo o castanho gemer em protesto. De fato, ele havia ganho o jogo quando Vernon descartou a sua carta, mas o homem já havia completado o objetivo do jogo antes do que Stiles.

- Laura, tente se acalmar – falou Peter tentando fazer com que a sobrinha se acalmasse para que pudesse pensar com clareza.

- mas o que diabos está acontecendo aqui? – questionou a mulher, indignada.

- é melhor você se sentar – falou Derek puxando uma cadeira para a irmã.

- vamos de novo – disse Isaac enquanto Stiles embaralhava as cartas para que eles pudessem iniciar mais uma partida.

Enquanto Peter e Derek explicavam toda a situação para a morena, a mesma apenas encarava os detentos. A mulher ficou extremamente surpresa que o FBI estava tão desesperado que chegou a soltar o assassino de seu pai da segurança máxima, apenas para tentar equilibrar a situação no país usando de sua mente brilhante e experiência incomum.

- mas... Isso é impossível. Não saiu nada nos noticiários sobre essa crise no sistema carcerário – argumentou a mulher que, por sinal, era âncora em um canal de televisão.

- pois é. O país está fodido nesse sentido – disse Isaac enquanto jogava uma carta sobre a mesa, dando início a uma pilha de cartas.

- sabe há quanto tempo estamos nisso? – indagou Vernon pegando a carta jogada por Isaac e a substituindo por uma sua, vendo Stiles a pegar rapidamente e a substituir.

- depois desse trabalho, eu fico me imaginando no Brasil – riu Erica pegando uma carta do topo do baralho.

- mas ainda assim, isso não justifica a liberdade dele – argumentou Laura apontando acusatoriamente para Stiles, que a fitou com tédio.

- fazer o quê, não é? A sociedade é cheia de injustiças – rebateu Stiles, ironicamente, chamando a atenção de todos os agentes.

- Stiles! – repreendeu Derek vendo o outro lhe ignorar.

- Puppy, somos a última esperança desse país e você ainda quer falar de justiça?! A justiça está na merda. E é o lixo da sociedade de vocês que está em condicional para tirar ela da merda. – falou o castanho pegando uma carta no baralho, sorrindo largo ao ver o ás de copas em sua mão. Laura e Derek engoliram em seco mais uma vez. Aquele maldito sorriso beanco, acompanhado do olhar de deleite do homem os perturbava desde a infância. Tomava os seus sonhos, os tornando em pesadelos. Ver aquele maldito sorriso presencialmente mexia demais com o psicológico dos dois irmãos.

- você deveria ir para a cadeira elétrica! – exclamou Laura, irritada pelo modo debochado que o outro agia.

- Stiles, por favor, pare – pediu Peter vendo o castanho dar de ombros.

- desculpe por não chorar de arrependimento diante de suas palavras. Estou desidratado – ditou Alice jogando o dez de paus sobre a mesa.

Stiles levou a mão vazia para o pescoço, passando a brincar com um de seus brincos. Aquilo irritou mais ainda a Hale que o encarava com fúria. Ela se lembrava perfeitamente daqueles brincos que agora eram velhos e arranhados, mas que no passado tinha um brilho bonito que lhe chamou a atenção, mantendo os seus olhos adolescentes fixos nos mesmos.

Ela não tinha muitas lembranças daqueles brincos, só havia visto eles duas vezes em toda a sua vida. A primeira vez fora em sua casa. O seu pai estava conversando com a sua mãe, no quarto deles. Laura os espionava pela porta, quando o homem os mostrou para a mulher. Os olhos de Laura brilharam com o par de brincos entre os dedos do pai. Laura não lembrava muito o assunto da conversa, muito menos a reação de Talia. Ela apenas se lembrava de ter esperado os pais saírem para poder ir olhar os brincos mais de perto.

A segunda vez que esteve na presença daquele par de brincos fora no julgamento de Alice. Ela estava descrente e furiosa naquele dia, então não se apegou muito aos detalhes a sua volta. Ela apenas se lembrava de segurar firme na mão da mãe e olhar fixamente para aquele garoto, mais novo do que o seu irmão do meio. Aquele rosto jovial que olhava entediado para a frente, estando algemado, antes de um brilho de deleite tomar o tédio, sendo acompanhado por um sorriso largo. A garota olhava mais especificamente para o par de brincos, cujos pingentes ficavam na altura do sorriso do garoto. Brincos idênticos aos que tinha visto o pai presentear a sua mãe.

O luto era difícil.

Mesmo anos após a perda, Laura poderia sentir claramente os sentimentos negativos que ela lhe trazia.

No entanto, mais difícil ainda era acreditar que uma criança de onze anos havia matado o seu pai. Uma criança matar um agente treinado era algo extremamente difícil de se crer. Um homem forte e habilidoso perder para um garoto que possuía um corpo tão pouco desenvolvido. Era completamente surreal. Ela ainda achava que era tudo um pesadelo, naquele dia. Mas aquele maldito pesadelo parecia durar uma eternidade.

- vocês tem que colocar ele de volta na cadeia! – ordenou a morena, visivelmente alterada.

- nós sempre fazemos isso, Laura. É parte do acordo. Sempre que acabamos um caso, eles voltam para a cadeia – argumentou Derek tentando acalmar a irmã.

- não! Eu quero ele de volta na segurança máxima – ordenou Laura apontando para o castanho.

- meu anjo, baixa a bola que você é apenas a irmã de um pau mandado do FBI. Você não é a mulher do presidente nem nada do tipo – falou Erica olhando para Laura, que a fitou com mais raiva ainda.

- não me interessa. Esse monstro matou o meu pai e eu mereço exigir isso – ditou a morena, apontando com o indicador para o solo, revoltada.

- beleza, você já exigiu. Agora já pode ir embora – disse Isaac ignorando a imagem da mulher.

- Laura, ele é, infelizmente, uma peça importante para essa divisão. Todos eles são. Houveram casos em que cada um deles foi importante. E tenho certeza de que haverá mais casos como estes – Peter tentou explicar. No entanto, a sobrinha estava claramente irredutível.

- hoje mesmo. Se não fosse por ele, nós não teríamos conseguido pegar uma assassina em série – disse Lydia enquanto se aproximava do louro mais velho da divisão.

- essa divisão foi arquitetada pelo seu tio para funcionar com mais eficácia do que muitas divisões. Nós somos eficientes em todos os tipos de casos, desde fabricação de drogas até assassinato. Tendo apenas cinco agentes e quatro prisioneiros como membros – falou Allison puxando uma carta e a jogando, logo em seguida, sobre a pilha.

- cada um deles é de crucial importância. Até mesmo ele – argumentou Derek apertando o ombro da irmã.

- eu sei que parece injusto, mas ele está salvando vidas aqui fora – disse Peter vendo a sobrinha permanecer a fuzilar o castanho com o olhar.

- o que é entediante na maior parte do tempo – soltou Alice não vendo o ódio no olhar da mulher que lhe observava com os punhos cerrados.

- é muito importante que não fale sobre isso com ninguém. Ou todos nós sairemos prejudicados – falou Derek vendo a irmã suspirar.

Laura respirou fundo, tentando manter a calma.

- eu posso... Tentar esquecer que esse lixo está sendo solto regularmente – falou a morena para o alívio de todos.

- mas eu quero algo em troca – alertou a Hale vendo Erica rir em sua cadeira.

- tinha que ter alguma coisa. Gente, mas é um pior do que o outro que aparece pra gente, viu? Eu vou te contar - provocou a loura desviando o olhar de Laura para os companheiros detentos, antes de voltar a olhar para a morena, esperando que a mesma dissesse o que queria.

- e o que é? – questionaram Peter e Derek simultaneamente.

- os brincos – pediu Laura estendendo a mão para o castanho que a olhou com descrença.

- é o quê?! – indagou Stiles. O seu tom de voz deixava visivelmente clara toda a sua indignação.

- você me ouviu. Eu quero os brincos – respondeu Laura batendo um dos pés, irritada.

- Laura... – Peter tentou falar com a mulher mas a mesma ergueu a mão diante do rosto do homem, calando o próprio tio.

- eu só saio daqui calada se ele me der esses brincos – a morena estava determinada e deixou isso bem claro em seu tom de voz.

Para a surpresa de todos, Stiles se levantou ao mesmo tempo em que retirava os brincos. O castanho havia cedido bem rápido. Uma vez que ele parecia bem apegado aos brincos, já que brincava com os mesmos em seus dedos sempre que podia, quase como um hobby. Os entregar tão rápido fora algo que realmente pegou todos de surpresa.

- tenha cuidado com eles – alertou Alice, mal sabendo que causara um arrepio na coluna de Laura.

- eles são importantes? – questionou a mulher assim que os brincos foram colocados em sua mão. Stiles se afastou enquanto ouvia a pergunta da irmã de Derek.

- sim. Eles são...

O castanho mal terminou a sua resposta e já havia se calado quando viu Laura virar a mão, a deixando de lado e permitindo que os brincos vermelho e preto caíssem no chão. O sangue do castanho gelou e Peter se viu temeroso quando, em choque, olhou para Stiles, vendo o castanho paralisado ao ver Laura pisotear os brincos com o sapato plataforma que usava. O som do material dos pingentes se quebrando e esfarelando enquanto a mulher girava o pé de um lado para o outro fora alto o suficiente para que Erica empurrasse a mesa, desesperada, se afastando mais do castanho, ao mesmo tempo em que Isaac e Vernon jogavam as cartas na mesa e se afastavam de forma igualmente desesperada

Erica já sabia que não era nada sensato provocar o castanho. Ele nunca havia lhe ameaçado, propriamente dito, mas a presença dele, no início, lhe incomodava bastante, mesmo que ela interagisse com ele. Stiles tinha algo nele que fazia seus instintos gritarem em sinal de perigo. Isaac e Vernon não tinham os mesmos instintos que Erica, mas eles já haviam presenciado o que um Stiles aborrecido poderia fazer. Os dois homens se lembravam perfeitamente de o castanho surrar um grupo de delinquentes drogados que eram o dobro dele no quesito massa muscular com uma facilidade surreal, sem contar que, graças as habilidades com computador que Lydia possuía, eles puderam assistir ao confronto de Stiles e Nancy, sempre reclamando da ausência de sons da câmera de baixo custo da empresa de segurança.

- VOCÊ É MALUCA?! – gritou Isaac visivelmente alterado.

- VOCÊ QUER MATAR TODO MUNDO AQUI?! – gritou Erica tão alterada quanto.

- as vans chegaram – disse Lydia enquanto se aproximava dos computadores, discretamente, puxando uma arma específica de uma gaveta.

- cara... Ele... – Scott tentou se manifestar mas o seu choque não lhe deixou formular o resto de sua fala.

- está... Chorando?! – indagou Vernon tão em choque quanto o McCall. 

Todos estavam pasmos com a lágrima solitária que rolou pela face de Stiles antes de mais uma surgir do outro olho. Ninguém conseguia dizer mais nada. Nem mesmo Peter, que parecia sempre saber o que dizer, principalmente com o castanho, conseguia falar alguma coisa. Em todos os  anos em que conheceu Alice, Peter nunca o vira derramar uma única lágrima, se quer. Stiles era mais do tipo destrutivo. Quando algo o magoava ou o fazia se sentir triste, Stiles destruía. Não importava o que fosse. Pessoas, bens materiais, paredes. Mas ali estava Stiles, o maior assassino dos Estados Unidos da América, completamente estático enquanto derramava lágrimas silenciosamente. A única que não parecia ter sido afetada pelo estado de choque do castanho era Laura, que o olhava com nojo.

- sorte a sua de eu não poder fazer mais do que isso. Você não merece usar brincos iguais aos que ele deu para ela – disse a morena antes de dar as costas e começar dali, olhando com decepção para o tio e para o irmão.

- Stiles – chamou Lydia não obtendo resposta alguma.

- Stiles, a primeira van é a sua – disse a mulher, novamente, tentando arrancar alguma resposta do castanho.

Tudo o que Stiles fez fora cerrar os punhos, o que acabou chamando a atenção da ruiva que, imediatamente apontou a arma para o castanho e disparou. Para a surpresa de todos, a arma não disparou uma bala, mas sim um dardo. O dardo prateado com pelugens azuis no final atingiu a nuca do castanho, que apenas abaixou a cabeça quando sentiu a agulha penetrar o seu pescoço.

- o que é isso? – indagou Allison, confusa.

- é anestésico. Lydia sedou ele – respondeu Isaac olhando para o assassino de cabelos castanhos, apenas esperando o mesmo cair.

- eu fui instruída a usar sedativos nele caso ele surtasse – ditou a ruiva enquanto apoiava a arma na mesa, apenas esperando Stiles cair adormecido.

- vai precisar mais do que um desses – a voz do castanho chamou a atenção do grupo enquanto o mesmo levava a mão a nuca, retirando o dardo do seu corpo.

- cara... Aí tem uma quantidade para apagar um brutamontes do tamanho do Ennis! – exclamou Isaac vendo o castanho estalar o pescoço enquanto jogava o dardo na mesa de Lydia, o fixando na madeira pela seringa afiada.

- isso não é o suficiente comigo. Você tem que usar mais dois dardos – ditou o castanho enquanto seguia para o elevador, pisoteando o pó dos pingentes que um dia ornamentavam as suas orelhas, chamando a atenção de Peter no ato.

- mais dois?! Você é o quê? Um elefante?! – indagou o Lahey, surpreso.

- Stiles, você não

O louro mais velho fora prontamente ignorado quando o castanho adentrou o elevador e, ainda de costas, apertou o botão de fechar as portas. No mesmo instante, os agentes correram para as escadas, tratando de chegar no térreo antes do elevador. Stiles estava visivelmente alterado. Ele poderia, muito bem, ser capaz de causar alguma morte ali embaixo.

Quando as portas se abriram, todos já estavam com suas armas apontadas para o elevador quando notaram o prisioneiro nu que havia ali. As roupas do castanho estavam jogadas no chão do elevador, amontoadas em um canto. Allison e Lydia abaixaram as suas armas, antes de se aproximarem do homem com cuidado. Stiles se vestiu com as roupas da prisão, as mesmas que usava quando chegou ali para aquele caso, quando Allison as jogou para si, e estendeu os punhos para a frente, exibindo os pulsos. Elas se viram surpresas, assim como Derek e Scott quando o castanho se permitiu ser algemado pelos agentes responsáveis pelo seu transporte.

- ei... você está bem? – questionou Allison impedindo que as portas traseiras da van fossem fechadas.

O castanho nada disse. Assim que perceberam que o silêncio era a resposta do castanho para a agente, os homens responsáveis pelo transporte do prisioneiro fecharam as portas da traseira da van e trataram de seguir para a dianteira, adentrando o veículo e dando partida no mesmo.

- ele é tão estranho! – exclamou Scott antes de se dirigir para o elevador, tratando de recolher as roupas ali jogadas.

 

 


- visita para você, vovô! – alertou um guarda enquanto batia com o cassetete nas grades cela.

Um homem de cabelos grisalhos estava deitado na cama da cela, de maneira que com certeza renderia uma boa dor nas costas para qualquer pessoa da sua idade. Mas ele era um homem que honrava os colhões que tinha. Não seria uma pose em uma cama que lhe faria reclamar de dores nas costas.

O homem de canelos grisalhos desviou o olhar do livro que tinha em mãos para poder olhar com seriedade nos olhos do guarda. Ele cogitava em tantos meios de matar aquele desgraçado que havia interrompido a sua leitura que a sua mente demorou um pouco para processar as palavras do guarda. Eram tantas as opções de métodos de assassinato que ele chegava a ficar confuso quando se pegava questionando qual delas seria a mais divertida.

- vamos! Vamos! Eu não tenho o dia todo! – exclamou o homem fardado retornando a bater com o cassetete nas grades, criando um som alto de ferro que ecoava por todo o corredor.

Fechando o livro com normalidade, o homem se ergueu da cama, após colocar o objeto embaixo do travesseiro. Ele ergueu os punhos na direção da grade e um dos guardas lhe algemou as mãos. Assim que as algemas travaram, outro guarda abriu a cela e o homem saiu da mesma para ser algemado devidamente, enquanto a cela era fechada.

- quem é? – indagou, curioso, ao mesmo tempo em que o guarda verificava a firmeza das algemas. Outro guarda riu.

- um mensageiro de Deus – respondeu ele enquanto apontava com o cassetete para o corredor.

Intrigado, o prisioneiro resolveu permanecer calado e pensar por si só a esperar uma resposta decente daqueles dementes fardados que o cercavam. Ele fora empurrado com certa brutalidade por aqueles homens armados, para que caminhasse na direção da sala de visitas. Ah, a sua vontade de puxar uma daquelas armas dando sopa na cintura dos homens de farda e matar todos eles fazia o seu corpo tremer em excitação.

Enquanto caminhava e pensava, o prisioneiro era cumprimentado por alguns presos em suas celas. Ele os ignorava prontamente, poucos eram dignos de sua atenção naquele lugar. A maioria deles apenas queriam lhe usar como alívio sexual, enquanto a pouquíssima minoria queria apenas proteção. A vida naquela prisão era entediante. Ele se divertia muito mais na segurança máxima. Lá, sim, era uma prisão digna de sua presença. Aquela prisão era o lugar em que ele deveria ser preso, e não aquele lixo de prisão, onde ele poderia acabar com metade dos guardas sozinho.

O motivo para ele continuar naquela prisão e não ter sido transferido de volta para a segurança máxima? Liberdade. Por mais que a segurança máxima fosse interessante, a vida fora da cadeia era muito mais divertida. Lá fora ele poderia beber, foder, matar com mais facilidade, comer melhor e ainda por cima poderia dormir mais sem ter que acordar para surrar algum idiota com o orgulho inflado querendo lhe foder durante a noite.

Quando chegou na sala de visitas ele fora instruído a se sentar na cadeira dura e nada confortável, como de costume, enquanto era algemado à mesa. Para a sua surpresa, ninguém havia chegado ainda, para lhe ver, o que era estranho. Não era uma data específica. Ou seja, se ele fora tirado de sua cela até ali, foi porque alguém havia ido até a prisão para vê-lo. A porta do outro lado da mesa se abriu e logo um outro guarda adentrou a sala, sendo seguido por um encapuzado usando bata.

- um padre? – questionou descrente da presença religiosa.

- outro padre? – repetiu um tanto entediado.

Muitos padres já haviam tentado lhe converter à religião e todos eles falharam miseravelmente. Ele não acreditava em toda aquela baboseira religiosa. Ele era um homem vivido. Já havia visto o inferno antes, e ele não vinha depois da morte. Muito menos era um lugar que pertencia apenas aos pecadores. O inferno residia na terra, no plano dos vivos, e era o lugar de qualquer um que vacilasse. Os humanos faziam o inferno acontecer. O diabo é a própria a mente humana, o tridente é o corpo humano e o fogo eterno não passava de uma sensação fria e única que fazia todo o seu corpo tremer de medo, a medida que o sangue esquentava como lava fervente. O fogo era o medo.

- eu sou o Anticristo. Agora pode ir embora – disse já se virando para o guarda e erguendo as algemas em um pedido mudo para que já o liberassem.

- podem sair – ditou o padre enquanto se sentava e não demorou para que todos os guardas saíssem, o que surpreendeu o detento.

Aquela prisão não era de segurança máxima, mas, mesmo assim os guardas eram proibidos de lhe deixarem sozinho na sala de visitas. Uma das condições do acordo de transferência dele era de que ele nunca ficasse sozinho com visita alguma. Mas ali estava ele, sozinho, na presença do padre encapuzado, do qual só conseguia ver o queixo um tanto pálido.

- você não é um padre qualquer, não é? – indagou o detento e o outro riu.

O encapuzado de bata levou a mão para debaixo da mesa, deixando o outro confuso, antes de retirar uma pequena escuta do fundo da mesa metálica. O homem se viu surpreso enquanto o padre pedia silêncio com o dedo indicador, o levando aos lábios. O detento assistiu ao padre destruir a escuta ao golpear a mesa com a mão, estando a escuta entre as duas. O homem misterioso finalizou jogando o pequeno dispositivo no chão e o pisoteando com pé direito.

- Sagitário, não é? – indagou o encapuzado vendo o homem a sua frente menear positivamente.

- e você? Quem é? – perguntou um tanto desconfiado.

- eu tenho alguns nomes – respondeu o suposto padre levando a mão até a mesa e passando a bater com os dedos em um ritmo que o homem não conhecia.

- e por qual eu devo lhe chamar? – o homem voltou a questionar o nome do outro, quando outro questionamento lhe veio em mente.

- por que está escondendo o rosto? – indagou curioso.

O encapuzado ergueu a cabeça, revelando o que escondia embaixo do capuz. O detento franziu o cenho para a estranha e perturbadora máscara de coelho que o homem a sua frente usava para esconder o rosto. Aquilo estava muito estranho e confuso.

- você pode me chamar de Branco – respondeu o mascarado levando o indicador aos dentes brancos de coelho, deslizando a ponta do dedo nos quadrados brancos feitos de ossos verdadeiros.

- e o que você quer comigo? – perguntou ainda analisando a máscara de coelho branco. Aquela máscara não parecia ser uma mascara emborrachada, como ele pensou assim que a viu pela primeira vez. Isso sem contar naqueles olhos vermelhos assustadores. Tão grandes e redondos, brilhando em um tom carmesim perturbador.

- eu tenho um plano e preciso de você para colocar em prática – respondeu o mascarado e o grisalho voltou a franzir o cenho.

- e o que eu tenho que fazer? – questionou com curiosidade, porém sentindo certeza de que negaria. 

Ele não era de fazer favores. Muito menos era de trabalhar em grupo. Ele sempre fora um lobo solitário. No entanto, por mais que quisesse dizer que não faria nada para ninguém, ele queria saber do que se tratava. Afinal, não é todo dia que um estranho com máscara perturbadora de coelho lhe visitava na cadeia para falar sobre um plano criminoso.

- é muito simples. Para começar, temos que lhe tirar daqui. Depois, você irá nos encontrar em um local específico – disse o homem com máscara de coelho, erguendo um relógio de bolso dourado para o detento ver.

- e para que serve isso? – indagou o homem, ainda desconfiado.

- no dia 09 de Novembro, às 5 horas, esse relógio vai explodir. Nesse dia, você vai colocar ele na fechadura da sua cela. Amarre-o com a corrente e se afaste o máximo que puder. Depois disso, sei que consegue sair daqui por si só – disse o encapuzado colocando o relógio dentro de uma bíblia falsa e a entregando para o detento.

Certo. Aquilo estava ficando interessante. O homem de cabelos grisalhos não tinha como negar. Estavam lhe oferecendo a liberdade. A sua tão saborosa liberdade. Talvez não fosse tão ruim escutar o que aquele maluco tinha para lhe oferecer.

- e como eu posso lhe achar depois que sair daqui? – questionou enquanto colocava a bíblia falsa no colo.

- você não pode. Eu vou lhe achar quando for a hora – respondeu já se levantando e dando as costas.

- lembre-se. 09 de Novembro, às 5 horas – Branco enfatizou antes de bater na porta e se retirar dali quando os guardas entraram.

O homem assistiu, intrigado, o encapuzado passar pelos guardas com autoridade e presença, enquanto a bata que lhe cobria balançava a cada passo dado por si. Por um momento, pareceu que aquele homem era algo mais interessante do que somente a vida fora da cadeia. 

Branco era divertido.

 

 

 


- como vamos fazer para ele perdoar a gente? – indagou o Billy sentado em sua cama, enquanto olhava para o fundo da cama de Marcos, que era acima de da sua.

- nada do que nós fizermos vai impedir que ele nos dê outra surra – respondeu Marcos erguendo o zíper de sua calça.

- vamos levar outra surra daquelas?! – questionou aterrorizado.

- vamos – respondeu Marcos sem muito ânimo.

- de quem vocês apanharam? – indagou o quarto detento da cela e os três olharam imediatamente para o mesmo, com fúria.

- não lhe interessa, idiota! – exclamou Jimmy, irritado.

- aí cara! Mandou ver com aqueles drogados filhos da mãe! – os três puderam ouvir um do presos cumprimentar alguém e logos os seus corpos retesaram ao compreenderem a conversa.

- porra! – exclamou Jimmy enquanto corria para uma das camas de cima e se deitava na mesma.

- parece que o carrasco chegou – brincou o quarto detento da cela, sorrindo ao ver o presidiário que se auto intitulava Rei imitar o ato do amigo e subir, desesperadamente, em sua cama.

- vai se foder, Crowler – ralhou Marcos em um sussurro enquanto ficava de frente para a parede, tentando, ao máximo, não demonstrar estar acordado.

O detento deitado na cama abaixo da cama de Jimmy observava atentamente o detento que era escoltado para a própria cela. Ele estava curioso para saber de quem o trio que comandava aquele lugar, depois dos guardas, tinha tanto medo. A surpresa veio quando o castanho esquisito que se isolava de todos passou pela cela, cabisbaixo, sendo escoltado por quatro guardas. Brett Crowler olhou atentamente para o corredor, surpreso com o que havia presenciado. O homem passou a gargalhar enquanto via Billy, discretamente, espiar o corredor.

- vocês estão com medo do esquisito?! Isso é hilário! – exclamou Brett, após conseguir recuperar o fôlego, vendo os três companheiros de cela se sentarem imediatamente.

- você não sabe do que aquele cara é capaz – argumentou Jimmy enquanto ouvia, no corredor silencioso, o som de uma jaula sendo fechada.

- não, cara... Ele é bom de briga, isso eu já entendi. Mas muita gente aqui também é. E vocês eram os melhores nisso. Tanto que vocês que mandavam nisso aqui. Mas agora parece que vocês perderam os colhões de vocês – falou Brett enquanto três dos guardas que escoltaram Alice para a cela dele passavam pelo corredor, retornando.

- aquele cara é bem melhor de briga do que nós três juntos – afirmou Billy vendo Brett bufar em desdém.

- aquele magricelas?! Conta outra – ditou o Crowler e logo Marcos saltou da cama ao ver Josh passar pelo corredor, sozinho.

- hey! Hey! Hey! – o calvo chamou o moreno em um sussurro desesperado, vendo o guarda lhe fitar, antes de olhar ao redor e se aproximar.

- o que é? – indagou o guarda, um tanto preocupado.

- ele está puto? – perguntou Marcos enquanto o guarda se aproximava mais para poderem conversar mais baixo.

- parece que sim – respondeu o moreno vendo o detento suspirar desgostoso.

- muito? – questionou Billy olhando o guarda pensar um pouco antes de menear positivamente.

- ele... – o homem que atendia por Arlequim iria começar a falar quando se lembrou da presença de Brett ali na cela.

O moreno olhou para o louro deitado despretensiosamente na cama abaixo da de Jimmy antes de pedir para que Marcos se aproximasse, o chamando com a mão. O Rei encostou a lateral do rosto na grade, olhando para baixo, dando total atenção ao guarda, que sussurrou algo para si antes de se afastar lhe encarando. Marcos olhou surpreso para o guarda vendo o mesmo menear positivamente.

- e o que é? – questionou o rei, curioso, e Arlequim se afastou.

- um IPod e um teclado bluetooth – respondeu Josh e arcos franziu o cenho.

- ele é doido?! Se os guardas pegarem ele com isso ele está fodido! – exclamou o calvo e Jimmy saltou da cama e se aproximou da grade.

- perfeito! Assim a gente se livra dele – as palavras de Jimmy pareceram animar Billy.

- é mesmo! Se os guardas... 

- vocês são idiotas ou o quê? Se os guardas pegarem ele, o máximo que vão fazer é dar uma surra e colocar na solitária. O que acham que vai acontecer quando ele sair? Ele vai estar mais puto ainda! – exclamou Marcos vendo os outros dois finalmente perceberem a ilusão com a qual sonhavam.

- eu tentei avisar isso, mas ele me ignorou e disse que quando eu estivesse com os dois, era para avisar para ele e entregar no dia seguinte. E deixou bem claro que era para avisar a ele um dia antes de fazer a entrega – falou Josh enquanto olhava em volta para ver se nenhum outro guarda estava os vendo.

- pelo visto ele parece ter um plano para isso – disse Billy tentando descobrir o que diabos o seu superior estaria tramando.

- eu não faço ideia do que ele tem na cabeça, mas vou fazer. O único jeito é ter essas duas coisas sem que a minha mulher perceba. Do jeito que ela é, vai achar que tenho uma amante – ditou o guarda passando uma das mãos pelos cabelos, preocupado.

- aí! Eu tenho um irmão que pode guardar para você – sugeriu Marcos vendo o guarda rir, irônico.

- ah, tá certo. Eu sou guarda, meu irmão! Não vou me meter com a galera de sua quebrada. Estou com vocês nessa porque aquele cara me tem nas mãos dele – Josh negou prontamente e Marcos suspirou.

- relaxa aí, marica. Meu irmão é do bem. Ele não mexe com nada disso, não. O cara fez faculdade e tal. Amanhã ele vem aqui me visitar. Eu explico tudo para ele. – argumentou Marcos vendo o moreno fardado ficar pensativo.

- se ele é do bem, por que me ajudaria se você pedisse? – questionou desconfiado.

- porque quando eu era traficante, ajudei a pagar a faculdade dele. Eu fui preso, mas a gente ainda se dá bem. Ele me visita de vez em quando – respondeu Rei vendo Arlequim suspirar.

- e como vou saber se ele é confiável? Como vou saber se ele não vai me foder? – perguntou ainda receoso.

- aí! Não gosto que fale assim dele, falou? – repreendeu o presidiário vendo o guarda suspirar.

- foi mal, cara, mas você foi preso por tráfico. Não espere que eu confie em você, assim, do nada – argumentou o Diaz e Marcos ponderou, se acalmando um pouco.

- no dia da visita, ele vai lhe esperar no estacionamento. Dê um jeito de ir falar com ele. Avise ao manda chuva que se você perder a encomenda a culpa é minha – falou o calvo, surpreendendo o moreno.

- é sério isso? – questionou Josh, ainda desconfiado.

- é sério! Mas se você me foder, eu te quebro no meio – alertou Marcos e Josh meneou positivamente.

- beleza, então. É melhor você não foder com tudo... Rei – o guarda pronunciou, apertando a mão do detento antes de começar a caminhar pelo corredor.

- e é melhor você não abrir o bico, Crowler – alertou Billy vendo o louro erguer as duas mãos em rendição.

- eu não disse nada – disse Brett dando de ombros.

 

Chapter 28: The Emperor

Chapter Text

Não demorou para que outro caso fosse entregue para a divisão montada por Peter. O FBI realmente estava desesperado para resolver mais casos. O louro chegou ao prédio que usavam como base sendo acompanhado pelo sobrinho de olhos verdes. Ambos desceram de seus carros com um copo de café quentinho em mãos. Se cumprimentaram com um aceno de cabeça, típico deles, antes de se direcionarem para o elevador, vendo Allison parada ao lado da porta do mesmo, também com um copo de café em mãos.

- ainda não chegaram? – indagou Peter vendo a morena negar com a cabeça.

- Peter, aproveitando que estamos só nós aqui, eu queria falar sobre o ocorrido de ontem – disse a Argent vendo o louro parar a sua frente.

- o que lhe incomoda? – questionou o Tate vendo a morena desviar o olhar para Derek.

- você sabe o motivo de o Stiles ter ficado daquele jeito por causa dos brincos? Porque, para a Erica ter se afastado desesperadamente dele, aquilo o afetou e muito – perguntou a morena e o Hale acabou se interessando pela conversa.

Tanto Peter quanto Allison direcionaram olhares questionadores para o moreno de olhos verdes, que ergueu os ombros indagando, em silêncio, qual era o problema. Ignorando o sobrinho, o louro de cabelos penteados impecavelmente para trás suspirou, olhando pensativo para o chão. Aquela era uma das poucas perguntas que ele rezava para que ninguém da divisão lhe fizesse. Suspirando mais uma vez, o mais velho ergueu o olhar para a morena, fazendo uma expressão um tanto culpada.

- infelizmente, eu não posso lhe dar essa informação – as palavras do homem geraram reações diferentes nos dois agentes mais novos.

Allison analisava o louro cuidadosamente. As vezes, ela via o quão desvantajosa era aquela aproximação entre o Tate e o Stilinski, embora ela se mostrasse vantajosa inúmeras vezes. Stiles, como todo psicopata assassino, tinha um limite para o controle de sua sede de sangue. E, algumas vezes, o castanho beirava o seu limite. Ela não era idiota. Já havia visto a reação corporal do castanho quando Lydia anunciou que o último caso seria o de um Serial Killer.

O corpo de Stiles tremeu em ansiedade. Como um adolescente que encontra um rival em seu esporte favorito. Os olhos do castanho apresentavam um brilho divertido sempre que analisava as cenas de crime. Quando analisaram a cena de Cindy fora pior. Ela viu quando o pomo de adão do castanho se moveu, indicando que o mesmo estava salivando enquanto brincava com o sangue da garota entre os dedos. E, em todos esses momentos, Peter procurava tocar o mais novo de alguma forma. Procurava o acalmar, o que era mais estranho ainda, já que Peter fora um dos agentes responsáveis por sua prisão.

A desvantagem era que o louro parecia estar nas mãos assassino em certas situações. Peter e Stiles, muitas vezes, guardavam assuntos apenas para eles dois, o que causava uma certa desconfiança por parte dos outros agentes, principalmente Scott e Derek. Não foram raras as vezes em que Peter deixou de expor algo ao grupo devido a presença de Stiles, que sempre o calava com um coçar de garganta.

Já Derek, rolou os olhos para o tio. Ele sabia muito bem o que aquilo significava. Peter estava, mais uma vez, protegendo o assassino de seu pai. O moreno de olhos verdes não conseguia entender o que diabos seu tio tinha na cabeça para se vincular com um monstro como Stiles. Principalmente Stiles. O assassino responsável por tanto sofrimento em sua família. Ele sentia tanta raiva do tio por isso. Peter, um dia, fora como o seu pai, para si: Um exemplo. Quando criança, o seu sonho era trabalhar com o pai e com o tio. Hoje, o seu sonho estava morto. Não apenas graças a Stiles, como também ao seu tio.

Peter havia lhe decepcionado profundamente.

- Continua protegendo ele – ditou o moreno de olhos verdes enquanto lançava um olhar de desgosto para o louro.

- é. Continuo, sim – falou o mais velho lançando um sorriso vitorioso para o sobrinho que o fitou irritado.

- e acha isso correto? - indagou o agente de olhos verdes vendo o tio erguer uma sobrancelha em sua direção.

- e quem diz o que é correto e o que não é? - questionou Peter vendo Derek tomar uma expressão furiosa no rosto.

- está bom, está bom. Vamos parar. Não estamos no fundamental. Se concentrem em ser produtivos e não em alfinetar os princípios um do outro – ditou a Argent, se colocando entre o tio e o sobrinho, enquanto empurrava o peito de ambos.

Assim que Derek iria argumentar sobre a atitude do mais velho, três vans adentraram a garagem, indicando que três dos detentos haviam chegado, restando apenas um, provavelmente Erica. Assim que as portas se abriram, Allison viu Vernon e Isaac descerem da traseira de suas respectivas vans. Para a surpresa dos três agentes, tanto Vernon quanto Isaac estavam sem as algemas. Os dois homens abriram as portas traseiras eles mesmos, deixando Derek com uma sensação ruim. Eles fecharam as portas traseiras dos veículos erguendo os polegares para os motoristas, indicando que haviam feito tudo correto.

- valeu! - exclamou o motorista da van de Vernon antes de descer, sendo seguido pelo companheiro de trabalho, para se dirigir para a van onde Stiles estava.

- mas que porra é essa?! - exclamou o Hale irritado.

- alguém não queria estar aqui. Tiveram que usar nossas algemas nele – disse Isaac se aproximando de Allison, que entregou o café para o louro de cachos e tratava de pegar a arma em sua cintura.

- o que você... - Peter fora cortado quando, ao abrirem as portas das vans, os dois agentes foram jogados para trás quando Stiles algemado e enrolado em algemas, como em uma camisa de força feita de correntes, chutou as portas.

- Stiles! - repreendeu Allison enquanto apontava para a cabeça do castanho.

- atire em mim se quiser. Não estou nem aí - ditou o castanho descendo da van em um pulo pequeno e, para a surpresa de todos, as correntes caíram, libertando o castanho.

- como você se soltou? - questionou um dos agentes selecionados para transportarem o castanho, se arrastando para longe do castanho.

- um mágico não revela os seus segredos – disse o assassino enquanto seguia para o elevador.

- Stiles, assim fica difícil de lhe defender – a voz suave de Peter tentava acalmar o prisioneiro de cabelos castanhos, mas o mesmo lhe ignorou prontamente para adentrar o elevador e apertar o botão que faria o elevador subir.

O castanho de olhos claros e olhar sério se virou para a porta, vendo todos os outros encararem o elevador com certo receio. Até mesmo Peter encarava o homem de olhos da cor âmbar com cuidado. O louro mais velho adentrou o elevador, parando ao lado do Stilinski e apertando o ombro do mesmo com certo carinho.

- vocês três chegaram a comer? - questionou o homem vendo que Vernon e os outros ainda tinham certa dúvida se deveriam entrar no elevador ou não.

- ah... não... o café da manhã é as dez – respondeu o Boyd adentrando o elevador, tomando o cuidado de não adentrar o espaço pessoal do assassino da divisão.

- vamos comprar algo para vocês no caminho – falou Allison encarando o castanho pressionar o botão de fechar as portas com certa violência.

Assim que chegaram ao andar de cima, o grupo fora recebido por Lydia, que se encontrava sentada em sua mesa, digitando algo no computador. A ruiva sorriu quando Isaac questionou se a mesma não tinha casa, pois ela sempre estava ali quando todos chegavam. Mas, no momento em que Stiles se jogou sentado em uma cadeira, a ruiva tomou um olhar preocupado. O ambiente tomava uma atmosfera pesada com a presença do castanho de expressões sérias. Ela se sentia um tanto culpada por ter tentado sedar o homem na noite anterior. Quando ela se ergueu para iniciar a apresentação do caso, Scott e Erica chegaram pelas escadas, um tanto apressados.

- chegamos! - exclamou o moreno de queixo torto, já indicando estar ciente do seu leve atraso.

- vamos começar agora – ditou Peter enquanto se sentava.

- você está bem? - questionou Lydia notando o bater de pé do castanho.

Stiles não respondeu. Apenas permaneceu a encarar a mesa de madeira.

- eu... me desculpe por ontem. Eu acabei me precipitando devido a presença da irmã de Derek – a ruiva se desculpou esperando ouvir alguma palavra do castanho.

No entanto, Stiles permaneceu em silêncio. Tudo o que ele fez, para que a agente Martin soubesse que ele havia escutado, fora virar a cabeça em sua direção, a olhando de baixo com o seu olhar entediado. Assim que o castanho voltou a olhar para a mesa, ignorando todo mundo, fora o momento em que Erica puxou Allison pelo braço, indicando que queria falar com a mulher, que se inclinou levemente na direção da loura de cabelos cacheados.

- eu não quero ficar do lado dele – sussurrou a loura e a morena se afastou minimamente para lhe encarar.

- sensação ruim? - questionou em um sussurro vendo a Reyes menear positivamente.

- ele ainda está chateado? - questionou o McCall se sentando a mesa.

- deixe ele em paz, Scott! - ordenou Allison, enquanto ela e Erica se sentavam no outro lado da mesa.

- comece – falou Peter antes que mais algum assunto desnecessário fosse iniciado.

- espero que estejam com as suas malas prontas, pois vamos viajar em poucos minutos – ditou a Martin já iniciando a sua apresentação.

- você vai? – questionou o louro de cachos, surpreso.

- posso não ser uma agente de campo nessa divisão, mas sou eficiente – argumentou a Martin antes de o Lahey se virar para Vernon.

- ela já foi em campo alguma vez? – questionou Issac vendo o Boyd lhe fitar negando com a cabeça.

- com a gente, não – respondeu o homem de porte musculoso vendo o louro olhar surpreso para o resto dos agentes.

- com licença, eu estou tentando apresentar o caso – a Martin repreendeu o louro de cachos.

- foi mal, ruiva. Pode falar – se desculpou Isaac enquanto Scott ainda tentava conter o riso.

- enfim. Um adolescente foi encontrado morto em seu quarto, pendurado no ventilador pelo pescoço por uma corda – disse a ruiva e logo a imagem do adolescente em uma típica cena de suicídio fora exibida na tela.

- está bem, é trágico, mas desde quando lidamos com suicídio? – indagou Vernon e a ruiva sorriu para a sua pergunta

- eu também pensei assim, mas assim que vi o que encontraram no computador dele eu entendi tudo. – ditou a ruiva e logo a imagem da página inicial de um site surgiu.

Na página havia toda uma decoração de Hallowen, com abóboras medonhas, aranhas e morcegos voando pela tela. Em letras laranjas e verdes estava escrita a típica frase do Hallowen, com as duas letras T's iniciais cobertas com sangue. Não havia muito na tela inicial, apenas um grande, enorme e medonho “Login” ao lado de um igualmente medonho e enorme “Cadastre-se”.

- Trick or Treat?! – indagou Derek, descrente do que lia.

- o que tem demais? – questionou Isaac e logo a ruiva sorriu em sua direção.

- se você se cadastrar nesse site, ele começa a lhe lançar desafios idiotas em que alguns consistem em se ferir ou arriscar a própria vida – respondeu a Martin mostrando algumas etapas do cadastro e alguns desafios feitos pelo site.

- as pessoas são tão burras! – exclamou Erica vendo a ruiva dar de ombros.

- também não entendo essa gente – comentou Lydia passando as imagens.

- ah, qual é? As pessoas devem saber que isso é furada! – exclamou Isaac apontando para o desafio que tinha como uma etapa cortar o pulso direito.

- se você soubesse como as pessoas são manipuláveis – falou a loura negando com a cabeça.

- ela está certa. Eu fiz uma pesquisa e quase noventa por cento dos jovens da cidade acessam esse site por dia. E não apenas nessa cidade, como em todo o país – argumentou Lydia vendo o louro de cachos tomar uma expressão de nojo com um toque de indignação.

- meu Deus! E eu achando que matar alguém sem levar a culpa era difícil. É só mandar ela fazer em um desafio estúpido! – exclamou o Lahey indignado.

- o que merda eles têm na cabeça? – indagou Allison, tão indignada quanto Isaac.

- as pessoas estão passando tanto tempo cercadas por zeros e uns que estão enlouquecendo – a voz de Vernon chamou a atenção de todos, que ficaram em silêncio, apenas absorvendo a reflexão do detento.

- certo. Isso foi bonito – falou o Lahey batendo palmas mudas para o amigo.

- bem filosófico, mas, voltando, nós temos que pegar o responsável por essa ideia ridícula – disse Lydia vendo Erica bufar em sua cadeira.

- ridículas são as pessoas que usam uma merda dessas – comentou a loura apoiando a cabeça na palma da mão, mudando o olhar de direção.

- e por que não derruba esse site daqui? – indagou Isaac vendo a ruiva lhe dar atenção.

- eu poderia facilmente, mas se fizermos isso eles iriam recriar o site e não resolveria nada. Então temos que ir para o norte, na cidade onde este site foi criado para encontrarmos o criador dessa coisa ridícula – explicou a Martin enquanto via o grupo inteiro menear positivamente

- e para onde estamos indo? – indagou Vernon, curioso.

- é melhor colocarem suas roupas de frio nas suas malas, porque vamos para o Alaska! – respondeu a ruiva, animada, e logo imagens de uma cidade do Alaska surgiu na tela.

- puta que me pariu! – exclamou Isaac, aparentemente desgostoso, enquanto Scott gargalhava alto.

- o que foi? – indagou Derek, confuso.

- o Isaac odeia o frio, tipo, muito – respondeu Scott, ainda rindo.

- e você está adorando isso – ditou o louro de cachos, irritado.

- ah, você tem que admitir que você no frio é muito engraçado – argumentou o moreno de queixo torto e Isaac ergueu o dedo do meio para o McCall, enquanto escondia um sorriso mínimo.

- sério?! Eu jurava que você era do tipo que amava o Natal – ditou Erica, sorrindo para o outro louro.

- por que raios? – questionou o Lahey, confuso

- porque... Você tem toda essa aura infantil ao seu redor? – a resposta da Reiyes saiu como uma pergunta, deixando o outro com uma seriedade no olhar que surpreendeu a maioria.

- nada a ver – foi tudo o que o Lahey disse, voltando a olhar para Lydia.

- ah... Isso é tudo? – indagou Scott chamando a atenção para a ruiva, novamente.

- sim, sim – respondeu a Martin ajustando o cabelos atrás da orelha.

- ótimo. Saímos em vinte minutos – ditou Derek enquanto se erguia.

- se comporte até voltarmos, por favor – pediu Peter, em um sussurro, para que apenas o castanho escutasse, esquecendo-se da presença de Erica.

O castanho nada respondeu, apenas permaneceu de pernas cruzadas e olhar sério. Peter suspirou, acariciando os fios castanhos antes de se afastar, deixando apenas Lydia, Vernon, Isaac e Erica ali. O silêncio reinou por um bom tempo, antes de Erica, movida por sua curiosidade natural, se direcionou para Isaac.

- então... Como vocês se comportam na prisão de vocês? – questionou a loura vendo dois dos três homens olharem para si.

- ah... A gente tenta não levantar suspeitas – respondeu o Boyd e Isaac concordou consigo em um menear de cabeça.

- vocês ficam na mesma cela? – indagou a mulher, curiosa.

- nós dois, sim. O Stiles tem a cela dele – respondeu Vernon olhando para o castanho, vendo o mesmo permanecer a ignorar tudo e puxar um baralho de sua manga.

- vocês já podem ir se trocar. As malas de vocês estão no vestiário, elas tem seus nomes e as roupas estão em cima delas – informou Lydia vendo o grupo se erguer e se dirigir para o vestiário.

Erica fora a primeira a se arrumar e deixar a roupa da prisão no armário que continha o seu nome. Após a loura sair puxando a sua mala para a sala em que sempre ficavam, foi que os três homens adentraram o vestiário, se dirigindo para os seus respectivos armários. Após o banho, Stiles, ao retirar as roupas que usaria do armário, se viu um tanto surpreso quando encontrou um par de brincos na prateleira do armário. O castanho olhou bem para o par dourado de pequenas argolas grossas, antes de, com tédio fechar a porta do armário.

Assim que Stiles adentrou a sala, com a sua mala pendurada ao lado de sua cintura, Lydia olhou, discretamente, para as orelhas do castanho, se vendo confusa ao ver os lóbulos do homem sem ornamento algum. Ela não se viu apenas surpresa, como também indignada. Allison havia colocado aqueles brincos no armário do castanho por ter se sentido mal pelo ocorrido da noite anterior. E, embora Lydia, Derek e Scott argumentassem que Stiles era um assassino a sangue frio que não merecia a dó de ninguém, como sempre, a morena dizia acreditar na reabilitação das pessoas e que elas mereciam uma chance para isso. O homem de cabelos castanhos havia ignorado o presente da mulher de cabelos pretos. Por acaso ele era bom demais para usar aqueles brincos? A Martin se via mais furiosa a cada pensamento quer tinha sobre o castanho.

O telefone tocou e a ruiva colocou no viva voz ao perceber que se tratava de Scott. O moreno de queixo torto informava que já estavam todos no andar de baixo e que era para eles descerem. Os cinco pegaram o elevador e, assim que chegaram no térreo, todos se dividiram em três carros. O aeroporto não era muito longe, então não demorou para que todos estivessem em seus assentos dentro do jato, que já percorria a pista de voo com certa velocidade.

- e então? Para onde vamos assim que chegarmos lá? – questionou Scott, se servindo de um copo de whisky.

- vamos pegar táxis, fazer uma hora de viajem até uma cidade onde pegaremos um barco até a cidade onde rastreei a origem do site – respondeu Lydia enquanto digitava algo em um notebook. Atrás da ruiva haviam alguns vários equipamentos eletrônicos que já se encontravam no avião quando eles pegaram o mesmo.

- e o que é essa tralha toda aí atrás de você? – questionou Erica erguendo o copo para Scott, para que o mesmo lhe servisse um pouco da bebida.

- são alguns equipamentos que eu vou ter que usar lá. Como a cidade é pequena e isolada em uma ilha, há poucos recursos tecnológicos que eu posso usar – respondeu a Martin sem desviar o olhar da tela do notebook.

- caralho! É muita coisa! – exclamou o Lahey encarando a pilha de equipamentos com atenção.

- estou reservando os táxis e o barco. Assim que chegarmos, iremos direto para eles – ditou a ruiva antes de fechar a tela do notebook.

- quer jogar? – indagou Peter retirando a maleta do xadrez de dentro do compartimento em que sempre ficava.

Stiles apenas deu de ombros, enquanto cruzava os braços, assistindo Peter abrir a maleta e retirar as peças de dentro da mesma. Assim que os dois montaram o tabuleiro corretamente, o louro iniciou a partida, não notando os olhares discretos de todos para Stiles, que, instintivamente, cruzou os braços, levando a sua mão direita para onde antes havia um brinco com um pingente em forma de coração. Derek se viu um tanto surpreso quando o homem mais novo arregalou, minimamente, os olhos, enquanto movia a própria mão para o campo de visão, analisando a própria palma. Stiles cerrou o punho levemente, enquanto voltava a sustentar uma expressão séria na face.

- Sti – chamou Peter vendo o castanho lhe fitar com atenção.

- é a sua vez – falou o louro de topete vendo o castanho olhar para o tabuleiro e, sem pensar muito, mover o cavalo da direita.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

- delegado Grimson – cumprimentou Peter, erguendo a mão para o policial assim que eles desceram do barco.

- agente Hale? – questionou o homem vendo o louro menear e logo um moreno de olhos verdes lhe estendeu a mão.

- o agente Hale é o meu sobrinho, aqui. Eu sou o agente Tate e esse é o nosso pessoal – respondeu Peter e o delegado deu uma boa olhada em todos.

- certo, me acompanhem, por favor – ditou o homem enquanto se dirigia para a viatura estacionada ali perto.

- eu não creio muito que alguém daqui tenha criado uma coisa dessas. Somos uma cidade pequena e com poucos recursos tecnológicos. Mas se vocês estão dizendo que está aqui, quem sou eu para dizer que não? – falou o homem de mais ou menos quarenta anos enquanto se aproximavam da viatura.

- ah, que ótimo! Por um momento eu pensei que seria mais um Miriam – sussurrou Erica e Allison lutou para segurar o riso.

- Deus! O homem está passando por uma fase difícil, mas ninguém merece outro dele – ditou Allison, no mesmo tom de voz vendo a loura de cachos menear positivamente em sua direção.

- eu sou policial, então eu digo que nós homens somos melhores em matar do que vocês – a loura tentou uma imitação do delegado, antes de fingir que iria vomitar.

O homem falou pelo rádio com alguns oficiais e logo uma caminhonete chegou no cais. O motorista, que se identificou como o filho do delegado Grimson. A equipe fora levada para a pousada da pequena cidade, que, já se encontrava coberta de neve. Durante todo o percurso, Isaac tremia e esfregava as mãos enluvadas, enquanto xingava, mentalmente, o tempo frio. No outro lado do banco traseiro, Scott tentava conter o sorriso em seu rosto ao ver o louro de cachos praguejar, baixinho, sobre o quão frio estava.

A primeira parada fora na pousada, onde eles deixaram as malas, e seguiram para a delegacia. Houve toda a apresentação deles para os oficiais, como sempre ocorria. Eles pegaram os dados básicos reunidos pela polícia. Como sempre, a leitura extremamente rápida de Stiles chamou a atenção dos oficiais, mas o castanho se manteve calado o tempo todo, deixando que o resto da equipe respondesse aos questionamentos dos oficiais sobre suas habilidades.

Aquilo chamou bastante a atenção da equipe. Stiles adorava exibir os seus dons para os oficiais. Peter sabia muito bem o motivo. Era o jeito dele de dizer que, mesmo após anos estando preso em um cubículo, ele continuava bom o suficiente para não ser pego por nenhum deles. Para o castanho não estar exibindo os seus dons invejáveis, ele deveria estar bastante afetado pela perda dos brincos

- não conseguiram reunir muita coisa – disse Scott após analisar a pasta com as informações colhidas pela polícia.

- foi um suicídio involuntário, o que você queria aí? Digitais e DNA? – indagou Erica vendo o moreno de queixo torto lhe fitar com tédio.

- acho que analisarmos o quarto dele também não vai dar em nada – falou Derek vendo Peter e os outros agentes menearem positivamente, em concordância.

- tudo o que temos que fazer, agora, é esperar por você, Lydia – disse o Tate e a ruiva meneou positivamente.

Quando estavam prestes a sair da sala, o castanho puxou o braço do Peter, chamando a atenção do mesmo. O louro questionou o que havia ocorrido, mas Stiles apenas ficou o encarando com seriedade. Derek, Lydia e Scott acharam aquilo confuso, assim como Isaac, Vernon e os oficiais. No entanto, Peter, Allison e Erica pareceram entender o homem de lóbulos furados.

- você quer ir no quarto dele? – questionou Erica, confusa. Stiles meneou.

- mas foi um suicídio, Stiles. O que quer lá? – indago Allison vendo o castanho apontar para Erica, deixando todos ainda mais confusos.

- ele é mudo? – sibilou o delegado e Lydia negou com a cabeça.

- você quer ver como ele se matou – afirmou Peter vendo o castanho menear positivamente.

- mas por que? Ele se enforcou, cara! Apenas colocou uma corda no ventilador de teto e, boom! Se jogou. O que mais você precisa saber? – perguntou Scott e o assassino da divisão rolou os olhos.

- vocês podem ficar se quiserem. Eu levo ele – disse Allison vendo Peter negar com a cabeça

- eu vou com vocês – disse o homem vendo o grupo dar de ombros e começarem a ajudar Lydia na montagem dos equipamentos.

Eles não demoraram a chegar na casa do adolescente que fora encontrado morto no próprio quarto. Os pais, como o esperado, estavam péssimos, com as suas olheiras e faces molhadas pelas lágrimas. Quando souberam que o FBI investigaria o quarto do filho, se quer cogitaram em assassinato, apenas perguntaram se haviam achado algo suspeito no computador do rapaz.

- encontrei ele quando vim avisar que o jantar estava pronto – ditou a mãe, chorosa, ao abrir a porta do quarto, que se encontrava trancada com chave.

- por que a tranca? – questionou o delegado vendo os amigos e conterrâneos suspirarem.

- não gostamos de entrar nesse quarto – respondeu o pai do falecido adolescente, vendo o castanho entrar primeiro, olhando atentamente para todos os lados.

- o que estão procurando? – questionou o homem vendo todos aqueles agentes da lei vasculharem o quarto do seu filho com determinação e atenção.

- não temos certeza de nada, por enquanto – disse Allison enquanto via Stiles olhar com curiosidade para a escrivaninha.

- como ficava o computador? – perguntou o castanho antes de olhar para os pais da vítima e para o delegado.

- bem aí, virado para a cama – respondeu a mulher e logo Stiles olhou bem para a cama, antes de olhar para o teto.

- era um computador de gabinete, certo? – questionou Stiles e a mulher meneou positivamente.

- como sabe disso? – indagou o pai do adolescente, surpreso.

- marca em forma de retângulo feita por algum liquido. Ele derramou suco ou água aqui, marcando o local onde o gabinete ficava – respondeu o castanho, mostrando, exatamente, onde o aparelho ficava.

- ele tinha uma webcam? – perguntou o Stilinski, curioso.

- tinha uma câmera. Ele fazia vídeos para um tal de “twit” – respondeu o pai da vítima vendo Allison e Peter se entreolharem confuso

- twitch. Ele quis dizer Twitch. Ele adorava jogos. Estava começando a fazer algum dinheiro fazendo lives nesse site. Dizia que iria juntar para nos ajudar com a faculdade dele – dizia a mulher, um tanto emocionada com o modo carinhoso do filho. Ele estava sempre querendo ajudar os pais.

- certo. Ele tinha uma câmera mais potente. Onde ficava? – questionou olhando para os pais, que analisaram bem a escrivaninha antes de a mulher se aproximar do móvel.

- ela ficava bem atrás do primeiro monitor – respondeu a mulher, passando a mão em uma área da parede.

- bem aqui, acima da tv, apontada na mesma direção que a tela, para a cama – explicou a mãe da vítima e Stiles franziu o cenho.

- já tenho tudo o que preciso – falou Stiles antes de sair do quarto, ignorando qualquer tipo de etiqueta na hora de passar pelos pais da vítima.

- o que estava procurando? – questionou Peter assim que entraram na viatura que haviam usado para chegar até a casa da vítima.

- ainda não posso dizer o que ele está fazendo – respondeu Stiles, curto e seco, voltando o seu olhar para a janela.

- e o que conseguiu aí? – questionou Allison vendo o castanho dar de ombros.

- nada concreto ou que mereça ser ouvido... Ainda – respondeu o Stilinski, voltando a levar a mão ao lóbulo e só quando agarrou o vento foi que ele se lembrou de que não possuía mais os brincos.

Allison se viu tentada a questionar o motivo de o outro não estar usando brincos, mas decidiu manter-se afastada, já que o castanho não parecia querer conversar. Sem contar que não seria um bom assunto para se falar próximo ao delegado. Algum deles poderia acabar soltando que Stiles era um assassino. Uma informação que não poderia vazar de forma alguma.

- você parece ser bom, mas tem um jeito estranho – comentou o delegado, não se importando em ser indelicado em sua afirmação.

- gênios sempre são incompreendidos pelas pessoas – ditou o castanho, tratando de puxar um baralho da manga do seu casaco.

- realmente – murmurou o delegado e Peter sorriu, negando com a cabeça.

Quando eles retornaram para a delegacia, o castanho adentrou a sala do delegado primeiro, se dirigindo para a mesa do mesmo e passando a usar o computador do homem, sem dizer uma palavra se quer, o que deixou os agentes indignados e os detentos confusos.

- o que pensa que está fazendo? Usando o computador deste jeito! – questionou Scott se aproximando do castanho, que nada respondeu, apenas permaneceu a digitar com a mesma velocidade de Lydia, surpreendendo a todos, inclusive a própria agente Martin, que parou brevemente para encarar o trabalho do castanho.

- o que está fazendo? – perguntou a ruiva, voltando a digitar com velocidade.

- você vai ver. Agora, me diga uma coisa. Todas vítimas deste caso tinham os computadores no cômodo em que morreram? – indagou o castanho vendo a ruiva lhe fitar por um momento, antes de entregar uma pasta para Scott, que franziu o cenho, passando a folhear a mesma.

- sim. Todos foram encontrados nos cômodos em que os computadores estavam. São adolescentes, tem os seus próprios computadores – respondeu Scott continuando a passar a folha.

- todos tinham webcams ou câmeras conectadas ao computador? – questionou o assassino vendo o moreno franzir o cenho para si, mais uma vez, antes de voltar a folhear os arquivos.

- todos – respondeu Scott e logo Stiles sorriu, negando com a cabeça.

- o quê? Por que o sorrisinho? – questionou Scott, intrigado. Stiles apenas chamou o McCall com a mão, pedindo a pasta que o mesmo tinha em mãos.

Scott deu a volta na mesa do delegado, entregando a pasta para o castanho, que passou a analisar as fotos tiradas pelos legistas, antes de removerem os corpos do cômodo. As vitimas tinham lesões variadas em seus corpos, definidas como causas da morte. Golpe por hélice de ventilador de teto, cortes nos pulsos, asfixia causada por enforcamento e até mesmo intoxicação por sais de banho, em todas as fotos Stiles encontrava a prova do que suspeitava desde a casa da vítima da cidade.

- o que você está fazendo? – questionou o moreno de queixo torto ao ver o que era exibido no monitor do delegado.

- Peter – chamou Stiles e logo o louro se aproximou da mesa, olhando para o monitor e franzindo o cenho para o que via.

- o que... – o homem fora calado pelo castanho quando o mesmo ergueu uma carta de tarô em sua direção.

- O imperador...

Chapter 29: Gone

Chapter Text

- Peter – chamou Stiles e logo o louro se aproximou da mesa, olhando para o monitor e franzindo o cenho para o que via exibido na tela do mesmo.

Peter não fazia ideia de como Stiles havia feito aquilo. Ele se quer sabia que o castanho que cresceu dentro de um cubo a prova de balas possuía algum conhecimento avançado de informática. No monitor, era exibida a imagem de Lydia, que até agora não havia notado que o seu notebook particular havia sido hackeado.

- o que... – o homem fora calado pelo castanho quando o mesmo ergueu uma carta de tarô em sua direção.

Era uma carta grande, diferente das cartas comuns de baralho, mas de tamanho comum nas cartas de tarô. O fundo escuro estava voltado para Stiles, enquanto a parte com o desenho de um homem usando coroa e cetro sendo reverenciado por dois homens estava voltada para o louro e o moreno de queixo torto. O agente McCall não tinha nenhum conhecimento de tarô, muito menos conseguia ler as palavras estranhas escritas na carta. Já Peter... o homem conseguia muito bem ler o latim escrito na carta e sabia muito bem que Stiles queria fazer ele pensar.

- O imperador... – o louro leu as palavras em voz alta e só então Lydia notou estar sendo hackeada.

Ela estava tão focada em rastrear o computador usado para criar o site, que se quer notou o alerta do sistema que avisava que ela estava sendo invadida. A ruiva ignorou o rastreamento para se focar em defender o seu computador.

- estou sendo invadida – alertou enquanto começava a isolar, estranhamente, com facilidade o seu laptop.

- é o Stiles – informou Scott e a ruiva olhou para o castanho com desconfiança.

- por que diabos me hackeou? – indagou a ruiva vendo o castanho lhe ignorar para se focar em Peter.

- controle – murmurou o louro de cabelos penteados para trás chamando a atenção do grupo.

- controle? – questionou Derek, confuso, enquanto via Stiles guardar a carta do tarô.

- ele tem um jeito estranho de falar – comentou o delegado e Isaac sorriu.

- ele gosta de fazer a gente pensar. Ele diz que perde a graça se ele tiver que explicar as pistas sem nos deixar tentar primeiro – falou o Lahey, ainda encolhido.

- ele gosta de ensinar o jeito de pensar dos assassinos para quem ainda não entende muito – completou Vernon vendo Peter pegar os arquivos preparados por Lydia e passando todas as páginas, se focando apenas nas que tinham fotos das cenas de suicídio.

- é claro! Todas as cenas de suicídio tinham uma câmera. Ele gosta de estar no controle! - afirmou o Tate se aproximando do quadro e escrevendo “Webcam” no mesmo, deixando a maioria pensativa.

- espera. De onde você tirou essa ideia do controle? – questionou Vernon, confuso.

- O Imperador. No Tarô, ele é um símbolo para quatro significados: masculinidade, estabilidade, sexualidade masculina, e por último, controle. O imperador significa controle – respondeu Peter vendo Alice menear positivamente.

- olha, eu até entendo a estabilidade e controle, tudo a ver com imperador e tals, mas masculinidade? Que machista! – exclamou Erica, indignada.

- o tarô não é algo recente, Erica. É muito antigo, e suas cartas podem não ser símbolos apenas de uma coisa. Ele pode significar masculinidade, estabilidade ou sexualidade, como também pode simbolizar as três de uma única vez. Não quer dizer que o homem seja superior a mulher – explicou Peter enquanto removia as fotos dos arquivos em que mostravam que as câmeras estavam apontadas na direção dos corpos.

- ele hackeia os computadores quando as pessoas vão fazer o desafio! – exclamou Allison assim que se lembrou de Stiles questionando para onde a câmera apontava no quarto da única vitima da cidade.

- como é? – questionou Isaac, perdido.

- o ponto fraco que todos os Serial Killers têm em comum – murmurou Derek, pensativo.

- faz sentido. Todo serial killer gosta de ver a coisa acontecer. Só de saber que foi você que matou não lhe satisfaz o suficiente. Você tem que ver acontecer. Tem que presenciar a dor, a vida se esvaindo, ver o último suspiro. Esse cara hackeia os computadores das vítimas para fazer isso acontecer, para ver elas sofrendo e para ver a morte delas – explicou Erica vendo o louro de cachos tomar uma expressão pensativa.

- mas como, exatamente, ele sabe qual pessoa vai fazer o desafio da morte e como ele consegue hackear o computador a tempo de pegar tudo? Porque eu duvido que ele se contente em pegar o conteúdo pela metade – perguntou o Lahey, surpreendendo alguns com a sua pergunta.

- eles estão realmente aprendendo uns com os outros – falou Allison para Derek, que encarava Isaac se concentrar em Vernon enquanto o mesmo acrescentava mais questionamentos e argumentos à duvida do louro de cachos.

- eu não sei. Não consegui adentrar o site como administradora para poder analisar a sua estrutura. Não sei como ele funciona, ainda – respondeu Lydia, enquanto dedilhava rapidamente sobre o teclado do notebook.

- quanto tempo vai levar? – questionou Scott vendo a ruiva negar com a cabeça.

- eu não sei. O filho da mãe é mais esperto do que eu pensei. A defesa dele é muito boa! – exclamou a ruiva vendo quão preparado para uma invasão aquele website parecia.

Ela não se lembrava de ter tido toda aquela dificuldade para rastrear a origem do mesmo. Parecia até que o site havia sido turbinado para uma nova invasão desde que ela fez a última para encontrar a localização da origem do site. Parecia até que o criminoso por trás dele sabia que estava sendo caçado por eles.

- então ele é bom. Se possível, eu gostaria que reunissem mais informações sobre o estilo de agir dele. Vejam se encontram mais alguma ligação entre as vítimas do que apenas câmeras e esse jogo ridículo – disse Peter vendo todos menearem positivamente.

- peguem os nomes das vítimas, seus endereços e vasculhem suas redes sociais. Elas devem ter mais alguma coisa em comum. Só temos que encontrar – disse o louro vendo a equipe assentir mais uma vez.

- vocês quatro, analisem os arquivos preparados por Lydia. Scott, Allison, Peter e eu vamos vasculhar as redes sociais deles – ditou Derek e, no mesmo instante os quatro detentos passaram a dividir os arquivos.

- avise a sua equipe que é de crucial importância que nenhuma dessas informações saia daqui – falou Scott vendo o delegado menear positivamente.

- certo – ditou o homem já se retirando da sala e seguindo para o centro do outro ambiente, chamando a atenção de todos.

- não quero saber se é o espírito do Hallowen ou só mais um idiota se escondendo atrás de uma máscara digital, está aprontando no domínio errado – murmurou a ruiva ao ver que a sua tentativa de invasão havia sido interrompida.

 

 

 

 

 

 

- agente McCall falando – Rafael atendeu o celular enquanto saia de casa para o trabalho.

- é o Chris. Encontraram mais um corpo – disse o Argent, do outro lado da linha, fazendo o moreno parar na escada de acesso à entrada de sua casa e suspirar.

Aquilo já estava indo longe demais. Ele já havia perdido a conta de quantos corpos foram encontrados daquela forma. O homem já estava ficando preocupado de ser um novo Alice que ele estava perseguindo. A revelação de Stiles como o serial killer por trás de mortes tão macabras foi um choque para todo o FBI. Vários agentes de todo o país se dirigiram para Quântico para poderem ver o assassino mais procurado do país por anos.

Quase todos se viram indignados quando, ao chegarem na área de observação da sala de interrogatório, encontraram uma criança quase em sua adolescência, algemada a mesa enquanto sustentava um olhar perdido na direção da mesma. Rafael não pôde os julgar, na época, pois ele mesmo havia sentido aquela mesma indignação quando o agente Hale havia informado a verdadeira identidade de Alice.

Era impossível de se acreditar que aquele ser de estatura pequena e olhos brilhantes algemado na mesa de metal poderia ser o causador de tanto medo e o portador de tanta crueldade. O máximo que alguém daquela idade deveria poder fazer era jogar um carrinho na cabeça de um adulto. Mas Alice havia mostrado ao mundo a crueldade que uma criança poderia carregar e o que uma criança extremamente cruel poderia fazer.

A probabilidade de existir outra criança igualmente cruel não era inexistente, não era zero, era apenas pequena. E o fato de ela ser pequena, significava que, mais cedo ou mais tarde, outra Alice iria surgir e isso preocupava o homem profundamente.

Ao entrar no próprio carro, Rafael notou uma mulher estranha na esquina do quarteirão, olhando muito para o seu carro. Ele morava naquele bairro há anos e nunca havia visto aquela moça. Não havia recebido informação de morador novo na rua. Mas o que realmente lhe incomodava era a seriedade da mulher em olhar para o seu carro. Lentamente, o agente saiu do carro e se dirigiu para casa, tentando transparecer a naturalidade de quem esquece algo em casa e precisa voltar para a mesma. Ele adentrou a casa já ligando para Chris.

- o que houve? – questionou o Argent, estranhando a ligação do parceiro, sendo que mal haviam acabado de se falar.

- estão monitorando o meu carro – ditou Rafael fechando a porta de sua casa e, discretamente, verificando o lado de fora pela janela.

- é o quê? – questionou Chris, preocupado.

- estão monitorando o meu carro, Chris. Tem uma mulher estranha na esquina, olhando fixamente para o meu carro. Eu vou chamar o esquadrão antibombas para dar uma olhada nele – disse o McCall enquanto se dirigia até a própria mulher e sinalizava para a mesma tomar cuidado.

- o que houve? – questionou Melissa, em um sussurro.

- estão vigiando o meu carro – respondeu também em sussurro, vendo a mulher tomar uma expressão preocupada no rosto.

- eu vou avisar ao Deaton – falou o Argent e Rafael concordou, enquanto fazia a sua busca pela própria casa.

- e Rafael... Tome cuidado – ditou Chris antes de encerrar a chamada.

A campainha tocou e o moreno de olhos castanhos escuros olhou para a entrada da casa, preocupado. O agente McCall se dirigiu para a porta com cautela, já com sua arma na mão. Todo cuidado era pouco quando se era um agente federal. O homem chegou ao corredor, se colocando atrás da parede da porta com cuidado. Ele não queria ser descoberto antes de poder ver quem era. Ao olhar pelo olho mágico, o homem não viu nada ali, o que o deixou confuso.

Indeciso se abria a porta ou não, Rafael suspirou, se colocando de costas para a parede. Ele precisava abrir aquela porta, para verificar se realmente não havia ninguém ali. Respirando fundo e tratando de ser extremamente cauteloso, o agente se esgueirou para abrir a porta. Nada ocorreu. Ele esperava que alguém saltasse para o interior de sua casa, armado, mas não obteve nada do que esperava. Ainda com cautela, Rafael se dirigiu para o lado de fora. Ele vasculhou a varanda de sua casa, antes de, atentamente, olhar ao redor. Nada. Nem mesmo a estranha mulher estava por perto. Aquilo era estranhamente intrigante.

- RAFAEL! – o grito de sua esposa despertou o homem de seus devaneios.

O moreno de olhos castanhos correu, desesperadamente, para o interior de sua casa, subindo as escadas a passos rápidos e desesperados. Ele chegou ao próprio quarto, vendo a esposa segurando um taco de baseball com força enquanto olhava para algo no banheiro com pavor.

- o que houve? Você está bem? - questionou o agente McCall, analisando bem a mulher.

Melissa nada respondeu, apenas apontou para o banheiro do quarto do casal, cuja porta estava quase fechada. Rafael, irritado, tratou de preparar o dedo no gatilho e, cuidadosamente, empurrou a porta do banheiro, a abrindo. Ele não estava preparado para aquilo. Em um minuto ele estava cheio de fúria por estarem mexendo com a sua mulher, mas, assim que viu o estado do banheiro, a fúria se tornou receio, a sua coragem se tornou medo e a garganta secou como se não visse água havia dias.

O banheiro que, até poucos minutos, quando ele escovava os dentes, era branco com detalhes azuis, agora tinha os azulejos cobertos de vermelho. O banheiro estava pintado com respingos vermelhos e marcas de mãos nas paredes e teto, assim como havia poças vermelhas no chão. Abrindo a cortina da banheira, o homem se viu com mais medo ainda quando encontrou um manequim com uma peruca morena, com cachos iguais aos que Melissa usava no cabelo. A banheira estava cheia com líquido da cor de sangue e o manequim possuía um corte grande na garganta.

- não... – murmurou enquanto erguia o olhar, sendo atraído pela única coisa que não tinha tom de sangue naquele banheiro.

Desenhada com glitter azul, havia uma borboleta muito bem feita na parede a sua frente. Mas ela não era a única coisa azul ali. Escritas com letras garrafais haviam duas palavras também feitas com glitter azul.

“Fique longe”

Era o que dizia o recado na parede do seu banheiro. Instantaneamente, o homem olhou para a esposa, vendo a mesma respirar profundamente, tentando acalmar a si mesma. Rafael passou as mãos nos cabelos, tentando acalmar a ele mesmo. O homem precisava dar conforto para a própria esposa. Abaixando a própria arma e retirando o dedo do gatilho, o moreno saiu do banheiro, fechando a porta do mesmo e se aproximou da mulher.

- vai ficar tudo bem – murmurou enquanto abraçava a mesma.

- eu sei, meu amor. Eu sei. – falou Melissa após abraçar o marido brevemente.

- eu não vou deixar nada acontecer com você – ditou o homem e logo as mãos de Melissa se fixaram em seu rosto, fazendo um carinho leve ali.

- eu não estaria casada com você se eu não soubesse disso. Agora chame o seu pessoal para que eles examinem tudo e eu possa lavar esse banheiro – foi tudo o que a mulher disse antes de dar as costas para seguir para a área de serviços, onde prepararia tudo o que usaria para lavar o banheiro.

- E PEGUE O FILHO DA MÃE QUE SUJOU O BANHEIRO QUE EU LAVEI ONTEM! – gritou Melissa das escadas fazenda o marido rir brevemente.

- eles sabem – murmurou Rafael enquanto olhava novamente para a porta fechada do banheiro.

 

 

 

 

 

 

- há quantos dias você não dorme? – questionou Peter vendo Stiles embaralhar cartas.

O rapaz movia as cartas em sua mão com velocidade e precisam há quase duas horas, sem parar. Stiles estava mudo desde que havia lhe chamado para ver o computador do delegado. O castanho não pronunciava uma palavra há quase doze horas, o que era um recorde surpreendente, considerando todos os momentos do mesmo desde que a divisão fora criada. Aquilo já estava preocupando Peter, que cansou de esperar alguma coisa do assassino. No entanto, tudo o que Stiles fez para responder a sua pergunta, foi erguer uma carta de Paus com o número dez.

- dez dias?! – exclamou Isaac, surpreso.

- você sabe que precisa dormir – repreendeu Peter vendo o castanho sorrir irônico, enquanto erguia uma sobrancelha em sua direção, lhe surpreendendo.

- Sti, você sabe que o seu humor muda muito quando você perde muitas noites de sono – alertou Peter vendo o castanho se concentrar nas cartas.

- ele não parece se importar muito – ditou Scott vendo o castanho lhe fitar pelo canto dos olhos e sorrir divertido.

- vocês podem calar a boca? – pediu Lydia, irritada.

Stiles se ergueu, enquanto permanecia a embaralhar as cartas em suas mãos, e começou a caminhar na direção da porta, chamando a atenção de todos.

- para onde vai? – questionou Peter vendo o castanho abrir a porta com uma das mãos, enquanto permanecia a embaralhar com a outra.

- matar... O meu tédio – respondeu o castanho, surpreendendo a todos não só por finalmente falar, como também pelas palavras escolhidas por si.

- mas não vai mesmo! – exclamou Scott, mas, Stiles lhe ignorou prontamente, tratando de bater a porta com certa força.

- eu acho que a sua irmã quebrou ele – disse Isaac olhando para Derek, que estreitou o olhar em sua direção, em um “calado!” mudo.

- eu tenho certeza – ditou Erica deitada no chão, despojadamente, ignorando o olhar repreendedor de Derek.

- tenho que concordar – falou Vernon vendo o Hale praticamente rosnar para si.

- o quê? Vai dizer que ele era rebelde assim antes de sua irmã foder com tudo naquela noite? – questionou o Boyd vendo o moreno de olhos verdes descruzar os braços, irritado.

- cale a boca se não quiser voltar para a cadeia – rosnou o moreno de olhos verdes, saindo da sala irritado.

- Nossa! Tão profissional! – ironizou Isaac e Erica gargalhou.

- cheguei a me sentir inútil, por um momento! Mas aí me lembrei que eles não pegariam ninguém se não fosse pela nossa participação e vi quem realmente é substituível, aqui – ditou a loura de cabelos cacheados e Isaac gargalhou.

- eu nunca tinha pensado desse jeito! Gostei! – exclamou o Lahey e a loura apenas deu de ombros.

- Alice está certo quando diz que os policiais perdem a cabeça com uma arma na mão – ditou Vernon cruzando os braços e voltando a ler o arquivo que estava cobre a mesa do delegado, a sua frente.

- com você e ele não foi muito diferente, não foi? – questionou Lydia, irritada, antes de perceber o que havia dito.

Ao erguer o olhar para o prisioneiro, a mulher notou o olhar de todos sobre si. Scott estava sorrindo curioso, enquanto o resto lançava olhares questionadores. A ruiva tinha o costume de falar sem pensar quando se encontrava frustrada, como agora. A ruiva se viu envergonhada pelo que havia dito e abriu a boca algumas vezes, pensando em um modo de concertar aquilo.

- e-eu não quis dizer...

- não perca o seu tempo tentando camuflar os preconceitos que tem sobre cada um de nós. Apenas se concentre em achar o nosso alvo que é melhor – ditou o homem de cabelos raspados antes de fechar os arquivos e sair da sala, calmamente.

- gente, eu não quis dizer isso – argumentou a ruiva olhando para o resto da equipe.

- pensar não é tão diferente assim, sabia? – Erica rebateu a ruiva, enquanto olhava a mesma com indignação.

- gente! Eu não quis dizer isso. Mas também eu não estou tão errada. Eu só disse a verdade! – exclamou a ruiva tentando mostrar o seu ponto de vista

- eu não ouvi isso! – exclamou Erica enquanto se erguia.

- eu realmente não ouvi isso! – a loura voltou a exclamar, irritada, ao mesmo tempo em que saia furiosa da sala.

- Lydia, isso foi bem... Pesado – comentou Allison vendo a ruiva ficar indignada.

- mas...

- vocês dois são minha última esperança de que exista algum policial que não seja egocêntrico. Pelo amor de Deus, não me decepcionem – ditou Isaac olhando fixamente para Peter e Allison, antes de tentar sair da sala, calmamente.

- gente, eu não fui egocêntrica! Eu só rebati um argumento ridículo – exclamou Lydia, indignada.

- primeiro passo para ser um egocêntrico: negue que é um e argumente sobre isso. – ditou Isaac antes de fechar a porta.

- eu não fui egocêntrica, caramba! – exclamou a Martin vendo dois dos três agentes que restaram na sala suspirarem e nada falarem.

Enquanto isso, do lado de fora, Derek apertava o passo para seguir Stiles em meio a neve. O moreno de olhos verdes olhava para as costas do castanho com um olhar questionador. Stiles andava em meio a aquele frio com uma velocidade surpreendente para alguém que havia esquecido o casaco de neve na delegacia. O Hale carregava o casaco do outro em uma mão, enquanto a outra verificava se ele estava com a arma em sua cintura.

- STILES! – gritou Derek tentando fazer o castanho lhe esperar.

No entanto, Stiles não pareceu ouvir, ou pelo menos não se importou em dar ouvidos. O castanho, usando apenas o seu casaco comum de capuz, continuava a andar por entre a neve sem problema algum, ainda embaralhando o seu maldito baralho. Ele não parecia sentir frio, diferente de quase todas as pessoas da cidade, que olhavam para ele com surpresa no olhar. Derek ainda tentou correr atrás do castanho um pouco mais rápido, mas Stiles atravessou a rua no último instante, fazendo Derek ter que esperar que os carros passassem.

- QUE PORRA! – exclamou o moreno, olhando apreensivo para o outro lado .

Para a surpresa do agente Hale, Alice estava parado do outro lado da rua, sorrindo para si com um sorriso largo de mostrar todos os dentes. Um sorriso que Derek nunca havia visto em outro rosto antes. O castanho exibiu o baralho para o moreno de olhos verdes e falou algo para o mesmo. Graças ao seu treinamento na academia, Derek conseguiu ler os lábios do castanho sem problemas.

- me pegue se puder –

Stiles deu as costas, começando a caminhar lentamente na direção de um bosque que havia ali perto. Derek se viu apreensivo a medida que via o castanho se afastar. Assim que ele pôde, atravessou a rua o mais rápido que conseguiu, tratando de seguir a mesma direção de Stiles. A medida que corria, ele podia ouvir o som dos carros diminuir até não existir mais nada além do som do silêncio e dos seus gritos desesperados pelo castanho. Ele não poderia permitir que Stiles fugisse, pois aquela era ocasião perfeita para o castanho tentar.

- STILES! – Derek gritou mais uma vez e logo avistou o castanho, de costas para si, ao lado de uma árvore grande.

Uma risada alcançou os ouvidos de Derek e logo o castanho correu para o lado, passando por detrás da árvore. O agente voltou a correr, mas parou assim que notou que o castanho não saiu pelo outro lado. Stiles correu para a árvore com velocidade, mas não apareceu do outro lado da mesma. Desesperado, Derek correu até a árvore, e se assustou assim que notou que não havia nada atrás da mesma.

- mas onde porra...

- aqui! – exclamou Stiles, cortando Derek, e logo a sua mão surgiu de trás de outra árvore.

- Stiles, deixe de ser ridículo e venha já aqui! – ordenou o Hale seguindo a mão do castanho, mas a mesma retornou para detrás da árvore e Derek voltou a se ver surpreso quando não encontrou nada atrás da mesma.

- vamos, Derek. Mais animação. Você está muito devagar – disse o Stilinski antes de sair de trás de outra árvore e correr em uma direção qualquer, sempre sem mostrar o rosto para o Hale.

- STILES! – repreendeu Derek começando a seguir o castanho.

- pelo visto, você era horrível de esconde-esconde em sua infância – ditou Stiles e Derek se viu irritado.

- eu odiava esconde-esconde – rosnou Derek antes de saltar e tentar agarrar o castanho, pelas costas, mas o mesmo desviou de si, fazendo o moreno cair no chão, e voltou a se esconder atrás de uma árvore enquanto gargalhava.

- e por que acha que eu escolhi brincar disso com você? – indagou Alice e Derek nem se deu ao trabalho de ir olhar atrás da árvore, ele apenas se preparou para quando o castanho saísse de trás de outra árvore, ele não sabia como Stiles estava fazendo aquilo.

- por que está fazendo isso? – questionou o Hale atento a tudo ao seu redor.

Para a surpresa de Derek, Stiles não apareceu mais, no entanto, não deixou de demonstrar que estava ali. O moreno se viu surpreso quando um às de copas passou voando, girando, diante do seu rosto, fazendo a curva diante as ponta do seu nariz e desaparecendo atrás de uma árvore. Derek olhou na direção de onde viera a carta, esperando que Stiles se manifestasse dali. Outra carta passou voando, desta vez vindo de suas costas.

Assim se seguiu os próximos cinco minutos, Stiles lançando cartas e Derek se perdendo em todas das direções de onde elas vinham. O moreno girava e girava, tentando localizar o castanho atrás de todas aquelas árvores, mas Stiles parecia estar invisível, pois ele se quer o via se mexer atrás das árvores. Até que, de repente, nada mais foi lançado.

- você é péssimo nesse jogo – ditou Stiles ainda escondido.

- o seu pai era bem melhor – falou o castanho deixando Derek furioso.

- cale a boca! – repreendeu Derek e logo Stiles saiu de trás de uma árvore, correndo na direção de outra.

- ah, era tão bom verno quanto ele e Peter se esforçam para me pegar. Se esforçavam mesmo. Eles davam o sangue para tentar me pegar, mas conseguiam avançar tão pouco. Enquanto eles dois avançavam bem devagarinho, o resto do FBI parecia um bando de baratas tontas. Andando para qualquer lado, achando que vão encontrar a saída do jardim de copas. – dizia o castanho, sorrindo em deleite, ainda escondido atrás de uma árvore.

- você tem que melhorar – disse o castanho e Derek já estava irritado ao ponto de sacar a própria arma.

- calado! – repreendeu mais uma vez.

- se eu fugir, quem vai me pegar? – questionou o castanho, voltando a correr e Derek disparou, errando por pouco. Alice sentiu, perfeitamente, quando a bala passou ao lado de sua coxa, derretendo a sua calça e esquentando a sua pele.

- sabe, é preciso dois agentes muito bons para me pegarem. Peter ainda dá para o gasto, mas o seu pai não está mais aqui para brincar comigo sendo a dupla do Peter – ditou o assassino correndo mais uma vez e Derek disparou, vendo quando a bala acertou a terra atrás da perna do castanho assim que o mesmo havia passado.

- LAVE A SUA BOCA PARA FALAR DO MEU PAI! – ordenou o Hale, furioso, antes de começar a procurar pelo castanho.

- você tem que substituir o seu pai, Wolffie – falou o assassino correndo mais uma vez, e desta vez Derek disparou duas vezes, errando quando Stiles deu um mortal antes de o moreno disparar a segunda bala.

Para a surpresa de Derek, Stiles lançou uma carta em sua direção, em meio ao mortal, fazendo a mesma acertar o seu rosto, lhe forçando a piscar duas vezes e coçar o rosto rapidamente. Foi tempo o suficiente para o castanho lhe alcançar, chutando a sua mão, fazendo a sua arma voar longe. Stiles tentou socar o Hale, mas o mesmo se abaixou, tentando acertar um gancho no castanho, mas o mesmo deu um mortal para trás, desviando.

- Scott não têm a sua determinação em me prender, muito menos cérebro para isso – ditou o castanho avançando e tentando acertar o calcanhar no queixo do moreno, ao girar no próprio eixo, mas o outro bloqueou o golpe.

- desgraçado – rosnou o Hale tentando segurar a perna do assassino, mas o mesmo aproveitou o agarre na sua perna e se impulsionou, usando o pé livre para chutar o rosto do moreno, que soltou a perna do outro para bloquear o chute cruzando os braços na frente do rosto.

Foi nesse momento em que Stiles lhe acertou um chute na boca do estômago, gargalhando.

- Allison é melhor com as armas do que você, mas é muito sentimental, mesmo com a determinação que tem. Lydia até poderia me achar, mas me pegar? Nem fodendo. – disse o castanho, gesticulando calmamente antes de Derek se aproximar, furioso e tentar lhe acertar um soco no rosto, mas o Stilinsk passou por debaixo do braço do mesmo e girou, tentando uma cotovelada no rosto do homem atrás de si.

O castanho fora surpreendido quando o cotovelo do Hale acertou o seu rosto ao mesmo tempo em que o seu cotovelo acertava o dele. Os dois giraram para lados contrários, com a mão no rosto. Derek furioso e Stiles sorrindo divertido. Os dois se olharam antes de avançarem um contra o outro. Stiles tentou um soco, mas Derek segurou o seu pulso e o puxou para si e lhe agarrou o pescoço com o outro braço, fazendo as suas costas grudarem no peito do agente. Stiles sorriu largo com o aperto em seu pescoço.

- pelo menos você é melhor de briga do que o seu pai – disse o castanho e Derek se viu mais furioso ainda.

O ódio queimava nas veias do moreno de olhos verdes, que apertou ainda mais o abraço no pescoço do Stilinski, enquanto torcia um dos braços do mesmo. Derek chegava a respirar pesadamente de tanta raiva que sentia. Ele aproximou os lábios da orelha do castanho para falar com o mesmo com mais raiva ainda, enquanto se concentrava em enforcar o mesmo com força.

- já disse para lavar a boca antes de falar do meu pai – rosnou o moreno não podendo ver o sorriso do castanho se tornar ladino.

- ainda assim, não é grande coisa – ditou Stiles antes de erguer a perna esquerda em um ângulo de 180 graus, fazendo o seu joelho acertar o rosto do Hale, que acabou lhe soltando. No mesmo instante, Stiles se abaixou e girou rapidamente, acertando o pé nas costas do joelho do agente, o derrubando no chão.

- você não é como ele – suspirou o assassino, um tanto desanimado, enquanto Derek se erguia rapidamente. O Hale começou a avançar no castanho, tentando o agarrar pela cintura e o erguer do chão, mas o mesmo lhe chutou o rosto com facilidade, lhe fazendo cair para o lado.

- eu pensei que talvez, por ter o mesmo sangue, você seria o suficiente. Mas eu me enganei. Talvez eu tenha que usar todos vocês para substituir o seu pai – disse o castanho antes de se esconder atrás de uma árvore mais uma vez.

- você não é o suficiente para deixar o jogo excitante... Você tem que melhorar antes de brincar comigo – disse Alice enquanto o moreno se erguia.

- APAREÇA! – rosnou Derek enquanto erguia os punhos antes de cuspir no chão o sangue que havia em sua boca.

No entanto, nada ocorreu. Nada de risadas, nem cartas voando, muito menos Alice correndo ao seu redor. Demorou alguns bons minutos para que Derek percebesse o que havia ocorrido. Stiles já não estava mais ali. Ele já não estava mais interessado em brincar consigo. Não estava interessado em permanecer ali.

Ele havia ido embora.

Chapter 30: Peekaboo

Chapter Text

Derek, ainda dolorido, analisava cuidadosamente o solo ao seu redor. Ele procurava algum sinal que indicasse a direção para qual Stiles seguiu. No entanto, não havia encontrado nada. Ele vasculhou por toda uma área ao seu redor, se surpreendendo, também, quando não encontrou nenhuma carta de baralho jogada pelo chão do bosque.

Nada.

Nem mesmo o Ás de Copas, que fora a única das cartas que ele conseguiu identificar enquanto voava, o agente conseguiu encontrar. Ele não conseguia compreender como Stiles havia feito aquilo. Depois da luta, Alice não apareceu nenhuma vez, então não podia ter pego as cartas depois de ter lhe derrubado. O tempo em que ele passou deitado, se recuperando do chute em seu rosto não era o suficiente para ele ter percorrido todo aquele perímetro e ter recolhido todas as cartas, a não ser que ele fosse o Flash.

Desesperado por não conseguir ir atrás do castanho sozinho, o agente Hale resolveu que precisava alertar aos outros. O moreno de olhos verdes parou por alguns segundos, enquanto tentava se localizar em meio ao bosque, antes de correr na direção em que julgava ser a cidade. Ele demorou alguns minutos para alcançar a rua que separava a cidade do bosque, para em seguida atravessar a mesma com pressa, agradecendo aos céus por não haver carro nem um passando no momento de sua travessia.

Ele estava tremendo. Não apenas de desespero por não poder encontrar Alice, como também morrendo de medo pela segurança de sua família. Pela segurança de Laura. Se Stiles fosse atrás de sua família, com certeza ele iria começar por Laura. A mulher havia causado uma dor sentimental ao castanho no momento em que pisoteou os brincos do mesmo. Era óbvio que ela seria a primeira vítima do assassino de cabelos castanhos. Assim que alcançou a delegacia, Derek adentrou a mesma com velocidade, assustando os oficiais, os deixando em alerta. O moreno de olhos verdes abriu a porta da sala do delegado bruscamente, assustando os agentes no interior da mesma.

- o que houve? – questionou Scott ao ver o estado do parceiro. Derek arfava e tremia descontroladamente.

- Alice fugiu! – alertou o Hale, alarmado.

- O QUÊ?! – gritaram Allison, Lydia e Scott, descrentes do que haviam acabado de ouvir.

No mesmo instante, todos os agentes se ergueram de seus assentos, olhando desesperados para o moreno de olhos verdes, vendo o mesmo olhar questionador para o tio, que fora o único que não havia se erguido. Peter, com toda a sua calma, havia apenas franzido o cenho para o sobrinho, olhando questionador para o mesmo. Logo, não era apenas Derek que encarava o louro de cabelos penteados para trás com desconfiança.

- você tem certeza disso? – questionou Peter vendo o sobrinho olhar indignado para si.

- e por que raios eu mentiria sobre isso?! – indagou Derek, irritado com a desconfiança do Tate em si.

- bom, eu não acho que você esteja mentindo. Apenas acho que você pode estar interpretando as coisas de uma maneira um pouco errônea – respondeu o louro gesticulando com uma mão antes de cruzar os braços sobre os joelhos, inclinando o torso para a frente.

- qual é o seu problema?! Por que raios confia tanto nele? – inquiriu Scott, indignado.

- sou realmente eu que tenho um problema? – questionou Peter enquanto rolava a página de atividades do Twitter de uma das vítimas.

- do que porra você está falando? É você que tem um problema. Confia neles como se fossem extremamente confiáveis – respondeu Lydia vendo o louro sorrir, negando com a cabeça.

- é porque eles são extremamente confiáveis. Eu sei em quem eu devo confiar, Lydia. Vocês ainda não entenderam? Eles não são como Enis e Kate, ou qualquer outro criminoso que vocês já pegaram antes – argumentou Peter chamando a atenção do grupo de agentes.

- ah, me poupe, Peter! Não temos tempo para a sua ladainha dramática. Criminosos são criminosos. O Stiles simplesmente lutou comigo e correu para Deus sabe onde! Temos que ir atrás dele! – exclamou Derek já abrindo a porta e ele, Lydia e Scott saíram por ela correndo.

Allison parou na porta, pensativa, antes de olhar para Peter, que se ergueu e tratou de seguir para o computador de Lydia, fechando o trabalho da ruiva. Uma vez que pausada, uma tentativa de invasão era facilmente detectada e anulada. Logo, a Martin não iria precisar daquele progresso perdido. O louro tratou de começar a digitar no sistema de busca do FBI. Seria bem mais fácil rastrear alguma movimentação similar entre as vítimas deste modo. A agente Argent estava em dúvida se iria com os outros ou não. Ela confiava em Peter, mas sempre se questionou se era viável acreditar nessa confiança cega que o homem tinha nos detentos. A sua tia e Enis já haviam quebrado as regras. O que tornava Kate e Enis tão diferentes assim dos outros quatro?

- você não estava indo caçar Alice? – questionou o Tate vendo, de soslaio, a Argent suspirar antes de sair e fechar a porta.

- dez noites não devem ser o suficiente – murmurou o louro, um pouco receoso.

- não para ele matar sem motivo – finalizou o Tate, ainda um tanto receoso do que Stiles poderia fazer sozinho.

Não que ele estivesse pensando que o castanho fosse tentar fugir ou coisa do tipo. Ele confiava em Stiles. Se o castanho havia dito que não fugiria, então assim ele faria. No entanto, o que preocupava o agente de fios louros era o humor do rapaz. Como ele havia dito anteriormente, o humor de Alice mudava de acordo com a quantidade de noites de sono perdidas. No momento, a única coisa que deveria estar impedindo Stiles de matar era a sua consciência. E Peter rezava com todas as forças para que a mesma continuasse reprimindo a sede de sangue do castanho. Pois uma vez que Stiles voltasse a matar enquanto o seu humor estava alterado, eles estariam perdidos.

- você não pode voltar para o País das Maravilhas, garoto. Não mais – murmurou o homem enquanto continuava o seu trabalho no computador, tentando esvaziar a sua mente de suas preocupações com o prisioneiro pelo qual ele era o responsável.

 

 

 

 

 

 

 

- você sabe que não deve dar ouvidos para isso, certo? – questionou Erica enquanto via o homem de porte musculoso olhar brevemente para si, antes de voltar a desviar o olhar para os arquivos, nervoso.

- é. Eu sei que não devo – respondeu o Boyd vendo a loura se aproximar um pouco mais e lhe tocar o ombro com a mão, apertando o mesmo suavemente.

- pelo visto, só o Peter presta, ali – comentou a mulher de cachos, sorrindo tímida.

- a Allison também é gente boa – argumentou Vernon e a Reyes estreitou o olhar em sua direção, perdendo levemente o sorriso por alguns segundos, antes de voltar com um mesmo usando de um certo entusiasmo.

- então... você está afim dela? – indagou a loura vendo o homem a sua frente engasgar com a pergunta, enquanto tentava passar a folha do arquivo, quase rasgando a mesma.

- n-não! Claro que não! Quer dizer, ela é bonita, engraçada e legal. Mas eu não gosto dela – respondeu o traficante da equipe vendo a mulher ao seu lado menear positivamente.

- então você gosta dela, mas não desse jeito – esclareceu a Reyes vendo o homem de cabelos raspados menear positivamente.

- isso! – respondeu o Boyd vendo a mulher menear positivamente.

- você... – a loura olhou ao redor para ver se não estavam sendo observados, constatando que os dois estavam sozinhos na entrada da delegacia.

- você foi preso por tráfico de armas. Em que parte do esquema você ficava? – questionou Erica, em um sussurro, vendo o homem lhe fitar questionador.

- eu... – o Boyd iria responder a pergunta da mulher, mas parou assim que ouviu a porta da delegacia se abrindo.

- é melhor deixarmos para conversar sobre isso quando voltarmos para a nossa base – murmurou o homem vendo Derek sair da delegacia às pressas, junto de Scott e Lydia.

- Vocês dois, para dentro. Agora! – ordenou Scott enquanto se dirigia para uma das viaturas.

- ah, agora quer mandar no local em que devemos ficar?!- exclamou Erica, indignada.

- o que aconteceu? – questionou Vernon, entediado, notando o desespero dos agentes.

- Alice fugiu – ditou Derek surpreendendo os dois prisioneiros.

- mas nem fodendo! – exclamou Erica, indignada.

- ele acabou de fugir. Vocês dois, procurem o Isaac e fiquem com o Peter! – ordenou Derek usando de um tom de voz autoritário.

- mas o que está acontecendo com vocês, hoje?! – perguntou Erica, tão irritada quanto o agente Hale transparência estar.

- vocês tem certeza de que o Stiles fugiu? – indagou Vernon, desconfiado.

- MAS QUE PORRA! A GENTE JÁ FALOU QUE SIM, CARALHO! AGORA PROCUREM O ISAAC E ENTREM NA PORRA DA DELEGACIA! – gritou Scott, impaciente, apontando para o interior da delegacia.

- O QUE PORRA MORDEU VOCÊS, HOJE?! – gritou a loura, revoltada.

- Erica, deixe para lá. Vamos apenas obedecer – falou o Boyd, abraçando a companheira de equipe pelos ombros, tentando conter a mesma caso ela tentasse algo.

- ora! Esses caras... – resmungou a loura enquanto os dois adentrava a delegacia.

Erica já estava ficando impaciente com o modo como os agentes estavam insistindo em tratar eles naquele caso. Ela poderia até ser uma prisioneira perigosa com grandes instintos de sobrevivência, mas ainda assim ela não havia adentrado na equipe para ser tratada como uma criança. Não carregar armas? Ela até entendia aquele lado do acordo. Mas ser colocada de castigo por um surto dos agentes já era demais. Ela precisava respirar e se acalmar, pois se continuasse daquele modo, ela iria ter um ataque. E se havia uma coisa que Erica Reyes gostava de evitar, era um ataque.

- isso é inadmissível! – exclamou a loura, irritada.

- Erica, respire. Eles são uns idiotas. Sabe que não deve dar ouvidos para eles – ditou Vernon tentando acalmar a companheira de equipe.

- eu sei! Mas isso não justifica, cara! – exclamou a mulher, ainda indignada.

- Erica, olhe para mim – chamou Vernon se colocando na frente da loura de cachos, vendo a mesma aos poucos ser dominada pela indignação e raiva que sentia.

- a vontade que eu tenho é de furar um olho de cada um! – ditou a mulher enquanto cerrava um punho com vontade.

- Erica! – repreendeu o Boyd vendo a mulher suspirar.

- o que foi? – questionou olhando nos olhos castanhos do homem a sua frente.

- você tem que se acalmar – pediu o homem vendo a loura respirar fundo.

- eu estou tentando. Mas é só eu me lembrar das coisas que eles disseram e eu já fico puta de novo! – exclamou Erica vendo o homem lhe segurar pelos ombros, fazendo um leve carinho nos mesmos com os dedos. Aquilo pareceu acalmar a mulher, que relaxou aos poucos.

- se você se deixar levar, apenas vai dar razão para eles – explicou o homem vendo a mulher de cabelos louros suspirar, enquanto se acalmava.

- como consegue ficar tão calmo com isso? – questionou a Reyes, surpresa com a atitude pacifica do homem a sua frente.

- quando começamos com nossas vidas de crime, nós sabíamos que se fossemos pegos seríamos tratados desse jeito por eles. Então estamos apenas colhendo o que ganhamos para plantar – murmurou o Boyd, tendo que se aproximar um pouco mais para que apenas a loura escutasse.

Por um momento, a mulher se lembrou de todos os momentos em que pensou se realmente valeria a pena seguir pelo caminho que ela trilhou para chegar até ali. Ela se lembrava de cada questionamento, cada dúvida, cada hipótese que a sua mente confusa e repleta de adrenalina produziu naquela época. E foi se lembrando de todos aqueles momentos e pensamentos que Erica tratou de se acalmar, lembrando-se que ela havia escolhido sobreviver daquela forma.

- você tem razão. Foi idiotice e hipocrisia minha esperar algo diferente – ditou a loura com suavidade, ao mesmo tempo em que reprimia a própria raiva e indignação no fundo do seu ser.

- relaxa. Está tudo bem. Apenas ignore eles – ditou o Boyd vendo a sobrevivente da equipe menear positivamente.

- obrigado – agradeceu a Reyes vendo Vernon sorrir minimamente em sua direção.

- de nada. Estamos no mesmo barco, aqui. – falou o homem antes de os dois adentrarem a sala do delegado, encontrando Peter sentado na frente do computador de Lydia e Isaac sentado em uma das poltronas.

 

 

 

 

 

 

 

- o que porra aconteceu entre vocês para ele fugir? – indagou Lydia, nervosa.

- nós dois brigamos – respondeu Derek e a ruiva lhe fitou com uma expressão irônica.

- ah, não me diga! Você tem certeza?! Eu jurava que vocês tinham tomado um cafezinho igual a duas senhorinhas! Dados uns abraços, chorado no ombro um do outro e tudo estava bem – ironizou a Martin enquanto via o Hale rolar os olhos.

- me desculpe se eu fui atrás do cara justamente para tentar impedir que ele fugisse, rainha das críticas! – ralhou Derek, irritado, ao mesmo tempo em que dirigia pelas ruas da pequena cidade do interior do Alasca.

- ah, e obteve muito sucesso, senhor coleira de cachorro grande – rebateu a Martin vendo o Hale lhe fitar furioso.

- pelo menos eu estou fazendo o meu trabalho! – argumentou o homem, irritado.

- não! Você está fazendo o trabalho do seu tio! O seu trabalho é tomar conta da Erica, mas você é tão cabeça dura e tão egocêntrico que esquece que o mundo não gira em torno de você e do psicopata sem controle. Você nem mesmo percebe que sempre que você se mete a cuidar do trabalho do seu tio, você só faz merda! – rebateu a ruiva vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar indignado.

- vocês dois querem calar a boca? Discutir aqui não vai prender ele de novo! – ralhou Scott irritado com toda a discussão dos dois companheiros de equipe.

- se Alice fugiu, para onde ele pode ter ido? – indagou Allison para si mesma fazendo todo o grupo pensar em silêncio.

- algum depósito – respondeu Derek vendo a ruiva lhe fitar pensativa.

- é muito óbvio. Esse foi o primeiro esconderijo em que seu pai encontrou ele. Alice não seria idiota de repetir essa façanha tão clichê – argumentou a ruiva e o moreno de olhos verdes pensou por um tempo.

- do jeito exato que ele achou que pensaríamos – contra-argumentou o moreno e a ruiva voltou a pensar, notando o sentido nas palavras do Hale.

- Stiles se denomina Alice por um motivo: ele não pensa como todo mundo. Ele pensa muito fora dos padrões. Ele realmente parece viver em um País das Maravilhas. Quando você pensar que não faz sentido, faz o maior sentido do mundo quando se trata dele – explicou Derek vendo o a ruiva menear positivamente, enquanto retirava o celular do bolso.

- eu vou procurar todos os galpões que ele possa usar para ficar por algum tempo – ditou Lydia começando a mexer no próprio celular, surpreendendo Scott, que se esgueirou para olhar diretamente para a ruiva.

- consegue fazer isso pelo celular? – questionou o McCall, bastante surpreso.

- meu querido, olhe com quem você está falando. – foi tudo o que a ruiva disse antes de abrir o GPS do celular, mostrando apenas dois pontos marcados com um círculo vermelho.

- só há dois lugares que ele pode usar. Um no cais e outro em uma fazenda aqui perto – falou a Martin e logo Derek virou o carro bruscamente, puxando o freio de mão, fazendo as rodas traseiras derraparem pela pista quando a viatura fez uma curva em noventa graus.

- vamos na fazenda primeiro – ditou Derek e logo ele acelerou, fazendo o motor do carro roncar com força.

Eles demoraram muito pouco para convencer os donos da fazenda a permitirem que eles vasculhassem o galpão onde guardavam algumas máquinas e rações. Eles praticamente reviraram o galpão de cima à baixo, mas não encontraram nada. Não havia nenhum sinal de Alice. Nem mesmo uma mísera carta de baralho provocativa dizendo que ele havia passado por ali. Pedindo desculpas pelo incomodo, Allison se retirou da presença dos donos da fazenda, antes de adentrar a viatura para que, enfim, pudessem seguir para o cais.

Eles tiveram que invadir o galpão do cais, usando uma janela aberta no andar de cima como entrada. Eles, cuidadosamente, vasculharam todo o local. Aquele galpão fora mais difícil de se vasculhar do que o da fazenda. Havia alguns barcos pendurados e desmontados, o que gerava uma desconfiança de que Stiles estivesse escondido em algum deles, e iria saltar dali a qualquer momento. No entanto, para a frustração ou desespero dos agentes, Stiles não estava ali. Não havia, novamente, se quer uma carta de baralho ou qualquer outro sinal da presença do assassino ali.

- MAS QUE PORRA! – gritou Derek, irritado chutando uma caixa de madeira que havia ali.

- nós já o perdemos – ditou Lydia, se jogando sentada no chão, com uma das mãos sobre os lábios, enquanto a outra, que outrora segurava a sua arma, estava servindo de apoio para a sua cabeça

- nós deixamos o maior assassino dos Estados Unidos fugir – murmurou Scott, desesperado.

O peito dos três martelava em temor e desespero. Eles não queriam nem imaginar o caos que viria a seguir. Primeiramente, eles perderiam os seus empregos. Mas esta não era a parte mais assustadora. A parte que mais temiam não era os seus empregos nem a fama que ganhariam com tal falha em sua divisão. A parte mais assustadora daquilo tudo eram as mortes que estariam por vir. Stiles precisou de um ano para ser pego. Um ano inteiro deixando pistas de onde ele estaria, o que faria. Um ano desde que teve a sua identidade descoberta pelo pai de Derek. Um único ano brincando de pique esconde com o FBI. Isso com menos de quinze anos de idade. A ideia do que ele poderia fazer em sua fase adulta chegava a deixar os membros dos três agentes trêmulos.

- ainda podemos pegar ele. Ele não deve ter ido muito longe. Estamos no Alasca. O frio deve reduzir o ritmo dele – argumentou Lydia vendo Scott concordar consigo, mas Derek negar com a cabeça

- nada do que pensamos funciona com ele. Quando brigamos, ele não estava usando o casaco de frio dele. Alice estava usando as roupas que ele sempre usa. E ainda assim corria mais rápido do que eu – argumentou o moreno de olhos verdes vendo a ruiva lhe fitar com desespero no olhar.

Estava ficando cada vez mais difícil manter as esperanças daquele jeito. Sempre que pensavam em algo, descobriam que não se aplicava a Alice.

- não adiantou nada pensar fora dos padrões – ralhou Scott, irritado, socando a porta do galpão

- ele não repetiu o padrão. Então deve ter usado outro – ditou o moreno de olhos verdes começando a pensar, tentando descobrir um outro tipo de esconderijo que Stiles pudesse usar.

Allison franziu o cenho quando ouviu a palavra padrão pela segunda vez seguida. A sua mente estava começando a trabalhar com mais velocidade e precisão do que as mentes de seus companheiros de divisão. Ela era a que parecia estar mais calma diante daquela situação. E foi por isso que ela conseguiu ligar cada ponto com precisão. Desde os atos de Stiles na delegacia, até a descrição da briga que Derek deu no carro enquanto se dirigiam de um galpão para outro, até aquele momento. A agente Argent se viu surpresa quando tudo se encaixou perfeitamente em sua cabeça.

- filho de uma mãe! – exclamou a morena já se dirigindo para fora do galpão.

- o quê? O que foi? – questionou Scott, curioso.

- eu sei onde ele está – respondeu a morena pegando as chaves da viatura da mão de Derek e se dirigindo para a mesma com velocidade.

- sabe?! Onde? – indagou Lydia, surpresa, ao mesmo tempo em que todos adentravam o carro.

- Derek estava certo – afirmou a morena de cabelos amarrados em um rabo de cavalo ligando a viatura e pisando no acelerador.

- estava? – questionou Scott, confuso.

- fala logo de uma vez, Allison! – ralhou Lydia, já não aguentando mais aquele suspense.

- pensem bem. Alice estava entediado e completamente revoltado. Ele saiu da delegacia dizendo que iria matar. Matar o tédio dele para passar o tempo. E que jeito melhor de passar o tempo do que nos fazendo prestar papel de idiotas na frente do Peter, do Isaac, do Vernon e da Erica, enquanto, novamente, mostrava a sua superioridade em relação a lei? – indagou a agente de cabelos longos e escuros, enquanto dirigia com certa velocidade pelas ruas calmas da cidade.

- então é tudo um jogo? – questionou Scott, indignado.

- Alice no País das Maravilhas sempre foi cheio de fantasia e jogos. A rainha de copas, o exército de cartas vermelhas, a festa do chá, o gato que gosta de ficar invisível e brincar de siga o mestre, a lagarta que faz charadas. Stiles sempre deixou bem claro que a vida, para ele é um jogo – explicou Allison enquanto via Derek, ao seu lado, no banco da frente, tomar um olhar pensativo.

- então ele não fugiu? – indagou Lydia, no banco de trás, um tanto perdida.

- Ele não fugiu. Ele fez com que o Derek pensasse que ele tinha fugido, pois assim ele iria despertar o nosso desespero pelo fato de o maior assassino do país ter fugido bem debaixo do nosso nariz – afirmou a Argent vendo quando o moreno de olhos verdes olhou para baixo, processando tudo o que havia ouvido.

- então ele usou o Derek? – questionou Scott vendo a morena fazer a curva para se dirigir para o centro da pequena cidade.

- ele usou todos nós – respondeu Lydia indignada por ter se deixado levar tão facilmente.

- e onde ele está? – inquiriu Derek, e sentindo inferior.

- Alice foge dos padrões. Qual é o único lugar desta cidade inteira que nós nunca iriamos procurar por um prisioneiro? – perguntou a Argent vendo o moreno de olhos verdes sentado ao seu lado olhar pensativo em sua direção.

- qual? – perguntou o Hale, não conseguindo pensar em nenhum lugar desse tipo.

- a delegacia – respondeu Allison e, em um estalo, a mente de todos eles começaram a trabalhar.

- PUTA QUE ME PARIU! – gritou Scott se jogando contra o encosto do banco de trás, com as mãos cobrindo o próprio rosto.

- como sabe que ele está lá? – perguntou a agente Martin vendo a companheira de equipe começar a se aproximar da delegacia.

- tudo ficou claro quando eu me lembrei do Peter. Ele ficou temeroso quando Stiles disse que iria matar. Eu não sei se vocês perceberam, mas ele relaxou quando Stiles completou, dizendo estar se referindo ao tédio – respondeu Allison enquanto via o prédio da delegacia se aproximar.

- eu notei, sim. Mas como isso liga uma coisa a outra? – questionou Derek, não compreendendo onde a Argent queria chegar com aquilo.

- quando Stiles falou que iria matar o tédio dele, ele estava embaralhando cartas na mão. Ele parou de embaralhar com as cartas viradas para o lado do Peter, e a carta do Coringa estava a mostra. Aquilo era um sinal para o Peter não se preocupar. Por isso que ele não entrou em desespero quando você chegou dizendo que o Stiles fugiu. Porque ele sabia que o Stiles estava brincando com você. Ele sabia que o Alice estava usando a gente! – explicou Allison se lembrando bem do momento em que Stiles saiu da sala, antes de Derek seguir o mesmo com pressa.

- mas que filho da mãe! Ele nos fez perder tempo! – ralhou Scott, furioso.

- mas o que porra o seu tio tem na cabeça?! – exclamou Lydia, revoltada.

- nem eu sei, Lydia. Nem eu sei. Tem vezes que chego a pensar em pedir para removerem ele da divisão. O Peter parece ter perdido o juízo – ditou Derek apoiando a cabeça no punho e o cotovelo na porta.

- vocês são doidos. Peter é um gênio! – afirmou Allison rindo e estacionando na frente da delegacia.

- um gênio?! – indagou Scott, indignado.

- se vocês não perceberam ainda, deveriam passar menos tempo criticando e mais tempo observando – ditou a Argent e os quatro adentraram a delegacia apressados.

Assim que abriram a porta da sala do delegado, eles puderam ver Isaac, observando Stiles digitar freneticamente no teclado do computador do delegado, enquanto o louro segurava o que parecia ser um copo de raspadinha para o castanho com uma mão, e com a outra segurava um copo para ele mesmo. Erica analisava o quadro, agora com mais alguns dados escritos no mesmo, com um canudo idêntico ao que Stiles estava sugando, enquanto Vernon finalizava a própria raspadinha, mexendo no celular de Peter, ao mesmo tempo em que o Tate digitava algo no computador de Lydia. Quando ouviu a porta se abrir, Stiles sorriu largo, libertando o canudo da raspadinha do aperto leve de seus lábios.

- mas o que está acontecendo? – indagou Scott vendo Erica ligar alguns pontos no quadro.

- você é cego? Ou apenas é estúpido? – inquiriu Isaac levando o seu copo de raspadinha para perto do rosto, passando a sugar o canudo do mesmo, produzindo sons que indicavam que o conteúdo chegara ao fim.

- estamos trabalhando – respondeu Vernon, calmamente, ignorando os quatro agentes.

- enquanto vocês estavam dando um tour pela cidade, nós finalmente obtivemos algum progresso – ditou Erica cruzando os braços antes de olhar para uma folha que tinha em mãos.

- a propósito: Peekaboo – disse Stiles antes de direcionar um sorriso vitorioso para os quatro agentes e se afastando do teclado.

Chapter 31: Assurance

Chapter Text

- Peekaboo – o sorriso maroto do castanho era direcionado para os quatro agentes, que o fitavam com indignação no olhar.

- Peekaboo? Ah! Peekaboo?! – indagou Scott, obviamente, revoltado.

- você simplesmente nos dá esse ataque cardíaco e nos vem “Peekaboo”?! – questionou Lydia, irritada.

- eu achei o computador. Está na biblioteca da cidade – ditou o castanho e logo todos os detentos pararam o que faziam e se dirigiram para os quatro agentes parados na frente da porta.

- onde pensam que vão? – questionou o McCall, vendo os quatro parados diante de si.

- investigar, dah – respondeu Isaac confuso.

- eu dirijo – ditou Allison já rumando para o lado de fora da sala.

- perfeito – ditou Peter enquanto ignorava a imagem de todos.

- eu vou ficar aqui e juntar mais informações. Vão para a biblioteca com a Allison – ditou Peter permanecendo a dedilhar no teclado do notebook de Lydia.

- eu vou... – o moreno de queixo torto estava pronto para dizer que acompanharia a amiga de infância e os detentos, quando fora cortado por Peter.

- ficar bem aqui. Allison vai ser a única a acompanhar eles quatro.  – ditou o louro, com seriedade, enquanto os detentos direcionavam seus olhares para o moreno, sorridentes, o que irritou o McCall mais ainda.

- vai mesmo deixar todos eles apenas com a Allison?! – questionaram os três agentes, lançando olhares questionadores para Peter.

- ridículos. Completamente ridículos! – a voz grave de Isaac soou fria e autoritária, chamando a atenção dos agentes para si. Quando os seus olhos caíram sobre o louro de cachos, os agentes engoliram em seco quando viram o olhar gelado que os fitava de cima enquanto sustentava um ar de superioridade.

- anos de estudo para isso?! Vocês são tão ridículos. – o Lahey voltou a proferir a ofensa com a sua voz fria e carregada de rancor. O homem os encarava com completo desgosto.

- foram feitos de idiotas e ainda querem bancar os bichos grandes – Erica soou debochada enquanto sorria largo na direção dos agentes. 

A mulher os encarava com diversão no olhar. Ela estava se entretendo ao ver os federais encarregados de lhes manter na linha conterem a vergonha que sentiam por ter o papelão que pagaram sendo exposto de forma tão ofensiva. Derek cerrou os punhos e Lydia engoliu em seco quando o sorriso debochado da loura morreu, e um olhar frio carregado de desgosto tomou os seus olhos.

- decepcionante. Vocês não valem nem a paciência que me consomem – a voz fria e o ar autoritário da mulher  fez com que Scott passasse a mão pelo rosto, tentando conter a raiva que crescia em si.

- sinceramente? Eu já esperava por isso – ditou Vernon, que sustentava um olhar tão frio e autoritário quanto os outros dois. A voz do Boyd era carregada de desgosto. O homem praticamente cuspiu as palavras na direção dos agentes federais.

- quanta falta de profissionalismo! – exclamou o homem de maior porte físico entre os detentos, cruzando os braços enquanto negava com a cabeça.

Aquela frase fora a gota d’água. Scott suspirou indignado antes de  avançar a passos pesados contra Vernon, que apenas lhe encarava com superioridade.

- escuta aqui, seu... – o McCall já aproximava o dedo indicador em riste do peito do homem quando ele fora afastado do traficante da equipe por um único golpe da palma limpa da mão de Erica em seu peito.

O golpe fora forte o suficiente para fazer o homem de queixo torto cambalear um passo para trás e perder parte do ar com o suspiro sôfrego que liberou. O agente McCall lançou um olhar indignado na direção de Erica, que ainda o encarava com desgosto, mas com as mãos erguidas, indicando que não ficaria parada caso o homem tentasse uma investida novamente. O moreno de olhos castanhos já estava pronto para questionar a atitude da mulher quando Allison interveio, se colocando a sua frente. A mulher se virou para os detentos, enquanto segurava Scott sutilmente pelos ombros.

- gente, por favor! Eu sei que... – a Argent fora calada pelo gargalhar alto de Alice que cortou o seu raciocínio. Ao olhar bem para o grupo de detentos, os agentes puderam ver Alice atrás de Vernon, de lado, sorrindo vitorioso, quase predatório.

- ei, ei, ei, ei! Vai argumentar com o quê, Allison? É melhor escolher sabiamente as palavras que vai usar para nos criticar e se defender. Afinal de contas, era você que estava rondando a cidade junto dos três patetas à minha procura, não? – o tom divertido na voz do castanho apenas deixou Derek, Scott e Lydia mais furiosos ainda.

Mas Allison estava destruída internamente. Com exceção de Peter ela era a que mais prestava atenção nos detentos e tentava, ao máximo, aprender algo a mais com eles. Ela já tinha anos de estudo e dedicação em uma carreira promissora na agência. Arriscou fazer parte da divisão por ver o potencial que aquele trabalho poderia ter. E, por mais que tivesse orgulho de ter o cargo que possuía, de prender criminosos, ela tinha que admitir: Allison foi ridícula. Já havia visto Alice provocar Derek e Scott antes. Já o vira e ouvira dizer tantas vezes o quanto aquilo lhe divertia. Ela viu o sinal que Stiles mandara para Peter. Mas, mesmo assim, se deixou levar por seu receio e sua insegurança. Pensou demais e acabou perdendo a chance de fazer direito. Escolheu o ego de Scott, o ódio de Derek e o preconceito de Lydia ao invés de ouvir a sabedoria de Peter e escolher o lado positivo do grupo de detentos com o qual trabalhava.

- vamos manter o foco, por favor? Eles erraram. Todos entendemos isso. Sei que estão chateados mas gerar intrigas e bater de frente com eles não vai levar a nada, agora – ditou Peter, tentando acalmar os ânimos da equipe. Vernon abaixou a cabeça, respirando fundo, e levando as mãos para a própria cintura, enquanto Erica e Isaac cruzavam os braços, demonstrando toda a irritação que tinham sob controle.

Mas o que mais preocupou o Tate não fora o modo rápido como o trio de criminosos aceitou o seu pedido e abaixaram suas armas naquela guerra de afrontas. Fora o olhar de Stiles que perturbou o louro. Alice o encarou com frieza, assim que o homem finalizou o seu argumento, crispando os lábio, irritado.

- pode não levar a nada, para você, Peter. Mas engolir as ofensas e afrontas destes idiotas em silêncio não vai nos tornar produtivos, muito menos vai acalmar a raiva que nos dá – ditou o castanho vendo o louro lhe fitar levemente surpreso. O mover de lábios de Peter sem produzir som algum fora tudo o que Alice precisou para entender que o homem estava sem argumentos, embora quisesse rebater suas palavras.

- quer saber? Eu vou trabalhar. Diferente de vocês, eu estou interessado em prender esse assassino – ditou o homem de lóbulos furados, já se retirando da sala.

Isaac, Erica e Vernon, instantaneamente, seguiram o castanho. Eles foram ordenados por Peter para irem até a biblioteca antes de toda a discussão. Então era isso o que eles fariam. Allison, ainda envergonhada, apenas seguiu o grupo de detentos em silêncio. Peter suspirou, cansado. Sabia que Stiles tinha razão. A parte federal as equipe estava se distanciando do foco da divisão. Eles não estavam cumprindo com as exigências da equipe. Passavam mais tempo julgando os especialistas do que ajudando eles nos casos.

- vai mesmo deixar eles sozinhos com a Allison?! Só o Boyd já é o suficiente para acabar com ela se a pegar de surpresa. Imagine com o Stiles e a Erica! Só a Allison não vai manter eles no controle – exclamou  McCall, indignado, enquanto encarava o louro de cabelos penteados para trás lhe fitar com impaciência.

- eu não vou discutir isso com você – ditou Peter antes de ignorar o moreno de olhos castanhos e se focar no notebook a sua frente.

- quando chegarmos em nossa base nós precisamos ter uma conversa séria – falou o Tate olha do fixamente para os três agentes, em pé, parados olhando para si ainda confusos e perplexos com o ocorrido

- escuta, eu sei que você vê o Stiles como uma criança e tudo mais. Mas ele é o assassino do seu cunhado, cara. Qual é o seu problema? O agente Hale deve sentir vergonha de você – argumentou o moreno de queixo torto vendo o louro lhe fitar com um olhar de ódio.

Derek se surpreendeu com a reação do seu tio para as palavras de Scott. Peter nunca expressou raiva quando ouvia aquelas coisas. Nunca lançou olhares de raiva, nem cerrava os punhos. Nada. Tudo o que ele fazia era lançar sorrisos irritantes que diziam o quanto ele se achava superior a qualquer um. Mas daquela vez fora diferente. Peter parecia estar com a paciência esgotada, pois foi apenas Scott citar a morte de seu pai que Peter tomou um olhar enfurecido nos olhos, somado de um brilho violento.

O Hale nunca viu o Tate com aquele olhar.

Nem mesmo quando Malia pegou o carro do pai e bateu com o mesmo ao dirigir alcoolizada, o louro usou um olhar daquele tipo. Os punhos de Peter estavam cerrados com força, como se o mesmo lutasse para manter algo dentro deles.

E então Peter venceu a luta.

Por um momento, o louro parecia querer avançar contra o agente mais novo. Mas logo ele relaxou, tratando de suspirar profundamente, e, calmamente, se erguer antes de se retirar do local. Os três assistiram a saída do louro sem entender absolutamente nada.

- mas o que diabos está acontecendo aqui? – indagou Scott olhando para os outros dois agentes.

- acho que você pegou um pouco pesado falando da morte do pai do Derek – ditou Lydia enquanto seguia para o próprio notebook.

- tá, mas e daí? Alguém tem que jogar a real nele. E não vejo jeito mais fácil, só esse – argumentou o moreno de queixo torto enquanto cruzava os braços.

- eu não estou entendendo – murmurou Derek enquanto se aproximava do quadro para analisar todas as informações ali escritas e presas por imãs.

- qual parte? A que fomos feitos de idiotas, a que fomos humilhados por eles, ou a que nós praticamente não fomos necessários nesse caso? – indagou Lydia, irônica.

- o caso ainda não acabou, Lydia – ditou Derek, ainda focado no quadro a sua frente.

A ruiva estava bastante abalada com o ocorrido. Ela não conseguia engolir aquilo. Ela havia sido informada de que era de fundamental importância na divisão, não apenas por suas habilidades com computador e também por suas habilidades médicas, mas também por sua técnica incrível de usar sedativos das mais variadas formas. No entanto, ali estava ela, após se afastar do seu posto, olhando para todo o progresso feito pelos detentos enquanto todos os agentes oficiais estavam afastados. Eles conseguiram fazer em alguns minutos, o que ela e os outros não haviam feito em algumas horas. Aquele ocorrido havia lhe feito acordar para realidade. O baque fora forte e ela ainda estava perdida, mas, aos poucos tudo começava a ficar claro. As palavras de Allison ecoaram em sua mente por um bom tempo.

“Peter é um gênio “

- o filho da mãe é bom – murmurou Lydia enquanto olhava para o que Peter mexia em seu notebook.

Era uma lista de usuários do computador de uma biblioteca. Mexendo um pouco nos arquivos, a ruiva descobriu o motivo. Aquele computador tinha sido usado algumas vezes por um administrador do site Trick or Treat. O louro puxava um histórico de usuários para comparar o horário de acesso e tentar identificar um suspeito. Seguindo para o computador do delegado, a ruiva se viu surpresa ao ver o mapa da biblioteca, mais especificamente o da sala dos computadores, onde um computador em específico era destacado em vermelho, enquanto o endereço dos outros era branco.

- Alice... – murmurou a ruiva olhando bem para o mapa da biblioteca.

Demorou um pouco, mas logo a mente de Lydia começou a trabalhar lentamente. Após alguns bons minutos analisando todo o progresso do castanho foi que a ruiva se deu conta de algo. Ela estava tão concentrada em proteger o seu ego e se mostrar superior ao prisioneiro de ego magoado que não havia notado algo que deveria ser a primeira coisa que ela deveria notar.

Como Stiles sabia tanto de informática?

Quer dizer, Alice foi preso aos onze anos de idade. Muita coisa mudou no mundo virtual em uma década e mais alguns anos. Mas mesmo assim Stiles soube fazer coisas das quais ela precisou treinar por anos para fazer, mesmo tendo crescido dentro de uma cela cúbica a prova de balas feita de aço e vidro. Como diabos ele havia aprendido aquelas coisas? Quer dizer, ele e Vernon não podiam sair para nada. Os dois eram criminosos de alto risco. Então, como o Stilinski havia tido acesso à tecnologia da caixa em que até mesmo a comida era verificada rigorosamente? Aquele questionamento havia se instalado na mente de Lydia como um vírus Cavalo de Troia. Por mais que ela tentasse se focar em outra coisa, apenas aquele questionamento lhe vinha à mente.

- isso é tão estranho! – exclamou a ruiva enquanto analisava um pouco mais do trabalho do castanho.

- o quê? O que achou? – indagou Scott, um tanto preocupado. Ele ainda não estava convencido da dedicação dos detentos naquele trabalho, principalmente por um deles ser o maior criminoso dos Estados Unidos e que havia ameaçado o seu pai.

- não acharam estranho? – indagou a ruiva enquanto se sentava diante do seu notebook e começava a acessar os arquivos do FBI, pelo menos os arquivos que ela poderia verificar.

Nem ela, muito menos os outros dois agentes naquela sala tinham permissão para acessar a parte do sistema em que se encontravam os arquivos de Erica, Vernon e Stiles. Eram arquivos confidenciais sobre prisioneiros da segurança máxima, só eram acessados quando os superiores responsáveis permitiam o acesso ao arquivo requerido, e mesmo assim, o acesso era momentâneo e monitorado. No entanto, os arquivos dos três foram enviados para cada um dos agentes, quando eles foram inseridos na divisão. E é claro que a Martin havia recebido uma versão digitalizada de cada um deles.

A maior parte do tempo em que trabalhava, ela se encontrava na frente da tela de um computador. Então era óbvio que o FBI lhe mandaria versões digitalizadas. A Martin abriu o arquivo de Alice e tratou de fazer uma busca no mesmo. Nada. Nem um intervalo da cela, nem uma saída programada, nenhuma entrada de tecnologia arquivada. Ela havia tecido toda uma pesquisa detalhada sobre a vida do castanho na área da segurança máxima de Alcatraz. No entanto, não havia nada, ali. Nada que explicasse como Stiles usava uma tecnologia recente com tanta habilidade quanto ela.

- como Stiles conseguiu usar um computador dessa maneira? – indagou a ruiva vendo os dois morenos lhe fitarem confusos.

- ele... – Scott iria argumentar sobre ter treinado de alguma maneira quando parou para pensar.

Treinado onde? Stiles havia crescido em Alcatraz. Não havia como ele ter aprendido tudo aquilo enquanto crescia. Pelo menos não teoricamente. Alguém devia ter ajudado o castanho naquilo. Alguém deve ter fornecido, ao prisioneiro, acesso à tecnologia para que o mesmo aprendesse sobre a mesma. Aquilo era tão estranho e suspeito. Como eles não haviam reparado nisso antes?

- Maybelle – respondeu Derek chamando a atenção dos dois agentes para si.

- ele aprendeu em Maybelle – explicou enquanto se aproximava do computador, para ver o que o castanho fazia quando ele havia chegado.

- mas ele só está em Maybelle há poucos mais de um mês – argumentou Scott vendo o moreno de olhos verdes os direcionar para si com seriedade.

- e você dúvida da capacidade de aprendizado dele? Stiles só precisa passar os olhos por uma folha de papel para saber tudo o que está escrito nela com perfeição e ainda dar uma palestra sobre o assunto – ditou o Hale enquanto retornava para o quadro, voltando a analisar o mesmo.

- não foi uma boa ideia termos o levado para Maybelle. Ele está evoluindo, lá – falou a Martin, receosa.

- vamos parar de pensar nisso. Precisamos voltar para o caso – reprendeu Derek, chamando a atenção para si.

- você?! Dizendo para esquecermos que Alice é um assassino incrivelmente perigoso e nos focarmos apenas no caso?! – indagou Scott, surpreso, desviando um olhar questionador para Lydia.

- quem é você e o que fez com o Hale? – perguntou a ruiva sorrindo para Scott.

- é sério. Não percebem o que acabou de acontecer aqui? – questionou Derek, irritado.

- percebemos, sim. Percebemos que precisamos devolver Alice para Alcatraz – respondeu Lydia enquanto se dirigia até o seu notebook.

- Não! Alice fez questão de esfregar em nossa cara que somos mais descartáveis do que ele – pontuou Derek, apontando para a porta, vendo os dois agentes lhe fitarem surpresos, como se só então tivessem percebido a situação em que estava

- o que acham que irá ocorrer se isso continuar ocorrendo? – indagou Derek vendo o parceiro de queixo torto lhe fitar com seriedade.

- eles vão nos realocar em nossas antigas divisões – respondeu com seriedade, quase receio.

- e vão deixar os nossos prisioneiros nas mãos de outros. Vocês confiam em mais alguém para ficar de olho neles? – completou o Hale vendo a ruiva e o moreno negarem prontamente.

- então sugiro voltarmos para o trabalho e pegar esse cara – ordenou voltando a ficar de frente para o quadro de informações.

Ele estava impressionado com aquele quadro. Tudo aquilo fora feito por prisioneiros. Era tão profissional como se todos eles fossem do FBI há anos. Haviam todas as informações importantes sobre o site, o nome da biblioteca, o endereço IP do computador e também uma foto da biblioteca onde o mesmo se encontrava, assim como o mapa da sala dos computadores, estando o computador de IP anotado grifado de marca texto vermelho. Derek, muito menos Scott ou Lydia, poderiam negar que os detentos estavam ficando bons naquilo. Era incrível como as mentes criminosas poderiam se entender com facilidade. Incrivelmente assustador, também. Aquela divisão era quase um estudo cientifico provando que mentes criminosas poderiam migrar de categoria facilmente.

Erica era uma assassina de homens, em sua grande maioria na casa dos trinta anos de idade, que, quando chegou naquela divisão, sabia apenas matar e sobreviver. Mas, agora, ela conseguia pensar com clareza em como criminosos de vários tipos atuavam. Ela não era apenas boa em sobreviver, mais. Vernon, o homem que sabia apenas atirar e convencer as pessoas, agora sabia sobreviver e rastrear pessoas. O homem que antes sabia apenas rastrear mercadorias e armamentos, agora sabia procurar um homem desejado apenas analisando o ambiente em que o mesmo vivia. Isaac, o homem que antes sabia apenas sobre química, agora sabia perfeitamente como funcionava a lei e a mente de assassinos. Ele sabia como funcionavam os psicóticos. Sabia também muito de física, o que aprendera com Boyd, durante analise de cenas de crime e metodologia de assassinatos e como sobreviver longe de locais seguros, que havia aprendido com Erica, assim como matar alguém que lhe ofereça perigo com tão pouco armamento, o que aprendera analisando Stiles nas cenas de crime. E por último, Stiles. O que antes era julgado como assassino perfeito, mostrou muitos vão vazios em suas habilidades no início. Alice não sabia tanto de química quanto Isaac, não sabia tanto sobre lei e computadores. Mas, agora, havia conseguido rastrear um computador usado para um crime em minutos.

Aqueles detentos estavam evoluindo e aquilo era assustador, se fosse parar para pensar na possibilidade de algum deles conseguir fugir. Agora não era apenas Stiles, mas sim todos. Se qualquer um deles fugisse e decidisse voltar para a vida do crime, o FBI estaria com grandes problemas.

 

 

 

 

 

 

 

 

- o que está fazendo? - indagou um rapaz enquanto se aproximava de outro, que se encontrava sentado em frente a um computador da biblioteca da escola.

O rapaz havia estranhado o modo como o amigo parecia concentrado em algo, enquanto dedilhava descontroladamente pelo teclado do computador na mesa da biblioteca. Ryan sempre foi um tipo de rato de computador, mas, desde que as notícias do FBI ter chegado a cidade começaram a circular, o rapaz parecia ainda mais isolado do mundo. Ele parecia até mesmo receoso ou entusiasmado. O rapaz não conseguia saber. Sua namorada era que era boa em entender como as pessoas se sentiam, não ele.

- fuçando – respondeu o castanho de gorro enquanto permanecia a dedilhar sobre o teclado.

- o quê, exatamente? – indagou o rapaz de cabelos pretos vendo o amigo sorrir ladino.

- o FBI – respondeu com um sorriso travesso, o que chamou a atenção do amigo.

- você está hackeando os federais?! – indagou em um sussurro, surpreso.

- estou – falou com diversão, enquanto permanecia a digitar velozmente os códigos necessários para poder fazer a conexão digital entre os dois computadores sem permissão e sem ser notado.

- você está maluco?! Se lhe pegarem você é preso! – exclamou o rapaz enquanto via Ryan sorrir divertido.

- e isso me deixa mais animado ainda, Vincent – ditou Ryan enquanto olhava brevemente para o amigo, que lhe fitou receoso.

- cara, você é maluco – comentou enquanto se sentava ao lado do amigo.

Vincent sabia que o amigo era bom em informática e era insistente o suficiente para só parar de tentar quando conseguisse ou quando chegasse perto de ser preso. Então ele queria estar ali quando um dos dois acontecesse. Ele também estava curioso para saber se o amigo conseguiria ou não. O rapaz ainda achava a ideia completamente maluca, mas, assim como dito por seu amigo, era excitante saber que estava cometendo um crime daqueles.

- por que decidiu invadir os federais logo agora que eles estão tão perto? – questionou Vincent vendo o amigo dar de ombros.

- porque, como eles estão longe da base deles, o sistema, aqui, fica mais fraco. Se eles tentarem acessar qualquer coisa da base, o computador que usarem aqui não vai ter toda a proteção que os deles tem lá – respondeu o adolescente de cabelos castanho escondidos no gorro preto que usava.

- e por que, exatamente, o FBI? Digo, não somos criminosos nem nada para você estar tentando acessar o sistema, tipo, em uma tentativa de apagar nossas fichas criminais – indagou o moreno vendo o castanho sorrir.

- para descobrir os podres, cara. Digo, não quero vazar, nem nada. Mas super tenho curiosidade para saber o que eles escondem das pessoas – respondeu Ryan e logo ele sorriu quando, finalmente, conseguiu o que queria.

- CARAMBA! – exclamou enquanto erguia as mãos para o ar.

- conseguiu? – indagou Vincent vendo, na tela do computador, uma lista de opções.

- CONSEGUI, CARALHO! – exclamou o castanho e logo a bibliotecária e outras pessoas pediram por silencio.

- vamos ver o que eles estão fazendo agora – ditou o adolescente e o amigo tratou de agarrar o mouse e escolher as opções certas para ver o que estava aberto naquele exato momento no computador usado pelos agentes

- estão acessando uns arquivos com nomes estanhos – ditou o adolescente ao mesmo tempo em que passava os olhos pelos nomes dos arquivos.

- olha só, esse aqui tem nome de Zumbi, esse outro aqui tem o nome de Alice – o adolescente dizia os nomes que via, enquanto franzia o cenho.

- você tem certeza de que entrou no computador certo e não no computador do seu primo viciado em jogos? – questionou Vincent vendo o amigo rolar os olhos.

- é o computador certo. Eu vou baixar esses dois aqui para ver o que são – ditou enquanto começava a fazer o download.

Vincent ergueu o olhar ao ver uma movimentação estranha na biblioteca, quando a bibliotecária falou alto em um dado momento. Ao erguer o olhar, o rapaz fora surpreendido pela imagem de uma mulher de terno, exibindo um distintivo para a funcionária do local. O rapaz gelou, enquanto apertava o ombro do amigo quase que desesperado. Ryan protestou com um “O que foi, caralho?”, enquanto soltava o seu ombro, para poder continuar fuçando.

- é o FBI, porra! – sussurrou Vincent e Ryan ergueu o olhar quase que instantaneamente.

- porra! – exclamou enquanto começava a fechar, aos poucos, as janelas, agradecendo por os dois downloads já terem sido concluídos.

- como eles chegaram tão rápido? – questionou Ryan, desesperado.

- e eu que vou saber, cacete? A gente está muito, muito, muito fodido! – lamentava Vincent, desesperado, enquanto, aos poucos, se encolhia em sua cadeira.

- aja naturalmente, cara! – exclamou Ryan em um sussurro, ao mesmo tempo em que tratava de enviar os arquivos para o seu e-mail, apagando o histórico do momento em que ele acessou o e-mail e deletando os arquivos do computador.

- qual é o computador? – questionou a morena e logo um castanho de ar rebelde puxou a cadeira do computador um pouco afastado do deles, do outro lado da enorme mesa.

- não é com a gente – murmurou Ryan, após analisar os olhares atentos dos agentes para o castanho sentado do outro lado da mesa.

- sério? – questionou Vincent, ainda nervoso.

- é. Foi deste daqui – ditou o castanho de ar rebelde e lóbulos furados enquanto permanecia a digitar com velocidade.

- aquele deve ser o hacker do grupo – murmurou Vincent enquanto via o homem fazer o mesmo que o seu amigo fazia com os dedos há alguns instantes.

Ryan analisava o homem castanho com cuidado. Ele não sabia dizer, mas do nada passou a sentir uma certa admiração pela imagem que via. O homem a sua frente tinha uma imagem parecida de como ele se via daqui há alguns anos. Um estilo rebelde, mesmo sendo um agente, usando casaco de capuz ao invés de terno. Os lóbulos furados, mas sem brincos, e um ar de mistério que com certeza deveria deixar as garotas louquinhas. Aquele cara parecia mais um ídolo do que uma ameaça, para si.

- ele é legal! – exclamou Ryan, esquecendo-se de controlar o tom de voz.

Ele se lembrou de controlar a voz apenas quando viu o castanho mais velho, o qual ele elogiara, direcionar o olhar para os dois, os fazendo engolir em seco quase gerando um ataque cardíaco em ambos. O homem apenas ergueu o indicador para o lóbulo da orelha, tocando o mesmo uma vez, antes de exibir o polegar em um símbolo de “legal”. Os adolescentes ficaram confusos, enquanto o resto dos agentes lhes direcionava o olhar, os deixando mais nervosos ainda

- gostei do brinco – ditou o agente de cabelos castanhos, antes de voltar a encarar a tela a sua frente.

- v-valeu – agradeceu Ryan levando a mão, inconscientemente, ao brinco vermelho em sua orelha.

- isso vai demorar. É melhor retornarem para a delegacia. O Peter pode precisar de vocês por lá. Reúnam mais informações e eu volto assim que descobrir alguma coisa. Qualquer atualização do caso, eu informo pelo computador – disse o castanho e a loura ao seu lado bufou.

- como se eles fossem deixar você sozinho – ditou a mulher com desdém, antes de a morena tocar o ombro do castanho.

- volte assim que terminar a análise do computador por aqui – ditou a morena, surpreendendo a loura e os dois homens ao seu lado.

- você tem certeza? O Derek vai lhe matar quando souber – indagou o castanho vendo a morena menear positivamente.

- Derek não é o meu chefe, e, também, não é como se você não gostasse de o provocar – ditou a agente de cabelos pretos enquanto via o homem sorrir e dar de ombros.

- eu faço o meu melhor – disse o homem enquanto ouvia a morena rir baixinho.

- escuta, eu... vacilei com vocês hoje. Eu peço desculpas. Aos quatro. Não vai se repetir – disse a morena antes de dar as costas e começar a se dirigir para a saída da biblioteca.

- eu ouvi isso mesmo? – questionou o louro de cachos enquanto apontava para a mulher.

- você voltou a fabricar e me deu alguma coisa, não foi? – perguntou a loura e o homem de fios louros lhe fitou com seriedade, antes de lhe dar as costas.

- o Isaac é tão fofo irritado! – exclamou a mulher enquanto ouvia o castanho gargalhar.

- eu achei que só eu pensava isso – comentou o castanho erguendo a mão para a loura.

- nos vemos na delegacia – ditou a mulher ao mesmo tempo em que ela e o homem ao seu lado começavam a seguir os outros dois.

- eu jurava que eles eram tipo militares, sabe? Mais sérios - murmurou Vincent vendo o amigo menear positivamente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O louro de terno e cabelos penteados em um topete caminhava pelas pessoas daquela boate enquanto se questionava se ele estaria disponível naquela noite. Como sempre, ser um chefão do crime era algo que chamava muita atenção para si, ainda mais quando os policiais não sabiam a sua verdadeira identidade. A sua presença ali, naquele meio que também era frequentado por muitos outros chefes de facções não deveria ser muito chocante, mas o fato de ser o único do qual a polícia não tinha conhecimento da existência era algo que surpreendia até mesmo os maiores.

Para completar o motivo de todos aqueles olhares surpresos direcionados para si era o fato de ele nunca esconder o que queria ali. O louro não era exatamente o tipo que gostava de esconder os seus objetivos. E foi exatamente por isso que aquele moreno de olhos azuis que se encontrava atrás do bar sorriu e saiu de trás do balcão para se aproximar sorrindo receptivo. O louro parou de caminhar, com as mãos nos bolsos, enquanto via o moreno de terno barato se aproximar de si com o ar galanteador que usava com todos os clientes, independente do tipo de entretenimento que eles procuravam. Carisma era uma arma poderosa mesmo contra líderes de grandes grupos criminosos.

- deixe me adivinhar: o de sempre? – questionou o moreno enquanto via o louro de óculos escuros sorrir.

- você sabe que sim, Damon – ditou o louro ao mesmo tempo em que via o outro sorrir ladino, como se pensasse algo inapropriado para lhe dizer.

- infelizmente, o seu brinquedo favorito não está, hoje. Ele foi atacado por alguns idiotas que quebraram a perna dele, agora ele está internado – ditou Damon, já sabendo o efeito que aquilo teria no homem a sua frente.

O homem de terno azul caríssimo não era nem um pouco redutível quando mexiam com as suas coisas. E, para a sorte do amigo de Damon, Lucca, o louro havia se interessado nele. Não ao ponto de o tirar daquela vida, mas interessado o suficiente para lhe fazer agrados bastante apreciados e invejados por todas as strippers daquela boate.

- eu já sei o que vai pedir, então já tomei a liberdade de pegar as imagens dos caras na câmera de segurança. Eles descobriram que o meu amigo Barman agradava alguns caras da boate por trás do palco. Todas estão em ótima qualidade, o seu pessoal deve conseguir trabalhar com isso – ditou o moreno estendendo um pen drive na direção do louro, que o acolheu com uma expressão séria que dizia muito bem para Damon que ele não havia gostado nada da informação que recebera.

- mais alguma coisa? – questionou o homem irritado por não ter o que queria.

Ele havia ido ali para aliviar o estresse. A falha do seu pessoal em conseguir o que ele tanto queria para se colocar no topo da lista de maiores cartéis estava o deixando muito frustrado. Anos de pesquisa e testes, gasto de material e o risco de ser pego para conseguir apenas os resultados que adquirira e não o que queria o estava deixando estressado ao ponto de matar qualquer um que lhe irritasse. O que, de fato, iria acontecer com os homens que mexeram com o seu meio favorito de entretenimento.

- bom, Lucca não veio trabalhar. Mas deixou um presentinho para você – ditou o moreno erguendo uma chave para o louro.

- no quarto de sempre – disse antes de se virar e voltar a caminhar na direção do bar.

O louro franziu o cenho para a chave em sua mão. Lucca sabia que ele não gostava de mulheres, algo que deixava bem claro para todo mundo. Para ele, homens eram menos ardilosos e mais ambiciosos. Bastava ele oferecer qualquer quantia, ou simplesmente sustentar um estilo de vida razoável e eles seriam seus por tempo o suficiente até ele enjoar. Homens eram mais fáceis de lidar. Muitas mulheres já o haviam traído por dinheiro, tentando contra a sua vida. O que Lucca estava pensando? Se fosse qualquer outra pessoa daquela boate, ele iria ficar mais irritado. Ninguém alí era digno de seu tempo em uma cama.

Ainda desconfiado, ele adentrou o corredor que o levaria para o quarto que apenas ele usava. Havia algo errado. Ele sentia isso. Lucca sabia muito bem que ele não gostava de outras pessoas, então por que mandaria alguém? Abrindo a porta com muito cuidado, o louro de terno azul encontrou o quarto que conhecia muito bem, observando o mesmo iluminado apenas pelas luzes neon azuis e vermelhas distribuídas pelo local. Abrindo um pouco mais a porta, já com a sua arma na mão, ele fora surpreendido pela imagem de dois homens deitados na cama que ele havia feito questão de comprar para aquele quarto. Tudo ali fora exigência dele para o dono da boate, lhe oferecendo uma quantia satisfatória. Os dois corpos deitados na cama estavam nus, exibindo perfeitamente os seus membros rígidos e o suor brilhando em suas peles pelo orgasmo atingido recentemente, indicado pelo modo como respiravam e pelos respingos de esperma no rosto de um dos dois.

- mas o que porra está acontecendo aqui? – questionou já apontando a arma para os dois homens deitados

- ah, ele chegou – brincou um dos dois homens, acariciando as costas do que estava com o rosto escondido na curva do seu pescoço.

- quem porra são vocês? E me digam um motivo para não matar vocês agora! – ordenou o vendo o castanho deitado na cama gargalhar travesso enquanto olhava em seus olhos.

- ele não é adorável? – questionou e logo o homem sobre o seu corpo ergueu a cabeça, deslizando os lábios por seu rosto, até alcançar os seus, acariciando eles com os próprios, antes de direcionar o olhar para o louro, que se viu surpreso ao ver a face do segundo.

- realmente – ditou o homem sorrindo com o choque expresso pelos lábios do louro.

- nós somos os encarregados por lhe entregar um convite de uma realeza – respondeu o homem, saindo de cima do corpo do outro, enquanto o louro ainda processava a ideia de gêmeos transando na cama que deveria ser sua.

- vocês são o presente de Lucca? – questionou o homem, franzindo o cenho e vendo o gêmeo que antes estava sobre o irmão, caminhar na direção do balcão, servindo uma taça de vinho para si mesmo.

- na verdade, nós compramos Lucca para ter a oportunidade de entrarmos aqui sem precisar arrombar a porta - respondeu o gêmeo deitado, se colocando de lado e apoiando a cabeça no braço, sorrindo para o louro.

- você escolheu bem o seu homem. Estávamos cogitando torturar ele para que ele abrisse a boca, já que apenas dinheiro não foi o suficiente para fazer ele abrir o bico sobre você. Ele lhe protegeu com tudo o que tinha – ditou o gêmeo com a taça em mãos.

- foram vocês! – ditou já se preparando para atirar no homem com a taça em mãos, mas foi surpreendido quando o outro gêmeo saltou em si, chutando a sua mão e fazendo a arma voar da mesma.

Ainda surpreendendo o louro, o mesmo gêmeo chutou a parede, voltando a pegar impulso para se manter no ar, antes de girar e chutar a arma na direção do irmão, que a agarrou sem muitos problemas e tratou de a desmontar em segundos, colocando todas as peças no balcão atrás de si. O gêmeo próximo do homem de terno colocou as mãos nos ombro do mesmo e chutou a parede mais uma vez, se permitindo passar por cima do louro, caindo em pé atrás do mesmo, girar o corpo e mover os braços pelo corpo do homem vestido, o imobilizando.

O homem de terno azul estava perplexo. Ele se quer teve tempo de reagir. Tudo o que fizera naquele combate fora simplesmente existir.

- calma aí, bonitão. Você não quer machucar ninguém, não é mesmo, Jackson? – sussurrou sensualmente no ouvido do louro, perdendo a expressão de choque do mesmo.

- como sabe o meu nome? – questionou o louro, que sempre se orgulhou por conseguir esconder a sua identidade de todos.

Os gêmeos riram brevemente antes de ele sentir uma língua atrevida deslizar por seu pescoço. Jackson não fazia ideia de como aqueles dois sabiam o seu verdadeiro nome. Nem mesmo Lucca sabia. Os únicos que sabiam o seu nome eram os seus pais, que faleceram há muito tempo. Ele direcionou o olhar para o gêmeo que havia desmontado a sua arma, o vendo se aproximar com a taça com vinho em mãos.

- nós sabemos de muita coisa, Jackson. Inclusive o que você quer fazer – disse o gêmeo a sua frente, enquanto o gêmeo que lhe imobilizava apoiava o queixo em seu ombro.

- a gente só quer ajudar – sussurrou divertido enquanto ouvia o homem a sua frente praguejar baixinho, enquanto tentava se soltar.

- nós podemos nos ajudar, o que acha? – questionou o gêmeo oferecendo um pouco de vinho para o louro a sua frente.

- o que quer dizer? – indagou, sério, vendo o castanho suspirar.

- nós temos a formula que você está procurando há anos – ditou o gêmeo a sua frente vendo o louro arregalar os olhos, surpreso.

- impossível! – exclamou o homem e gêmeo se aproximou de uma calça, retirando um pacote pequeno, transparente, contendo um pó azul que se assemelhava e muito a glíter.

- o pó azul que você tanto quer copiar. O seu tão sonhado ouro azul – ditou o gêmeo atrás de si e o homem se viu surpreso com a cor. Era idêntica, mas ele ainda não sabia se tinha o mesmo efeito.

- e como vou saber que funciona? – questionou, desconfiado, vendo o gêmeo sorrir e se aproximar da porta que era o banheiro.

- isso deve servir – ditou o homem abrindo a porta e logo um homem caiu no chão, gemendo e rosnando para tudo.

Jackson, assistiu, maravilhado, contemplando o efeito que tanto queria causar. O homem se ergueu com dificuldade, ainda rosnando e salivando. Os seus olhos estavam vermelhos, com marcas azuis no nariz e nos dedos. O homem exibiu os dentes para o gêmeo, enquanto se colocava de pé, totalmente, cambaleando. Ele estava com dificuldade em se localizar, pelo que Jackson via. As luzes das lâmpadas neon chamavam a sua atenção, enquanto o gêmeo com a taça de vinho na mão, rondava o homem, que tentou avançar em si, rosnando. Mas, ainda com as duas mãos ocupadas, o gêmeo o derrubou facilmente.

- é o suficiente para você? – questionou o outro gêmeo, lambendo o pescoço de Jackson mais uma vez, aproveitando o cheiro do perfume do homem a sua frente.

- há quanto tempo ele está assim? – questionou vendo o outro homem, aos poucos empurrar o homem drogado de volta para o banheiro.

- quase uma semana. Sempre que o efeito passa, nós damos mais quando ele começa a pedir. Se sustentarmos a dose por alguns dias a mais, a mente dele vai entrar em colapso – respondeu vendo o irmão trancar o homem novamente.

- como conseguiram? – questionou sentindo o gêmeo lhe soltar.

- conseguimos a formula com o nosso contratante. Ele que quer fazer negócios com você, nós somos apenas os coelhos travessos que vieram entregar o convite – ditou o gêmeo seguindo para o irmão, tomando o pacote azul das mãos do mesmo e o jogando para o louro.

- tome, este é o convite – ditou enquanto o irmão lhe abraçava pelos ombros.

- não tem medo de que eu não aceite o convite e apenas analise isso aqui? – questionou Jackson vendo os irmãos gargalharem.

- ele é engraçado, não é? – questionou o homem com a taça na mão.

- Aiden, explica para ele. Eu vou avisar que o convite foi entregue – disse o irmão que lhe prendia, antes de seguir para o criado, pegando um celular.

- você, melhor do que ninguém, sabe que apenas analisar a droga não vai lhe fazer copiar ela – ditou Aiden vendo o louro franzir o cenho para si.

Jackson realmente sabia. No início do sucesso do pó azul, conhecido popularmente como Sininho, ele fez aquilo. Ele analisou a droga e tentou a recriar, falhando miseravelmente. Ele comprava as poucas unidades que eram vendidas, apenas para analisar a droga, sempre falhando nas tentativas de recriar a mesma. O que seria diferente agora? Ele não precisava de amostras para análise. Ele precisava da fórmula. Jackson precisava daqueles dois homens estranhos a sua frente.

- Ethan está informando ao seu novo contratante que já lhe entregamos o convite. Dentro do pacote tem um celular. Quando você abrir o pacote, ligue para o único número nele. O coelho quer dar as instruções ele mesmo – disse o gêmeo enquanto via Jackson olhar bem para o pacote, realmente cabia um celular ali dentro.

- antes de qualquer coisa, vocês quebraram a perna do Lucca? – questionou Jackson franzindo o cenho para o homem nu a sua frente.

- nós? Não. Nem chegamos a bater nele. Bom... não no sentido ruim. Pelo menos umas palmadas generosas naquela bunda redonda a gente deu – respondeu o gêmeo vendo o homem lhe fitar desconfiado.

- nós o deixamos na porta de casa. O ocorrido foi ontem pela noite. Pegaram ele na saída da boate – ditou Aiden vendo o louro parecer relevar.

- e como faço para encontrar vocês? Como faço para pegar a formula? – questionou o homem de terno vendo o despido sorrir ladino.

- se você aceitar o contrato, vai estar no País das Maravilhas, cara. É só procurar por um castelo vermelho, o baralho inteiro fica lá – respondeu Aiden e logo Ethan retornou.

- Branco está feliz que Jackson está com o pacote – avisou vendo o irmão sorrir animado.

- do que diabos estão falando? País das maravilhas, baralho, Coelho, Branco? Que porra é essa?! – exclamou o louro vendo os dois irmãos se entreolharem, antes de sorrirem vitoriosos.

- vai saber quando começar a seguir o coelho branco – ditaram em uníssono vendo o homem franzir o cenho em sua direção.

- é só isso? – questionou vendo os irmãos darem de ombros.

- se já quiser ir embora, sim. Nós vamos brincar mais um pouquinho no quarto. – ditou Ethan enquanto abraçava o irmão, já começando a distribuir beijos pelo peito desnudo do mesmo.

- ou pode ficar e participar da brincadeira. Você que sabe – ditou Aiden antes de erguer o queixo do irmão e começar a beijar o mesmo.

- vocês agem com naturalidade... Não sentem medo de serem julgados? – questionou vendo os dois irmãos rirem enquanto se afastavam alguns milímetros.

- qualquer um que encher o nosso saco..

- morre – ditaram enquanto sorriam travessos.

- olha, só para constar, não gostamos muitos de Voyeur – ditou Ethan enquanto levava a mão ao ombro do irmão, sentindo o mesmo se abaixar a sua frente, antes de acolher o seu membro já parcialmente ereto na boca.

Jackson ponderou por alguns segundos. Aquela cena estava lhe animando. Ele havia ido ali para aliviar o estresse, ficando mais estressado ainda ao saber que o seu brinquedo favorito não estava disponível. Havia ficado mais estressado ainda com dois estranhos em sua cama particular da boate, mas de certa forma foi agraciado com a possibilidade de adquirir o que tanto buscava por anos. Já estava ali de qualquer jeito, porque não provar algo novo, que lhe excitou rapidamente.

- que se dane – murmurou enquanto começava a desabotoar a camisa branca, retirando a mesma e o terno azul, ao mesmo tempo em que os gêmeos sorriam ladinos.

 

Chapter 32: Genius

Chapter Text

- o computador realmente foi utilizado pelo nosso criminoso – ditou Isaac enquanto entrava na sala da delegacia, chamando a atenção de Lydia, Scott e Derek, que olharam para o grupo imediatamente.

- ótimo. Descobriram mais alguma coisa? – questionou Scott vendo o grupo adentrar a sala calmamente.

- estamos trabalhando nisso – ditou Erica enquanto seguia para o quadro, voltando a analisar o mesmo.

- Lydia continua tentando hackear o site. Ele não tem usado um computador só, então ela vai verificar todos os IP’s usados pelo nosso suspeito para rastrear qual ele usou com mais frequência – ditou o moreno de olhos castanhos e logo o grupo inteiro passou pela porta.

- e Alice? – questionou Derek assim que viu Vernon fechar a porta.

Erica, ao lado do moreno de olhos verdes, rolou os olhos enquanto suspirava. Vernon suspirou pesado, enquanto se sentava na cadeira. Isaac cruzou os braços enquanto direcionava o olhar para Allison em um silencioso “eu te avisei”. A morena suspirou. A agente encarou o homem enquanto cruzava os braços e seguia para o lado do mesmo, passando a analisar o quadro junto de Erica.

- Stiles ficou na biblioteca, investigando o computador que rastreou – respondeu a agente Argent, já esperando a explosão por parte do moreno de olhos verdes.

Scott olhou para Lydia, que o encarou com seriedade, antes de os dois olharem para o agente Hale, que encarava a morena a sua frente com igual seriedade. Derek pensava com calma e clareza. Ele não iria deixar o desespero e a raiva lhe tirarem a razão novamente. Allison era uma especialista em armas experiente. Ela já havia trabalhado o suficiente no FBI para saber em quem confiar. Derek não era um novato. Assim como o tio e o pai faziam, Derek puxava a ficha de qualquer pessoa com quem ele iria trabalhar. Allison havia trabalhado em muitos casos e todos com bastante eficiência. Havia feito ótimos interrogatórios com homens bastante perigosos. Ela era experiente o suficiente para saber em quem confiar.

- olha, eu sei que... – Isaac tentou justificar a escolha de Allison em deixar Alice para trás.

- contanto que ele volte quando acabar, está bom – ditou o Hale voltando a se focar no quadro a sua frente, surpreendendo todo mundo.

- é o quê? – questionou Isaac, confuso.

- nós precisamos pegar esse cara rápido. Assassinos virtuais são difíceis de se pegar. Se deixarmos isso se estender ele apaga o rastro digital e nós perdemos ele – ditou o moreno de olhos verdes cruzando os braços e se afastando do quadro.

- espera! Sem histerismo? Sem gritaria? Sem reclamações? – perguntou o Lahey, surpreso.

- mas isso é a prova viva da evolução. Argumenta, agora, igreja! Lacrou, Darwin! – exclamou Erica vendo o homem com o qual fazia piada lhe fitar com irritação no olhar.

- apenas vamos pegar esse cara logo – ditou o Hale antes de as portas da sala se abrirem, revelando Peter, que era acompanhado pelo delegado.

- é normal as investigações serem tão paradas? – questionou o oficial enquanto via o federal suspirar, cansado.

- sim. Quando se está atrás de um criminoso virtual, é comum que toda a ação se concentre bem ali – respondeu o louro apontando para Lydia, que dedilhava com velocidade.

- e o que nós fazemos? – questionou o homem vendo o outro se jogar sentado na cadeira ao lado da de Vernon.

- fiquem de olho em qualquer pessoa suspeita. Ela costuma ser reclusa, possivelmente socialmente estranha, que prefere passar o tempo no computador do que saindo de casa – respondeu Derek e o homem riu nasalado.

- você acabou de descrever a nova geração de adolescentes, agente – ditou o delegado suspirando e vendo o moreno de olhos verdes dar de ombros e suspirar.

- por hora, é tudo o que vocês podem fazer - ditou o agente vendo o oficial suspirar e se retirar da sala.

- por onde você esteve? – questionou Derek vendo o tio ignorar a sua imagem e coçar a cabeça, olhando para o chão.

- nas cenas do crime. Estive conversando com os pais das vítimas da cidade. Um dos adolescentes sofreu um término recente e costumava conversar bastante pelas redes sociais. A mãe dizia que ele costumava fechar a conversa quando ela se aproximava. Provavelmente, o assassino faz algum tipo de contato com as vítimas antes de elas acessarem o site – respondeu o louro vendo Erica puxar o piloto para anotar a informação no quadro de vidro com uma palavra chave.

- ele deve se aproximar da vítima e fazer com que ela acesse o Trick or Treat – falou Scott vendo o louro concordar

- eu também pensei nisso – afirmou e recostando ao assento e puxando um pirulito do bolso.

- não está velho demais para pirulitos? – brincou Derek tentando medir até que ponto o louro fora afetado pela provocação de Scott mais cedo.

- apenas me deixe voltar ao tempo em que corria atrás de coelhos – murmurou o homem enquanto encostava a cabeça na parede, fechando os olhos lentamente e os cobrindo com um dos braços, apreciando o sabor doce que dominou a sua língua.

O moreno de olhos verdes franziu o cenho para o tio. Aquilo fora estranho. Peter não havia respondido a sua provocação obviamente amigável sem uma agressiva de cunho também amistoso. Aquilo fora realmente muito estranho. O seu tio parecia estar cansado e com pouca paciência, o que era algo bastante raro. Olhando para Scott e Lydia, o Hale notou que os mesmos pareciam um pouco tensos, provavelmente preocupados com o afastamento entre Alice e o grupo. Derek não poderia os julgar, ele também estava. Mas eles haviam entendido que, quando tentavam prender os que já estavam presos, deixavam os que estavam livres escaparem. A prova disso fora que, enquanto eles, que tanto discutiam com os detentos, estavam fora, momentaneamente, do foco do caso, eles haviam feito grandes avanços. Eles entenderam que deveriam parar de se focar na divisão e focar nos criminosos que ela caçava e não os que faziam parte dela, do contrário, seriam apenas estorvos que seriam substituídos assim que fosse notado o atraso que o peso de seus atos causava.

O dia se passou e nada de nenhuma informação nova. Nem por parte de Lydia e muito menos por parte de Stiles, o que preocupava Scott mais ainda. Ele já começava a andar de um lado para o outro na sala, enquanto mordia a pele do polegar, nervoso. Derek não estava muito diferente, ele brincava com o botão de uma caneta, tentando se entreter com o estalo gerado pela ativação do mecanismo de saída e entrada do bico da caneta, enquanto disfarçava o seu nervosismo com tédio.

- uma pergunta simples: como o Stiles vai nos informar se descobrir algo? – indagou Derek vendo o grupo olhar para Allison que se viu surpresa quando se deu conta daquele ponto.

- merda! Eu me esqueço que eles não podem ter celular! – exclamou a morena, batendo na própria testa.

- alguém tinha que ficar com ele para servir de conexão – ditou Isaac olhando para os agentes, que se entreolharam, com exceção de Lydia. Peter suspirou, imaginando que teria de se afastar da “base” para poder ficar com o seu detento protegido. Stiles era responsabilidade dele, já que fora um dos agentes que o prendeu, sem contar que era o único que entendia o jeito único de funcionar do castanho.

- eu vou lá – ditou Scott já se dirigindo para a porta.

- deixa. Pode deixar que eu vou – ditou Derek colocando a caneta no bolso do terno, chamando a atenção de Peter.

- para quê? Causar mais intrigas? – indagou o louro já se erguendo.

- é melhor deixar o Peter ir – ditou Vernon chamando a atenção dos dois morenos.

- Peter tem facilidade em persuadir a polícia. E os oficiais estão ficando impacientes. Precisamos dele aqui para manter a ordem caso as coisas cheguem a sair do controle – disse Derek vendo o tio lhe fitar com seriedade.

Peter pensava seriamente no assunto. De fato, os policiais estavam ficando impacientes, sabendo que o culpado pela morte de dois de seus conterrâneos estava solto por aí, era bem provável que eles perdessem o controle. Mas também havia o fator ódio naquela equação. Derek não suportava Alice. Da última vez que os dois ficaram sozinhos, Derek atirou no detento e os dois se esmurraram um pouco. Deixar Derek e Stiles juntos era igualmente perigoso, naquela situação. Ele poderia muito bem mandar Scott junto, se o moreno de queixo torto não nutrisse tanto ódio quanto Derek. Ele não tinha dúvidas de que Stiles poderia lidar com ambos, caso mais uma briga ocorresse, mas as pessoas não eram a prova de balas e o governo não iria gostar nada de saber que dois de seus agentes estão atirando em um detento sobre a sua custódia sem qualquer motivo coerente.

- deixe o Derek ir – falou Allison chamando a atenção do louro.

- ele evoluiu muito em menos de uma hora – ditou Isaac cruzando os braços na direção do agente Hale.

- a evolução mais esperada do que a do Pikachu do Ash – soltou Erica gerando gargalhadas em Vernon, Isaac e Allison.

- se Allison está dizendo, então vá – disse Peter cruzando os braços e voltando a se sentar.

Derek meneou positivamente, antes de sair da sala com velocidade, enquanto Peter rezava para não se arrepender. O Hale tinha pressa em encontrar o castanho de lóbulos furados. O seu nervosismo estava crescendo. Ele precisava encontrar Alice para confirmar com os próprios olhos que, talvez, apenas talvez, ele pudesse confiar no castanho enquanto o mesmo não lhe dava motivos para mais desconfiança.

- consegui – ditou Lydia chamando a atenção de todos e logo Peter se ergueu, se aproximando da ruiva.

- consegue achar a localização de todos eles? – questionou o louro vendo a ruiva permanecer a mover os dedos com velocidade.

- se consegui copiar todos, sim – respondeu a Martin e logo o louro puxou uma bloco de notas e uma caneta.

 

 

 

 

 

 

 

 

- já cuidou da louça? – questionou a mulher vendo o filho menear positivamente.

- lavei, sequei e guardei – respondeu ouvindo a mulher agradecer e voltar a sua atenção para a novela.

Ryan subiu as escadas de sua casa com velocidade, se dirigindo para o próprio quarto. O castanho fechou a porta e se jogou em sua cama, suspirando cansado. Ele havia tido muitos afazeres desde que havia chegado em casa. Ele e sua maldita mania de deixar tudo para a última hora. Ao invés de ter feito os trabalhos que deveria entregar amanhã, durante a tarde, na biblioteca, o rapaz ficou xeretando o computador dos agentes.  Sendo assim, quando chegou em casa, teve que começar a fazer tudo. Três malditos trabalhos que eram demasiados extensos. Ele quase surtou com a maldita redação de história. Quem se importa com o que já passou?

E foi pensando nisso que o rapaz se ergueu de prontidão, se sentando na cama e tratando de puxar o seu notebook para o colo. Ele não havia tido tempo de ver o que havia encontrado no computador dos agentes. Ele estava ansioso, quando saiu da biblioteca, mas não teve tempo de dar uma olhada. Muito menos teve coragem de olhar no computador em que estava. Não com aquele homem tão perto deles. Seria muita ousadia. O rapaz abriu o e-mail, vendo os arquivos que ele havia enviado para ele mesmo. Ele começou a baixar os arquivos, enquanto olhava para a porta, para ver se ninguém estava para entrar. O castanho também se dirigiu para a janela do quarto, tratando de fechar a mesma e as cortinas também.

Ele queria privacidade para ver aquilo.

O primeiro a baixar fora o arquivo com o nome de Zumbi. Ele clicou no arquivo para abrir o mesmo, mas fora surpreendido quando surgiu uma notificação na tela do seu computador, informando que não havia conseguido abrir o arquivo pois o mesmo não mais existia no computador. O adolescente franziu o cenho, antes de ir para a pasta de downloads, passando a procurar pelo arquivo, mas o mesmo realmente não existia. Ele tentou o arquivo com o nome Alice, mas o mesmo lhe rendeu a mesma mensagem. Irritado, ele tentou baixar os arquivos novamente, mas quando abriu o e-mail mais uma vez, o e-mail enviado por ele mesmo com os arquivos já não mais existia em sua caixa de entrada.

- mas o que porra está acontecendo? – questionou recarregando a página, vendo que o e-mail havia, realmente, desaparecido.

Ele procurou na pasta de spam e na de mensagens enviadas. Procurou pelo e-mail na lixeira, mas também não havia nada. Procurou os arquivos na lixeira do notebook, mas também não encontrou nada. Foi então que ele se deu conta do que estava acontecendo ali. No mesmo instante, o rapaz puxou o celular e discou o número do melhor amigo. Demorou apenas alguns toques para Vincent atender.

- cara, eles hackearam o meu computador – o castanho cortou qualquer chance de o outro iniciar um assunto qualquer.

- como é? Eles quem? – questionou o moreno, do outro lado da linha, enquanto abria o guarda-roupa e jogava a toalha sobre a cama.

- o FBI, caralho! – exclamou o castanho e o moreno congelou.

- Ryan, não brinca comigo, cara. Não brinca com uma coisa dessas comigo, não. Você sabe que eu sou paranoico, meu irmão – implorou o moreno enquanto parava com a cueca na mão, olhando ao redor, preocupado.

- é sério. Os arquivos, eles não existem mais no meu e-mail. E quando eu baixei eles quando cheguei, eles estavam no meu e-mail. Agora, eles foram deletados do meu computador e do e-mail, cara! – exclamou o adolescente, já nervoso.

- mano, é sério. Para. Eu estou ficando assustado – ditou o moreno enquanto vestia a roupa íntima apressado e corria para a janela do próprio quarto, olhando ao redor para ver se a sua casa já não estava sendo cercada pelos federais.

- eu estou falando sério! Eu não sei como, mas eles descobriram a gente! – ditou o adolescente, nervoso.

Ryan fora surpreendido quando o seu notebook liberou o som característico de notificação no chat de uma rede social específica. O castanho se viu surpreso quando viu um nome estranho no chat. A primeira mensagem fora um simples “oi”, seguido da imagem de uma abóbora sorridente. O castanho olhou para aquela imagem por um bom tempo, confuso. Ele achou que fosse spam ou qualquer outra coisa e ignorou, permanecendo a falar com o seu melhor amigo, desesperado. E foi quando outra mensagem chegou que o castanho se viu amedrontado.

“É melhor não me ignorar, Ryan”

O castanho parou, em choque, ao ler a mensagem. Ele estava confuso. Não era estranho saberem o seu nome, mas naquela rede social, sim. Ele nunca havia usado o seu nome naquele site de jogos. Nervoso, o castanho cobriu a boca com a mão, enquanto virava um pouco, se afastando minimamente do computador.

- Vinc, alguém me chamou no chat, aqui. Está estranho – ditou enquanto olhava de soslaio para o notebook, vendo mais uma mensagem surgir.

“Desliga o celular, Ryan”

- mano, o cara sabe que eu estou no celular. O cara sabe que eu estou no celular! – exclamou desesperado.

- desliga essa porra! – exclamou Vincent já vestindo a calça.

- se liga. Eu vou parar de falar com você, mas não encerra a chamada – sussurrou Ryan enquanto olhava nervoso para a tela do notebook.

- o quê? Enlouqueceu? Desliga esse computador, cara! – exclamou Vincent, nervoso.

- eu vou parar de falar e fingir que desliguei – ditou o castanho nem esperando o amigo falar alguma coisa.

“Muito bem. Você não vai querer que o FBI saiba que você invadiu eles, não é?”

Ryan gelou com a informação contida na mensagem, antes de ver o mesmo rostinho sorridente da abóbora surgir logo embaixo. O castanho sentia as mãos tremerem e o suor começar a surgir nas mesmas.

“Se quiser manter isso em segredo, jogue comigo”

A mensagem veio seguida de um link. Um link que ele já havia acessado uma vez, mas não viu lógica alguma naquilo. Nervoso, ele clicou no link e logo a interface inicial do Trick or Treat surgiu na tela do seu notebook.

‘O que eu faço?’

Questionou Ryan vendo a mensagem “digitando”, surgir no chat, indicando que “Hallowen Killer” estava digitando. O adolescente estava nervoso. Ele sentia que nada de bom iria sair daquele maldito site. Mas ele não se via com outra escolha. Era jogar ou ser preso. Ele teria de fazer o que quer que seja que aquele maldito site mandasse.

 

 

 

 

 

 

 

Stiles se encontrava sozinho no escuro da biblioteca, focado no computador a sua frente. O castanho era a única coisa iluminada naquele local, já que a única iluminação existente era a tela a sua frente. O castanho havia conseguido algumas informações novas que lhe iluminaram bastante o caso. Passara quase vinte e quatro horas na frente daquele computador.. Através daquele computador, Stiles conseguiu redirecionar a pesquisa até descobrir um e-mail utilizado no mesmo horário em que o computador havia sido usado pelo administrador do Trick or Treat.

No entanto, o e-mail era de uma das vítimas. Stiles investigou mais afundo e então, se lembrando de tudo o que viu nas redes sociais da vítima, se lembrou de que a vítima postou uma foto do treino de futebol junto de alguns colegas de time. Então era impossível que aquele e-mail lhe levasse a algum lugar. No entanto, quando o castanho resolveu fazer uma limpa no e-mail da vítima, ele foi agraciado com informações interessantes sobre o adolescente. Informações estas que lhe diziam que os adolescentes de hoje em dia talvez não tivessem se tornado tão burros quanto ele pensava.

Ele, então, resolveu acessar o e-mail de todas as outras vítimas enquanto estava na biblioteca. Cada um com um problema diferente, mas todos sendo causados pelo mesmo culpado e no mesmo modus operandi, aquilo lhe fez sorrir com a sua descoberta, mas o seu interior ainda estava agitado. Ele ainda se sentia inquieto e o modus operandi que via ser utilizado lhe inquietava mais ainda. Ele reconhecia aquilo. Não era a primeira vez que via um daqueles. A sua mente viajou longe, lhe trazendo flashs do passado.

Suas mãos pequenas sujas de sangue, o sorriso meigo e gentil, mas que carregava perigo por trás dele. Mesmo estando em um corpo morto, aquele sorriso era tão parecido com o que era usado em vida. O corpo deitado no chão de terra batida, cercado por algumas folhas tinha os olhos voltados em sua direção. Uma risada doce ecoou em sua mente, junto dos flashs enquanto via cabelos longos com algumas mexas azuis se moverem no ar enquanto o corpo girava, com o dono do mesmo rindo divertido. A tatuagem verde em seu pulso quase não era vista, mas ele a reconhecia pela cor. E então, o corpo que antes girava, agora estava dentro de uma cova, sem o brilho no olhar, mas com o mesmo sorriso fino nos lábios. E então a terra caiu como chuva, o enterrando, enquanto o mesmo estendia a mão para si, como se pedisse ajuda. O grito de dor veio em sua mente, lhe fazendo acordar para o presente.

Stiles teve a sua atenção chamada quando notou um outro monitor acender. Ele olhou para o outro lado da fileira de computadores, esperando ver a imagem da bibliotecária ali, mas tudo o que viu fora o monitor do computador se tornar escuro, como se alguém estivesse programando algo no mesmo antes de o iniciar. Aquilo fez o castanho franzir o cenho, antes de apertar um botão no teclado do computador em que estava, se erguer de sua cadeira e se aproximar, lentamente do computador. Era tarde. Os funcionários as biblioteca já haviam ido embora. Havia apenas ele, ali. O homem franziu o cenho ao ver, aos poucos, letras brancas surgirem no escuro da tela.

“Você não pode pegar o Hallowen”

“Não pode pegar o que não pode ver”

Stiles ergueu a sobrancelha em questionamento, enquanto observava com desdém para o computador, olhando bem para a webcam acima do mesmo. Ele sabia que aquilo estava ligado e que o seu suspeito o estava vigiando naquele momento. O castanho sorriu vitorioso, antes de olhar bem para a pequena câmera acima do monitor e lamber os lábios sensualmente. O assassino deu uma risadinha baixa antes de apertar o botão do microfone.

- mas eu posso ver você. Eu vejo você bem o suficiente para saber onde lhe pegar – ditou o castanho sorrindo travesso antes de desligar o computador, desligando a fonte do mesmo.

O castanho foi surpreendido quando as luzes se ascenderam e logo ele olhou para o lado, vendo um moreno de olhos verdes conhecido se aproximar com a sua típica expressão séria. O mais baixo sorriu ladino, desdenhando do moreno, enquanto retornava para o computador em que estava antes de ter o contato breve com o criminoso que estava caçando.

- até que demorou para você dar as caras por aqui – falou o castanho enquanto via o moreno cruzar os braços.

- eu não vi lhe vigiar – ditou o moreno de olhos verdes, surpreendendo o castanho.

- não? E o que veio fazer aqui, então? – indagou o Stilinski vendo o agente Hale se aproximar mais.

- você não tem celular. Então alguém tem que ser a conexão entre você e o resto da equipe – respondeu Derek e o castanho lhe fitou com tédio.

- e você não ficou nem um pouco desesperado com a minha ausência Uhum. Uhum. Sei – ditou Alice voltando a sua atenção para o monitor atrás de si

- dois coelhos em um golpe só – argumentou o moreno vendo o castanho negar com a cabeça

- me ama muito, você – comentou o mais jovem ignorando a imagem do moreno, que negou com a cabeça, soltando uma lufada de ar pelas narinas, sorrindo.

- o que estava fazendo? – questionou Derek vendo o castanho suspirar.

- ele não apenas sabe que estamos atrás dele. Como também sabe um pouco do que sabemos sobre ele – ditou Stiles enquanto se sentava.

- e como sabe disso? – questionou o Hale vendo o castanho sorrir.

- ele fez contato comigo antes de você chegar – respondeu Stiles e o agente se viu surpreso.

- ele sabe que você está aqui? – indagou o moreno vendo o detento menear positivamente.

- está tentando mexer com o nosso psicológico – ditou enquanto voltava a mexer no computador.

- o que ele disse? Como disse? Ele é recluso demais para tentar contato direto – questionou o agente, curioso, se sentando ao lado do castanho.

- ele hackeou aquele computador ali – ditou Stiles apontando para o aparelho citado, antes de olhar para o mesmo, curioso.

- ele disse que... como ele ligou? – questionou Stiles vendo o moreno lhe fitar com confusão.

- o quê? – indagou Derek vendo o castanho encarar, curioso, o equipamento.

- o computador... ele precisa estar ligado para ser controlado remotamente. Mas só esse computador está ligado. Então como ele conseguiu ligar aquele? – questionou Stiles antes de se erguer, se aproximando do aparelho.

- ele esteve aqui – ditou Derek vendo o castanho se aproximar do aparelho erguendo a mão para a mão do agente, parando o Hale, quando o mesmo ergueu a arma.

- não. Ele não esteve aqui. Ele não tem coragem o suficiente. – ditou o Stilinski se aproximando do computador.

- então o que acha que aconteceu? – questionou o moreno de olhos verdes parando ao lado do castanho, que colou o ouvido no gabinete.

- bate nele – ditou Stiles e o Hale olhou confuso para o castanho, antes de obedecer.

- o que foi? – indagou Derek vendo o assassino andar até o computador ao lado e repetir o ato.

- bate nesse – ordenou o castanho e o moreno, ainda confuso obedeceu.

- o que está fazendo? – inquiriu o agente, perdido.

- ele tem algo dentro – respondeu Stiles voltando para o primeiro computador em que Derek bateu por ordem sua.

- do que está falando? – perguntou Derek antes de Stiles começar a arrancar os fios do gabinete e o virar.

- ele não pode ligar o computador de longe, só se ele tiver um mecanismo para isso. Isso é um lugar público e não deixam os computadores ligados como adolescentes. A biblioteca não é um alvo de controle absoluto, a não ser que – ditou o castanho enquanto procurava algo para abrir o aparelho.

- que ele tenha um mecanismo que ajude ele nisso – ditou Derek vendo o castanho erguer o aparelho e lhe entregar o mesmo.

- pega isso. Vamos levar os dois para a delegacia – ordenou o castanho enquanto olhava bem para o monitor do computador que estava usando, antes de começar a desligar o mesmo.

- não podemos levar os dois computadores. Não temos um mandato ainda – argumentou Derek vendo o castanho pegar o segundo gabinete.

- foda-se! Não tem ninguém para nos impedir. Você quer pegar o cara ou não? Trás o mandato depois – ditou Stiles já se dirigindo para a saída.

- que eu não me arrependa disso. Não se arrependa, Derek. Não se arrependa – ditou Derek seguindo o castanho com o gabinete embaixo do braço.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

- a maioria desses endereços são de computadores de locais públicos – ditou Lydia vendo a localização de todos os computadores que foram usados pelo administrador do Trick or Treat em um mapa.

- isso é muito confuso. Ele parece não esconder que é o administrador do site, para as pessoas a sua volta – comentou Isaac vendo Erica olhar para si, meneando em concordância.

- isso é estranho. Ele não tem coragem de criar uma assinatura, mas tem coragem o suficiente para não esconder que é o administrador do site? – indagou Allison, confusa.

- coragem ou burrice – respondeu Erica.

- não. Ele é meticuloso demais. Ele consegue esconder os rastros dele de Lydia. Burrice não parece fazer parte dele nesse sentido – ditou Peter, chamando a atenção para ele.

- talvez ele apenas não saiba como esconder os seus rastros fora do mundo virtual – ditou Isaac deixando uma leve dúvida no ar.

- vocês tem noção de quantas pessoas estão acessando esse lixo? – indagou a ruiva mostrando a tela para os outros agentes, onde mostrava a quantidade de acessos no momento.

- mentira! – exclamou Scott, indignado.

- de onde sai tanta gente burra? – indagou Isaac, igualmente irritado.

- burra ou com necessidade de atenção – argumentou Vernon. A porta se abriu e logo o grupo fora surpreendido pela imagem de Stiles e Derek, cada um carregando um gabinete de computador.

- mas o que é isso? – questionou Peter, confuso.

- não dava para deixar lá e eu tinha que mostrar isso – ditou Stiles enquanto largava o gabinete sobre a mesa do delegado.

- eu vou providenciar o mandato daqui a pouco – falou Derek enquanto via Stiles correr para fora da sala.

- ele está realmente animado com esses computadores – disse Erica vendo o castanho sumir quando a porta se fechou.

- o que ele viu neles? – questionou Isaac vendo Derek dar de ombros.

- ele só encostou o ouvido no computador e pediu para eu bater nele um pouco – respondeu o moreno de olhos verdes vendo o castanho retornar com uma chave estrela em mãos.

- o filho da mãe é tão inteligente! – exclamou Stiles enquanto começava a abrir o gabinete aos poucos, ao mesmo tempo em que encarava Peter fixamente com um sorriso no rosto.

- explique – ditou o homem vendo o castanho sorrir animado.

- ele não seria burro ao ponto de usar o próprio computador como administrador. Então ele precisa usar computadores de locais públicos. Mas, tem um problema em fazer isso. O computador só vai estar disponível enquanto o local estiver aberto e o computador ligado. – ditou o castanho vendo a ruiva franzir o cenho em sua direção, assim como Allison e Scott.

- mas quase todos os acessos dele são feitos pela tarde e pela noite – argumentou a ruiva se lembrando muito bem dos horários de acesso do administrador.

- e as mortes aconteceram pela noite – argumentou Scott vendo o castanho arrancar a lateral do gabinete.

- exatamente. Ele precisaria de um computador público ligado nesse momento e de preferência em um local em que ninguém o veja funcionando – ditou Stiles enquanto virava o gabinete para que todos pudessem ver um aparelho grudado na parede interna do computador.

- o que é isso? – questionou Erica vendo o castanho puxar o aparelho para fora.

- o desgraçado acoplou um sistema parecido com o de bombas – ditou Vernon vendo o celular na mão do castanho ser ligado ao gabinete por fios.

- ele criou um controle remoto para computadores públicos. Sempre que ele liga para um desses números, o computador liga – explicou Stiles vendo Lydia se aproximar, surpresa.

- caramba! Isso é incrível! Mas e se o celular descarregar? – questionou a ruiva vendo o Stilinski colocar a mão no gabinete novamente.

- ele já pensou nisso – ditou puxando o carregador do celular, que estava ligado à fonte interna do gabinete.

- que gênio! – exclamou a ruiva vendo o castanho menear positivamente.

- como soube disso? – questionou Erica vendo o castanho cruzar os braços.

- eu estava sozinho na biblioteca, quando este computador ligou sozinho. Era ele, dizendo que nós não podemos pegar o que não podemos ver – disse o Stilinski vendo o grupo se entreolhar.

- ele está tomando confiança – ditou Peter vendo o castanho menear positivamente.

- isso é ruim. Esse cara é muito cauteloso. Se ele se tornar confiante demais, ele vai matar mais – afirmou Derek vendo Scott menear positivamente.

- não necessariamente. A cautela dele é movida pelo medo – argumentou Peter chamando a atenção.

- quando um assassino é cauteloso demais por medo, como esse, quando ele começa a perder o medo, ele deixa de ser cauteloso e passa a ser ousado – explicou Stiles cruzando os braços.

- então só vamos conseguir pegá-lo quando ele matar mais? – questionou Isaac, confuso.

- não necessariamente. Ele pode querer nos desafiar antes, mas isso é muito raro de acontecer – ditou Scott vendo o louro lhe fitar enquanto processava a informação.

- conseguiu mais alguma informação além disso? – perguntou Allison vendo o castanho sorrir. Stiles foi interrompido quando a porta da sala se abriu.

- agentes, tem alguém querendo falar com vocês. – ditou o delegado chamando a atenção do grupo, que o fitou curioso.

- e quem seria? – questionou Allison, curiosa.

- alguém com quem eu acho que vocês vão gostar de falar – respondeu o oficial antes de dar espaço para a pessoa passar.

 

Chapter 33: Jabberwocky

Chapter Text

- conseguiu mais alguma informação além disso? – perguntou Allison vendo o castanho sorrir. Stiles foi interrompido quando a porta da sala se abriu.

- agentes, tem alguém querendo falar com vocês. – ditou o delegado chamando a atenção do grupo, que o fitou curioso.

- e quem seria? – questionou Allison, curiosa.

- alguém com quem eu acho que vocês vão gostar de falar – respondeu o oficial antes de dar espaço para a pessoa passar.

Os agentes assistiram, um tanto intrigados, um adolescente relativamente alto para a idade, com cabelos despenteados e olhos vermelhos, indicando que havia chorado antes de seguir até o seu encontro adentrar o local. Stiles reconheceu o rapaz imediatamente, assim como Allison, Erica, Vernon e Isaac. Aquele era o adolescente que havia elogiado Stiles mais cedo, recebendo um elogio por parte do castanho.

- o cara do brinco legal – ditou Stiles vendo o rapaz se encolher um pouco.

- este é Ryan Charles. Ele alega ter sido contactado pelo nosso suspeito – ditou o delegado vendo o adolescente se encolher ainda mais na presença dos federais.

Os agentes se entreolharam, surpresos, antes de direcionarem o olhar para o adolescente. Stiles sorriu ladino, se colocando na frente do grupo de federais, apontando com a mão para a cadeira vazia, antes de se abaixar diante do adolescente, o analisando.

- e então? O que você fez? – questionou o castanho mais velho ainda sorrindo maroto para o castanho mais novo, o vendo nervoso.

- e-eu? – indagou Ryan sem conseguir olhar para o homem a sua frente.

- é, você. Eu descobri como o cara escolhe as vítimas. E sei que, para ele, vocês não são vítimas – respondeu Stiles, chamando a atenção do grupo.

- do que está falando? – perguntou Scott, confuso, mas Stiles apenas ergueu a mão em sua direção, pedindo silencio.

- ele invadiu o seu computador. O que ele achou lá para tentar lhe convencer a jogar o jogo dele? – indagou o Stilinski vendo o adolescente coçar as mãos, nervoso e os olhos voltarem a arder.

- eu não estou entendendo – soltou o delegado, confuso.

- seja lá o que tenha feito, não irei lhe julgar. Dormiu com alguém que gostaria de manter em segredo? Foi pego se masturbando enquanto via pornografia? Traiu a namorada? Ou tem um namorado? Não nos interessa a sua vida pessoal, queremos apenas pegar o cara que lhe hackeou – ditou o castanho mais velho vendo o Charles coçar a garganta nervoso.

- eu...

- mais alto. Eles não conseguem lhe escutar – falou o Stilinski e o rapaz coçou a garganta.

- me desculpem. Eu...invadi o computador de vocês – confessou o adolescente vendo o grupo de agentes se entreolhar, surpreso, com exceção do castanho a sua frente, que olhou para a ruiva com seriedade.

- e como conseguiu? – questionou Stiles enquanto via Lydia digitar no próprio computador com velocidade.

- pelo computador da biblioteca – respondeu Ryan ainda nervoso.

- era o que estava fazendo lá? Por isso ficou nos encarando? – indagou Erica vendo o rapaz menear positivamente.

- e como um adolescente como você conseguiu passar pelo sistema de ponta do computador da Lydia? – indagou Peter vendo o adolescente negar com a cabeça.

- o sistema dela nem é tão de ponta, assim – argumentou vendo os federais lhe fitarem surpreso.

- ele está certo. Este notebook é particular. O FBI apenas nos forneceu gabinetes, eu não coloquei muita segurança nesse computador. Estou pretendendo descartar ele em breve – ditou Lydia antes de suspirar.

- eu descobri algo quando voltei para a delegacia. Houveram duas tentativas de invasão. Uma quando eu estava fora, atrás de Alice, mas ela falhou. A outra ocorreu quando eu estava no computador do delegado logo após Peter sair da sala. Esta teve sucesso – ditou a ruiva cruzando os braços e olhando para o rapaz com seriedade.

- você trouxe um computador particular com pouca segurança para uma busca de um cyber serial killer?! – questionou Peter, surpreso e indignado.

- eu não pretendia me afastar do computador, Peter, mas as circunstâncias pediram – argumentou a ruiva, com seriedade.

- não houve circunstância alguma, só houve desconfiança e falta de profissionalismo – ditou o louro mais velho cruzando os braços e dando as costas para a mulher.

- mas ele não pegou essa informação do computador da biblioteca. Aquele computador que você estava usando não tem webcam. O assassino não poderia saber quem havia feito isso. Como ele sabe que foi você? – indagou Stiles com seriedade em seu olhar.

- eu... baixei dois arquivos que estavam abertos, só por curiosidade. Eu queria saber com o que vocês trabalham – ditou o rapaz e Derek se colocou ao lado de Stiles, o fitando com uma seriedade que pesava.

O peso do olhar daquele homem no adolescente era quase como a raiva. Ele esperava por aquilo, mas não esperava que fosse ficar tão nervoso quando ocorresse. Ryan sabia que os agente iriam ficar irritados e que ele seria preso, mas a raiva dos agentes estava lhe deixando muito nervosismo. O moreno de olhos verdes descruzou os braços e o fitou de cima, com fúria.

- quais arquivos? – indagou, irritado.

- Derek, não pegue pesado. Precisamos da colaboração dele – repreendeu Allison, tentando acalmar o companheiro.

- quais. arquivos?- o moreno voltou a perguntar, ainda com a voz grossa indicando toda a irritação que sentia.

- eram dois casos de nomes estranhos... um se chamava zumbi e o outro se chamava

- Alice – a voz de Lydia cortou a do adolescente, fazendo o peito dos federais gelar.

- esse mesmo – confirmou o adolescente vendo os agentes se entreolharem.

- se esses dois arquivos vazam, estamos fodidos – ditou Vernon olhando para Isaac e Erica.

- você leu os arquivos? – questionou Allison vendo o adolescente negar com a cabeça.

- não podemos confiar na palavra dele – ditou Derek vendo o adolescente ficar nervoso.

- mas podem confiar na minha. Esse garoto não leu os arquivos – ditou Alice chamando a atenção do moreno de olhos verdes.

- e como tem certeza disso? – indagou o Hale confuso.

- ele está sentado bem na minha frente sem demonstrar receio nenhum quanto a minha pessoa. Algo que ninguém faria se tivesse lido aqueles arquivos – respondeu deixando o adolescente curioso.

- um deles é sobre você? – questionou vendo o castanho menear positivamente.

- pode me chamar de Stiles ou Alice – respondeu vendo o rapaz lhe fitar levemente confuso.

- Alice... ele é sobre você – murmurou pensativo.

- agora não é hora para dar respostas à perguntas secundárias, Alice. Você disse que ele entrou em contato com você. Como? – questionou Scott vendo o rapaz coçar a garganta, ainda nervoso com os agentes de cabelos negros.

- pelo chat de uma rede social. Quando eu abri o meu computador para ler os arquivos, eles foram excluídos remotamente. Ele parecia não querer que eu lesse – ditou deixando os federais confusos com a ultima informação.

- ele não lhe deixou ler? – indagou Scott, apenas para confirmar que estava realmente ouvindo aquilo.

- sim. No início eu achei que fossem vocês que tivessem me descoberto. Eu liguei para o meu amigo que estava comigo quando eu invadi o sistema de vocês. Começamos a debater sobre isso desesperados. Quandk o chat abriu sozinho e me disse para desligar o celular, eu fiquei desesperado – dizia o rapaz, ficando nervoso novamente.

- foi aí que ele disse para você jogar com ele – ditou Stiles cortando o rapaz.

- como sabe? – questionou Ryan, surpreso. Os Federais pareciam realmente ser bons naquilo.

- eu descobri como ele convence as vítimas a irem tão longe no jogo – ditou Stiles se erguendo e se dirigindo para o quadro.

- e como seria? – questionou Allison.

- ele invade os seus computadores, procurando por algo que poderia... “incriminar” a vítima. Uma de nossas vítimas traía a melhor amiga se deitando com o namorado dela. Ele filmou tudo e usou o vídeo para convencer a garota a se enforcar por um minuto. Ela só não sabia que aquilo era tempo o suficiente para perder a consciência e não conseguir mais tirar a corda do pescoço. O mesmo ocorreu com a ultima vítima. Ele mantinha relações sexuais com o melhor amigo. A nossa segunda vítima parece ter sido flagrado falando algo que algumas pessoas, incluindo os seus pais, não iriam gostar de ouvir. – ditou o castanho se afastando do adolescente para caminhar na direção do quadro que haviam montado.

O castanho passou a escrever no quadro, descrevendo, com poucas palavras, o modo como o assassino escolhia as suas vítimas e as fazia entrar em seu jogo suicida. O delegado chamou o garoto, o segurando pelos ombros, na intenção de o remover da sala, para que o adolescente não escutasse mais nenhuma informação confidencial. No entanto, quando se aproximou da porta, os dois foram parados pela voz do castanho de lóbulos furados.

- creio eu que o Ryan vai ficar conosco, delegado – ditou o especialista chamando a atenção do oficial, que se virou surpreso.

- ele é apenas um adolescente curioso – argumentou o oficial tentando apelar para o sentimentalismo dos agentes.

- isso dá para notar apenas ao olhar para ele. Agora, sente o senhor Charles onde ele estava. – ditou Peter chamando a atenção do homem e do adolescente.

- eu quero que você leve uma equipe para a residência dos Charles. Deixe um oficial com eles só por segurança. Allison, Erica e Vernon. Vão com ele. Preciso que alguém analise o quarto do Ryan e tragam o computador com vocês – ordenou o Tate vendo o delegado olhar para o Charles, que suspirou, tristonho.

- vamos – falou Erica já se retirando da sala, de braços cruzados, impaciente.

- eu... Vou ficar alí no canto – disse Ryan empurrando uma das cadeiras para o canto da parede.

- na verdade, eu prefiro que você se sente aqui – ditou Stiles parando atrás da cadeira da mesa do delegado.

- perdeu o juízo?! – indagou Scott, irritado.

Eles estavam indo muito na onda de Alice e Peter estava permitindo. No início, Derek era como o pilar que impedia que o tio permitisse que o assassino tomasse o controle, mas, agora, o moreno de olhos verdes não pareceu ter nenhuma objeção a ideia do castanho.

- Stiles, o que, exatamente, você está pensando em fazer? – indagou o Hake vendo o castanho franzir o cenho em sua direção.

- se ele conseguiu entrar no computador de Lydia e, ainda por cima, dizer que não é seguro o bastante, pode nos ajudar a rastrear o verdadeiro computador do desgraçado – ditou o castanho vendo Scott praticamente ter um ataque cardíaco atrás de Derek.

- ele pirou de vez! – exclamou o McCall, irritado.

- na verdade, é uma boa ideia. Ryan está com o filme queimado. Acredito, eu, que ele queira recompensar o que fez – falou a ruiva, de braços cruzados, vendo o castanho acariciar os cabelos, igualmente castanhos, do adolescente.

- você quer nos ajudar a pegar o cara que lhe fez se entregar, certo? – questionou Alice sorrindo ladino na direção do mais novo.

- e-eu... A-acho que sim – respondeu Ryan, nervoso.

- é assim que se diz – ditou Stiles antes de se erguer vendo o adolescente encarar o computador do delegado, nervoso.

- não. Ele vai trabalhar no próprio computador assim que ele chegar – ditou Derek chamando a atenção do castanho.

- e qual o problema em usar esse? – indagou Stiles, confuso.

- esse garoto já nos causou problemas demais. Vou permitir que faça o que quiser, contanto que seja do meu jeito. Você tem um jeito estranho e funcional de resolver as coisas, mas há limites pras as suas loucuras. Não vou deixar que coloque um hacker que está sob nossa custódia no computador de uma delegacia – respondeu Derek encarando o castanho com seriedade, que lhe encarava com igual seriedade.

- como quiser. Contanto que ele acesse um computador para me fornecer o que eu preciso – foi tudo o que o castanho disse antes de seguir para o celular que estava conectado a um dos computadores da biblioteca.

- venha. Espere sentado naquela cadeira até que lhe chamemos – falou Petwr enquanto apontava para a cadeira ao lado da qual Isaac estava sentado.

 

 


Não chegou, exatamente, a demorar. Os pais de Ryan, um tanto confusos, fizeram tudo o que os oficiais pediram, entregando o computador do filho para a polícia e permitindo que um dos oficiais ficasse em sua residência por aquela noite. Erica e Vernon, juntamente com o oficial e Allison, retornaram para a delegacia.

Os detentos entregaram o notebook para Lydia, que o investigou por completo antes de passar para o adolescente. Diferente do esperado por Scott, o adolescente realmente fora útil. Foram necessárias apenas poucas horas para que Lydia e Ryan determinassem uma localização.

- encontrei! – exclamou Lydia, animada. No mesmo instante, Derek e Peter avançaram no computador dar ruiva, quase desesperados.

- e onde esse filho da mãe está? – indagou Peter, já irritado com o criminoso.

- mas isso é... – a ruiva murmurou, surpresa.

- o que? Qual é o endereço? – questionou Derek, confuso.

- esse endereço... Isso está confuso. Aqui diz que é de uma universidade em... – a ruiva tentava explicar a confusão, mas ela mesma estava perdida com aquilo.

- onde que fica, Lydia? – perguntou Allison.

- Miami – respondeu Ryan chamando a atenção dos federais e do delegado.

- Miami?! Mas isso é muito longe! – exclamou Vernon, surpreso.

- não tem nenhuma chance de estar errado? – indagou Erica vendo a ruiva negar com a cabeça.

- o celular nos leva até lá. É impossível estar errado – respondeu a Martin, confusa.

- isso é estranho. Com todo o respeito, Lydia, mas o que faria alguém sair de Miami para vir até aqui, apenas colocar uns telefones celulares em computadores da biblioteca da cidade? – questionou o McCall, confuso.

- é porque ele não saiu de Miami para esta cidade. Ele saiu da cidade e foi para Miami – respondeu Peter criando um estalo na mente de Derek.

- sabe de alguém que saiu da cidade para fazer faculdade? – indagou o Hale vendo o oficial dar de ombros.

- está numa cidade pequena do interior. Aqui, o máximo que conseguem é ir para cidades vizinhas – respondeu o delegado vendo os agentes suspirarem.

- e-eu sei de alguém – ditou Ryan chamando a atenção de todos.

- sabe? – questionou Isaac, animado 

- e-eu não sei se ela seria capaz de fazer isso, mas... – o adolescente falava baixo, receoso do que dizia.

- as pessoas mudam, garoto. Há personalidades, sim, que conseguem manter os seus princípios. Mas há outras que conseguem se transformar completamente – ditou Peter, chamando a atenção do rapaz 

- no colegial, no ano passado, havia uma garota no ultimo ano. Ela... Vivia na biblioteca, sabe? Ela manjava de computadores e trabalhava lá por meio período. Ela... Era legal. Me ensinou algumas coisas de informática e foi por isso que comecei a estudar computadores e virei hacker. Ela... era meio tímida, mas tinha um jeito rebelde. Ela gostava de jogos do tipo “verdade ou desafio” e coisas como fazer desafios e não ser pego. Ela não contou para ninguém, só para mim, mas, ela conseguiu passar em uma faculdade em Miami. Ganhou uma bolsa muito cara. – disse Ryan, enquanto abria um vídeo em seu computador.

No vídeo, havia uma garota sorridente, a qual encarava a câmera com animação. Ela dizia estar pronta para fazer, enquanto brincava com uma pedra nas mãos. Quando a garota disse “lá vai”, ela entrou na pose de arremessador e lançou a pedra com força no vidro de uma janela.

- ela tinha algo contra alguém? Ela sofreu alguma perda ou frustração enorme? – questionou Scott vendo o castanho lhe fitar confuso.

- bom... Ela... Tinha um namorado, aqui – respondeu o rapaz, meio receoso.

- e quem seria? Ele pode ser o alvo principal dele – indagou Erica vendo o garoto olhar receoso para o oficial da sala.

- é o filho do delegado – respondeu Ryan olhando com receio para o oficial.

- o Kyle? – perguntou o delegado surpreso.

- eles... Namoravam em segredo. Só eu e o melhor amigo do seu filho sabíamos – respondeu o garoto vendo o homem puxar o celular rapidamente.

- o que aconteceu entre eles? – questionou Derek.

- ela queria que ele fosse com ela para Miami. Mas, perto da viagem dela para lá, ele confessou que havia se matriculado em uma universidade na cidade vizinha. Ela não gostou nenhum pouco. Teve um ataque de fúria no quarto dela antes de me chamar para conversar. Ela disse estar muito chateada. Até tentou transar comigo para se vingar, mas eu disse que ela precisava se acalmar. Depois disso, ela nunca mais falou comigo. Saiu da cidade antes do dia da viagem. Os pais disseram que ela se recusa a dizer onde está e a voltar – explicou Ryan vendo os agentes franzirem o cenho.

- uma possessiva. Perdeu o controle e agora quer vingança. Mas por que assim? Normalmente, possessivos só se tornam violentos quando acham que estão sendo traídos. Ela deve ter o observado por um tempo – informou Erica vendo a equipe se tornar mais pensativa no assunto.

- ele tem um notebook. Vive conversando pela internet. – ditou o delegado vendo os agentes se entreolharem.

- perfeito para o nosso suspeito. Ela com toda a certeza descobriu que o seu filho dormiu com alguém – ditou Lydia vendo Erica soltar o ar em uma risada.

- nem precisa dormir. O tipo psicopata controlador não precisa disso. Qualquer amizade, qual quer aproximação do sexo que atrai o parceiro é o suficiente para a paranoia ocorrer. Basta um olhar e – a loura ditou, passando por todos na sala, antes de estalar os dedos na frente de Allison.

- o ódio cresce e o controlador se torna violento até para o próprio parceiro. Capaz de qualquer coisa para deixar o relacionamento “maravilhoso” a salvo de qualquer intruso insolente. – ditou Erica e logo o delegado se virou.

- Kyle, venha para a delegacia. Agora! É uma ordem! – ditou o delegado, agitado.

- mande ele trazer o computador – ditou Lydia e o homem meneou, ordenando o filho o fazer logo em seguida.

Não demorou para que o filho do delegado chegasse a delegacia com o notebook debaixo do braço, enquanto o carregador estava enrolado no pescoço. O rapaz, confuso, olhou para todos aqueles agentes o encarando, receoso. O moreno assistiu, inquieto, a ruiva revistar o seu notebook. A mulher franziu o cenho algumas vezes, assim como Derek, que se encontrava ao lado da mesma.

- eu estou sendo investigado? – indagou, nervoso.

- não exatamente – respondeu Stiles, sentado na mesa enquanto balança as pernas inocentemente, com o pescoço inclinado para o lado.

- ela já entrou em contato, não foi? – questionou Alice chamando a atenção do grupo.

- como assim? – questionou Kyle, confuso.

- uma pessoa está lhe chantageando na internet. Você tem cortado os pulsos, certo? – indagou o castanho fazendo todos olharem para ele. No mesmo instante, o filho do delegado encolheu os braços, tratando de puxar as mangas da camisa com os dedos.

- filho, isto é verdade? – perguntou o pai do moreno, vendo o mesmo morder o lábio inferior.

- eu não sei do que ele está falando – ditou o rapaz, nervoso.

- então por que está tentando esconder as mãos? Melhor. Delegado, o seu filho não anda usando muitas roupas que cobrem os braços? – questionou o castanho de lóbulos furados, chamando a atenção do homem que parou por um momento.

- estamos no Alasca. É claro que uso roupas com mangas cumpridas – alegou Kyle vendo o castanho sorrir debochado em sua direção.

- é por isso que só usa roupas de mangas cumpridas dentro de casa? – perguntou o homem, nervoso.

- precisamos que fale a verdade, cara. Para lhe proteger. Essa pessoa não vai parar nos pulsos – ditou Vernon, tentando persuadir o mais novo.

Pareceu funcionar. Kyle começou a chorar, nervoso, confuso, irritado, frustrado e receoso. Estava nervoso com a situação. Confuso do motivo pelo qual sofria tudo aquilo. Irritado por ter que passar por aquele inferno. Frustrado por não poder fazer nada. Receoso pela reação do seu pai com tudo aquilo.

- eu sei! Eu sei que não vai parar nos pulsos. Mas eu não posso fazer nada. Ele... ele faz isso todo mês. – confessou o rapaz e logo Lydia estalou os dedos.

- Kyle acessa o Trick or Treat mensalmente – ditou a ruiva vendo Peter suspirar.

- não consegue recuperar as conversa? – questionou esperançoso.

- não. Ela sabe o que faz – respondeu a mulher, frustrada.

- ela? – questionou Kyle, confuso.

- é uma mulher? – indagou ainda puxando as mangas.

- mas parece um homem – argumentou o filho do delegado, chamando a atenção de todos.

- você já o viu? – indagou Isaac, surpreso.

- s-sim. Todo mês, ele me faz uma video chamada. Me força a atender e me mandar fazer... coisas para ele. Todo. Santo. Mês – respondeu o moreno, irritado e aterrorizado.

- coisas? Que tipo de coisas? – questionou o delegado, receoso.

O homem viu o filho ficar mais nervoso, retornando a chorar, em silêncio. O rapaz não parecia estar pronto para responder a aquela pergunta. Ele procurou respirar profundamente várias vezes, sempre tentando responder, mas a coragem de falar se esvaia, não lhe permitindo completar o ato. Ao lamber os lábios, o filho do delegado tomou o impulso necessário para falar.

- ele... me manda fazer coisas que doem. Coisas que me envergonham. Ele diz gostar de me ver sofrer. Diz que eu sou uma pessoa ruim e que mereço ser punido – respondeu Kyle vendo o pai tomar um olhar furioso, enquanto lágrimas começavam a surgir nos olhos do homem fardado.

- o que ele lhe manda fazer? – questionou o homem vendo o filho lamber os lábios, antes de mostrar os pulsos cortas e com várias cicatrizes.

- me manda cortar os pulsos. Cortas os braços. Me manda me chicotear nas costas com força até que esteja tudo vermelho. Já me mandou quebrar os dedos. Me fez colocar álcool em minhas feridas. Uma garrafa toda, dando pausas de dez minutos para que eu sofresse mais. Dizia que era para eu ir me acostumando com a dor e a ardência, pois seria isso o que eu iria ter no inferno – respondeu o rapaz, retirando a camisa e mostrando as cicatrizes que tinha nas costas. Marcas vermelhas, hematomas e cicatrizes de cortes causados por ele mesmo.

- corda. Você usa uma corda, certo? – questionou Stiles após analisar as marcas nas costas do rapaz.

- é. Como sabe? – respondeu vendo o castanho dar de ombros.

- os hematomas tem um espaço no final. A corda que você usa tem um nó na ponta. É fácil de diferenciar de chicotes 
normais – respondeu Alice, dando de ombros.

- o que mais ela lhe manda fazer? – questionou Peter vendo o rapaz suspirar.

- me manda... ficar nu toda vez. Me manda... dançar para ela. Faz com que eu bata uma na frente do computador – respondeu o rapaz e o delegado cobriu o rosto para chorar.

Ele não acreditava que tudo aquilo estava ocorrendo com o seu filho. Ele jurava que o filho estava protegido, mesmo estando morando em uma cidade vizinha na maior parte do tempo. Ele jurava que o filho estava bem. Sem sofrer nada. Sem ser ameaçado silenciosamente e torturado mesmo estando sob a sua proteção. O homem teve a realidade jogada duramente em sua face. Não importava se ele trabalhasse para proteger o filho de tudo. Não importava se ele fizesse de tudo para que nada pudesse atingir o seu garoto. Algo sempre iria conseguir penetrar por sua asa, discretamente, deslizando por suas penas e atingir o seu garoto com a força de um míssil.

- há quanto tempo? – questionou o delegado, sem conseguir disfarçar o tom do choro.

- há quanto tempo está sofrendo isso? – indagou novamente, ainda choroso.

- vai fazer um ano em três meses – respondeu Kyle vendo o pai apertar os olhos em sofrimento.

- ela não quer matar você – afirmou Alice, chamando a atenção de todos novamente.

- por que acham que é ela? – questionou Kyle encarando o castanho.

- eu tenho certeza, agora. Ela me disse uma vez que adorava lhe ver dançando – ditou Ryan chamando a atenção para si.

- o que você faz aqui? De quem estão falando? – indagou o filho do delegado, confuso.

- Gina – respondeu Ryan e Kyle o fitou surpreso.

- Gina? Gina Willows?! - questionou o moreno, em choque.

- ela ficou furiosa quando vocês terminaram – respondeu Ryan vendo o moreno ficar furioso.

- ELA FICOU MALUCA?! – gritou Kyle, possesso pela raiva.

- ainda não temos confirmação nenhuma – ditou Peter, tentando acalmar o filho do delegado.

- o que iremos fazer? – indagou Isaac vendo Derek e Peter se entreolharem.

- nós vamos para Miami. Lydia, fique aqui. Qualquer movimentação na administração do site, você deve nos informar – ditou Peter enquanto via a ruiva digitar algo no computador com velocidade.

- estou alertando ao piloto e vou chamar dois táxis para vocês. Quando chegarem do outro lado do rio, vocês vão simplesmente entrar neles e serão levados direto para o aeroporto, onde o nosso avião vai estar esperando – falou a Martin e todos menearam em compreensão.

- você – Stiles chamou Ryan, apontando para o mesmo.

- sim! – respondeu o castanho, quase que imediatamente.

- ajude ela com o site – ordenou o castanho mais velho e o garoto meneou positivamente.

- com sorte esta será a última cidade que visitaremos nesse caso – ditou Erica enquanto saia da sala do delegado.

- eu vou hackear o computador dela para recuperar os arquivos antes que seja tarde demais – falou Lydia já começando a trabalhar nisso.

- eu vou ficar de olho caso alguma coisa referente apareça na internet – ditou Ryan começando a digitar no próprio notebook.

- se eles começarem a ser vendidos no mercado negro – Lydia tentou argumentar, mas Ryan fora mais rápido.

- eu invadi o seu computador. Não vai ser a primeira vez que procuro algo no lado negro da internet – contra argumentou Ryan antes de Lydia e o delegado o fitarem com seriedade.

- o quê?! A primeira vez foi por curiosidade! – argumentou o adolescente e Lydia negou com a cabeça, sorrindo.

 

 

- tem certeza de que foi uma boa ideia? – questionou Ethan vendo o encapuzado a sua frente permanecer de costas para si.

- estás duvidando de minhas escolhas? – questionou a pessoa de capuz enquanto erguia algo, com a ajuda de uma pinça, contra a luz, o analisando.

- você tem que admitir que tudo relacionado com aquele cara deve ser questionado várias vezes – argumentou o homem, de braços cruzados, apoiado no pilar ao seu lado.

- acalme-se. Ele vai servir aos nossos propósitos. Afinal, o que é um País das Maravilhas sem a maravilha que é um dragão? – indagou o homem se virando e mostrando a máscara de coelho em seu rosto para o gêmeo remanescente.

- o Jaguadarte não existe. É apenas poema – argumentou o castanho e o mascarado riu por trás de sua máscara.

- você é um danadinho, sabia? – indagou o mascarado sorrindo, antes de voltar a dar atenção ao seu trabalho.

- ainda queria ter ido eu mesmo ao invés dele. Aiden e eu somos capazes de muito mais do que isso. Não veríamos problema nenhum em matar um alvo tão fácil – ditou o mais novo, visivelmente chateado.

- ele não vai fazer parte do nosso País, se é isso o que te preocupas – ditou Branco começando a usar um maçarico que havia ao seu lado.

- então por que raios está usando ele? Deveria matar ele. Aquele cara me dá nojo – ditou Ethan, irritado.

- porque ele me serve. Eu não quero fazer tudo. É muito chato! Também quero me divertir. Também quero comer porcaria. Também quero sair por aí, rindo da cara de todo mundo por ser superior a eles. Mas eu quero Alice de volta. E ele vai me ajudar com isso – ditou Branco enquanto se erguia para buscar algo que se encontrava fora do seu alcance.

- quanto tempo isso ainda vai durar? – questionou Aiden entrando no local e se dirigindo para um sofá que havia ali.

- meses – respondeu Branco ignorando os gêmeos por completo.

- DEEEUS! – exclamou Aiden, revirando os olhos.

- se continuarem me irritando, eu mato vocês dois – ditou o encapuzado, parando o que fazia para virar o rosto para o lado, mesmo que não pudesse ver os gêmeos.

Mesmo não podendo ver Ethan e Aiden, Branco sabia que os dois o encaravam com seriedade. Os irmãos Steiner eram criminosos habilidosos. Poderiam, sim, ser comparados a ele. Mas tanto eles quanto ele sabiam quem era superior. Branco havia sido atacado quando os contratou. Os gêmeos eram bastante defensivos quando se tratava um do outro. Eles sabiam quando algo os ameaçava e isso era bom. Eles reconheceram Branco como uma ameaça instantaneamente. No entanto, com a proposta feita, os dois passaram a quase lhe idolatrar.

Após um certo período de treinamento, os dois ficaram cada vez melhores. Eram quase tão letais quanto ele. Mas, assim como ele, os dois eram ambiciosos. Eles não queriam parar no nível que estavam no momento. Eles queriam evoluir mais. Eles queriam alcançar Alice. No entanto, para isso, eles precisavam concluir o seu plano de resgate. Branco entendia. Ele trabalhava naquilo há anos. Tudo deveria sair perfeito.

- se estão entediados, saiam e brinquem. Me deixem trabalhar com o gato de Cheshire – falou o homem com máscara de coelho e logo os gêmeos sorriram um para o outro.

- vamos? – questionou Aiden, divertido.

- você quer? – indagou Ethan vendo o irmão sorrir ladino.

- muito e você? – respondeu vendo o irmão menear positivamente.

- então vamos – ditou já se erguendo e segurando na mão do irmão, antes de correrem para fora do local.

- finalmente! – exclamou o encapuzado analisando o material acima de sua mesa.

- o vigésimo está pronto. Agora só falta mais vinte – ditou o mascarado antes de olhar para todo o material que já estava pronto dentro de uma van branca.

 

 

 

 


- é esse o endereço? – indagou Vernon enquanto entravam em um prédio bastante ornamentado, acompanhados da polícia local, que já fora alertada de todo o caso.

- isso não parece ser um prédio onde fica o apartamento de um universitário – ditou Scott enquanto olhava cuidadosamente ao redor.

- ela é uma stalker chantagista, Scott. Com certeza pediu dinheiro para algumas das vítimas para ser silenciada – disse Derek enquanto se aproximavam do balcão do elevador.

Ao ver aquele grupo de homens bem vestidos e de expressões sérias, o recepcionista tratou de avançar contra eles, simpaticamente, tentando impedir a passagem dos mesmos. Os federais franziram o cenho enquanto aquele homem magro de mais ou menos vinte quatro anos, os encarava amigavelmente.

- peço perdão, mas não podem entrar assim, do nada, sem me informar quem são e o apartamento que procuram – o homem de cabelo morenos com as pontas pintadas de louro sorriu para cada um deles, antes de olhar para uma das duas mulher do grupo.

- e que tal agora? – questionou Erica, apontando para Peter, que apenas mostrou o distintivo para o homem.

- ah... há algum problema? – questionou o recepcionista vendo os federais lhe fitarem com seriedade.

- que nada. Somos dedetizadores, agora. Viemos pegar um rato enorme que fica invadindo os lugares – ironizou Erica enquanto passava pelo homem e se dirigia para o elevador.

Enquanto seguiam para um dos elevadores, o grupo passou por uma pessoa encapuzada, que estava com as mãos nos bolsos, mas Stiles pôde ver que estava usando luvas de couro. Era estranho, pois, mesmo encapuzada, ela parecia querer esconder a maior parte possível do seu corpo. A roupa que usava, lhe cobria até o pescoço, e no rosto usava uma máscara de tecido para cobrir a boca e o nariz. Stiles franziu o cenho para a pessoa encapuzada, a vendo lhe direcionar o rosto. Os seus olhares se cruzaram e Alice franziu o cenho, confuso, para os óculos escuros da pessoa muito bem vestida. Algo lhe dizia que já havia visto aquele homem antes.

- Lydia nos disse para subirmos para o oitavo andar – ditou Derek enquanto encarava a tela do celular e Scott apertava o botão do andar dito por si.

Enquanto as portas do elevador se fechavam, Alice encarava o encapuzado. Ele tinha a estranha sensação de que aquela pessoa não estava ali por acaso. Capuz, máscara e aquela estranha sensação. Aquela pessoa estava ali por um motivo mais interessante do que simplesmente encontrar um amigo, parente ou uma noite de sono.

- também percebeu? – questionou Erica em um sussurro, chamando a atenção dos agentes mesmo assim, já que estavam em um elevador.

- percebeu o quê? – indagou Scott, desconfiado.

- aquele cara – respondeu Erica, encarando a pessoa passar pela porta do prédio, normalmente.

- o que tem ele? – perguntou Vernon, perdido.

- ele tem uma presença assassina – respondeu Stiles vendo o estranho desaparecer de seu campo de visão quando as portas se fecharam.

-então ele vai matar alguém? – indagou Vernon vendo os dois negarem com a cabeça.

- nem todo mundo que tem uma presença assim mata. As vezes eles só roubam, dão golpes, até mesmo lutam. Mas matar? Não. Muitas vezes é só por falta de coragem ou da experiência. No entanto, mais cedo ou mais tarde ele vai começar – respondeu Erica enquanto o elevador começava a subir.

- ainda fico surpreso de como vocês conseguem achar as pessoas assim – confessou o Boyd vendo os dois lhe fitarem por sobre os ombros.

- experiência – responderam em uníssono.

Assim que chegaram ao andar, Derek os guiou para o apartamento em que fora rastreado o computador que hackeava os computadores públicos para administrar o Trick or Treat. O Hale bateu na porta uma vez, alertando ser o FBI. Nenhuma resposta fora ouvida. O grupo se entreolhou antes de Derek se preparar para derrubar a porta. Quando o moreno foi chutar a porta, Stiles e Erica o pararam. A loura se colocou na frente da porta e o castanho segurou o pé do moreno.

- se ela não estiver em casa, saberá assim que encontrar a porta no chão. Sejamos mais graciosos – ditou o castanho enquanto Erica brincava com a fechadura usando um clipe de papel e um grampo de cabelo. Allison e Isaac olhavam a cena boquiabertos, enquanto viam a loura se erguer.

- isso continua extremamente fácil – ditou Erica enquanto abria a porta e dava acesso aos policiais armados.

Eles vasculharam todo o apartamento. Stiles fora o terceiro a entrar de todos os membros da operação, sempre olhando ao redor com uma expressão entediada. Poucos foram os locais fora da prisão que conseguiram lhe entreter. Mas aquele lugar estava com cara de cena de crime. Algo gritava isso em seu interior. Ele olhou para Erica vendo a loura analisar o local com cuidado.

- tem algo errado – ditou a loura olhando bem para o ambiente ao seu redor.

- temos um problema – anunciou Scott se aproximando do grupo, após ajudar na patrulha do apartamento.

- o que houve? – questionou Peter seguindo o moreno, assim como Derek, Vernon, Erica, Allison, Isaac e Stiles.

- minha nossa! – exclamou Vernon ao ver o corpo de Gina Willows jogado no chão, com muito sangue ao redor e com o abdômen aberto.

- isso no ferimento dela. O que é? – questionou um policial vendo como as bordas do ferimento apresentavam marcas estranhas.

- isso são... marcas de mordida – ditou Erica, se abaixando ao lado da moça e analisando melhor o ferimento que ia das costelas até a pélvis.

- mordida?! – indagou Isaac, surpreso.

- ela foi comida. Aqui mesmo – afirmou a loura olhando para o corpo com atenção.

- não deu gostosuras, levou travessuras – ditou Allison e todos se viraram para a encarar.

- o quê? Combinou! – exclamou a Argent vendo o castanho sorrir brevemente.

- chamem os peritos. Precisamos que eles trabalhem com esta cena o mais rápido possível – ordenou Peter e um dos oficiais obedeceu imediatamente.

- acho que isto quer dizer que não essa vai ser a nossa última parada neste caso – ditou Scott, enquanto se encontrava no corredor, do lado de fora do quarto em que a vítima estava largada.

- eu acho que encontrei uma assinatura – ditou Isaac e todos se aproximaram, vendo o louro parado, olhando para um dos espelhos que ficavam do lado de dentro das portas do guarda roupas.

- e o que é desta vez? – questionou Scott, já desanimado.

Ele estava animado com a possibilidade de encerrar aquele caso. A unidade deles estava tendo um sucesso bastante alavancado no FBI graças ao caos do sistema carcerário e ao excesso de casos sem solução. Não que ele estivesse gostando da crescente taxa de criminalidade. Ele apenas se sentia bem por estar fazendo parte de algo que estava dando certo. A única coisa que lhe incomodava era o castanho que parou ao seu lado, encarando o estranho desenho de um estranho animal no espelho.

- mas o que é isso? – questionou Derek vendo o desenho feito com sangue.

- parece um bicho montado. Sabe? Uma quimera ou... aquele dragão da Caverna do dragão – ditou o louro de cachos e, no mesmo instante, Erica gargalhou alto, chamando a atenção dos oficiais.

- você tem certeza de que não gosta do natal? – perguntou a Reyes vendo o Lahey erguer o dedo do meio para si.

- o que é isso escrito nesse espelho? – indagou Derek, curioso, apontando para as letras no espelho contrário ao do desenho 

- “redup es eugep em”? Mas que merda é essa? – questionou uma oficial, confusa

- está ao contrário. É um reflexo – disse Isaac apontando para o espelho com o desenho, vendo a frase ser corretamente organizada no reflexo.

- “me pegue se puder” – Allison leu o que estava escrito no espelho.

- ele se denomina como uma dragão, pelo visto – ditou Peter se aproximando do desenho do espelho.

- não é um dragão qualquer – ditou Stiles chamando a atenção do louro.

- reconhece? – indagou Derek vendo o castanho menear positivamente.

- reconheceria mesmo se tivesse sido feito por um cego – respondeu Stiles apontando para o desenho com o queixo enquanto colocava as mãos nos bolsos do casaco.

- asas estranhas, bigodes compridos, pescoço alongado, cabeça grande. Um monstro desfigurado e faminto – Stiles descreveu o desenho com perfeição, o fazendo ter sentido para a maioria dos que o avistavam.

- É um Jaguadarte – finalizou o castanho encarando o desenho se tornar deformado a medida em que o sangue escorria pelo espelho.

Chapter 34: Wait

Chapter Text

- um o quê?! – indagou o moreno de queixo torto.

- Jaguadarte – respondeu Vernon e o moreno o fitou com surpresa.

- entendeu o que esse cara disse? – questionou vendo o Boyd franzir o cenho, olhando ao redor e vendo todos, com exceção de Peter e Stiles lhe fitarem com surpresa.

- qual é? Jaguadarte. Vocês não leem livros não? – argumentou o homem de cabelos raspados vendo todos se entreolharem.

- não. Prefiro esperar até fazerem o filme – respondeu Scott vendo o outro rolar os olhos.

- Alice Através do Espelho – ditou Vernon enquanto olhava para o desenho do espelho, perdendo o momento em que os agentes se entreolhavam.

- na verdade, depois que o Stiles falou, ficou bem óbvio. É parecido com o desenho do livro – falou apontando para o desenho feito com sangue.

- e qual é a desse Jaguar? – questionou Erica olhando para o traficante com curiosidade.

- Jaguadarte. É um dragão descrito como um monstro terrível que irá devorar tudo que não o conseguir enfrentar com coragem e força – respondeu Vernon enquanto se virava para olhar para o corpo de Gina.

- É aquele dragão do live action de Alice no País das Maravilhas. A fera Alice tem que enfrentar usando a Espada Vorpal – disse Peter chamando a atenção dos outros agentes para si

- ela não conseguiu uma dessas na internet – brincou a loura vendo as marcas de mordidas em Gina.

- os legistas chegaram – anunciou um oficial surgindo na porta, sendo seguido pelos cientistas forenses e os legistas.

- vou precisar de um pouco mais de espaço para trabalhar com o corpo – falou legista enquanto se aproximava mais da garota.

- mas o que diabos aconteceu com ela? – questionou o homem vendo as marcas ao redor do ferimento.

- precisa trocar os óculos? – questionou Stiles, irritado, chamando a atenção para si. O homem, meio envergonhado, ajustou os óculos no rosto enquanto se abaixava.

- parece que ela foi mordida depois de morta – comentou o legista enquanto analisava o corpo.

- ela foi comida até a morte – ditou Erica, abaixada ao lado do homem.

- como sabe? – questionou vendo a mulher tocar no corpo com a mão sem luvas.

- não pode...

- preste atenção. Aqui. Ele a mordeu no pescoço. Uma mordida que veio por trás. Ela não sabia que ele estava aqui – ditou a Reyes apontando para o pescoço do cadáver, antes de olhar bem para o quarto enquanto os forenses fotografavam tudo.

- ela... Estava sentada nessa cadeira. Focada no computador, não viu ele se aproximando – explicou enquanto via os forenses fotografarem tudo, a encarando com surpresa em suas expressões.

- ela foi mordida ainda sentada. Com a dor, se debateu e foi jogada no chão. Se arrastou um pouco, antes de ele a imobilizar e começar a se alimentar da carne dela – explicou a loura e, quando deu por si, estava sendo observada por todos que não eram da divisão com admiração.

- você... É muito boa – elogiou o legista vendo aquela mulher bonita sorrir para si, enquanto passava a brincar com uma mecha de cabelo.

- ah, eu sei. Você precisa ver aquele cara ali – ditou a loura apontando para Stiles, que encarou o homem com uma seriedade que preocupou o pobre legista.

- mas ele só... Começou a comer ela? Sem cortar com uma faca, nem nada? – questionou o oficial parado na porta.

- ele não precisa de facas – ditou Stiles vendo o legista se concentrar no corpo, tentando fugir do seu olhar.

- na verdade, eu acho que ele usa algo, sim. Mas não sei o que é. Ela tem marcas no perímetro do ferimento que não condizem com as mordidas que levou – comentou o legista e o castanho suspirou.

- ele tem suas próprias armas. Não precisa de facas - falou Stiles se aproximando do corpo.

- como sabe? – indagou Derek, desconfiado.

- não são facas. São garras – respondeu Stiles abrindo as mãos como se fosse arranhar algo e a colocou próxima ao ferimento, fazendo os dedos se posicionarem exatamente sobre as marcas.

- vocês dois são ótimos! Por que tem dois de vocês em uma mesma equipe? Não seriam melhor ter um em cada? – questionou um dos forenses vendo a loura e o castanho se entreolharem.

- a doutora Reyes é melhor em compreender as ações da vítima. O Doutor Stilinski é melhor em compreender as ações do assassino. Unindo os dois, nós praticamente temos o assassinato gravado em vídeo – ditou Peter chamando a atenção do grupo.

- vamos nos reunir no outro quarto. Quero conversar com vocês em particular – falou o Tate enquanto seguia para fora do quarto.

A equipe inteira o seguiu, sendo Stiles o último a sair do quarto, encarando fixamente o espelho ensanguentado. Quando chegou ao outro quarto, o castanho fechou a porta e encarou Peter, como os outros. O homem andava de um lado para o outro no quarto, enquanto suspirava e passava a mão no rosto. Ele estava preocupado. Preocupado ao ponto de não conseguir esconder este fato em sua expressão. Algo muito sério atormentava o homem louro. Derek sabia disso. Ele e os agentes da equipe eram pessoas muito bem treinadas. Sabiam que para algo perturbar um agente como Peter daquele modo, deveria ser algo muito sério.

- eu vou falar sério e preciso que seja sincero comigo – ditou o homem, parado, olhando pela janela.

- somos um time. Uma equipe. Então temos que ser sinceros uns com os outros. Mesmo que... Alguns de vocês não se suportem. Temos que ser sinceros quanto aos casos. E, de você, eu espero muita sinceridade, Stiles – desse o Tate antes de se virar para o castanho, que suspirou.

- eu trabalhei com você há quase uma década e meia atrás. Eu interroguei você. Eu trabalhei com o seu psicológico. Eu fiz o teste do poligrafo em você. E você disse para mim... Me disse que não havia mais ninguém com você. Que você trabalhava sozinho. Me disse que ninguém lhe ajudou a matar aquelas pessoas. Então me diga: o que esse cara tem a ver com você? – questionou Peter vendo o castanho enfiar a mão no bolso do casaco moletom que usava.

- eu sei tanto quanto você. Eu não conheço ninguém com a assinatura de Jaguadarte. Não conheço assassino nenhum. Eu sou isolado no ramo. Fui preso aos onze, se recorda? – respondeu o Stilinski e o Tate suspirou.

- eu lembro, Stiles. Eu só quero entender como alguém tem uma assinatura do mesmo universo que a sua e ainda sabe sobre você – falou Peter se aproximando para colocar as mãos nos ombros do castanho, que lhe abraçou apertado.

- ele sabe sobre o Stiles?! – indagou Isaac, surpreso.

- o verbo “pegar” na frase “me pegue se puder”, está no singular por um motivo específico. Pela assinatura dele, está óbvio que isso é um desafio para Alice. – explicou Allison e o louro fitou o castanho, receoso

- ele escreveu aquilo pra você – murmurou, ainda surpreso.

- eu sei. – ditou Stiles enquanto começava a brincar com as suas cartas.

- Stiles, você realmente não faz ideia de quem possa ser? – indagou Allison vendo o castanho menear positivamente.

- somente o FBI sabia a minha localização. Quem antes sabia sobre a minha existência antes de eu ser preso,, agora está morto – falou o castanho e Derek sentiu um gosto amargo surgir em sua boca ao se lembrar do seu pai.

- bom. A menos que esse cara tenha cavado sete palmos de terra, alguém escapou de você – disse Scott, sorrindo maroto na direção do assassino.

- ninguém escapa de mim, Scott. Seja antes ou depois da festa do chá, todos que eu quero perdem as suas cabeças – Alice tratou de alertar o moreno de queixo torto que lhe encarava com seriedade

- isso é o que vamos ver no final desse caso - ditou o McCall vendo o castanho franzir o cenho em sua direção.

- não pense que vai muito longe, McCall. Esse cara acha que pertence ao País das Maravilhas. Vocês, normais, não vão conseguir seguir ele – falou Alice vendo o moreno franzir o cenho em sua direção, desconfiado.

- isso é um desafio? – perguntou o moreno de queixo torto vendo o castanho sorrir de canto.

- não é um desafio. É um fato – respondeu Stiles dando as costas para o agente.

- o único problema é que ele está se iludindo – falou o castanho, antes que o moreno desse continuidade a discussão.

- com o quê? – questionou Vernon vendo o castanho lhe fitar por sobre os ombros.

- ele se acha um incrível e aterrorizante dragão faminto que pertence ao Pais das Maravilhas. No entanto, acontece que o Jaguadarte é só um poema. – falou o castanho vendo o Boyd lhe fitar pensativo.

- mas ele não parece saber disso – falou Peter vendo o castanho sorrir em sua direção.

- ele quer reconhecimento. Seu reconhecimento – ditou Derek vendo Stiles menear positivamente.

- um reconhecimento desesperado que pode o tornar instável se ele não conseguir – completou Allison vendo o assassino em série da divisão menear positivamente.

- exato – afirmou Stiles vendo os agentes se tornarem preocupados.

- isso vai dar ruim. Toda vez que algum assassino fica instável, ele fica imprevisível – ditou Vernon vendo os agentes menearem positivamente.

- quando o assassino vive uma ilusão, ele se torna imprevisível quando é forçado a sair dela. Ele fica furioso por alguém tentar lhe fazer ver a realidade e se torna extremamente violento – explicou Peter enquanto se aproximava mais de Stiles.

- tem certeza de que não sabe de ninguém que faça esse tipo de coisa? – indagou o louro, colocando as mãos, suavemente, no pescoço do outro, vendo o castanho olhar fundo em seus olhos.

- pela ultima vez, Pet. Eu não sei de nenhum canibal – respondeu Alice vendo o Tate menear positivamente, antes de lhe beijar a bochecha.

- tudo bem. Vamos. Os peritos já devem estar acabando – falou o Tate e Alice se virou para sair daquele quarto.

O louro olhou, de soslaio, para o sobrinho o vendo o mesmo lhe encarar com seriedade. Ele sabia o que se passava na cabeça do seu sobrinho. Derek poderia estar deixando de lado, momentaneamente, todos os problemas que tinha com Stiles, mas isso não significava superar eles. Não significava deixar para trás o que ficou para trás. Até porque, havia uma coisa muito mal resolvida entre eles.

A morte de Alexander era um grande abismo entre Derek e Stiles. De um lado havia Derek como o filho, uma das vítimas da fatalidade que fora a morte do agente Hale. Do outro lado havia Stiles como o assassino, causador da morte que chocou não só a família Hale, como todo o país. Foram semanas apenas documentando o assassinato de um agente do FBI por um garoto de apena onze anos. Aquele abismo seria impossível de ser superado se dependesse dos dois homens.

- estamos levando o corpo para a autópsia – alertou o legista ao encontrar os agentes no corredor.

- quando estiver fazendo a autópsia, verifique se há algum órgão faltando – ditou Alice vendo o homem franzir o cenho, não notando todos os agentes o acompanhando no ato.

- por que quer saber? – questionou o legista, curioso.

- canibais são assassinos em série, pois se não conseguem a carne que querem em lojas, eles tem que caçar. E todo assassino em série tem um ritual, seja antes ou após da morte. Alguns canibais gostam de levar um pouco do jantar para casa, para poder comer sem ter que caçar de novo e se arriscar ser preso – explicou o castanho vendo o legista lhe fitar assustado, enquanto dava meia volta e seguia na direção da saída.

- ainda não acredito que essa pobre garota foi comida – comentou um dos peritos enquanto tentava colher digitais da porta.

- de pobre ela não tinha nada – falou Erica enquanto via Stiles seguir para o computador da vítima.

- a vítima fazia pessoas se suicidarem na frente do computador por as chantagear – falou Scott vendo os peritos lhe fitarem surpresos.

- então a assassina se tornou a vítima? – questionou a outra perita, surpresa.

- isso é muito comum no ramo. Vai por mim – ditou Stiles chamando a atenção para si.

- Peter, ligue para a Lydia e diga para invadir o computador da Gina e achar os artigos que ela roubou de Ryan – ordenou o castanho e o louro obedeceu instantaneamente.

- Lydia, invada o computador da Gina. Estamos no local. Não. Ela está morta. Não. Encontramos ela assim. Acreditamos que Stiles e Erica tenham identificado o suspeito quando entramos, mas ele estava saindo e nós com pressa. Volte para a base o mais rápido que puder. Você sabe o que fazer com o garoto – ditou Peter enquanto caminhava de um lado para o outro no corredor.

- está bem. Vou começar agora – ditou a ruiva enquanto começava a digitar.

- como exatamente ela morreu? – questionou a Martin e todos na sala do xerife a fitaram com surpresa.

- é sério? – questionou a mulher, em choque, parando brevemente de digitar.

- não, tudo bem. Eu já iria fazer isso. Te ligo assim que tiver a resposta. Beijinhos – ditou a ruiva encerrando a chamada.

- quem morreu? – questionou o delegado vendo a ruiva suspirar.

- Gina Willows foi encontrada morta em seu apartamento - respondeu a ruiva e os três lhe fitaram em choque.

- m-mas como isso aconteceu? – questionou Kylle, surpreso.

- isso quer dizer que ela não era o culpado, certo? – indagou Ryan um tanto aliviado.

- não. Gina foi morta momentos antes da nossa equipe chegar lá. Alice e Erica acreditam terem visto o assassino quando estavam entrando no prédio – respondeu a Martin enquanto digitava freneticamente no computador.

- se ela está morta, por que ainda está digitando assim? – questionou o delegado, desconfiado.

- Gina roubou informações importantes sobre nós do notebook de Ryan. Eu quero rastrear estas informações para saber mais do que aconteceu com ela – respondeu a agente vendo o garoto lhe fitar com surpresa.

- eu esqueci de avisar. Há pouco tempo eu achei algo na internet. Alguém que disse ter algo bastante interessante para vender. Arquivos importante do governo. Dois arquivos. Eu tentei derrubar a venda... Mas ela sumiu do nada – falou Ryan, receoso, e a ruiva o fitou surpreso.

- quanto tempo durou? – indagou a agente Martin vendo o castanho olhar no relógio.

- de sete a dez minutos – respondeu o garoto e a mulher franziu o cenho.

- isso é estranho. Tem certeza disso? – questionou Lydia vendo o garoto menear positivamente.

- por que é estranho? Coisas são vendidas na internet o tempo todo – perguntou Kylle, curioso.

- vendas criminosas na internet procuram fontes que não podem ser rastreadas, mas que podem ser vistas a quem interesse. Mas elas, com toda a certeza, não ficam por tão pouco tempo na internet. Nem todo mundo fica online o dia todo, nem todos os dias. Principalmente criminosos. Eles precisam de um tempo para ver estes anúncios discretos – explicou Lydia enquanto apertava um botão no computador e logo, no único fone de ouvido que usava, a ruiva ouviu a chamada ser efetuada.

- Derek, isso é extremamente importante. Os arquivos que Ryan baixou e que ela roubou foram a leilão hoje mais cedo – ditou a ruiva ouvindo o moreno xingar do outro lado da linha, antes e avisar que estava no viva-voz.

- é o seguinte. O homem que a matou deve ter pego os arquivos para ele – disse a Martin antes de Stiles negar a sua teoria.

- ele está me protegendo. Ele sabe que se os arquivos vazarem, eu serei colocado de novo na segurança máxima. E se eu voltar para Alcatraz, ele não poderá brincar comigo – a voz de Stiles despertou a curiosidade na ruiva.

- espera. Ele sabe sobre você? – indagou Lydia parando o que fazia, surpresa.

- sim. Ele sabe sobre Stiles. Parece que quer medir a nossa competência, usando Stiles como seu caçador - respondeu Peter e a ruiva suspirou voltando a trabalhar no notebook.

- tudo bem. Vou fazer o que me mandou – ditou a ruiva antes de encerrar a chamada.

- o que temos que fazer? – questionou Ryan, curioso e ansioso.

- me dê um minuto – responde a ruiva enquanto dedilhava no computador com velocidade.

Lydia levou um pouco de tempo para poder invadir o computador de Gina. A defesa do sistema da Willows era incrível, mas com a moça em um necrotério, Lydia estava livre para acessar o computador da assassina a vontade. A ruiva vasculhou todo o computador da nova vítima, se sentindo frustrada quando não encontrou nenhum arquivo do FBI por lá, apenas uma nota digital alertando que os arquivos foram deletados por segurança do “jogo”.

- o que diabos esse cara quer? – indagou a ruiva vendo o modo estranho da escrita da nota.

Haviam muitas letras S, inclusive em locais que não deveriam haver letras S, como no nome Alice. A letra C fora substituída pela S. Aquilo estava extremamente estranho. A ruiva apertou o botão do fone de ouvido e, imediatamente, o seu celular discou o número de Derek. Assim que a chamada foi atendida, o moreno alertou que todos estavam escutando.

- nada. O computador está limpo. Só tem um arquivo. Uma nota digital. Dizendo que os arquivos estavam seguros. Acho que o assassino está com eles – disse a Martin ouvindo Peter concordar imediatamente.

- ele quer ter alguma segurança de que Alice estará no caso. Se souber que o Stiles está fora do jogo, ele vai espalhar isso como folhas ao vento. E como não queremos que isso ocorra, o FBI fará de tudo para que o Stiles participe – explicou Peter e Lydia suspirou.

- isso é ruim – ditou Isaac.

- Lydia, já pode voltar – ordenou Derek.

- positivo – respondeu a mulher já começando a desligar tudo.

- acabou? – questionou Ryan, curioso.

- sim – respondeu a Martin mexendo no notebook.

- m-mas e eu? – indagou o castanho vendo a mulher suspirar.

- aí é você que escolhe – respondeu a ruiva deixando o garoto confuso.

- c-como assim? – perguntou Ryan, nervoso.

- se você quiser continuar ajudando, vai ter que esperar alguns anos. Mas se não quiser, vai ser um desperdício de habilidades – respondeu Lydia vendo o garoto permanecer lhe fitando confuso.

- eu... Acho que não entendi – foi tudo o que o adolescente disse enquanto encarava a mulher com confusão.

- eu acho que ela está lhe sugerindo uma carreira – ditou o delegado vendo o castanho lhe fitar surpreso.

- i-isso é sério? – questionou Ryan, desconfiado.

- eu comecei como você. Invadia os sistemas só por diversão. Para provar que eu era melhor. E eu me entreguei, antes que me encontrassem, e mostrei as falhas do sistema para eles. Me ofereceram uma vaga em uma escola militar especializada. Podem fazer o mesmo com você, se aceitar, é claro – explicou a agente vendo o adolescente tomar um sorriso animado no rosto.

- é claro que eu quero! – exclamou, animado.

- ótimo. Aqui está o meu cartão. Converse com os seus pais. Se eles concordarem, voltaremos a nos falar – disse a ruiva antes de começar a desmontar o seu equipamento.

 

 

 


- o que a gente está fazendo aqui, mesmo? – questionou um rapaz de vinte e dois anos enquanto encarava aquele estranho prédio abandonado.

- estamos aqui para festejar, Collin – respondeu uma moça de mesma idade ao mesmo tempo em que descia do carro em que estavam com animação.

- qual é, cara? Vai ser legal. Ninguém vai pensar em nos procurar aqui. É o lugar perfeito para ficarmos doidões – argumentou outro rapaz enquanto surgia ao lado do carro de Collin.

- um prédio abandonado, distante de prédios vizinhos, sem fiscalização. É sem dúvida o lugar perfeito para uma festa com muita droga e muita foda – falou um terceiro rapaz enquanto abraçava uma garota castanha que sorriu animada com as suas palavras.

Eram, no total, cinco casais. Eles estavam no terceiro período da faculdade. O grupo de amigos estava planejando uma festa assim havia semanas. O único problema para aquela festa particular ocorrer era o local. Eles precisavam de um local que não houvesse risco da polícia os pegar com as drogas. Na casa de nenhum deles poderia por causa dos seus malditos vizinhos que reclamariam do som alto e acabariam chamando a polícia.

Collin não fumava, nem cheirava. Ele estava ali apenas pela bebida, pelos amigos e pela namorada. Quando desceram do carro, cada um deles levou colchonetes e um caixa térmica com bebidas e algumas porcarias para comerem pelo decorrer da festa. Eles iriam passar a noite toda ali.

- então, em qual andar vamos ficar? – questionou Barbara encarando o louro que abraçava.

- o mais distante dos desses otários. Vamos gritar muito, hoje – falou o rapaz enquanto apertava a bunda da garota que gargalhou com a resposta do namorado.

- até parece – brincou Collin enquanto abraçava a namorada pelos ombros.

- que tal ficarmos em um quarto do segundo? – questionou Lylla, a namorada de Collin.

- por mim tudo bem – respondeu o moreno beijando a moça ao mesmo tempo em que começava a subir com os colchonetes.

- certo. Todo mundo arrumando as coisas em seus quartos – ordenou Kim, o capitão do time de futebol da faculdade.

- se controla, Kim. Não somos o seu time – ditou Lylla ao mesmo tempo em que começava a ajudar o namorado a levar as coisas. O rapaz ergueu as mãos, enquanto os outros riam do corte que levou.

- tudo bem. Eu só queria todo mundo junto na hora da bebedeira – argumentou enquanto começava a levar as suas coisas para o quarto em que passaria a noite.

- esse lugar está caindo aos pedaços! – exclamou Barbara ao mesmo tempo em que analisava o local.

- é um prédio abandonado há anos. O que esperava? – indagou Bryan, o louro do grupo.

- algo mais higiênico, com toda a certeza – respondeu Barbara, ainda olhando para tudo com nojo.

- vamos começar a beber que você esquece disso – ditou Elijah descendo as escadas já com uma garrafa de vodca aberta, servindo a garota com um copo plástico.

A noite se passou com eles rindo, conversando, bebendo e brincando. Eles riam das palhaçadas uns dos outros, das histórias engraçadas vividas no campus e nas salas de aula. Os jovens precisavam daquele momento entre eles para isso. As provas estavam chegando e eles sabiam o quanto o período de provas era estressante. Os amigos não iriam ter um tempo como aquele enquanto as provas não acabassem. Então eles precisavam aproveitar.

Aos poucos, os casais começaram a se separar em seus quartos. Bryan e Barbara estavam deitados sobre os colchonetes, seminus, beijando-se e excitando-se ao esfregarem os corpos um no outro. Eles haviam bebido o suficiente para Barbara esquecer o cheiro estranho que aquele lugar tinha e também para esquecer toda a sujeira ao seu redor.

- espera – pediu o louro enquanto se levantava.

- o que foi? – indagou Barbara, frustrada.

- eu volto em um instante – respondeu o rapaz antes de se levantar com velocidade e caminhar para fora do quarto.

- os quartos tem banheiro – ditou a morena como se revelasse o óbvio.

- que não funciona porque ninguém pagou a água. É rápido – argumentou enquanto fechava a porta do quarto.

Barbara, suspirou, antes de começar a se despir. Ela queria, pelo menos, estar pronta para quando o namorado voltasse. Enquanto retirava a roupa, Barbara ouviu a porta se abrir. Ela sorriu, enquanto tentava retirar a camisa, que havia prendido em seu brinco.

- nossa. Essa foi rápida – comentou e, então, ela conseguiu retirar a camisa.

Ao olhar para a porta, ela viu alguém encapuzado, com luvas, máscara médica, óculos escuros e mangas compridas. Ela olhou para aquilo, descrente, analisando o corpo de cima a baixo. A garota não estava entendendo nada daquilo. O seu namorado havia saído para ir ao banheiro e agora entra alguém mais vestido do que ele em seu quarto.

- isso é algum tipo de fetiche? Porque se for, é um dos mais estranhos que já vi. Sério. Eu aceitaria roupa feminina, roupa de animal, aceitaria até mesmo uma terceira pessoa. Mas uma fantasia de misterioso cracudo?! – falou a morena, descrente do que o namorado estava fazendo.

O encapuzado nada disse. Barbara suspirou enquanto via o outro se aproximar.

- olha. Se essa roupa estiver fedendo, não vai rolar. E você vai ter que me pagar um bom oral por isso – alertou a mulher enquanto via o namorado subir na cama.

Ela sentiu o corpo alheio se instalar entre suas pernas, enquanto levava uma de suas mãos para a sua vagina. Ela não pôde mentir quando disse que havia gostado da sensação da luva de couro lhe tocando. Barbara fechou os olhos, não vendo quando o encapuzado colocou o dedo indicador da outra mão em sua boca. A moça sorriu travessa enquanto mordia a ponta do couro, sentindo o homem puxar a mão, retirando a luva. Ela abriu os olhos, vendo uma estranha mão deformada a sua frente. Aquela mão parecia a de um monstro, com direito a garras afiadas e tudo.

- mas o que é – ela não teve tempo de terminar, pois o encapuzado lhe golpeou o pescoço, criando um grande corte em sua garganta.

Surpresa, a moça levou as mãos ao ferimento, tentando parar o sangramento a todo custo. Ela assistiu, aterrorizada, ao outro retirar a outra luva, a máscara médica e os óculos escuros que usava, juntamente com o capuz. Ele era horrendo. Todo o seu corpo era coberto por cicatrizes, lhe deixando com uma aparência única. Barbara se sentiu mais assustada ainda quando viu aquele homem abrir a boca, revelando dentes afiados, e levou o dedo a boca, provando do seu sangue.

Ela tentou gritar, mas, devido ao ferimento em sua garganta, nenhum som era emitido. O seu corpo tremeu mais quando o homem estranho pediu silêncio, emitindo um som estranho enquanto colava o indicador nos lábios. Barba assistiu, aterrorizada ao homem se erguer sobre os joelhos, antes de lhe golpear a barriga desnuda com as garras, abrindo um grande corte. Ela tremeu com a dor, antes de sentir outro golpe, e outro, outro, e mais outro. E foi sendo golpeada por aquelas garras assustadoras que ela deu o seu último suspiro.

Bryan havia subido um andar para poder urinar, sem se preocupar com o aroma alcançar o seu quarto. Desvantagens do uso do prédio abandonado como local de festa: sem saneamento básico. Mas não importava, agora. Ele só precisava colocar uma camisinha e foder a sua garota como estava desejando desde o início da noite. Assim que abriu a porta, no entanto, a sua visão não fora muito excitante.

- MAS QUE PORRA É ESSA?! – exclamou irritado ao ver um homem sobre a sua garota.

O homem ergueu a cabeça, revelando o couro cabeludo desfigurado o suficiente para não produzir mais cabelos. E então o homem olhou para Bryan por sobre os ombros, enquanto arrancava uma carne com couro com os dentes, puxando o outro pedaço com a mão. Aquilo assustou Bryan. As mãos do homem, assim como o queixo, estavam vermelhas da cor de sangue. Os olhos dele eram estranhos. Eram alaranjados nas íris e suas pupilas eram enormes na cor azul escuro.

- mas que merda é essa? – questionou Bryan, confuso.

Foi então que o homem estranho e deformado saiu de cima de Barbara. Esse foi o momento em que Bryan soube o que estava acontecendo. Barbara estava ensanguentada sobre o colchonete, com a barriga aberta de forma horripilante e nojenta. Bryan gritou, assustado, enquanto começava a chorar vendo a namorada daquele jeito. Barbara era uma líder de torcida. O seu corpo era esbelto e perfeitamente modelado. Mas, agora, o seu abdômen possuía um vão enorme. Aquele homem havia comido quase toda a barriga da garota. E não havia parado, já que permanecia a mastigar e segurava o figado da mulher com uma mão. Os amigos começaram a vir de onde estavam, assustados e curiosos com a gritaria.

- Bryan! Qual foi, cara? – questionou Kim irritado por ter a sua foda interrompida.

- BARBARA! – gritou Bryan, irritado, antes de correr para o interior do quarto, tentando descontar a sua raiva naquele assassino. Tentando o fazer pagar. Os amigos de Bryan caminharam, calmamente até a porta, com exceção de Kim.

- ele deve estar fazendo alguma pegadinha idiota. Eu vou voltar para a minha garota – ditou o capitão do time de futebol, dando as costas.

- PUTA MERDA! – exclamou Collin ao ver o que ocorria.

- CHAMA A POLÍCIA! – gritou o moreno correndo para o interior do quarto.

- mas o que merda está acontecendo? – questionou a namorada de Kim saindo do quarto quando o mesmo alcançou o quarto de Bryan e Barbara.

- Laisa, chama a polícia! AGORA! – gritou Kim correndo para o interior do quarto.

- Lylla! Vocês e as garotas vão para o lado de fora. Peguem o meu carro e deem o fora. AGORA! - ordenou Elijah quando a garota alcançou a porta do quarto de Bryan e Barbara.

Ao ver o que ocorria lá dentro, a garota gritou assustada e correu até as amigas, as puxando com a mão enquanto gritava que um homem havia matado Barbara. Assustadas, todas correram para o carro de Elijah e fugiram dali as pressas enquanto ligavam para a polícia.

 

 

 

- nada. As digitais não deram em nada – ditou Scott após analisava os arquivos enviados pelos forenses de Miami e os jogava sobre a mesa da sala que estavam usando.

- ele poderia estar usando luvas. Devia estar usando elas durante o crime – falou Allison enquanto dava de ombros, olhando para todos.

- improvável – rebateu Erica retirando um pirulito da boca para poder falar mais.

- as marcas no torso da vitima são de unhas. Ele mordeu ela. Sentir, na própria pele, a vida de outra pessoa se esvaindo faz parte do desejo dele por carne – argumentou a loura se erguendo e pegando os papéis da perícia forense sobre a mesa.

- ele deve ter os dedos desfigurados. Ácidos, alguns compostos químicos e fogo são capazes de remover as digitais de alguém – sugeriu Isaac vendo Peter lhe fitar curioso.

- ele deve mexer com química, ou ser uma vítima de incêndio. Se ele sofreu um acidente, pode ser completamente desfigurado – explicou o Tate vendo o louro de cachos menear positivamente.

- isso explicaria todo aquele desejo de se esconder. As pessoas devem ter aversão a ele. Não gostam de se aproximar, muito menos olhar – ditou Derek vendo o tio concordar.

- isso deve ter desencadeado o modo assassino dele. A rejeição por parte da sociedade o isolou ao ponto de ele se sentir um animal – comentou Allison vendo Derek concordar ao apontar com a mão para si.

- ele não se sente um animal. As pessoas o veem como um animal – corrigiu Stiles vendo os agentes direcionarem o olhar para si.

- ele é visto pelos outros como um monstro. Com raiva por ser tratado assim, ele quer mostrar que, se ele é um animal, é ele quem está no topo da cadeia alimentar agora, não os humanos – explicou o castanho levando uma das mãos a orelha, novamente, não sentindo nada na mesma.

Foi só então que Alice se recordou que não tinha mais os brincos. Quando a ausência do símbolos de espadas e copas se fez presente em seu corpo, Stiles sentiu uma fúria crescente em seu peito. A raiva ia o dominando aos poucos já havia algum tempo. Mas se recordar que seus brincos não estavam mais consigo era duro. No mesmo instante, o braço do castanho começou a tremer e o Stilinski cerrou o punho, tentando se conter.

- cara, você está bem? – indagou Isaac, preocupado

- estou – respondeu Stiles e o louro franziu o cenho.

- então por que parece que o seu braço tem vida própria? – perguntou o Lahey, receoso

- eu já disse que estou bem – respondeu o Stilinski levando a mão para o braço, tentando o conter.

- é sério, cara. Você parece...

- eu já disse – ralhou o castanho olhando para o louro com olhar ameaçador.

- que estou bem – finalizou Alice, sorrindo docemente para o mais alto, que se calou com o olhar do castanho.

- temos uma denúncia de um homem comendo uma garota – alertou a delegada abrindo a porta com pressa.

- vamos – ditou Peter se erguendo e ignorando Stiles que foi o ultimo a sair da sala, por tentar controlar o que sentia.

A viagem até o local fora rápida. O prédio era afastado, mas o caminho até ele não era muito movimentado. No meio do caminho, a polícia encontrou as garotas que fizeram a denúncia. Elas choravam bastante ao explicar para os oficiais o que havia ocorrido. Quando chegaram até o local, os policiais foram os primeiros a entrarem no prédio, pois foram os primeiros a chegarem.

Eles revistaram o prédio, não encontrando ninguém além dos corpos das vítimas. Quando os oficiais liberaram o perímetro, a equipe se dirigiu para o quarto onde se encontravam os mortos. Estava tudo uma bagunça. Havia sangue para todos os lados. Todos haviam sido mordidos, mas apenas Barbara havia sido comida.

- ele matou todos os que avançaram nele, mas apenas comeu ela. Por que? – indagou Derek, confuso.

- fetiche. Gosto. Talvez ele prefira comer mulheres. Talvez ache a carne melhor – sugeriu Peter.

- não. Ele não discrimina presa. Foi tempo. Ele teve tempo apenas de comer ela. Quando os garotos avançaram nele as garotas já deveriam estar ligando para a polícia. Ele mal teve tempo de matar eles – argumentou Stiles enquanto encarava o corpo de um moreno com fixação.

- como sabe disso? – indagou Derek vendo Stiles se abaixar ao lado da vitima de cabelos negros.

- porque esse daqui ainda está vivo – respondeu Stiles socando o peito do moreno com força e o mesmo se moveu, brevemente.

- você é doido?! E se isso agrava o estado dele? – questionou Scott, irritado.

- acha que não tenho conhecimento disso? – indagou Stiles enquanto levantava e mandava um oficial chamar uma ambulância.

- então por que bateu nele? – questionou Derek, igualmente irritado.

- porque não vai interferir em nada no estado dele. Ele sofreu um corte superficial na garganta e uma pancada na cabeça. Ele só está inconsciente - respondeu Alice vendo o moreno respirar calmamente.

- para ele ter saído sem terminar de matar esse cara, ele devia estar muito apressado – comentou Allison vendo Alice se erguer, passando o dedo pelo sangue de Bryan, o corpo jogado ao lado do sobrevivente.

- Stiles – repreendeu Peter ao ver o castanho levar o dedo aos lábios.

- está fresco. É recente. Esses caras foram mortos poucos minutos antes de nós chegarmos – ditou o Stilinski ignorando o louro completamente.

- Stiles, não faça isso de novo – repreendeu o Tate vendo o castanho lhe fitar por sobre o ombro.

- se não devo investigar, por que raios eu estou aqui? – indagou o castanho vendo o louro lhe fitar com seriedade.

- com certeza não é para lamber o sangue de ninguém – rebateu Peter e o castanho suspirou, revirando os olhos.

- eu vou esperar lá fora. Não estou com paciência para gente normal – disse Alice já dando as costas para a equipe.

- Stiles – chamou Peter vendo o homem de cabelos castanhos lhe ignorar prontamente.

- poxa, o cara só queria ajudar – ditou Isaac vendo o louro mais velho lhe fitar com seriedade.

- você não sabe o que diz – argumentou Peter vendo Derek sair do quarto e seguir ele.

- já vai começar – reclamou Erica cruzando os braços e revirando os olhos.

- ei. Ei! - Derek chamava pelo castanho que já se encontrava descendo as escadas.

- ah, vai se foder. QUEM É QUE EU TENHO QUE MATAR PARA TER UM POUCO DE PAZ NESSE INFERNO?! – gritou Alice, revoltado, socando a parede ao seu lado, antes de alcançar o primeiro andar do prédio.

- tente se acalmar. Você está se deixando levar pela raiva – alertou Derek, irritado com o que o castanho gritou.

- hunf! Olha só de quem estou recebendo esse conselho. Que mundo mais irônico! – Stiles exclamou, sarcástico, vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar com seriedade.

- olha eu não vou... – o castanho parou de falar ao perceber algo estranho em Derek.

- isso é estranho – comentou Vernon chamando a atenção da equipe.

- o que é estranho? – questionou Scott, confuso.

- ele levou carne para casa, segundo o legista. A maioria dos órgãos de Gina estavam faltando. Por que caçar tão cedo se há carne em casa? – indagou o Boyd e os agentes pararam, confusos.

- eu não sei. Talvez esteja estocando comida para quando a população começar a ter toques de recolher e começar a andar em grupos – respondeu Scott ainda confuso.

- se fosse isso, ele só precisaria sair para caçar fora – argumentou Erica e Allison olhou curiosa para o local.

- ele caça um grupo, com garotos atletas, em um local abandonado – murmurou a Argent, pensativa.

- ele não tem medo de quem caça. Ele deve ser forte e já praticou esportes – concluiu Erica olhando ao redor.

- olhe para esse lugar. É aberto e com alguns prédios – comentou Peter, pensativo.

- perfeito para um atirador. Mas ele caça as vítimas no mano a mano – comentou Scott enquanto via os policiais entrando no prédio.

- isso não é uma caça por carne – ditou Vernon chamando a atenção da equipe.

Antes que o Boyd pudesse dizer mais alguma coisa, eles escutaram o som de vidro se estilhaçando e o grito de uma voz conhecida. Todos se moveram, em alerta, para o lado de fora do quarto, encontrando um oficial, que os alertou que estavam sendo atacados por alguém armado. Peter olhou para o andar de baixo, vendo o sobrinho, com a mão no torso, ser erguido do chão por Stiles, que o empurrou na direção do corredor.

- mas o que diabos está acon – foi tudo o que o louro mais velho teve tempo de falar antes de uma bala lhe atingir e ele cair com o impacto da mesma.

 

Chapter 35: People

Chapter Text

Derek nunca pensou que algo daquele tipo fosse acontecer. Assim que Stiles se calou e olhou com curiosidade para o seu peito, Derek seguiu o olhar do castanho. O Hale não teve tempo de ver nada, pois logo ele sentiu o castanho lhe abraçar com força e lhe puxar para o lado, enquanto lhe levava ao chão.

O Hale não entendeu nada. Por um momento, ele pensou estar sendo atacado pelo castanho. No entanto, logo ele ouviu um vidro se quebrar, e algo lhe atingir o torso. Quando Stiles saiu de cima de si, Derek pôde ver que, tanto ele quanto o castanho estavam sangrando. Ele próximo ao lado esquerdo do torso e Stiles, um pouco mais abaixo, mas do lado direito.

O moreno de olhos verdes conseguiu raciocinar o que estava acontecendo. Eles haviam sido baleados. Stiles lhe salvou de levar uma bala no coração, o que lhe mataria em pouco tempo. Diferente do Hale, Stiles se ergueu rapidamente, vendo a mira vermelha, que antes havia visto no peito de Derek, se dirigir pelo ambiente. Vendo o moreno com dificuldade para se levantar, o castanho o puxou com força, o ajudando a se erguer, antes de ajudar Derek a procurar abrigo. Ele ouviu a voz de Peter no andar de cima, antes de ser interrompida quando mais uma janela fora quebrada com um tiro. Mais um tiro fora ouvido e o castanho pôde ver um oficial cair com um buraco na testa.

- ESTÁ TODO MUNDO BEM? – gritou Allison, no andar de cima, enquanto ela e Isaac se abrigavam atrás de uma parede.

- PETER FOI ATINGIDO – gritou Erica enquanto arrastava o corpo do louro para dentro da cena do crime, tentando o esconder atrás da parede.

- Erica, a arma dele – ditou Vernon estendendo a mão para a loura, que pegou a arma de Peter e a jogou para o Boyd, que a agarrou e tratou de destravar, se preparando para atirar.

Scott gritou quando uma bala atravessou a velha parede do prédio, rasgando a sua roupa e queimando a sua pele ao passar de raspão por seu braço, criando um corte no mesmo. No entanto, antes que ele, Allison e Boyd pudessem começar a atirar, eles foram surpreendidos quando as balas pararam de atingir o andar em que estavam, e os sons de tiro se mostraram mais próximos. Cuidadosamente, Allison se ergueu, olhando ao redor, vendo, no andar de baixo, Stiles, ao lado do corpo de um oficial, disparando contra alguém que se encontrava acima de algo.

- STILES! ACHOU ELE? – gritou a Argent enquanto se movia até Vernon.

- STILES? – gritou Scott vendo o castanho parar de atirar e correr até a janela, saltando a mesma, assustando os oficiais do lado de fora quando, acrobaticamente, rolou no chão, já se erguendo com a arma apontada para o seu alvo, localizado na janela de um andar do prédio em frente.

- você pode achar que é o Jaguadarte. Você pode até achar que é Deus. Mas ninguém me acerta uma bala e sai vivo. Ninguém exceto os idiotas em quem você atirou – disse Stiles enquanto corria na direção do prédio.

As balas caíam ao seu lado, no entanto, ele não se preocupava. O tiro que o acertou antes, deveria acertar Derek, no peito. Stiles sabia o que aquele ataque significava e aquilo o irritava ainda mais. Os tiros que eram direcionados para si, agora, eram apenas tiros de aviso. O desgraçado queria lhe manter longe do prédio por algum motivo. Ele parecia lhe temer quando a sua atenção era voltada para ele.

- eu juro que a sua cabeça vai ser minha – ditou Alice antes de saltar as escadas e pular mais uma vez, chutando a porta de vidro do prédio.

Allison, correndo para o andar de baixo, parou na porta do prédio, quando viu Stiles correr para fora do prédio que havia invadido, imediatamente, após entrar quebrando o vidro da porta que ele chutou com força. Ela franziu o cenho, confusa, antes de ver o atirador, em uma das janelas dos andares do topo sair da janela. Não demorou muito para que, um por um, do térreo para o último andar, explosões começassem a ocorrer. Andar por andar, todos foram explodindo, impedindo que a polícia adentrasse o prédio.

- o filho da mãe pensou em tudo – ditou Scott enquanto via Stiles jogar a arma que tinha em mãos no chão

- Stiles não se movimentou para os lados. Por que não foi atingido? Ele seria um alvo bem fácil – indagou Vernon enquanto via o castanho correr na direção do prédio.

- Stiles não é o alvo de assassinato. Ele é o alvo do jogo doentio desse cara. Um doente chamando outro para brincar – respondeu o McCall e Allison o fitou furiosa.

- Scott! – repreendeu a morena vendo o moreno dar de ombros.

- você leu os arquivos dele. Sabe o que o Stiles fez na infância. Crianças normais não matam ao invés de assistirem TV, muito menos daquele jeito – argumentou o moreno de queixo torto e logo Stiles passou por eles, alcançando o andar de cima com velocidade.

- Peter. PETER! – gritou o Stilinski enquanto procurava, desesperadamente, pelo louro.

- está vivo – respondeu Erica enquanto ela e Peter saiam do quarto. A loura viu o castanho parar na frente do mais velho, segurando o pescoço do mesmo.

- você está bem? – questionou Stiles antes do louro tocar em seu pescoço com a mão.

- estou. Mas e você? Esse tiro parece ser pior do que o meu – falou o Tate vendo a mancha vermelha crescer na roupa do castanho.

- eu estou bem. A bala saiu e acertou o Derek – respondeu Alice vendo o louro ficar preocupado.

- acertou o Derek? – indagou o Tate vendo o castanho menear positivamente

- sim. Ele está bem, mas vai ser melhor ir até o hospital com você. Não sei se a bala saiu ou não – respondeu Stiles enquanto via, no andar de baixo, o Hale se aproximar de Scott e Allison, pressionando o ferimento com a mão.

- Allison disse que você achou ele no tiroteio. Você conseguiu pegar ele? – indagou Erica vendo o castanho negar com a cabeça.

- o desgraçado plantou uma série de bombas do térreo ao último andar. Quando entrei no prédio, as bombas foram ativadas – respondeu Stiles enquanto eles desciam as escadas.

- como ele detonou a bomba? Eu só o vi saindo quando você também saiu do prédio – questionou Allison vendo o castanho suspirar.

- o atirador instalou um sistema de defesa para as bombas. Quando eu abri a porta da entrada, pude ver um feixe de lazer próximo ao chão. Ele disparou em mim pois queria que a bomba pegasse vocês. Ele queria que vocês entrassem lá, não eu – ditou o castanho vendo o louro franzir o cenho em sua direção, pensativo.

 

 

 

 

 

 


- eu aconselho não ir muito em campo por um tempo, agente Tate – ditou a médica enquanto deixava para a enfermeira terminar de enfaixar o ombro do louro.

- prometo fazer um esforço para conseguir essa proeza – brincou o louro fazendo a mulher rir.

- só tenha a certeza de não usar muito o braço esquerdo. Agora, vamos aos outros dois – ditou a doutora enquanto se dirigia para Stiles e Derek.

- quem vai ser o primeiro? – indagou a mulher vendo o castanho apontar com o polegar para o moreno de olhos verdes.

- então vamos com você – falou a mulher vendo o agente menear positivamente

- não parece ter atingido nada importante – murmurou a mulher, pensativa, analisando o ferimento do agente Hale.

Derek nada disse. Ele ainda estava surpreso com a atitude do castanho. Quer dizer, não era a primeira vez que Stiles se colocava na frente de algum tipo de arma por si, mas, com certeza, aquela havia lhe pego de surpresa. Aquela bala podia ter atingido algo importante, tanto nele quanto em Stiles. Poderia ter os ferido gravemente. O castanho poderia, simplesmente, lhe deixar ser atingido e dizer que fora pego de surpresa, mas não. Ele se atirou na frente do projétil, fazendo questão de lhe mover para evitar um ferimento maior.

A doutora falou algo sobre lhe dar pontos e lhe liberar, mas o Hale não ouviu. Ele ainda estava perdido nos seus pensamentos. Tanto, que, quando acordou de seus devaneios, a mulher já havia finalizado o procedimento e estava apenas lhe dizendo o mesmo que dissera ao seu tio. Descanso e evitar abrir o ferimento. Quando a mulher direcionou o olhar para o terceiro paciente, ela se assustou ao ver o mesmo, sentado atrás de si, fazendo os pontos nele mesmo.

- você não pode fazer... – a mulher fora silenciada quando viu que o homem parecia saber o que estava fazendo.

- onde serviu? – questionou a morena, chamando a atenção de Derek e Peter, enquanto pegava uma outra agulha, prendia a linha médica e se dirigia para as costas do castanho.

Os dois agentes estavam tão perdidos em seus próprios pensamentos, que se quer notaram que o prisioneiro mais temido da equipe estava dando pontos no próprio ferimento sem tremer e sem expressar dor alguma. Stiles sorriu para a pergunta da mulher, que encarava, com seriedade, o ferimento nas costas do homem.

- eu não sou um ex-militar – respondeu o Stilinski, buscando a tesoura com a mão e cortando o fio cirúrgico extra de sua agulha

- então onde um agente como você aprendeu a suturar tão bem? – questionou a doutora enquanto finalizava um dos pontos.

- eu não sou um agente. Sou um consultor. Eu apenas estudei e pratiquei, exatamente como você fez – respondeu o castanho ouvindo a mulher soltar um “hunf” enquanto finalizava o trabalho em suas costas

- então você é médico? – indagou a mulher vendo o castanho dar de ombros.

- digamos que eu apenas tenho muitas habilidades – respondeu Alice, sentindo a mulher puxar o fio cirúrgico para cortar o mesmo.

- está bem, senhor das habilidades, eu tenho apenas mais uma pergunta para você – falou com simpatia enquanto dava a volta no castanho.

- onde conseguiu essa tatuagem de copas nas costas? – indagou a médica enquanto se afastava do castanho.

- e como sabe que é um símbolo de copas e não mais um coração simbolizando qualquer coisa, como um “te amo, mamãe”? – perguntou Alice vendo a mulher cruzar os braços.

- a maioria das tatuagens, masculinas, de corações possuem o formato científico do órgão. É algo ligado a sexualidade. Vocês tendem a ligar o formato fictício de coração a falta de masculinidade. Mas você tem um bem grande. Ou você é muito decidido sexualmente, ou é muito fã de baralhos – respondeu a mulher vendo o castanho sorrir ladino.

- você tem uma mente interessante para uma médica. Mas com certeza uma mente brilhante para uma ex-militar – elogiou o Stilinski vendo a mulher sorrir para si.

- eu a fiz há muito tempo. Ainda era um adolescente quando fiz isso – respondeu Stiles antes de a mulher abrir a porta do quarto.

- obrigado. Tentem manter as balas longe de seus corpos bonitos – ditou a doutora enquanto se retirava do local.

- ele está nos caçando – ditou Erica assim que entrou na sala do hospital.

- não. Não está – argumentou Peter chamando a atenção de todos.

- ele está. Nos atraiu até aquele prédio para nos matar! – exclamou Isaac, indignado, começando a andar de um lado para o outro.

- não, ele não está – Peter voltou a argumentar, despertando a fúria no louro de cachos.

- então o que diabos foi aquilo no prédio?! O que porra foi aquele tiroteio?! E o que caralho foi aquela explosão, cacete?!– questionou o Lahey, indignado.

- vamos voltar para a delegacia. Lá eu explico tudo. Aqui não é seguro para discutir isso – falou o mais velho enquanto se levantava da cama do hospital e se vestia com certa dificuldade.

- temos mais problemas do que saber se ele está nos caçando ou não, Peter – alertou Allison deixando o homem confuso.

- e qual seria? Além do fato de nosso criminoso estar solto – indagou o Tate, curioso, vendo a Argent suspirar.

- havia cinco casais no prédio quando a vítima foi assassinada – falou Scott deixando Peter e Derek confusos.

- e dai? – indagou Derek encarando os companheiros de equipe.

- e daí que na cena do crime encontramos apenas quatro homens. Três mortos e um vivo – respondeu Stiles jogando a cabeça para trás.

- eles são universitários! O quinto casal pode ser composto por duas garotas – argumentou Derek vendo Allison lamber os lábios.

- mas na delegacia só tem quatro testemunhas e a única vítima comida era uma garota – ditou Vernon vendo o Hale tomar um olhar preocupado.

- a quinta vítima – murmurou Peter, nervoso.

- parece que alguém pegou um lanchinho para a viagem – cantarolou o castanho, alegremente, ainda com a cabeça inclinada para trás, sorrindo divertido.

- você... Está sorrindo? – perguntou Scott, indignado, vendo o castanho virar a cabeça para o lado, ainda inclinada para trás.

- é um jogo, Scott. Jogos são divertidos – respondeu o Stilinski despertando mais indignação ainda no moreno de olhos castanhos.

- você tem noção do absurdo que está falando?! Aquele rapaz pode estar tendo os piores momentos da vida dele nas mãos desse cara! – exclamou o McCall vendo Alice suspirar e sair da maca.

- os últimos, na verdade. Não sabemos nada do nosso cara. Principalmente o endereço dele. Então me responda: por que eu deveria me preocupar? Você é mais experiente no lance de prender criminosos. Deveria saber que não é no primeiro corpo que se pega um serial killer, muito menos no segundo corpo. Sem contar que, precisamos que ele mate mais para aprendermos mais sobre ele - corrigiu o castanho vendo o moreno de queixo torto suspirar, aceitando a veracidade das palavras do assassino.

- por mais que eu odeie você, eu sei que está certo. No entanto, zombar assim com a vida dos outros não é certo – repreendeu o agente de queixo torto vendo o sorriso estampado no rosto alheio se tornar mais largo.

- pelo que eu me lembre, o falso livre arbítrio me permitir zombar do que eu quiser, contanto que eu não cometa nenhuma infração em suas regras. – ditou Alice vendo a carranca dos agentes em sua direção.

- Stiles – repreendeu Peter cansado de tudo o que estava acontecendo ultimamente. Ele estava exausto. Havia criminosos para prender além de lidar com o estresse que as discussões que envolviam os detentos as divisão geravam. Tudo aquilo lhe dava dor de cabeça. As vezes, Peter se sentia como um adulto cercado de crianças.

- se você não gosta do jogo, o problema é seu. Ninguém chamou você para jogar – Stiles pronunciou vendo o McCall lhe fuzilar com o olhar.

- a justiça errou em lhe manter na solitária. Deveriam ter lhe matado – Scott cuspiu as palavras com nojo enquanto cruzava os braços. Stiles riu baixo, soltando o ar pelo nariz, ainda com o sorriso nos lábios, ao mesmo tempo em que começava a balançar as pernas de forma quase infantil.

- por que não me mata, então? Já que acha que é tão fácil assim. Vamos saber a resposta da pergunta de um milhão de dólares: você é mesmo um agente, ou será que é apenas mais um homem imbecil com um distintivo e uma arma legalizada? – provocou o prisioneiro e, no mesmo instante, o moreno de olhos castanhos avançou em si.

No entanto, o castanho se jogou para trás, saindo do alcance do agente, enquanto se permitia rolar na maca atrás de si, cair as mesma e girar no chão, se erguendo sensualmente por manter as pernas eretas ao se levantar. Derek e Allison trataram de segurar Scott enquanto o mesmo tentava alcançar o Stilinski.

- parem! Vocês dois! – reprendeu Allison olhando com seriedade para os dois homens em conflito.

- se não fosse a lei, eu já teria partido o seu corpo ao meio de tanta bala que iria meter em você! – ralhou o McCall enquanto mantinha as mandíbulas cerradas com força. Stiles gargalhou, brevemente, baixinho.

- a lei é apenas a invenção do fraco para conter o forte. Pra acorrentar aquele com o qual não pode. Mas eu vou lhe contar um segredo – ditou Stiles enquanto caminhava até o moreno de olhos castanhos.

- Alice! – repreendeu Derek ainda segurando o parceiro. Stiles parou diante dos três, enquanto olhava divertidamente para o agente McCall, antes de se inclinar para falar próximo ao rosto do mesmo.

- Stiles! – repreendeu Peter vendo o castanho parar com a ponta do nariz tocando a ponta do nariz de Scott.

- a lei não se aplica a mim – falou Stiles antes de Scott o golpear com uma cabeçada no nariz.

Alice apenas deu um passo para trás, com a cabeça erguida, sentindo a ardência no nariz enquanto Derek e Allison, com a ajuda de Vernon, continham o McCall. Quando o castanho abaixou o rosto, todos podiam ver o sangue do mesmo começar a escorrer do nariz, passando pelos lábios do homem jovial, antes de Stiles o lamber sensualmente. Scott se sentiu melhor, mas a raiva ainda não havia passado. Erica se encolhia no canto ao analisar bem a cena a sua frente, ao compreender o que estava acontecendo ali.

- merda – murmurou a loura, puxando Isaac para o canto do quarto, junto com ela.

- você acha que está acima da lei?! Eu estou só esperando você fugir para meter uma bala no meio da sua testa e alegar autodefesa – ralhou o moreno de queixo torto e Stiles revelou os dentes, o que acabou os sujando de sangue.

- assim? – indagou Alice erguendo uma mão, na qual se encontrava uma arma, a do moreno de queixo torto, e a apontar para o meio da testa do agente McCall. Alice roubara a arma do homem ao levar a cabeçada do agente. No mesmo instante, Allison e Derek largaram o parceiro, tratando de puxar as suas armas, assim como Boyd, que sacou a arma de Peter, as apontando para o castanho.

- STILES! – repreendeu Peter vendo o castanho lhe fitar de soslaio.

- antes que eu olhe para você, diga para eles, Peter, sobre a minha mira impecável. Não mais do que a do Vernon, suponho, mas a minha mão é mais rápida – disse o Stilinski colocando uma das mãos no bolso enquanto a outra ainda apontava a arma para o McCall, que tentava disfarçar o nervosismo que sentia.

- Stiles, para de brincadeira e devolve a arma! – ordenou o Tate estendendo a mão para o castanho.

- Stiles! Abaixe isso. Do contrário, iremos ter que lhe levar para a justiça novamente e você vai voltar para a solitária de Alcatraz – disse Allison tentando abrir os olhos do castanho.

- não faz a menor diferença para mim. Sou cercado por imbecis lá, do mesmo modo que sou aqui fora. Não falo dos meus companheiros de prisão, nem da Erica, se não perceberam a indireta. Eu analisei vocês. Percebi que os seus egos inflados por seus distintivos os cegam demais para a realidade – argumentou Alice deixando os agentes confusos, mas eles não conseguiam pensar direito com o assassino mais perigoso do país com uma arma apontada para eles.

- STILES! – repreendeu o louro mais velho, novamente, vendo o castanho tomar uma expressão furiosa.

- a justiça não é absoluta, agente McCall. Se não se deu conta ainda, olhe bem ao seu redor. Prisioneiros da segurança máxima é quem estão caçando os novos criminosos. Já era. As pessoas estão se dando conta do quão falha é a justiça. É apenas questão de tempo para todos tomarem conhecimento. E então, tudo vai mudar em um estalar de dedos. Quando isso acontecer, vocês vão se dar conta de que as únicas leis que são obrigatórias, são as da natureza. Voltaremos a ser guiados pela lei dos mais fortes. – ditou o castanho, estalando os dedos da mão livre, enquanto começava a caminhar de um lado para o outro do quarto.

- Stiles, pare de...

- JÁ CHEGA, PETER! – gritou Stilinski, surpreendendo o louro e os agentes.

- MAS QUE PORRA! – o castanho gritou novamente, agora apontando a arma para a própria cabeça.

- eu sou inteligente demais para você me controlar. EU NÃO SOU A PORRA DE UMA ARMA, QUE NÃO TEM VONTADES E NEM PENSAMENTOS, PETER! A CARALHA DE UM REVÓLVER QUE VOCÊ PUXA O GATILHO QUANDO QUER QUE FUNCIONE E TRAVA QUANDO QUER QUE NÃO FUNCIONE. Minha mente é confusa demais para ter espaço para você. Não force as coisas. – Alice ditou, com fúria, pressionando a arma em sua cabeça, antes de ignorar o Tate e voltar a se focar no McCall.

- antes que eu me estresse mais e acabe realmente matando você antes do planejado, vamos deixar algo bem claro entre todos nós: se forem me ameaçar, façam isso quando tiverem a certeza de que podem me matar. Não sou Buda para ter a paciência infinita – disse Stiles, retirando o pente da arma, travando a mesma e a jogando para Scott.

- filho da puta – rosnou Scott, agarrando a própria arma, focado na mesma. Nisso, o castanho lançou o pente para a frente, fazendo o mesmo acertar o centro da testa do McCall, que jogou a cabeça para trás com a dor do impacto sexo do material gélido em sua pele.

Stiles nada mais disse, apenas se focou em sair do quarto de braços cruzados enquanto cobria o rosto com o capuz de sua roupa. No mesmo instante, Derek e Scott iriam seguir o castanho, mas Allison e Vernon seguraram os dois homens, que os olharam com questionamento. A agente Argent negou com a cabeça, vendo os dois homens os fitarem indignados

- não podemos deixar ele sair assim! – exclamou Scott vendo a morena lhe fitar com seriedade.

- da ultima vez que implicaram com ele, ficamos o procurando feito idiotas, enquanto ele resolvia o caso. Qual é o problema de vocês?! Estamos trabalhando com ele há semanas. Se Alice quisesse realmente fugir, ele teria feito isso há muito tempo – alertou Allison vendo os dois agentes suspirarem.

- ela está certa. Stiles teria fugido de vocês no primeiro dia se quisesse – ditou Erica vendo os dois morenos suspirarem irritados.

- eu vou falar com ele. Vocês dois fiquem de olho no sobrevivente. Peter, Vernon, Isaac e Erica vão para a delegacia interrogar as garotas – ordenou a morena de cabelos amarrados em um rabo de cavalo, enquanto seguia para fora do quarto, no intuito de alcançar Stiles.

- vocês estudaram para chegar aqui e são mais burros do que a gente! – exclamou Isaac, indignado com os dois morenos.

- calado! – ralhou Scott enquanto colocava o pente em sua arma, antes de analisar a mesma.

Ele nunca havia pensado que teria a sua própria arma apontada para a sua cabeça com tanta facilidade. O homem estava nervoso. As suas mãos ainda tremiam por ter estado na mira de Alice. Ele havia lido a lista das pessoas que Stiles havia matado. A sua maioria fora morta por armas de fogo e lâminas, enquanto uma minoria fora morta com explosões, chamas, ácidos, e uma série de acidentes bastante planejados. Estar na mira de Alice era uma experiência exaustiva. No entanto, ignorando as suas mãos trêmulas e suas pernas bambas, Scott estava feliz. Aquele ocorrido era tudo o que ele precisava para plantar a dúvida na cabeça dos seus superiores, quanto a libertação de Alice de Alcatraz.

- e vai fazer o quê se eu não me calar? Pelo que eu saiba o líder aqui é o Peter, não você – rebateu Isaac começando a sair do quarto vendo o moreno lhe fitar com seriedade .

- fiquem com o sobrevivente. O interroguem assim que possível – ditou o Tate enquanto colocava o terno sobre o ombro bom e se retirava do quarto, sendo seguido por Erica e Vernon.

Derek suspirou, cansado e aliviado. Stiles havia lhe assustado com a sua última atitude. Roubar a arma de Scott e a apontar para o mesmo foi uma infração grave do acordo. Se Deaton ficasse sabendo, ele seria substituído. E, mesmo não querendo admitir, Derek sabia que ele era importante, assim como Vernon, Isaac e Erica, para as investigações. Stiles tinha conhecimentos sobre assassinos que Derek nunca havia visto antes em seus livros ou em sua carreira.

Agora, havia duas preocupações principais rondando sua mente. A primeira era aquele assassino que era capaz de confrontar o FBI e fugir, além de saber da existência de Alice. A segunda, era Scott. Ele sabia que o amigo queria afastar Stiles da equipe e o levar de voltar para Alcatraz. Aquele ocorrido poderia, muito bem, ser usado pelo McCall para alcançar isso. E ele obteria sucesso garantido.

- agora ele vacilou – disse Scott, irritado, encarando a porta do quarto com seriedade.

- pense bem no que vai fazer, Scott. Depois não vá se arrepender por sujar os nossos nomes – foi tudo o que o Hale disse antes de vestir o paletó e se dirigir para fora do quarto.

Scott encarou o parceiro, curioso, vendo o mesmo se retirar, antes de o seguir.

- você não quer ele de volta em Alcatraz? – perguntou Scott desconfiado. Derek suspirou.

- eu quero, Scott. Mas isso não quer dizer que quero isso sendo feito dessa forma. Eu quero prender ele, Scott. Não quero dedurar ele, ou só o remover da equipe. Se Alice cometer algum crime, eu vou prender ele, se não, vou apenas trabalhar – respondeu o Hale se aproximando do quarto onde havia um oficial na porta sendo, obviamente, incomodado por uma mulher curiosa com um bloco de notas em mãos.

- pela última vez! É confidencial! – exclamou o oficial acatando a ordem de não informar nada para ninguém.

- quem é você? – indagou Derek vendo a mulher lhe fitar com surpresa.

- Erica Miyers. Repórter investigativa. E vocês, quem são? – a mulher se apresentou vendo os dois homens de paletó se aproximarem do oficial.

- ela quer saber mais do sobrevivente – informou o oficial, cumprimentando os dois com um meneio de cabeça.

- eu sou o agente Hale e este é o agente McCall. Somos do FBI – respondeu Derek vendo a mulher se tornar animada.

- podem dizer que tipo de ritual satânico está relacionado com o crime? – questionou a morena erguendo a mão com a caneta, a apontando para o bloco de notas.

- não podemos liberar nenhum tipo de informação. Vai ter que esperar, como todo mundo – respondeu Scott antes de o médico abrir a porta, chamando a atenção dos quatro.

- e então? – indagou Scott vendo o homem suspirar, analisando a ficha em sua mão.

- ele está bem. Realmente levou apenas uma pancada forte na cabeça. Por sorte, não sofreu nenhum dano grave. Precisamos apenas dar apenas alguns pontos nele e administrar um analgésico. Ele está bem, mas mesmo assim vai ter que passar dois dias aqui sob vigilância. A pancada foi forte, não sabemos se pode apresentar algum problema futuramente – explicou o homem de jaleco enquanto anotava algo em sua prancheta, ignorando a imagem dos agentes.

- e podemos falar com ele? – questionou o homem de queixo torto vendo o médico voltar a lhe encarar.

- falar com ele, sim. Mas não aconselho fazerem um interrogatório. Ainda não sabemos como a cabeça dele está, então é melhor pegarem leve com ele por enquanto – alertou o doutor antes de se retirar do local, seguindo para o próximo atendimento.

- eu vou ter que pedir para se retirar – disse Derek vendo a morena suspirar.

- por que vocês sempre dificultam? – indagou a repórter, visivelmente chateada.

- porque, na maioria das vezes, tudo só piora quando vocês se metem – respondeu o Hale vendo a mulher suspirar, irritada, e começar a se afastar.

Os dois agentes adentraram o quarto, sinalizando para o oficial tomar conta da porta e impedir qualquer pessoa de entrar no local.

- quem são vocês? – perguntou o adolescente vendo os dois morenos fecharem a porta e se aproximarem de sua cama.

- somos os agentes federais. Nós estamos investigando o ocorrido – respondeu Scott vendo o rapaz menear positivamente.

- se lembra do ocorrido? – indagou Derek vendo o paciente olhar para os lençóis com seriedade.

- vai por mim. Não tem como esquecer aquilo – respondeu o sobrevivente se lembrando de como tudo ocorreu.

- Collin, nós vamos começar a fazer algumas perguntas. Tudo bem? – questionou Scott vendo o moreno menear positivamente.

- o que estavam fazendo naquele prédio quando tudo aconteceu? – perguntou o agente McCall vendo o rapaz suspirar.

- a gente estava lá para festejar – respondeu o rapaz nervoso.

- sabe? Estávamos perto do período de provas. Então queríamos festejar antes do inferno chegar – argumentou vendo os dois agentes menearem positivamente

- e vocês sabiam que aquela era um propriedade privada? – indagou o agente Hale vendo o rapaz suspirar.

- sabíamos. Mas tínhamos a permissão do dono para usar por aquela noite. Nós alugamos o lugar – respondeu o sobrevivente vendo os dois agentes menearem em concordância brevemente.

- onde está o resto da galera? – perguntou o rapaz vendo os dois homens suspirarem.

- se vocês alugaram o local, poderia me passar o número da pessoa com quem falaram? – questionou o moreno de queixo torto vendo o rapaz negar com a cabeça

- quem falou com o dono foi o Elijah – argumentou o universitário vendo os dois federais se entreolharem.

- você se lembra de alguma coisa do ataque? – questionou o moreno de olhos verdes analisando o modo pensativo como o rapaz ficou logo em seguida.

- vagamente – respondeu com um ar cansado.

- pode nos dizer o que aconteceu? – indagou Scott vendo o mais novo franzir o cenho, tentando forçar a memória.

- foi tudo muito estranho – informou o rapaz se lembrando vagamente de tudo o que havia ocorrido.

- nos conte do que você se lembra – pediu Derek vendo o rapaz suspirar.

- eu estava em um dos quartos com a minha namorada. Daí começamos a ouvir gritos desesperados e eu fui ver o que era. Todos os caras foram ver. Era o Bryan. Eu vi ele correndo para o quarto e eu corri também. Quando cheguei na porta... A Barbara... Ela estava... Morta. Ela estava morta no colchão e tinha uma pessoa estranha no quarto. – ditou Collin e Derek olhou para Scott com seriedade.

- pode nos dizer como era essa pessoa? Você conseguiu ver o rosto dela? – questionou o McCall vendo o paciente menear positivamente.

- ele era um monstro, cara. O rosto dele era horrível e as mãos dele pareciam mãos de alienígena! – exclamou o rapaz, assustado.

- isso confirma a nossa teoria – murmurou Scott e Derek meneou positivamente.

- você se lembra de mais alguma coisa? – indagou o Hale vendo o rapaz menear positivamente.

- eu lembro... Dele matando todo mundo – respondeu Collin em um tom baixo.

- nós vamos pegar ele, Collin. Não se deixe manipular por essa experiência horrível - disse Scott tentando conformar o rapaz.

- ele matou todo mundo, mas não quis machucar o Kim – ditou o paciente, lambendo os lábios secos pelo nervosismo.

- não quis machucar ele? – indagou Derek, confuso.

- é. Ele... Matou todo mundo bem rápido, mas o Kim. Quando ele foi atacar o Kim, eu estava quase desmaiando, mas... Eu pude ver que ele parou. – respondeu o mais novo e os dois agentes se entreolharam, curiosos.

- parou? Ele não atacou o Kim? – questionou Scott vendo o rapaz negar com a cabeça.

- não. Sabe quando você está brincando com um amigo e finge que vai dar um murro nele, mas para? Foi como se ele estivesse brincando com o Kim – explicou Collin se sentindo tonto ao se lembrar dos amigos sendo mortos na sua frente.

- qual é o nome do Kim? – indagou Derek vendo o rapaz suspirar, balançando a cabeça levemente.

- Matarazzo. Kim Matarazzo – respondeu um tanto desconfiado

- o Kim está bem? – questionou Collin nervoso com a situação.

- e as garotas? Elas estão bem? – perguntou ao se lembrar que, com exceção de Barbara, todas as garotas correram do local.

- as garotas estão bem. Mas o seu amigo está desaparecido – respondeu Scott vendo o mais novo lhe fitar surpreso.

- como assim desaparecido?! – indagou Collin nervoso e preocupado.

- temos motivos para acreditar que o homem que matou os seus amigos pode ter levado o Kim – respondeu Derek vendo o rapaz olhar para si, assustado.

- não se preocupe. Você está cercado de policiais. Eles vão dar conta – ditou o agente McCall tentando acalmar o mais novo.

Não pareceu funcionar.

- você não estava lá para ver. Aquele cara vai matar todos eles se ele vier atrás de mim – o rapaz começou a olhar para a porta, nervoso.

- não precisa se preocupar, Collin. Você está cercado de policiais bem preparados. Você está seguro – o agente McCall vendo o mais novo negar com cabeça.

- não estou, não. Aquele cara... Ele parecia nem existir. Nós tentamos de tudo o que pudemos no pouco tempo que durou. Parecia cena de filme. Não conseguimos acertar nada nele. Ele matou todo mundo muito rápido. Foi horrível! – o rapaz tentou explicar o nervosismo que sentia.

- nós vamos pegar esse cara, Collin. Mas ele não vai vir atrás de você. Ele está obcecado por alguém. Alguém que não é você - foi tudo o que o agente Hale precisou dizer para que o rapaz, após algum tempo, começasse a se acalmar.

- obrigado pela ajuda. Vamos deixar você descansar – disse Scott antes de sair do quarto.

- a possibilidade do Kim Matarazzo conhecer o cara existe. Mas eu não sei se é o que está acontecendo – comentou Scott enquanto os dois caminhavam para fora do hospital.

- acho se um canibal que gostasse de sua família não iria machucar ela, mas também não iria querer que soubessem. Mas para esse cara brincar com Alice e atirar contra o FBI só pode ter dois motivos: ou ele não sabe com o que está lidando; ou ele é um doido de pedra – argumentou Derek, pensativo.

 

 

 

 

 

 

 

 


Allison tentava. Ela realmente tentava alcançar Alice, mas o castanho era muito rápido, mesmo com tantas pessoas pelo caminho. A agente chamava pelo prisioneiro quase que desesperadamente, mas não conseguia a atenção do homem de maneira alguma. Ela sabia que ele estava ouvindo. Mas Alice insistia em lhe ignorar.

Allison já estava se cansando daquilo. Stiles estava realmente determinado em lhe despistar. Ela estava pensando seriamente em desistir, mas havia algo queimando em seu peito. Algo que a fazia ela querer continuar a perseguir Stiles. Era algo que espalhava uma certa adrenalina por seu corpo.

O fato de estar perseguindo o maior criminoso do país fazia o seu peito acelerar. Caçar Alice era excitante. Medir as suas habilidades com as de Alice era muito bom. Lhe causava uma sensação de orgulho a medida em que ela se aproximava e uma sensação de desgosto a medida em que ele se afastava.

Mas não importava a distância.

Ela estava determinada.

O castanho teve o caminho bloqueado por um carrinho de compras de um morador de rua que surgia de um beco. Allison sorriu imaginando poder se aproximar mais do castanho. Entretanto, ela foi surpreendida, assim como o dono do carrinho, quando o castanho colocou o pé na parede, dando mais um passo na mesma antes de saltar, girando o corpo no ar, deitado, sobre o carrinho. Allison parou de correr, por um segundo, surpresa, enquanto assistia a aterrissagem perfeita do castanho.

Stiles terminou o giro no ar, caindo sobre um pé, ainda mantendo o corpo deitado no ar, antes de girar mais uma vez, finalmente se erguendo, aproveitando para olhar rapidamente para a sua perseguidora durante o giro, para, enfim, voltar a correr. Quando Alice voltou a correr, Allison acordou de seu devaneio de como o castanho havia feito algo incrível em tão pouco tempo de reação.

- mas o que foi – o homem tentou se pronunciar, mas a morena não deu tempo para o mesmo terminar.

- me desculpe – pediu a Argent enquanto contornava o homem para continuar a perseguir o castanho.

Ela viu o castanho fazer a curva em um beco e sumir de sua vista. A morena tentou aumentar a velocidade para não permitir que ele fugisse de si. No entanto, quando alcançou o beco e adentrou o mesmo, ela foi surpreendida quando encontrou um beco sem saída. Vazio. Alice não estava ali, o que lhe surpreendia. Não havia portas naquele lugar. Apenas janelas. Janelas fechadas.

Ela vasculhou todo o local. Atrás das latas de lixo, as janelas. Porém, não encontrou nada. Stiles havia realmente sumido. Mas ele não poderia ter sumido do nada. Ela se aproximou da parede do muro que bloqueava o beco, para analisar o mesmo. Não era um muro fácil de ser escalado. Principalmente sem algum auxílio. A mulher estava tão focada na parede, que não pôde ver que, no início do beco, algo desceu pela parede habilidosamente. Dando passos para trás, a morena iria se retirar do local. Para si, era óbvio que já havia perdido Alice.

Foi quando ela esbarrou em alguém. Nervosa, a morena se virou, já buscando a arma em sua cintura, mas fora facilmente desarmada quando recebeu um golpe da palma de uma mão no pulso, enquanto outra mão se alocou em seu pescoço, apertando o mesmo. Ela foi brutalmente empurrada contra a parede, antes de a agente tentar golpear o braço com o seu punho, o descendo de cima para baixo com força, mas parou ao encontrar o olhar gélido da cor âmbar sendo direcionado em sua direção.

- não era bem você que eu imaginava que fosse me seguir – ditou o castanho vendo Allison envolver o seu braço com as mãos.

- Peter está enferrujado e Derek parece ser uma boneca de porcelana. Desse jeito só vai me restar você – falou Alice lançando um olhar entediado para a mulher.

- já pode me soltar – falou a Argent vendo o castanho permanecer com o olhar de tédio.

Stiles ficou um tempo em silêncio, ainda com a mão em seu pescoço. O castanho parecia lhe analisar minuciosamente. Ela não queria ser grossa com o castanho, mas Stiles estava começando a lhe assustar. O olhar entediado e analista, o ar tenebroso que o cercava. Alice parecia estar pensando se lhe matava ou não.

- eu sei que não vai me matar – a morena ditou com seriedade, despertando o castanho de seus devaneios.

- o que você sabe sobre mim, Allison? Hm? O que te faz pensar que não vai morrer? – indagou o assassino olhando com seriedade para a agente a sua frente.

Allison não podia negar que aquelas palavras fizeram o seu sangue gelar. Mesmo que ela tivesse uma certa certeza de que não morreria ali, o peso da morte era algo forte o suficiente para lhe afetar ao ser ameaçada por uma pessoas como Alice. Engolindo em seco, a morena buscou o ar para poder falar.

- você pode ser o maior assassino já visto por esse país, mas não é mais o mesmo monstro – disse a mulher vendo o outro apenas lhe fitar com seriedade.

- Peter consertou você. Você se tornou... – a morena fora interrompida quando as pílulas do castanho se dilataram antes de o aperto em seu pescoço se tornar incômodo o suficiente para lhe fazer perder o ar e se engasgar.

- eu não sou uma arma quebrada – o homem de cabelos castanhos e lóbulos furados pronunciou calmamente, mas Allison sabia que havia tocado em um ponto que não deveria.

- e-eu... Sei... Desculpa – se desculpou o usando o ar que podia, tentando se soltar do agarre do castanho.

A mão de Stiles parou de apertar o seu pescoço. Para o completo alívio da mulher. Mas, para o seu desespero, algo pior ocorreu. Ela sentiu o seu corpo ser prensado contra a parede pelo corpo do castanhos, que moveu o nariz pela pele do seu rosto, o guiando até a sua orelha.

- por que faz isso, Allison? – indagou o castanho enquanto a mulher tentava se livrar do seu corpo.

- por que tenta provar quem é para os homens? Por que tenta, desesperadamente, despertar a atenção deles? – questionou Alice, sensualmente, no ouvido da agente, que parou de tentar fugir para apenas lhe encarar com incredulidade nos olhos.

- isso é ridículo! – exclamou a Argent vendo o homem sorrir vitorioso, mesmo que só pudesse ver o perfil dele.

- é o seu pai, não é? Não negue. Eu conheço o seu pai melhor do que você. Eu conheço o lado podre dele. Eu vejo o que você não vê. – falou o Stilinski enquanto permanecia a esfregar o seu corpo no da mulher, que cada vez mais se sentia irritada.

- você sempre foi muito julgada pelos idiotas com pênis. Inclusive pelo seu próprio pai. O qual não lhe deu apoio algum em sua carreira. Ele pensa que você não é capaz de fazer o que ele faz. Chris acha que você seria melhor dona de casa do que agente – argumentou Alice e Allison se viu cega pela fúria.

Em um rompante de ódio, a mulher golpeou a virilha do castanho com o seu joelho, mas não pareceu surtir efeito. Ela, então, golpeou a cabeça alheia com a sua, fazendo o castanho ficar o nariz expelindo sangue. Assim que o homem deu um passo para trás para parar o sangramento, calmamente, a morena pareceu acordar para o que havia feito.

- me desculpe – pediu a Argent mesmo que de forma grosseira.

- você é incrível, Allison. É uma agente melhor do que o seu pai, mas toda a sua capacidade se perde quando fica tentando provar o seu valor para os homens – falou o castanho encarando a mulher lhe fitar com surpresa.

- eu não preciso de alguém assim atrás de mim. Alguém que não sabe o próprio valor nunca vai conseguir me prender – as palavras de Stiles carregavam uma seriedade que conseguia deixar Allison desarmada.

- você está falando besteiras. Está vendo coisas – ditou a morena vendo o castanho sorrir enquanto o sangue do mesmo escorria pelo queixo e dedos do mesmo. Alice inclinou a cabeça brevemente para o lado lhe lançando um olhar questionador.

- eu estou? Então por que está aqui? Eu sei que você não veio atrás de mim por fazer questão da minha presença, Allison. Eu sei que veio aqui para se mostrar melhor do que os outros. Você quer a aprovação de Peter. Quer mostrar para ele que você pode me controlar como ele acha que faz – disse o castanho vendo a mulher lhe fitar com surpresa. A mulher negou com a cabeça enquanto lançava um olhar indignado em sua direção.

- por que você faz isso? – questionou Allison ao ver o homem começar a se afastar.

- faço o quê? – perguntou Alice ainda caminhando.

- por que tenta ser ruim? Eu sei que você é uma boa pessoa. Eu já vi você sendo bom, antes. Então por que finge ser o que não é? – indagou a Argent vendo o castanho parar de caminhar.

- não sei do que você está falando. Armas não são pessoas. Muito menos são boas – respondeu o castanho antes de voltar a caminhar, mas foi parado pelo punho da Argent, que se fechou em seu pulso e lhe girou com velocidade.

Allison foi surpreendida quando Alice golpeou o ar, a milímetro do seu rosto, fazendo a agente recuar rapidamente. Mas Alice já havia preparado tudo. Quando a Argent deu um passo para trás, o castanho puxou o pé dela com o seu, fazendo a mulher de cabelos negros presos em um rabo de cavalo cambalear para trás, para cair no chão logo em seguida.

- por que se chama de arma se você odeia isso? – perguntou Allison vendo o homem lhe fitar com um olhar frio que a fez engolir em seco.

- não coloque esperanças em mim, agente Argent. Eu sou apenas uma garota de imaginação fértil que transforma rosas brancas em vermelhas usando o sangue dos outros – foi tudo o que Alice disse antes começar a escalar a parede ao seu lado usando um encanamento exposto como forma de se segurar na mesma.

Allison assistiu, ainda deitada, a fuga de Alice enquanto se deixava levar por seus pensamentos. Era óbvio que ela não conseguiria seguir Alice daquele jeito. Ela nunca conseguiria subir aquela parede mesmo que também usasse o encanamento. Mas o que mais perturbava não era a fuga de Stiles. O que a atormentava em sua mente eram as palavras do castanho.

- eu não tento provar o meu valor para ninguém – murmurou a morena, pensativa, enquanto começava a se erguer o chão sujo.

 

 

 

 

 

 

 

 


Jackson chegou em sua fábrica de drogas com uma certa expectativa. Em sua mão, o pacote com pó azulado chamava a atenção de alguns dos seus homens. Não era exatamente raro encontrar o chefe de todo aquele tráfico em uma das áreas de produção. Mas o raro era ver o homem se aproximar do laboratório, vestir um jaleco e se dirigir para um dos balcões.

O homem retirou uma pequena parte dos cristais azuis e começou a fazer uma sequência de testes com triplicata para poder ter a certeza de que não estava sendo tapeado por aqueles gêmeos suspeitos bom de cama. Enquanto misturava os líquidos em um tubo de ensaio, ele ia, aos poucos, colocando erlenmeyers no balcão. Um dos homens se aproximou para questionar se ele queria ajuda.

- eu quero que você pegue um pouco desse pó e entregue para as cobaias usarem. Mas dê bem pouco. Preciso ver uma coisa – ordenou o louro enquanto colocava a mistura em um equipamento que analisaria os compostos presentes e as moléculas da droga.

- sim, senhor – respondeu o homem já se retirando do laboratório.

Enquanto preparava os testes para analise em equipamento, o louro esperava pelo retorno por parte do seu empregado. Quando finalmente ele colocou o ultima triplicata no analisador de partículas e ligou o equipamento, o homem retornou.

- senhor. Todos já usaram a droga – informou o homem vendo o louro se erguer e começar a caminhar na direção da saída do laboratório.

- mande alguém comparar os resultados e me entregar os dois: o da droga que lhe dei e a da nossa droga – ordenou enquanto retirava o jaleco e o jogava no gancho onde antes estava pendurado.

O homem apenas concordou, antes de procurar pelas pessoas que eram as responsáveis por trabalhar nos laboratórios. Enquanto se dirigia para a ala onde ficavam as cobaias, Jackson puxou um chiclete de menta da cor azul e o levava a boca. Nesse local, havia uma sala com computadores ligados às câmeras que se encontravam nos quartos das cobaias. O louro adentrou a sala e se dirigiu para o computador, vendo uma mulher analisando as câmeras.

- e aí? – perguntou o Whittemore se colocando atrás dela.

- até agora, os efeitos estão sendo os mesmos de quando usam as nossas drogas – respondeu a ruiva vendo que todas as cobaias estavam meio tontas

- eles não mentiram pra mim – murmurou o homem tentando convencer a si mesmo de que não fora enganado.

- chefe, o senhor tem que ver isso – disse um homem de jaleco adentrando a sala com alguns papéis em mãos.

- o que é isso? – indagou Jackson olhando para os papéis nas mãos alheias. O empregado lhe fitou confuso.

- são... os resultados das amostras que o senhor analisou – respondeu o moreno, nervoso por estar fazendo algo que não deveria.

- os níveis estão diferentes – comentou Jackson notando como alguns níveis de compostos eram elevados comparados com os da droga produzida por si.

- isso é impossível! Ele conseguiu ligar esses compostos de uma maneira que ninguém mais consegue. Mesmo que usemos as mesmas quantidades, dá errado. – comentou o cientista vendo o louro ficar pensativo.

- vamos trabalhar em conseguir copiar esses níveis, por enquanto – ditou o louro e o moreno se viu surpreso.

- mas, chefe, é impossível! Os níveis de compostos beiram a inconsistência. O cara que fez isso é um Deus das drogas! – exclamou o moreno e logo o louro se virou para ele com um olhar sério

- quem está pagando você? – indagou Jackson e o homem engoliu em seco.

- o senhor – respondeu receoso.

- então faça o que mando sem questionar. Se eu disser para jogar ácido concentrado em seu pé, você vai fazer. Inútil – ralhou o louro vendo o homem menear positivamente.

- dá próxima vez que me questionar, não haverá sermão. Muito menos uma terceira vez – disse o Whittemore vendo o homem ficar nervoso.

- s-sim, chefe – foi tudo o que o moreno disse antes de sair correndo.

- a cada dia que trabalho com esses idiotas, percebo que os homens só servem para serem fodidos – disse a ruiva enquanto ela e Jackson voltavam a analisar as câmeras.

- nem me fale. Os capangas sem cérebro são bons pois não questionam nada. Mas tem vezes que eles ultrapassam os limites da burrice humana – comentou Jackson e a ruiva sorriu.

- pelo menos alguns dos nossos tem uma bunda boa de foder – argumentou a mulher e o louro desviou o olhar para a mesma. Eles se conheciam há um bom tempo e ela era confiável para ele.

- você... Você está fodendo o meu pessoal?! – questionou o louro surpreso. A mulher sorriu largo.

- meu strap-on canta por aqui, bebê – respondeu vendo a expressão de choque no rosto alheio.

- vai me dizer que nunca tentou? – indagou surpresa

- não mesmo. Não tenho paciência para esses caras. É mais fácil ir procurar alguém por fora – respondeu o louro, cruzando os braços.

- não sabe o que está perdendo. Alguns dizem não gostar da coisa, mas quando provam ficam todos envergonhados chamando pra fazer de novo – ditou a ruiva de lateral do cabelo raspada sorrindo para o louro.

- deveria tentar um dia desses. Podemos até fazer a três – sugeriu a mulher e logo os dois puderam ver uma movimentação nas câmeras.

- foca na mulher. Parece que está saindo do transe – ordenou Jackson vendo a mulher fazer como o ordenado.

- deu certo. Ela saiu do transe – murmurou a mulher, animada.

- ótimo. Grave todo o período de efeito para mim. Vou resolver algo – ordenou o louro antes de se retirar da sala.

Jackson se dirigiu para o escritório daquela fábrica, se questionando se deveria mesmo fazer aquilo. Era muito estranho. Ele adentrou o escritório e retirou o celular que antes estava no pacote da droga, analisando o mesmo. Dois gêmeos suspeitos surgiram, do nada, em seu local particular da sua boate favorita, com uma oferta de sexo e de trabalho. Como prova de sucesso, eles lhe entregaram a droga que ele tanto queria saber produzir.

Era tão estranho como tudo isso aconteceu do nada. Quer dizer, ele não sabia o que seria esse tal trabalho, mas ele sentia que, pelo valor da recompensa, não seria nada fácil. Ele decidiu ligar o aparelho. Só saberia o que deveria fazer assim que ouvisse a proposta completamente.

- se divertindo? – alguém questionou e o louro não se preocupou em questionar quem era.

- como acharam esse lugar? – indagou o Whittemore sabendo muito bem que os gêmeos não viriam separados um do outro.

- você é inteligente mas não é esperto – argumentou Aiden se sentando a mesa ao lado do louro para olhar diretamente para o mesmo.

- esse lugar é bem equipado. Você sabe trabalhar – comentou Ethan olhando ao redor.

- anos trabalhando duro não iriam me deixar na sarjeta. Agora, como entraram aqui? Meus homens que cercam esse lugar são bastante habilidosos com armas – questionou Jackson vendo o logo da empresa que criou o aparelho surgir na tela.

- ah, por favor. Nós somos melhores do que todos eles. Nós somos quase Alices – respondeu Ethan encarando o homem desviar o olhar para si, confuso.

- Alices? – indagou Jackson, confuso.

- você vai entender se aceitar a proposta do Coelho – respondeu Aiden começando a deslizar a mão, sensualmente, pelo braço do louro, até o celular já ligado.

- tudo o que você tem que fazer, para entender, é fazer uma ligação – sussurrou o castanho enquanto o irmão se posicionava atrás de Jackson, massageando os ombros do mesmo.

- e se eu decidir não ligar? – perguntou desconfiado.

- nós seremos obrigados a sumir – respondeu Ethan mordendo o lóbulo da orelha alheia.

- e por que? – indagou, curioso, sentindo que aos poucos o seu corpo começava a corresponder aos toques habilidosos e desinibidos dos irmãos de cabelos castanhos.

- porque as pessoas do país da maravilha só aparecem para dois tipos de pessoas – respondeu Aiden em um sussurro enquanto aproximava o rosto do de Jackson.

- candidatos a fazerem parte do País das maravilhas – sussurrou Ethan deslizando as mãos para o peitoral do louro.

- vítimas – sussurrou Aiden deslizando os lábios pela bochecha do Whittemore.

- se não faz parte de um grupo, faz parte do outro. E você não quer fazer parte do outro – sussurrou Ethan já desabotoando a camisa do outro.

- então, se eu não aceitar, vocês vão me matar? – indagou Jackson, receoso.

- nós? Não. Seria uma desperdício fazer isso. Mas o Branco vai. Ele não gosto de fios soltos. E se você não aceitar, vai se tornar um fio solto por saber de nossa existência. E você não quer um coelho branco em sua cola, Jackie. Ele faz as coisas bem simples e rápidas, mas não quer dizer que você vai morrer rápido – respondeu Ethan já levando suas mãos para a calça do louro

- agora, venha. Primeiro vamos brincar. Depois você decide se quer trabalhar conosco ou morrer – disse Aiden puxando o rosto do outro para tomar-lhe os lábios nos seus.

- vocês fazem isso parecer tão casual – ditou o Whittemore já se movendo para se colocar entre as pernas de Aiden, com Ethan ainda em suas costas.

- mas você gosta assim – argumentou Ethan já abaixando a calça do homem e a peça intima do mesmo, antes de começar a trabalhar com a língua no buraco pedinte do louro.

 

Chapter 36: Lead Up

Chapter Text

- e então? O que descobriram? – indagou Isaac ao ver Derek e Scott adentrarem a sala designada para ser a base deles.

- parece que o sequestrado não foi alvo de violência do nosso assassino – respondeu Scott notando apenas Vernon e o Lahey ali.

- cadê o Peter e a Erica? – questionou enquanto se sentava.

- estão com a família do Kim, nosso sequestrado – respondeu Vernon vendo os dois agentes analisarem o quadro do caso minuciosamente.

- até agora o que sabemos? – perguntou o agente Hale vendo que havia muita pouca informação no quadro.

- quase nada. Sabemos que a pele dele é deformada , que ele é um canibal, que mata não apenas por carne, mas também por diversão. – respondeu Isaac minimamente desanimado.

- isso sem contar que é um doido de pedra que quer brincar com a gente – argumentou Vernon e Isaac apontou para o homem, enquanto encarava Derek e Scott.

- vocês já pararam para pensar que, talvez, esse cara seja algum parceiro do Alice? – indagou Scott vendo o louro e o Boyd rirem baixo, negando com a cabeça.

- qual é a graça? – questionou Derek, curioso.

Ele não havia parado para pensar por aquele ângulo. Eles tinham noção de o quanto Stiles poderia ser manipulador, mas não tinham ideia alguma do limite do castanho em manter as aparências de suas farsas. Eles poderiam estar sendo enganados desde o começo e não sabiam.

- a graça é a ideia sem noção do Scott – respondeu Isaac, ainda rindo.

- vocês não sabem nada sobre aquele cara, não é? – questionou Vernon, ainda negando com a cabeça.

- é claro que sabemos. Por acaso acham que sabem mais? – indagou Scott, debochado.

- se você soubesse o que a gente sabe, você teria a noção de que Alice trabalha sozinho – respondeu o Boyd unindo as mãos, enquanto apoiava os cotovelos nos joelhos.

Os dois agentes franziram o cenho para a informação. Aquele tipo de frase ao poderia significar uma coisa: Isaac e Vernon sabiam de algo a respeito de Stiles que eles aparentemente não sabiam. Mas o que diabos dois detentos que recém descobriram o assassino, poderiam saber mais dele do que o FBI, que o manteve prisioneiro por mais de uma década?

Derek se aproximou dos detentos, curioso. Vernon sorria vitorioso, como a criança que havia escondido o melhor doce da festa. Aquilo estava começando a martelar em sua mente com uma velocidade surpreendente. Ele precisava saber do que se tratava.

- expliquem-se – ordenou o McCall se aproximando do Lahey, apoiando o braço na parede em que o louro estava apoiado.

Isaac encarou o ex melhor amigo de cima à baixo, com desdém, antes de se virar, dando as costas ao mesmo, começando a se afastar.

- pelo pouco que aprendemos sobre psicopatas enquanto trabalhamos com vocês, Stiles não é o tipo de ter parceiros. Se ele fosse ter um grupo, ele seria o alfa. A mente maligna e completamente fora da casinha do grupo – comentou Isaac encarando o modo pensativo dos dois agentes.

- Alice tem uma lábia excepcional para procurar um igual. Ele procuraria alguém que o servisse fielmente. Um tipo de valete, sabe? Apesar de o chamarem de Alice, eu não vejo uma aventureira de imaginação fértil. Eu vejo uma rainha vermelha, extremamente perigosa sem a sua coroa – argumentou o Boyd encarando os dois morenos franzirem o cenho em sua direção.

- rainha?! – questionou o moreno de queixo torto, confuso.

- ele fica agressivo quando contrariado. Só falta gritar “cortem-lhe a cabeça!” – comentou o homem de cabelos raspados vendo os dois agentes ficarem pensativos.

- eu nunca havia parado para pensar nisso – comentou Scott se concentrando nas palavras de Vernon.

- você não parece o tipo que gosta de leitura – comentou o prisioneiro chamando a atenção do McCall para si.

- por que? – indagou o homem, ligeiramente ofendido.

A resposta de Vernon fora cortada pela entrada de Allison. A mulher aparentava calma e normalidade, mas os olhos treinados de Scott e Derek captaram os sinais corporais da mulher. Algo a incomodava. E eles não haviam sido os únicos a notar isso.

- você está bem? – questionou Isaac, receoso da resposta.

- onde está o Stiles? – indagou Derek vendo a morena suspirar.

- Alice está por aí – respondeu a morena antes de pegar o pulso de Isaac e começar a o puxar para fora da sala.

- e para onde vai com o Isaac? – questionou Scott levemente desconfiado.

- preciso conversar com ele – respondeu Argent, rapidamente.

No entanto, ao abrir a porta, a mulher fora surpreendida pela imagem de Erica e Peter. Os dois tinham um olhar sério que beirava a preocupação. Aquilo era intrigante. Poucas eram as vezes que Peter demonstrava aquele olhar em um caso.

- o que houve? – indagou Vernon ao ver Erica adentrar o local com algo na mão.

- Kim não está sendo torturado. Ele está sendo mantido vivo temporariamente, mas não pela vontade de carne do assassino – explicou a loura enquanto seguia para o quadro de informações e colocava uma foto no mesmo.

- essa é uma foto do rapaz sequestrado, Kim Matarazzo – disse Peter notando o choque e a confusão de alguns.

- mas ele... – se pronunciou Isaac se questionando se era algum tipo de pegadinha.

- é igual ao Stiles – argumentou Derek, surpreso.

- isso é sério? – questionou Scott, surpreso.

- seríssimo – ditou Lydia, do celular de Peter.

- esse garoto é o Stiles, mais jovem e mais musculoso. Só de olhar o instagram dele já bate uma vontade louca de procurar ele no Thinder – ditou a ruiva e logo os celulares de Scott, Allison e Derek vibraram em sinal de mensagem.

Eram imagens do castanho de sobrenome Matarazzo. A maioria eram fotos na academia ou no treino de futebol. A semelhança entre o universitário e o assassino membro da divisão era incrível. Apenas faltava a tatuagem de copas nas costas para que eles se tornassem quase idênticos. A única coisa que impediam que fossem considerados a mesma pessoa, além da tatuagem, era a cor dos olhos.

Kim possuía olhos azuis, enquanto Stiles possuía castanhos claros. Mas, a semelhança gritante não deixava de surpreender o grupo.

- isso é estranho – argumentou Scott, confuso.

- eu estou completamente em choque – comentou Erica erguendo as mãos em rendição.

- Kim Matarazzo é um atleta, bolsista da melhor universidade de Miami. Capitão do time de futebol e quarto melhor aluno da turma – ditou Lydia enquanto digitava em seu computador, na busca por mais informações.

- agora está explicado o motivo dele ter parado o golpe – comentou Derek chamando a atenção de Peter e Allison.

- parado o golpe? – questionou a Argent, confusa.

- sim. Collin disse que Kim iria receber um golpe do nosso assassino, mas o desgraçado parou antes de o acertar, como se reconhecesse ele. Como se fossem amigos – explicou o agente McCall vendo a morena franzir o cenho, pensativa.

- ele reconheceu o Kim, porque ele é a cara do Stiles – argumentou Vernon vendo Derek menear positivamente.

A porta da sala se abriu, revelando o delegado, que carregava algo na mão.

- chegou algo para uma de vocês duas – ditou o homem vendo o grupo franzir o cenho.

- para nós? – questionou Erica, confusa.

- qual de vocês duas se chama Alice? – indagou o oficial vendo o grupo se entreolhar, nervoso.

- já passou isso por um detector de metais? – perguntou Peter, nervoso.

- sim. Não deu em nada – respondeu o delegado vendo a loura de cachos pegar a caixa em sua mão.

O pacote era uma pequena caixa de papelão que era envolvida em papel de presente azul claro com quatro cartas de baralho coladas no topo. Cada uma era um às de um naipe diferente, deixando ainda mais óbvio para quem era aquele pacote.

- ele é mais destemido do que eu pensei – ditou Isaac, curioso.

- o cara meteu bala na gente e ainda explodiu um prédio, Isaac. Mais destemido do que esse cara, só Alice que fez tudo o que fez com todo o FBI atrás dele – argumentou Peter vendo Erica abrir o pacote com cuidado.

- está cheirando bem. – Scott comentou, curioso.

A medida em que era aberto, o pacote liberava o odor de churrasco. Mas era estranho de se receber carne daquela forma. Quando Erica abriu a caixa completamente, foi possível ver um pedaço considerável de carne assada, em cima de uma caixa de chocolates, tanto a caixa quanto os doces apresentavam o formato de coração, estando a caixa de chocolates e a carne cercadas de rosas vermelhas.

- esse é o presente mais estranho que eu já vi – ditou Isaac levando o dedo ao pedaço de carne e sentindo que o mesmo ainda estava morno.

- isso é o que eu estou pensando que é? – questionou Allison, receosa.

- se o que você está pensando for um coração humano no ponto churrasco, você está certa – respondeu Erica pegando a carne em mãos e analisando a mesma.

- e você ainda pega isso? – questionou Scott, surpreso.

- eu vou vomitar – ditou Isaac, ligeiramente pálido.

- pode ser estranho e antiético, mas eu sou uma sobrevivente. Para mim, isso é apenas carne. Uma carne que eu só comeria em último caso extremo. Mas ainda assim, carne. – disse a loura enquanto analisava o coração em sua mão.

- o que você está vendo? – indagou Peter vendo a loura analisar um ponto específico.

- marcas de unhas. Ele arrancou isso com a mão – respondeu a Reyes simulando um agarre forte no órgão, antes de o puxar para si.

- Gina teve o coração arrancado brutalmente – informou Derek vendo o tio menear positivamente.

- deve ser o dela – sugeriu Scott vendo Erica menear positivamente.

- me coma – disse Vernon chamando a atenção de todos.

- é o quê? – questionou Derek, confuso.

- é o que está escrito nos bombons – explicou apontando para a caixa.

E de fato estava. Alguns bombons possuíam letras em seu topo, formando a frase tão conhecida da história de Alice. Os agentes franziram o cenho. Algo estava estranho ali.

- Scott, leve os bombons para os forenses e diga para examinarem todos – ordenou Peter vendo o moreno menear positivamente.

- essas flores – comentou Erica, chamando a atenção, impedindo que Scott pegasse a caixa em formato de coração.

- o que tem elas? – questionou Allison, confusa.

- não são rosas. Pelo menos não vermelhas – disse aloura erguendo uma das rosas na mão.

- e como sabe disso? – indagou o delegado.

- tem marca de pelos de pincel nas pétalas. Essas rosas... – a loura lambeu o polegar e esfregou uma das pétalas.

- eram brancas – afirmaram Vernon e Peter antes mesmo de a cor branca, um pouco manchada, da pétala surgisse.

- mas o que merda esse cara tem na cabeça? – questionou o delegado, visivelmente abatido.

- tem um bilhete na caixa – disse Scott ao retirar a caixa de bombons e ver um bilhete embaixo da mesma.

- me dá isso – pediu Peter acolhendo o envelope nos dedos, abrindo o mesmo imediatamente.

- “Nossso sshá não vai demorar para rolar. Até lá, divirta-ssse com osss ssseusss favoritossss. PSSSS: Mandei corasssão, poissss ainda não ssssei aproveitar bem a cabesssa. Para a minha eterna rainha, do sssseu eterno sssservo” – o louro leu o bilhete antes de todos desviarem um olhar de choque para o pacote.

- os favoritos dele?! - questionou Isaac, totalmente incrédulo.

- Alice come carne humana?! – indagou Derek, igualmente perturbado.

- isso é impossível! – exclamou Peter, revoltado.

- ele está enganado. A alucinação dele está fora de controle – argumentou

- Scott, não precisa levar os bombons para a perícia – disse Allison se aproximando e pegando um bombom sem letra, apenas com o naipe de paus no topo.

- por que? – questionou o McCall antes de todos gelarem ao ver a mulher levar o doce a boca, o mordendo com vontade.

- isso não é uma armadilha – disse a morena antes de revelar o interior do bombom, o qual estava repleto de chocolate e um morango sem folhas.

- é um presente de amor – afirmou a Argent vendo o choque nas faces alheias aumentar.

- É O QUÊ?! – gritaram Isaac e Scott, simultaneamente.

 

 

Kim acordou em um local estranho. Era escuro, frio e parecia ser enorme, já que ele conseguia escutar ecos de algumas coisas fazendo barulhos muito longe. O rapaz sentia uma dor de cabeça forte, principalmente na nuca. Algo parecia ter lhe acertado com força. Ele tentou levar a mão ao local que doía, mas foi surpreendido quando algo prendeu suas mãos. Ele olhou para si mesmo notando estar acorrentado a uma cadeira com rodinhas.

- mas que merda é essa? – indagou enquanto tentava se soltar.

Em vão.

Ele olhou ao redor, tentando identificar onde estava, mas era difícil de saber quando estava tudo tão escuro. Para completar, a dor em sua cabeça não o permitia raciocinar muito. Ele tentava se lembrar do que havia acontecido, mas estava tudo tão confuso e o medo não lhe ajudava a esclarecer nada.

Sem conseguir fazer nada por si só, Kim sentia que só havia uma coisa que poderia fazer naquele momento.

- TEM ALGUÉM AÍ? – gritou o mais alto que conseguia, sendo surpreendido quando a sua voz ecoou por todo o local.

- GALERA, PARA DE PALHAÇADA. EU TENHO JOGO ESSA SEMANA! – gritou com certa seriedade, achando ser uma brincadeira dos seus amigos idiotas.

Nenhuma resposta veio. O rapaz suspirou. Os seus amigos realmente deveriam ser muito idiotas para fazerem algo desse tipo consigo. Antes que pudesse gritar por ajuda, novamente, o rapaz fora surpreendido pelo som de um brinquedo. Ele olhou para um ponto escuro do local, vendo que, quando o som começava, uma estranha luz descia até o chão, brilhava um pouco, antes de retornar para o ponto de origem, se apagando.

- quem está aí? – questionou o Matarazzo, irritado.

- me desamarra logo. Isso machuca, cara! – exclamou o castanho, impaciente.

Nada ocorreu.

A luz voltou a surgir, no mesmo lugar, antes de voltar a sumir. Aquilo se repetiu mais uma vez, mais uma, mais uma e mais uma outra vez. Aquela luz subindo e descendo era a única coisa que ocorria e isso já estava o irritando.

- mas que caralho! Me tira daqui. A minha cabeça está doendo, meus pulsos estão doendo. Você tem o quê, demência?! Me tira daqui, porra! – exclamou Kim, furioso.

- ioiô – ditou uma voz grossa chamou a atenção de Kim.

Ele não a reconhecia.

- é o quê? – indagou Kim, confuso.

- é o ssseu sssegundo brinquedo favorito, não é? – questionou o homem nas sombras, vendo o castanho de olhos azuis franzir o cenho.

- não. É videogame. Por que diabos isso importa? Só me tira daqui! – respondeu Kim ainda irritado.

A irritação se tornou medo quando o ioiô, anteriormente na mão do homem, voou em sua direção, acertando a sua testa. Revoltado, o Matarazzo tentou questionar a atitude alheia, mas parou quando viu o homem sair das sombras.

Ao ver a pele deformada repleta de cicatrizes de queimadura, a sua mente trabalhou, associando a imagem do homem ao ocorrido antes de ele apagar. Kim se lembrou de tudo. O corpo de Barbara, os seus amigos morrendo com os pescoços quebrados e os corações perfurados pelas unhas pretas que quase lhe acertaram um soco antes de ele tentar correr e apagar.

- você... – o castanho choramingou, nervoso.

- qual é o ssseu sssegundo brinquedo favorito? – questionou o homem, irritado, se aproximando.

Kim não precisou pensar muito para saber o que responder.

- i-ioiô – respondeu vendo o homem mudar de expressão instantaneamente.

- então por que mentiu antessss? – perguntou o homem, sorrindo minimamente.

- e-eu... Fiquei nervoso. E-eu não lhe conheço – respondeu Kim, tentando, ao máximo, não tirar aquele homem do sério.

- eu sssei, eu ssei. Mass nóss vamosss noss dar muito bem – ditou o homem levando suas mãos enluvadas até o rosto alheio.

Kim estremeceu com o toque liso das costas das unhas pretas as em seu rosto. Ele estava tão assustado. Tudo o que ele conseguia pensar era em pedir à Deus para que aquele homem não lhe matasse, como fizera com os seus amigos.

- vosssê essstá com fome? – questionou o homem deformado vendo o castanho suspirar pesado, nervoso, meneando positivamente.

- eu ssei que o sseu favorito são os olhos, mass eu não ssei fassser cabessa. Então eu fiss issso – afirmou o homem de fala estranha, se afastando antes de retornar com a carne assada em um prato com um purê rosa embranquecido

- o-o que é isso? – perguntou Kim, nervoso.

- algo que vossê vai gosstar, Alisse  – respondeu o estranho homem, levando um garfada do purê para a boca de Kim.

- você vai me matar? – indagou o castanho vendo o homem lhe fitar confuso.

- eu jamaiss faria isssso! Eu amo vossê! – exclamou o homem voltando a acariciar o rosto do outro com as costas de suas garras

Kim se viu surpreso com as palavras que ouviu. Ele se questionava o que diabos estava acontecendo. O Matarazzo, no entanto, não perdeu tempo. Ele não se chamava Alice. Se aquele cara realmente queria Alice, ele iria lhe deixar ir.

- então me deixe ir. Eu não sou Alice – pediu Kim, nervoso, vendo o homem lhe fitar com seriedade.

Silêncio.

Foi tudo o que Kim teve, por um bom tempo.

É sempre assim.

A calmaria sempre vinha antes da tempestade.

O homem enlouqueceu. Rugindo todo o ódio que queimava em seu peito, ele passou a se golpear, cravando aquelas unhas estranhamente firmes e resistentes no próprio corpo. Kim, assustado, se encolhia na cadeira ao mesmo tempo em que voltava a chorar. Em um instinto odioso, o homem de fala estranha acertou um soco potente no rosto do Matarazzo, que gemeu de dor, antes de começar a grunhir de receio.

- vossê... Ssse sshama Alissce. E vai continuar sse sshamando Alisse! – o estranho rosnava furioso, enquanto socava o próprio peito.

- está bem! Está bem! – exclamou o rapaz, desesperado.

- eu me chamo Alice. E-eu estava só brincando – mentiu Kim.

Ele estava desesperado para ficar vivo. E se, para se manter vivo, ele precisasse mentir e entrar na loucura do homem a sua frente, então ele assim o faria. O rapaz sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguém viria atrás de si. Então ele só precisava sobreviver até esse momento chegar. Ele precisava entrar naquele jogo maluco até que a polícia encontrasse aquele lugar.

- ah! Branco me disssse que vossê poderia ssser brincalhão. Me desssculpe. Olha. É sssó vossê sser um bom menino que tudo vai sssair como o planejado – ditou o homem em seu estranho linguajar.

- c-certo. E-eu vou me comportar – disse Kim, nervoso com toda aquela estranha situação.

O homem sorriu com a declaração do mais novo. O rapaz de cabelos castanhos se viu nervoso quando o homem deformado se aproximou de si. O estranho colocou o rosto próximo ao seu pescoço, antes de cheirar o mesmo.

- vossê sse paresse tanto com ele. Vai sser minha Alisse particular – sussurrou o mais velho antes de se afastar, perdendo o momento em que Kim mordeu o lábio, tentando conter a agonia que sentia.

- agora, sse me der lissenssa, tenho algo importante para fassser – ditou o homem antes de colocar um sobretudo com capuz e se dirigir para a escuridão do local, novamente.

 

 

 

O homem corria desesperado.

Ele não sabia o que diabos havia feito de ruim para aquele cara estar lhe caçando. Quer dizer, ele havia matado algumas prostitutas em sua vida. Mas ele havia se redimido. Ele havia sido preso e solto. Pagou toda a sua pena na cadeia. Passou a ir para igreja e deixou essa vida de lado.

Mas, se isso era algum tipo de castigo pelo que ele havia feito no passado, por que estaria sofrendo justo agora? Quando havia conquistado uma família?

Ele não sabia o motivo. Só sabia que não seria pego facilmente.

Quando ele adentrou uma antiga rede de tratamento de água, o homem achou que havia despistado o seu perseguidor. Parando para respirar, ele decidiu se apoiar na parede do local. Ele precisava pegar um fôlego, agora que havia finalmente despistado aquele maluco assustador.

- EU NÃO TENHO O DIA TODO! EU ESTOU ATRASADO! – ele ouviu a voz masculina que havia lhe gerado tanto pavor naquela noite

- esse cara tem o quê?! Um sensor?! – sussurrou James, preocupado

- VOCÊ PRETENDE SAIR, RATINHO ASSUSTADO? – indagou o seu perseguidor, enquanto a voz dele ecoava pelo local abandonado.

- merda! O que eu tenho que fazer, Senhor, para me livrar desse cara? – questionou o James, ainda sussurrando.

- TUDO BEM, ENTÃO. SE QUER TANTO BRINCAR DE ESCONDE-ESCONDE, EU VOU BRINCAR COM VOCÊ – ditou o homem enquanto procurava por James pelo local.

James começou, silenciosamente, a procurar uma forma de sair dali e deixar o seu perseguidor sozinho, lhe procurando por ali, enquanto ele dava no pé daquele lugar em busca de um local seguro.

Ele encontrou uma porta que levava para um estranho corredor. Um corredor estreito e descoberto, com o qual ele podia ver a luz da lua. Ele seguiu por aquele corredor com velocidade e cautela, tentando, ao máximo, tomar distância sem chamar a atenção do seu perseguidor.

James conseguiu alcançar uma escada, em meio aquele corredor. O homem então começou a subir pela escada, sem chamar a atenção do seu estranho esquisito que o perseguia, e saltou o muro expeço do corredor, que um dia serviu para levar água. Caminhando por alguns bons metros, ele conseguiu alcançar um local amplo, que um dia fora o estacionamento dos funcionários.

Sorrindo, James voltou a correr despreocupadamente.

O seu sorriso morreu quando ele começou a escutar aquele assobio. O mesmo assobio que ouviu mais cedo quando o encontrou em um beco, enquanto ia para casa. O som do ar escapando pelos lábios pálidos no ritmo de Twisted Nerve. Aquele maldito ritmo tenso de se ouvir enquanto está sozinho no meio do nada.

James olhou ao redor, surpreso. Ele não sabia de onde o assobio vinha. O local eram espaçoso e aberto, mas ele tinha um certo limite de espaço até ser cercado por muros e prédios. Isso fazia uma barreira para som, gerando um eco que lhe fazia ficar perdido quanto a localização do seu perseguidor.

James aumentou o passo, se é que ele poderia conseguir esse feito. A grade do estacionamento já era visível em seu campo de visão, indicando que ele estava perto da saída do estacionamento. Esperançoso, o homem manteve o ritmo, pois saberia que não conseguiria ir mais rápido do que já estava. Ele só queria fugir e ir encontrar a sua mulher e filha. Assim que alcançou a grade do portão, James olhou para trás, antes de começar a escalar a grade desesperadamente.

O assovio parou de ecoar pelo ambiente, indicando que o cantor que o emitia havia parado.

James não perderia essa oportunidade. O homem saltou a grade apenas para ser surpreendido por uma adaga, que fora lançada na sua frente, antes de riscar o chão e rolar pelo mesmo. O homem olhou para trás, sendo surpreendido, novamente, pela imagem do estranho encapuzado com máscara de coelho branco sentado despojadamente sobre o portão.

- indo embora sem tomar uma xícara de chá? Quanta falta de educação! Os seus pais não lhe deram modos? – exclamou Branco, negando com um indicador enquanto fazia um biquinho nos lábios em falsa chateação.

James se viu desesperado.

Como diabos aquele homem havia lhe encontrado e lhe alcançado tão rápido?! Isso deveria ser impossível. Ele havia saído na surdina. Havia percorrido aquele estacionamento todo apenas para ser pego na saída?! Era uma verdadeira sacanagem consigo.

- o que você quer de mim?! – indagou o moreno, irritado.

- não é óbvio?! – questionou a pessoa por trás da máscara.

- o que foi que eu fiz?! Eu não já paguei pelos meus pecados?! Eu já fui preso e cumpri a pena por ter matado aquelas mulheres. Então por que não me deixa ir?! – exclamou o moreno já em prantos.

-hm? Você já matou mulheres? – indagou Branco, surpreso.

- então se eu te pedir para matar uma mulher em específico você faria? – questionou o mascarado vendo o homem lhe fitar com receio.

- i-isso me deixaria vivo? – perguntou James, esperançoso e nervoso.

Ele não queria matar novamente. No entanto, se isso significasse poder ver a sua filha mais uma vez e poder beijar a sua esposa, então ele o faria. O faria com um enorme peso no coração, mas faria.

Branco sorriu.

- por mim tudo bem. Não tenho nada contra você. Eu só queria me divertir – disse o mascarado enquanto via o olhar do outro se encher de esperança.

- i-isso é sério? – questionou James, surpreso.

- é claro. Mate uma mulher qualquer. Anda! Vai! Pode ir – respondeu Branco vendo o homem, receoso e esperançoso, começar a correr.

James conseguiu apenas dar dez passos antes de sentir algo perfurar o seu corpo pelas costas. A dor fora tão forte que ele caiu no chão. Gemendo de dor e sentindo o desespero em seu peito crescer, James levou a mão às suas costas, sentindo a lâmina em seus dedos. Ao puxar a mesma, gemendo novamente, ele a levou ao seu campo de visão, se surpreendendo ao encontrar um engenhoso relógio com lâminas na forma de ponteiros que lembravam e muito estrelas ninjas.

Saltando do portão e caindo em pé com facilidade, Branco passou a gargalhar quando viu o corpo do homem tremer para se erguer. A dor era demais para a sua vítima e ele estava adorando aquilo. Ver o desespero ser materializado no corpo de suas vítimas enquanto elas lutavam por suas vidas lhe deixava animado e ansioso.

Sentindo o ódio crescer em seu corpo, James se virou, com a estrela relógio na mão, vendo o dono da risada psicótica se aproximar, saltitante, como a criança que ganhou o melhor presente de todos e está prestes a contar para os amigos, em êxtase.

- você disse que eu poderia ir! – exclamou James, indignado.

Branco gargalhou uma única vez, tentando conter as gargalhadas inconstantes e incontroláveis.

- eu menti! – exclamou o mascarado antes de voltar a gargalhar descontroladamente.

Rosnando de raiva, James lançou a estrela no mascarado, tentando revidar na mesma moeda, aproveitando a distração alheia. A arma cortou o ar, seguindo na direção do rosto com máscara de coelho de pelos brancos. Mas Branco o surpreendeu ao agarrar a estrela com os dedos indicador e do meio da mão direita. O estranho com máscara de coelho olhou com fúria para James, com a estrela a milímetros do rosto. Mas então ele voltou a gargalhar loucamente.

Respirando com dificuldade e de forma barulhenta, Branco começou a se recompor, com a mão no peito. Suspirando, após conter as gargalhadas em seu interior, o mascarado secou uma lágrima que escorreu do seu olho. Ele sorria largo, se divertindo cada vez mais com a sua caça.

- você devia ver a sua cara! Está maravilhosa! – exclamou o assassino vendo a sua vítima lhe fitar com medo.

- por que está fazendo isso comigo? – questionou James voltando a chorar.

Branco ficou sério por alguns segundos, antes de tomar um bico pensativo nos lábios. Ele parecia cogitar algo importante, já que havia se esquecido completamente da arma que estava em sua posse.

- como eu posso explicar para você? – murmurou o mascarado levando a arma aos lábios, acolhendo a lâmina entre eles sem preocupação alguma.

- existe uma coisa, sabe? Muito louca. Demora um pouco para os seres humanos entenderem ela. Mas eu chamo de “Vontade”. Me deu vontade de te matar e agora eu vou fazer. É bem simples, não é? – ditou o estranho com máscara de coelho branco com olhos vermelhos brilhantes, um monóculo sobre o olho direito, detalhes em dourado e um relógio no centro da testa. Relógio este que marcava sempre cinco horas. Atrás das orelhas, começava uma peruca branca que impedia a identificação da cor do cabelo do mascarado.

- desgra... – James foi impedido de continuar quando a estrela relógio da mão de Branco fora fincada em seu peito.

Branco riu brevemente antes de puxar mais um relógio do bolso e apertando o botão do mesmo, fazendo lâminas retas como ponteiros saírem do interior, se projetando na lateral. A estrela fora arremessada com precisão, acertando o pescoço do James, antes de mais duas acertassem os olhos do homem, que sentiu uma tontura repentina lhe dominar.

Satisfeito, Branco se aproximou do corpo, saltitando, antes de começar a recolher as armas criadas por ele mesmo. A hemorragia fora crescendo a medida em que ele removia as lâminas. Aquele homem não teria mais do que quarenta ou cinquenta segundos de vida. A segunda lâmina perfurou o coração, enquanto a terceira havia perfurado o pescoço, pontos cruciais para matar alguém com chances mínimas de sobrevivência.

Retornando ao seu esconderijo, Branco não se viu surpreso ao encontrar Aiden e Ethan largados em seu sofá da cor vinho. O mascarado não se importou muito com a presença dos gêmeos, permanecendo a cantar a música que estava em sua mente.

- Alice foi muito fundo no bosque; e foi aprisionada como um criminoso frio; se não fosse o caminho vermelho que fez até o bosque; ninguém jamais pensaria que um dia ela existiu – Branco cantava a melodia com certa nostalgia ao mesmo tempo que se dirigia para a mesa em que trabalhava.

- andou caçando? – indagou Aiden, curioso.

- vocês se distraem com o senhor Whittemore, eu me distraio caçando – respondeu o mascarado se sentando e voltando a analisar os seus planos.

- Jackson disse que iria lhe ligar assim que confirmasse os efeitos da droga – comentou Ethan vendo, de um ângulo ruim, um sorriso crescer nos lábios alheios.

- ele já está no time – ditou Branco pegando um dardo ao seu lado e o lançando em um quadro que havia próximo a parede a sua frente.

O dardo acertou uma foto do louro de topete, que estava conversando om alguém importante no momento da foto. Havia mais duas fotos com dardos, uma era do homem que ele havia ido visitar na cadeia, conhecido como o assassino Sagitário. A outra era a dos gêmeos, que se encontrava na ponta da linha de fotografias.

Só havia mais uma foto livre.

- agora falta a terceira – disseram os gêmeos em uníssono.

- vocês estão atrasados – ditou Branco lançando um dardo na foto de uma sombra humanóide, deixando ao gêmeos confusos por alguns segundos.

- você já tem a terceira... – murmurou Aiden acusatório.

- desde quando? – questionou Ethan, desconfiado.

- muito antes de ter vocês – respondeu o mascarado vendo os gêmeos franzirem o cenho em sua direção.

- e quem é? – indagaram os gêmeos, novamente em uníssono.

- vocês vão conhecer quando todos nos reunirmos – argumentou o mascarado começando a digitar freneticamente no notebook sobre a mesa.

- tudo bem, então. Mas, e quanto ao seu novo bichinho? – questionou Ethan, venenoso.

- quem? –

- o “Jaguadarte” – Aiden soou tão venenoso quanto o irmão.

Branco sorriu ladino.

- vocês andaram pesquisando sobre ele? – questionou mesmo que já soubesse a resposta.

- o cara é um doente! – exclamou Aiden se apoiando na mesa, ao lado do mascarado.

- Alice vai surtar quando descobrir quem ele é – afirmou Ethan se apoiando no irmão, que lhe abraçou a cintura.

- e por que acha que eu manipulei ele? – perguntou Branco vendo os dois castanhos franzirem o cenho em sua direção

Chapter 37: Nonexistent

Chapter Text

Dias.

Dias se passaram naquela investigação, mas nada de eles conseguirem novas informações.

Motivo?

O Jaguadarte parecia ter sumido.

Mas apenas parecia e Stiles sabia disso muito bem.

Ele sempre soube que o alvo daquela caçada estranha era ele. Desde a morte de Gina ele sabia que estavam caçando ele.

Mas Stiles sempre foi considerado um prodígio no mundo crime. Ele também sabia caçar. Era a lição básica de todo assassino. Saber quando caçar e quando era caçado.

E Stiles sabia que estava sendo caçado nos dois primeiros dias de investigação. No entanto, a partir do terceiro dia, ele não sentia mais a presença de alguém lhe espionando. Ele não sentia mais a estranha sensação da presença do falso Jaguadarte.

Algo estava errado e ele sentia isso.

Pelo tamanho da fixação do Jaguadarte em si, o canibal não deveria parar de lhe seguir tão cedo. E olha que Stiles foi fácil de seguir. Ele havia facilitado para manter o homem focado em si e não nos agentes em quem desferiu uma chuva de balas.

O assassino iludido parecia ter encontrado outra coisa em que se encontrava obcecado.

Aquilo era preocupante.

Em pé, a beira do terraço da delegacia, o castanho de capuz pôde ver quando o uma parte do grupo de agentes saiu da delegacia seguindo para um dos carros que usavam naquele caso. Enquanto assistia a um Isaac preguiçoso adentrar a parte de trás, o castanho sorriu ao ver Allison e Erica desviarem o olhar em sua direção. Não demorou nada para que Derek, ao olhar para as duas mulheres paradas perto do carro, também direcionasse o olhar na sua direção, se surpreendendo com a sua presença ali. As duas mulheres sinalizaram para o castanho, antes de o mesmo dar as costas para os três e se afastar da beirada, sumindo da visão dos três membros da divisão.

- qual é o problema dele? – indagou Derek vendo as duas mulheres lhe fitarem, antes de desviarem o olhar para onde antes estava Stiles.

- eu não sei – murmurou Allison antes de ocupar o lado do motorista.

- ah, vocês vão dizer que todo esse ar misterioso nele não é excitante? – argumentou Erica entrando no carro.

- quem é excitante? – indagou Isaac, curioso.

- Alice – respondeu a loura se sentando ao seu lado.

- eu já não sei mais o que acho dele – respondeu Allison adentrando o veículo e ligando o carro.

As palavras da agente de cabelos longos chamou a atenção do grupo, que a encarou com curiosidade. Ela não queria admitir, mas as palavras de Alice estavam mexendo consigo desde que ele escapou naquele beco. Allison estava ficando perturbada com aquelas palavras sempre ecoando em sua mente, lhe deixando aérea e distante.

Enquanto isso, Alice descia do prédio da delegacia, antes de se dirigir para um beco próximo ali perto.

Ele havia visto o que queria ver. O alvo do Jaguadarte não havia mudado, momentaneamente, como ele temia que ocorresse. Então havia outro motivo por detrás do sumiço do seu fã perseguidor.

Ele poderia descobrir qual era o motivo. Seria apenas investigar por conta própria. Mas isso levaria tempo e seria entediante. Stiles estava frustrado. Precisava de diversão para se distrair. E o método mais divertido de lidar com aquele assassino seria usando uma inversão de papéis.

Já que o falso Jaguadarte não queria mais lhe caçar, Alice o caçaria.

Ele começou se dirigindo para uma rua escura e pouco movimentada. Alice poderia ter passado toda uma década na solitária da segurança máxima, mas ele sabia como funcionava a mente humana. Sabia como a sociedade se comportava.

Parado, próximo a uma parede, não demorou para que um carro, se aproximando, parasse próximo a si. Despojadamente, o castanho se afastou da parede, desfilando até o carro. Abaixou-se próximo a janela para encarar um homem que lhe admirava com líbido.

- e aí? – cumprimentou o estranho ao ver o castanho lhe analisar rapidamente.

- esse lugar é meio perigoso, não acha? – perguntou o encapuzado vendo o motorista sorrir ladino.

- então entra aí – disse o homem vendo o outro sorrir safado antes de abrir a porta.

- e então? Algum lugar em especial? – questionou Stiles vendo o homem dar de ombros.

- nada demais – respondeu o suposto cliente enquanto retornava a dirigir tranquilamente.

Stiles, estrategicamente, direcionou sua mão para a coxa do motorista, enquanto direcionava o rosto na direção da janela, apoiando o braço na porta do carro e o queixo na palma da mão. O motorista sorriu. O seu sorriso apenas cresceu quando a mão do encapuzado passou a subir por sua perna, se aproximando de sua virilha.

- você disfarça bem. Gostei – ditou o homem sentindo o pau pulsar quando os dedos longos deslizaram por sobre a sua calça em uma carícia provocante.

- se eu quero manter você brincando comigo, tenho que deixar no sigilo, não? – comentou enquanto sorria ladino na direção do vidro, sabendo, muito bem, que o motorista o veria pelo retrovisor do seu lado do carro. Alice piscou um olho na direção do espelho retrovisor, vendo o homem sorrir para si.

Quando chegaram ao local, Stiles se viu surpreso ao notar que era a casa do homem que havia lhe contratado. Era evidente devido aos vários retratos dele com a família.

- onde os membros de sua família estão? Não quero ter surpresas – indagou o castanho apontando para o retrato da família completa.

- viajando. Foram visitar uma irmã da minha mulher. Só voltam semana que vem – respondeu o homem enquanto sinalizava para as escadas.

Stiles não se importou quando, ao passar pelo moreno de olhos castanhos, o mesmo lhe envolveu a cintura com os braços e lhe lançou contra a parede com certa brutalidade. Os lábios grossos lhe atacaram a pele com beijos, antes de dentes atrevidos ousarem marcar a sua pele.

- eu quero foder você agora. Na casa toda – o homem disse entre beijos enquanto começava a retirar o casaco do castanho.

- vamos começar, então – ditou Stiles, sorrindo ladino, virando os dois corpos.

O castanho tomou os lábios do moreno nos seus, vendo o homem fechar os olhos e se deixar ser manuseado por suas mãos atrevidas. Quando o homem menos esperou, Alice golpeou a cabeça dele na parede com tanta força que o homem se viu tonto, antes de golpear a barriga do mesmo com o joelho, fazendo o moreno se curvar para a frente. Stiles apenas ergueu a perna e golpeou a nuca do homem com o calcanhar, apagando o mesmo.

- não é nada pessoal. Eu só preciso de alguns objetos emprestados – falou o castanho, seguindo para a cozinha.

O castanho passou a abrir as gavetas de tudo que era móvel. Ele só precisava de um objeto. E foi no quarto que ele encontrou. Ao abrir a gaveta do criado ao lado da cama, Alice encontrou o revólver calibre 9 milímetros com silenciador. O castanho sorriu ao ver o silenciador fixado ao armamento.

- olha só. Veio até com um brinde. Que amor! – exclamou o assassino analisando a arma com cuidado.

Curioso, o homem se dirigiu para o closet do casal, em busca de algo melhor para vestir. Ele analisou todas as peças minuciosamente. Ele se questionava o que seria melhor para se usar no plano que ele tinha em mente. Mas, após ver cada uma das peças e pensar em suas combinações, o castanho acabou desistindo e escolhendo ficar com a mesma roupa. Seria mais fácil, assim.

- mas que saco! Não tem nada decente por aqui – resmungou enquanto fechava o armário do casal.

Se dirigindo para o corredor do andar de cima, Stiles se abaixou ao lado do corpo desmaiado do homem.

- olha, não é nada pessoal. É só que eu não vejo tanta graça assim em sexo. Pelo menos, você não me excitou em nada. Mas o problema não é você, sou ee. Vai por mim. Mesmo sendo um coroa, você é bonitinho. Mas eu não estava afim – o castanho começou a dialogar com o homem, que apenas ressonava baixinho.

Alice sorriu largo.

- os homens normais ainda são tão patéticos. Isso que dá ter duas cabeças e só pensar com a errada – ditou enquanto se erguia segurando na mão do homem desmaiado e o arrastava na direção do quarto.

Alice despiu do homem desmaiado, antes de o erguer do chão e o jogar de qualquer forma na cama. O castanho amarrou o homem na cama usando as roupas do mesmo como algemas. Usando as meias do homem de mordaça o assassino sorriu ao bagunçar a cama do casal da casa e pegar o controle do ar-condicionado do quarto.

- e vamos encenar uma cena pós-sexo perfeita – ditou para si mesmo enquanto pegava um pouco de gel de cabelo, misturava com condicionador, e cobria a cabeça do pau do homem amarrado com a mistura, antes de vestir uma camisinha no mesmo. 

Ele ainda pegou mais uma camisinha e colocou um pouco de gel no interior da mesma, antes de a desenrolar a jogar ao lado da cama. Stiles, com o controle do ar-condicionado, programou o aparelho para funcionar como aquecedor por quinze minutos, antes de fechar as janelas do local.

- e agora... O toque final – comentou enquanto descias as escadas.

Alice retornou para o quarto com três garrafas de bebia. Com a mão espalhou um pouco da bebida pelo torso, mãos e rosto do homem. Se dirigindo para o banheiro do quarto, o castanho derramou todo o conteúdo de duas das três garrafas na pia, tomando o cuidado de deixar um dedo do líquido em duas taças e as colocar no criado ao lado do homem. As garrafas ele simplesmente deixou espalhadas. Duas no chão e uma, com muito pouco pouco da bebida, ao lado das taças. O castanho pegou a carteira do homem e retirou uma boa quantidade do dinheiro vivo que o homem havia preparado para pagar o programa.

- prontinho. Quando você acordar, vai achar e bebeu muito e não se lembra de nada. Olhando para a cama e as camisinhas, vai pensar que transamos, dormiu. Depois pensar que eu peguei o dinheiro e fui embora sem pegar mais nada – comentou Alice se retirando do quarto e fechando a porta do mesmo.

Agora ele só precisava colocar tudo em prática.

Não fora difícil. Em menos de vinte minutos depois de sair da casa do homem que roubou, o castanho sentiu, novamente, a sensação de estar sendo perseguido. Levou apenas duas horas para que, durante a sua passagem por um beco, ele levasse um golpe forte na cabeça e desmaiasse


.

Kim tinha que admitir. Aquele cara era a sua cópia. Eles eram quase gêmeos. Ver o homem sentado naquela cadeira, não lhe causava mais o receio que ele pensou que iria causar.

Mas o modo quase divino como o outro castanho era tratado, isso sim lhe preocupava. Ele temia ser substituído e descartado. Sabia o que aconteceria caso fosse descartado. Ele seria morto. Ele iria virar mais uma vítima, assim como os seus amigos foram mortos. Isso lhe deixava desesperado. Batidas foram ouvidas na parede, para o completo desespero de Kim.

- meu amor, cuide dele para mim enquanto eu vou falar com alguém – ditou o homem que gostava de ser atendido por Jaguadarte, vendo o castanho de olhos azuis menear positivamente.

O homem se aproximou de Kim, lhe abraçando a cintura brevemente, antes de tomar os seus lábios dos dele. O Matarazzo não gostava nada daquele toque, mas havia aprendido a suportar em silêncio e a transparecer apreço pelo ato.

Síndrome de Estocolmo.

Ela havia lhe atingido com força sem ele perceber. Não seria surpresa alguma, já que o medo de morrer lhe fazia atender aos desejos alheios sem nunca reclamar. E, se ser o par romântico de um lunático deformado fosse lhe manter vivo, ele seria. Mas o modo gentil que era tratado acabou confundindo a sua mente. E, agora, ele via uma ameaça ao seu relacionamento com o seu sequestrador.

- tudo bem – disse Kim antes de ele mesmo se inclinar na direção dos lábios alheios.

Kim não sabia quem era o homem estranho com máscara de coelho na outra sala, mas sentia que não parecia muito contente. E a confirmação veio ao conseguir escutar a conversa, graças ao eco do local.

- O QUE MERDA VOCÊ TEM NA CABEÇA?! ERA SÓ PARA BRINCAR COM ELE, NÃO PARA TRAZER ELE ATÉ NÓS! – exclamou o mascarado com uma estranha voz eletrônica, irritado.

Kim já havia notado antes. Quando aquele estranho mascarado surgiu a sua frente, que a máscara dele convertia a voz do homem, a deixando irreconhecível. Ele não entendia o motivo, mas sabia que o mascarado não queria ser reconhecido por sua voz.

- vossê disse para eu brincar como eu bem entendessse. Sse quer tanto ele para vossê, eu peguei ele para vossê – argumentou Jaguadarte e aquelas palavras acalmaram Kim.

Isso significava que ele não iria morrer por causa daquele castanho.

- sequestrar ele não fazia parte do plano, idiota! – ralhou o homem com máscara de coelho.

- por que não vai ver ele? Quem ssabe issso não lhe acalma – questionou o encapuzado e o outro debochou de si ao soltar um “Hunf” e lhe dar as costas.

- quer saber? Assim é melhor – ditou Branco antes de dar as costas e começar a sair dali.

- eu não me responsabilizo por suas escolhas – falou antes de desaparecer do campo de visão do encapuzado.

Kim se assustou quando, revoltado, o encapuzado começou a jogar algumas coisas, as quebrando. Ele estava furioso. Isso não era bom. Não para si. Sempre que o outro ficava furioso o seu corpo sofria com cortes e mordidas descuidadas do outro.

- quanto barulho – protestou o castanho deitado na cama enquanto se sentava.

O homem abriu os olhos, se deparando com uma imagem quase idêntica a sua, vestindo um vestido azul. Confuso, o homem apenas franziu o cenho por alguns segundos. Kim estava nervoso com o olhar confuso sobre si.

- entendo. Você é o motivo – disse o homem enquanto se erguia da cama, deixando Kim confuso.

- motivo? –

- onde ele está? – questionou Stiles vendo o rapaz lhe fitar curioso.

- ele quem? –

- Jaguadarte – respondeu o castanho mais velho, vendo o mais novo lhe fitar surpreso.

- você sabe sobre ele? – perguntou o Matarazzo, incrédulo.

- isso não importa, agora – Alice desviou da pergunta enquanto analisava bem o local.

- ridiculamente confuso – comentou enquanto começava a caminhar pelo ambiente, ignorando completamente a gritaria confusa ali perto.

Era um tipo de quarto improvisado, com paredes feitas de uma madeira fina que não alcançavam o teto, que era ridiculamente alto demais. Dava para observar por cima das paredes. Alice se encontrava incrivelmente decepcionado com o ambiente em que estava. O esconderijo era tão amador.

- ele está furioso. Não o irrite mais, por favor – pediu o castanho mais novo vendo o mais velho franzir o cenho em sua direção.

- Estocolmo – murmurou Stiles, antes de se aproximar mais de Kim.

- você não gosta dele – ditou Alice vendo o Matarazzo lhe fitar receoso.

- por que pensa isso? – questionou Kim, nervoso.

- não era para você estar aqui. Ele só quer você porque você se parece comigo – argumentou Stiles vendo o rapaz conter o choro.

Kim temia que aquilo fosse verdade. Pois se as palavras do outro condissessem com a realidade, então ele estaria morto. 

- não. Ele é bom comigo. Se eu me comportar, ele não fará nada – contra argumentou o mais novo vendo o estranho se aproximar mais de si.

- até ele enjoar de você. Não é a primeira vez que acontece, cara. Mas se você fizer tudo o que eu disser, vai poder sair daqui ileso e nunca mais vai o ver – ditou Alice vendo o outro castanho lhe fitar com tentação.

- o que vai fazer? – questionou Kim, nervoso com a possibilidade de ser repreendido.

- cuidar dele. Quando começarmos, eu quero que você fuja – respondeu Stiles vendo o outro lhe fitar apreensivo.

- corra como se não houvesse amanhã – ditou Stiles vendo o rapaz lhe fitar com nervosismo.

- como posso saber se posso confiar em você? – indagou o Matarazzo, desconfiado.

- se você for na delegacia, os agentes do FBI vão confirmar que pode confiar em mim. Isso sem contar que você vai estar seguro até que eu termine com esse projeto de lagarto – disse o mais velho vendo o rapaz suspirar, nervoso.

- olhe para mim. É a mim que ele quer. Se eu ficar, posso segurar ele até a polícia chegar. Você só tem que correr – Alice tentou acalmar o rapaz, colando suas testas de maneira a fazer o outro lhe fitar nos olhos.

- consegue fazer isso? –

Kim meneou positivamente.

- ótimo. Quando...

- vossê acordou! – exclamou o homem, surpreso.

No mesmo instante, a voz estressada pareceu se acalmar aos ouvidos dos dois castanhos. Desviando o olhar para uma das portas do estranho quarto improvisado, Stiles pôde ver um encapuzado adentrar o local com um certo receio, obviamente devido a sua presença.

- então era você que estava me seguindo por esses dias – ditou o castanho de olhos da cor âmbar observando o encapuzado se aproximar inquieto.

- vossê ssabe quem ssou eu? – questionou o homem, ansioso. Stiles teve que conter a sua expressão facial para não expressar todo o desgosto que sentia com o jeito que o outro prolongava o som de s nas palavras.

- como não saber quem é o único dragão do País das Maravilhas? – indagou Alice vendo o estranho sorrir enquanto abaixava o capuz, revelando a cabeça deformada de olhos azuis escuros, sequelas de algum acidente.

- vossê... Conhesse o meu Alisse? – indagou apontando para Kim que engoliu em seco, nervoso.

- devo dizer que sabe escolher os seus brinquedos. Estávamos nos conhecendo melhor antes de você finalmente dar as caras – comentou Stiles antes de tomar os lábios do Matarazzo nos seus.

- quando eu disser “vai logo”– murmurou Alice vendo o outro menear positivamente.

- mas essa roupa não lhe cai bem. Vamos trocar – ditou Stiles já começando a retirar suas roupas.

- mas ele fica tão bem as... – o homem tentou argumentar mas parou quando o olhar frio de Stiles caiu sobre si.

- você está me contestando? – questionou Alice vendo o homem lhe fitar com desconfiança.

- você tenta me substituir e ainda quer mandar no que eu visto? Eu sou Alice! Eu digo o que nós dois vestimos, não você! – ditou o castanho mais velho, entregando suas roupas para Kim, que já começava a retirar o vestido que usava.

O homem com olhos azuis escuros apenas abaixou a cabeça. Branco havia lhe alertado do modo agressivo do outro, antes de ir lhe aceitar como Jaguadarte.

“Se ele quer algo, ele consegue”

Foram as palavras do mascarado.

- bem melhor – ditou Stiles ao, finalmente, fechar o zíper em suas costas.

- v-vossê está perfeito – elogiou o canibal vendo o verdadeiro Alice lhe fitar com frieza.

- Alice, me deixe a sós com ele. Vá até a padaria mais próxima e me traga algumas rosquinhas – ordenou Stiles vendo Kim lhe fitar confuso.

- ele não pode sair! – argumentou Jaguadarte vendo Alice lhe fitar friamente.

- ele vai. Porque eu quero. Ele vai sair e vai voltar com as minhas rosquinhas. Apenas dê dinheiro para ele. Não se preocupe. Ele vai voltar.  – falou Stiles com autoridade, se sentando na cama e cruzando as pernas elegantemente.

- vai logo – disse Stiles vendo o outro castanho lhe fitar surpreso.

Calmamente, após receber o dinheiro, Kim começou a sair do local. Quando alcançou o lado de fora, o rapaz de olhos azuis descobriu estar sendo feito refém em um labirinto montado no subterrâneo de um depósito nas docas. Desesperado, ele correu como lhe fora ordenado.

- o que quer falar? – questionou Jaguadarte, de certa forma, decepcionado.

Diferente do que ele esperava, Alice não estava lhe parabenizando por ter conseguido o sequestrar. Ele tinha tantas esperanças para aquele momento. Mas, ao invés de glorioso, estava sendo demasiadamente decepcionante.

- o que quer converssar comigo? – repetiu o encapuzado, vendo o belo homem castanho lhe fitar por sobre os ombros brevemente 

- você tem me perseguido. Por que? –

O homem franziu o cenho, confuso.

- eu sou um grande fã seu. Assho um absurdo vossê estar preso. Quero ver vossê livre. Quero ver vossê trabalhando ao vivo – respondeu o homem de rosto deformado vendo o castanho sorrir ladino.

- espero que, ao menos, tenha uma cópia das minha roupas e das minhas armas – disse Stiles enquanto o outro fazia uma expressão de surpresa.

- s-suas roupas? Armas?– perguntou o homem coberto de cicatrizes, confuso.

Alice ergueu uma sobrancelha em questionamento

- você não acha que eu mato as pessoas em um vestido azul tão simples, acha? Nem que simplesmente pego uma faca na cozinha e saio por aí matando, certo? – indagou o castanho já imaginando, muito bem, qual seria a resposta que obteria.

O Jaguadarte abaixou a cabeça, envergonhado e nervoso. Ele não sabia daquilo. Ele não sabia quais eram as roupas do outro. Muito menos sabia de quais armas Alice estava falando . O canibal se quer sabia que Alice preferia algo além de um vestido azul e lâminas. Stiles sorriu internamente.

- e-eu s-sinto muito. Eu..

- pelo menos me diga que tem maquiagem aqui - argumentou Stiles se erguendo e caminhando na direção do armário que havia ali.

- i-isso eu tenho – respondeu o encapuzado se erguendo e praticamente correndo para pegar o desejo do castanho.

- ótimo – argumentou Alice enquanto pegava a maleta de maquiagem e abria a mesma.

- eu não sabia que usava maquiagem – comentou o homem, surpreso.

- qual é a mulher que não usa maquiagem, meu querido? – questionou enquanto se dirigia para um espelho ao lado do armário, ao mesmo tempo em que passava pó de arroz no próprio rosto.

O Jaguadarte assistiu, surpreso, ao outro começar a se maquiar. Por incrível que pareça, Alice parecia saber o fazer. O homem de cabelos castanhos levemente grandes, que indicavam que ele já não os cortava havia um bom tempo, manuseava cada utensílio da maleta de maquiagem com a habilidade de uma verdadeira mulher vaidosa.

- eu posso lhe perguntar uma coisa? – questionou Alice enquanto se virava para encarar o outro brevemente, antes de voltar a colocar um pouco de blush nas bochechas.

- o que quiser –

- o que aconteceu com você? O seu corpo é deformado e os seus olhos são raros –

O Jaguadarte abaixou brevemente a cabeça.

Alice sorriu.

Estava começando a fazer efeito.

- um incêndio elétrico – respondeu brevemente.

- entendo. Os seus olhos são assim porque você levou um choque muito alto – comentou enquanto flashs de um homem com olhos parecidos e risada alta lhe veio a mente.

- isso mesmo. Perdi tudo naquele incêndio. Me afastei de minha mulher e dos meus filhos, pois eles não conseguiam olhar para mim. Até que, em uma noite eles foram assassinados pelo namorado dela – explicou o homem, levemente furioso.

- e você foi buscar vingança –

- foi quando matei ele que eu descobri que eu não era mais um homem. Era um monstro –

- aí você virou canibal –

- um monstro come o que ele caça – argumentou o homem com cicatrizes olhando seriamente para o castanho.

Alice era mais bonito ainda pessoalmente. Quando Branco havia lhe contado sobre a pequena Alice, ele não esperava que ela tivesse virado um ser tão belo ao crescer. Agora ele entendia toda a fixação do mascarado naquele ser. O castanho não tinha um busto feminino com seios. Mas o seu corpo esguio era de uma beleza incomum. Seus braços, apesar de serem fortes, não possuíam músculos grossos que saltavam de seus membros em curvas chamativas. O seu abdômen apesar de ter gomos indicando o quão em forma aquele corpo se encontrava, não tinha linhas marcantes indicando a quantidade incrível de abdominais que realizara.

- e então? Quem lhe contou sobre mim? – indagou o assassino de vestido ignorando a imagem do outro, enquanto se focava em passar rímel nos cílios.

- como vossê sabe que alguém me contou sobre vossê? – questionou o encapuzado, desconfiado.

- eu me deixei ser preso aos onze anos. Ninguém deveria saber sobre mim – argumentou Alice pegando o lápis de olho começando a marcar o limite de suas pálpebras.

- foi o Coelho Branco – respondeu o encapuzado abaixando o olhar.

Agora que falara sobre Branco, era óbvio que Alice não iria apresentar mais nenhum interesse em si. Por estar de cabeça abaixada, o encapuzado não notou quando o castanho travou ao escutar aquele nome. As pupilas do homem de pele perfeita se dilataram por alguns segundos, revelando o seu choque, antes de retornarem ao normal rapidamente.

- isso é impossível. Branco está morto – argumentou o castanho com notável seriedade.

- morto?! – indagou Jaguadarte, risonho – vossê está presso há anos. Como vossê pode saber se ele está morto ou não? –

- porque fui eu quem o matou – respondeu Alice com frieza lançando um olhar assassino para o homem de olhos azuis escuros com estrelas.

Naquele instante, Jaguadarte percebeu que não deveria falar mais nada relacionado ao Coelho Branco. Era mais do que óbvio que Alice carregava um certo rancor do outro. O motivo? Ele teria de perguntar ao próprio Branco na próxima vez que se encontrarem.

- então, como eu sou o Jaguadarte e vossê é...

- vamos começar esclarecendo as coisas – ditou Alice irritado.

- esclarecendo? –

- não existe Jaguadarte – falou Stiles se erguendo e encarando o outro com seriedade.

O encapuzado estava em choque.

- como é? – indagou com a voz rouca.

- seja lá quem foi o imbecil que colocou essa ideia ridícula em sua cabeça vazia, já pode parar de sonhar. O Jaguadarte não existe. É só um poema – argumentou Alice com a voz fria, carregando um leve toque de desprezo.

- me disseram que você me reconheceria se...

- pois disseram errado. Nunca existiu, nem nunca vai existir, Jaguadarte nenhum – ditou o castanho, se aproximando, antes de se abaixar para encarar o outro nos olhos com uma intensidade que mexeu com a cabeça do encapuzado, o deixando receoso e ao mesmo tempo furioso.

- eu existo! O Jaguadarte existe! -

- você não passa de um guloso barato que acha que pode entrar no meu reino – ditou Alice com um sorriso vitorioso nos lábios.

- e qual é a desse jeito irritante de falar? Isso só lhe deixa mais ridículo – ditou o castanho de vestido azul lançando um olhar de desprezo para o homem a sua frente.

Furioso. Jaguadarte desferiu um golpe de suas unhas metálicas no outro, que tentou desviar, livrando o rosto do golpe, mas não conseguiu impedir que as lâminas implantadas nas pontas dos dedos do outro lhe atingissem o peito. Para o completo ódio do encapuzado deformado, o outro não gemeu nem gritou de dor, como ele esperava que fizesse. Muito pelo contrário. Alice apenas sorriu, encarando o ferimento.

O falso Jaguadarte fez outra investida, acertando o braço do castanho, antes de acertar um soco no abdômen do mesmo. Alice parecia ser mais fácil de enfrentar do que o que Branco havia lhe dito. O mascarado dissera que o castanho de pele alva era extremamente experiente em combate além de muito astuto e ágil. Mas Alice não apresentava nada disso.

Ele apenas recebia os seus golpes com um sorriso largo no rosto. O homem mordeu o ombro alheio, fincando os dentes moldados para serem afiados na carne macia, antes de receber um golpe no pescoço, que lhe impossibilitou de terminar a mordida e tentar arrancar um pedaço do outro.

- SEU VADIO! SEU INÚTIL! EU FIZ TUDO POR VOCÊ! EU FUI DEVOTO A VOCÊ! EU ATIREI NO FBI POR VOCÊ! – gritava homem deformado enquanto avançava contra Alice novamente.

Stiles sorriu quando o homem parou de intensificar o som de S nas palavras. Significava que o outro realmente estava furioso. Estava louco de raiva.

Uma mão de Stiles praticamente voou até o pescoço alheio assim que pôde alcançar o mesmo, surpreendendo o encapuzado, que se engasgou de imediato com o aperto naquele lugar. Surpreendentemente, Alice lhe ergueu do chão com aquela mão, enquanto fitava o chão, cabisbaixo. A única coisa que tocava o chão eram as pontas dos seus pés, o que impedia que o outro lhe asfixiasse ainda mais.

Usar o argumento do FBI fora um grande erro de ataque, pois Alice se lembrou de todo o ódio que sentiu naquele tiroteio. O ódio de ver Peter baleado e a vontade assassina de vingar o ataque contra o homem que lhe fazia tão bem. Erguendo um olhar frio, Alice olhou no fundo dos olhos alheios, ignorando os cortes que recebia no braço na tentativa desesperada de fuga por parte do encapuzado.

- você sabe a primeira regra que assassinos devem ter quando os dois tem a mesma área de caça? – indagou Alice vendo o outro tentar falar algo, mas não conseguir por estar sendo asfixiado.

- se você não pode contra o outro assassino, então é melhor que você nunca pegue o alvo dele – o castanho respondeu a própria pergunta antes de jogar o outro contra a parede, ainda segurando no pescoço alheio.

- você atirou no FBI. Nos meus brinquedos. E acha que pode fazer esse showzinho dramático?! – ralhou visivelmente irritado.

- Você atirou em dois agentes e uns policiais de merda – debochou o castanho vendo o outro se enfurecer, antes de lhe chutar o peito, conseguindo se soltar.

- Eu matei vinte agentes em uma única perseguição – afirmou Alice vendo o outro lhe fitar com fúria disfarçando a surpresa.

- acha mesmo que você pode comigo? – questionou vendo o outro correr em sua direção.

O Jaguadarte já havia percebido que talvez Alice não fosse ruim como imaginou. Mas ele ainda se achava superior. Ele poderia ganhar em um único golpe. Ele só precisava acertar um ponto. A jugular. Se ele acertasse o pescoço do castanho com suas garras de forma profunda, ele venceria em segundos. Tudo o que ele precisava fazer era agarrar o pescoço de Alice como ele havia feito consigo. Seus implantes metálicos afiados iriam perfurar a carne alheia e acertar o ponto vital, declarando a sua superioridade.

Mirando as garras no pescoço alheio, o homem atacou. Mas Alice fora mais rápido, segurando o seu pulso, puxando o mesmo para si, fincando as garras do outro em seu peito, lhe gerando mais um ferimento, ao mesmo tempo em que acertava o nariz do outro com o cotovelo, quebrando o osso do local.

O Jaguadarte cambaleou para trás com a cabeça erguida, não vendo quando o outro avançou. Ele apenas recebeu todos os socos e cotoveladas em seu torso, enquanto cambaleava ainda mais para trás. Em um golpe rápido, o homem de olhos azuis desferiu um soco no rosto do castanho, o fazendo dar um passo para trás.

Alice sorriu antes de virar o lado acertado para o encapuzado.

- vamos lá. Você se diz um dragão, não é? – questionou surpreendendo o outro.

- Um Jaguadarte – debochou ao balançar o pescoço para os lados.

- pode me dar um soco mais forte do que esse. Vamos. Me bate como um Jaguadarte bateria – ditou o castanho vendo o homem se enfurecer e lhe desferir mais um soco no local.

- ah, não. Mais forte. Parece uma criança. Me bata de verdade – pediu voltando a exibir a bochecha já vermelha.

Outro soco lhe atingiu, lhe fazendo recuar mais um passo. O castanho, com a cabeça jogada para trás, suspirou, antes de desferir um soco no outro que o deixou tonto.

- isso é um soco. Você bate que nem boiola! – argumentou Alice antes de continuar a golpear o seu sequestrador.

Alice não teve dó. Lançou o homem em uma das paredes finas de madeiras, a derrubando e a quebrando. Com um pouco de dificuldade, o homem com cicatrizes se ergueu, começando a correr pelo labirinto feito com as finas e frágeis paredes de madeira.

Stiles suspirou. Ele não se importou em deixar que o falso Jaguadarte fugisse para o labirinto de madeira. O castanho sabia que ele não fugiria. Aquele homem era demasiadamente necessitado de sua aprovação. Sem contar que com a frustração indescritível que deveria estar sentindo agora o guiaria para um caminho do qual não haveria volta. O caminho da vingança. 

Um caminho repleto de violência, arrependimento, sangue e morte.

Chapter 38: Prey

Chapter Text

Kim corria o máximo que suas pernas feridas conseguiam correr. Ele estava cansado e seu corpo não estava na melhor forma possível. O universitário de cabelos castanhos estava coberto de ferimentos. Todas as vezes em que era obrigado a se deitar com aquele homem ele saia ferido. As garras dele o feriam ao lhe tocar, os dentes dele lhe perfuravam ao lhe morder em um ato intenso do sexo o qual ele odiou cada segundo.

As suas pernas estavam cobertas de cortes e mordidas que lhe impossibilitavam de correr mais rápido. Por mais que ele fosse um membro do time de futebol, ele era humano. Tinha limites para o seu corpo. E o seu limite estava perto. Sentia os joelhos fraquejarem durante a movimentação de suas articulações. 

Aquilo só poderia significar uma coisa.

Não demorou nada para que, ao realizar um passo em meio a sua corrida desesperada, o Matarazzo sentisse o joelho fraquejar intensamente, permitindo que o seu corpo fosse ao chão. O arranhou que Kim gerou em seu queixo ao bater com o mesmo no cimento da calçada combinou perfeitamente com as marcas de dentes que haviam por seu rosto. Mas ele não se importou com a dor que sentiu no queixo. Estava mais preocupado com sua perna.

Estava óbvio que ele não conseguiria manter o ritmo de uma corrida daquele jeito. Aquilo era desesperador. Ele só tinha aquela chance. Kim tinha que alcançar a delegacia. Mas ele se quer sabia onde estava. O rapaz de cabelos castanhos suspirou ao olhar para a própria perna. Ela tremia. As suas duas pernas tremiam. Ele estava nervoso demais. Se demorasse, aquele homem poderia ser morto. E então, ele viria atrás de si. Aquele maldito homem lhe mataria também.

Kim se viu mais desesperado ainda.

Aquela chance era única. A sua única chance de sair vivo daquela situação. Ele não poderia vacilar. O castanho de olhos azuis respirou fundo e, ignorando a dor latente de seu corpo, se colocou de pé. Ele não poderia ficar perdendo tempo se lamentando da situação lamentável de suas pernas. O Matarazzo precisava agir. Pelo seu bem. Pelo bem do homem que estava arriscando a vida para lhe dar aquela chance. Pelo bem dos dois.

O rapaz de olhos azuis e corpo marcado por cortes e mordidas se colocou a andar o mais rápido que conseguia com as suas pernas naquele estado. Não importava quanto tempo ele levasse. Ele iria avançar. Precisava se mover. A ajuda não iria até ele naquele ambiente. O castanho precisava alcançar a civilização. Precisava encontrar gente. Pessoas para que pudessem o ajudar. Necessitava apenas de algum ser vivo com um celular disposto a ligar para a polícia. Mas parecia impossível. As pessoas pareciam ter sumido daquela parte de Miami.

Após alguns bons minutos caminhando, o rapaz fora agraciado pelo som de carros e buzinas. Caminhando um pouco mais, o castanho fora abençoado com a visão de uma rua movimentada. Kim mancou, chamando a atenção das pessoas, até um café próximo a si, adentrando o mesmo com dificuldade. Assim que colocou os pés no ambiente climatizado, o jovem, aliviado e emocionado por ter conseguido, se permitiu cair no chão, chamando a atenção dos clientes e da garçonete.

- Você está bem? – questionou um senhor vestido com calças jeans e camisa xadrez surrada. A garçonete se aproximou, vendo o castanho de belos olhos azuis com o rosto marcado por mordidas olhar desesperado em sua direção.

- eu preciso que chame a polícia -  pediu o rapaz deixando todos confusos.

- mas o que houve com você? – indagou a garçonete ao ver as marcas de dentes no queixo do rapaz.

- chama a polícia! Tem um canibal atrás de mim. Nós precisamos de ajuda! – exclamou o Matarazzo vendo a garçonete lhe fitar surpresa.

- não passou algo sobre um canibal no noticiário? – questionou o homem, desconfiado de ter ouvido algo a respeito.

- meu Deus! Você foi o rapaz sequestrado! – exclamou a garçonete vendo o Matarazzo lhe olhar com olhos desesperados.

- chama logo a polícia! Ele ainda está com outra pessoa lá! – exclamou o rapaz e só então a mulher percebeu a gravidade da situação.

- qual é o seu nome? Eles podem vir mais rápido se souberem que você está aqui – inquiriu a mulher já puxando o telefone fixo do estabelecimento e discando o número da emergência.

 


O homem adentrou o esconderijo a passos calmos, apesar de toda a irritação que sentia. Ele não tinha tempo para perder com gente incompetente como aquele homem que ele iludiu. Tinha tanto trabalho para fazer. Aquele projeto ainda não estava pronto. Faltava muita coisa para fazer e muito há corrigir para que o mesmo estivesse perfeito. Pois ele tinha que ficar perfeito.

Ele seria o começo de tudo.

Ele que deveria iniciar os acontecimentos que trariam Alice até si e não um maldito retardado que forçava a fala para se parecer com um réptil. O homem voltou ase jogar em sua cadeira com rodinhas e girou a mesma uma vez, tentando aliviar o estresse antes de voltar ao trabalho.

- alguém parece estar irritadinho – comentou Ethan lançando uma faca na imagem de Sagitário presa a um quadro. A lâmina acertou certeiramente o olho da imagem do prisioneiro.

- parece que o encontro com o idiota não foi muito bom – ditou Aiden lançando um faca na mesma imagem que o irmão gêmeo lançara, a vendo se fixar no outro olho da foto de Sagitário.

- eu acho que o bichinho dele fez cocô no tapete da sala – brincou Ethan e Aiden riu provocativo.

Eles dois estavam mais do que satisfeito com aquela situação. Branco havia alertado que iria se encontrar com o homem que estavam iludindo, o chamando de Jaguadarte. Quando viram que o seu superior havia retornado de mau humor, os dois viram ali a chance perfeita de perturbar com o mesmo. E os gêmeos não perderiam aquela chance por nada naquele mundo.

- o que foi, Branco? Parece até que tomou um chá estragado – inquiriu Aiden vendo o homem mascarado lhe fitar por sobre os ombros, visivelmente irritado.

- o que ele fez de errado? Quero dizer, além de se meter com a gente – questionou Ethan vendo o homem voltar a lhe dar as costas.

- quer saber, realmente, o que ele fez? – inquiriu Branco com a sua voz ainda sendo modificada por sua máscara.

- queremos – responderam os gêmeos em uníssono.

- ele sequestrou Alice – ditou o homem mascarado e uma expressão de choque surgiu nos rostos idênticos.

O silêncio se instalou entre os três, antes de Branco retirar a sua máscara, exibindo um sorriso largo para os gêmeos. Quando perceberam que o homem também sorria, os dois irmãos não se importaram mais em segurar o riso que tentavam sufocar. As gargalhadas altas dos três ecoou por todo o local. Aiden levou as mãos a barriga enquanto Ethan se jogava deitado no sofá atrás de si. Branco apoiou a máscara em sua mesa, passando a bater com a mão no móvel. Ethan esperneava no sofá ai mesmo tempo em que o seu irmão gêmeo socava a parede na qual estava apoiado.

- EU PRECISO DE AR! – exclamou Ethan enquanto parava de bater as pernas no sofá e rolava no mesmo com as mãos na barriga, tentando conter as suas risadas 

- essa foi boa. Nós se quer vamos precisar matar. Ele mesmo já se matou – comentou Aiden vendo o homem com roupas elegantes que outrora vestia uma máscara de coelho dar as costas para si, voltando a se focar no trabalho manual que deveria estar fazendo. 

- aquele cara vai virar sopa! – exclamou Ethan ainda rindo.

- Alice vai fazer uma bolsa com o couro dele – brincou Aiden gerando mais risos em seu irmão. 

- PARA, FILHO DA PUTA! – implorou Ethan jogando uma almofada em forma de coração no irmão gêmeo.

Demorou um pouco, mas logo as risada dos irmãos gêmeos foram diminuindo até sumirem completamente, fazendo ambos voltarem ao silêncio.

- mas o que mais me irrita é que ele não serviu para nada. Eu não esperava que ele fosse ser de grande ajuda. Mas eu esperava que pelo menos ele pudesse divertir um pouco mais antes de morrer – comentou Branco enquanto levava a sua máscara de volta ao seu rosto com uma mão, e com a outra ele ligava um maçarico. 

- se bem que... Alice está em uma aliança com os federais. Há a possibilidade de o inútil acabar sendo preso e não morto – comentou Ethan e Aiden fora despertado pelo irmão para aquela possibilidade.

- você tem razão. Ele ainda está se submetendo ao governo. Tenho quase certeza de que, se ele matar alguém, voltará para Alcatraz. Ai vai ser game over – argumentou o gêmeo que se encontrava em pé.

- eu sabia que usar um lunático apaixonado por ele não iria ser uma boa coisa – protestou Ethan tomando um bico irritado nos lábios.

Branco gargalhou por trás da máscara. O homem desativou o modificador de sua voz passando a usar a sua própria voz para poder dialogar com os seus companheiros de crime.

- ora, por favor. Foi justamente por isso que eu escolhi ele. Apenas um gênio é capaz de amar uma mulher como Alice – argumentou Branco concentrado na solda que fazia.

- vocês não têm noção do alcance da habilidade de Alice. Tweedles. Nada no mundo vai impedir ele de matar aquele cara. Nem mesmo o agente Tate pode controlar ele, agora – comentou o mascarado parando de soldar o objeto a sua frente.

- e como tem tanta certeza? – inquiriu Ethan vendo o mascarado olhar para si, removendo parte da máscara para lhe revelar um sorriso vitorioso.

- parece que o suposto Jaguadarte andou insultando a nossa musa – ditou Branco, voltando ase focar em seu trabalho.

- e o que ele fez? – inquiriu Aiden, curioso.

- atirou nos brinquedos de Alice – respondeu Branco e os queixos dos gêmeos caíram, antes de sorrisos divertidos surgirem em seus lábios.

- é – ditou Aiden meneando a cabeça, impressionado.

- desta vez ele morre – soltou Ethan mordendo o lábio inferior.

Só Deus sabia o quanto ele queria estar presente quando Alice exterminasse aquele verme de suas terras. O seu corpo gritava em ansiedade e excitação. Ele precisava se aliviar. Não iria suportar toda aquela excitação em seu corpo. Ele precisava de um prazer equivalente. Precisava se mover. Se erguendo bruscamente, o homem de topete se retirou do sofá, seguindo para a saída do esconderijo.

- para onde vai? – indagou Aiden, confuso, vendo o irmão se aproximar de algumas lâminas devidamente organizadas sobre uma mesa.

- caçar. Essa conversa me deixou – respondeu enquanto arrastava uma faca da mesa com a mão após a escolher, aproveitando para pegar uma máscara roxa pendurada na parede ao lado.

 

O homem abriu o armário com violência. Ele estava desesperado. Analisou todas aquelas armas empilhadas com cuidado. Ele precisava de algo potente para enfrentar Alice. Porque, sim, ele iria matar aquele desgraçado. Ninguém lhe fazia de idiota. Ninguém lhe humilhava e ficava por aquilo mesmo. Ele iria revidar. Ali e poderia ser incrivelmente habilidoso com lutas, mas ainda não era a aprova de balas.

O seu arsenal, graças a sua paranoia, era bem preparado. Tinha de tudo. Rifles de caça, fuzis militares, submetralhadoras, pistolas, até mesmo lança granadas e uma bazuca ele tinha. Ele era um caçador. Estava sempre armado. Mas ele vacilou com Alice. A sua crença de que seria reconhecido e a sua paixão desenfreada pelas habilidades daquele homem lhe cegaram para a verdadeira natureza dele.

Alice era um assassino. Um assassino o crivelmente habilidoso e manipulador. Alguém que usaria todos que fossem necessários para alcançar o seu objetivo.

Manipulação.

Aquela palavra ficou ecoando em sua mente por alguns segundos, tempo o suficiente para ele pegar um dos seus rifles de assaltos e conferir que o mesmo estava recarregado.

E, como o estalo que a arma produziu ao ser destravada, o homem coberto de cicatrizes finalmente percebeu o que tanto incomodava a sua mente, a forçando a repetir aquela maldita palavra em sua cabeça.

Kim havia saído do esconderijo. E então tudo se encaixou. Alice havia sido capturado por si muito facilmente. Quer dizer, o castanho se quer pareceu perceber a sua presença quando ele acertou a cabeça do homem com a coronha de um revólver. Ele havia se entrosado com Kim Matarazzo, a sua Alice particular, com muita facilidade. Kim o obedeceu sem nem questionar a si se poderia acatar as ordens do outro.

Ele havia sido enganado.

Alice havia lhe enganado.

Em um acesso de raiva, ele virou o Robinson Armament XCR na direção em que sabia que Alice estava se arrumando, afinal, era a direção do quarto em que deixara o mesmo. O homem com cicatrizes por todo o corpo puxou o gatilho, disparando com fúria. As balas atravessavam a madeira fina das paredes, levantando lascas de madeira para todos os lados do labirinto. O Jaguadarte movia o rifle de um lado para o outro, disparando em todos os ângulos em que Alice poderia correr para se esconder.

Ele estava decidido. Não iria deixar pedra sobre pedra daquele lugar, se isso significasse matar Alice com as suas próprias mãos. As balas acabaram e a arma se silenciou. Mas ele permaneceu puxando o gatilho. Estava frustrado, estava magoado, estava possesso pela fúria.  Ninguém deveria lhe tratar como Alice lhe tratara. As pessoas deveriam lhe temer. Ele era um monstro. Mas aquele homem se mostrou ser outro ao lhe enfrentar sem problemas algum naquele quarto.

Aquela seria uma luta de monstros. 

Godzilla contra King Ghidorah.

Cila contra Kraken.

Jaguadarte contra Alice.

O homem julgava já ter matado Alice com aquela rajada de tiros. Mas, mesmo assim, ele iria se precaver. Já havia percebido que Alice era imprevisível. Poderia, muito bem, ter sobrevivido. Com alguns bons buracos de tiro, mas estaria vivo. Então o Jaguadarte tratou de recarregar o rifle. Foi quando ele ouviu.

O som de passos ágeis próximos ao quarto em que ficava o seu arsenal. Assustado, o homem largou o rifle no chão e se virou para o armário, puxando um M16A4 preto. Quando se virou novamente, ele pôde ver um ser de vestido azul passar correndo pela porta do quarto, gargalhando alto como uma criança que se divertia em um parque de diversões. Alice passou correndo na direção do esconderijo que não fora atingida pelas balas do Jaguadarte, por se encontrar atrás do mesmo.

O homem não pensou duas vezes. Rugindo em ódio, o homem passou a atirar novamente. As balas, novamente, destruíram as paredes, espalhando lascas de madeira para todos os lados. Abrindo buracos nas madeiras, permitindo que o homem pudesse ver o que se encontrava do outro lado das paredes. Novamente, ele apenas parou de atirar quando as balas acabaram. Assim que o silêncio reinou naquele esconderijo, a risada divertida voltou a ecoar pelo esconderijo.

Assustado, o homem de sobretudo largou o fuzil no chão e puxou uma p90 para si, a acolhendo no corpo e se colocando de costas para a parede, se escondendo atrás da mesma, ao lado do armário com as armas. Como o sobretudo e o armário eram da mesma cor, ele passaria despercebido pelos olhos alheios.

- o que houve? – a voz de Alice ecoou pelo local e logo o mesmo voltou a correr pelo ambiente.

Mas Jaguadarte se conteve. Ele não iria atirar indiscriminadamente. Não mais. Já havia percebido que não estava funcionando. Não estava conseguindo matar aquele homem daquele jeito. Precisaria ter calma. Precisaria ter paciência.

- cansou de cuspir fogo? – o outro indagou, gargalhando, ainda correndo.

Do outro lado do quarto, pelos buracos causados por seus disparos, Jaguadarte pôde ver o vestido azul passar pelos corredores do labirinto. Ele engoliu em seco, por um momento, acompanhando o movimento rápido da cor azul pelos buracos de bala. Mas, para o seu maior desespero, o vestido sumiu. Quando Alice iria fazer a curva em um dos corredores, o seu vestido sumiu, deixando o homem confuso.

- não vai se esconder de mim – murmurou o homem mirando com a submetralhadora e disparando algumas vezes.

Quando ele cessou o ataque, o silêncio voltou a reinar. Olhando atentamente para o local em que atirara, o homem se focou em procurar algum sinal de um corpo ferido. Ele semicerrou os olhos, concentrado.

- um, dois: brincamos os dois – o castanho cantarolou enquanto voltava a correr.

O homem disparou contra o vilto azul que via passar há algumas paredes de distância.

- três, quatro: de tiro ao alvo – a voz de Alice voltou a ecoar e duas rajadas de tiros foram disparadas na direção em que o seu vestido azul fora visto.

- cinco, seis: errou outra vez –

Jaguadarte já estava ficando possesso de raiva. Ele voltou a atirar sem controle algum. Quando parou para recarregar, ele pôde ouvir mais um verso da música.

- sete, oito: ficando afoito – a voz do castanho ecoou mais alto ainda, como se estivesse chegando perto.

- MORRE, FILHO DA PUTA! – gritou o homem puxando mais uma submetralhadora do seu arsenal, passando a atirar com as duas na direção do castanho, cada uma indo de um lado para o outro, aumentando o alcance dos seus tiros. Quando as balas acabaram, o homem jogou as duas no chão e puxou outro fuzil de assalto do armário.

- nove, dez – Alice cantarolou, animado, antes de gargalhar alto.

O silêncio reinou e o homem com cicatrizes estranhou. Ficou tão focado em selecionar um fuzil bom, que acabou perdendo o vestido azul de vista. Ele não pôde ver para qual direção a cor azul que surgia por entre os buracos de bala seguiu. Mas ele estava preparado. O fuzil já estava destravado e apontado na direção em que vira o vestido pela última vez. Quando mãos pálidas quebraram a fina madeira, já um pouco danificada pelas balas, atrás do seu corpo, ele gritou, desesperado. As mãos se fecharam em seu pescoço, o puxando violentamente para trás. Nervoso, ele disparou. Mas nenhuma das balas se quer fora direcionada para o dono das mãos firmes em seu pescoço.

A madeira da parede atrás de si terminou de se quebrar quando ele simplesmente atravessou a parede após ser puxado. Com um movimento rápido e preciso, Alice lhe jogou no chão, antes de lhe desarmar ao agarrar o fuzil, girando o mesmo, e pisar em seu braço. Separando o pente do fuzil, o castanho jogou cada um para um lado. Antes de se jogar sentado sobre o peito do homem que se auto denominava Jaguadarte.

- inversão de papéis – o homem de cabelos castanhos penteados para trás sorriu largo, fazendo os seus dentes separarem o coração perfeitamente desenhado no centro dos seus lábios.

Alice gargalhou ao perceber o desespero do homem, que tentou lhe afastar imediatamente, com golpes de suas unhas metálicas. Mas o homem de vestido fora mais rápido, usando um dos rifles descarregados largados no chão para imobilizar as duas mãos do seu adversário brevemente. Com socos de sua mão direita, Stiles forçou o homem a ficar tonto, retirando um pouco de sangue da boca do mesmo. Gargalhando uma última vez, o homem de vestido se ergueu, se afastando brevemente.

- você atira mal para caralho! Não acertou um tiro se quer! – exclamou enquanto erguia o homem zonzo, o colocando de pé.

O Jaguadarte ainda tentou um soco em Alice, mas o mesmo desviou, antes de dar a volta no canibal, segurar no sobretudo do homem e se jogar no chão. O castanho apoiou o pé na cintura do adversário, e o usou para impulsionar o homem, o jogando nas paredes atrás de si, terminando de as quebrar.

O homem de intensos olhos azuis não ficou para trás. Quando Alice finalmente se ergueu, fora agarrado pelo canibal, que colocou o braço do castanho por sobre o ombro se o lançou em outra parede. As lascas pequenas se fincavam em seus corpos e se perdiam em suas peles. Mas eles não estavam incomodados com aquilo. Os dois estavam mais focados em se enfrentar que se quer se preocupavam com o incômodo em suas carnes.

- você é ridículo! – exclamou Alice ao girar o próprio corpo e acertar um chute na face do homem com cicatrizes por todo o corpo.

- eu vou matar você! – exclamou o homem, furioso. Acetando um soco potente no peito do castanho, o fazendo cambalear para trás, parando ao lado do armário com armas.

- você não consegue nem acertar um tiro em mim. Por falar nisso, me deixe lhe ensinar como relmente se atira – ditou Alice puxando uma mp5 e já disparando contra o homem de sobretudo, que correu desesperadamente para o lado.

Mas, para a surpresa do homem com cicatrizes, Alice não o seguiu com a arma. Pelo menos não diretamente. O castanho parecia mirar em outra coisa, enquanto apontava a arma em sua direção. Quando a munição acabou, Alice virou o armário para a frente, impedindo que o Jaguadarte pudesse pegar outra arma com facilidade.

- vamos voltar a brincar diretamente. É mais interessante – ditou o castanho e logo o som de madeira caindo chamou a atenção do homem com cicatrizes. 

Ao olhar para trás, ele pôde ver que algumas das paredes haviam caído. Logo ele compreendeu. Alice não mirava nele. Mirava na parte inferior das paredes de madeira, com o intuito de derrubar elas. Mas o que ele ganharia com isso era a pergunta da vez. Por que derrubar paredes se poderia atirar em si? Quando enfim descobriu a resposta fora tarde demais. Alice lhe acertou os dois pés nas costas, lhe empurrando em uma outra parede, a derrubando.

- VAMOS! NÃO É VOCÊ QUE VAI ME MATAR?! ENTÃO FAÇA ISSO DIREITO! – gritou Alice em fúria correndo até o homem, que se jogou para o lado, tentando desviar do castanho.

Stiles, propositalmente, se jogou contra uma parede de madeira, a atravessando. O Jaguadarte encarou, confuso, quando o castanho se jogou contra uma parede, antes de sumir de sua vista.

- mas o que ele tem na cabeça? – murmurou, confuso, antes de olhar para trás, surpreso.

Aquela era sua chance. Ele poderia erguer o armário o suficiente para poder puxar alguma arma para si. O homem de sobretudo correu na direção do armário. Quando estava quase alcançando o corredor, ele fora surpreendido quando Alice atravessou mais uma parede com o punho direcionado para o seu rosto. Fora tudo muito rápido. Ele se quer teve tempo de pensar. Alice apenas lhe socou e ele rodopiou sobre os próprios pés.

O castanho avançava despreocupadamente a passos normais. Quando o Jaguadarte parou de rodopiar chutando o rosto de Alice, o fazendo cambalear para o lado. Alice revidou da mesma forma, surpreendendo o outro assassino por sua resistência e agilidade. Eles passaram a medir as forças de seus golpes, além de suas táticas de lutas. Sempre acertando um ao outro e desviando de ataques que acertariam pontos cruciais em seus corpos, sempre usando o corpo alheio para quebrar as paredes finas já danificadas por tantos tiros.

O sangue de ambos os assassinos já havia pintado todo o local, seja em forma de respingos ou na forma de digitais das mãos ou dos pés descalços. E nessa luta intensa, a qual Alice dominava completamente, os dois foram parar na cozinha.

O Jaguadarte tentou, desesperado um chute, mas Alice bloqueou o golpe com um braço antes de abraçar o membro, mantendo a perna presa ao seu corpo. O homem gritou de dor quando o castanho acertou o cotovelo com força no meio de sua perna, quebrando a mesma. Alice se aproximou mais, antes de jogar a perna do homem para cima, enquanto segurava a coxa com a outra mão, dobrando a perna para o lado, deslocando o joelho.

O homem rugiu de dor antes de cair quando Alice lhe empurrou.

- mas nem para gritar como um dragão você presta. Por que diabos eu deveria lhe reconhecer como Jaguadarte? – provocou Alice antes de, em um golpe desesperado, o homem lhe acertar a perna com as garras.

Alice não protestou.

Ele gargalhou.

Uma gargalhada gostosa e alta, como se alguém tivesse lhe contado a melhor piada de todas. O olhar dele era de pura diversão, e os lábios abertos em um sorriso largo evidenciavam isso.

O homem que se achava um grande, furioso e amedrontador dragão, agora se sentia minúsculo, inquieto e assustado lagarto.

Ele não passava de um pobre réptil.

- você realmente achou que podia comigo? – indagou Stiles, em um tom divertido, pisando na outra perna do homem, quebrando a mesma.

- essa é – o castanho pisou no joelho do outro com força, quebrando a patela – a coisa – ele pisou na coxa do outro, quebrando o fêmur – mais – ele quebrou o outro fêmur – mais ridícula – ele chutou o braço do outro com força, quebrando o mesmo. – que eu já ouvi! – exclamou chutando o tórax alheio várias vezes, quebrando duas das costelas.

Alice parou alguns segundos para respirar. O castanho maquiado parcialmente maquiado passou as mãos pelos cabelos, se acalmando e tendo a certeza de que eles estavam devidamente penteados, vendo o homem a sua frente, impossibilitado de se mover, chorar mudo com um olhar repleto de ódio e medo sendo direcionado para si. O castanho pareceu se acalmar.

- sabe, você é um canibal – afirmou o castanho, como se o outro ainda não soubesse daquele fato.

- qual é a parte que você mais gosta? – questionou Stiles enquanto se afastava do homem, se dirigindo para a bancada, abrindo a gaveta de utensílios, retirando de lá um cutelo afiado e brilhante. A arma branca se encontrava em perfeito estado.

- você deve ter umas lâminas boas, já que golpear demais a carne na hora de cortar estraga ela. Deixa borrachuda – ditou Alice vendo o como a lâmina aparentava estar afiada.

- ah. Não que eu saiba uma coisa dessas. Odeio carne de gente. Mas conheci alguém que gostava. Hoje, ela está morta. Mas, um dia ela me serviu um banquete interessante. Você iria gostar. Os olhos estavam crocantes – comentou o homem de vestido azul deslizando a língua pela lâmina brilhante do cutelo.

O castanho estava tão distraído com a lâmina, que não viu o outro colocar a mão do braço bom no bolso do sobretudo que usava, retirando de lá uma pistola com silenciador. A arma que o castanho carregava quando se deixou ser sequestrado. Quando Alice se virou ele se viu em choque ao ver uma arma apontada para si. O homem sorriu e puxou o gatilho.

 


Peter estava cansado.

Scott, Vernon e ele haviam passado a noite em claro, revisando o caso, atentos para qualquer novidade que chegasse. Mas nada veio. O dia chegou e o resto da equipe retornou do hotel, descansado. Pronto para continuar a investigação.

- alguma novidade? – questionou Isaac, esperançoso.

Peter negou com a cabeça e foi nesse momento em que o delegado entrou na sala.

- Kim Matarazzo está aqui – o homem anunciou vendo os agentes franzirem o cenho em sua direção, enquanto Peter lhe fitava surpreso.

- ele está aqui? – questionou Derek, igualmente surpreso.

- sim. Ele disse que conseguiu fugir – disse o homem antes de começar a guiar todos para a sala de interrogatório.

- o que isso quer dizer? – questionou Isaac para Erica.

- quer dizer que ele pegou o Stiles – respondeu Peter passando na frente e entrando na sala com velocidade.

- Kim Mata... – o louro se calou ao ver as roupas do outro.

Eram as roupas de Stiles. Allison, a outra agente além de Peter a adentrar a sala com Vernon, também se viu surpresa. O Boyd franziu o cenho para aquilo. Era estranho. Por que aquele universitário estava vestido com as mesmas roupas que Stiles vestia quando chegaram a cidade para investigar o caso?

- Kim Matarazzo? – Vernon deu continuidade para a fala de Peter, já que Alisson e o louro não pareciam querer dizer nada.

- sou eu – respondeu o rapaz ,receoso.

- vocês são do FBI, não são? – questionou o castanho de olhos azuis vendo o homem menear positivamente.

- você... – Vernon fora calado quando o rapaz se apressou nas palavras

- vocês tem que ir lá! – exclamou Kim deixando os agentes confusos.

- ir onde? – indagou Peter após acordar para a realidade.

- nas docas. Ele vai matar o amigo de vocês! –

Após toda a explicação por parte do Matarazzo de como Alice lhe ajudou a fugir e como o Jaguadarte era perigoso. Os agentes pegaram as coordenadas da entrada do esconderijo com o rapaz antes de se dirigirem para lá com algumas viaturas. Demorou um pouco para que eles encontrassem o local, mas assim que encontraram, eles começaram a adentrar o mesmo com uma certa pressa por parte de Peter.

O homem estava desesperado para encontrar Stiles. Mas tentava, ao máximo não transparecer o seu nervosismo e sua ansiedade.

- acha que ele pode tentar matar o Stiles? Quer dizer, ele ama o Alice, certo? – indagou Isaac, pensativo.

- não, Isaac. Ele não ama Alice. O Jaguadarte é como um inseto atraído pelo Sol. Ele está tão encantado pela beleza do brilho dele, que não percebe que vai acabar morrendo se chegar perto. – explicou Peter enquanto eles estavam na viatura, seguindo para o local informado por Kim.

- e como sabe disso? – questionou Derek, desconfiado.

- o Jaguadarte é inteligente, sim. Não posso negar. Mas ele não é um gênio. E apenas um gênio é capaz de amar uma mulher como Alice – respondeu Peter deixando todos confusos com as suas palavras.

Ele não tinha noção do quão perigoso o Jaguadarte era e ele temia que isso acabasse influenciando Stiles de forma negativa. Quando eles, enfim, chegaram ao labirinto, foram surpreendidos por uma cena caótica. Todas as paredes de madeira apresentavam buracos de bala e pedaços faltando. Eles seguiram pelo labirinto com cautela até alcançarem uma area em que as paredes estavam quebradas o suficiente para alguém passar por elas, ou até mesmo derrubadas. Investigando um pouco, Peter fora surpreendido pela imagem do corpo de Stiles, sentado, apoiado na mesa pelas costas, ensanguentado e com quatro manchas redondas de sangue nas costas. Os agentes se viram surpresos com o corpo de cabeça jogada para a frente.

- Peter – Allison tentou convencer o louro a não se aproximar, mas Peter lhe ignorou, avançando brutalmente na direção do que parecia ser a cozinha.

Derek e Erica seguiram o homem, parando ao lado do mesmo quando Peter, nervoso, notou o que havia algo no colo de Stiles, que estava sentado na posição de lotus.

- Peter – chamou Erica e o louro olhou para a loura, a vendo apontar na direção de um corpo sem cabeça.

- Stiles...

- eu cortei-lhe a cabeça – disse Stiles, docemente, acariciando a cabeça decapitada em seu colo.

O castanho ergueu a própria cabeça para os agentes, sorrindo inocente para eles, enquanto permanecia a acariciar a cabeça em seu colo. Peter gelou ao ver o rosto de Stiles. A maquiagem branca, com o desenho de paus e ouros, um em cada bochecha, o símbolo de espadas na testa e o de copas desenhado no centro dos lábios com batom. O rosto pálido e os cabelos penteados para trás deixavam o castanho com um aspecto de artista circense.

- mãos onde eu possa... – uma oficial apontou a arma para o castanho, mas fora calada por Erica, que se colocou na frente da arma da policial.

- eu aconselho a não fazer isso – ditou a loura vendo a mulher franzir o cenho em sua direção.

- ele claramente matou esse cara - argumentou outro policial vendo o castanho lançar um sorriso largo em sua direção.

- vamos embora daqui – ditou Peter estendendo a mão para o castanho que lhe ignorou para se erguer normalmente, surpreendendo a todos pelos estado do vestido azul que ele usava.

- eu acho que está óbvio que foi legítima defesa – comentou Peter enquanto guiava Stiles para fora do local.

 

 

 


- você está bem mesmo? – questionou Erica vendo o castanho, todo enfaixado, dar de ombros.

- já estive pior – respondeu Stiles enquanto eles desembarcavam no aeroporto.

- até que enfim esse caso acabou. Eu estou morto! – exclamou Isaac enquanto se dirigiam para os dois carros pretos estacionados no aeroporto, exclusivamente para eles.

- eu dirijo – ditou Peter estendendo a mão para Allison, que o encarou confusa.

- mas e o seu ombro? – questionou Allison, confusa.

- então dirija para mim, mas com uma condição – disse o louro enquanto via Stiles e Isaac adentrarem a traseira do carro.

- qual? – questionou a morena, desconfiada.

- siga as minhas instruções – falou o louro vendo a Argent ponderar sobre o acordo.

Todos estavam desconfiados de Stiles, mas Peter era o único a apresentar algo diferente da nítida vontade de culpar o outro por uma morte. O Tate parecia preocupado com o castanho. O homem parecia temer algo.

- tudo bem – respondeu a Argent vendo o louro adentrar o veículo pelo lado do passageiro.

Peter pegou o rádio, assim que Allison deu a partida, para dizer ao pessoal do outro veículo que eles iriam fazer uma parada antes da base e que era para seguirem Allison. Derek e Scott desconfiaram imediatamente, mas pareceram reconsiderar quando o louro falou que era um simples jantar, argumentando que o grupo precisava de um momento de interação após um caso tão complicado.

Por mensagem, o homem mandou um endereço para Lydia, pedindo que, urgentemente, a ruiva fosse para o local, não explicando muita coisa. Allison pôde ver, de soslaio, o louro digitar uma outra mensagem para alguém que ela não conseguiu ver quem era. A medida em que o veículo ia fazendo curvas pelas ruas da cidade, Derek ia ficando inquieto. Ele estava reconhecendo aquele lugar aos poucos. Quando finalmente notou o que estava acontecendo, ele já estava adentrando com o carro na rua em que a sua família morava.

O seu coração gelou.

Ele ordenou, pelo rádio, para que Allison seguisse direto e não parasse ali, mas a morena acabou cedendo para o tio do Hale. Peter conseguia ser bastante convincente quando queria e o louro apelou para que a morena o ajudasse. Sem contar que o homem parecia sempre saber o que fazer para manter Alice sob controle. E, depois do que ocorrera com Laura, o que eles mais precisavam era acalmar o castanho de olhos claros.

- eu perdi muito para finalmente ter essa equipe. Não vou arriscar perder tudo – foi o que o louro disse quando Derek ordenou para que a Argent não escutasse Peter.

Erica, Boyd e Isaac estavam confusos com toda a gritaria, assim como Stiles. Quando Allison parou o carro, Peter desceu do mesmo, vendo Derek parar o carro logo atrás e saltar do mesmo quase desesperado. Quando Alice desceu do carro, o moreno de olhos verdes tratou de tentar o conter, mas, desconfiado, o castanho desviou.

- VOCÊ ENLOUQUECEU?! – gritou Derek chamando a atenção de Malia e Cora, que estavam na varanda da casa.

- Alice. Entre. Agora! – ordenou Peter enquanto puxava o castanho pela mão com certa urgência.

- NÃO! – gritou Derek pulando no castanho, mas fora impedido quando Allison lhe puxou o braço com força.

- VOCÊ TAMBÉM? – gritou o Hale irritado pela traição da morena.

- eu vou obedecer ao Peter, Derek. Você já se mostrou inconsequente demais. Mesmo que o que o Peter esteja fazendo não seja o certo para você, se isso mantiver Alice do lado da justiça, eu vou fazer – argumentou a Argent enquanto ela e o Hale começavam a disputar habilidades de contenção.

Malia e Cora apenas olhavam para tudo, confusas, quando o Tate adentrou a casa, arrastando o castanho com velocidade. As duas adentraram a residência, curiosas, antes de Derek, violentamente, se soltar de Allison, que permitiu a ida do moreno, adentrar a casa de sua mãe desesperado.

Ele não iria permitir que o maluco do seu tio fizesse aquilo com a própria irmã. Não iria permitir ele fizesse aquilo com a sua mãe. O Hale não iria permitir que a sua mãe sofresse novamente ao olhar na cara do homem que matou o seu marido. Que matou o seu pai.

Ele chegou tarde demais.

Quando abriu a porta, Derek se deparou com a sua mãe olhando bem para o castanho parado no centro da sala, enquanto era abraçada por Peter. Derek se viu furioso. Ele surpreendeu Stiles ao puxar o braço do mesmo com força, tentando o tirar da sala.

- MAS O QUE PORRA ELE FAZ AQUI?! – gritou Laura ao ver o castanho ser arrastado pelo irmão, aos poucos, para fora de casa.

- quem é? – questionou Malia, confusa.

Laura não respondeu. Cora estava perto. Ela não queria apresentar o homem que tirou o pai da garota de apenas quatro anos. Laura não queria apresentar o monstro de sua família para a sua irmã.

- Derek! Pare já com isso – ordenou Talia vendo o filho lhe ignorar prontamente.

- tire logo esse lixo daqui, Derek! – ordenou Laura vendo Scott surgir na porta para ajudar o moreno de olhos verdes.

- ele não matou o seu pai! – Talia praticamente gritou vendo os dois homens pararem de puxar o castanho com força para lhes fitar com surpresa no olhar, assim como todos os outros presentes.

Chapter 39: The Truth

Chapter Text

- Derek! Pare já com isso – ordenou Talia vendo o filho lhe ignorar prontamente.

- tire logo esse lixo daqui, Derek! – ordenou Laura vendo Scott surgir na porta para ajudar o moreno de olhos verdes.

- ele não matou o seu pai! – ditou Talia com um tom de voz elevado vendo os dois homens pararem de puxar o castanho com força para lhe fitar com surpresa no olhar, assim como todos.

No mesmo instante, Stiles girou o corpo com força, golpeando os rostos dos dois agentes com as costas dos punhos, antes de se afastar em um salto, se colocando abaixado ao lado da porta. Cora e Malia olhavam surpresas para o homem de cabelos castanhos, assim como Laura e o resto da divisão, que adentrava a casa aos poucos.

- como é? – questionou Laura, confusa.

- a senhora está errada. Ele é Alice. Ele foi julgado pela morte de nosso pai, mais vinte agentes e várias outras vítimas  – argumentou Derek se dirigindo para o castanho novamente.

- É MENTIRA – a voz elevada de Talia parou o filho.

- ele matou ou não matou? Eu estou confuso, já – indagou Isaac, curioso.

- Alice matou, sim, vinte agentes naquela noite. Mas o seu pai foi morto em outro dia. Um dia em que Alice não estava por perto – explicou a mulher caminhando até o filho, passando pelo mesmo e seguindo para Stiles, que a encarava apreensivo.

- como você sabe sobre isso? – questionou o castanho se erguendo.

- Peter me contou tudo, mas no fundo eu já sabia – respondeu a morena parando há alguns passos do assassino.

- é a primeira vez que nos vemos sem ser no tribunal – falou a mulher sorrindo minimamente na direção do homem de olhos castanhos claros.

- como diabos pode não ter sido ele?! Você falou que foi ele. Você depôs contra ele no tribunal! – argumentou Laura revoltada.

- eu fui instruída a mentir – respondeu Talia sem encarar a filha, se focando apenas em olhar o rapaz de cabelos castanhos a sua frente.

- você... Foi forte naquele dia – comentou Stiles vendo a mulher tomar um olhar tristonho no rosto.

- se você não tivesse me dito para fazer... Eu não teria conseguido. Me atormentei por muito tempo por ter mentido daquele jeito. Eu fui egoísta demais – argumentou Talia abraçando o próprio corpo, nervosa.

- você foi mais forte do que eu. Carregar essa culpa que não é sua, o ódio das pessoas... Eu nem consigo imaginar como foi crescer naquele lugar – comentou a mulher vendo o outro dar de ombros.

- você se acostuma. Sei que muita gente cresceu em lugar pior. Na verdade, foi bem fácil, eu nasci em um lugar pior – comentou Stiles vendo a mulher sorrir minimamente, quase tristonha.

- eu posso... Abraçar você? – questionou Talia surpreendendo Laura, Derek e o próprio Stiles.

- e-eu não sei. Laura e Derek podem não gostar da ideia – respondeu o castanho e Laura se aproximou, segurando o ombro da mãe.

- está mais do que certo. Não gosto nem um pouco dessa ideia - argumentou a filha mais velha dos Hales olhando com seriedade para o castanho.

Laura não colocava fé na história que estava ouvindo. Se recusava a acreditar que cresceu crendo em uma mentira. Ela se recusava a aceitar no que a inocência daquele homem no crime do seu pai iria gerar como nova realidade. Pois ela sabia o que aquilo significaria. Se aquele homem não era o assassino de seu pai, então quem era?

- Laura, os adultos estão conversando – repreendeu Talia vendo a filha lhe fitar surpresa.

- mãe – a mais nova tentou argumentar.

- Laura! Você não sabe a verdade. Eu sei – contra-argumentou Talia, cortando qualquer tentativa de argumentação por parte da filha mais velha.

- por favor. Eu sempre quis fazer isso, mas nunca pude – pediu Talia e Stiles olhou para Peter, receoso.

Peter meneou positivamente e o castanho se aproximou um passo da mulher, vendo a mesma se aproximar até lhe envolver com os braços, em um abraço suave e calmo. Aos poucos, Stiles começou a retribuir o abraço da mulher.

Para Peter, fora mais do que satisfatório assistir àquela cena. Ele sentia a estranha sensação de missão cumprida. Talia queria, há anos, se encontrar com o castanho, mas o FBI não permitia visita nenhuma aos prisioneiros da segurança máxima de Alcatraz. Nem mesmo ele, um ex-agente, pôde visitar Stiles após a perda do seu cargo.

Stiles passou os últimos doze anos da sua vida solitário. Completamente isolado. Preso em uma caixa de titânio, cercado de ódio e desprezo. Mas não era como se isso fosse afetar o castanho. Ele sabia disso. Stiles havia atingido o limite que a sociedade poderia pressionar alguém. Não sabia como, mas sabia que havia atingido o fundo do poço com apenas onze anos.

Ninguém sabia como.

Alice sempre fora curto, direto e misterioso em todas as suas respostas nos interrogatórios que sofreu. O louro ainda se lembrava do garoto, vestindo um vestido azul rodado com babado branco, com um pequeno coração desenhado no centro dos lábios, um naipe de espadas no centro da testa, o naipe de paus desenhado na bochecha direita e o de ouros na bochecha esquerda. Os cabelos penteados para trás, onduladamente, com alguns fios castanhos pintados de vermelho, deixando os cabelos longos e brilhantes mais chamativos ainda.

Aquela imagem sempre lhe atormentava.

- eu... Estou confuso – admitiu Derek, chamando a atenção da mãe, que revelou estar chorando ao se afastar do castanho.

- venham para a mesa. Eu explicarei tudo – pediu a Hale mais velha enquanto seguia para a sala de jantar.

- Alice assumiu a culpa pela morte do seu pai, mas ele não estava em condições de matar alguém no dia em que seu pai morreu – ditou a mulher ao mesmo tempo em que apontava para a mesa, indicando que a equipe podia se sentar.

- espera. Esse é o Alice? – questionou Cora apontando para o homem relativamente magro.

- é ele, sim – Laura cuspiu as palavras com nojo.

- eu esperava alguém mais... Sabe? Barra pesada. Com um corpo bombado, cara amarrada. Tipo o Derek – comentou Cora apontando o irmão e Vernon, Erica e Isaac desataram a rir. E pela primeira vez desde que fora solto, Allison viu Stiles sorrir docemente.

Um sorriso genuinamente doce.

- sem ofensas – a mulher tratou de se desculpar após todos rirem de suas palavras.

- não se preocupe. Na verdade, eu gosto assim. A minha aparência me agrada bastante. – comentou o castanho sorrindo para a mulher, que não pôde deixar de notar a beleza do homem que fora considerado como o assassino do seu pai.

- Você deve ser a Cora. E aquela ali deve ser a filha do Peter. Vocês ficaram muito bonitas – elogiou o Stilinski vendo Cora ficar envergonhada e Malia sorrir lisonjeada.

- obrigado. Você também é muito bonito – disse Malia vendo o modo como a prima mais nova parecia confusa ao seu lado.

Coda não sabia bem o que pensar. Seus irmãos alegavam que aquele homem era o assassino cruel que tirara a vida do seu pai há anos atrás e que era o alvo de todo o ódio de sua família. Mas a sua mãe e o seu tio diziam que aquele homem era inocente da acusação. Ela estava confusa. Sua família nunca quis lhe envolver muito com a história do assassinato de Alexander Hale. Isso a deixara extremamente confusa. Cora era incapaz de sentir ódio pelo homem de canelos castanhos, já que nunca soube muito sobre a morte do pai, nem sobre o assassino chamado Alice. Mas ela também se sentia insegura em manter algum tipo de gentileza por um homem que ela nunca vira na vida e fora acusado de ser o causador da morte do seu pai.

- pare de olhar para elas! – ralhou Laura, irritada.

- Laura, por favor – pediu Talia tentando controlar a língua de sua filha mais velha, a segunda dos seus filhos mais afetada com a morte de seu marido.

- mas se ele não é o culpado pela morte do meu tio, então quem é? – questionou Malia vendo o pai e a tia suspirarem.

- essa é a questão. Stiles foi o que Alexander e eu chamávamos de Sinalizador. – ditou Peter encarando os olhares confusos de todos.

- o que é isso? – indagou Cora vendo o tio suspirar.

- quando não descobríamos mais pistas sobre o culpado, nos usávamos algo para atrair a mídia e acalmar a população. Geralmente fingíamos descobrir sobre algum segredo do culpado, o depreciando, sem revelar a sua identidade, ou até mesmo revelávamos algumas pistas que o humilhavam, para deixar o culpado mais irritado e fora de controle. Outra forma de se usar um sinalizador, era prender alguém inocente, alegando ser o assassino. Esse último só funciona com os criminosos orgulhosos. Aqueles que querem levar o credito pelos crimes que cometeram com toda a honra e orgulho que pudesse vir junto.  – explicou Peter vendo o sobrinho lhe fitar com atenção, assim como Laura.

- o caso Alice havia sido encerrado há pouco tempo. Estavam apenas estudando Stiles enquanto não revelavam para a mídia a sua identidade. Um mês depois do encerramento do caso, o seu pai morreu – Talia se colocou ao lado do irmão para explicar melhor.

- vocês não sabem a quantidade de coisa que está escondida debaixo do tapete em que colocaram Alice em cima – ditou Peter vendo Lydia franzir o cenho em sua direção.

- mas você parece saber muito bem – argumentou a ruiva, curiosa.

- isso é o que mais me intriga – ditou Scott cruzando os braços diante do peito enquanto Cora e Malia começavam a colocar, a mando de Talia, a comida na mesa para que a equipe se servisse.

- isso não me surpreende em nada – ditou Vernon agradecendo pelo prato colocado a sua frente.

- depois de um tempo, ficou óbvio – disse Erica começando a se servir.

- como é? – questionou Scott indignado por os detentos estarem alegando saberem algo que eles, que haviam estudado anos para analisar o comportamento humano, não perceberam.

- Peter é um dos homens mais honestos que eu já vi. O ver tratar o Alice como um filho deixava a inocência dele bem clara. Ninguém que se considera justo teria o mínimo de consideração pelo assassino do cunhado, senão com duas condições: O cunhado não era flor que se cheire, ou então o acusado era inocente – respondeu Isaac vendo os agentes franzirem o cenho em sua direção.

- esse garoto vive me surpreendendo – comentou Erica olhando bem para o louro de cachos, surpresa com o argumento bem formulado.

- eu não acredito nisso – comentou Derek, nervoso.

- filho, primeiro nos escute – pediu Talia vendo o filho mais velho suspirar.

- nós sabemos a verdade, vocês não. Mas vocês precisam saber. Principalmente você e Laura – ditou Peter vendo o sobrinho seguir para Stiles, apontando para o mesmo.

- se ele não é o culpado, significa que o desgraçado está solto! – exclamou o Hale com ódio.

- isso me irrita mais do que a você – argumentou Stiles de braços cruzados.

- por que? Por que lhe irrita? Ele era o nosso pai não o seu. Ele não era nada seu! – indagou Derek, furioso.

- você não sabe de nada – Alice soou frio enquanto olhava para o moreno com certo tédio, antes de rolar os olhos para o outro lado, suspirando em impaciência.

- e por que diabos você se importaria?! – indagou Derek visivelmente alterado.

- porque, diferente de você, eu poderia ter pego o assassino naquela época – rebateu Alice surpreendendo o moreno com a sua resposta.

- se você não é o assassino do nosso pai. Onde estava no momento em que nosso pai morreu? Porque, não, eu não acredito que você não seja o responsável. O FBI e a justiça não iriam lhe acusar se não fosse você l. Se você não o matou, com certeza deve ter mandado alguém ma -

- se não é o assassino do nosso pai. Onde estava no momento em que nosso pai morreu. Porque, não, eu não acredito que você não seja o responsável. O FBI e a justiça não iriam lhe acusar se não fosse você. Se você não o matou, com certeza deve ter mandado alguém fazer o trabalho por vo... – Laura fora prontamente cortada por Alice.

- eu estava algemado dos pés a cabeça em Alcatras, em uma caixa de titânio, cercado por dezenas de agentes do FBI e da Interpol. E você? Onde estava? – respondeu Stiles chocando a todos.

- está me acusando de ter matado o meu próprio pai? – questionou Laura, indignada.

- já que você acabou de fazer uma acusação sem saber de nada, achei que eu pudesse fazer também – respondeu Stiles retirando um baralho da manga do novo casaco que vestia.

- VOCÊ É –

- inocente da acusação, como já foi dito. Vocês podem parar de fazer acusações e comentários sem fundamentos para que eu explique tudo? – indagou Peter cortando Laura mais uma vez.

- Peter, por favor. Deixe eu explicar tudo. Eu escondi isso dos meus filhos. Ru que aumentei a pena de Alice em mais alguns níveis, fazendo ele receber a pena que recebeu. Eu acho que eu devo isso aos meus filhos e a ele – pediu Talia vendo o irmão dar de ombros.

- os seus filhos foram os mais afetados por essa mentira. Acho justo que você conte. Mas se não conseguir, pode deixar comigo – falou o louro e logo Talia tomou fôlego, tentando se manter calma para poder explicar tudo.

- antes de tudo, eu preciso que vocês dois, principalmente, tenham noção de que tudo o que eu vou dizer aqui é verdade. Então, por favor, sem comentários desnecessários. O assunto é sério e requer ser tratado com seriedade – alertou a mulher olhando fixamente para os dois filhos mais velhos.

- tudo bem – respondeu Derek, já estressado

Aquilo tudo estava sendo muito estressante naquela noite. Primeiro a ideia ridícula de seu tio de levar o assassino do seu pai para a casa de sua mãe, onde estavam a mulher, suas irmãs e sua prima. Depois veio a revelação de que Alice não fora o culpado pela morte do seu pai, o que, por sua vez, levava a um terceiro motivo de estresse: o assassino do seu pai ainda estava por aí.

- tudo começou com a queda de Alice – ditou a mulher chamando a atenção para o castanho, que se encontrava com um olhar de tédio para o chão.

- se ele não é o assassino do nosso pai, por que diabos tudo começou com ele? – questionou Laura vendo a mãe suspirar.

- Alice fora preso durante uma noite em uma armadilha criada por seu pai e Peter, que eram parceiros – anunciou Talia enquanto Peter seguia para o bar localizado na sala, pegando uma garrafa de whisky e se servindo do mesmo.

- foi um choque para todos ver que o culpado por todo aquele caos era apenas um garoto. Todo mundo ficou... Desfocado. Perplexo. Até mesmo revoltado. Mas Alexander não. O seu pai... O seu pai foi o único que se mobilizou em meio ao choque – explicou a morena mais velha vendo a atenção de todos estando voltada para si.

- eles passaram meses inteiros estudando a minha mente. Fizeram tudo o que podiam para arrancar algo de mim, mas eu não deixei levarem nada do que queria – ditou Stiles chamando a atenção para si, antes de todos direcionarem um olhar questionador para Talia, que meneou positivamente.

- Alexander sempre chegava frustrado, pois assistia aos interrogatórios e estudos, mas ninguém conseguia arrancar nada dele. Ele dizia que Alice parecia um tipo de Anjo da Morte. Era calmo, sereno e não apresentava qualquer tipo de emoção vista como desnecessária para um criminoso – comentou Talia, confirmando as palavras de Stiles.

- então ele decidiu fazer ele mesmo o interrogatório. Eu tenho... Umas cópias das fitas. Seria bom vocês mesmos verem pelo menos uma – disse a mulher antes de seguir para o interior da casa.

- se não matou o pai deles? Por que confessou ter matado lá na base? – questionou Isaac vendo o castanho lhe fitar com seriedade, antes de suspirar e começar a embaralhar cartas em sua mão.

- Talia vai lhe responder – respondeu Stiles e logo a mulher surgiu na cozinha com um notebook em mãos.

- pensei que fossem fitas – comentou Malia vendo a tia lhe entregar o aparelho

- conecte na televisão – ordenou a morena apontando para a televisão da sala e logo a loura se ergueu com o aparelho em mãos.

- como as fitas cassete foram saindo de circulação aos poucos, eu decidi que seria bom passar todas as fitas para o formato de DVD. E quando passei, copiei tudo para o notebook. Esse foi o maior trabalho do meu marido e do meu irmão. Fiz de tudo para guardar ele – explicou Talia enquanto assistia ao trabalho da sobrinha.

- se sabia disso o tempo todo. Por que nunca nos contou? – questionou Derek vendo a mãe suspirar, demorando um pouco, pensativa, para responder.

- para proteger vocês – respondeu e logo Malia se afastou, dizendo já ter terminado.

- eu vou colocar o primeiro em que Alice começou a responder ao seu pai – informou a mulher mexendo no aparelho e logo dando play em um vídeo de um pequeno castanho de olhar sério e cabelos longos, sentado em uma sala de interrogatório, algemado a mesa.

- por favor, prestem bastante atenção nisso – pediu a mulher vendo o pequeno castanho na tela desviar olhar para a câmera, entediado, como se ameaçasse, silenciosamente, quem estava o assistindo.

Eles sentiram o corpo tremer levemente com aquele olhar. Parecia que o castanho no vídeo poderia escutar Talia. A pequeno adolescente sorriu docemente na direção, como uma criança que sorri para o pai que a filmava em um filme caseiro de sua festa de aniversário.

- esse é... Você? – questionou Erica vendo Stiles menear positivamente.

 

 

Alice estava entediado com aqueles interrogatórios há muito tempo. O FBI não sabia brincar. Isso estava lhe chateando cada vez mais. As algemas em seus pulsos estavam levemente apertadas, assim como as dos seus tornozelos. Aquele homem não havia poupado ideias para lhe deter.

O garoto encarava a velha e conhecida câmera com tédio, tentando se entreter com a luz vermelha que piscava indicando gravação.

“Ascende”

“Apaga”

“Ascende”

“Apaga”

“Ascende”

“Apaga”

Era o que ele dizia em pensamentos, memorizando, perfeitamente, o tempo que o aparelho levava para reproduzir aquele brilho, para em seguida o tempo que levava para apagar a luz vermelha. Naquele momento, aquele jogo ridiculamente entediante era a única coisa que lhe divertia naquela instalação

O som da porta se abrindo indicava para o garoto de onze anos que o homem havia voltado. Erguendo um olhar entediado, o castanho encarou um moreno de olhos verdes claros, quase azuis. O homem que carregava uma pasta com arquivos, se sentou na cadeira a sua frente, lhe dirigindo um olhar curioso.

- oi de novo – o homem cumprimentou gentilmente, como um professor cumprimentava os seus alunos de um turma de crianças do fundamental.

- olá – cumprimentou o castanho, surpreendendo o moreno.

- você me cumprimentou... Muito obrigado – agradeceu o agente abrindo a pasta.

- de nada, agente Hale – respondeu Alice vendo o moreno lhe fitar surpreso.

Alexander parou de folhear os arquivos e ergueu um olhar surpreso para o garoto. Eles estavam tentando fazer o garoto falar há meses, mas o castanho nunca havia dito uma palavra, se quer. Nem mesmo um cumprimento, uma negação, um xingamento, ou um mover de cabeça.

Nada.

Aquele garoto apenas ficava parado, encarando a pessoa do outro lado da cadeira lhe fazer perguntas e se frustrar mais a cada uma delas que fora ignorada. Muitos estiveram naquela cadeira. Muitas pessoas bem treinadas. Psicólogos, Psiquiatras, Agentes treinados para arrancar a confissão de qualquer um. Mas aquele garoto conseguiu fazer todos desistirem. O seu olhar frio e a sua falta de expressão a qualquer pergunta, afirmação ou ameaça havia perturbado todos.

Alexander já estava perto de desistir, também. Ele estava há uma semana com aquele garoto, mas não havia conseguido se quer um reflexo muscular de dor quando tiraram uma amostra de sangue do castanho para exame de DNA.

Aquilo o perseguia aonde quer que fosse. O olhar sério e imparcial do garoto estava aonde quer que ele fosse. Ele não conseguia parar de pensar naquele caso. Estava se tornando obcecado por Alice. Ele sabia que aquele garoto era o culpado. Ele havia visto. Mas, infelizmente, faltava comprovar que aquele garoto de onze anos fora o verdadeiro culpado pela morte de tantas pessoas.

- e então, o que iremos fazer hoje, Alexander? – questionou Alice surpreendendo não só Alexander como os agentes atrás do vidro espelhado na parede à esquerda do agente.

- você sabe o meu nome... – comentou Alexander, movendo os arquivos para a primeira página.

- mas eu não sei o seu – comentou o agente pegando a caneta em seu bolso do paletó e se preparando para escrever algo. O garoto de longos cabelos castanhos moveu um pouco a cabeça, a jogando para trás.

“primeiro movimento que ele faz como reação de uma pergunta”

Pensou o moreno analisando bem o castanho.

- você sabe o meu nome – argumentou o castanho fazendo o moreno franzir o cenho, vendo o garoto virar a cabeça para o vidro espelhado.

- o FBI sabe o meu nome – afirmou com um sorriso travesso antes de voltar a olhar para o homem a sua frente, que franzia o cenho, pensativo.

Alexander não havia entendido o que o garoto havia dito, inicialmente, mas não demorou para que ele pensasse melhor. Tomando uma feição normal, o homem voltou a dar mais atenção aos arquivos do que ao garoto.

- mas poderia repetir para mim? Eu ando meio esquecido ultimamente. É a idade, sabe? - o Hale tentou passar a perna no garoto, na esperança de que o outro lhe dissesse o nome.

O castanho sorriu vitorioso.

- você já pensou em visitar um médico? Pode ser bem útil – questionou Alice vendo o homem sorrir de canto.

- ótima resposta – elogiou o moreno vendo o garoto dar de ombros.

- já que você está muito comunicativo hoje, por que não me fala sobre você? – questionou Alexander vendo o castanho rolar os olhos e suspirar profundamente.

- quem são os seus pais? – indagou o agente vendo o castanho lhe fitar com superioridade

Silêncio.

Foi a resposta do garoto para a pergunta.

Alexander suspirou.

- os meus pais morreram – comentou o homem tentando negociar com o castanho.

Uma informação por outra.

Era bem justo.

- era suposto que eu fosse me importar? – indagou Alice vendo o homem franzir o cenho.

- você ao menos sabe o que significa morrer? – questionou o moreno, desconfiado.

- eu pareço ter quatro anos? – perguntou o garoto vendo o homem negar com a cabeça.

- então... Os seus pais morreram? –

Silêncio, novamente.

- você tem algum parente? –

E de novo.

- você gosta de brincar? – indagou Alexander, cansado de repetir as mesmas perguntas.

- e quem não gosta? – respondeu o garoto dando de ombros.

- do que você mais gosta de brincar? – questionou o agente vendo o castanho sorrir divertido.

- pega-pega – respondeu sorrindo largo, quase travesso.

- eu gosto de polícia e ladrão – comentou o agente vendo o castanho sorrir debochado.

- pensei que fosse dizer sexo ou ganhar dinheiro. É tudo o que os adultos querem – argumentou o castanho chocando o homem a sua frente.

- do que diabos...

O homem fora cortado pelo suspiro pesado do castanho, que revirou os olhos, antes de lançar um olhar questionador para o mais velho, que se calou imediatamente.

- eu cruzaria os braços e as pernas se não estivesse com essas porcarias em mim – ditou o castanho vendo o moreno de olhos verdes suspirar.

- vamos tentar manter uma relação amigável, tudo bem? – questionou o agente vendo o castanho dar de ombros.

- por mim tudo bem – disse o garoto.

- como amigo, você me responderia alguma dessas perguntas? – questionou Alexander apontando para o arquivo a sua frente.

- vou responder duas para você não ficar chateado e ir embora como os outros – ditou o castanho apoiando a cabeça, inocentemente, sobre as palmas das mãos.

- qual é o seu nome? – questionou Alexander vendo o castanho sorrir divertido.

- Stiles. Stiles Stilinski – respondeu o garoto vendo o homem anotar.

- onde estão os seus pais? – indagou Alexander vendo o garoto apontar para baixo com o indicador.

- aqui? – perguntou confuso.

- mortos – respondeu o castanho vendo o homem lhe fitar com seriedade.

- acabamos por hoje. Me leve de volta para a minha cela – ordenou o castanho ainda com o olhar inocente sobre o mais velho.

Alexander ainda se surpreendia com a frieza do garoto a sua frente, que lhe encarava com o mesmo olhar de falsa inocência. Suspirando, o homem se levantou e se aproximou da câmera, no intuito de desligar a mesma.

- acabamos por hoje – falou Alexander desligando a câmera.

 

 

- e como diabos isso serve de prova? – questionou Laura vendo a mãe se aproximar do computador, pronta para apertar o play novamente, no mesmo vídeo.

- a data. As datas não batem – respondeu Lydia vendo todos lhe fitarem com curiosidade.

- fitas cassetes mostravam as datas em que os vídeos foram feitos. A data do interrogatório é muito anterior ao dia em que o seu pai morreu – explicou a ruiva e Talia voltou a dar play no vídeo, pausando o mesmo logo em seguida.

- aqui – a morena mais velha apontou para a tela, mais precisamente para a data no canto da mesma.

- é muito antes da morte do pai – comentou Cora vendo os dois irmãos mais velhos encararem a tela, pensativos.

- eu não entendo – murmurou Derek abaixando o olhar.

- se não foi o culpado pela morte de nosso pai, por que diabos aceitou ser julgado por ela? – indagou Derek olhando diretamente para Alice, que deu de ombros.

- porque ele é um assassino e a morte de mais uma pessoas não muda nada – respondeu Laura cruzando os braços, deixando, em silêncio, as lagrimas rolarem pelo seu rosto. Derek riu, irônico.

- eu já deveria saber – disse o moreno cerrando os punhos sobre os joelhos.

- ele fez isso por vocês três – falou Talia se aproximando do castanho e colocando as mãos sobre os ombros do homem de pele clara, chamando a atenção dos dois mais velhos.

- por nós?! Como diabos assumir a culpa da morte de nosso pai pode ser algo bom? – questionou Derek, visivelmente revoltado.

- para conter o que está dentro do seu peito nesse momento. Para evitar que vocês crescessem com essa raiva indomável controlando vocês. Para impedir que vocês tivessem uma vida miserável por se entregar em um momento ruim da jovem vida de vocês – ralhou a mulher fazendo o queixo de Derek, Laura, Erica e Isaac caírem.

- ele disse para mim que eu deveria dizer a vocês que ele foi o culpado pela morte do seu pai para que vocês dois, principalmente, não caíssem nas drogas, desejo incontrolável de vingança, ou coisa do tipo – explicou Talia vendo o filho tomar um olhar pensativo.

- ele disse isso?! – questionou Laura, surpresa.

- isso quer dizer que o verdadeiro assassino dele ainda está a solta? – questionou Derek se erguendo e começando a andar de um lado para o outro.

- infelizmente, o FBI não conseguiu prender o assassino. Se quer chegaram a ter algum suspeito – respondeu Peter vendo o sobrinho cerrar os punhos com força.

- você estava na investigação? – perguntou o moreno de olhos verdes olhando com seriedade para o tio, que negou com a cabeça.

- Alexander era o meu parceiro e cunhado. Me tiraram da investigação assim que ela começou –

- a verdade é que... O seu pai gostava de Alice – disse Talia chamando a atenção dos filhos para si.

- gostava? – questionou Derek, descrente.

Ao que parecia, ele não conhecia o pai tão bem assim. Como alguém poderia gostar de um assassino nato? Laura também não conseguia entender o que estava acontecendo. As palavras de sua mãe eram compreensíveis, mas eram impossíveis de se acreditar. Como um agente treinado do FBI, um homem justo e bom, gostaria de alguém como aquele monstro?!

As suas mentes estavam uma bagunça.

- é. O seu pai até chegou a dar uma par de brincos para ele. Já que o FBI havia confiscado os dele como provas de crime – falou a Hale mais velha lançando um olhar nostálgico para Alice, na esperança de o encontrar com os brincos, mas se sentiu decepcionada quando encontrou as orelhas do castanho livres de qualquer adorno.

- um par de brincos? – questionou Derek surpreso, se recordando, imediatamente, do momento em que Laura pisou nos brincos de Alice.

- sim. Um par que combinava muito com ele. Um dos brincos tinha um pingente de Copas e o outro tinha um pingente de Espadas. Os pingentes eram uu pouco separados das orelhas por correntinhas pequenas – respondeu Talia não notando o olhar de culpa que a filha mais velha tomou no rosto.

- então...

- eu acabei perdendo quando fui atacado por um fanático lunático, na cadeia. Eu cheguei naquele dia. Eram os meus brincos favoritos. – mentiu o castanho vendo a mulher menear positivamente.

- espero que não tenha feito nada muito ruim com o pobre homem – comentou Talia olhando com preocupação para o castanho.

- não. Ele está bem. Se quer cheguei a encostar nele. O filho da mãe está vivo e bem – respondeu com seriedade sentindo a mão de Talia se apertar suavemente em seu ombro, em um carinho modesto, antes de lassar a deslizar pelo local.

- que bom. Não gosto de saber que você fez coisas ruins. Meu marido odiaria que você fizesse – disse a mulher deslizando as mãos pelos fios castanhos do homem.

“Você cresceu tanto! Não esperava que fosse ficar tão bonito”

- é uma pena que eles se foram. Combinavam perfeitamente com os que eu tenho. Eu gostava de usar, pois me lembrava de você. Mas, infelizmente, os meus também sumiram – ditou a mulher apertando os ombros do castanho levemente, antes de olhar com seriedade para Derek.

O homem sabia o motivo. Ele havia jogado aquele par de brincos na privada quando ainda era um adolescente. Ele odiava qualquer coisa que lembrasse o assassino do seu pai.

- então... Iremos atrás desse cara? O que matou o pai do Derek? – indagou Isaac, confuso.

- se fosse possível, eu já teria ido há muito tempo – respondeu Stiles chamando a atenção para si.

- já se passou muito tempo, Isaac. Mesmo que trabalhássemos com as provas arquivadas, não iríamos chegar a lugar algum – explicou Peter com um ar desapontado.

- você não vai comer? – questionou Malia vendo que Stiles era o único que se quer havia colocado algo no prato.

- eu agradeço pela hospitalidade, por parte de alguns, e pela comida, mas não tenho fome – respondeu o castanho já se erguendo e se afastando da mesa.

- tem certeza? Isso aqui está ótimo! – indagou Isaac vendo o castanho negar com a cabeça.

- estarei esperando no lado de fora – ditou o castanho já se afastando da mesa e caminhando para o lado de fora da casa.

Os agentes não sabiam o que fazer. Scott, Derek e Lydia queriam muito dizer que não permitiriam que o castanho faria o que queria assim tão fácil. Mas eles estavam perturbados. Os seus cérebros tentavam absorver todas as informações que foram passadas para eles por meio de Talia e Peter. Mas as suas mentes fechadas enteavam em colapso com os fatos que eram exibidos para elas.

Talia e Peter encararam o castanho por um tempo, antes de se entreolharem. A mulher nada disse, apenas se retirou da sala de jantar, seguindo para o andar de cima. Peter não precisou de nada para entender a irmã, tratando de seguir a mesma alguns segundos depois. Adentrando o quarto da mulher assim que a mesma se sentou na cama.

- você está bem? – indagou Peter após entrar e trancar a porta do quarto.

- estou. E você? – respondeu após suspirar pesado, vendo o irmão suspirar também.

- mais ou menos. Eu ainda estou com muita coisa na cabeça – respondeu o louro vendo a irmã mais velha se aproximar para lhe abraçar apertado.

- ele realmente estava tão ruim assim? – questionou a morena sentindo o irmão lhe apertar mais nos braços.

- foi impossível não lembrar dele quando criança, Talia. Ele parecia uma versão adulta e mais perigosa de sua – respondeu Peter se lembrando bem do que sentiu quando olhou para Stiles, sentado, com a cabeça do Jaguadarte no colo.

- a verdade é que se ele tivesse mais uma vítima para fazer naquele lugar, talvez Alice realmente tivesse voltado – comentou o louro, temeroso.

Chapter 40: Trouble

Chapter Text

Derek encarava, surpreso, o corpo sem cabeça do homem que lhe acertou um tiro no torso. O cenário não era algo confortável e nem um pouco calmo. Os policiais estavam loucos com o membro do FBI que decapitou um assassino. Eles nunca viram algo daquele tipo.

Os agentes também não.

Isaac estava choque, pálido. Parecia que iria vomitar a qualquer momento. Erica era como um filhote indo para o abate. Ela estava tensa, mas sem entender o motivo de sua tensão. A loura apenas sentia que não deveria estar ali. Sentia que queria fugir dali o mais rápido que suas pernas conseguissem correr. Já Vernon era uma incógnita. O homem estava sério a todo instante, mesmo que os seus olhos revelassem que ele estava surpreso com o que via. Mas a sua calma em tentar conter os oficiais junto de Allison parecia dizer o contrário. Era como se o homem estivesse habituado com aquilo. Com corpos surgindo como um obstáculo em seu caminho rumo a um objetivo centrado

O modo de agir do Boyd em meio ao caos criado por Stiles se assemelhava ao de um policial bastante experiente.

Scott, se recuperando do choque após presenciar o sorriso do castanho que um dia ameaçou o seu pai, tratou de ajudar Allison e Vernon a acalmar os policiais.

Derek apenas suspirou, exausto.

Era a segunda vez, seguida, que o assassino virava a vítima durante um caso. Mas, pelo menos, eles já tinham o assassino em suas mãos. O problema, era que aquela prisão geraria uma dor de cabeça muito grande para si e para a sua equipe.

Alan iria os convocar para uma conversa séria, certamente. Quase certeza de que Gerard estaria lá. Os figurões iriam querer uma boa resposta sobre como Alice havia assassinado um criminoso durante a investigação. Isso era óbvio. Mas o que eles mais iriam querer saber era como Stiles havia conseguido ficar a sós com o assassino enquanto que eles, os agentes, estavam em uma delegacia, sem fazer a menor ideia de onde ambos os assassinos estavam.

Stiles não havia apenas matado o Jaguadarte .

Ele havia detonado uma bomba em seu colo.

Enquanto Stiles era levado para a delegacia por Peter, Derek e os outros foram encarregados de analisar a cena de crime e procurar entender o que aconteceu antes de irem falar com Alice. Eles precisavam analisar tudo para saber se o castanho iria falar a verdade.

Aquilo iria ser difícil.

Não seria difícil comprovar a veracidade de Stiles apenas devido a sua habilidade como assassino, mas também pelo estado caótico que se encontrava aquele local. Os forenses iriam levar várias horas apenas parar revirar aquele local atrás de provas. Imagina, então, analisar cada prova encontrada.

O moreno de olhos verdes se aproximou do legistas, vendo Erica fazer o mesmo logo em seguida. A loura parecia ter acordado do seu transe, mas permanecia incomodada por se encontrar naquele lugar.

- o que pode nos dizer até agora? – questionou Derek vendo a mulher abaixada ao lado do corpo sem cabeça lhe fitar por sobre os ombros.

- até agora, nada que possa ajudar o seu amigo. A pele cheia de cicatrizes me impede de ver algo superficialmente. Tudo o que posso dizer é que ele tem vários pontos inchados espalhados por todo o corpo – disse a morena de roupa branca se erguendo e acenando para que os homens levassem o corpo para o necrotério da delegacia.

Derek franziu o cenho.

- você está dizendo que

- que esse homem teve todos os membros quebrados em pelo menos três lugares diferentes. Braço, antes braço e cotovelos. Coxa, perna e joelhos. Esse homem foi completamente imobilizado antes de sua morte – a legista cortou a fala do Hale, tocando com indicador os locais em que havia encontrado os inchaços.

- então não havia a necessidade de ele ser decapitado – comentou o Hale vendo a morena menear positivamente.

- mas devo dizer que... O cara soube fazer o serviço. Se não fosse levemente torto, diria que esse homem foi executado em uma guilhotina – comentou a mulher deixando Derek apreensivo.

- ele decapitou esse cara com um golpe só? – questionou o agente, surpreso.

- mas isso deveria ser impossível! Quer dizer não existe arma branca no mundo que consiga isso. As vértebras deveriam impedir isso – argumentou o agente vendo a mulher sorrir, negando com a cabeça.

- sim. Não há marcas na pele e nos músculos que indicam que ele golpeou o pescoço desse homem mais de uma vez, mas as vertebras dizem que ele não foi decapitado em um golpe só – respondeu a mulher antes de olhar ao redor.

- precisa encontrar a arma do crime para sabermos como esse homem foi decapitado – comentou vendo o homem imitar o seu ato de olhar ao redor.

- mas, basicamente, ele cortou a carne ao redor da coluna, antes de arrancar a cabeça a puxando para cima – explicou a legista vendo o moreno lhe fitar surpreso, por um tempo, antes de menear positivamente.

- faremos isso – disse o homem colocando as mãos na cintur, enquanto olhava ao redor.

- Eu vou continuar a análise do corpo, qualquer coisa eu aviso – ditou a mulher antes de se virar e começar a caminhar, ouvindo o agente federal agradecer enquanto voltava ao trabalho.

Derek encarou o ambiente ao seu redor, o analisando minuciosamente. Ele precisava não apenas achar pistas que indicassem o que havia acontecido naquele lugar que agora se encontrava em completo caos, ele precisava achar a arma do crime. O caso não seria facilmente resolvido se eles não encontrassem a arma que Alice usara para aniquilar o Jaguadarte. Enquanto revirava os escombros de madeira, o Hale notou, pelo som das lascas, alguém se aproximando.

- a gente nem precisou aprontar nada para cima dele. Ele se boicotou sozinho – comentou Scott enquanto colocava as mãos na cintura.

- isso não está em discussão, Scott – comentou Derek erguendo um pedaço de madeira e vendo algo que mexeu consigo de uma maneira nada positiva.

- cara, finalmente vamos nos ver livre desse cara. Era tudo o que a gente queria. O que você queria... – argumentou o moreno de queixo torto, confuso, enquanto via Derek, vestindo um par de luvas de látex, recolher algo com a mão.

Ele não podia negar que estava satisfeito com aquilo. Há tempos que estava querendo colocar Alice de volta na solitária em Alcatraz. Aquele era o lugar dele. Aquela caixa a prova de tudo que prenderia o maior monstro que já pisara nos Estados Unidos, como uma grande caixa de Pandora. Seria a chance de Derek de colocar atrás das grades o monstro que matara o seu pai.

Derek nada disse.

- não precisamos fazer mais nada aqui. Pegamos Alice no flagra e ele ainda confessou ter cortado a cabeça do canibal. Isso é o suficiente para prendermos ele – argumentou o McCall com as mãos nos bolsos, olhando ao redor

- tem algo errado – ditou Derek ao se erguer.

- o que? – indagou o moreno de queixo torto vendo o parceiro se virar.

- Alice matou o Jaguadarte – apontou Derek, pensativo.

- isso já sabemos. E daí? –

- Scott, Alice é um serial Killer. Um dos melhores. Está faltando algo na cena do crime – respondeu o moreno de olhos verdes e o de olhos castanhos olhou ao redor.

- e o que é? – perguntou o McCall, desconfiado.

- cadê a assinatura? – questionou Derek vendo o parceiro olhar ao redor, desconfiado.

- e como sabe que não está enterrada nesse monte de lixo? – questionou Isaac vendo os dois morenos permanecerem olhando ao redor.

- porque serial Killers querem que as suas assinaturas sejam vistas. Querem que saibam que foram eles quem mataram a vítima. Eles querem ser reconhecidos. Eles deixam as suas assinaturas fáceis de serem encontradas na maioria das vezes – explicou Scott vendo analisando bem a cena do crime.

- se eu fosse Alice, onde eu deixaria a minha assinatura? – murmurou Derek vendo que havia vários lugares viáveis naquele esconderijo subterrâneo.

- qual é a assinatura do Stiles? – questionou o louro de cachos vendo os dois morenos lhe encararem com seriedade.

- uma carta de baralho – responderam em uníssono.

Isaac se viu confuso e, de certa forma, descrente com a resposta dos dois agentes. Cruzando os braços, o Lahey lançou um olhar questionador para a dupla.

- é só isso? Nossa! Da forma como falaram da assinatura dele antes, eu pensei que fosse algo mais... Dramático, assustador. E é só uma carta de baralho? – indagou o louro de cachos, indignado.

- ele sempre deixa a assinatura de uma forma diferente, mas sempre tem que ter uma carta de baralho com o seu nome nela – explicou Derek se lembrando de todas as imagens dos arquivos sobre Stiles.

- quanta tempestade em um copo de água – comentou Isaac antes de se afastar.

Ele não entendia toda aquela implicância por causa de uma carta de baralho. Tantos outros assassinos já apresentaram assinaturas mais marcantes do que uma simples carta de baralho assinada. Para o louro, aquela implicância com o castanho era um tanto infantil.













Peter adentrou a sala de interrogatório após Stiles ser devidamente algemado na mesma.

O Tate sabia que aquilo não iria segurar o castanho. Não o segurou na infância, então não o seguraria agora. Mas os oficiais não precisavam saber. O fato de o doutor que trabalhava para o FBI estar algemado após decapitar um assassino os acalmava.

Ele não queria que Stiles fosse algemado, mas os oficiais insistiram alegando que, independente de ser legítima defesa ou não, eles deveriam levar o castanho sob custódia, devidamente algemado. O Tate tentou argumentar, irritado, mas fora calado quando Alice simplesmente ergueu as mãos para os oficiais, dizendo que aceitava ser algemado.

Aquilo fora estranho. O castanho parecia saber que aquele ato acalmaria a polícia com relação a si, momentaneamente.

Mas Alice parecia não se importar com os oficiais como demonstrara, já que, assim que teve suas mãos algemadas, presas a mesa por mais algemas, ele simplesmente puxou as duas mãos para os lados, fazendo as algemas que lhe prendiam os pulsos se abrirem com facilidade.

Os oficiais ficaram surpresos, indignados e furiosos com a ação do prisioneiro, mas relevaram quando Peter ergueu a mão, os pedindo para que não fizessem nada.

Eles o obedeceram.

Ficaram ali, parados atrás do homem de cabelos louros, vendo o castanho cruzar os braços diante do peito coberto pelo tecido azul do vestido que usava. O mais jovem dos presentes na sala ergueu as pernas, as cruzando acima da mesa, enquanto inclinava a cadeira, a equilibrando sobre as duas pernas traseiras.

- Stiles! – reprendeu Peter sendo prontamente ignorado pelo castanho.

- por que você fez aquilo? – indagou Peter vendo o assassino de cabelos devidamente penteados sorrir, fazendo o símbolo de copas desenhado em seus lábios se mover levemente.

Silêncio.

Aquilo deixou Peter em alerta.

- por que matou o Jaguadarte, Stiles? – questionou vendo o assassino da divisão suspirar, mas permanecer sem responder nada.

Aquilo estava deixando Peter nervoso. O louro estava com uma estranha sensação de Déjà Vu. Ele já havia visto aquela cena. Ele já a havia vivido. Stiles não respondia a nada quando fora preso há mais de uma década atrás. Ele penas ficava sentado na frente dos interrogadores, os encarando com tédio e sorrisos cínicos. Por um milésimo de segundo, ao piscar os olhos e os abrir novamente, Peter não viu mais um homem de bonito de vestido. Ele viu uma bela garotinha de cabelos longos e bonitos, com um vestido azul rodado coberto de manchas de sangue. O Tate piscou os olhos, assustado, vendo a garota dar lugar a um homem bonito de cabelos um pouco grandes penteados para trás.

- não vai me responder? – ele tentou arrancar algo do castanho por meio do apelo emocional, sendo ignorado novamente.

Stiles parecia ter retornado a ser o Alice de anos atrás quando se parava para analisar as suas vestes e a maquiagem em seu rosto. O castanho estava idêntico a quando fora preso por Peter e Alexander quando criança. Aquela imagem causava calafrios no Tate.

- você sabe que você está encrencado, não sabe? – indagou Peter vendo o mais novo revirar os olhos.

- tudo bem. Se você não quer falar comigo, então eu não vou tentar nada – ditou o louro se erguendo e dando as costas ao castanho.

- os médicos estão vindo analisar você. Espero que você reflita enquanto isso – disse o mais velho enquanto se dirigia para a porta.

- um dia você vai saber o motivo da morte dele – a voz calma do castanho alcançou os ouvidos do louro que parou brevemente antes de olhar para o outro por sobre os ombros.

- assim espero – assim que abriu a porta o homem foi surpreendido pela imagem de um paramédico escoltado por uma policial.

- é ele? – indagou o homem apontando, desconfiado, para o homem de maquiagem sentado com as pernas cruzadas sobre a mesa.

- ele mesmo – respondeu o louro vendo o castanho se erguer e levar as mãos as costas, assustando os policiais.

- fiquem calmos – ordenou Peter e logo todos entenderam que Stiles não estava puxando nenhuma arma, estava apenas abrindo o zíper do vestido azul que usava.

- posso perguntar qual é a do vestido? – indagou o paramédico vendo o louro negar com a cabeça.

- é melhor não – respondeu o agente e o homem deu de ombros abrindo a maleta que trouxera consigo.

- tudo bem, então – comentou o paramédico, desconfiado.

Assim que Stiles abaixou o vestido por completo, exibindo sua pele marcada de hematomas, alguns bem graves, o paramédico franziu o cenho para os policiais, vendo os mesmos lhe fitarem com curiosidade. O homem inclinou a cabeça para o lado antes de seguir para o corpo do castanho.

O paramédico analisou o corpo do homem com cuidado devido aos hematomas e aos buracos de bala no mesmo. Ele se viu surpreso quando o castanho não demonstrou nenhum sinal de dor quando ele tateou a região baleada, analisando a mesma.

- isso é ruim – comentou o homem ao ver que os buracos de tiro ainda sangravam.

- o que houve? – indagou Peter, preocupado.

- não posso ver direito, mas acho que um órgão foi afetado – respondeu enquanto se afastava levemente.

- ele precisa ir ao hospital – informou o paramédico vendo o louro menear positivamente enquanto os oficiais se preparavam para algemar o castanho novamente, enquanto o mesmo voltava a vestir o vestido azul.

- Stiles, não precisa vestir isso – ditou o Tate vendo o castanho fechar o zíper do vestido.

- não é o mais bonito que eu já usei, mas também não é feio – comentou Stiles antes de se virar para o mais velho, sendo abordado por um policial que erguia a algema em sua direção.

- você vai realmente perder o seu tempo com isso? – questionou Alice vendo o homem erguer uma sobrancelha, estendendo a mão, exigindo, em silêncio, as mãos do outro.

- eu não vou me dar ao trabalho de falar sobre isso – disse o castanho ignorando o oficial e passando pelo mesmo.

- não, não vai – ditou o homem agarrando o pulso do homem de vestido e o girando com violência, no intuito de o jogar contra mesa e o algemar.

Mas o castanho não fora jogado contra a mesa durante o giro. Na verdade, o castanho girou mais uma vez, forçando o oficial a girar, o jogando sobre a mesa e algemando aquele que deveria lhe algemar. O movimento fora um choque para todos, com exceção de Peter, que suspirou.

O oficial, chocado, tentou se erguer, bruscamente, sendo impedido pelo homem o qual havia lhe algemado, que lhe empurrou para frente com força, o prendendo contra a mesa.

- eu vou perguntar apenas para ter certeza, já que me sinto um pouco confuso. – ditou Stiles ainda fazendo força para conter o homem contra a mesa.

- Você, realmente, pensou que iria me algemar? Você?! Um simples policial?! – indagou com desdém antes de soltar uma gargalhada curta e alta.

- Stiles! – repreendeu Peter vendo o castanho soltar o policial e se afastar dele normalmente.

- ah, a polícia inventa cada uma – falou o homem de vestido seguindo para a porta, sendo barrado por outro policial que tentou lhe segurar o ombro.

Alice apenas ergueu o braço cujo ombro fora tocado, jogando o braço do policial para cima. Com o mesmo braço, o castanho agarrou o pescoço do oficial, enquanto colocava o pé direito atrás do pé esquerdo do homem de farda. Surpreso com o agarre em seu pescoço, o oficial tentou se afastar, tropeçando no pé do castanho, que o empurrou, jogando o policial contra o chão com força, o soltando antes de precisar se abaixar. O oficial gemeu de dor com o impacto em suas costas e nuca.

O paramédico se viu em choque com a capacidade de movimentação do castanho mesmo estando tão ferido com dois tiros no torso e com vários cortes pelo corpo. Com cortes daquele tipo e com dois tiros no torso, alguém com o senso comum jamais se moveria daquela forma naquele estado. Mesmo que tenham sido movimentos simplórios, a força necessária para os executar com aquela perfeição causaria muita dor nos ferimentos. Aquele homem se quer estreitou os olhos em uma careta de dor com tudo o que fez.

- caramba! Você parece mesmo ser do FBI – comentou o paramédico vendo o castanho sorrir ladino antes de abrir a porta da sala de interrogatório.

Peter, Stiles e o paramédico caminhavam pela delegacia, rumo a saída, com o intuito de irem ao hospital quando viram Kim sendo abraçado pela mãe, que não parava de perguntar se o filho queria algo, se ele precisava de alguma coisa naquele momento. Ao lado da mulher, estava uma garota preocupada, que Peter reconheceu como uma das garotas que eles interrogaram sobre o sequestro do Matarazzo e as mortes dos outros jovens. A garota beijava o rapaz, estranhando o motivo de o outro não corresponder a si como ela esperava. Ela passara tanto tempo preocupada com o bem-estar do seu namorado. Tudo o que ela queria, agora que o mesmo estava bem, era o namorado em seus braços. No entanto, o mesmo parecia temer o seu toque, ao mesmo tempo em que lhe permitia continuar com os mesmos. Era como se ele estivesse dividido entre lhe querer e lhe temer. Nem mesmo os pais ele abraçara direito. Era como se Kim tivesse medo de ter algum contato humano com qualquer pessoa.

Assim que os seus olhos azuis encontraram os castanhos claros do homem que ele reconheceu não apenas pela aparência idêntica a sua, mas também pelo vestido azul que ele fora forçado a vestir durante dias, Kim se ergueu da cadeira de prontidão, caminhando a passos largos na direção do trio. O Matarazzo parou há alguns passos de sua versão de olhos castanhos claros, o encarando com uma certa incerteza.

- e ele? – questionou Kim, nervoso, vendo o mais velho lhe fitar com seriedade.

Alice moveu suas mãos até os ombros do mais novo, os massageando brevemente.

- aquele maldito não vai mais atormentar você, pode ficar tranquilo. Ele está morto – respondeu Alice vendo os olhos azuis se dilatarem um pouco.

- quem é você? – questionou a senhora Matarazzo, se aproximando, confusa pelo modo quase desesperado que o filho se aproximou daquele que era quase idêntico a ele.

- caramba! Ele é idêntico ao Kim – comentou a namorada de Kim vendo o mesmo, do nada, abraçar o estranho de vestido, surpreendendo a todos, inclusive ao próprio homem de vestes azuis claras.

Peter se viu mais do que surpreso com o Matarazzo abraçando Stiles com força, como se não quisesse que o castanho mais velho nunca mais se afastasse de si. Mas o que mais surpreendeu o Tate fora o castanho de maquiagem e vestido abraçar o outro de volta, apertado. Se alguém que não havia participado do caso e nem conhecesse os Matarazzo olhasse para aquela cena, pensaria que eram gêmeos emocionados se abraçando.

- um dia, eu espero... poder agradecer você do jeito certo – disse o castanho de olhos azuis encarando o de olhos da cor âmbar que sorriu gentilmente em sua direção.

- eu sei que vai – falou Stiles sorrindo antes de piscar um dos olhos para Kim.

O castanho de olhos azuis meneou positivamente antes de abraçar o homem de vestido apertado mais uma vez, para em seguida lhe dar um selinho rápido, surpreendendo a todos. O Matarazzo se afastou, permitindo a passagem do castanho. Peter pediu para que um oficial guiasse o rapaz para uma sala onde pudesse conversar com o mesmo mais tarde, quando retornasse.

- você... foi o homem que ajudou ele? – indagou o pai de Kim vendo o Stilinski lhe fitar.

- é por isso que ele... ? – questionou a mulher do homem abraçando o braço do mesmo.

- não – negou Stiles vendo a namorada de Kim lhe fitar com ódio, antes de dar as costas.

Stiles segurou a mão da garota, parando a mesma, que se virou furiosa para si, pronta para lhe atacar.

- ele não está normal – ditou o castanho vendo a garota sorrir irônica.

- é claro que não!

- Síndrome de Estocolmo – anunciou Stiles fazendo a moça lhe fitar com confusão.

- ele era obrigado a agir como a namorada do sequestrador dele. Sempre que ele fingia, ele ficava seguro. Então a sua mente, desesperada pela vida, produziu uma falsa paixão dele pelo homem que ele temia. Quando eu salvei ele e matei o homem que o torturou, a Síndrome transferiu a falsa paixão do sequestrador, para mim – explicou Alice vendo os pais do rapaz lhe fitarem apreensivos.

- e o...

- tempo e acompanhamento psicológico – respondeu o castanho de vestido antes de se dirigir para a saída, soltando um “vamos, Peter”.

















Alice caminhava pelo corredor da prisão, ignorando completamente o guarda atrás de si.

Ele não precisava se importar com aquele homem.

Aquele ser insignificante não valia o seu tempo naquele momento. Ele estava muito ocupado fazendo outra coisa.

A cada passo que dava, o homem sentia os olhares dos outros detentos sobre si. Não era algo fora do comum, já que, desde que entrara em Maybelle, toda a atenção estava se voltando para si graças ao seu jeito rebelde de lidar com a hierarquia entre os detentos. A surra que dera em suas três cartas, consideradas uns dos mais respeitados do lugar chamou a atenção dos seus companheiros de corredor, além do fato de ter transformado Josh em um subordinado seu. Para completar, quando queimara os olhos do presidiário da cela da frente com uma arma de choque, todos que presenciaram a cena finalmente perceberam que não deveriam brincar consigo.

Mas a prisão ainda era muito grande e muito mais populosa do que as pessoas imaginavam.

No entanto, ele tinha outras preocupações. Coisas mais importante do que aqueles criminosos mequetrefes que se achavam os melhores.

Ah, Stiles sentia tanta vontade de rir ao ver aqueles homens se gabando de seus feitos “incríveis” enquanto controlava a sua língua para não acabar magoando os egos inflados dos pobres iludidos.

- chega pra lá, vagabundo – ordenou o guarda empurrando o castanho algemado contra a grade, antes de abrir a cela.

- vem, lixo – ditou abrindo passagem para o detento adentrar a cela.

Stiles caminhou para o interior da cela com normalidade, antes de ser chutado para o interior pelo guarda de cabelos negros. O moreno xingou o castanho mais uma vez por estar tomando o seu tempo caminhando de forma tão lenta apenas para entrar na cela, enquanto fechava a mesma.

- é por culpa de gente como vocês que o país está uma merda, sua escória – ralhou o guarda ao ver o castanho cair no chão da cela como um boneco de pano.

O homem riu da cena.

Stiles apenas girou no chão e estendeu as mãos para o homem de farda que se aproximou e se abaixou diante de si para lhe soltar das algemas.

- você não vale nem a merda do cachorro do meu vizinho – ralhou o homem enquanto se erguia e cuspia no homem de braços enfaixados caído no chão.

O castanho sorriu largo, ainda caído no chão enquanto o homem saía da cela.

- o cachorro Binx do seu vizinho Thomas Wallace? –

A voz do castanho parou o moreno, que, surpreso, se virou para encarar o homem que sabia o nome do seu vizinho e até mesmo o nome do maldito cachorro em miniatura do mesmo. E foi quando se virou, já do lado de fora da cela, que o homem foi pego de surpresa, sendo arrastado para o interior da cela. O portão de ferro se fechou em um baque, antes de ser seguido por gritos de dor que ecoavam pelo corredor, mas que não duraram muito para serem substituídos por uma rizada infantil e aguda.

Chapter 41: Signature

Chapter Text

- e então? O que pode nos falar sobre ele? – indagou Derek ao adentrar o necrotério acompanhado de toda a equipe.

Stiles estava trancado em uma cela até que tudo estivesse esclarecido. Não era a vontade de Peter, mas era o protocolo que ele deveria seguir. Por mais que fosse um dos líderes da equipe, ele ainda deveria obedecer ao FBI. Sem contar que Stiles parecia estar descontrolado psicologicamente. O castanho não sabia dizer os limites de suas ações para o seu consciente, chegando a fazer coisas extremas sem precisão.

No hospital, durante a remoção da bala, o castanho, irritado, afastou as mãos da médica e fez, ele mesmo, a remoção dos projéteis, além de dar os pontos em si mesmo, ameaçando a mulher caso ela o tocasse novamente. Ele teve que ser sedado para a cirurgia. Uma das balas não havia acertado um órgão, como o paramédico temia que tivesse ocorrido. O projétil apenas havia atingido uma área com bastante circulação sanguínea, mas nada muito grave. Eles abriram um pouco o ferimento para poder parar o sangramento antes que se agravasse. Stiles estava preocupando Peter seriamente. Não quanto ao emprego, mas sim quanto a sua sanidade. Alice não poderia retornar a sua vida de crimes. O Tate chegava a duvidar que o país conseguiria sobreviver a outro ataque de Alice. A sua estrutura carcerária e policial estava demasiada fragilizada, e Alice era astuto demais para deixar de abusar desse ponto fraco do governo.

Um dia de fuga de Stiles e ele poderia transformar o país em um inferno em semanas. Ele poderia destruir tudo o que os Americanos levaram séculos para construir.

A legista e o seu assistente se viraram para a equipe, surpresos com a presença dos mesmos, mas também animados. Havia algo nos dois que exalava excitação, o que deixou os agentes e os detentos em alerta. Allison olhou para Erica, que lhe fitou com desconfiança.

- vocês parecem animados com esse corpo – comentou a Argent, curiosa.

- vocês não sabem o quanto! – exclamou o assistente, deixando o grupo mais confuso e curioso ainda.

- vocês não imaginam a peça rara que é esse homem! – exclamou a legista, animada, enquanto se erguia para poder conversar com a equipe.

- vocês chegaram na hora certa. Acabamos de estudar ele – disse o assistente, animado.

- e posso saber por que tanta animação por causa de um corpo? – indagou Vernon, desconfiado.

- se eu soubesse que fazia alguém feliz, teria me sentido menos culpada no início de minha carreira - sussurrou Erica para Isaac que riu da loura.

Derek os fuzilou com o olhar, mas os dois não pararam de rir.

Eles não ligavam mais para o moreno de olhos verdes e sua clara falta de senso de humor. O Hale era um homem azedo na maioria do tempo, sem qualquer indícios de que sorria ou ria. No começo, fora chato para eles. Terem de se recompor sempre que o homem os fuzilava com o olhar. Mas, agora, eles já não ligavam mais para ele. Eles se preocupavam mais com Peter e Allison do que os outros agentes que os cercavam.

- esse homem... Ele... É incrível que ele tenha sido assassinado e não tenha morrido por doenças – afirmou o assistente analisando o corpo sem cabeça deitado diante de si.

Isaac franziu o cenho.

- ele estava doente? – indagou, confuso.

- ele é quase a doença em pessoa! – exclamou o assistente de legista vendo o louro lhe fitar a espera de respostas.

- vamos começar pelo mais importante e o mais raro dele – disse a legista pegando a cabeça em mãos e a aproximando da luz que recaía sobre o corpo, propositalmente.

- e o que seria? – questionou Allison curiosa.

- olhem isso – falou a mulher pedindo para que o assistente segurasse a cabeça para si.

A mulher segurou no rosto do cadáver com uma das mãos, com o olho do mesmo estando entre o polegar e o indicador. Ela abriu o espaçamento entre esses dois dedos, abrindo o olhos do cadáver, revelando olhos que os federais nunca tinham visto antes.

- mas o que é isso?! – exclamou Scott, fascinado com a coloração e formação rara dos olhos do assassino morto.

- que tipo de doença deixa um olho assim? – questionou Derek, surpreso.

- bom, isso não é uma doença. É uma sequela. Mas mesmo assim é algo extremamente raro – respondeu mulher antes de apontar bem para a íris entre os seus dedos.

- este, meu caro agente, é o olho de alguém que levou um choque muito alto. Uma carga elétrica mortal, mas que ainda assim não pôde o matar – explicou a morena de jaleco vendo os agentes franzirem o cenho para si.

- ele foi eletrocutado? – perguntou Allison, surpresa.

- além de quebrado e decapitado, ele ainda foi eletrocutado? – questionou Derek incrédulo com a crueldade de Alice.

Tudo bem que o “Jaguadarte” não era flor que se cheire e merecia ser punido. Mas havia limites. E Stiles havia ultrapassado muitos, pelo visto

- sim e não – respondeu a mulher vendo o grupo franzir o cenho para si.

- ele foi eletrocutado, sim, mas não hoje, não essa semana, não esse mês – o assistente tentou explicar, mas apenas deixou todos mais confusos.

- eu... Acho que não entendi. O que isso tem a ver com o nosso caso? – indagou Vernon, curioso.

- eu já vou chegar lá. Este homem levou uma carga forte o suficiente para matar homens adultos, há muito tempo, mas conseguiu sobreviver. Eu não sei como ocorreu, mas algo o impediu de morrer neste ocorrido, mas não o impediu de sofrer o dano. Por isso os seus olhos tomaram esta aparência – ditou a legista, animada, antes de pegar imagens claras dos olhos do Jaguadarte. Os olhos possuíam veias destacadas nas extremidades laterais. A íris pareceu perder a sua cor nas bordas, mas tomaram uma cor azulada escura e intensa, quase preta, sumindo com pupila, além de apresentar linhas laranjas que formavam desenhos parecidos com estrelas.

- o que são essas estrelas? – indagou Allison apontando para as duas grandes estrelas presentes em cada um dos olhos do homem.

- são cataratas. Elas só surgiram em pacientes que foram eletrocutados com grandes cargas, até hoje. Vocês disseram que esse homem atirou em vocês, certo? –

- certo – respondeu Isaac, confuso.

- como era a mira dele? – questionou o assistente.

- ah... Boa. Ele quase me matou hoje com esse tiro – respondeu Derek vendo o homem olhar para a mulher com animação.

- qual é o problema? – perguntou Peter, perdido.

- todos os pacientes que apresentaram estas cataratas desenvolveram problemas em suas visões. Este homem deveria ser quase cego – respondeu a legista deixando a equipe tensa.

- então... Você está me dizendo que ele deveria ter um parceiro para conseguir atirar em nós daquela forma? – perguntou Allison, nervosa.

Se o Jaguadarte tivesse um cúmplice, o caso ainda não teria acabado, mesmo com a prisão de Stiles pelo assassinato do canibal. Além de terem falhado em conter Alice, eles teriam falhado em seu caso. Uma dupla falha séria.

- não – respondeu a mulher, com convicção, deixando todos confusos.

- sabem, o meu assistente foi quem fez a autópsia da primeira vítima do canibal na cidade. Eu pude presenciar o estrago no corpo da garota e posso garantir que um cego como alguém com esses olhos deveria ser não poderia fazer aquilo – afirmou a mulher vendo Peter franzir o cenho.

- isso não responde a nossa pergunta, apenas nos deixa mais certos de que não foi ele o assassino – argumentou Vernon dando de ombros.

- mas eu posso afirmar que ele foi o culpado – disse a mulher vendo Erica lhe fitar com esperança.

- eu fiz uma análise de um tecido vivo que encontrei nas unhas enormes deste cara. E adivinhem só: o DNA bate com o da primeira vítima, a criminosa do seu outro caso – disse se virando para uma mesa e entregando algumas folhas de papel para os agentes.

- isso quer dizer que ele a matou. E alguém que faz aquele estrago não pode ser cego – concluiu Derek vendo a legista menear positivamente.

- então ele não era cego, doutora? – indagou Isaac, confuso.

- este homem enxergava tão bem quanto eu e você – afirmou a mulher batendo no balcão com a palma da mão.

- isso não é tudo. Estão vendo essas rachaduras na pele dele? – questionou o assistente apontando para a bochecha do cadáver em suas mãos.

- não faz parte das queimaduras? – indagou Erica vendo o homem negar com a cabeça.

- ele tinha ictiose – informou animado.

- o que é isso? – questionou Peter, confuso.

- é uma doença da pele conhecida como “Doença da escama de peixe”. A pele resseca e começa a descascar, gerando uma aparência parecida com escamas na pele humana - explicou, animado, exibindo um a placa de Petri onde havia alguns pedaços de pele ressecada retirada do cadáver.

- no final das contas ele deveria ser mesmo um dragão estranho e feio – comentou Isaac finalmente notando, em meio há tantas queimaduras marcadas na pele, as pequenas marcas de pele ressecada.

O louro notou algo além das peles ressecadas.

- e essas marcas na pele dele? – questionou apontando para os braços do homem.

- outro ponto importante. Ictiose coça e arde. Ele tem unhas de ferro, implantadas para serem lâminas afiadas em seus dedos. Quando coçava os braços e rosto, ele se cortava – explicou o assistente, erguendo uma das mãos do cadáver e a usando em um grosso pedaço de carne ali perto, criando cortes no mesmo, parecidos com os da pele do homens morto. Os cortes se assemelhavam ao de garras de algum animal forte, como um urso.

- olha, se formos falar de todas as mazelas deste homem, é melhor pedirmos comida - disse a legista se afastando da cabeça e se aproximando mais o corpo.

- eu quero chinesa – disse Erica olhando para Peter que sorriu negando com a cabeça.

- adorei a ideia – brincou a legista, surpresa por a mulher não apresentar aversão a ideia de comer em um necrotério

- nós não vamos comer, Erica. Não agora – comentou o louro de cabelos penteados para trás, abraçando a mulher pelos ombros.

- vocês têm algo que possa ajudar a livrar ou incriminar o nosso parceiro? – questionou Derek vendo a dupla de jaleco se entreolharem.

- não muita coisa. Vamos começar pela decapitação – respondeu ajustando a luz para iluminar a carne exposta do pescoço do cadáver.

- já encontraram a arma do crime? – perguntou vendo o moreno de olhos verdes menear positivamente.

- encontramos um cutelo ensanguentado no meio dos destroços –

- um cutelo? – questionou a mulher, pensativa.

- sim. Por que? Não condiz com as marcas? – questionou Scott, curioso.

- não é isso. O corte foi feito por uma lâmina bem afiada. O cutelo deve ter uma lâmina assim, já que pertencia a um canibal. Mas, o que me deixa confusa é... Por que usar um cutelo e deixar esse corte tão perfeito? Um cutelo, normalmente deveria deixar marcas quando usado, já que ele é bom de penetrar, mas difícil de conduzir por ter uma lâmina tão grande. Mas quase não há marcas aqui – afirmou a mulher e todos viram, na tela ao lado da mulher, a reprodução da imagem em tempo real do corte no pescoço do Jaguadarte em um corpo digital tridimensional.

- vejam. Esses pontos dizem que ele parou de mover a lâmina pela carne da vítima, antes de voltar a cortar – explicou a mulher deslizando o dedo pela borda do pescoço, imitando como teria sido feito o corte.

- como se ele cortasse uma fruta ao meio com uma faca de mesa – comentou o assistente e todos puderam visualizar bem Stiles fazendo algo do tipo com o Jaguadarte.

No entanto, a pessoa que mais pôde reproduzir bem essa imagem fora Derek. Ele se lembrava de um dos primeiros casos que tivera naquela divisão. Quando fingiu ser um civil e fora convidado para um jantar na casa de uma mulher que seria a próxima vítima. Naquela noite, Stiles, que fingia ser seu par romântico, cortou a carne do jantar com uma habilidade surpreendente. As mãos do castanho movendo a lâmina da faca perfeitamente sobre a carne foram reproduzidas na mente de Derek. Mas a carne não era maisena um assado de forno, e sim o cadáver de um homem que se engasgava em seu próprio sangue, enquanto Alice mantinha um sorriso divertido nos lábios, de orelha a orelha.

- ele tinha noção do que estava fazendo – afirmou Allison vendo a mulher menear positivamente. A voz da agente de cabelos longos acordou Derek de seus devaneios.

- não precisava nem saber de como o corte foi feito para ter certeza disso. Esse homem foi imobilizado tendo todos os seus membros quebrados – comentou o assistente de legista cruzando os braços.

- eu já vi casos violentos. Mas esse daqui... Superou todos – afirmou a legista olhando com certa dó para o homem morto a sua frente.

- e vocês encontraram algo estranho nele? Digo, algo que não parece se encaixar nele? – indagou Peter um tanto discreto.

- na verdade, não – respondeu a mulher cruzando os braços, pensativa.

- já verificaram ele por dentro? – questionou o louro vendo a mulher franzir o cenho.

- está procurando por algo em específico, agente Tate? – perguntou a morena vendo o louro lamber os lábios.

- uma carta de baralho – respondeu Peter deixando todos confusos.

- uma carta de baralho? – questionou a mulher, incrédula.

- sim. Uma carta de baralho – respondeu o homem, olhando preocupado para o cadáver.

Erica seguiu o olhar do homem, mas não preocupada. Ela estava pensativa. Já havia ouvido Scott e Derek na cena do crime. Sabia que eles queriam Alice atrás das grades. Ela não concordava com os dois homens de jeito nenhum. Mas sabia que não poderia ir contra a investigação, muito menos livrar Stiles. Se o caso tivesse solução, Alice poderia ter mais chances do que se ele não tivesse. Peter já falara de Alice antes. Os casos do castanho não apresentavam solução alguma. Se este também não presentasse, ele seria declarado culpado de homicídio premeditado e não um homicídio em legítima defesa.

Ela precisava ajudar Peter a resolver aquilo.

Se Derek não servia para substituir o pai como parceiro de Peter nos casos de Stiles. Ela o faria.

- o estômago – a voz de Vernon despertou a loura dos seus devaneios.

- o quê? – indagou Derek, confuso.

- vocês olharam o estômago dele? – perguntou o Boyd vendo a legista lhe fitar indignada.

- é claro que olhei. Só tinha restos humanos – afirmou a mulher erguendo um recipiente transparente com uma gosma estranha.

- está tudo aqui – afirmou a mulher vendo o louro de cachos fazer uma careta para o conteúdo pastoso do recipiente.

- nada além de resto de carne, eu mesma enfiei minhas mãos nessa coisa para verificar se havia algo aí – disse a mulher vendo o louro suspirar, desapontado.

- mas faria sentido. O Jaguadarte era um canibal. Eu não me surpreenderia de encontrar a assinatura no estômago – comentou o McCall vendo Derek menear positivamente.

- assinatura? Ele é algum assassino em série? – indagou a legista, curiosa.

- ex. Cumpriu a sua pena em Alcatraz. Agora é um consultor do FBI – Vernon fora rápido em criar uma resposta convincente para a mulher. Uma resposta que não fugia muito da realidade.

- mas por que estaria dentro do corpo? – indagou Isaac, confuso.

- porque já aconteceu antes – respondeu Peter vendo o louro lhe fitar surpreso

- sério?

- uma vez, na boca. Eu nunca entendi o motivo das cartas – ditou o Tate já mentalmente cansado.

- não está no estômago – falou Erica dando a volta no corpo e se abaixando perto do pescoço.

- e onde está? – questionou Allison, curiosa.

- no caminho para o estomago – afirmou a loura olhando bem para a traqueia do cadáver.

- eu não analisei a traqueia – disse a legista puxando uma pequena lanterna e a apontando para o interior do buraco aberto

- tem alguma coisa ali – disse a mulher puxando uma pinça e a usando para pegar o estranho objeto.

- isso é... – a legista tentou falar, mas foi impedida pela surpresa ao analisar melhor o objeto.

- um dez de espadas – Peter concluiu assim que viu a carta, iluminada pela luz do necrotério, revelando uma carta de naipe de espadas com o nome “Alice” escrito na mesma em sangue.

- mas o que é isso? – questionou o assistente, confuso, vendo a chefe colocar a carta em um saquinho de evidências.

- a assinatura – respondeu Peter pegando a bolsa de evidência e se dirigindo para a saída do necrotério.















O homem olhava aterrorizado para o sorriso doce e divertido que era direcionado para si. Ele sentia todo o seu corpo doer. A sua última hora fora uma tortura sem fim. Ele teve dois dedos de suas mãos quebrados, assim como dois dos dedos de seus pés. Mas eles não foram apenas quebrados. Foram usados de brinquedo por aquele homem de cabelos castanhos e sorriso gentil. O infeliz os quebrou e depois ficou os movendo de um lado para o outro, para cima e para baixo, os colocando no lugar e os quebrando novamente.

Fora doloroso e estranho.

Ele não quebrou seus braços, nem as suas pernas. Apenas lhe quebrou os dedos e lhe deu uma boa surra. A dor acumulada dos seus ferimentos fora demais para a sua consciência suportar. No meio da surra, ele desmaiou. Quando acordou, estava algemado no chão, perto do banheiro, de onde ele não conseguia ver nem as barras da cela, quem dirá o corredor do outro lado das mesmas.

Agora, ele via o castanho sentado sobre o seu corpo, apoiado na beliche de péssima qualidade, com um sorriso direcionado para si.

- não esperava que fosse tão fraco para a dor – ditou o castanho encapuzado vendo o agente carcerário ter o ritmo da respiração acelerado com a aproximação e com a situação.

- fique longe de mim! – ditou o homem vendo o encapuzado lhe olhar de cima abaixo.

- não me parece que você possa ir contra qualquer vontade minha – argumentou Alice e o homem se encolheu o máximo que podia

- eu faço qualquer coisa – falou rapidamente, quase necessitado.

- eu sei que você faz – afirmou o castanho sorrindo mais.

- e o que quer que eu faça? – questionou o homem vendo o seu agressor lhe fitar com certa dó.

- seja meu – respondeu Alice deixando o homem confuso.

- c-como assim?

- é simples. No momento, você obedece a outro. Mas, a partir de agora, você obedecerá a mim – o mais novo se inclinou mais sobre o homem, quase se deitando sobre o mesmo.

- e se eu não obedecer? – perguntou receoso da resposta.

Stiles suspirou, cansado.

- por que vocês insistem em fazer perguntas das quais não querem ouvir a resposta? – o Stilinski questionou a si mesmo, revirando os olhos, antes de voltar a sua atenção para o homem deitado abaixo de si.

- eu vou ser bem simplório com você, já que a sua mente não parece ser das melhores: a sua família morre, antes de você morrer – Alice respondeu a pergunta do homem, vendo o mesmo engolir em seco.

- não pode fazer isso. Não daqui de dentro, se quer sabe onde...

- sua namorada trabalha de garçonete em uma cafeteria perto da prefeitura, a sua mãe faz pilates todas as quintas em uma academia perto de uma padaria que tem um ótimo bolo de chocolate. Você gosta, não é? O recheio adocicado e molhado do chocolate pastoso com a massa leve e molhadinha. Você come com frequência lá, já que é no caminho do trabalho para casa – Stiles sussurrou contra o rosto do homem sempre fazendo contato visual o tempo inteiro.

O carcereiro perdeu o ar com as afirmações tão precisas que o homem acima de si pronunciara sobre a sua família. Ele realmente sabia sobre toda a sua família. Pelo menos todos os entes que faziam parte do seu dia a dia.

- mas você ainda está aqui dentro – ralhou o carcereiro vendo o castanho sorrir largo, vitorioso.

- você realmente não sabe com quem você está falando, certo? – comentou Alice acariciando a face do outro com a ponta dos seus dedos.

- e o que te faz pensar que eu não vou te dedurar assim que sair daqui? – questionou o homem, tentando passar coragem, mas ele estava aterrorizado.

Alice gargalhou.

- você não tem coragem para isso. Mas não se preocupe, não vai ser tão ruim. Eu sei recompensar os meus. No final das contas, você vai gostar – disse castanho sorrindo doce para o homem, como uma criança.

- e como diabos eu vou gostar de ser um escravo? – indagou o guarda, irritado, vendo o outro se afastar, dando de ombros.

- bom, para começar, quem mexer com você, mexe comigo, então você será sempre protegido. E venhamos e convenhamos, você nunca quis ser um carcereiro. Você sonhava em ser policial, mas não conseguiu e isso foi tudo o que restou do seu sonho. É mais perigoso do que policial comum. O policial comum não é cercado por “vagabundos” e “escórias” que poderiam lhe cortar a garganta a qualquer vacilo, como neste momento – explicou o castanho puxando um quatro de espadas do bolso e o deslizando pelo pescoço do homem, criando um leve corte.

- imagine só, se, hipoteticamente falando, durante uma guerra de gangues, você acaba encurralado por ambos os lados. O que você vai fazer? Puxar a sua pistola de 10 balas e matar dez ou doze homens a cada bala? Porque nem mesmo eu consigo tal proeza. Dois é aceitável, três ou quatro depende muito da arma. E não, esta mixaria de revólver não vai lhe safar nem se Deus existisse e abençoasse as suas balas - ditou o castanho vendo o homem ter os olhos expandidos em sua direção.

- você...

- shiiiii – o castanho o calou cobrindo os lábios do homem com a carta, deitando completamente o seu corpo sobre o dele, aproximando os seus rostos, apavorando mais ainda o guarda algemado.

- eu disse “hipoteticamente falando”. Não comece com paranoias sem sentido – sussurrou Alice vendo o homem franzir o cenho em sua direção.

- eu não vou trair o meu país! – ralhou o homem vendo o castanho sorrir largo.

- tão ingênuo! Fica aí, dando o seu suor e sua vida por algo que se quer lembra que você existe – ditou Alice com diversão antes de se curvar sobre o homem novamente.

- onde o seu país fez quando você deu o seu sangue para ser policial e virou apenas um guarda prisional? O que o seu país fez quando o seu pai morreu em serviço? – indagou o castanho e os olhos do homem revelaram a surpresa em meio ao medo.

- eu vou lhe dizer algo que você ainda não entendeu. Você só tem duas escolhas, me servir de bom grado ou a morte – ditou Stiles pressionando a carta contra o pescoço do homem.

- como sabe que não vou trair você? – indagou o homem vendo o castanho sorrir largo.

- como eu vou saber? Ah, do mesmo jeito que eu sei de tudo sobre a sua família. Do mesmo jeito que sei muito sobre você. Você está pagando de corajoso apenas para ver se, em algum momento, eu vacilo diante de sua coragem e argumentos, mas a verdade, Nathe, é que você já aceitou. Porque você sabe que não pode comigo – respondeu Stiles vendo o homem, aos poucos, deixar a sua máscara cair, revelando o que o castanho já sabia que havia por detrás da mesma.

O mais puro desespero.

Não havia espaço para raiva naquele momento. Ele apenas tinha medo. Medo de perder a sua família, de perder a própria vida. Medo de perder tudo.

- eu aceito – disse o homem vendo o castanho sorrir largo e logo ele começou a chorar.

- shiiii, shiiii. Calma – Alice passou a confortar o homem enquanto o mesmo chorava.

- está tudo bem. Você é um dos meus, agora. Você está protegido – ditou o assassino soltando o homem, que nada fez, apenas permaneceu deitado no chão, refletindo, ao mesmo tempo em que as lágrimas caiam, agora em silêncio

Ele havia se metido em algo que poderia ou lhe matar, ou lhe mandar para a cadeia. O pobre homem não sabia o que fazer. Se alguém descobrisse que Nathe estava trabalhando com um detento, ele perderia o emprego e poderia ser preso. Mas se ele fosse contra aquele homem, muito provavelmente, ele morreria.

Estava condenado, teria que aceitar.

- está na hora de levantar e sair daqui como se nada tivesse acontecido. Diga que ganhou os ferimentos caindo da escada – falou o castanho vendo o homem lhe fitar com seriedade, antes de o receio o dominar, o fazendo se erguer.

- Nathe – chamou Stiles enquanto o homem abria a cela.

- o que é? – questionou em um tom irritado e choroso.

- fale com o Josh. Ele vai lhe explicar melhor as coisas – falou Stiles com um sorriso largo vendo o homem lhe fitar surpreso.

- J-Josh?! E-Ele... – Nathe gaguejou ao mesmo tempo em que mancava para fora da cela.

- diga que Alice mandou você, e chame-o por Arlequim. Se apresente como dois de paus – ditou o encapuzado, fechando a própria cela, deixando um carcereiro perplexo do lado de fora da mesma.

- t-tudo bem – falou Nathe, cabisbaixo, antes de começar a mancar pelo corredor.

Não demorou quase nada para que Josh aparecesse no corredor. Arlequim estranhou o companheiro de trabalho estar mancando daquele jeito e cheio de hematomas. Mas a mente do homem trabalhou rápido e ele logo ligou os pontos. Guarda espancado e cabisbaixo, aquele corredor, Alice... Tudo fazia sentido.

Mas Josh ignorou Nathe, momentaneamente, seguindo para a cela de Stiles. Ele não estava simplesmente desfilando pelos corredores. Ele ainda tinha que trabalhar para a prisão, apesar de estar sendo obrigado a servir Alice.

O moreno parou diante da cela, tratando de abrir a mesma, enquanto jogava algemas para Stiles.

- o que significa isso? – questionou Alice, curioso.

- tem alguém esperando por você – respondeu Arlequim vendo o castanho colocar as algemas, sorrindo.

- visitas? Mas ainda está tão cedo para eles virem falar comigo – comentou enquanto saia da cela calmamente.

- eu não sei quem é, mas parece ser um policial – ditou Josh vendo o castanho caminhar a sua frente com calma.

- não tem com o que se preocupar, Arlequim. Eu sei exatamente quem é – disse o castanho de capuz seguindo, fazendo uso de um ar costumeiro, pelo corredor, na direção da sala de visitas que sempre ia quando algum dos agentes lhe visitava em Maybelle.

Chapter 42: Confession

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Stiles chegou a sala de visitas, adentrando a mesma calmamente, sendo seguido por Josh, que o puxou pela corrente das algemas até a mesa. O moreno fardado empurrou o castanho com brutalidade contra a cadeira, fazendo o homem se sentar.

- estarei do outro lado da porta se precisar – disse Arlequim, olhando bem para o homem de terno, que meneou positivamente.

Alice olhou bem para a sala, notando que havia somente aquele homem ali.

Ele estranhou.

- estava a espera de alguém diferente? – indagou Scott após ver o castanho analisar a sala, como se esperasse mais alguém naquele cubículo de concreto.

- na verdade, sim. Quero dizer, eu esperava que você viesse, sim. Ninguém resiste ao meu charme magnético. Mas não esperava por você tão cedo. Pensei que fosse o Peter – confessou o castanho vendo o moreno lhe fitar com seriedade.

- me poupe de suas ladainhas – ralhou o McCall cruzando os braços diante do peito.

Alice se manteve em silêncio, assistindo ao agente cruzar os braços diante do peito.

- eu sei que você queria matar ele. Você sempre quis. Assim que viu o desenho no espelho, não foi? – comentou o moreno de olhos castanhos vendo o castanho colocar as mãos no colo e sorrir vitorioso.

- acha mesmo que isso vai funcionar? – indagou Alice vendo o homem lhe fitar confuso.

- isso o quê? – questionou Scott, desconfiado

- o modo como você me subestima é entediante – comentou o prisioneiro inclinando a cadeira e colocando os pés sobre a mesa, enquanto puxava um baralho do bolso.

- eu não estou entendendo a pauta de nossa conversa atual – falou McCall com inocência.

Stiles revirou os olhos.

- não tente me fazer de bobo da corte, Scott. Você pode não ser o mais aventurado na literatura da equipe, mas você é um bom agente em campo. Você deve saber, pelo menos, identificar quando um plano seu vai por água abaixo – ditou o castanho começando a embaralhar as cartas em sua mão.

- o FBI passou um ano apenas para me perseguir quando eu era apenas uma criança. Meses de interrogatórios e analises psicológicas foram feitos até que eu admitisse ser quem sou. E você acha que vai chegar até a minha pessoa com uma escuta barata e eu vou lhe revelar os meus mais profundos segredos como duas garotas em uma festa do pijama? – indagou o assassino vendo o moreno de queixo torto tomar um ar decepcionado antes de puxar um fio do bolso do terno e o colocar sobre a mesa.

- como soube? – questionou o moreno, curioso.

- um mágico não revela os seus segredos, rapaz – ditou sorrindo enquanto mostrava um valete de ouros para o moreno, que lhe fitou questionador pela carta.

- pronto, desligada – ditou enquanto desativava a escuta.

- se quer tentar arrancar algo de mim, deveria desligar as outras duas também. A do seu bolso, a câmera no lugar do seu botão e a escuta baixo da mesa – ditou Alice vendo as pupilas do moreno se dilatarem, surpreso.

- não sei do que...

O castanho revirou os olhos, suspirando.

Ele já estava cansado dos jogos do agente de queixo torto.

- você tem razão, Scott – o prisioneiro cortou o moreno antes de o mesmo terminar o que tinha para dizer.

Scott encarou o castanho, confuso, questionando o que o outro queria dizer com aquilo.

- eu sempre quis matar ele. Desde que eu olhei para o espelho com a assinatura dele – confessou Stiles deixando o moreno de olhos castanhos surpreso.

- você não sabe o quanto eu quis torturar ele. Você não sabe o quanto eu me diverti quebrando cada osso dele. Me imaginei arrancando as suas tripas lentamente, enquanto exigia um pedido de desculpas muito bem elaborado por ter tentado se comparar a mim... Por ter tentado entrar no meu País, por ter tentado me substituir por alguém tão medíocre e sem talento algum – o assassino cuspiu cada apalavra com o máximo de desdém que alguém poderia expressar, como se sentisse nojo apenas de pensar em tamanha audácia.

Scott franziu o cenho para Stiles, confuso. Por que diabos o castanho admitira tudo o que fizera, sendo que sabia que estava sendo gravado? Somente aquela declaração era forte o suficiente para colocar Alice de volta em Alcatraz.

Mas por que Alice se entregaria assim?

Algo estava errado.

Alice estava tramando alguma coisa. O McCall podia sentir isso. O assassino de cabelos castanhos simplesmente confessou o crime para as suas escutas, mas não demonstrava nada além de tédio. O moreno de olhos castanhos cerrou os punhos irritado. Se Alice pensava que iria se safar daquilo, se pensava que iria escapar de suas mãos, ele estava bem enganado.

- você tem um plano, não é? – questionou o agente vendo o castanho dar de ombros.

- na vida, nós sempre temos um plano, Scott. O problema é fazer ela seguir o curso do plano – respondeu Stiles e o homem a sua frente ficou mais furioso ainda, mas manteve a calma.

- se acha que vai escapar de voltar para Alcatraz você está muito enganado – ralhou o moreno de queixo torto antes ver o castanho puxar uma carta de tarot da manga de sua roupa.

- que carta é essa? – questionou Scott já sabendo muito bem que Stiles, por vezes, usava o simbolismo das cartas de tarot como uma pistas.

Alice riu baixo revelando a imagem da carta, que consistia em um homem vestido com roupas largas, em pé sobre uma pedra, carregando um bastão que estava apoiado em seu ombro, com uma trouxa de pano amarrada no final do bastão que se localizava em suas costas. Na carta havia, também, a imagem de um cão de pelo brancos, em pé, que arranhava as pernas expostas do homem de boina e roupas largas.

No final da carta havia o nome da mesma.

“O Louco”

O McCall franziu o cenho tentando entender o que aquilo poderia significar. No entanto, antes mesmo que pudesse pedir uma explicação do motivo daquela carta, o castanho se moveu, guardando a carta e batendo duas vezes com as mãos algemadas na mesa bem rápido.

- bom, foi um prazer ver você. Espero que venha me visitar com mais frequência - ditou o castanho enquanto se erguia, piscando um dos olhos na direção do agente, que se viu confuso com a ação repentina do prisioneiro.

- espere, não acabamos! Não pode sair assim! – exclamou o moreno de queixo torto vendo o castanho dar de ombros enquanto um guarda se posicionava atrás de si.

- na verdade, eu posso. Como isso não é um interrogatório formal, eu posso simplesmente lhe ignorar e voltar para a minha cama. Au revoir – argumentou Alice antes de dar as costas para o agente federal e sair da sala de visitas.

- filho da mãe – ralhou Scott socando a mesa de ferro enquanto via o castanho ser retirado da sala.



















- por que, exatamente, estamos aqui? – questionou Isaac vendo todos lhe fitarem com curiosidade

- porque o Stiles vai ser julgado – respondeu Allison vendo o louro dar de ombros como se dissesse “e daí?”.

- certo. Mas, por que Nós estamos aqui? – indagou enquanto apontava para si mesmo, Erica e Vernon.

- vocês fizeram parte da investigação. Viram o que nós vimos. Querendo ou não, vocês são testemunhas e precisam prestar depoimento – ditou Derek sério, vendo Lydia digitar freneticamente no teclado.

- mas nós já prestamos nossos depoimentos na cadeia. Por que fomos arrastados até esse lugar? – inquiriu Erica, igualmente confusa.

- é bom que vejam a pena de Alice de perto. Assim vão saber que não devem quebrar as regras – respondeu Scott e os detentos rolaram os olhos para as duas palavras.

- esse homem abre a boca e tudo o que eu sinto é uma vontade tremenda de abrir a cova dele – murmurou Erica, irritada.

- eu abro a cova. Apenas coloque ele dentro – ditou Vernon cruzando os braços diante do peito.

- certo, beleza. Mas por que diabos estamos nesse lugar tão... Inapropriado para um julgamento? Está parecendo mais que vocês vão executar ele – perguntou o Lahey olhando bem para o ambiente em sua volta.

Eles estavam no interior de um galpão quase vazio, com exceção de alguns equipamentos eletrônicos. Stiles estava algemado na cadeira no centro do galpão, sentado de frente para nove monitores voltados para a sua direção em um arco. Peter estava logo atrás do castanho, com a mão no ombro do mesmo. Por todos os lados, haviam agentes fortemente armados com pistolas de dardos tranquilizantes e fuzis.

Tanto Erica quanto Vernon estavam igualmente chocados com toda a segurança do local. Eles já imaginavam que Stiles fosse sofrer as consequências por ter matado o Jaguadarte, mas não esperavam que o FBI fosse fazer toda aquela movimentação por causa do assassinato de um criminoso canibal.

- vamos começar – ditou Lydia antes de apertar um botão e logo todos os monitores revelaram imagens escuras de sombras humanóides. Com exceção de um deles, que mostrava Gerard Argent, encarando o castanho sentado na cadeira com seriedade.

- falta o Deaton – disse Lydia estranhando que a imagem do computador do seu superior direto não revelava nada.

- me desculpem o atraso – ditou o homem adentrando o galpão calmamente, surpreendendo a todos.

- Deaton, não vamos nos responsabilizar por sua falta de prudência – alertou uma mulher encarando o homem de terno e guarda-chuva passar pelo castanho, despreocupadamente, surpreendendo a todos os membros do FBI.

- por favor! Se eu tivesse medo de alguém como ele, eu seria um simples civil e não um agente federal – falou o homem fechando o guarda-chuva um tanto molhado pela leve chuva que pegou antes de adentrar o galpão, se colocando diante do castanho, entre o mesmo e os monitores.

- finalmente! Um federal de verdade! E não uma criança mimada vestida de um – exclamou Stiles chamando a atenção de todos

- Stiles! – repreendeu Peter vendo o outro não se importar muito com a sua repreensão.

- eu achei um pouco pesado para a situação – ditou Isaac um tanto surpreso com a audácia do outro.

- mas não deixa de ser uma triste verdade – comentou Vernon e logo Derek, Scott e Allison se viraram em sua direção, ofendidos.

- o quê? É verdade. Todo agente com quem nos encontramos fica fazendo drama por ter que ver criminosos fazendo o trabalho deles. Se quisessem nos ver presos, que fizessem o seu trabalho sozinhos – ditou o Boyd, cruzando os braços e surpreendendo os agentes com a audácia.

- ele está certo – disseram Erica e Isaac em uníssono.

- você não deveria estar aí, Alan – repreender Gerard vendo o homem lhe fitar com um sorriso simplório.

- por que não deixamos isso para outra hora, Argent? – indagou o Deaton vendo o mais velho lhe fitar com seriedade, antes de o homem com um guarda-chuva se virar para encarar o castanho.

- acho que o caso dispensa apresentações, já que todos sabem o motivo desta... Reunião – comentou Alan vendo o Alice, elegantemente, cruzar as pernas.

- na verdade, eu não sei. Estava muito ocupado com outros assuntos do país – alegou uma das sombras nos monitores, se revelando ser um homem.

- em resumo, Alice quebrou uma das regras mais importantes do acordo. Ele matou alguém – explicou Alan encarando o castanho a todo momento.

- ah... Mas então por quê ainda estamos debatendo isso em um julgamento? Os outros dois detentos não tiveram essa chance de defesa quando cometeram as suas infrações – ditou o homem vendo, em seu monitor, todas as outras sombras concordarem com a cabeça.

- a nossa decisão parece ser unânime – falou Gerard olhando com seriedade para Stiles.

Alice sorriu de orelha a orelha.

- eu não teria tanta certeza disso – a voz de Stiles chamou a atenção dos superiores do FBI.

- quieto, besta! – ralhou um dos homens, surpreendendo os agentes de campo com o tratamento nada formal.

Aquele homem parecia se envolver muito com a presença de Alice, ali, mesmo estando há quilômetros de distância.

- por mim, mandávamos cravarem o seu corpo de bala até você se parecer com uma peneira agora mesmo – ralhou o homem vendo o castanho gargalhar.

- você é engraçado – disse o castanho jogando levemente a cabeça para o lado.

- vamos detalhar um pouco mais o caso. O detento fugiu duas vezes seguidas durante o caso. Uma quando caçavam o primeiro assassino, uma mulher que chantageava as vítimas para se matarem, inconscientemente, diante do computador. A segunda vez foi já no caso em que o assassino fora a sua vítima. Nesse caso, em específico, vale ressaltar que ele apontou uma arma para os agentes, além de sumir por dias, antes de ser pego na cena do crime com a cabeça do assassino em seu colo – falou uma das mulheres vendo todos os outros, em seu monitor, atentos ao debate.

- vocês, membros da equipe, tem alguma objeção contra as acusações? – indagou a mulher e todos os agentes negaram prontamente.

- detentos? – questionou Alan e, contrariados, eles negaram.

- lembrando que estas são violações graves do acordo. Fuga; porte de arma e assassinato. Como você se declara diante da situação, Alice? – pontuou a outra mulher da equipe de nove líderes do FBI, vendo o castanho mastigar o nada, produzindo um leve som de sua língua molhada se separando do céu da boca, assim como os seus lábios se abrindo algumas vezes, como se ele provasse alguma iguaria e tentasse identificar o seu sabor.

- culpado – respondeu o castanho, sorrindo.

Peter suspirou, negando com a cabeça.

As vezes, o gênio de Stiles era muito difícil de se lidar. O castanho poderia ser pior do que uma criança quando queria.

- acho que não precisamos de mais nada. O joguem novamente em Alcatraz – ditou outro homem enquanto se jogava encostado em sua cadeira.

- eu não iria saindo de fininho tão rápido assim – ditou Stiles erguendo as mãos algemadas e apontando para o homem na tela quadrada.

- o que você faria ou deixaria de fazer não me interessa – ralhou o homem cruzando os braços diante do peito.

- e como vai ver eu me livrando de vocês novamente? – questionou Alice fazendo todos lhe fitarem em questionamento.

Alice sorriu com a atenção recebida e se ergueu, no mesmo instante as algemas que prendiam os seus pulsos caíram no chão, fazendo todos os líderes atrás dos monitores soltarem exclamações de medo. Eles não temiam ser feridos, estavam longe demais de o castanho, que se quer sabia onde estavam. Eles temiam pelo Deaton que se encontrava diante do criminoso pessoalmente. Não demorou nem um segundo para todas as armas do galpão serem apontadas para Stiles.

- em minha defesa, não é como se eu tivesse fugido no intuito de matar ele. Eu o encontrei e ele me atacou. Foi apenas autodefesa. Até tiro eu tomei. Era ele ou eu! – argumentou o castanho retirando a camisa que usava, revelando todos os ferimentos em seu torso causados pelos implantes metálicos do homem que matou.

- isso não prova muita coisa. Sabemos do que você é capaz – alegou um dos homens e Alice voltou a se vestir.

- vocês são uns ingratos, sabiam? – acusou Stiles deixando todos nervosos quando ele passou a caminhar.

Um tiro de aviso fora disparado diante do seu pé, mas o castanho não se importou e continuou, fazendo questão de pisar o local onde a bala atingiu o chão.

- se ele se aproximar de Alan, matem ele – ditou uma das mulheres e todos os agentes armados responderam apenas preparando os fuzis contra Alice.

- quer mesmo me matar? – indagou Stiles, sorrindo sugestivo para a mulher, colocando a mão sobre o próprio coração, dramatizando.

A mulher se manteve calada.

- não o matem. Apenas o contenham – ordenou Gerard e logo todos trocaram para as armas de dardos tranquilizantes.

- eu dou um presente para vocês e é assim que sou tratado?! Assim vocês me machucam o peito – dramatizou Stiles deixando todos, até mesmo Peter, confusos.

- um presente?! Desde quando matar é um presente?! – exclamou um homem, furioso.

Alice rolou os olhos.

- ah, lá vem vocês com a hipocrisia! – reclamou dando as costas e seguindo para Peter, circundando o mesmo.

- centenas de pessoas inocentes são mortas por armas de policiais. As vezes, pelas armas dos seus homens incompetentes. Pessoas que são remuneradas para empunharem uma arma na cabeça de adolescentes, em sua maioria negros, por puro medo. Medo de serem baleados primeiro. Medo que os tornam incompetentes. Medo que os fazem matar em sua “falsa defesa”. Então, me digam, reis da hipocrisia, por que eu não posso matar em minha defesa? Se alguém me ameaça de morte, eu mato. Igualzinho a vocês. – ditou o assassino com a sua voz calma e gentil.

O silêncio fora dado como resposta.

- um monstro como você não deve ser comparado a um dos nossos – argumentou uma mulher.

- todos são iguais perante a lei. Não é isso o que vocês alegam? Todos devem ser julgados igualmente por seus crimes, independente de seus motivos. Isso não lhe soa familiar? – Alice provocou com um sorriso largo no rosto.

Novamente o silêncio. Nenhum deles conseguia tirar a razão por trás das palavras do assassino.

- diga-me, vocês são do FBI, não? Devem saber, no mínimo, o tipo de pena de cada crime, certo? – inquiriu o castanho deslizando uma das mãos ao redor da cintura do louro que circulava.

- aonde quer chegar? – indagou Alan vendo o criminoso sorrir ladino.

- seria, a pena para canibalismo, a morte? – questionou Alice, sorrindo venenoso para os líderes do FBI, que se viram surpresos com as palavras do castanho.

- sim, é, mas...

- estou certo de que, como havia bastante conteúdo com DNA em sua boca e estômago, vocês não teriam problemas em provar a culpa dele e o matariam logo após a primeira audiência no tribunal – argumentou Stiles vendo Alan encarar a si com curiosidade.

- então você tomou a liberdade de adiantar o processo? – questionou o Deaton, acusatório.

- eu... não veria por esse lado. Mas você pode ver se assim quiser – comentou Alice, retirando um baralho do bolso.

- e por qual ângulo você veria? – indagou Gerard vendo o castanho sorrir retirando, aleatoriamente, um dez de espadas do baralho.

- eu veria como... Uma passada de corretivo em um trecho mal escrito de uma história qualquer – respondeu o mais novo como quem não quer nada.

Todos franziram o cenho em sua direção.

- o que você quer dizer com isso? – indagou Lydia vendo o castanho lhe encarar com um sorriso no rosto.

- digamos que... Quando eu era mais novo, eu... Acidentalmente, tenha deixado ele em uma mansão em chamas depois de ter esfaqueado ele e o deixado para sangrar até a morte – respondeu o castanho, girando a carta de espadas entre os dedos.

Um homem atrás da tela gargalhou.

- está me dizendo que alguém sobreviveu a você? – indagou enquanto terminava de rir.

- não mais – ditou Alice encarando o homem fixamente e vendo o mesmo parar de rir.

- isso nos leva ao ponto principal: quando você deve voltar para Alcatras – falou o homem se curvando um pouco sobre a mesa a qual estava sentado.

- hm... Pode ser que demore um pouco – comentou Stiles guardando a carta no baralho novamente.

- e por que pensa em tal absurdo? – questionou uma das mulheres vendo o castanho sorrir ladino.

- por que?! Ha! Porque essa equipe é como um castelo de cartas – respondeu se abaixando perto da cadeira onde deveria estrar sentado e algemado, passando a montar um mini castelo usando apenas oito cartas - É bonito e interessante, mas possui uma estrutura frágil. As habilidades de cada um são únicas. E, se você tirar uma carta do castelo... – explicou retirando uma carta e logo todo o castelo foi derrubado.

- acha mesmo que vai se safar só porque as suas habilidades são únicas na equipe? – indagou Gerard vendo Alice lhe fitar com seriedade, quase tédio.

- eu não acho. Eu tenho certeza – Stiles respondeu se sentando novamente e cruzando as pernas elegantemente.

- o que te faz ter tanta certeza? – questionou uma mulher, curiosa.

- o fato de que o ridículo que eu decapitei era um foragido da justiça desde que eu o esfaqueei. Eu não apenas me vinguei pelo desgraçado ter sobrevivido e brincado comigo, como também eliminei um nome importante em sua lista de procurados – ditou o castanho vendo o Deaton franzir o cenho, questionador.

- e como sabe que ele está em nossa lista de procurados? Se quer sabemos quem ele é, ainda – argumentou o homem vendo o castanho revirar os olhos.

- Sebastian alguma coisa. Procure por assassino de crianças há uma década atrás – ordenou Stiles encarando Lydia, que o observou com desconfiança, antes de se virar para o computador ao seu lado e passar a digitar.com velocidade.

A ruiva ficou em choque ao ver que a busca no banco de dados havia dado certo. Na tela a sua frente havia a imagem de um homem um tanto bonito, de aspecto calmo e simpático.

- ele era o Jaguadarte?! – indagou a ruiva, surpresa.

- Sebastian Crane. Perseguido por assassinato e estupro de várias pessoas. Desde crianças a adultos, independente do gênero. Os arquivos dizem que até necrofilia era praticada por ele – Alisson descreveu os crimes pelos quais o FBI acusava o homem. Deaton puxou o celular e discou o número de alguém.

- faça a análise do sangue da vítima de Alice com o de Sebastian Crane do nosso banco de dados. Agora. Quero o resultado o mais rápido possível – ordenou antes de encerrar a chamada

- agora eu que queria ter arrancado a cabeça dele – comentou Erica cruzando os braços e apertando os mesmos com força entre os dedos.

- como que ele passou de estuprador assassino para canibal? – indagou Isaac, curioso.

- a pergunta principal não é essa – ditou Scott estreitando o olhar na direção de Stiles.

- como sabia que ele era um procurado pelo FBI? – perguntou Gerard vendo o castanho sorrir ladino.

- eu já sabia que ele era um procurado na época em que o esfaqueei – respondeu Alice se erguendo de prontidão, assustando os agentes que estavam de guarda.

- e como soube que ele era esse homem? – indagou um dos homens misteriosos unindo as mãos diante do queixo e apoiando o mesmo nos polegares, pensativo.

Alice alargou o sorriso.

- ah, mas essa foi uma boa pergunta – ditou o assassino dando uma breve risada baixa.























Alice, em um movimento rápido, colocou o cutelo diante do seu coração. Ele sabia que o outro não estava mirando em sua cabeça. A grande lâmina do cutelo serviria de escudo para o seu coração, impedindo que o homem lhe matasse. Mas, devido a dor de ter que erguer e formar um braço quebrado, fazia com que o Jaguadarte tremesse demais.

Ele mirava no coração do castanho de vestido, mas apenas conseguiu acertar a lateral do torso, fazendo a bala se encaixar entre duas costelas do homem, quase acertando o pulmão de raspão. Com o ricocheteio da arma, o ângulo mudou quando o encapuzado se preparava para o segundo disparo. Ele sabia que não tinha tempo para mirar toda vez que desse um tiro. Alice iria descobrir um modo de chegar até si em breve, mesmo que ele estivesse armado.

O segundo tirou passou bem ao lado da cabeça do castanho. Ao ver que não acertou, o encapuzado abaixou a arma, tentando mirar mais no torso. Alice, em um movimento ágil, girou sobre o calcanhar esquerdo, se movendo para o lado, antes de trocar o calcanhar de apoio, para que pudesse se afastar mais antes de voltar a ficar de fronte para o criminoso.

O Jaguadarte teve um pouco de problema para mirar novamente em Alice. Ele sabia que o castanho havia descoberto um jeito de chegar até si e, desesperado, disparou aleatoriamente o terceiro tiro. O disparo acertou o abdômen de Alice, enquanto este agarrava uma cadeira com a mão e a erguia em meio ao giro, a lançando em seu atirador.

Desesperado para se defender da cadeira, o homem repleto de cicatrizes largou a arma e ergueu as mãos na direção do objeto.

Péssima ideia.

Quando a cadeira acertou as suas mãos e ele a segurou, os ossos quebrados foram empurrados com o impacto, gerando uma dor inexplicável para o homem, que sentiu quando o osso do seu braço esquerdo rasgou a sua carne, quase passando de uma fratura interna para uma fratura exposta.

O Jaguadarte gritou de dor, não percebendo quando Alice correu em sua direção. Assim que ele percebeu a aproximação, o castanho já havia chutado a arma para longe.

- NÃO! – gritou o assassino de pele cicatrizada, chorando de dor e medo.

- tsc, tsc, tsc. Mas você é um menino muito levado, sabia? – comentou Alice se abaixando e se sentando no colo alheio.

- que tipo de punição eu devo dar a você? – murmurou pensativo deslizando o polegar, sensualmente, pelos lábios marcados de cicatrizes.

- devo lhe fazer em picadinhos? Hm... Não, levaria muito tempo. Hm... Tiros não tem graça – o castanho narrava os seus pensamentos enquanto expressava, em seu rosto, uma inocência quase surreal.

O Jaguadarte riu sôfrego.

Ele já havia aceitado.

Aquele era o seu fim.

Talvez fosse disso que Branco estava falando mais cedo. Era disso que ele estava lhe alertando. Ele não deveria se aproximar de Alice assim.

- já sei! – exclamou homem de vestido, sorrindo largo para a sua vítima.

- eu vou...

- me esfaquear e me deixar para morre nesse lugar em chamas? Quanta ironia! – indagou o Jaguadarte, já não se importando mais em tentar achar um modo de sobreviver.

Não havia como sobreviver.

Pelo menos não uma segunda vez.

- hã? – Stiles o fitou confuso.

- do que você está falando? – perguntou Alice curioso.

- estou falando da última vez em que você tentou me matar. Você não deve se lembrar... –

- não mesmo. A lista é muito grande. Pode agilizar o processo? – argumentou o assassino com cutelo na mão curioso.

O Jaguadarte riu.

- você não se lembra de quando foi matar ela? Não lembra de ter me esfaqueado enquanto a minha rainha fugia de você? – questionou o homem de cicatrizes vendo o castanho ficar pensativo. Mas, ao ouvir toda a pergunta, Alice teve as pupilas dilatadas.

Em sua mente, um flashback de uma noite escura em uma fazenda com uma grande mansão no centro veio com intensidade. Em uma de suas mãos havia uma faca e na outra uma arma. Ele encarou o homem no qual estava sentado, vendo que ele tinha um sorriso sôfrego levemente familiar para si.

- eu era Sebastian Crane. O faz tudo dela. Eu era o favorito! ELA ME AMAVA! – ditou o homem de membros quebrados gritando a ultima parte com orgulho.

- ela tinha quinze anos! Ela só usava você – argumentou Stiles, irritado pelo rumo que a conversa estava tomando.

O castanho se levantou do outro, rolando para o lado e se sentando a lado de sua vítima, um pouco mais afastado. Ele já havia se lembrado de quem era aquele homem ao seu lado. E ele sentia o ódio crescer em seu peito rapidamente.

- assim como usaram você – o homem rebateu e o castanho abaixou a cabeça, escondendo o rosto ao virar para o outro lado.

- sabe? Quando você a matou, eu pensei que você era melhor do que ela. Pensei que seriamos melhores juntos, do que eu com ela. Mas, agora, eu sei. Você pode tentar o quanto quiser. Ela era melhor do que você. Ela sempre foi melhor do que você. Ela é que deveria

O homem fora calado quando o cutelo adentrou o seu pescoço com força, parando somente quando atingiu as vertebras localizadas no mesmo. Sebastian se assustou com o movimento repentino e com a dor em seu pescoço. Mas, quando Alice removeu o cutelo e o sangue jorrou, ele perdeu o medo da morte novamente.

Dessa vez era para valer.

Não tinha como ele sair vivo depois de um ferimento daquele. Ele olhou para o lado, com o intuito de ver sua amada Alice mais uma vez, mesmo depois de terem brigado de forma tão severa. Para a sua surpresa, Alice não estava abalada com as suas palavras. Muito pelo contrário. Alice sorria excitada.

- sabe o que eu entendi do que você falou? Blá, blá,bla, blá blá blá, blá blá, blá!- ditou o castanho cerrando o punho ao redor da empunhadura do cutelo que usava como arma.

Uma risada alta e intensa fora emitida de sua garganta , chamando a atenção do outro assassino, que apenas moveu as irizes em sua direção. Ele estava impossibilitado de mover a cabeça devido a dor em seu pescoço.

- eh? Ela melhor do que eu? Mão me faça rir. Se ela fosse melhor do que eu... Se algum deles fosse melhor do que eu, estaria aqui com você no meu lugar tendo que aturar toda essa sua birra infantil. Faça um favor para todo mundo e, dessa vez, realmente morra. Pois se você voltar da porta dos mortos mais uma vez, eu vou me certificar de que cada um dos familiares de suas vítimas saiba qual é o gosto de sua carne – ditou o castanho enquanto via o homem dar o seu último suspiro, já sem forças para poder lhe responder. Ele também não conseguiria. Quase toda a sua musculatura do pescoço fora atingida, assim como a maioria das veias que se encontravam no caminho do cutelo, que agora jorravam sangue descontroladamente, fazendo o homem se afogar no próprio sangue.

Se erguendo, Alice se aproximou do corpo, antes de se abaixar. Ele passou a deslizar a lâmina do cutelo, cirurgicamente, pela carne do pescoço alheio. Simulando um golpe único e perfeito, antes de simplesmente puxar a cabeça alheia com força, separando as vértebras e decapitando o cadáver.

- agora, vejamos. Qual eu devo usar? – murmurou pensativo enquanto passava a procurar por seus baralhos, os quais a sua vítima confiscara de seus bolsos quando lhe sequestrou.

Assim que encontrou o que queria, o homem de vestido retornou para o cadáver, com o baralho aberto em sua mão como um leque. Ele analisava as cartas cuidadosamente, parado próximo ao cadáver que ainda despejava sangue pelo pescoço. Alice puxou um valete de paus e passou a olhar para o mesmo, pensativo. No fim, ele acabou pegando um dez de espadas e um pequeno e afiado pedaço de lasca de madeira. O castanho passou a usar o pedaço de madeira de caneta para escrever “Alice” na carta com uma bela letra, usando o sangue de Sebastian como tinta.

Ele abanou a carta, para que o sangue secasse, antes de a deixar perto presa entre os dentes da cabeça apoiada na pia. Enquanto esperava o pescoço de sua vítima parar de sangrar, ele decidiu finalizar a sua maquiagem para que quando a polícia chegasse ele estivesse perfeito.

Chapter 43: Father

Chapter Text

- você ficou sabendo? – indagou Raphael enquanto adentrava o escritório de Chris com um copo de café.

- sabendo sobre o quê, exatamente? – perguntou Chris não se importando muito com a imagem do parceiro, se concentrando mais nos relatórios que estava fazendo.

- Alice foi preso por matar o suspeito – respondeu o McCall analisando bem a reação do parceiro enquanto bebia o próprio café.

Chris parou o que fazia imediatamente, olhando com descrença para o parceiro. Raphael meneou positivamente, sabendo muito bem que o homem estava lhe questionando a veracidade da informação. O Argent jogou a caneta que usava sobre a mesa, revoltado.

- eu sabia! Sabia que era loucura deixar aquele delinquente maluco a solta! – exclamou o mais velho vendo o parceiro fazer uma careta de “eu avisei” enquanto engolia o café em sua boca.

- mas, pelo menos, ele já vai voltar para Alcatraz. Houve quebra de regra do acordo. Ele vai voltar para aquela caixa de titânio antes mesmo de poder falar o próprio nome. E sem matar nossos filhos – comentou Raphael vendo o lado positivo do ocorrido.

- local de onde nunca deveria ter saído – ditou o Argent vendo o parceiro concordar em um meneio de cabeça, antes de bebericar mais um gole de café.

- hm – o McCall o chamou com a boca ocupada com café, indicando que queria falar.

- eu dei uma olhada no relatório entregue ao Deaton pelo meu filho. Alice decapitou o suspeito enquanto usava um vestido – falou vendo o parceiro ficar em silêncio, pensativo. Mas o ar de nervosismo do Argent era evidente.

- um azul? – indagou cobrindo o queixo com as mãos unidas ao apoiar a cabeça nas mesmas.

- rodado e com bordados brancos – respondeu levando o copo de café aos lábios.

- ainda bem que vai acabar com essa loucura – Chris confessou o seu alívio com a provável prisão de Alice desviando o olhar para a sua mão esquerda, vendo uma das cicatrizes que ganhou do garoto de onze anos quando fora atacado pelo mesmo assim que o prenderam.

Alice havia lhe encurralado naquele dia, de uma maneira que ele achou que não fosse sair vivo daquela emboscada. Aquele foi o dia em que Chris havia acreditado para valer em Alexander. O dia em que ele acreditou em algo que julgava impossível.

Batidas foram ouvidas na porta e os dois homens desviaram o olhar para a entrada da sala de Chris, vendo um castanho de olhos azuis vestindo um jaleco branco os encarar um tanto curioso.

- com licença – pediu antes de adentrar o local.

- espero não estar interrompendo nada – acrescentou assim que se colocou em pé ao lado dos dois mais velhos.

- não se preocupe – disse Raphael enquanto se erguia com um certo esforço já que a sua coluna protestou contra o ato por ele estar sentado de maneira desleixada.

- você não está interrompendo nada – completou assim que se ergueu.

- terminou a análise que pedimos, Matt? – indagou Chris vendo o castanho da idade de sua filha lhe entregar algumas poucas folhas de ofício grampeadas.

- terminei. O pó azul encontrado nas narinas da vítima que encontraram hoje cedo é realmente a mesma droga das outras vítimas, como todo mundo suspeitava – explicou vendo Chris analisar os documentos entregues a ele, enquanto Raphael suspirava.

- mais um confirmado – murmurou McCall, frustrado.

Eles já estavam nesse caso há um tempo. As vítimas não eram frequentes, mas, até mesmo para um caso deste tipo, eles estavam demorando para solucionar o mesmo.

- mas, há algo de diferente nesse cara – anunciou Matt chamando a atenção dos dois agentes mais velhos.

- diferente dos outros, a droga não fora o motivo da morte dele. Ele não sofreu de choque anafilático como os outros. A bala na cabeça dele não foi um disfarce, como pensávamos. Esse homem foi assassinado – explicou o Daehler vendo os dois homens lhe encararem, surpresos.

- então ele não ingeriu a droga? – indagou Raphael, confuso.

- na verdade, ele ingeriu. Após o efeito da droga passar, o balearam na testa – afirmou o castanho de olhos azuis.

- por que o matariam depois  de ficar chapado? – perguntou Chris, para si mesmo, enquanto encarava o nada, pensativo.

- talvez tenham completado a droga – comentou Raphael vendo o parceiro lhe encarar preocupado com a possibilidade.

- não faz sentido. Por que matariam alguém que saberia a quem comprar o que queria? – questionou Chris não entendendo o ponto da morte.

- talvez quisessem ocultar rastros. Se a vítima pudesse lembrar onde foi sequestrada, talvez chegássemos perto de descobrir quem foi o culpado pelo rapto – comentou Matt vendo os dois mais velhos lhe fitarem pensativos.

- talvez – murmurou o Argent

- ou talvez eles quisessem apenas se livrar de um estorvo. Pensem bem. Eles são grandes produtores. Por que iriam querer perder seu tempo atendendo um qualquer? Uma pessoa só iria apenas gerar alguns dólares. Dezenas, talvez centenas. Eles liberam cadáveres em vários pontos do país. Não é um simples esquema. É um grupo grande. Manter um ninguém por perto gera apenas perda de tempo e riscos que poderiam ser evitados – argumentou Raphael vendo os outros dois lhe encararem pensativos.

- esse caso se complica cada vez mais – murmurou o Argent, pensativo.

- aliás, a análise do pó azul usado em sua casa que eu fiz finalmente deu resultado – falou o castanho entregando um papel para o moreno com copo de café em mãos.

- e o que era? – questionou Raphael analisando bem o documento a sua frente.

Era uma comparação da composição química de dois compostos.

- a mesma droga encontrada dm todos os corpos do seu caso – afirmou o castanho vendo um olhar preocupado tomar a expressão do mais velho, que encarou o parceiro

- eles descobriram a gente – afirmou Raphael e Chris coçou a barba, nervoso.

- tudo bem. Está tudo bem. Melissa já está sendo acompanhada por uma agente de campo – ditou Raphael tentando acalmar a si mesmo.

- Matt. Você já comparou a droga encontrada em nossa última vítima com as drogas das vítimas anteriores? – indagou Chris, curioso.

- eu já fiz uma comparação, sim. Eu faço sempre que encontram uma vítima nova – respondeu o homem de olhos azuis vendo um feixe de esperança surgir nos olhos do mais velho.

- a composição e a estrutura são as mesmas. Idênticas. Sem tirar, nem pôr – respondeu o castanho e os dois homens suspiraram em derrota.

- as coisas estão indo bem mal – comentou Raphael vendo o parceiro menear positivamente.

- do jeito que as coisas estão indo, é capaz de passarem o nosso caso para eles – ditou Chris se recostando a sua cadeira, jogando a cabeça para trás e suspirando.

- não desanimem. Vocês são os melhores de nossa sede. Sei que vocês vão resolver isso mais cedo ou mais tarde – o castanho de olhos azuis tentou animar a dupla, antes de sair da sala com velocidade, fazendo o seu jaleco balançar a medida em que ele avançava.

- ele tem razão. Somos os melhores da sede – comentou o McCall se erguendo.

- se a nossa equipe não conseguir resolver esse caso. Quem vai? – argumentou enquanto se retirava da sala de Chris, seguindo para a sua.

O Argent nada disse. Ele estava mais preocupado em pensar do que em responder o parceiro. Chris tinha resposta, sim, para a pergunta de Raphael, mas não lhe seria conveniente responder ao outro. O homem precisava de incentivos, não de desânimos.

O agente puxou as folhas entregues para si pelo melhor analista de toda a sede. Matt fora uma boa adição a sua equipe desde que fora indicado ao cargo. O mais novo era incrivelmente eficaz em seu trabalho, assim como ajudava a incentivar o resto da equipe quando necessário.

Em um suspiro, o homem encarou bem a fórmula química a sua frente.

- quem diria, não é? Depois de tudo, isso voltaria a nos assombrar... – murmurou o homem de cabelos morenos com alguns bons fios grisalhos, antes de jogar as folhas sobre a mesa.

















- o que você tem a dizer sobre a gravação? – indagou Gerard assim que a gravação feita por Scott fora finalizada.

- parece que, no final das contas, não foi um ataque defensivo – comentou uma das mulheres vendo o castanho sorrir ladino.

- vocês fazem tanto estardalhaço por algo tão banal! – exclamou Alice, revirando os olhos.

- o seu silêncio perante a nossa pergunta é uma confissão? – questionou a outra mulher, inclinando-se para a câmera.

- confissão do quê, minha querida? Eu já confessei que matei ele. Vocês sabem que eu matei ele. Do que devo me confessar agora, madre Tereza? – Alice argumentou de maneira grossa.

- o que queremos saber é: mais cedo, você disse que apenas se defendeu, mas, afirmou, para o agente McCall que estava determinado a matar o suspeito assim que o mesmo surgiu no caso. Como explica essa diferença gritante entre os seus discursos? – questionou Alan cruzando os braços, tomando uma expressão pensativa enquanto esperava uma resposta por parte de Alice.

Stiles olhou para Peter com confusão nos olhos.

- é normal os membros do FBI apresentarem uma inteligência tão baixa? Digo, até agora você e Alexander foram os únicos realmente inteligentes que eu encontrei – questionou Stiles irritando a todos os agentes presentes.

- Stiles – repreendeu Peter e o castanho ergueu as mãos.

- estou falando sério. A resposta pra essa pergunta é tão óbvia! Quer ver? O Isaac não é um agente do FBI. Não foi treinado para nada, mas ele vai saber – argumentou o castanho se virando para trás, ainda sentado.

- Isaac, pode responder? – indagou Alice vendo o louro de cachos lhe fitar surpreso.

- ah... Pode colocar a gravação de novo? – pediu o louro e Lydia deu play na gravação mais uma vez.

“- você tem razão, Scott –

- eu sempre quis matar ele. Desde que eu olhei para o espelho com a assinatura dele –

- você não sabe o quanto eu quis torturar ele. Você não sabe o quanto eu me diverti quebrando cada osso dele. Me imaginei arrancando as suas tripas lentamente, enquanto exigia um pedido de desculpas muito bem elaborado por ter tentado se comparar a mim... Por ter tentado entrar no meu País, por ter tentado me substituir por alguém tão medíocre e sem talento algum -”

Isaac ficou pensativo durante toda a reprodução. Ele sentia que havia algo que Stiles queria dizer com aquilo. Havia algum tipo de trapaça naquela gravação. Algo que Stiles havia feito para passar a perna em Scott e nos outros agentes. Mas como raios ele, um homem que se quer terminou o ensino médio poderia descobrir algo que nem mesmo agentes muito bem treinados perceberam?

é normal?”

A voz de Stiles surgiu em sua mente.

Quer ver?”

Eu sempre quis

- parece que ele não sabe, no final das contas – soltou Gerard e todos voltaram a sua atenção para Stiles.

- querer não é poder – Isaac falou chamando a atenção dos agentes, que já haviam desistido de esperar uma resposta de sua parte.

- como é? – indagou um homem, confuso.

- ele confessou que quis, mas não confessou que planejou fazer. Falar é algo muito fácil de se fazer. As pessoas dizem coisas que não tem coragem de fazer quase todos os dias. Eu passei anos da minha vida dizendo que queria o Scott morto. Mas eu nunca realmente planejei matar ele. Não tenho coragem para isso. Scott e Derek sempre quiseram colocar Alice detrás das grades, mas nunca conseguiram fazer isso. Stiles disse que queria matar o suspeito, mas a morte do Jaguadarte pode não ter sido programada, e sim uma mera coincidência – explicou o louro vendo o homem na tela sorrir em desdém.

- você não sabe de nada. Nada que envolva Alice é mera coincidência – argumentou Gerard ignorando a imagem dos outros detentos para se focar nas reproduções escuras dos outros líderes do FBI.

- você não é onisciente muito menos onipresente para afirmar isso com tanta convicção. Fatalidades ocorrem todos os dias por mera coincidência e todos julgam ser vontades alheias ou de deuses – argumentou Vernon chamando a atenção para si.

- você não conhece Alice. Nenhum de vocês – argumentou outro líder do FBI.

- e vocês conhecem? – argumentou Erica.

- pelo que sabemos, vocês ficam sentados em suas poltronas confortáveis, em seus escritórios climatizados, enquanto nós fazemos trabalho de campo com ele. Nós, convivemos com ele. Não vocês – disse Isaac vendo Alan os fitar, surpreso.

- este homem já matou gente demais, inclusive agentes do FBI. De que maneira devemos acreditar que foi tudo um ato de defesa pessoal? – questionou Alan encarando o grupo. Erica estava pronta para argumentar, quando Derek a cortou.

- matou muitos agentes... Incluindo o meu pai – ditou Derek vendo o castanho lhe fitar sorridente. Um sorriso largo. O mesmo sorriso que perturbava os agentes mais velhos do FBI ao ouvirem a menção do nome Alice.

- infelizmente, o seu pai foi uma das vítimas de Alice – disseram dois dos homens escondidos pelas sombras de seus escritórios.

Derek cerrou os punhos, irritado.

- Alice. Segundo o bilhete no presente enviado por sua recente vítima, você já cometeu canibalismo antes. O que tem a dizer em sua defesa? – questionou uma das mulheres.

- nada. Apenas deveríamos o sentenciar a morte imediatamente – ralhou um dos homens, irritado.

- não seja precipitado. Vocês sabe que há muita coisa em jogo – ditou Alan, repreendendo o homem.

- que bom que um de vocês aparenta ter juízo – comentou Alice, sorrindo.

- eu apenas digo que, este homem, assim como vocês, jamais passou mais do que alguns meros minutos ou algumas poucas horas em minha presença. Como ele poderia saber o que como e o que não como? – argumentou Stiles, deixando os nove líderes pensativos.

- sem contar que, a mensagem do bilhete era meramente uma citação a história. Ele recebeu bombons com “coma-me”, rosas brancas pintadas de vermelho e um coração, sendo que, obviamente, deveria ser uma cabeça. Essa prova não deve ser levada como qualquer indício de que Stiles seja um canibal ou já tenha praticado canibalismo – argumentou Peter, e aquilo pareceu ser o suficiente para que nenhum argumento fosse feito.

- eu acho que já analisamos o caso por tempo suficiente – disse um dos homens vendo Alan os olhar por um momento.

- eu espero que pensem bem no que vão decidir. Não garanto que Alice vá nos ajudar mais uma vez – ditou Peter vendo Stiles cruzar ao braços e as pernas.

- eu voto para a prisão dele em Alcatraz – disse um dos homens, encarando bem Alice através do monitor.

- eu voto por Alcatraz – falou outro.

- eu voto por Alcatraz – votou uma das mulheres.

- Alcatraz – ditou Gerard encarando o castanho com seriedade.

- eu voto por uma penalidade mais intensa. Eu voto por aumentarmos a pena dele, o que fará com que ele passe mais tempo trabalhando para nós – ditou a outra mulher do grupo, surpreendendo Gerard e os outros que votaram para que Alice voltasse para solitária de Alcatraz.

- eu voto por aumento de pena – ditou outro homem.

- aumento de pena

- aumento de pena

- vocês só podem estar loucos. Ele obviamente irá sair do controle – afirmou a mulher que votou por Alcatraz.

- ele está certo, no final das contas, precisamos de todos eles para passarmos por essa crise. Essa divisão está ajudando mais do que poderíamos imaginar. Se me lembro bem, graças a ela que capturamos, finalmente, o traficante que nem mesmo uma equipe comandada pelo próprio Gerard pôde prender – alegou um dos homens, para raiva do Argent em um dos monitores.

- Alan Deaton. Você terá o voto de Minerva. Pense bem no que vai votar – alertou Gerard encarando o nono e mais recente líder do conselho do FBI.

- Alice, eu sentencio você a... – o homem começou a falar mas parou, pensativo – um aumente de sua pena, a qual continuará sendo cumprida na prisão de segurança mínima de Maybell. Essa pena será adicionada em sua sentença atual. Ainda não decidimos em quanto vamos aumentar a sua pena. Nós, membros do conselho, teremos uma reunião posteriormente sobre este assunto. Independente do número, estes anos poderão ser acelerados caso você acabe a sua sentença atual usando o acordo feito para a sua participação na divisão criada pelo reabilitado agente Tate.

- ISSO! – exclamou Erica socando o braço de Vernon, animada.

Peter suspirou aliviado.

- MAS – Alan elevou a voz, chamando a atenção de todos.

- não pense que será perdoado toda vez que matar um procurado. Julguei que deveria passar esta vez por se tratar de alguém que já receberia um sentença de morte. Ainda mais um procurado do nível de Sebastian. Anos atrás, eu e minha equipe fomos os encarregados de sua captura. Anos depois, o caso passou para a Interpol e ele passou se procurado vivo ou morto. Logo, a morte dele não pesa tanto como uma quebra de regra. No entanto, da próxima vez que matar um procurado, não haverá perdão, Alice – ditou o homem antes de começar a caminhar.

- entendido – Alice fingiu uma continência com dois dedos para o homem.

- acabamos por aqui – ditou o Daeton enquanto saía do galpão.

No caminho, o homem estalou os dedos e logo todos os agentes devidamente armados passaram a deixar o local de maneira demasiadamente organizada. Uma a uma, as imagens dos monitores iam desaparecendo, indicando que o conselho se retirava. Allison encarou Derek, imediatamente, a partir do momento em que a divisão ficou a sós no galpão.

- você ainda acredita que ele matou o seu pai? – indagou a Argent, incrédula.

- não – respondeu Derek, mal humorado.

- então o que merda foi aquilo?! – questionou Isaac, indignado.

- ele estava testando o conselho – afirmou Scott apertando o ombro do parceiro.

- eles continuam colocando a culpa em Stiles, mesmo se passando anos do ocorrido. E eles se quer estão procurando o culpado – comentou Lydia vendo o Hale dar as costas e sair do galpão, furioso.

- não dá para julgar ele. Eu também estaria possesso se não tivessem levado a morte do meu pai a sério e apenas tivessem colocado a culpa em qualquer um para se livrarem e passarem boa impressão – ditou Vernon voltando a cruzar os braços.

- antes eu tinha raiva dele. Agora eu sinto pena – falou Erica abraçando o próprio corpo.

- vamos dar um tempo para ele. Derek passou toda uma vida culpando e odiando alguém pela morte do pai. A culpa de Alice na morte do pai o guiou a vida inteira, praticamente. Descobrir que ele viveu em função de uma mentira é um impacto e tanto – disse Scott e Isaac meneou positivamente.

- pelo menos talvez Derek pare de odiar o Stiles e passe a fazer mais trabalho em grupo com ele sem causar problemas – comentou Erica e Allison e Vernon concordaram com ela em silêncio.

- alguém também deveria receber um impacto desses – ditou Isaac antes de começar a se retirar do galpão.

- esse cara só me orgulha – soltou Erica antes de seguir Isaac.

- você quer ajuda? – indagou Vernon para Lydia ao ver a ruiva começar a desmontar todo o equipamento que usara.

- não precisa. A equipe que montou está aí fora. Estou apenas desconectando o meu computador, mas obrigado mesmo assim – agradeceu a ruiva antes de o homem dar de ombros e seguir Allison, que já havia começado a andar.

Lydia sentiu o celular tocar em seu bolso e tratou de puxar o mesmo, vendo um emoji de coelho como nome do contato. A ruiva sorriu, olhando ao redor antes de atender o celular.

















- ah! Eu estou tão aliviada que você não foi preso de novo em Alcatraz! – exclamou Erica assim que adentraram a base de sua divisão.

- nem me fale! Eu pensei que ele ia ser executado na nossa frente! – exclamou Isaac se jogando sentado em uma das cadeiras giratórias espalhadas pelo lugar.

- quem diria que o FBI estaria tão desesperado que deixariam ele sair impune dessa! – exclamou o Boyd imitando o louro e se jogando em uma das cadeiras giratórias.

- eu não me lembro de ter dito que ele sairia impune – a voz de Alan cortou o ambiente, surpreendendo a todos.

- estava demorando - reclamou Erica cruzando os braços enquanto via o homem de pele morena e terno sair do corredor que levava ao vestiário.

- Deaton? O que faz aqui? – indagou Scott vendo o superior se aproximar de uma das cadeiras giratórias e se sentar na mesma elegantemente.

- eu vou tomar um banho – ditou Stiles enquanto seguia para o vestiário.

- não quer ficar para saber do que eu vim tratar pessoalmente com a divisão? Afibal, é uma nova punição para você – inquiriu Alan vendo o castanho parar no meio do caminho para o corredor e lhe fitar brevemente.

- eu não estou nem aí para você ou que você quer – respondeu o Stilinski antes de voltar a ignorar a imagem de Alan, continuando o seu caminho

- quando terminar, vista a sua roupa da prisão – ordenou o homem, sem encarar o corredor, sabendo muito bem que o outro deveria estar rindo.

- nós devemos nos vestir também? – perguntou Isaac vendo o homem negar com a cabeça.

- não. Não será preciso – disse Alan, educadamente.

- Alan, qual vai ser a punição de Stiles? – questionou Peter indo direto ao ponto.

- não é uma punição que será vantajosa para nós, eu confesso – ditou o homem cruzando as pernas, mantendo o seu ar elegante.

- eu não estou gostando dessa ladainha – murmurou Erica, para Allison, antes de as portas do elevador se abrirem, revelando Lydia, que carregava o seu notebook debaixo do braço e um copo de café na outra mão.

- desculpa o atraso. A cafeteria estava... – a ruiva fora surpreendida pela imagem do seu superior sentado diante de todos.

- Alan?! – questionou a mulher, curiosa

- olá, Lydia – o Deaton cumprimentou a agente, a vendo se aproximar de sua mesa e começar a ligar o seu computador.

- o que faz aqui? – perguntou Lydia, confusa.

- Deaton veio dar uma punição ao Stiles – respondeu Derek vendo a ruiva olhar para o superior com seriedade

- mas já aumentaram a pena dele. Alice vai ter uma pena gigantesca dependendo de quanto anos vocês vão somar com os que ele já tinha quando começou a trabalhar aqui – comentou a ruiva vendo o superior diretor de todos os agentes presentes sorrir levemente.

- nada mais justo, eu diria. Esse rapaz fez com que praticamente nos tornássemos escravos do FBI para capturá-lo. Por que não o tornaríamos em nosso escravo, agora que podemos fazer isso? Não existe melhor jeito de fazer com que ele pague pelo que ele fez - argumentou o Deaton vendo Isaac franzir o cenho para si.

- ele é podre. Não gostei dele – murmurou Isaac para Peter, que o encarou de canto de olho antes de se focar em Alan novamente.

- enfim, Alice não poderá trabalhar com vocês por um mês. Por isso que o mandei vestir o uniforme de Maybelle. Ele será mantido lá por essas quatro semanas, para que tenhamos certeza de que o psicológico dele não está um tanto inclinado para o assassinato, novamente – falou Alan vendo o queixo de Isaac cair um pouco.

- mas ele é o melhor de nós quatro em assassinatos! Sabe o tempo que a gente economiza tendo ele e a Erica para dizer o que ocorreu na cena do crime?! Eu não sei nem para onde vou naqueles lugares! – exclamou o Lahey, indignado.

- Isaac tem razão. Stiles e Erica nos economizam muito tempo no entendimento das cenas de crime – comentou Scott vendo o homem se erguer.

- pois então achem uma forma de suprir a presença dele nos casos. A minha decisão já está tomada – ditou o Deaton puxando um isqueiro do bolso do terno que usava e passando a brincar de abrir e fechar o mesmo.

- o conselho sabe dessa punição? – indagou Derek, curioso.

Por que Alan não havia falado desta punição mais cedo? Por que deixar para falar algo do tipo depois? Era, de certa forma, suspeito. Derek viu o homem sorrir de canto, antes de fechar o isqueiro e parar de abrir o mesmo por um tempo, puxando um cigarro do bolso interno do paletó.

- não é como se eles fossem ir contra a minha decisão. Afinal, qualquer decisão que tenha como finalidade infernizar a vida de Alice será mais do que muito bem aceita por eles – comentou o Deaton vendo o moreno de olhos verdes franzir o cenho, irritado.

- ah, vocês são bons no que fazem! A divisão de vocês têm sido uma revelação e tanto. Tenho absoluta certeza de que vão conseguir passar por essas quatro semanas sem muitos problemas – argumentou o membro do conselho do FBI, se erguendo e seguindo na direção da saída.

- lembrando que Alice não pode ser envolvido nos casos de forma alguma enquanto estiver recebendo a sua punição – ditou Alan enquanto a porta do elevador se fechava.

- a gente está fodido se pegar um caso sério de assassinato – comentou Isaac enquanto todos encaravam o elevador.

- Alice não é o único capaz de pegar assassinos, Isaac. Nós fazíamos isso antes dessa divisão ser criada – argumentou Scott, um tanto irritado.

- quanto tempo iríamos demorar para prender o Jaguadarte sem ele? – questionou Vernon em resposta ao argumento do moreno.

- Alice não o prendeu. Ele o matou – rebateu Derek.

- pena que ele receberia quando fosse preso – rebateu Erica.

- certo. O Jaguadarte foi um exemplo ruim. Mas e Cinderela? Quanto tempo a mais levaríamos para perceber que a filha do xerife era a culpada? Quantas pessoas a mais iriam morrer nesse intervalo de tempo? – indagou o Lahey deixando Scott mais furioso ainda.

- cara! Se não quer trabalhar sem ele, fica na prisão com ele! – ralhou o McCall irritado já se afastando.

- você pode odiar ele o quanto você quiser, Scott. Mas ele ainda faz o seu trabalho melhor do que você - foi tudo o que Isaac disse antes de seguir para a copa do prédio, tratando de pegar um copo com água.

Allison ignorou a discussão, enquanto seguia para o vestiário. A mulher adentrou o ambiente se deparando com Alice terminando de vestir o macacão alaranjado de Maybelle. A morena ficou um tanto nervosa. Ela não sabia se deveria, ou não, falar com Alice. Ela ainda estava... afetada com aquilo que o castanho havia lhe dito há alguns dias atrás.

- sabe, encarar alguém enquanto ele se veste é falta de educação – a voz de Stiles cortou o raciocínio da agente, que se viu sem qualquer opção que não fosse falar.

- você... Não usou os brincos que lhe dei – foi a primeira coisa que veio a mente de Allison para tentar começar um diálogo sem ir direto ao ponto.

Alice se manteve em silêncio enquanto abotoava o macacão. Allison teria de dar continuidade ao assunto se quisesse, realmente, esconder o motivo do diálogo com o castanho. Não seria difícil, já que ela realmente ficou um pouco sentida com o ocorrido. A Argent havia ficado realmente triste quando vira as lágrimas solitárias de Alice quando ele viu os brincos de naipes de baralho serem pisoteados pelos tamancos de Laura. Ela se sentia ainda mais triste ao saber o passado que o assassino tinha com aqueles brincos.

Agora, todos sabiam o motivo de simples brincos despertarem a afeição do castanho. Eles sabiam o motivo das lágrimas. Apenas não sabiam como e porque Alexander conseguiu despertar a afeição do maior assassino dos Estados Unidos.

- olha, eu sei que nenhum par de brincos pode substituir os que o pai do Derek lhe deu. Eu não sei o porquê, mas eu sei que eles eram únicos para você – ditou a morena chamando a atenção do castanho, que a encarou por sobre os ombros.

- você quer saber o motivo de eles serem únicos para mim? – indagou Stiles recebendo o silêncio como resposta.

Allison pensou um pouco enquanto Alice decidia se iria ou não falar o motivo.

- eu sei que ele gostava de você. Sei que esse deve ser um ponto importante. E eu também gosto de você. Por isso que lhe dei esses brincos. Nunca vão chegar aos pés dos do agente Hale, mas, pelo menos, vão impedir que os furos em suas orelhas fechem. Eu acho que – a mulher mediu as suas próximas palavras com cuidado.

Alexander deveria ser um terreno perigoso de se falar com o assassino.

- eu acho que ele ficaria triste em lhe ver sem os brincos, mas tenho certeza que ficaria mais triste ainda se não lhe visse usando mais nenhum brinco. Você fica bonito com eles – disse a morena vendo o castanho abaixar o olhar para a frente, pensativo.

- eu não menti – ditou o homem de cabelos castanhos, ainda de costas, deixando a mulher confusa.

- as coisas que eu lhe disse no beco. Eu não menti naquela hora – explicou surpreendendo Allison não apenas pelo que foi dito, como também por ele acertar em cheio o assunto que a outra queria tratar consigo.

- então você realmente acha aquilo de mim? – indagou a Argent um tanto chateada.

- acho. Acho porque gosto de você e me deixa frustrado ver você rebaixar o seu potencial para poder exibir ele aos homens. Para esses homens. O Peter eu até entendo. Ele é um gênio. Mas Derek?! Scott?! Chris?! Raphael?! – respondeu com indignação na voz, surpreendendo a mulher.

- você tem um potencial incrível para investigação, Allison. Eu já vi dezenas de agentes, mas só vi dois como você em toda a minha vida. Você não é como o seu pai ou como o seu avô, que escolheram essa carreira. Você nasceu para essa carreira. Eu posso não lhe conhecer bem, no quesito gostos e desgostos. Mas eu conheço um agente talentoso quando vejo um. Eu disse aquelas coisas para poder acordar você. Faça o seu melhor para poder cumprir o seu dever, não para agradar ninguém. Ou melhor, faça o seu melhor para agradar a si mesmo quando cumprir o seu dever de forma esplêndida – ditou o castanho ainda de costas para a Argent, que não soube o que responder ou argumentar. Ainda era difícil para ela processar que alguém pensava daquele jeito sobre si. A mulher apenas deu as costas e rumou para a saída do vestiário.

- ele era como um pai, pra mim – a voz de Alice cortou o raciocínio da mulher, que parou próxima a saída.

- Alexander foi o primeiro homem que eu vi me tratar como um pai trataria o filho – falou o castanho e Allison se virou, o vendo cabisbaixo, lhe olhando por sobre os ombros.

- ele e Peter eram como os meus pais. Foram os primeiros que me viram como uma criança e não um monstro. E não me viram como uma criança por me subestimarem devido a minha idade. Eles me viram como uma criança porque era isso o que eu deveria ser – explicou Alice não vendo o choque expresso na face de Allison.

- então é por isso que gostava tanto dos brincos. É por isso que gosta tanto do Peter – murmurou a Argent, pensativa.

- foi por isso que tentou proteger Laura e Derek? – indagou a morena vendo o castanho jogar a cabeça para trás e suspirar.

- sim. Foi por isso. Eu já havia perdido um pai. Odiaria que os filhos dele se perdessem por causa de sua morte. Quando o FBI me usou de sinalizador, eu não me importei. Mesmo quando não resolveram o caso, eu não me importei de ser o culpado. Porque isso focaria o ódio de Laura e Derek em mim, fazendo com que eles não se perdessem de suas vidas – respondeu enquanto encarava as duas argolas prateadas no armário a sua frente.

O silêncio dominou o ambiente, indicando que cada um estava preso em seus próprios pensamentos. Havia muito para se processar, principalmente por parte de Allison, que simplesmente saiu, ainda em silêncio, assim que nada mais foi dito.

Alice encarou os brincos com a letra “A” marcada neles, antes de os pegar e passar a os prender em suas orelhas. Assim que o castanho fechou a porta do próprio armário, ele se virou, sendo surpreendido pela imagem de Derek, parado próximo a porta, lhe encarando com surpresa.

- se eu soubesse que iria ser um show, teria me vestido melhor. Se quer tive tempo de me maquiar – ditou o castanho enquanto caminhava para o corredor.

Derek tentou parar o castanho, mas falhou miseravelmente quando desistiu de agarrar o braço do outro, permitindo a passagem de Alice para fora do vestiário. Ele não tinha o que falar. Derek não tinha nem mesmo o que pensar.

- um pai? – murmurou o Hale,pensativo, ainda em choque com tudo aquilo que tinha ouvido.

Chapter 44: Approach

Chapter Text

- e então? O que temos para hoje? – questionou Vernon assim que saiu do elevador.

- a especialidade de vocês dois -  respondeu Lydia vendo Isaac jogar as mãos para cima

- não é um assassino! – exclamou o louro, animado, antes de fazer um High Five com Vernon.

- nossa! Me sinto tão excluída! – dramatizou Erica se jogando sentada em uma das cadeiras giratórias do local.

- não é nada contra você, loira. Mas é que estamos com um certo receio de nos deparamos com algum Jaguadarte ou com alguma Cinderela outra vez – confessou o Boyd vendo a Reyes balançar a cabeça, pensativa.

- sem contar que, assim como você e o Stiles têm o lance de vocês com mortes, Vernon e eu temos o nosso com o tráfico – ditou Isaac sorrindo divertido para a mulher de cachos, que sorriu igualmente divertida.

- vou adorar ver isso em ação de novo – comentou a Reyes apoiando o queixo nas palmas das mãos.

- eu detesto admitir, mas, de fato, eu não conseguiria lidar com eles dois tão rápido quanto Alice. Eu se quer cogitaria na filha do delegado como criminosa. Muito menos conseguiria achar aquele desgraçado nojento – disse a loura antes de fazer uma careta ao se lembrar do corpo decapitado de pele repleta de cicatrizes e mazelas.

- mas e aí? O que vai ser? Pedra ou pó? – questionou Isaac encarando Lydia, que se ergueu com alguns papéis em mãos.

- injetáveis – respondeu a ruiva enquanto seguia para a mesa.

- hm... Será difícil, hein! – comentou Isaac chamando a atenção de Erica.

- prender traficantes é sempre difícil, Isaac. Esses desgraçados vivem se emaranhando uns com os outros. Quando você pensa que pegou o cabeça da gangue, ele é só o capanga do capanga – argumentou Lydia vendo o louro dar de ombros, concordando.

- mas qual é a diferença de injetáveis para pedra ou pó? Em todos eles nós temos que seguir a droga para poder achar quem queremos – argumentou a Reyes vendo o Lahey suspirar.

- porque com injetáveis o método é outro. A droga chega aos drogados em uma forma, e então eles a transformam no produto desejado com as instruções do traficante – respondeu Scott chamando a atenção para si.

- exato. Por exemplo, basta pegar um pouco desse pó X e o colocar em uma colher de sopa, esquentar com um isqueiro ou no fogão, esperar que a fusão ocorra, depois é só esperar esfriar e colocar na veia – explicou Isaac vendo a loura menear positivamente, indicando que havia compreendido.

- mas se esperar esfriar, a droga não vai voltar para o estado sólido? – questionou Vernon, confuso.

- não. Há algumas substâncias que são sólidas a temperatura ambiente, mas quando são fervidas e se tornam liquidas, é difícil retornarem para a sua forma solidas mesmo após retornarem a temperatura ambiente. Principalmente quando são misturadas com líquidos – explicou Isaac vendo os outros dois prisioneiros menearem positivamente em compreensão.

- eu vou apenas levar esses papeis para a sala do Derek e volto logo para explicar os detalhes – falou a ruiva já se dirigindo para o cômodo citado.

- por falar no Derek, cadê o ele e o Peter? – questionou Erica vendo que tio e sobrinho não se encontravam no local.

- não sabemos – respondeu Allison vendo Isaac suspirar.

- acha que ele foi ver o Stiles? – indagou Erica vendo Vernon dar de ombros.

- eu não me lembro de ter visto o Stiles receber alguma visita. Ele sempre está na cela dele. Quando é obrigado a sair, ele se senta em uma sombra e fica desenhando ou brincando com os baralhos dele – comentou o Boyd se lembrando bem de que todas as vezes em que olhava para Stiles ou procurava por ele, o castanho estava sob uma sombra, desenhando ou manuseando algum baralho.

- Alice sempre foi muito discreto – comentou Lydia e os detentos se entreolharam, principalmente Isaac e Vernon.

Na mente dos dois, vieram as imagens de Stiles arrancando o piercing de um prisioneiro com os dentes, a cena do castanho destruindo os dentes de um traficante da cadeia ao bater o rosto do homem contra o chão várias vezes seguidas. Os três detentos se lembraram de quando Alice e Derek capotaram o carro de uma testemunha quando a mesma começou a fugir deles.

- é. Realmente – comentou Erica enquanto tentava segurar o riso.

Já Isaac não se deu ao trabalho de tentar se segurar. O louro de cachos gargalhou alto, não se importando em nada com os olhares confusos dos agentes.

- cara! Você ri de tudo, não é? – comentou Vernon vendo o companheiro de cela e amigo bater levemente na mesa com as gargalhadas.

- é bom saber que pelo menos alguém se diverte por aqui – ditou Peter ao passar pela porta da escada.

- ah, é divertido trabalhar aqui! – exclamou o Lahey em resposta.

Scott não pôde segurar o sorriso mínimo que tomou os seus lábios com as palavras do antigo melhor amigo.

- e o seu sobrinho rabugento? – questionou Erica unindo as mãos abaixo do queixo, apoiando a cabeça nelas.

Peter fez uma leve careta ao ser questionado pelo paradeiro do sobrinho.

- ele deve estar chegando – respondeu enquanto olhava em seu relógio.

- e ele continua insuportável ou já está no estado de Só-Jesus-na-causa? – questionou o Boyd esperançoso de que a resposta do mais velho pudesse melhorar o ânimo um pouco mais.

Derek andava insuportável naquela semana. Já havia se passado uma semana que Stiles fora suspenso da equipe como pena extra por ter decapitado um criminoso que já fugia do FBI há anos.

E, como se já não bastasse a falta de um membro na equipe, Derek parecia também estar ausente. O Hale se atrasava e sempre estava mal-humorado. Bem mais mal-humorado do que o normal, diga-se de passagem.

Peter não sabia bem o motivo daquela atitude do sobrinho.

Era óbvio que a causa do mal-humor excessivo do agente de olhos verdes estava relacionada com a morte do pai dele. Mas o que, exatamente, originou aquilo é que é o grande mistério para Peter. Nada havia sido revelado ultimamente. Nenhum fato sobre a morte de Alexander fora relatado por si ou por Talia para o moreno de olhos verdes.

- voltei! – exclamou a ruiva, sorrindo de lado, enquanto bloqueava a tela do celular.

- vamos esperar por ele ou vamos começar logo? – indagou Scott vendo Lydia suspirar, já sabendo do que se tratava.

- vamos começar logo. Derek sabe das responsabilidades dele como um dos líderes dessa equipe – ditou Allison, com seriedade, e logo todos olharam para Peter, esperando por seu consentimento.

- vamos começar – ditou o Tate enquanto puxava uma das cadeiras para que pudesse se sentar.

 

 

 

 

 

- o que ele está fazendo? – indagou Billy encarando Stiles descaradamente.

- desenhando, eu acho – respondeu Jimmy, confuso.

- não, idiota! Eu quero dizer o que ele está fazendo que ainda não nos castigou – argumentou o homem de macacão laranja, cujas mangas foram cortadas.

- já faz uma semana que ele apenas fica ali, sentado. Jogando paciência, fazendo castelos de cartas ou desenhando. – comentou Marcos vendo o castanho assoprar a folha do caderno de desenho sutilmente.

- o que será que ele desenha? – indagou Jimmy vendo o castanho passar a página e começar a desenhar novamente.

- eu sei lá. Coisas loucas da cabeça dele, talvez – comentou Billy quando o castanho inclinou levemente a cabeça enquanto desenhava.

- se vocês não pararem de encarar ele, alguém vai perceber que tem alguma merda rolando entre vocês – comentou Brett, surgindo ao lado de Marcos.

- o que você quer? – indagou Marcos vendo o colega de cela sorrir divertido.

- apenas um pouco de diversão – respondeu o Crowler antes de dar um leve toque no ombro do Rei e começar a caminhar na direção do castanho isolado.

- merda! Esse cara é maluco! - exclamou Jimmy vendo o louro se aproximar de Alice.

- ele vai matar a gente – comentou Billy, desesperado.

Alice estava desenhando desde que foram liberados para o pátio. O castanho estava entediado. Não podia negar. Desde que fora proibido de participar das investigações da equipe de Peter por um mês inteiro Stiles era dominado pelo tédio. Nada lhe mantinha entretido por muito tempo. Seus baralhos não lhe divertiam tanto, os detentos e policiais não lhe entretinham tanto, nem mesmo os cinco patetas que ele havia adotado como suas cartas lhe mantinham livre do tédio.

E, agora, nem mesmo o caderno que Peter lhe dera era o suficiente para lhe livrar do maldito tédio.

Ele estava para enlouquecer.

Odiava pessoas. 

Odiava o tédio.

E, estar sendo dominado pelo tédio estando rodeado de pessoas irritantes e inúteis estava o deixando completamente surtado.

Stiles precisava de alívio.

Ele precisava de algo que lhe divertisse.

- e aí? – a voz de alguém chamou a atenção do castanho.

Erguendo o olhar para alguém cujo o corpo fizera sombra sobre o seu caderno de desenho, Alice pôde encontrar um louro, mais ou menos com a massa muscular de Marcos, o Rei. Stiles franziu o cenho para aquele homem louro, o vendo sorrir amigavelmente para si.

O analisando da cabeça aos pés, Stiles logo o definiu como um incendiário. Os pontos característicos eram óbvios. Camisa de manga cortada como a maioria, mas a sua tivera os fios soltos do corte queimados, os impedindo de descosturar a roupa. Volume cilíndrico considerável no bolso da calça e um pequeno volume no outro bolso, indicando que aquele homem carregava um pequeno lança-chamas composto de um isqueiro e um desodorante antitranspirante.

- olá! – exclamou o mais baixo, inocentemente.

“que safado! Se fingindo de inofensivo” 

Pensou Brett colocando uma das mãos no bolso da camisa e puxando uma pequena caixa de fósforos.

- eu sou Brett. Brett Crowler. E você? – o homem se apresentou enquanto acendia um fósforo e o levava aos lábios.

A chama do palito de madeira se apagou e o homem colocou o palito nos lábios, passando a mordiscar a ponta do mesmo com os dentes da frente, se deliciando com o aroma de fósforo queimado que exalava do pequeno palito de madeira.

- os meus amigos me chamam de Stiles – respondeu o castanho vendo o louro, simpaticamente, se sentar ao seu lado.

- o que você tanto desenha aí? – indagou o mais alto e logo o mais baixo voltou a desenhar.

- nada muito interessante. Eu não sou muito bom dm desenhar. Por isso fico treinando enquanto posso. Quero ser um artista bem diferenciado  – disse enquanto deslizava o lápis pela folha branca criando rabiscos em diagonal que mais tarde se tornariam uma parede.

- você se diverte desenhando? – questionou Brett ainda amigavelmente vendo o castanho mudar a posição do lápis e mudar o local da folha que era rabiscado.

- um pouco. Mas ultimamente tem sido bem entediante. Pensei que fora daquela caixa de fósforos fosse divertido, mas é quase igualmente entediante – respondeu Alice divagando um pouco durante a sua resposta.

- caixa de fósforos? Quer dizer a sua cela? Pensei que fosse espaçosa para um cara só – comentou o louro vendo o castanho balançar a cabeça, a inclinando de um lado para outro.

- sim, eu me refiro a ela – mentiu Stiles voltando a se focar em seu caderno de desenho.

- é espaçosa, até. Mas ainda é pequena comparada com um ambiente decente – argumentou o assassino enquanto permanecia a rabiscar em seu caderno.

- não quer fazer algo mais divertido do que isso? – inquiriu Brett vendo o castanho desviar o olhar, curioso, para si.

- algo mais divertido? – indagou Alice, levemente interessado.

- sim –

- e o que te faz pensar que o que você tem em mente pode me divertir? – inquiriu o castanho e o outro lambeu os lábios de maneira travessa.

- digamos que... Não tem como você negar. Eu posso ser bastante interessante – respondeu o Crowler vendo o castanho parar, brevemente, de desenhar, enquanto lhe encarava de canto de olho.

- por que não? – questionou o assassino, desconfiado.

O incendiário sorriu, antes de se aproximar mais e se inclinara para a frente, com a finalidade de sussurrar no ouvido do mais baixo.

- eu sei o seu segredo – o homem de cabelos louros proferiu em tom baixo, chamando a atenção de Stiles.

- de qual, exatamente, você está falando? – perguntou Alice sorrindo minimamente, diferente do esperado por Brett.

- me encontre no banheiro em quatro minutos e saberá de qual eu estou falando – falou o Crowler antes de se erguer e seguir para o interior do presídio.

- parece que alguém está querendo brincar com fogo – murmurou Stiles sorrindo predatório para a entrada da prisão.

- acho que vou ter que matar alguém – ele voltou a murmurar enquanto fechava o caderno. O castanho encarou o interior do presídio com uma expressão de poucos amigos, antes de sorrir divertido, colocando a ponta da língua para fora da boca.

- até parece que vai ser necessário – ditou antes de se erguer e começar a caminhar na direção de sua cela.

 

 

 

 


O míssil passou por cima da barricada e seguiu para um carro um pouco distante. A explosão fora grande devido ao acréscimo do combustível na equação.

- PUTA MERDA! – gritou Isaac assim que viu o carro atingido pelo lança mísseis ser erguido do chão pela explosão.

Eles haviam ido até o local da entrega de uma valiosa carga de drogas entre duas equipes da facção criminosa que estavam perseguindo. O objetivo era capturar os membros da facção e o carregamento do processo que os criminosos realizariam naquele lugar. No entanto, eles foram surpreendidos com uma boa linha de defesa por parte dos criminosos. Estava sendo difícil, mas eles estavam conseguindo lidar com eles. A equipe, juntamente com a polícia local, havia se preparado bem para a operação. Para completar, o líder suposto líder da facção se encontrava no local. A quantidade de entorpecentes ali presentes era valiosa o bastante para o homem decidir fiscalizar ele mesmo o transporte. Agora, ele e os comparsas haviam recuado para o interior do local abandonado que estavam usando para realizar a troca de carregamentos entre as equipes da área.

- o cara do lança mísseis já foi abatido – informou Vernon enquanto se escondia atrás da barricada e recarregava a sua arma.

- ótimo. Isso vai facilitar as coisas – ditou Allison no rádio enquanto disparava contra os traficantes.

- alguém está vendo o alvo? – questionou o delegado local, também disparando contra os traficantes.

- sem visão – respondeu Peter acertando o peito de um dos traficantes que seguia para Isaac e Vernon, tentando os pegar desprevenidos.

- puta merda. Eu deveria ter ficado na delegacia. EU VOU MORRER! – reclamou Isaac assim que ouviu o homem gemer e cair perto do seu esconderijo, deixando a arma deslizar para perto da barricada.

- Isaac, pega a arma! – ordenou o Boyd para o louro, que se virou revoltado.

- cara! Eu não devia estar aqui! Eu sou um gênio da química. Você que é o gênio das armas. Eu não sei nem como se segura essa merda! – exclamou o Lahey, revoltado.

- Isaac! Eu preciso daquela arma. Apenas pega a arma e entrega ela para mim – argumentou Vernon e o louro gemeu em desgosto.

- ah, eu odeio essa merda de trabalho – ralhou o homem de cabelos cacheados antes de começar a se aproximar do fuzil jogado no chão.

Assim que Isaac estendeu o braço para alcançar o fuzil, um homem vestido com jaqueta de couro se aproximou a passos pesados e apontou com a IMI Galil para o louro de cabelos cacheados. Isaac se vi em choque ao ver o fuzil apontado em sua direção.

O seu corpo gelou, seus membros começaram a tremer e a sua garganta se tornou indescritivelmente seca.

Vernon tentou disparar contra o homem que apontava um fuzil para Isaac, mas as suas balas haviam acabado.

Uma bala atravessou o pescoço do traficante que estava prestes a disparar contra o Lahey, antes de uma segunda bala atravessar a sua nuca e sair pelo topo do nariz. O cadáver caiu ao lado de Isaac, que olhou na direção da casa que tentavam invadir, vendo no topo da escada da frente, já no interior da casa, Scott abaixar um fuzil enquanto olhava para si.

-  o líder deve estar no interior, escondido – afirmou o delegado olhando para Peter.

- Scott, atrás de você – alertou Derek já mirando no homem que se aproximava de Scott com duas pistolas em mãos.

Derek não pôde puxar o gatilho. A visão não era boa o suficiente para disparar.

Scott se virou, surpreso, não tendo tempo de reação quando uma das pistolas fora colocada contra o seu pescoço. Erica saltou contra a parede, antes de saltar mais uma vez, cravando uma faca no pescoço do traficante, antes de colar o cano de uma pistola contra a cabeça do homem, disparando uma vez.

Scott, em choque, apenas assistiu quando a loura aterrissou atrás do homem, girando sobre os próprios pés, retirando a faca da garganta do cadáver e a lançando em um segundo elemento que já se encontrava com eles na mira. A faca voou, girando várias vezes no ar antes de acertar o olho do traficante, que apenas caiu deitado de costas no chão. A loura simplesmente se ajoelhou e disparou contra o homem, o derrubando de vez.

- obrigado – agradeceu o McCall enquanto seguia a loura para o próximo cômodo, ao mesmo tempo em que o resto da equipe, juntamente com a polícia, adentravam a casa.

Scott assistiu, perplexo, quando Erica, sozinha, liquidou uma série de homens, apenas com uma pistola e uma faca de forma excepcional. Q mulher praticamente os exterminou. Ele se quer precisou gastar alguma energia ou munição no cômodo.

- a sua vida de crimes rendeu bons resultados – comentou o moreno de queixo torto vendo a mulher recarregar a pistola antes de lhe encarar.

- não foram os meus crimes que me fizeram o que eu sou hoje. Foram os motivos que me levaram a ser uma criminosa – ditou a loura antes de Allison e Derek se aproximarem.

- o número está diminuindo – informou o Hale enquanto saia brevemente do esconderijo para realizar alguns disparos.

- eles estão recuando – ditou Scott ao mesmo tempo em que se escondia quando uma chuva de balas fora disparada contra eles.

- recuando o caralho. Eles estão nos distraindo enquanto o líder foge – alertou Vernon quando ele e Allison acertaram uma bala, cada um, na testa dos dois que impediam eles de avançarem.

- temos que chegar aos fundos da casa – alertou Allison enquanto recarregava o fuzil que tinha em mãos.

- vamos nos dividir. Allison, Vernon e Erica façam a volta e vão para os fundos. Nós vamos morder a isca. – ordenou Peter enquanto disparava contra os traficantes.

- como vamos chegar aos fundos? – indagou o Boyd ao mesmo tempo em que recarregava o fuzil que pegou de um dos traficantes.

- por aqui – ditou Erica chutando uma janela, a quebrando, e logo pulando pela mesma.

- vamos – chamou Allison enquanto seguia a loura.

- Scott, me dá cobertura – pediu Derek ao mesmo tempo em que recarregava a própria arma.

- beleza – disse o McCall já se preparando para abrir fogo de cobertura.

Scott passou a disparar contra os traficantes, os obrigando a se esconderem atrás de barricadas. Enquanto isso, Derek avançava, abaixado. Peter seguiu o moreno, sendo acobertado pelo delegado e alguns oficiais.
Tio e sobrinho aniquilaram o grupo que impedia o avanço da equipe. Todos foram pegos de surpresa pelos dois homens, e o único que teve algum tempo de reação, fora parado por um tiro do delegado em seu peito.

- achamos ele – a voz de Allison soou no rádio.

- ótimo. Não deixem ele escapar – ordenou Peter enquanto recarregava.

- Erica está avançando até ele – ditou Vernon enquanto via a Reyes correr até o alvo.

- lembre-se que nós precisamos dele vivo – falou Derek ouvindo a loura confirmar que havia entendido.

Ao seguirem avançando, Derek e Peter foram surpreendidos quando um rapaz de mais ou menos dezesseis anos surgiu com duas pistolas, correndo de uma cobertura para outra, gargalhando pela adrenalina da ação. Ele apontou com as duas pistolas para os agentes e saltou.

Peter mirou contra o rapaz, mas parou o que fazia.

O seu corpo travou quando a sua mente viajou para o passado. Derek e Scott dispararam contra o adolescente, cada um atingindo um ombro do rapaz.

O Hale encarou o tio, o vendo paralisado, apenas a olhar para o rapaz baleado.

- Peter, está tudo bem? – inquiriu Derek enquanto se aproximava.

Peter não respondeu.

- tio Peter – chamou o moreno apertando o ombro do louro.

O mais velho piscou os olhos algumas vezes, sendo desperto de seus devaneios.

- o que foi? – questionou Peter com uma expressão séria, tentando camuflar a sua confusão.

- o senhor está bem? – perguntou Derek puxando o tio para atrás de uma parede, a usando de barricada.

- sim, sim. Eu estou – respondeu o louro encarando o sobrinho franzir o cenho.

- Peter, você está tremendo – comentou Derek vendo o tio olhar para as próprias mãos.

- não é nada, Derek. Vamos prosseguir – ditou Peter vendo o delegado e Scott seguirem com outros oficiais para o próximo cômodo.

- pegamos ele – ditou Allison enquanto encarava Erica e Vernon algemarem o líder da organização.

- ótimo. Levem-no para a delegacia – ordenou Peter ouvindo Allison concordar.

Ao perceberem que haviam perdido aquele confronto, aos criminosos remanescentes se renderam. Preferindo lagar uma pena de anos na cadeia a perder a vida em um confronto inútil. Ao algemarem todos, os oficiais os guiaram até os camburões preparados para os levar para a delegacia. 

- tudo limpo. Acabou – ditou o delegado, no rádio.

- perfeito. Tragam o Isaac – ordenou o Tate e logo o louro adentrou a casa, sendo acompanhado por uma mulher armada.

-  o que aconteceu? Por que parou? – questionou Derek vendo o tio encarar o adolescente baleado, o qual gemia de dor, com certa seriedade.

- não foi nada – respondeu o mais velho desviando o olhar.

O homem passou a analisar o trabalho de Isaac, que abria a carga que se encontrava disfarçada em caixotes de madeira que levavam peças artísticas. O Lahey simplesmente tocava a droga com os dedos e os levava ao rosto, antes de definir o que era apenas com o cheiro ou o sabor.

- Peter. Você travou na frente de uma arma – argumentou o Hale com certa intensidade na voz.

O pai de Derek havia falecido quando ele ainda era um adolescente. O seu tio foi o homem que assumiu o papel de seu pai em alguns aspectos de sua vida. Fora Peter quem ensinou Derek e Laura a dirigir antes de os dois tirarem suas carteiras de motorista. Fora Peter quem ensinou a Derek a lidar com o dinheiro e como cuidar de uma conta bancária. Assim como fora Peter quem ensinara o sobrinho a atirar quando o mais novo disse que iria prestar exame para ser do FBI. E Peter sempre lhe ensinou a nunca vacilar na frente de uma arma. Mesmo que estivesse sobre a mira de uma, o louro ensinou Derek a ser firme, manter a calma e analisar a situação. Mesmo que o Hale implicasse com a “corrupção” de Peter, o moreno aprendia com o tio.

Hoje, Derek sabia que a acusação de corrupção era apenas uma farsa para afastar Peter. Um tipo de aposentadoria forçada. O motivo? Derek não sabia. Mas sabia que havia implicado com o tio, por anos, dificultando a união familiar apenas por uma mentira.

O moreno de olhos verdes nunca havia atuado com o tio até aquela divisão ser criada. Mas, desde então, ele sabia do que o tio era feito. Sabia o motivo pelo qual se tornou tão bom com o treinamento do tio antes mesmo de adentrar o FBI.

Peter era bom.

Muito bom.

O homem nunca havia vacilado em situação alguma.

Pelo menos não até aquele momento.

E Derek queria entender. Entender o motivo pelo qual Peter, que era um ótimo agente, simplesmente havia parado, do nada, diante de uma arma apontada para si.

- não foi nada, Derek. Foque no trabalho – disse o Tate enquanto se afastava alguns passos, se aproximando de Isaac.

- e aí? Todas estão aqui? – indagou Peter vendo o Lahey menear positivamente.

- esse cara iria fazer uma feira de drogas. Tem quase de tudo aqui. Tem até algumas que não são muito populares aqui no país – ditou Isaac enquanto olhava ao redor.

- ótimo – ditou o mais velho se afastando para um canto e passando a respirar fundo, enquanto levava a mão direita ao peito, o apertando.

- está tudo bem? – indagou Isaac vendo o homem mais velho menear positivamente.

- Lydia, já temos o senhor Misdoc e o carregamento – falou Scott no comunicador para a ruiva, que logo respondeu para o comunicador de todos.

- ótimo. Voltem o quanto antes. Já temos um novo trabalho – ditou a ruiva surpreendendo os policiais, que estavam com o rádio na mesma frequência do da equipe do FBI.

- certo. Estamos voltando – ditou Derek enquanto analisava o tio.

- essa semana está sendo cansativa – falou Erica enquanto alongava o pescoço.

Peter permanecia em seu canto, trêmulo e com a mão no peito. Era óbvio que algo havia afetado o louro de cabelos penteados para trás e de uma maneira muito intensa. Derek não sabia o que era, mas esperava que o efeito não durasse por muito tempo.

Ele sentia que o seu tio não iria se abrir consigo quanto a isso.

Derek não o culpava.

Havia passado a maior parte de sua vida acusando o seu tio de ser um homem horrível e o afastando de si. Era óbvio que Peter não iria ser tão aberto consigo quanto era com Malia e Cora.

Mas Derek esperava que Peter falasse consigo. Pois aquilo era preocupante. Aquele pequeno vacilo havia colocado a vida do agente mais velho em risco. Ele precisava saber o motivo do ataque do seu tio para poder evitar, ao máximo, que o mesmo fosse exposto a uma situação daquelas novamente.

Enquanto isso, a mente de Peter voltava a repetir aquela mesma imagem em sua mente. A mesma imagem que lhe atormentou por meses.

Na mente de Peter, uma garota de cabelos castanhos longos, balançando ao vento, enquanto a mesma corria, em seu vestido azul bordado, ao mesmo tempo em que apontava duas armas para os seus companheiros de trabalho. A gargalhada divertida indicava a emoção que sentia enquanto realizava disparos contra os agentes do FBI, acertando alguns deles.

Uma mão grande acolheu o ombro do homem, o apertando suavemente, despertando Peter dos seus devaneios.

- Peter, vamos – chamou Derek vendo o mais velho menear positivamente, após o leve susto.

- certo. Vamos – disse o louro seguindo  o sobrinho para a saída do esconderijo.

Chapter 45: Tempt

Chapter Text

Stiles adentrou o presídio com certo tédio no olhar. Maybelle era puro tédio. Ele tinha que se esforçar mais para manter a sua sanidade ali dentro do que durante algum caso do FBI. As pessoas ali tinham sempre  os mesmos perfis, as mesmas manias, os mesmos egocentrismos. Era muito cansativo. Os guardas? Igualmente egocêntricos e de mesmos perfis. Chegava a ser irônico que a única coisa que separava alguns presos dos guardas eram algumas roupas.

Ao passar por uma das celas no corredor, Alice pôde ver um guarda se entorpecendo com algum tipo de droga em pó. O homem, ao perceber que estava sendo observado por um detento, sinalizou um corte no pescoço para o mesmo, indicando que o criminoso estaria morto caso abrisse o bico. Stiles sorriu largo enquanto seguia o seu percurso. Brett havia sido útil para algo em seu dia.

Agora, Stiles sabia seria o seu próximo servo em seu castelo de cartas.

O castanho estava selecionando cada homem daquela prisão a dedo. Ele era bom em jogos de tabuleiro. Ele era expert em jogos de estratégia como Damas, Xadrez, Shogi e Go. E aquela prisão, para si, não passava de um tabuleiro de Shogi personalizado e adulterado para um jogo de mestre. Um jogo cuja a única peça que Stiles começará tendo fora o rei, tendo que enfrentar mais do que o triplo de peças do jogo original. Um jogo impossível no qual ele estava começando a tomar território.

O homem de cabelos castanhos mordeu o lábio inferior, tentando controlar o seu sorriso largo. Ele conhecia a si mesmo. Sabia que costumava perder o foco quando se excitava com coisas pequenas e momentâneas. Ele precisava se manter focado em não estragar tudo. Alice precisava ser controlado antes que matasse de novo. Finalmente o FBI havia lhe entretido depois de mais de uma década. Ele precisava se manter focado no FBI, necessitava manter a sua mente centrada em Peter.

Ah, mas ele se lembrava perfeitamente da emoção que sentiu ao ver Alan Deaton a sua frente, com toda aquela pose autoritária, exalando supremacia. O seu sorriso largo voltou a dominar os seus lábios, exibindo os seus dentes o máximo que podia. Alan estava tão diferente de quando o vira pela primeira vez. Aquilo lhe animava, lhe excitava. A sua mente trabalhou em reproduzir a imagem de um homem negro de cabelos raspados e um colete aprova de balas com as três letras do FBI bem destacas na parte frontal do acessório. O olhar de completo pânico em sua expressão de choque criava reações no homem de cabelos castanhos. Lembrar da expressão aterrorizada de Alan em há dez anos atrás era demasiadamente satisfatório. Se recordar do modo como as mãos do agente tremiam enquanto lhe direcionava o olhar fazia a boca de Stiles salivar.

O assassino levou o indicador aos lábios, deslizando o dígito pelo lábio inferior, repuxando o mesmo para baixo. Em um suspiro, Alice introduziu a ponta do indicador na boca, passando a deslizar a ponta da língua pelo dígito. 

“Merda! Eu quero ver aquela expressão no seu rosto de novo!”

Pensou o Stilinski enquanto circundava a ponta do dedo com a língua. Puxando um pouco mais do dedo para fora da boca, o castanho mordeu o próprio dígito até que sangue começasse a escorrer para o interior de sua boca. Ele se sentia animado, se sentia instigado. Lembrar de Alan Deaton, hoje um dos membros do conselho do FBI, há uma década atrás, completamente aterrorizado com a sua mera presença lhe deixava ansioso. O gosto metálico em sua boca servia apenas para lhe excitar ainda mais, embora fosse uma tentativa de conter toda a sua animação.

- Alan, eu quero tanto lhe fazer tremer de novo! – murmurou em um suspiro, enquanto sugava o próprio ferimento.

Logo uma expressão de puro tédio dominou o castanho de olhos claros, substituindo, quase que imediatamente, a expressão de deleite que há poucos instantes ele sustentava. Ele precisava se controlar, manter o foco e permanecer dominando o seu lado assassino. Alice não poderia colocar tudo a perder por causa de um mísero agente.

Ao alcançar o banheiro, o castanho de macacão laranja parou bruscamente ao lado da porta. Ele pôde ouvir vozes vindas do interior do banheiro. Vozes conhecidas. Ele tinha uma memória impecável e afiada. Conseguia memorizar os mínimos detalhes facilmente. Uma das vozes era Brett. Havia conversado com o detento há poucos instantes, a sua voz estava fresca em sua mente.  Mas a outra era de certa forma desconhecida. Quer dizer, Alice sabia de quem era a voz. Tinha a imagem perfeitamente guardada de um fos guardas que lhe levou para a solitária no dia em que arrancara o piercing de um homem que derrubou o seu almoço.

A conversa não parecia estar indo muito bem para o detento que lhe convidara para o local. Stiles se esgueirou para observar o que estava acontecendo. Brett estava sendo encurralado em um dos boxes por um guarda, que parecia determinado a lhe manter ali, no banheiro.

- eu já disse que não! – ralhou Brett soltando o braço que era agarrado firmemente pelo guarda ao jogar o membro par abaixo com força.

- ah, qual é, cara? Você gosta que eu sei – argumentou o guarda Winston voltando a tentar agarrar o pulso do Crowler mais uma vez.

- eu não vou transar com você, cara. Eu já disse que eu não quero! – exclamou o detento tentando se soltar mais uma vez.

- qual foi, cara? Há dois dias atrás você estava afim. Eu fico te devendo outra caixa de cigarro mentolado – argumentou o homem de fardado vendo o louro continuar a relutar.

- eu já disse que não vai rolar, meu irmão! – ralhou Brett empurrando levemente o guarda, apenas o suficiente para o afastar de si.

- qual é a sua, cara? Eu estou aqui, com o pau duro pra caralho e você aí fazendo cu doce? Não vai ser a primeira vez que a gente transa, cara! Voceté gay, eu quero foder. Qual é o problema?! – exclamou o guarda, indignado.

- o problema é que eu não quero, meu irmão! Não é só porque eu gosto de homens que eu vou transar com qualquer um. E não é só porque você tem um pau que eu vou querer transar com você! Agora vaza daqui! Eu estou fora dessa merda, Winston  – ralhou Brett empurrando o guarda, tentando abrir caminho.

Ele estava preocupado. Se o detento de cabelos castanhos o encontrasse ali, com um guardar, poderia acabar tendo ideias erradas sobre ele. E isso acabaria fodendo com todo o seu plano. Mal sabia ele que Stiles se encontrava atrás da parede, ao lado da porta, assistindo a tudo. Alice grunhiu, curioso, enquanto levava o indicador aos lábios. Brett Crowler estava se mostrando um pouco mais interessante. Ele já fazia uma certa ideia do que o outro detento queria conversar consigo.

Alice havia ligado os pontos facilmente. O Crowler era o quarto detento que dividia cela com Rei, Rainha e Valete. Ele, com toda a certeza, havia notado o seu envolvimento com os três. Mas não por descuido seu. Alice não era um amador. O castanho sabia que uma se suas cartas havia vacilado em guardar o seu segredo.

Ele deveria estar irritado com eles. Possesso. Mas estava alterado demais para se importar com aquilo agora. Mesmo tendo feito besteira, o trio acabou trazendo Brett para o seu campo de visão. Eles haviam lhe entretido. O castanho teve que sugar o próprio dedo mais uma vez, tentando sufocar a risada divertida que insistia em lhe subir a garganta. O assassino fora tirado dos seus devaneios quando ouviu o som de impacto vir do interior do banheiro.

O rapaz grunhiu curioso mais uma vez, gemendo abafado por causa do dedo em sua boca, se inclinou para espionar o interior do banheiro mais uma vez. Winston havia empurrado Brett contra a madeira do box em que conversavam. O agente penitenciário empurrava o corpo do detento contra o box, usando o seu corpo para exercer pressão sobre o outro.

- não é assim que as coisas funcionam, Crowler. Não comigo. Você não vai me chutar. Você não pode. Não tem poder pra isso – ditou o guarda, furiosos, ao mesmo tempo em que esfregava a sua ereção contra as nádegas cobertas pelo macacão laranja. 

Brett tentava se soltar, mas ficava difícil quando ele não podia agredir o outro homem fisicamente. O detento sabia de seus limites, e não conseguiria sair dali sem ultrapassar todo eles. Winston tinha a vantagem por vestir uma farda de guarda e trabalhar ali.

- eu pensei que você fosse casado, Winston – a voz jovial e de tom divertido cortou o ambiente, assustando ambos os homens.

Winston por ser pego naquela situação com um dos detentos e Brett por reconhecer a voz que ecoara pelo ambiente. No mesmo instante, o guarda se afastou do detento Crowler o suficiente para esconder todo o teor sexual da situação, passando a encenar apenas um enquadramento de um criminoso. Ao olhar para trás, o homem de cabelos morenos franziu o cenho ao ver o detento jovial que havia sido transferido recentemente para o presídio.

- o que você quer aqui, novato? Quer substituir ele? – inquiriu Winston levemente mal humorado por ter sido interrompido.

- ah, eu adoraria, vai por mim. Nós iríamos brincar de jogos dos quais você nunca pensou em participar – respondeu o Stilinski sorrindo maroto na direção do guarda, que sorriu ladino com a confissão do detento, não sabendo o verdadeiro significado do jogo de palavras do assassino.

- mas, para ser sincero, eu gostaria de saber o que a sua filha acharia do pai estuprador dela – completou Alice vendo o semblante do guarda Winston perder um pouco do sorriso.

- você é idiota ou o quê? Eu não tenho filhos – argumentou o agente penitenciário vendo o castanho erguer o queixo, lhe olhando com um ar de superioridade.

- será? Garanto que Samantha estaria bem interessada em seu segredinho sujo. Isso faria a sua mulher ganhar o divórcio de lavada, não faria? E sua pequena e doce Samantha nunca mais olharia em sua cara novamente – provocou o assassino sorrindo vitorioso na direção do guarda.

- afinal, que tipo de ativista feminista ela seria se apoiasse qualquer tipo de abuso sexual. Imagina só a hipocrisia! Ela postou há algum tempo atrás em suas redes sociais sobre como repudiava abuso sexuais de qualquer tipo, e então descobre que o próprio pai estupra homens na cadeia. A decepção a faria sumir de sua vida – ditou Alice com os olhos brilhando na direção do homem no momento em que o mesmo tomou uma expressão de pânico no rosto.

A sua filha Samantha, a qual ele fazia questão de esconder a existência no trabalho, era o seu diamante. A melhor coisa que já havia acontecido em sua vida. A ideia de perder sua filha assim lhe desesperava.

- você está louco! – ralhou, furioso, enquanto empurrava Bretto contra a parede e se afastava do box.

Alice gargalhou alto 

- louco eu sempre fui. Você, por outro lado, não passa de um cachorro sem dono. Mas eu vou colocar uma coleira em você, Winston. Você não tem serventia nenhuma para mim, mas eu não posso deixar um cachorro solto pelo meu jardim. Ele poder acabar cavando buracos e estragar todo o meu cenário. E eu preso pelo meu jardim, cachorro. Agora, suma, antes que eu faça da sua vida um inferno – ditou Alice antes de o guarda passar por si, batendo o ombro no seu.

- não pense que isso irá ficar assim – rosnou o homem com farda de agente penitenciário não vendo o castanho sorrir ladino para o nada.

- nem por um segundo – murmurou Alice olhando por sobre o ombro de vendo o moreno se retirar do banheiro a passos pesados.

8- você me ajudou! – exclamou Brett, surpreso.

- antes que você comece a tirar conclusões precipitadas, eu não fiz nada por você. O meu tempo é precioso e precisamos tratar de negócios, não? Winston estava no meu caminho por tempo demais – ditou o detento de olhos castanhos claros cruzando os braços dia te do peito.

Brett sorriu ladino. Aquele homem parecia ser duro na queda. Ele não fazia ideia de como o castanho de brincos a sua frente havia conseguido uma informação tão sigilosa do guarda Winston. Samantha, a folha de Winston, era um segredo até mesmo para a maioria dos agentes penitenciários daquele lugar. Brett apenas descobriu a existência da garota ao escutar uma conversa entre o chefe da prisão e o próprio Winston. Mas, diferente de Alice, ele não tinha tantos detalhes sobre a vida da garota. Se quer sabia as redes sociais dela. Aquele homem estava lhe surpreendendo de várias maneiras.

- e então? O que seria bem mias divertido? Espero muito que não tenha sido esse projeto de show entre você e Winston – inquiriu Alice vendo o louro sorrir revelando os seus dentes dianteiros grandinhos.

- antes de tudo, temos negócios para fazer – falou o louro cruzando os braços e se apoiando com as costas na parede do chuveiro do box.

Alice apenas ergueu a sobrancelha em questionamento.

- eu sei o que você está fazendo aqui – ditou o homem apoiado a parede, erguendo a perna, encaixando a planta do pé na parede de azulejos que deveriam ser brancos.

- e o que seria? – inquiriu Stiles vendo Brett sorrir ladino.

- você está querendo dominar esse lugar – respondeu com convicção, gerando um riso contido no outro. 

Stiles soltava ganidos gerados pelo ar que escapava por suas narinas. Ela não estava conseguindo conter o riso em si. Brett franziu o cenho confuso.

- eu sei que já tem o Rei e os amigos dele na palma da sua mão. Até mesmo o guarda Josh está comendo na sua mão – argumentou, internamente desesperado para ter a certeza de que o outro estivesse ciente de que ele sabia o que estava acontecendo.

- e daí? O que vai fazer? Me denunciar você não vai – perguntou Alice sorrindo maroto na direção do louro.

- he he! O seu jeito ousado é interessante, sabia? – ingadou o homem de cabelos louros observando o de castanhos esticar os lábios para o lado, em um sorriso de canto.

- eu quero...

- eu sei o que você quer. O que eu quero saber é o que você pretende com a informação que você tem – ditou Stiles encarando Brett lhe fitar surpreso.

- você sabe?

- não foi muito difícil de descobrir, se você quer saber – respondeu apontando com o polegar na direção da porta do banheiro.

O Crowler suspirou.

- pois é. Eu consigo lidar com os caras do nosso lado. Mas os guardas.. se eu usar de violência vou apenas piorar as coisas. Mas você... Você pode. Já o fez três vezes, pelo que pude perceber. – ditou o louro e o outro detento franziu o cenho em sua direção.

- e o que eu ganho em troca? – questionou vendo o simplório detento lhe fitar com um sorriso debochado.

- não tem medo que eu vá te denunciar? – indagou irônico observando o outro espremer os lábios em desdém.

- é inútil. Mesmo que entregue para a direção da prisão, nada vai mudar. Quero dizer, nada além de o fato de que eu estarei lhe caçando. Ru vou continuar recrutando escravos e você ficará isolado em sua cela até p doa de sua morte, que será ditado por mim – o castanho ditou com seriedade, fazendo o outro repensar bem as suas escolhas.

Alice era barra pesada e ele sabia disso. Mas ele seria tão intenso ao ponto de conseguir bater de frente com a direção da prisão? Brett não iria testar. Não com aquela hipótese, não naqueles termos. Ele preferia estar do lado certo quando o muro caísse.

- bom, isso não seria nada divertido para mim. Então... Que tal eu ser o seu informante? Eu tenho informações sobre todo mundo aqui. Seja guarda ou criminoso. Todos eles estão fichados em minha lista de informações. Posso ser muito útil em seu recrutamento – sugeriu sorrindo vitorioso na direção do castanho.

- eu duvido que você possa ser tão útil assim. No entanto, me parece divertido ter um espião tão prestativo. É melhor você provar que estou errado quanto a sua utilidade, Brett. Eu não sou muito gentil com brinquedos inúteis – disse Alice dando as costas para o louro.

- é só isso? Então você topa? – indagou Brett, esperançoso, vendo o Stilinski parar, lhe fitar por sobre os ombros e voltar a marchar, desta vez em sua direção.

- sim. A partir de agora você é meu, Brett. Nada nem ninguém deve lhe tocar. Aquele que o fizer, eu quebro como um boneco barato – respondeu Alice parando no centro do box, apoiando o cotovelo na parede, acima da cabeça, enquanto encarava o louro nos olhos.

Brett sorriu ladino.

- a propósito, não quer se divertir, como eu disse que iria? – perguntou o homem vendo o castanho franzir o cenho.

- e como é? – inquiriu Alice vendo o outro morder o lábio inferior, sensualmente.

- você parece já saber o processo. Está bem animado, por sinal – respondeu o Crowler levando a ponta do indicador para a ereção nada discreta do detento a sua frente, deslizando o dígito pela pequena mancha redonda que havia ali.

- há pouco tempo estava negando sexo a um homem, e agora está se oferecendo a outro? – questionou o Stilinski, desconfiado.

- há! Fala sério! Sem comparações. Você é sexy! Winston é... Desprezível? – o homem tentou argumentar, mas não achava uma palavra exata para definir o guarda que há poucos instantes estava lje forçando contra a parede.

- eu não me interesso por sexo – disse Stiles se mostrando inalterado ao toque suave em sua glande.

Brett gargalhou 

- então por que você está tão duro? – o louro interrogou passando a apertar a ereção em sua mão, sentindo bem quando a mesma pulsou contra a sua palma.

A mão de Alice voou para o pescoço do louro, o empurrando contra o interior do box, voltando a o fazer colar as na parede do chuveiro.

- vai por mim, você não vai querer saber o que me deixou nesse estado – ralhou o castanho apertando suavemente o pescoço alheio. Ele se sentia estranho. Nunca em sua vida se sentiu interessado em sexo. Sempre odiou toques ousados em seu corpo. Mas a mão de Brett era quente e lhe dava uma sensação agradável contra o seu membro pulsante.

- eu não preciso, necessariamente, saber o que lhe excitou para poder lhe fazer gozar. Apenas preciso que você me deixe fazer – argumentou Brett passando a mover a sua mão, lentamente, sobre a ereção alheia, a massageando.

Stiles não soube como reagir. O seu cérebro gritava para ele simplesmente quebrar o pescoço de Brett em apenas dois movimentos. Mas o seu corpo tremia. Um misto de temor e ansiedade. Alice sabia fazer leitura corporal desde criança. Mas o seu corpo parecia um completo mistério para si, no momento. Ele estava tão absorto em tentar compreender o pane sistemático do seu corpo, que se quer notou quando Brett abriu o zíper do seu macacão e, simplesmente, enfiou a mão nele, buscando por seu membro rígido.

Alice prendeu a respiração, temeroso, quando o louro passou a lhe masturbar com suavidade.

- relaxe, você está muito tenso. Primeira vez com um homem? – disse o Crowler sorrindo safado na direção do castanho. A voz rouca e sedutora do homem despertou Alice de seus devaneios.

- com certeza não. Não ligo se você é homem, mulher, ou o que quer que seja –  respondeu com seriedade enquanto via o outro morder o lábio inferior ao apertar o seu falo brevemente, antes de seguir com a massagem lenta.

- então por que está tão tenso? – inquiriu o detento da segurança mínima ainda com a voz rouca, sedutora.

Alice o empurrou contra a parede novamente, fazendo uso apenas da mão que se encontrava em seu pescoço. Brett achou melhor soltar o castanho, desfazendo o envolvimento de sua mão no genital pulsante e erguendo as mãos em um sinal de rendição. O novato reduziu a distância entre seus rostos lentamente, fazendo uso de uma expressão de poucos amigos enquanto a ponta dos seus dedos pressionavam a carne do pescoço do louro. O Crowler engoliu em seco, receoso.

- meus motivos não lhe dizem respeito – ditou Alice com os dentes cerrados, antes de, com a outra mão agarrar o membro ereto de Brett, o surpreendendo.

- o que... – o homem fora valado quando o castanho soltou o seu pescoço, agarrando o colarinho e o puxando com certa brutalidade, forçando os dois corpos a se chocarem.

- cale a boca antes que eu mude de ideia – o assassino soltou, entredentes, antes de tomar os lábios alheios nos seus.

O beijo fora um pouco necessitado, violento, mas Brett não podia negar que havia gostado. Enquanto os seus lábios disputavam a dominância, as mãos do castanho seguiram para o zíper do seu macacão.

- não se preocupe. A minha boca vai ficar ocupada demais pqra ficar lhe fazendo perguntas – disse o louro antes de suspirar quando a mão de dedos longos se fechou ao redor de sua ereção por dentro do macacão.

O louro empurrou as mangas do macacão alheio, o fazendo deslizar pelos ombros do castanho e cair. Stiles puxou o macacão do outro detento para baixo, o despindo parcialmente. Brett sorriu com o ataque em seu pescoço. Alice avançou com os lábios contra a sua pele, lhe mordendo e chupando. Aquele cara com certeza deixaria marcas em si. Não estava tomando o mínimo cuidado com a sua pele, usando dos dentes sempre que queria.

- para alguém que não estava interessado em sexo, você me parece bem entrosado – o louro provocou enquanto juntava a sua ereção com a do castanho, passando a masturbar os dois simultaneamente.

- eu já disse para calar a boca – ralhou o castanho investindo com a cintura contra mão do outro, passando a serpentear o corpo.

- okay. Me calando - disse o Crowler passando a escorregar as costas pela parede do box, se permitindo cair de joelhos diante do homem de brincos.

O louro agarrou o pau pulsante do castanho com punho firme, antes de olhar para cima. O homem mordeu o lábio inferior com a visão que tinha. Aquele castanho de brincos, olhando  sua direção com um olhar severo, lábios entreabertos por onde escapavam suspiros, e a ereção do mesmo dominando o seu campo de visão.

- você fica ainda mais sexy visto daqui de baixo – o Crowler pronunciou com um sorriso safado. Antes mesmo que Stiles o mandasse calar a boca mais uma vez, o homem lambeu a glande rosada com avidez.

Stiles suspirou com o toque quente e úmido em seu falo. Ele se sentia estranho ao apreciar aquele tipo de toque tão íntimo. A sua mente dizia para ele quebrar o pescoço do louro por se atrever a lhe tocar de forma tão atrevida. Mas o seu corpo tremia em apreciação. O homem passou a mover a cabeça para a frente, engolindo o pau do castanho até a metade.

Alice gemeu rouco. O seu membro pulsou uma vez contra a língua atrevida, a sentindo deslizar lentamente antes de Brett deixar o seu pau escapar pelos lábios umedecidos.

- ainda não gosta disso? – questionou o louro observando o outro suspirar um pouco pesado.

- é... – o castanho suspirou, ainda inerte, incrédulo, com a sensação prazerosa que sentira há pouco – até que está sendo interessante – disse o assassino movendo a cintura, deslizando a sua ereção parcialmente molhada com a saliva do Crowler, o vendo soltar um sorriso safado.

- você quer que eu continue? – inquiriu Brett e o assassino sorrir de canto..

- você disse que me faria mudar de ideia, não? – argumentou Stiles em resposta 

O louro sorriu convencido. Quando ele abriu a boca para poder acolher a cabeça rosada do pau pulsante e molhado a sua frente, o louro fora surpreendido quando o seu cabelo fora agarrado bruscamente.

- você está me saindo melhor do que a encomenda, Brett – disse o castanho permanecendo a bater com o seu pau na face alheia.

- e então? Qual é o meu? – indagou o louro, sensualmente, deixando o castanho confuso.

- seu o quê? – questionou vendo o outro agarrar o seu membro com a mão, o guiando para a própria boca, deslizando os lábios e a língua pela lateral de sua ereção enquanto a masturbava.

- qual é o meu nome? Pelo o que eu vi, todos os seus capangas têm nome de cartas. Qual é a minha carta, senhor? – respondeu antes de levar a ponta rosada do pau alheio aos seus lábios, a envolvendo suavemente, antes de a sugar com vontade, sentindo o gosto do pré-gozo dominar a sua língua.

Alice sorriu.

- primeiramente, você deve me chamar de Alice, e não senhor. E você vai dar um ótimo Coringa – respondeu Stiles estocando uma vez contra a boca do louro, o ouvindo rir abafado assim que voltou a ter apenas a sua glande na boca.

- espero poder lhe servir sempre, Alice. Meu pau está babando só de estar lhe chupando – ditou o detendo deslizando a outra mão pelo próprio corpo até alcançar a própria ereção, passando a se masturbar enquanto o castanho voltava a lhe estocar a boca.

Valete adentrou o banheiro com uma expressão preocupada. Estava apavorado com a desgraça que Brett poderia lhe causar ao provocar aquele cara daquele jeito. Mas, ao focar o olhar no banheiro e ver o colega de cela gozando enquanto batia uma punheta, ajoelhado diante do seu superior, estando este com o macacão parcialmente despido e suspirando alto, o homem arregalou os olhos e recuou rapidamente, se retirando do banheiro.

- porra! – exclamou baixinho enquanto recuava a passos lentos e silenciosos.

Aparentemente, o Crowler não irritara Alice. Muito pelo contrário, conseguira até aliviar um pouco o mesmo. Mas se ele fosse pego ali, naquele lugar e naquele momento, talvez a irritação de Alice retornasse com força total. Então ele iria ter que esperar para tirar a água do joelho.

Chapter 46: See

Chapter Text

A equipe se aconchegou no jato disponibilizado pelo governo, enquanto se espalhavam pelo mesmo. Erica e Vernon estavam sentado de frente para Allison, com a loura dormindo apoiada no ombro do homem, que estava engajado em um diálogo com a Argent sobre tipos de armamentos. Scott estava deitado em dois acentos, usando de fones de ouvidos, enquanto Isaac se encontrava dormindo ao lado de Peter.

Aquele caso havia sido cansativo para todos. Mas Derek não tinha sono. Ele apenas precisava se sentar e descansar um pouco. No entanto, ele estava preocupado. O ocorrido com o seu tio no meio da operação de captura e apreensão havia mexido consigo. Ver o homem que lhe ensinou a atirar e a manter o foco em uma situação daquelas simplesmente paralisar diante de uma arma, estando ele igualmente armado. Aquela imagem se repetia em sua cabeça várias vezes, toda vez que olhava para Peter.

Era evidente que aquele adolescente havia mexido com o Tate. O louro havia ficado pensativo e desligado desde que conseguiram apreender toda a droga que seria transportada e uma parte das pessoas que se encontravam envolvidos naquela organização criminosa. O homem se encontrava calado, distante, aprisionado em seu próprio mundo. Derek já não suportava mais o silêncio do tio. Peter não era daquele jeito. O Hale só havia visto o tio tão silencioso uma vez em toda a sua vida. E ele odiava a ideia de Peter silencioso. Isso lhe lembrava da morte do seu pai.

- quer jogar um pouco? – inquiriu o moreno de olhos verdes, se sentando diante do tio com o tabuleiro de xadrez em mãos.

Ele não gostava muito do jogo. Mas aquele tabuleiro de casas brancas e pretas parecia entreter o louro e o assassino da equipe. O Hale tentou não pensar muito em Stiles. Na verdade, ele preferia não pensar no castanho. A sua mente entrava em pane sempre em que se lembrava de que Alice não era o verdadeiro assassino do seu pai. Saber que havia vivido em função de uma mentira por mais de uma década era demais para si. Ele compreendia que Alice não era, de fato, o assassino do seu pai, mas preferia não pensar sobre isso. Sempre que pensava, começava a se questionar várias vezes, começava a notar os nós soltos que ninguém poderia lhe fornecer a outra ponta para que ele pudesse os amarrar.

Peter ergueu o olhar do copo de whisky em sua mão, apoiada a mesa, para o tabuleiro de xadrez fechado em uma maleta pequena na mão do sobrinho. Aquele jogo lhe lembrava Stiles. Lhe lembrava como o outro era bom em jogos e como eles o entretinham. Suspirando, ele voltou a abaixar o olhar para o whisky já sem gelo após a fusão do mesmo.

- não, obrigado. Não estou muito interessado em jogos, no momento – respondeu puxando o pegador de gelo, levando um cubo do balde metálico já um pouco cheio de água, o depositando em seu copo, antes puxar uma rodela de limão e a colocar no copo.

- vamos lá! Eu não sou tão ruim nesse jogo – comentou Derek, tentando distrair o tio de seja lá o que fosse que estivesse o perturbando.

Peter olhou para o sobrinho, curioso. Derek não tinha o costume de ser gentil consigo. Não desde que fora afastado do FBI. O seu sobrinho não lhe tinha mais como o homem honesto e sensato que via há anos atrás. Derek agora lhe via. Como um criminoso com conhecimento jurídico que fora permitido a exercer cargo de agente por necessidade. Ele sabia disso.

- uma partida não vai matar ninguém – disse o louro, bebericando de sua bebida e logo Derek abriu a maleta.

Após todas as peças estarem devidamente organizadas, o Hale iniciou o jogo movendo um cavalo. Peter moveu um peão. Derek moveu um peão e Peter moveu outro. Quando o moreno de olhos verdes moveu o seu outro cavalo, Peter lambeu os lábios.

- o que você quer, exatamente, Derek? – indagou o louro vendo o sobrinho parar de mover a peça por menos de um segundo, antes de a posicionar em uma casa branca.

Era um pouco irônico posicionar-se em uma casa branca quando estava sendo obrigado a abrir o jogo para o seu tio.

- foi o Stiles? – inquiriu Derek deixando o louro confuso.

- perdão? – questionou Peter vendo o moreno franzir o cenho em sua direção.

- foi o Stiles que fez você paralisar daquele jeito? Durante a operação? – perguntou Derek vendo o tio lamber o lábio inferior, sutilmente. Um claro sinal de incômodo. O louro se sentia encurralado.

- por que está interessado em saber sobre isso? – indagou o louro movendo uma de suas peças.

Derek pensou um pouco antes de responder.

- você não é do tipo que se preocupa com o lixo criminoso da sociedade – comentou Peter, venenoso, tentando desviar a atenção do sobrinho para outro assunto.

O Hale suspirou. Ele sabia que merecia aquele tipo de tratamento frio do seu tio. Peter cuidou de si como um pai. O Tate fizera de tudo para tentar cobrir a ausência do cunhado na vida do sobrinho. No entanto, tudo oque recebera fora frieza, discussões, ofensas e rebeldia por parte do moreno de olhos verdes.

O motivo?

A acusação de corrupção que fora o motivo da exoneração de Peter do FBI.

Durante as investigações da morte de Alexander, surgiram provas de que Peter havia fornecido informações do caso Alice para alguém, com mensagens estranhas para alguém, além de a localização da cela de Alice. Para completar toda a sujeira, uma boa quantia em dinheiro entrou na conta do Tate. Trezentos mil dólares era uma quantia que realmente valia a pena questionar a origem. Na época, aquilo pareceu ser o suficiente para Derek colocar toda a culpa da morte do seu pai em Peter. O moreno detestava o louro com todo o ódio que seu coração adolescente poderia nutrir. Por semanas ele não falou com o seu tio. Depois de muita insistência por parte de Talia e de sua irmã Laura, Derek abriu a sua mente para o fato de que Peter nunca iria querer o marido de sua irmã morto.

Meses depois, Peter fora completamente descartado como suspeito da morte de Alexander. No entanto, a acusação de corrupção perdurou. Assim como a cisma de Derek com ele. O ódio se tornou apenas desconforto e desconfiança. O moreno de olhos verdes não conseguia confiar nem em sua própria família.

Hoje, Derek sabia que acusação era falsa. Não demorou para que ele juntasse as peças em sua cabeça. Se o FBI usou Alice como sinalizador para atrair o verdadeiro assassino, mas quando tudo falhou, eles simplesmente jogaram a culpa sobre o assassino mirim, acreditando que ninguém sairia perdendo, eles poderiam fazer o mesmo com Peter. Alice ganharia um nome em sua lista de mortos, o país seria tranquilizado em poucos dias e a família Hale receberia justiça pela morte do seu ente querido, enquanto Peter era afastado do FBI, mas ainda sairia com uma boa quantia no bolso. O louro já estava com o dinheiro, o qual eles não conseguiram comprovar a ligação com a morte de Alexander. Ele perderia o emprego, mas, em troca, receberia trezentos mil dólares.

- me desculpe. Eu... fui um merda com você por todos esses anos. Fiquei tão concentrado em meu ódio por Stiles, que vive uma mentira em que apenas eu acreditei. Me desculpe por não acreditar em você, tio – pediu o moreno de olhos verdes movendo mais um peão para frente.

Peter ergueu um olhar surpreso para o sobrinho. Ele não esperava por aquela atitude de seu sobrinho. Ainda mais tão cedo assim. Derek era bastante orgulhoso. Poderia demorar, mas, mais cedo ou mais tarde, o homem iria aceitar a realidade, engolir o orgulho e encarar os próprios atos e opiniões.

- isso foi mais cedo do que eu esperava – comentou o louro movendo o próprio bispo até o limite lateral do tabuleiro.

- eu... Admirava tanto o que você e o meu pai faziam. Eu admirava tanto o FBI que me deixei levar por mentiras ao invés de ouvir minha própria família – continuou Derek ao mesmo tempo em que dava continuidade ao jogo.

- está tudo bem. Não é como se eu pudesse lhe culpar por algo. Você era só uma criança. O que importa é o que você pretende fazer agora com as informações que obteve – disse o Tate capturando um peão adversário.

- eu só quero entender – argumentou o mais novo capturando um peão do tio, que, instantaneamente, moveu o bispo até a peça que havia capturado o seu peão.

- esse momento de reflexão é seu, mas não quer dizer que você não possa procurar ajuda – disse o homem vendo o sobrinho mover o próprio bispo.

- na verdade, tem algo que eu gostaria de lhe perguntar – disse Derek, um tanto receoso.

- vá em frente – disse Peter tomando o último gole de whisky de seu copo antes de se servir de mais um copo.

- por que você é tão próximo de Alice? – inquiriu o Hale vendo o Tate lhe fitar com seriedade, antes de abaixar o olhar para o tabuleiro.

- no que está pensando? Sei que não acredita mais que Alice é o assassino do seu pai – indagou movendo o seu cavalo.

- como pode manter uma relação tão... Próxima com alguém como ele, com um assassino? Ele pode não ter matado o meu pai, mas matou muita gente. Isso é um fato – Derek desenvolveu a sua pergunta vendo o homem a sua frente voltar a lhe fitar com seriedade.

- você ainda mantém o seu complexo policial. Mas não é como se eu esperasse algo diferente – respondeu passando a colocar mais uma rodela de limão em seu whisky, pegando a antiga com a ajuda de um palito de dente e a levar a boca.

- isso não me responde – ditou o Hale vendo o Tate acolher a fruta na boca, passando a mastigar a mesma.

- eu diria que o fato de eu ser considerado o gênio por muitos seria o motivo de tudo. Afinal, eu já falei uma vez e repito: apenas um gênio pode amar alguém como Alice. Mas isso seria demasiadamente específico, sem contar que eu vejo muita gente incrivelmente inteligente que adquire o seu posicionamento. Isso apenas lhe deixaria mais confuso e distante da realidade – ditou o louro avançando com o cavalo.

- sem rodeios, Peter, por favor. Você o trata como um filho. Eu quero entender o que leva a você, um homem honesto, que me criou e tentou de tudo para que eu não sentisse mais falta do meu pai do que eu senti, a gostar de um homem que matou tanta gente e não se arrepende de nada – falou o moreno de olhos verdes movendo o seu cavalo.

- sabe o que é complexo de policial, Derek? - inquiriu o mais velho vendo o homem de olhos verdes negar com a cabeça.

Peter moveu a sua rainha.

- isso é algo que a maioria dos oficiais e agentes têm. Vocês são dominados por seu senso de justiça, colocam na cabeça que criminosos são apenas criminosos e se esquecem completamente que eles são gente. Criminosos dão pessoas, homens e mulheres comuns, seres humanos. Seja agente federal ou um mero policial, todos fizemos o juramento de defender nosso povo e nossa pátria a todo custo. No entanto, o que vocês realmente protegem é o seu nome, a sua concepção de justiça e o conceito de honestidade – o louro ditou com calma e clareza, fazendo o Hale franzir o cenho em sua direção.

- as pessoas nem sempre querem ser criminosas, Derek. Claro, há sim pessoas que sonham em construir o que o Vernon construiu, pessoas que sonham em ser um Isaac, pessoas que apenas querem ser como Erica, e ainda aquelas que querem se tornar alguém como Stiles. Mas o fato de essas pessoas existirem, não anula a existência dos outros. Me diga, Derek, o que é um limão? – explicou o Tate fazendo o sobrinho lhe fitar confuso.

- ah... Uma fruta? – a resposta saíra como uma pergunta, devido a confusão do homem.

- mas toda fruta é um limão? – questionou o mais velho vendo o sobrinho tomar uma expressão pensativa na face.

- você prendeu a Erica. Você foi quem a tirou da liberdade, impedindo que a garota continuasse com o motivo que lhe levou a caçar ela. O que lhe levou a prender a Erica foram os crimes dela, mas o que a levou a cometer esses crimes? Você nunca se fez essa pergunta? – argumentou o mais velho vendo o sobrinho morder o lábio inferior.

- às vezes, criminosos são tão vítimas quanto as vítimas que eles fazem. O que levou Vernon a ser um dos maiores traficantes de arma do nosso país? O que levou Isaac a criar uma droga incrível e quase impossível de se copiar? O que levou Erica a ser uma incrível assassina de homens e uma ladra experiente? O que levou Alice a ser o maior assassino do país apenas sendo apenas uma criança? Para a maioria dos oficiais e policiais, apenas prender o clado é o suficiente. Vocês querem saber os fatos para poderem apenas chegar ao culpado e finalizar tudo. Eu quero saber os fatos para entender o motivo que levou o culpado aos seus crimes e então pensar em como devo tratar aquela pessoa. Porque, acima de tudo, eu sou um homem da lei, Derek, e enquanto um criminoso continuar sendo um ser humano, eu vou proteger ele. Eu não vou negar a existência de seus crimes, muito menos deixar que ele saia impune, mas eu jurei proteger o meu povo e manter a ordem e a lei. Nós podemos fazer os dois, mas a maioria de nós ignora que os criminosos também são o nosso povo. – ditou o Tate antes de levar o copo de whisky aos lábios.

Derek, pensativo com tudo o que acabara de ouvir, apenas moveu o cavalo para o limite lateral do tabuleiro.

- e você é melhor no jogo quando não tem que pensar em tanta coisa. Xeque-mate. – disse o louro ao atravessar o campo com a sua rainha, a posicionando em uma das casas diagonais ao rei de Derek.

- eu entendi. Eles ainda são seres humanos e... Merecem respeito. Mas isso ainda não me diz porque trata o Stiles do mesmo jeito que trata a Malia. – ditou Derek, deixando o tabuleiro de xadrez de lado e se focando na conversa com o tio.

Ele estava necessitado de respostas.

- Alice... É uma pessoa adulta. Hoje é um homem crescido e, provavelmente, uma mulher, também. Mas eu ainda vejo ele como uma criança. Ei não sei, exatamente, o que se passou no passado daquela criança para a transformar em uma criminosa tão perigosa. No entanto, a verdade por trás dele é óbvia: Stiles não teve uma boa tutela. Stiles tem uma aversão tremenda a homens e mulheres adultos. Ele se conecta mais facilmente com crianças. Alexander e eu fomos ao primeiros adultos com os quais eu já vi ele interagir bem. Segundo ele, fomos os primeiros que o tratamos como uma criança, não como um brinquedo ou uma arma – explicou o mais velho tomando uma expressão tristonha em sua face.

No mesmo instante Derek se lembrou da cena causada pelo castanho no hospital em Miami. O momento em que o castanho ralhou com o tio, o homem com quem ele agia com tamanho carinho e uma surpreendente dependência afetiva, ao mesmo tempo em que apontava uma arma apara a própria cabeça, alegando não ser uma arma para que Peter pudesse o controlar como bem entendesse.

- isso está relacionado com o surto dele em Miami? – inquiriu o Hale vendo o Tate suspirar

- eu vacilei com ele. Eu disse que nunca o veria como uma arma. Mas na primeira chance que eu tenho de trabalhar com o garoto, eu fui lá e o usei como uma ferramenta. Stiles estava desestabilizado pelo que a Laura fez com os brincos. O caso com aquele homem, Sebastian Crane, o estressou demais. Foi como um vazamento de gás. E eu fui a faísca. O modo como eu o tratei, fez com que ele explodisse e fugisse. O fracasso daquele caso foi tão meu, quanto dele – confessou o louro voltando a beber do líquido cobreado em seu copo.

- não seja tão duro consigo mesmo, Peter. Nós também viemos pegando no pé dele desde que fora retirado de Alcatraz – o Hale tentou apaziguar o peso na consciência do seu tio.

- mas vocês não prometeram a ele que nunca o veriam ou o tratariam como uma ferramenta. Eu, sim. – ditou o Tate desviando o olhar para a janela, não podendo ver o sobrinho lhe fitar sem saber o que falar.

- o que sabe sobre o passado de Alice? – indagou Derek vendo Peter erguer a sobrancelha em questionamento, por um segundo.

- apenas o que ele nos contou em interrogatórios – respondeu o mais velho observando o outro homem menear brevemente, abaixando o olhar.

- você ainda não viu as fitas que estão com sua mãe, não é? – inquiriu o louro e o mais novo negou com a cabeça.

- teme alguma coisa nelas? – Derek lambeu os lábios, nervoso.

- ele – a resposta não fora a esperada pelo mais velho.

- não seja tão duro consigo mesmo. Se te serve de consolo, você vai ser melhor para você. Ver e ouvir... Vai ser melhor do que procurar por opiniões formadas. Forme a sua – o homem tomou mais um gole do whisky, antes de se erguer para poder guardar a garrafa da bebida e o copo que usara.

Derek apenas observou o tio, antes de desviar o olhar para o tabuleiro de xadrez a sua frente. Ele havia evitado ir até a casa de sua mãe desde que a mesma lhe revelara a verdade sobre Alexander e Alice. Saber que vivera em função de uma mentira lhe dera um tipo de curto circuito no cérebro. Ele não sabia o que pensar. Não mais. Passara anos acreditando que Alice se deleitara em matar o seu pai, quando na verdade o castanho tinha o seu pai como uma figura paterna, assim como tinha Peter.

Ele não teria mais como correr.

Estava demasiadamente necessitado de respostas. Estava desesperado para tentar entender. E se Peter havia lhe dito que assistir aos interrogatórios gravados iria lhe ajudar a entender. Então ele iria o fazer. O homem puxou o celular do bolso e tratou de mandar uma mensagem para a esposa, alertando que passaria a noite na casa da mãe. Paige estaria dormindo, naquele horário, mas pelo dia ela veria a mensagem.

 

 

 

Peter abriu a porta, adentrando a casa sem se importar em ser cortês com o moreno de olhos verdes. Apesar de não morar mais naquela casa, Derek era o seu sobrinho. O homem cresceu naquela casa. Não precisava de apresentações, visto que a mesma continuava idêntica, apesar das reformas. No entanto, apesar de estar mais do que familiarizado com a casa, o homem de olhos claros se encontrava nervoso. Ele não sabia como começar, muito menos o que esperar. Ele apenas fechou a porta da casa, a trancando novamente, antes de seguir, nervoso, para a sala.

- você pode usar o escritório do seu pai. Vai ser melhor do que o quarto e você vai ter mais privacidade – sugeriu o Tate enquanto afrouxava a gravata em seu pescoço, desfazendo o nó da mesma.

- eu preciso do computador da minha mãe. Sabe onde ela guarda? – inquiriu o Hale vendo o tio começar a subir as escadas.

- eu vou pegar. Espero aí embaixo – ditou o mais velho antes de sumir no corredor do andar de cima.

Derek se viu inquieto na sala. Ele se desfez de sua gravata e do terno, os jogando sobre o sofá, para em seguida se jogar sentado no mesmo. Estava temeroso com o que pudesse encontrar nos vídeos do interrogatório de Alice. Tinha medo do que poderia pensar de si mesmo depois que assistisse ao garoto de onze anos que encantou os seus pais e o seu tio.

Quando Peter desceu as escadas com o notebook em mãos, o moreno de olhos verdes se ergueu, engolindo em seco. O louro lhe estendeu o aparelho, mas, quando Derek pegou um lado do computador, o Tate manteve o outro lado preso. O Hale ergueu o olhar para o mais velho, o vendo lhe fitar com bastante seriedade. O seu tio parecia querer dizer algo para si, mas as palavras não eram proferidas. O moreno se viu confuso e mais nervoso.

- os laudos médicos dele estão aí. Os psicológicos e físicos. Tome cuidado com essas informações, Derek. Se eu descobrir que as informações contidas nesse computador foram usadas contra ele, vamos ter um problema sério. Muito sério – o louro alertou o sobrinho o vendo franzir o cenho, antes de menear positivamente em concordância.

- eu vou tomar cuidado – Derek tentou tranquilizar o tio.

- ótimo. Leia os laudos também. Vai facilitar a sua compreensão do caso – disse o mais velho antes de se dirigir para a cozinha.

- eu vou preparar um café, vai querer? – inquiriu o Tate sumindo do cômodo.

- sim, eu vou – respondeu olhando atentamente para o aparelho em suas mãos.

O seu nervosismo ainda lhe dominava. Sentia duas mãos estranhas, como se a qualquer momento elas fossem começar a se mover sozinhas. Era como se elas não fossem suas. Respirando fundo, tentando se acalmar, Derek seguiu pelo corredor, a passos lentos, se aproximando cada vez mais do fim do corredor, onde havia uma porta fechada. A porta que ele evitava entrar. Ele parou diante da porta de madeira, olhando fixamente para maçaneta redonda. As suas mãos suavam e a sua garganta estava seca.

Com a mão trêmula e encharcada de suor, o Hale girou a maçaneta, sentindo a porta se mover levemente para trás, como se ela já soubesse de sua intenção. Respirando fundo, ele tentou se preparar para adentrar o escritório que um dia pertenceu ao seu pai. As lembranças de sua infância e início de sua adolescência ainda estavam frescas em sua mente. Lembranças dos dias em que ele entrava correndo por essa mesma porta, segurando um carrinho pequeno ou então uma pequena pistola de água.

Ao empurrar a porta, dando passagem para o cômodo, o homem suspirou. Ele quase podia ver o seu pai ali, sentado em sua cadeira. Do mesmo jeito que sempre estava quando Derek vinha até ele correndo pedindo para que pudessem brincar juntos. Alexander passava um bom tempo em seu escritório quando podia ficar em casa. Ele sempre deixava para revisar a papelada do trabalho em casa, assim poderia passar ainda mais tempo com a família.

Derek sentiu o peito se apertar com a visão que tinha. A sua mãe sempre fizera questão de manter o escritório do seu pai idêntico ao que o homem costumava deixar. Ela não se importava que usassem o cômodo. Muito pelo contrário. Laura e Malia costumavam estudar as coisas do trabalho e da faculdade no escritório de Alexander. Quando não estavam seus quartos, na sala ou na cozinha, elas estavam no escritório, trabalhando e estudando.

O escritório possuía uma grande mesa de estudos, com várias gavetas e uma luminária. Uma cadeira de rodinhas, onde Alexander costumava se sentar, atrás da mesa e duas cadeiras de madeira do outro lado. Nas duas laterais do escritório haviam estantes repletas de livros. Um lado era completamente científico e focado em trabalho e estudos variados, o outro era repleto de literatura ficcional, dramática ou romancista.

Derek se aproximou da cadeira de rodinhas, puxando a mesma para que ele pudesse se sentar, antes de depositar o computador sobre a mesa. Quando se sentou, o Hale parou brevemente para poder admirar a vista do escritório. Não era a primeira vez que ele fazia isso, se colocar no lugar do seu pai e admirar a vista que o homem tinha quando estava trabalhando. Mas era a primeira vez que ele fazia depois de ter saído daquela casa.

- eu quero entender, pai. Quero entender o que você viu nele – murmurou o moreno de olhos verdes, acariciando os braços da cadeira com as mãos, como se isso pudesse lhe aproximar do seu falecido pai.

Ele sabia que não fazia o menor sentido. Aquela, se quer, era a mesma cadeira que o seu pai usava há vários anos atrás. No entanto, aquilo parecia certo de se fazer. Lhe acalmava o peito. Como se aquela carícia feita na cadeira, fizesse como se ele sentisse o seu pai acariciando os seus ombros novamente.

Talvez seu pai quisesse que ele sentisse a mesma afeição que sentia por Stiles.

Mas isso era algo que talvez Derek jamais fosse ter certeza.

Chapter 47: Troublesome

Chapter Text

Derek encarava, nervoso, a imagem a sua frente. Ele já havia assistido a todos interrogatórios de Alice que foram conduzidos por especialistas em saúde mental.

Fora perturbador

Era incrível como aquela criança não expressava nada. Stiles não dizia nada, não expressava nada, não fazia nada. O garoto de longos cabelos castanhos e aparência delicada apenas encarava a pessoa responsável por conduzir o interrogatório com um sorriso gentil no rosto. Ele estava debochando do adulto a sua frente. Aquela era a quinta psicóloga a tomar as rédeas do interrogatório do jovem assassino. Em determinado ponto do vídeo, assim como em vários outros, ele voltou a o fazer.

O seu olhar se desviou da mulher de longos cabelos louros, para se focar na câmera. A sua expressão se tornou séria, como se estivesse olhando para algo que o incomodava. O seu olhar, apesar de ser inexpressivo, era penetrante. O sorriso gentil voltou a surgir em seus lábios, voltando a lhe dar um ar inocente que Derek e todos os que já haviam assistido àquele interrogatório sabiam que era falso.

A mulher no vídeo se deu por vencida. Mais uma vez aquele adolescente havia feito os médicos desistirem de arrancar alguma informação de si. O garoto permaneceu a olhar fixamente para a câmera. Aquela imagem assustava Derek. Era como se Alice não estivesse olhando para câmera, mas sim para ele. Ele se sentia analisado, ameaçado, despido, inutilizado. Tudo com apenas o olhar de um garoto de apenas onze anos.

O primeiro vídeo em que Alexander Hale aparecera no lugar de algum psicólogo mexeu com Derek. Ele não pôde deixa de se sentir emocionado ao ouvir a voz do pai mais uma vez. O ver se mexendo e fazendo uso de seu jeito simpático lhe trazia tantas memórias. O agente não percebeu que sorria bobo para o vídeo gravado do seu pai.

Mas o seu sorriso morreu com a presença de Alice. O garoto sorriu largo com a presença do Hale a sua frente após ser jogado sentado em sua cadeira. Enquanto os policiais algemavam suas correntes a mesa, o garoto de cabelos longos apenas sustentava um sorriso na direção do agente de olhos. O seu sorriso era grande e branco, como o de um gato sorridente. O agente treinado deu início ao interrogatório. Ele fazia as mesmas perguntas que os psicólogos.

Qual é o seu nome?”

“Quantos anos você tem?”

“Quem são os seus pais?”

“Você sabe por que está aqui?”

Nada.

Nenhuma resposta, seja física ou verbal. Alice apenas permanecia sentado, com a coluna perfeitamente ereta, encarando o agente Hale se frustrar cada vez mais. E então primeira reação, veio. Não uma esperada por Alexander, mas, sim, a já esperada por Derek. Stiles desviou o olhar para a câmera e o seu sorriso se tornou minimamente mais largo. Era perturbador o modo como ele nada respondia. Apenas sorria e encarava a câmera como se fosse um modelo cujo objetivo era criar uma atmosfera maligna para a câmera capturar.

Aquele garoto deveria ter saído de algum livro de Stephen King, com certeza.

Alexander voltou a insistir nos tópicos jogos mentais com o intuito de analisar o raciocínio lógico daquela criança. Stiles apenas os realizava com  demasiada simplicidade. A criança não poderia ligar menos para aquilo tudo. Já havia realizado várias vezes coisas daquele tipo desde que fora preso. Já estava até habituado. Arriscaria até mesmo a dizer que poderia prever qual seria o jogo sugerido pelo agente a cada vez que terminavam algum jogo.

Sempre calado, o garoto de longos cabelos castanhos suspirou desgosto quando Alexander sugeriu o quinto jogo. O homem permanecia a repetir as perguntas a casa um ou dois minutos. O principal jogo mental era aquele. A ideia era fazer Alice se focar tanto nos jogos que realizava com o homem - montar blocos, encaixar peças, quebra-cabeças, identificação de imagens – que acabaria perdendo o foco em manter o seu silêncio e acabaria falando.

Mas a criança se mostrou extremamente boa em jogos mentais. Se Derek não conhecesse Stiles nos dias atuais, diria que aquele garoto nas filmagens era mudo. Os laudos médicos e os relatórios escritos por seu pai não lhe traziam informação alguma diferente das que ele já tinha. Stiles praticamente virou um objeto de estudo. Um experimento humano que o FBI escondeu durante todo o período do interrogatório. Todos os testes e jogos mentais realizados naquela criança indicavam uma inteligência muito acima da média.

Um gênio.

Era o que os laudos psicológicos diziam.

Todo resultado de análise dos laudos indicavam a mesma coisa. Alice realizava todos os teste de inteligência com perfeição. No entanto, os testes de personalidade não eram respondidos. O garoto parecia querer esfregar a sua inteligência na cara dos agentes, mas sem nunca expressar a sua personalidade. E eles tentaram de tudo. Todos os testes legalizados no país foram realizados, mas nenhum fora respondido por Stiles.

Derek suspirou.

Já fazia horas que estava assistindo aqueles vídeos e lendo todos os laudos médicos dos exames e testes realizados no garoto. Mas ele não conseguiu identificar nada em Stiles. Alice continuava exatamente como ele passou a vida inteira imaginando e odiando. Exatamente como a criança que viu no tribunal no dia do julgamento há vários anos atrás: alguém frio de poucas expressões e nenhuma consideração pelos outros. Não havia nada que lhe chamava a atenção no garoto. Nada que o fizesse sentir o mínimo de afeto ou consideração pelo maior assassino dos Estados Unidos.

“Eu sei que você é muito inteligente. Também sei que você foi o culpado por todas aquelas mortes. E você sabe muito bem que eu sei”

Alexander começou a falar, chamando a atenção tanto de Alice quanto de Derek. Como o esperado por ambos os Hales, o garoto de cabelos longos e e brilhantes nada expressou.

“Mas eu tenho uma pergunta. Fico me perguntando isso desde o primeiro interrogatório que fizeram com você.”

O agente Hale voltou a falar, ainda tendo a atenção de Alice e Derek.

“Você é um garoto inteligente e com um certo nível de crueldade. Eu sou inteligente, mas você é muito mais inteligente, pelo que os nossos estudos dizem. Então, eu me pergunto...”

“Com o que você sonha?”

Derek franziu o cenho para a pergunta feita por seu pai. Aonde o seu velho queria chegar com aquilo. Mas o que mais lhe chamou a atenção não fora a pergunta do seu pai. O moreno de olhos verdes moveu os dedos com velocidade, apertando a tecla da seta da esquerda, fazendo o vídeo voltar cinco segundos.

“Com o que você sonha?”

A pergunta fora repetida e as sobrancelhas de Derek se ergueram brevemente. O homem voltou a rebobinar o vídeo em cinco segundos.

“Com o que você sonha?”

A pergunta voltou a ser proferida e, pela terceira vez seguida, o moreno de olhos verdes presenciou aquele acontecimento. Fora ali, naquele interrogatório, naquele ambiente com aparência de instalação hospitalar, com aquela simples pergunta, que tudo começou. Apenas cinco palavras foram o suficiente para quebrar a armadura impenetrável que era a mente daquela garoto e o fazer erguer a sobrancelha minimamente.

Não fora um simples ato de questionamento, como muitos poderiam pensar. Fora um movimento tão pequeno e curto que quase se passou imperceptível por Derek. Quase.

Alice nada disse. O garoto apenas continuava a sorrir ao mesmo tempo em que sustentava o seu olhar sobre o agente de olhos verdes. O vídeo se encerrou e Stiles nada mais expressou até o final do mesmo. Mas isso não fora importante. A mente de Derek já estava ocupada demais processando o questionamento de seu pai. O que Alexander queria com aquela pergunta? Porque, sejam lá qual fosse o intuito, afetou o assassino. O Hale nunca procurou se aventurar muito na vida de Stiles. De nenhum dos prisioneiros, na verdade. Ele apenas conhecia Erica bem pois fora ele quem a prendeu antes de começar a trabalhar com Scott. Mas, agora que parava para pensar, ficava curioso.

- com o que você sonha? – o moreno questionou em um sussurro enquanto analisava a imagem congelada da criança de longos fios de cabelo que lhe encarava de volta.




Já passava das cinco horas da manhã e Stiles permanecia embaralhando suas cartas de baralho em suas mãos. O homem de cabelos castanhos, já um pouco grandes devido ao tempo que não os cortava, estava apoiado na parede de sua cela com as costas, ficando de frente para as grades que lhe prendiam temporariamente.

Ele estava entediado novamente. Mas, acima de tudo, ele estava confuso. Havia passado todo o dia pensando no que fizera. Pensava no motivo de ter feito aquilo. Ele nunca havia gostado daquele tipo de coisa. Nunca havia se interessado em sexo. No entanto, o fato de nunca ter se interessado, não significava que ele nunca tivesse feito. Ele não era um virgem alienado, muito menos um jovem inexperiente. Teve sua cota de experiência sexual cedo demais. Sempre usou de seu corpo e aparência delicada para fazer o que tinha que fazer.

No entanto, Stiles nunca, se quer, havia tido uma ereção pelo sexo. Nunca teve se quer um espasmos de prazer ao ser tocado intimamente. A caçada, a adrenalina, o sangue e a morte, esses, sim, já lhe causaram ereções. Os verdadeiros motivos por trás de sua excitação.

Mas Stiles não era burro. Jamais foi. Ele sabia muito bem que seu corpo correspondera positivamente aos toques de Brett. O calor da mão do outro e a umidade calorosa da boca do homem ainda lhe perturbavam a mente. Talvez fosse o seu corpo, o problema. Ele havia crescido. Tinha atingido a idade adulta. Seu corpo mudou, obviamente. Maldita puberdade. Se tivesse permanecido com o seu corpo de anos atrás, talvez não tivesse sentindo essas coisas que ele tanto repugnou no passado.

Mas havia gostado. Não podia mentir. Não iria negar a verdade para si mesmo. Sem contar que fora uma coisa positiva. O orgasmo que atingiu na boca do Crowler lhe ajudara a conter sua  sede de sangue. Se não tivesse tido aquele momento íntimo com o outro prisioneiro, talvez alguém estivesse morto. Sua sede de sangue era difícil de controlar quando surgia e, para piorar tudo, o ambiente em que se encontrava não lhe favorecia em nada no autocontrole.

As vezes, o castanho se perguntava o que ele poderia sentir de diferente com o seu corpo, agora que era um adulto. Crescer naquele cubículo de titânio lhe privara de acompanhar as mudanças de seu corpo completamente. Se ele havia se sentido tão bem com a boca de outra pessoa lhe envolvendo, se havia se sentido quente ao tocar outra pessoa tão intimamente, como ele se sentiria fazendo sexo? Aquela pergunta lhe rondava a mente com frequência, agora que havia descoberto novos prazeres.

O homem sentiu suas pálpebras pesarem e o seu corpo relaxar. Quando percebeu que sua mente em mais nada pensava, ele se assustou. Os seus olhos piscaram e a sua cabeça fora erguida de supetão. Se quer havia percebido que havia abaixado, minimamente, a cabeça. O seu baralho ainda se encontrava em suas mãos, não lhe surpreendendo em nada. Suspirando, ele se desencostou da parede. Sabia muito bem o que aquilo significava.

Havia chegado a hora.

Tinha atingido o seu limite de sono acumulado. O seu corpo estava implorando por descanso. Ele já não aguentava mais ficar acordado sem fazer nada. Estava óbvio. Por mais que tirasse os seus cochilos durante os dias, ficar sem dormir por tantos dias lhe consumia muito.

Suspirando, o castanho guardou o baralho em sua manga e passou as mãos nos cabelos, seguindo para uma das quatro camas. O homem se deitou na que costumava usar, se acomodando sobre o colchão horrível da prisão. Ele não demorou mais do que alguns segundos para pegar no sono. Estava demasiadamente cansado e o seu sono já estava esmurrando a sua porta há algumas boas horas.

O som incessante da emersão das bolhas estava alto o suficiente para lhe acordar aos poucos. Quando abriu os olhos, Stiles teve que os fechar rapidamente pois um líquido quente gotejou em seu rosto, próximo aos seus olhos. As gotas quentinhas escorreram por seu rosto como lágrimas antes de o rapaz abrir os olhos, confuso. Ele havia tentado levar as mãos ao rosto, para tentar enxugar os mesmo, mas as suas mãos não se moviam. O seu corpo todo não se movia.

E foi então que ele viu. O som borbulhante de liquido fervendo aumentou consideravelmente quando ele viu o mar de sangue que fervia acima de si. Toda aquela quantidade de sangue minava do teto, como um gêiser fervescente. Mas, apesar das gotas que caíram em seu rosto, o liquido vermelho não caía. Muito pelo contrário, após minar do teto da cela, o líquido escarlate era jogado para cima. Era como se Stiles estivesse no teto, e não o mar de sangue.

Ao olhar para os lados, o castanho pôde ver que tudo era consumido pleo sangue. As paredes eram cachoeiras escarlates. O chão ele não conseguia alcançar com os olhos, devido a sua paralisia, mas ele imaginava que estivesse no mesmo estado. A cama ao lado da sua fora engolida pelo sangue. O móvel derreteu aos poucos, como se o líquido vermelho não fosse sangue, mas, sim, ácido. O teto começou a se afastar e logo o homem compreendeu o que estava acontecendo. A sua cama também estava derretendo.

Assim que a beliche atingiu a altura da cama de baixo, a cama parou de se mover. Ela já não mais derretia, diferente da outra cama, que se derreteu por completo. Mas aquilo não fora o que mais chamou a atenção de Stiles. Do chão coberto de sangue fervente, o qual o castanho conseguia enxergar muito bem, agora, um pilar de sangue se ergueu devagar, como um gêiser que jorrava, mas lentamente.

Sangue borbulhante subiu na cama e logo tomou a forma de mãos, que trataram de lhe agarrar os membros firmemente. Duas dessas mãos de sangue surgiram lentamente ao lado de sua cabeça, deslizando, suave e calmamente, por seu rosto, se dirigindo para a sua boca. Logo, Stiles fora completamente imobilizado e silenciado. Quando todas aquela mãos liquidas, quentes e viscosas lhe prenderam firmemente, o homem sentiu a sua paralisia ir embora.

Ao olhar para o pilar de sangue ao lado de sua cama, o castanho fora surpreendido quando o mesmo parou de borbulhar, tomando uma forma humanoide. O ser que emergira do mar de sangue abriu os olhos instantaneamente. Não eram olhos comuns. Eram apenas esferas vermelhas brilhantes, como faróis vermelhos.

Stiles o encarou com tédio.

Não era a primeira vez que tinha aquele tipo de sonho.

Ele sabia muito bem o que viria depois.

Do teto, mais um pilar de sangue surgiu. Stiles o assistiu crescer até atingir a altura de um adulto. E então o pilar parou de borbulhar, dando lugar a outra figura humanoide. A sua cabeça estava na mesma altura da cabeça do primeiro ser que emergira do sangue. Os olhos se abriram, revelando um par de orbes prateadas e brilhantes, como uma prataria recém lustrada. Da parede contraria ao que deveriam ser as grades de sua cela, Stiles viu o sangue borbulhar com mais velocidade, criando um volume maior em uma certa região da parede.

Outro ser humanoide se formou e abriu os olhos, revelando um par de olhos amarelos como o ouro. Aquele corpo feito de sangue era maior do que os outros, mas ela também lhe direcionava o olhar. Godos ali lhe olhavam sem expressão alguma. Afinal, tudo o que os seus corpos de sangue tinham para revelar eram os seus olhos. Eles não tinham rosto para possuir expressão e seus coros possuíam apenas altura para diferencia-los. Da parede de sangue que deveria ser as grades de sua cela, Stiles pôde ver um corpo surgir. Desta vez, um mais baixo do que os demais. Assim que os seus olhos se abriram, Stiles pôde ver um par de olhos verdes escuros.

Nenhum deles se mexia. Nenhum dos quatro corpos falava. Eles se quer piscavam. Tudo o que faziam erma encarar Stiles com aqueles olhos sem íris. E então, o sangue parou de se mover. O que antes era um mar de sangue borbulhante, passou a ser apenas uma parede brilhante da cor escarlate. O castanho respirou fundo, apesar das mãos de sangue lhe cobrirem a boca, elas não tocavam as suas narinas.

A parede paralela as grades de sua cela tremulou, indicando que algo naquela parede de sangue se movia. Logo ele surgiu. Era diferente dos outros quatro. Os corpos de olhos coloridos, apesar de não borbulharem mais, possuíam os corpos feitos de sangue, mas aquele ser fora diferente. Era um corpo alto e muito bem vestido com um terno preto caminhou para fora do sangue. Mas o que mais chamava a atenção não eram as suas roupas e a diferença de corpo em relação aos outros. A coisa que mais chamava a atenção de Stiles para aquele ser era o seu rosto.

Um rosto coberto de pelugem branca, com orelhas enormes localizadas nas laterais do topo da cabeça. Os olhos vermelhos combinavam perfeitamente com o nariz rosado no centro do rosto. Os dentes longos e duros que cobria os seus lábios eram de uma branco tão intenso quanto o do seu pelo.

Um coelho.

O ser de pelos brancos na face olhou fixamente na direção de Stiles e o prisioneiro franziu o cenho em sua direção. O homem com máscara de coelho levou sua mão ao rosto branco e peludo, o movendo um pouco para cima, antes de começar a retirar a máscara. Por trás da máscara de coelho parcialmente retirada, havia um sorriso largo capaz de brilhar no escuro. Um sorriso largo com presas brilhantes surgiu no rosto de todos os cinco. Os seus dentes iam de orelha a orelha. Sorrisos tão largos que eram impossíveis de se dar com um rosto comum.

O homem sentiu uma lufada de ar quente em sua orelha direita. Com os olhos focados e em alerta, o castanho olhou para o lado, vendo mais um ser vermelho de olhos escarlate. O sorriso largo estava tão próximo de si que Stiles não pôde deixar de desviar o olhar para dentes grandes e brilhantes.

- sua vez – o corpo de sangue deitado ao lado de Stiles pronunciou com uma voz grossa.

- sua vez – o outro corpo de olhos vermelhos pronunciou com uma voz grossa e duplicada, fazendo Stiles voltar a olhar para si.

- sua vez

- sua vez

- sua vez

- sua vez

De um por um, todos foram começando a repetir aquelas palavras de forma incessante, até que um coro se formou. Stiles já estava enlouquecendo com aquilo. Ele odiava aquela parte. Logo todos os corpos feitos de sangue começaram a produzir um filete do líquido escarlate , que se dirigiu para o ar, entre Stiles e o teto de sangue, se ligando.

O silêncio reinou e logo todos os corpos se desfizeram em sangue, o qual voou para o ponto em que todos os filetes de sangue se ligavam. Stiles assistiu, ainda silenciado pelas mãos de sangue que lhe amordaçavam, o líquido ferver e flutuar no ar enquanto se moldava em um novo corpo. Assim que o líquido vermelho parou de borbulhar no ar, o castanho viu o mesmo se moldar em um novo corpo.

Um corpo igual ao seu.

O Stilinski encarou, surpreso, a sua imagem completamente ensanguentada lhe fitar com intensidade, antes de abrir um sorriso largo, igual aos sorrisos dos outros corpos.

- SUA VEEEEZ! – o castanho que flutuava coberto de sangue gritou a plenos pulmões.

E foi então que tudo desabou. As paredes, o chão e o teto se romperam, liberando uma vazão de sangue tão forte que Stiles se quer teve tempo de pensar em fazer algo. Quando ele piscou, o líquido escarlate que rompeu as quatro paredes, o teto e o chão em uma explosão vermelha já se chocava no centro da cela. Não demorou nem dois segundos para que ele sentisse o seu corpo começar a ser submerso em um mar vermelho. O homem teve tempo apenas de respirar fundo e fechar os olhos, antes de sentir o líquido cobrir seu corpo completamente.

Assim que toda a cela se encheu com o líquido vermelho, Stiles sentiu uma movimentação estranha. Finalmente se viu livre das mãos que lhe seguravam e lhe calavam por todo aquele tempo. No entanto, não tivera tempo de se sentir aliviado. Uma estranha correnteza surgiu, passando a lhe mover. Por mais que abrisse os olhos, lhe não enxergava nada. Estava submerso em um líquido escuro demais para enxergar através dele.

Em um dado momento, sentiu o seu corpo girar e girar embaixo de todo aquele mar de sangue. A correnteza fazia um movimento espiralado, ele só não sabia o porquê. O seu corpo fora puxado para baixo e logo ele sentiu a sua cabeça e o seu torso livres do líquido escuro que o cercava, antes de sentir um baque forte em suas costas e um som de madeira ser emitido.

A correnteza permanecia a lhe empurrar contra seja lá o que fosse aquilo em suas costas. Mas a força dela havia reduzido. Stiles tinha uma certa liberdade de movimento. O castanho se ergueu. Se sentia como se tivesse sido jogado no chão. A gravidade lhe dava aquela sensação. Como se ele estivesse embaixo de uma cachoeira de sangue. O que faria um certo sentido devido ao modo como fora jogado naquela... Porta? É aquilo parecia ser uma porta.

Havia até uma maçaneta om fechadura.

O castanho olhou bem para a madeira da porta. Havia algo de errado naquela cor branca da madeira. Ele sentia que já conhecia aquela porta. Havia resquícios de sangue cobrindo parte da madeira. A parte em que normalmente há um olho mágico oi até mesmo uma identificação. O homem se ajoelhou sobre a porta e esfregou o líquido escarlate, o limpando o máximo que podia.

Um símbolo preto surgiu em meio ao sangue. Uma símbolo muito conhecido.

O naipe de espadas.

O coração do Stilinski falhou uma batida.

- não – murmurou antes de se levantar, aterrorizado.

- não, não, não, não, não, não, não, NÃO! – o castanho repetia a negação várias vezes de forma rápida, desesperada.

Quando fora pronunciar mais uma vez, a porta se abriu quando o sangue que antes cobria o corpo do homem da cintura para baixo bateu com mais força contra a madeira branca da porta. Stiles caiu junto com o sangue, mas ele conseguiu se segurar no batente da porta com uma de suas mãos. Ergueu a cabeça pois não queria saber o que se encontrava do outro lado da porta. Ele não queria descobrir o que lhe esperava lá, embora fizesse uma ideia do que fosse. Acima de sua cabeça havia um enorme relógio de bolso. Do número onze, o sangue jorrava como uma cachoeira, a qual tentava lhe levar para baixo com toda a força de sua vazão.

O som de passos  de um par de pés que calçavam sapatos sociais ecoou pelo ambiente, lhe chamando a atenção. No ar, acima do batente superior da porta, no qual Stiles se segurava, o homem com máscara de coelho se aproximou calma e elegantemente. Com as mãos enfiadas nos bolsos, ele parou diante da mão de Stiles, o encarando. O castanho engoliu em seco ao olhar nos olhos vermelhos da máscara de coelho. O homem de terno se abaixou, colocando as mãos sobre os joelhos e inclinando a cabeça para o lado.

- o nosso jogo está parado há tempo demais – ditou o mascarado, com a sua voz modificada, ainda abaixado, e Stiles se esforçou para tentar subir a porta.

Assim que conseguiu colocar os braços, os ombros e a cabeça para fora da porta, o homem de cabelos castanhos se viu surpreso quando encontrou um tabuleiro de xadrez diante de si.

- o movimento já foi feito. Agora é a sua vez de jogar – a voz bifurcada do outro anunciou, enquanto um peão se movia sozinho no tabuleiro.

A casa em que o peão se posicionou possuía um naipe de espadas desenhado. Logo uma sombra cobriu Stiles e o mascarado por completo. Quando o castanho olhou para cima, se viu surpreso ao ver um peão gigante se aproximar, indicando que iria se posicionar sobre eles.

- não, não, não, NÃO – Stiles implorava para o nada, enquanto via o enorme peão se aproximar cada vez mais.

O assassino fora empurrado para baixo quando a sua cabeça tocou a base da enorme peça de xadrez. Ele se colocou, novamente, pendurado por suas mãos, antes de soltar o batente da porta, se permitindo finalmente cair.



Com um salto, Derek se colocou ereto na cadeira. Respirava fundo e se forma acelerada, indicando o susto que havia levado. Ele encarou a mesa a sua frente, surpreso. Havia pegado no sono enquanto lia um dos relatórios do interrogatório antes de assistir ao vídeo. Uma risada baixinha alcançou os seus ouvidos e, desesperado, o homem olhou para o lado.

- você está bem? Parece que não dormiu muito bem – inquiriu Talia enquanto depositava uma xícara de café na mesa diante do filho.

- não. Eu estou bem. Eu só... Não esperava ter dormido – explicou o homem passando as mãos no rosto, antes de acolher a xícara com uma das mãos, agradecendo a mãe no ato.

- Peter disse que você dormiu aqui. Mas eu pensei que tivesse sido no seu quarto – comentou a mulher de cabelos na altura do ombro, sorrindo gentil para o filho.

Derek suspirou

- eu estava...

- revendo o caso do seu pai – a mais velha cortou o homem de olhos verdes, acariciando os fios escuros de cabelos bagunçados pelo modo como o filho dormira.

Derek suspirou mais a vez.

- é. Eu...

- quer entender o que nós vimos nele – a mulher voltou a cortar o filho, que meneou positivamente, cabisbaixo.

Logo Derek ergueu uma sobrancelha em questionamento, lançando um olhar indagativo para a própria mãe. Talia sorriu, erguendo uma sobrancelha, lançando um olhar desconfiado para o filho.

- o quê? Eu estou aposentada, não caduca – argumentou a mulher se apoiando na mesa com o quadril enquanto cruzava os braços diante do peito.

- é tão óbvio assim? – indagou o moreno sorrindo minimamente antes de tomar mais um gole de café.

- o quê?! Você assistindo aos interrogatórios de Alice depois de descobrir que não foi ele que matou o seu pai?! Como eu poderia saber algo assim? – a mulher ironizou enquanto via o filho rolar os olhos e negar com a cabeça.

Derek havia se sentido estúpido.

Era tão óbvio!

- o que descobriu até agora? – indagou Talia vendo o moreno de olhos verdes suspirar.

Ela tomou a liberdade de analisar a tela do computador, vendo qual vídeo havia sido reproduzido por último. O seu filho já havia alcançado a metade dos arquivos. Aquilo era bom. Significava que o ódio imenso de Derek por Stiles não havia interferido no lado analista do homem durante os vídeos. Ela reconheceu o último vídeo assistido como o que revelara para a equipe de Perer e do seu filho quando o louro sequestrou os detentos por uma noite, os levando até a sua casa para que ela pudesse lhes revelar a verdade.

Fora um movimento arriscado. Peter poderia ter perdido o seu emprego tomando aquela atitude. Mas ela tinha que admitir que fora uma jogada e tanto. O homem conseguira reprimir o ódio de Derek por Stiles, abrindo a mente do sobrinho aos poucos, assim como também abrira ao olhos do mais novo para a verdade por trás de seu afastamento do FBI. Mas, além disso, Talia esperava que pudesse ter acalmado Alice. O irmão lhe informara de que o rapaz estava perdendo a sanidade aos poucos. Ele pedira a sua ajuda para poder o acalmar. Peter suspeitava que a presença de algo relacionado a Alexander fosse ajudar o rapaz a superar o que o estava enlouquecendo novamente.

Ela esperava ter ajudado. Sabia que não havia sido importante para o garoto como Alexander fora. Mas ela havia ao menos tentado. Havia mandado recados para o garoto por meio do marido, algumas vezes, mas apenas se conheceram no dia do julgamento. Sabia que não tinha importância por si mesma, mas a sua ligação matrimonial com o seu falecido marido talvez ajudasse com o que o irmão precisasse.

- enfim. Eu vou te deixar aí, analisando tudo. Você vai precisar se concentrar. Agora é que fica interessante – comentou a mulher começando a se afastar.

- como é? E o que têm nos próximos? – indagou Derek, surpreso, vendo a mulher parar do lado de fora, se preparando para fechar a porta.

- o agente federal, aqui, é você. Eu sou só uma cientista forense aposentada – ditou piscando para o filho do meio antes de fechar a porta do escritório.

Derek analisou a porta por um tempo, antes de suspirar. Tomando mais um gole do café que sua mãe lhe trouxera. Estava forte, do jeito que gostava. O Hale suspirou mais ima vez, antes de passar as mãos pelo rosto, tentando eliminar os resquícios do sono recente de si. Assim que retornou a analisar o caso, Derek fora surpreendido quando Laura adentrou o escritório.

- então é verdade? – a mulher indagou vendo o irmão retirar os fones de ouvido para lhe encarar com curiosidade.

- ah... Bom dia para você também – disse Derek observando Laura se aproximar, após fechar a porta do escritório com cuidado.

A mais velha parecia nervosa. Movia o anel de formatura no dedo da mão direita constantemente. Laura costumava girar o anel no dedo quando se encontrava incomodada. O moreno de olhos verdes franziu o cenho para a irmã de longos cabelos escuros.

- do que você está falando, Laura? – indagou Derek vendo a mulher ajustar uma mecha de cabelo atrás da orelha, olhando para baixo. A mulher se aproximou, dando um passo a frente, erguendo a cabeça e respirando fundo. Ela lambeu os lábios antes de direcionar um olhar acusatório para o irmão.

- você vai realmente ficar do lado dele? – inquiriu enquanto observava o irmão suspirar e abaixar a cabeça.

Tanto Derek, quanto Laura sabiam, perfeitamente, que eles dois eram igualmente cabeça-dura. Eles tinham a personalidade Hale. A personalidade forte com um instinto de superioridade era a descrição perfeita para alguns membros daquela família. O homem cruzou os braços diante do peito, antes de erguer um olhar compreensivo para a irmã. Um olhar carinhoso.

- eu não estou ficando do lado de ninguém, Laura. Eu só quero entender –

- entender o quê? – indagou Laura com uma sobrancelha erguida.

- por que está revisando o caso do papai? Não está tentando ver o que ele viu no monstro que o matou? – indagou a mulher, com raiva.

- você sabe que ele não matou o nosso pai. Todas as evidências indicam isso – ditou o homem e a mulher tomou uma expressão indignada nos olhos.

- evidências?! Quais evidências, Derek?! Laudos médicos e vídeos antigos?! Vamos! Faça-me o favor! – Laira estava visivelmente contrariada.

- ele estava preso, Laura. Preso em Alcatraz, cercado por agentes federais. Como ele poderia ter matado o nosso pai? – argumentou Derek vendo a mulher lhe fitar com fúria.

- eu sei que ele não o matou com as próprias mãos, Derek! Acha que eu já não vi esses vídeos? Ele pode muito bem ter mandado alguém matar o nosso pai. E agora o governo está dando a ele a chance de matar o tio Peter e você! – exclamou a mais velha, irritada, mas sem levantar a voz.

Ela estava fazendo de tudo para manter aquela conversa no sigilo. Sua mãe ficava muito abalada sempre que se lembrava da morte do marido. Ouvir os filhos brigando e gritando por causa desse assunto a deixaria péssima.

- não tem como ele ter mandado alguém matar o nosso pai da prisão, Laura. Sem contar que ele trabalhava sozinho. Alice é egocêntrico demais para ter um comparsa. Isso fica óbvio só de ver os dez primeiros interrogatórios! – o homem rebateu o argumento da mulher com o tom igualmente controlado.

- e se ele mandou através desses vídeos, hein? E se ele mandou algum sinal durante os interrogatórios? –

- não seja ridícula. O único jeito de isso acontecer, seria seno assassino do nosso pai trabalhasse no FBI. Somente o FBI e a Interpol sabia da existência do Stiles esse tempo todo. Não faz o menor sentido! – argumentou o moreno de olhos verdes vendo a morena de olhos castanhos lhe fitar com seriedade.

- Stiles... Você até chama ele pelo novo nome – a mulher soou visivelmente magoada.

- é o nome dele, Laura. Isso não quer dizer nada! – argumentou o homem, tentando manter a calma.

- e se tivesse um informante no caso? O FBI levou meses para capturar uma criança. Você acha isso comum? – comentou a mais velha vendo o outro se silenciar diante de suas palavras.

- eu não sei, Laura. Os laudos e o tempo que trabalhei com ele... A mente dele é brilhante. Não sei se uma criança assim precisaria de alguém para se manter fugitiva por meses. E eu não terminei de analisar o caso para poder ter uma opinião formada sobre isso – falou o moreno suspirando e passando uma das mãos pelos cabelos.

Laura bufou.

- você realmente está indo pro lado dele – comentou a mulher descruzando os braços e os erguendo brevemente para os lados em um leve dar de ombros.

Derek suspirou mais uma vez.
- du não estou do lado dele, Laura. Só estou constatando o fato de que não foi ele que acertou aquela bala no peito do nosso pai – argumentou o moreno, já irritado.

- isso não muda o fato de que ele é um monstro! – ralhou Laura, com fúria, quase perdendo o controle da própria voz.

Derek suspirou mais uma vez, tentando se acalmar.

- Laura, eu...

- Derek, eu só vou dizer isso uma vez. Uma vez. – a mulher cortou o mais novo, chamando a atenção do mesmo para si.

- se você começar a gostar desse cara. Se você ficar do lado dele como a mamãe ou o tio Peter, eu nunca mais olho na sua cara – a voz de Laura sairá firme, indicando o quanto a mulher estava decidida com aquela imposição feita por si.

- Laura – Derek chamou pela irmã, mas a mesma já havia alcançado a porta do escritório.

- pense bem, Derek –

- Laura –

O moreno de olhos verdes voltou a chamar por sua irmã, mas ele já havia fechado a porta, voltando a tomar cuidado para não chamar a atenção de sua mãe, que se encontrava na cozinha. O Hale ficou ali, sozinho, no escritório do falecido pai, enquanto encarava a porta recém fechada com um olhar sério.

Derek estava furioso. A sua conversa com a sua irmã mais velha havia lhe tirado a paciência. Ele sabia que as palavras de Laura eram sérias. Se ela realmente pensasse, por um segundo, que ele estava gostando de Stiles, assim como Peter, o seu pai e sua mãe, a mulher não lhe direcionaria um olhar, se quer.

Mas Derek, assim como a sua irmã, estava decidido. Ele já havia vivido uma década inteira em função de uma mentira. O homem já não suportava mais ficar sem saber a verdade. Ele precisava de explicações. E os vídeos antigos do caso do seu pai eram os únicos que poderiam lhe dar respostas. O agente iria analisar todos aqueles arquivos com cuidado e atenção. Derek não iria aceitar continuar vivendo sem saber da verdade. Não importava quem estivesse contra ele.

Derek iria descobrir o que seus familiares viram em Stiles, custe o que custar.

Chapter 48: Worth it

Chapter Text


Alexander adentrou a sala com naturalidade, embora se encontrasse animado. Já fazia algum tempo que o garoto vinha se mostrando comunicativo. Embora ele não lhe fornecesse as informações que queria, ele, pelo menos, começará a conversar. Seria questão de tempo para que a criança começasse a se abrir consigo.

O homem de olhos verdes, cabelos escuros devidamente cortados e pele bronzeada se sentou em uma das cadeiras metálicas do pequeno ambiente. A sala de interrogatório era se encontrava vazia, ainda. O garoto, geralmente, era colocado ali depois que os responsáveis prla condução do interrogatório chegavam. A porta se abriu e Alexander olhou por sobre os ombros, vendo um homem relativamente alto, pele escura e chapéu adentrar o ambiente com três copos de café em mãos.

- cheguei cedo? – questionou Alan vendo o moreno de olhos verdes negar ckm a cabeça.

- estão indo buscar o garoto – respondeu o Hale mudando o olhar do colega de trabalho para a câmera ao seu lado.

- pra quê o café? – indagou Alexander enquanto se erguia e se aproximava da câmera, verificando se a mesma estava pronta.

- achei que não seria uma boa ideia chegar de mãos abanando – respondeu o Deaton colocando um café diante de cada uma das cadeiras.

Alexander franziu o cenho para os copos.

Ele não podia evitar, muito menos negar. Estava ficando paranoico nos últimos dias. O caso Alice estava mexendo consigo mesmo depois de parcialmente resolvido. O garoto estava preso. O culpado estava atrás das grades, os crimes misteriosos envolvendo cartas de baralho e mortes brutais finalmente haviam parado. Então, por que? Ele se questionava. Por que continuava tão paranoico quanto quando havia descoberto a identidade do verdadeiro culpado por tudo?

Talvez tenham sido todos esses momentos de diálogos com Alice. A criança havia colocado em sua cabeça a sensação de insegurança. O garoto sempre era cauteloso. Analisava todos que adentravam aquela sala minuciosamente; rejeitava comidas e bebidas entregues por alguém que não fosse Alexander, sempre questionando a origem do alimento para o Hale. O garoto de longos cabelos castanhos lhe disse, quando questionado o motivo de tanta desconfiança, que um gato poderia se voltar contra o dono com um sorriso no rosto quando ameaçado, mesmo eu tivesse sido criado por ele desde o nascimento.

Cuidado com quem você confia, senhor Hale. As vezes, tudo o que um louco precisa para se passar de são, é um chapéu onde esconder as suas afronesias

As palavras do garoto ecoaram em sua mente.

O som das correntes se arrastando pelo corredor alcançou a sala, chamando a atenção dos dois homens. O local eram bem equipado para abafar o som ali dentro. Se o som das correntes se arrastando pelo chão havia adentrado aquela sala, significava que o garoto algemado já se encontrava na entrada da sala.  Os dois homens apenas tiveram tempo de olhar para a porta. A mesma se abriu revelando um oficial, que escoltava a criança até a sala, sendo acompanhado de outro policial. Ambos estavam armados com os cassetetes em mãos, indicando o quanto queriam repreender qualquer atitude indevida da criança.

Alexander, ainda no alcance da câmera, sorriu para o garoto de cabelos castanhos, que sorria minimamente. Um sorriso orgulhoso. Os olhos do garoto se moveram de Alexander para a presença parada ao lado da porta. Quando o seu olhar caiu sobre o homem, o seu sorriso morreu, surpreendendo Alexander e Alan.

- o que ele faz aqui? – inquiriu Alice enquanto caminhava para o seu lugar, já colocando as suas correntes no lugar em que seriam presas para limitar a sua movimentação.

Alan desviou o olhar para Alexander, que lhe fitou surpreso, antes de balançar brevemente a cabeça, se recuperando do choque da mudança repentina de humor. Coçando a garganta, o Hale recuperou a voz, se aproximando de sua cadeira e se sentando de frente para o garoto. Alan imitou o movimento do colega de trabalho.

- Alice, este é...

- Agente Alan Percival Deaton. Filho de Hippies, o orgulho da família. Não tenho muitas informações dos sua família, mas tenho certeza que não deve ter muito a acrescentar, estou certo? Afinal, você é o único deles que me interessa – Alice cortou o Hale em sua apresentação, demonstrando identificar o homem a sua frente.

- você o conhece? – inquiriu Alexander, surpreso.

- eu conheço cada um dos homens que trabalharam em minha busca. Sei a identidade de cada um deles posso citar alguns nomes, idade, altura, registro de identificação, nome de cônjuges e de pais ou parentes próximos. Eu estou sempre a frente de vocês, Alexander – ditou o garoto antes de lançar um olhar entediado para a câmera.

Alan sorriu.

- imaginei que fosse reagir negativamente a presença de outra pessoa que não fosse Alexander, mas eu não esperava uma reação tão agressiva – o agente Deaton levando o copo de café aos lábios, bebericando do mesmo

- mais uma prova do fracasso de vocês – comentou o mais novo vendo o homem lhe fitar com naturalidade.

- aceita um café? Já que vamos conversar, pensei em deixar tudo mais agradável – indagou o homem vendo o garoto lhe fitar com seriedade.

- não é estranhamente conveniente trazer café para a maior ameaça do seu país no primeiro ida de contato? – inquiriu Alice vendo o homem sorrir ladino.

- sua política rígida de segurança própria é perturbadoramente fascinante – comentou o Deaton vendo o menor sorrir ladino.

- beba – ordenou o garoto, chamando a atenção dos dois

- como? – indagou Alan, surpreso.

- beba do meu copo – explicou Alice vendo o homem franzir o cenho em sua direção.

- está suspeitando que eu envenenei o seu café? – inquiriu o mais velho, vendo o mais novo sorrir ladino

Respirando fundo, Alice se calou.

- então... Alice, vamos continuar? – perguntou Alexander, tentando chamar a atenção do garoto para si.

O garoto nada respondeu. Ele apenas empurrou o copo de café para a frente, o afastando de si.

- e então? Como você dormiu essa noite? – inquiriu o agente Hale vendo o garoto suspirar antes de lhe fitar com seriedade.

-  eu não durmo há dois dias, Alexander. Eu apenas deito naquela cama e finjo estar dormindo, para os patetas que ficam me assistindo pelas câmeras – respondeu o garoto de cabelos longos, jogando a cabeça para a esquerda, ajustando a sua franja.

O Hale piscou os olhos alguma vez.

- mas ontem você disse que dormiu bem – alegou o moreno, desconfiado.

- há dias em que consigo dormir, e há dias em que não consigo dormir – argumentou o adolescente antes de lamber os lábios, pacientemente.

- e por que não consegue dormir? – questionou Alan vendo o garoto lhe fitar com seriedade.

- certamente, não é por excesso de café. A minha cafeteira quebrou e ainda não mandaram nenhum técnico na minha suíte para resolver o problema. A hospitalidade aqui é horrível – ironizou o mais novo, venenoso.

Alan, irritado, simplesmente agarrou o copo de café que comprou para o garoto, e bebeu um grande gole do líquido escuro.

- satisfeito? – questionou tampando o copo e o empurrando na direção do garoto.

- não. Agora eu tenho pouco café – respondeu Alice dando e ombros e não se importando com o copo a sua frente.

- por que não consegue dormir? – indagou o agente Hale.

- os outros não me deixam dormir – os dois homens franziram o cenho em sua direção

- outros? – inquiriu Alexander, confuso.

- você está na solitária. Não há mais ninguém com você – rebateu Alan e o garoto sorriu.

- eu nunca estou sozinho, agente Deaton – ditou o castanho levando a mão a própria cabeça, batendo na têmpora com a ponta do indicador algumas vezes.

- está me dizendo... Que há vozes em sua cabeça? – perguntou o agente Hale, surpreso.

- vozes, não. Pessoas. Não sei como entraram, mas são extremamente irritantes – respondeu levando o copo de café aos lábios, tomando um gole do mesmo.

- e o que essas pessoas lhe dizem? – inquiriu o Hale, anotando algo em sua pasta de arquivo.

- nada de útil, na maioria do tempo – disse com tranquilidade, antes de, elegantemente, ajustar uma mexa de cabelo atrás da orelha.

- e eles fazem algo com você? Eles... lhe machucam? – inquiriu o agente Hale, preocupado.

Alice riu, debochado.

- como poderiam? Estão na minha cabeça. Não tem corpo próprio para me ferir. Sem contar que vivem em meu corpo, agora. Me machucar séria machucar eles mesmos – respondeu ainda rindo da ideia absurda do outro.

- Alex, podemos falar a sós por um instantinho? – o agente Deaton chamou pelo companheiro, apertando o ombro do mesmo e se erguendo.

- nos dê um minuto – pediu o Hale já se erguendo.

Os dois adultos se retiraram da sala de interrogatório, deixando apenas o garoto e o guarda que sempre ficava na sala para conter o mais novo, caso fosse necessário. Assim que fechou a porta da dala de interrogatório, Alexander seguiu Alan até a sala onde outros agentes assistiam ao interrogatório, encontrando lá Peter Tate, Chris Argent, Gerard Argent, Marin Morrell e Rafael McCall.

- isso é ruim – afirmou Marin assim que Alan e Alexander surgiram na sala.

- de fato, é péssimo – disse Rafael cruzando os braços.

- ele pode alegar insanidade e escapar da prisão no julgamento -  falou o Deaton vendo o Hale suspirar.

- desgraçado – praguejou Chris, cerrando o punho.

- nunca vi uma pessoa tão jovem com uma inteligência incrível e tamanha crueldade no peito – comentou a agente Deaton cruzando os braços sob os seios.

- esse garoto é peça rara. Creio que nunca veremos alguém assim outra vez. Precisamos ser cautelosos – ditou Alan vendo a irmã menear positivamente.

- ele não vai alegar insanidade – disse Peter, ainda com os olhos grudados no garoto de longos cabelos castanhos, chamando a atenção dos outros agentes.

- por que acha isso? – inquiriu Gerard, curioso.

- ele é extremamente inteligente, com habilidades surpreendentes. Alegar insanidade seria como trapacear contra uma criança que acabou de descobrir a existência do jogo. Não há glória ou honra alguma – argumentou o Tate vendo o garoto finalizar o café levado por Alan e começando a brincar com a tampa do copo, a girando na mesa como uma moeda.

- mas esse seria o único jeito de se livrar de ser preso. Seria o único jeito de ele não passar o resto da vida na solitária da segurança máxima antes de ser executado na cadeira elétrica – argumentou Chris vendo o louro abaixar o olhar pensativo.

- é porque ele não quer fugir da prisão. Ele quer ser preso. – ditou Alexander, antes de dar um leve tapa no batente da porta e começar a marchar de volta para a sala de interrogatório.

Alan seguiu o moreno de olhos verdes, adentrando a sala de interrogatório poucos segundos atrás do outro. O assassino que se intitulava Alice encarou os dois homens com seriedade, antes de um sorriso ladino dominar os seus lábios.

- então, podemos falar mais sobre essas pessoas em sua cabeça? – perguntou Alexander, curioso.

O garoto não respondeu.

- como elas se parecem? Se parecem com você?  - inquiriu enquanto girava a caneta entre os dedos.

- só uma delas. As outras vocês sabem como são – respondeu com tranquilidade.

- eles lhe forçam? – indagou Alan, curioso.

- como é? – o garoto soou confuso.

- eles lhe forçam a fazer coisas? Como... Machucar os outros? – o agente reformulou a pergunta.

A criança gargalhou.

- acha que eles me forçam a matar os outros? – questionou ainda risonho

- entendo. Vocês se retiraram para reformular uma abordagem. Estavam preocupados que eu alegasse insanidade e escapasse da prisão – comentou o garoto, surpreendendo os três adultos na sala de interrogatório e os outros agentes que estavam assistindo tudo através do espelho da sala.

Os adultos se viram surpresos com a capacidade de raciocínio do garoto envolvendo a lei e as suas brechas. Alice gargalhou baixinho, de forma simpática.

- deixe-me tranquilizar vocês: não, eu não pretendo e nem vou alegar insanidade ao juiz. Não teria a menor graça – ditou com calma e tranquilidade, como uma adulto que debate sobre o clima.

Marin, Chris, Rafael e Gerard desviaram o olhar para Peter.

- de quem você testa fugindo? – indagou Alexander, chamando a atenção de todos de volta para o interrogatório.

Peter se viu surpreso com a pergunta feita pelo cunhado.

O garoto riu.

- estava demorando para que alguém interpretasse dessa forma – ditou o adolescente negando com a cabeça e abaixando o olhar.

- isso é uma confirmação? Se não for, qual é a sua versão da ideia? – indagou Alan vendo o garoto direcionar um olhar entediado para o espelho, amtes de desviar o olhar para a câmera.

- quem assiste a esses interrogatórios? Quem tem acesso a esses vídeos? – inquiriu o castanho com seriedade.

Alexander e Alan se entreolharam.

- nós não temos permissão...

- outros agentes do FBI, Interpol e outros cargos importantes da segurança nacional, o juiz que será responsável por seu caso, o júri e o seu advogado também terão acesso – respondeu Alexander sendo encarado pelo Deaton logo em seguida.

Um sorriso traquino tomou os lábios joviais.

- não adianta mentir. É melhor ser o mais sincero possível com esse garoto – disse o agente Hale vendo o Deaton suspirar e permanecer em silêncio.

- vocês querem saber o motivo de eu querer ser preso? – questionou Alice, chamando a atenção de todos os agentes.

- eu estou deixando as coisas interessantes – respondeu o pequeno de cabelos longos, sorrindo vitorioso.

- como? – inquiriu Alan, confuso.

- qual é a graça de se vencer um jogo se for tão fácil? Então eu decidi vir pra cá, dar alguma vantagem ao adversário – respondeu Alice vendo os dois adultos lhe fitarem com curiosidade.

- jogo? Você acha que estar preso aqui é um jogo? – indagou o agente de pele preta vendo o garoto de cabelos castanhos sorrir debochado.

- vocês são meros passatempos – ditou Alice, surpreendendo o homem.

- você é só uma criança. Não tem noção da verdadeira gravidade da situação. Você se encontra em Alcatraz, a prisão de maior segurança desse país – explicou o homem, com tranquilidade, observando o  menor rir brevemente em resposta

E então silêncio.

- dar uma vantagem. Do jeito que falou, parece até que você está caçando alguém. – comentou Alexander e o garoto sorriu vitorioso.

- é um jogo bem divertido. Mas fica bem mais interessante com intervenção externa – argumentou a criança e o homem franziu o cenho.

- a polícia? – inquiriu Alexander.

- a corrida contra o tempo é demasiadamente excitante, não acham? – questionou o garoto, em resposta.

- mas quem você está caçando? – perguntou Alan, tentando arrancar alguma informação útil.

- alguém que merece morrer. Alguém que ajudou a começar isso tudo e agora vai ser o final – ditou o castanho, com seriedade desviando o olhar para a câmera de vídeo, lançando à mesma um sorriso ladino.

- você está se vingando – comentou Alexander, surpreso

- está vendo? É por isso que eu gosto de você, Alex. Você liga os pontos – ditou o garoto sorrindo gentil na direção do mais velho.

- eu só lhe faço uma pergunta – disse Alan, chamando a atenção para si.

O sorriso nos lábios de Alice morreu.

- está valendo a pena? – o homem pronunciou, vendo ao olhos do garoto tomarem um leve brilho surpreso.





O suspiro que escapou dos lábios finos denunciava o quão entediado estava. Os cabelos castanhos já batendo em seu pescoço lhe incomodavam um pouco a pele. Ele tinha mais o costume de ter cabelos compridos. As pontas dos fios castanhos pinicavam um pouco a pele de seu pescoço, gerando o instinto de coçar a região incomodada. O movimento de sua mão em seu pescoço gerou um brilho de luxuria nos olhos do homem sentado a sua frente, por um mísero segundo. O sorriso largo surgiu nos lábios alheio, antes de o homem jogar dois cigarros sobre a mesa.

- eu cubro – disse o homem com macacão laranja de mangas rasgadas, exibindo as suas tatuagens dos ombros, sorrindo, enquanto apoiava as mãos sobre as cartas.

Stiles olhou curiosamente para baixo, analisando bem os dois cilindros brancos com ponta amarelada. O suspiro de tédio que escapou por seus lábios mais uma vez gerou apenas mais um sorriso largo na direção do homem. Desviando o olhar para a pilha de cigarros ao seu lado, o homem de cabelos longos apenas fez com que dois deles rolassem pela mesa, até atingirem o acumulo de apostas localizado sobre a mesa: quatro notas de cinquenta dólares, duas camisinhas e oito cigarros.

O sorriso nos lábios do homem diminuíram. Ele esperava que o castanho fosse recuar diante de sua afrontosa investida. No entanto, o prisioneiro com mangas longas e cabelos castanhos levemente ondulados e bagunçados apenas aceitou a elevação na aposta.

- pretende cobrir? – indagou outro prisioneiro, o qual dava as cartas e apenas assistia a aposta, após perder várias vezes para o homem de cabelos castanhos.

- não – respondeu o louro, incomodado, mas ainda confiante.

O homem girou as cartas, sorrindo, confiante de sua combinação. Stiles olhou com a sua expressão de tédio para as cartas jogadas na mesa, vendo um de Valetes de Copas, acompanhado de um dois de paus. O castanho ergueu as sobrancelhas, levemente surpreso. Era uma boa combinação. Não era das melhores, mas era o suficiente para o homem achar que deveria aumentar suas apostas.

- um full House – ditou o detento responsável por ser o dealer do jogo. Ao combinar as duas cartas do louro com as cinco cartas comunitárias sobre a mesa: dois valetes, um de espadas e outro de paus; um Ás de Paus, um Ás de Ouros e um 8 de espadas.

O Full House era a combinação de três cartas iguais, somadas de um par de cartas iguais. No caso, formado pelo único Valete na mão do homem, somado com os dois valetes e o par de ases da mão comunitária.

- e você? O que tem? – inquiriu o detento remediador direcionando o olhar para o castanho, assim como o louro, que ainda sustentava um sorriso largo.

Pelos vários suspiros do adversário, ele já sabia que a mão do homem de cabelos batendo perto do ombro não era tão boa. Stiles girou a mão com calma, a exibindo para todos.

- Quadra – anunciou Stiles, ainda erguendo as cartas, usando uma voz calma e baixa.

O público explodiu em uma exclamação revoltada . O homem louro deixou o sorriso morrer instantaneamente, encarando as duas malditas cartas na mão alheia, estando o Ás de copas na direita e o Ás de Espadas na esquerda. A quadra era uma combinação mais forte do que a Full House, formada pela combinação de quatro cartas iguais, no caso, os quatro Ases.

Revoltado, o homem se cabelos louros golpeou a mesa, com força, pronto para derrubar tudo no chão. No instante em que ele iria jogar tudo para fora da mesa, o homem fora parado quando um pé golpeou a mesa poucos segundos antes do seu braço se mover. O detento ergueu o olhar pqra o dono da perna que bloqueou o seu ato, vendo o castanho para quem perdera lhe fitar com uma seriedade costumeira.

- eu sugiro que você pense duas vezes antes de tomar qualquer atitude violenta nessa situação. Tudo nessa mesa, agora, me pertence. Não vai querer bagunçar o que é meu – ditou o rapaz de mangas compridas vendo o outro respirar com dificuldade pela raiva.

O homem jogou a perna do castanho para o lado, a tirando da mesa. Avançando contra o castanho a passos pesados, o louro logo se colocou diante do outro, apoiando uma das mãos na mesa, enquanto a outra agarrava o colarinho alheio, o puxando para si. Stiles não reagiu. Apenas permitiu que o outro fizesse o que quisesse.

- escuta aqui, seu merda. Quem você pensa que é, hein? Quem diabos você pensa que é para falar assim comigo? – o homem questionava, de forma ameaçadora, praticamente cuspindo as palavras por entre os dentes, unidos em um ranger silencioso, enquanto puxava ainda mais o outro contra si.

O olhar de tédio de Stiles fora tudo o que o homem teve como recompensa.

- eu tenho contatos que lhe deixariam só o pó – ditou o louro, ainda com um tom ameaçador.

Alice sorriu.

O louro, irritado, simplesmente largou o castanho, o empurrando, antes de dar as costas para o outro. No primeiro passou que dera, o homem parou, sentindo  um forte puxão em seu colarinho, lhe puxando de encontro a mesa, antes de pernas lhe envolverem o torso, imobilizando os seus braços, ao mesmo tempo em que uma mão se prendeu em seus cabelos, os puxando para trás, e outra mão fora posta em seu rosto, posicionando o dedo do meio em seu olho

- só vou lhe dizer isso uma vez – a voz do homem soou calma no ouvido alheio.

O dedo do meio de Alice passou a pressionar o globo ocular do louro, causando um leve incômodo no outro.

- se for me ameaçar, é melhor que esteja apontando uma arma para a minha cabeça e que todos os meus membros estejam algemados. Do contrário ... – Stiles passou a pressionar o dedo contra o olho alheio, sentindo, aos poucos, a ponta de seu dedo afundar no globo ocular alheio, pressionando o olho do homem cada vez mais.

- para. Para. Para. Por favor! – o louro passou a implorar, diante da agonia gerada pela pressão em seu olho.

- é melhor pensar duas vezes antes de me ameaçar outra vez. Você só tem dois olhos – ditou o castanho antes de empurrar o homem, o libertando e o afastando de si.

O louro, assustado e irritado, se virou para trás. Alice desceu as mesa em que se encontrava sentado, lhe encarando com naturalidade, como se há poucos instantes não estivesse lhe ameaçando esmagar o olho com o dedo. Logo o mais baixou lhe dera as costas, se dirigindo para a cadeira onde estava sentado, antes de se erguer para lhe ameaçar.

- então você é o novato que anda ganhando de todo mundo no poker? – inquiriu um homem, chamando a atenção dos presidiários.

Olhando para o homem, Alice encontrou um moreno de olhos castanhos, com o macacão preso na cintura, servindo apenas como calça, deixando o torso tatuado completamente exposto. Mas, de todas as tatuagens expostas, a mais chamativa de todas era uma cruz com asas muito bem desenhada em seu peito esquerdo, acima do mamilo.

- tatuagem bonita – disse Alice encarando fixamente a cruz com jouas esverdeadas.

- pelo visto, você sabe o que ela significa – disse o homem e flashs de uma garota de cabelos longos com mechas azuladas surgiu em sua mente..

- talvez – falou o castanho vendo o moreno sorrir ladino.

- e então? Quer apostar comigo? – o homem perguntou com naturalidade, erguendo um pequeno maço de dinheiro.

- sinceramente, estou enjoado de poker. Mas não vejo motivos para recusar – respondeu o castanho, ajustando o cabelo atrás da orelha.

- eu já iria dizer que estava correndo – comentou o moreno já se sentando de frente para o outro.

- de qual tipo? – inquiriu o de cabelos longos vendo o de cabelos curtos sorrir.

- pode ser Texas Hold'em? – indagou em resposta.

- por favor – fora tudo o que o castanho respondeu, antes de estalar com os dedos e apontar com o indicador para o mesmo detento que havia sido o dealer na última partida que jogara.

- deixa de ser marica! Fala como homem! Você está na prisão, não no acampamento que lhe ensinou a ser putinha – ralhou o moreno já jogando um cigarro no centro da mesa.

Alice sorriu, colocando dois cigarros sobre a mesa.

- eu não irritaria ele, se fosse você – ditou Brett, cruzando os braços.

- eu não vou abaixar a cabeça pra um merda qualquer – falou o moreno enquanto recebia as suas duas cartas.

Alice gargalhou.

- você é o próximo – pronunciou o castanho de cabelos longos analisando as suas duas cartas.

E então o flop ocorreu. O Dealer colocou três cartas viradas para cima sobre a mesa. O castanho sorriu, empurrando metade de tudo o que havia ganhado para o centro da mesa.

- vamos aumentar essa aposta – ditou o castanho surpreendendo a todo mundo.

- isso é sério? – questionou o outro, surpreso.

Stiles só deu de ombros.

O homem se viu sem escolha se não cobrir a aposta.

Mais uma carta fora revelada.

A aposta fora aumentada em alguns cigarros.

A última carta comunitária fora exposta.

Alice sorriu.

- All in – o castanho ditou com um sorriso de canto no rosto enquanto empurrava tudo o que havia ganhado até agora para o meio da mesa, surpreendendo o seu adversário.






A garota se encontrava nervosa.

Havia passado uma hora dentro daquele armário. Havia visto tudo desde o começo.

Antes de tudo começar, ela estava plena, sentada em sua cadeira na mesa de jantar, estando de frente para a sua mãe. O seu pai? Não estava naquele país. Ele era um homem de negócios muito ocupado. Passava dias, quase semanas longe de casa. E, aquela noite, era um daqueles dias. Ela estava comendo com a sua mãe, antes de todo o ataque ocorrer.

De início, a sua mãe não levara o ataque tão a sério. A mais velha simplesmente continuou a comer com tranquilidade. Quando o atacante alcançou o cômodo ao lado, fora que a mulher se moveu. Pegando a filha pela mão, a mais velha a guiou até o quarto da garota e a jogou no armário.

- não faça barulho. Não dê nem um mísero pio. Fique aqui. Se ela te ouvir pode usar você contra mim, querida. E eu não vou escolher entre morrer e deixar você morrer – ditou a mais velha, lhe beijando a testa e fechando o armário.

A garota sabia para onde a sua mãe estava indo.

O quarto proibido.

O quarto em que ela era terminantemente proibida de entrar.

Havia se passado alguns bons minutos, já. Ela esta a ficando impaciente. Mas não sairia do armário. Sua mãe havia lhe dito para não fazer barulho, então ela iria permanecer em silêncio. Não iria abrir a porta por nada. Mas a sua mãe não disse que ela tinha que ficar ali.

Olhando para cima, a garota encontrou a entrada da ventilação da mansão. Usando o bastão de ferro em que os cabides ficavam presos, a criança se ergueu. Os seus pais sempre foram rígidos em sua criação, devido a ser filha de quem eles eram. Fazia exercícios físicos frequentemente e era obrigada a fazer ginástica artística. Logo alcançou a ventilação e se enfiou na mesma. Precisou se arrastar apenas por alguns metros até alcançar a ventilação do armário do quarto proibido.

Os seus pais não sabiam, mas ela entrava lá de vez em quando pela ventilação. Não entendia o motivos de tanto segredo por um quarto vazio com várias armas brancas tradicionais e alguns bonecos de treino. Descendo da ventilação, ela se escondeu em um armário vazio. E foi ali, bem naquele minúsculo armário, que ela presenciou tudo.

Agora, havia acabado. Mas ela continuava escondida. Escutando aquela música que, por várias noites, lhe reconfortou tanto, mas, agora, lhe causava um temor enorme. A pessoa que estava a matar a sua mãe estava ajoelhada diante do corpo de sua progenitora, encarando o mesmo, como se estivesse a velar pelo sono da mulher que agonizava.

Ao ouvir a sua mãe começar a cantarolar a mesma música de ninar que o atacante, a garota se acalmou um pouco. Mas ela ainda estava nervosa e confusa. A sua mãe, uma mulher tão habilidosa em luta corpo a corpo e no uso de armas brancas, havia sido derrotada por alguém tão jovem quanto a filha. E então os dois pararam de cantarolar Bayu Bayushki Bayu,chamando a atenção da garota, que voltou a ficar tensa.

O estranho sussurrou algo que a garota não conseguiu ouvir, e logo a mulher virou a cabeça na direção do armário em que a garota se encontrava. Focando-se no rosto de sua mãe, a garota conseguiu ouvir a mulher pronunciar “minha garota”. A garota apenas viu o estranho erguer a espada que usara para derrotar a sua mãe e a fincar com tudo no coração da mais alta.

Desesperada com a cena, a criança acabou soltando um grunhido ao chamar por sua mãe, chorosa. Quando o assassino de sua mãe olhou na direção do armário em que estava escondida foi que a garota percebeu o que havia feito. Levando as mãos a boca, ela se repreendeu. Um raio cortou os céus, sendo acompanhado de um trovão, iluminando o quarto.

A criança se viu completamente em choque com a aparência do assassino de sua mãe. Mas o que mais lhe chamava a atenção no outro, era o tão adorado e amado símbolo de sua mãe.

O símbolo do naipe de espadas desenhado na testa alheia.



Chapter 49: Heirdom

Chapter Text

- então a Candice me chamou para ir na casa dela amanhã – ditou a garota de longo cabelos escuros e rosto redondo, chamando a atenção de sua mãe.

- que bom, querida. Mas a mãe dela sabe que você foi convidada? – inquiriu a mulher mais velha, vendo a mais nova menear positivamente.

- sim. Sim. A mãe da Candice estava na hora do convite.  Eu perguntei se poderia ir e ela disse que sim – respondeu a criança, completamente animada.

Mãe e filha eram as únicas sentadas a mesa. Uma mesa enorme, diga-se de passagem. Ia de um lado ao outro da sala de jantar. Mas que, no mento, era utilizada por apenas duas pessoas. Diante das duas, dois pratos com sopa fresca, recém servida, emitiam um aroma agradável e suculento. Nos quatro cantos da sala de jantar havia um adulto devidamente vestido, prontos para atenderem as vontades de suas superiores.

- quando o papai volta, mesmo? – indagou a garota, inocentemente. Ela apreciava a presença da mãe, embora esta não parecesse apreciar a sua companhia na mesma intensidade. No entanto, a curiosidade sempre lhe fora difícil de controlar.

- amanhã mesmo, minha querida. Ele chega amanhã pela manhã – respondeu a mulher vestida de forma elegante, vendo o filha menear positivamente e continuar a comer com exímia educação.

Aquilo a fazia sorrir. A sua filha se parecia com uma pequena lady . Exatamente como ela sempre sonhou que seria desde jovem. Ela era inteligente, bonita, habilidosa, criativa, educada e gentil. Ela tinha quase tudo para ser a filha ideal para sim.

Quase.

Antes que pudesse seguir com a sua linha de raciocínio, a sua atenção, assim como a de todos, foi chamada para uma explosão. A energia caiu, surpreendendo algumas mulheres que trabalhavam no local, assim como a pequena garota que herdaria a mansão futuramente. A morena mais velha desviou o olhar para os quatro cantos da sala de jantar, se focando em seus funcionários. Esperava alguma movimentação de algum deles, esperava por uma traição, mas a mesma não veio. Pelo menos não por aquele que se encontravam naquele ambiente.

Sim. Ela sabia que estava sendo atacada.

Os seus instintos gritavam em alerta.

- o que foi isso? – inquiriu a garotinha, preocupada e assustada.

- não se preocupe, meu anjo. A energia deve voltar logo. Nós temos um gerador, lembra? – ditou a mais velha, tentando acalmar a criança.

A mulher mal terminou com as suas palavras e a energia já havia voltado, fazendo a criança se acalmar.

Mas ela não viera sozinha.

Quando as luzes retornaram, a pequena suspirou, em alívio, levando mais uma colher de sua sopa aos lábios. Quando a prata morna do talher encostou em seus lábios, todos foram surpreendidos pelos sons de disparos sendo efetuados. A garota parou de comer para poder olhar para a porta a sua esquerda. Os tiros começaram a se intensificar, a assustando mais ainda.

- não se preocupe, querida. Vai ficar tudo bem. É só um pequeno contratempo. Garanto que Bato e os outros podem resolver – ditou a mulher levando mais uma colherada de sopa aos lábios.

A garota, com um pouco de esforço, seguiu o conselho da mãe. Gora difícil de ignorar. Ela numa havia ouvido tantos tiros em toda a sua vida. Já fora introduzida em aulas de tiro por seus pais. Devido a insistência de sua mãe. Estava habituada ao som dos disparos. No entanto, ela estava acostumada com os disparos no estande de tiro. Não com disparos no dia a dia. Ela estava assustada pois sabia o que aqueles disparos poderiam significar.

Após alguns minutos, um homem alto, de cabelos escuros como a noite adentrou a sala de jantar a passos suavemente apressados. O seu terno estava impecável, como sempre, e a sua expressão estava usualmente séria. Mas a garota reconheceu um brilho de preocupação em seu olhar. O homem marchou, educadamente, na direção da morena asiática de vestido vermelho, a reverenciando, antes de se aproximar mais para sussurrar em seu ouvido.

Por um deslize do homem, ele não escondeu os lábios da pequena garota que tratava com exímio respeito, permitindo que ela pudesse ler os seus lábios.

“Estamos sendo atacados” ele disse.

A mulher cobriu os lábios com o guardanapo, antes de sussurrar algo para o homem sem se quer olhar para o mesmo.

“É um único atacante. Mas o problema é que ele é um ser bem inesperado, minha senhora” ele voltou a sussurrar.

A morena elegante se viu levemente surpresa, antes de finalmente olhar para o homem.

- qual é o problema? – inquiriu em um tom de voz mais alto.

“É uma criança” sussurrou Bato antes de se afastar levemente para poder encarar a sua superior.

A garota viu a sua mãe sorrir ladina, como o seu pai quando estava prestes a fazer negócios com alguém que sabia que não poderia recuar a sua oferta. A mulher puxou o homem pela gravata, o forçando a se abaixar o suficiente para que pudesse sussurrar em seu ouvido. Bato arregalou os olhos, por um segundo, antes de toma ruma expressão séria. Quando a mulher lhe soltou, ele apenas se ergueu, a reverenciou , e começou a marchar para fora da sala. Ele estalou os dedos, chamando a atenção dos empregados no local, e gesticulou para que eles se mantivessem atentos.

Minutos.

Minutos se passaram desde a aparição de Bato na dala de jantar. E muito tempo se passou desde que o ataque começou. A garota, nervosa, não conseguia se concentrar n o próprio jantar. Ela estava com medo, preocupada, aterrorizada. No entanto, a sua mãe estava bem calma para alguém que estava sofrendo um ataque. A mulher pouco se importou quando os disparos começaram a ficar cada vez mais altos, assim como gritos de dor que começaram a ser ouvidos, indicando que o invasor se aproximava com velocidade.

Ela não piscou fora de ritmo, muito menos demonstrou qualquer tipo de medo ou intimidação.

A sua mãe era uma mulher incrivelmente forte.

Somente quando uma bala atravessou a parede e acertou o recipiente no qual o jantar fora servido a mesa, o destruindo, foi que a mulher se manifestou. A garota e duas das funcionárias presentes gritaram assustadas.. A luta já havia alcançado o cômodo ao lado. Limpando a própria boca, com exímia classe, e jogando o guardanapo sobre a mesa, a mulher se ergueu de prontidão.

- agora, chega. O jantar acabou. Venha comigo, querida – a mulher proferiu com calma, já se dirigindo para a outra porta do cômodo.

A garota correu até a mãe, assustada. Ao alcançarem as escadas da sala de jantar, a mais velha estalou os dedos  e todos os funcionários presentes puxaram armas de suas roupas, se preparando. Até mesmo a cozinheira e outras empregadas retiraram armas brancas de seus vestidos. A garota se assustou mais ainda. Assim que sua mãe abriu a porta, a porta do outro lado da sala de jantar fora chutada com força.

A mulher olhou para trás, por sobre o ombro, com um olhar frio e ameaçador. A garota seguiu o olhar da mãe, mas fora tarde demais. Ela não conseguiu avistar o invasor. A porta atrás de si já estava se fechando, bloqueando parcialmente a sua visão. Tudo o que ela conseguiu ver fora a sua babá atirando uma faca na direção da outra porta, antes de receber uma lâmina na cabeça e cair completamente mole no chão.

A criança se viu perplexa. Estava em estado de choque. Sentia a sua mãe lhe arrastar pela casa até que atingiram o seu quarto. A cada passo que davam, tiros e mais tiros eram ouvidos. A porta de seu quarto fora aberta violentamente e ela empurrada para dentro como uma boneca de pano. Sua mãe fechou o quarto com força, antes de lhe arrastar com brutalidade até o closet. Ela abriu as portas e lhe jogou para dentro com força, pouco se preocupando quando a garota caiu no chão e bateu com a cabeça.

- a senhora vai embora? – indagou a garota, se erguendo de prontidão, ignorando a dor em seu corpo e sua cabeça.

Ela estava com medo de ficar sozinha. Toda a dor que sentia não era nada perto do seu desespero. Ela se aproximou as mãe, agarrando a mão as mesma, temerosa de que a mesma se afastasse. A mais velha apenas se abaixou, se aproximando mais da pequena.

- não faça barulho. Não dê nem um mísero pio. Fique aqui. Se ela te ouvir pode usar você contra mim, querida. E eu não vou escolher entre morrer e deixar você morrer – ditou a mulher de longos cabelos escuros, lhe beijando a testa e fechando o armário.

Aquela foi a última vez em que a criança pôde falar com a sua mãe e ela não teve nem mesmo tempo de dizer nada. Enquanto esperava, ansiosa, por algo, sem nem mesmo saber do que se trataba aquilo que esperava. A garota não soube mais os atos sequentes de sua mãe. Não soube que a mulher seguiu para o quarto proibido para a mais nova, . Não soube que a mãe, após adentrar o quarto, apenas encostou a porta e seguiu para um dos armários do cômodo, atravessando toda a passarela feita pelo tapete vermelho e as armaduras de samurai e bonecos de madeira. Ela trocou as suas vestes elegantes e de grife americana por kimono tradicional japonês masculino, que se encontrava vestindo um manequim idêntico aos que eram vestidos com armaduras antigas de sua cultura.

Quando a criança decidiu adentrar ao tubos de ventilação, não tinha como ver que sua mãe, no outro quarto, vestia uma máscara preta de Oni com o símbolo do naipe de espadas marcado em sua testa. Na boca entreaberta da máscara, havia uma adaga presa entre os dentes. Com a espada que se encontrava em exposição diante do manequim que vestia o kimono que agora ornamentava o seu corpo, em mãos, a mulher se ajoelhou no fim da passarela, de costas para a varanda do quarto e de frente para a porta que levava ao corredor, e apenas esperou.

O invasor de sua residência não demorou a alcançar o cômodo nada discreto. Quando a filha da mulher mascarada desceu da tubulação, o mais discretamente que conseguiu, para não chamar a atenção de sua mãe e muito menos da pessoa que a encarava, ela se manteve escondida dentro do armário abaixo da entrada da ventilação. Assim que se aproximou da porta e passou a espiar por ima das brechas, a luta começou.

A bainha da espada da mascarada, a qual era coberta por letras Jotas e símbolos do naipe de espadas espalhados por estrutura vermelha, se quer se moveu do chão quando, com uma única mão, a adulta puxou a espada pela empunhadura, desferindo um corte transversal para cima, antes de descer a espada em um novo golpe, ao girar a arma na palma da mão e apontar a lâmina para baixo. Jogando o torso para os lados, o pequeno invasor desviou dos golpes com habilidade.

Se erguendo, a mulher empunhou a espada com seriedade, observando o mais baixo desembainhar a própria espada, que tinha apenas sessenta por cento do tamanho da arma de sua adversária. Tamanho o suficiente para fazer a mulher tomar uma postura de defesa com a espada. Os passos calmos do mais baixo sobre o piso de madeira era audível o suficiente para a garota e sua mãe perceberem que o invasor estava firme em seus movimentos.

Ao mover a espada em sua mão, o invasor fez com que a lâmina brilhasse com a luz do luar na visão da pequena observadora do embate. A mascarada se manteve firme. O som do impacto entre as lâminas era característico e terrivelmente assustador quando se escutava pessoalmente. A sensação que a pequena tinha era de que uma das lâminas a atravessaria lhe gerando umq dor enorme.

O medo lhe dominava em silêncio.

O pequeno invasor se afastou, antes de avançar novamente. Quando a mulher avançou, o adversário ergueu a lâmina. Assim que se alcançaram, a mulher girou e desferiu um golpe horizontal, na altura do pescoço do mais baixo. O invasor se jogou de joelhos, deslizando ao lado da mulher, desviando do golpe da mesma, enquanto erguia a sua espada na horizontal, desferindo um golpe nos tornozelos da mesma no processo.

A mulher saltou, evitando o golpe.

Ela se virou de imediato, enquanto o outro se erguia sobre os joelhos e rolava para a frente, parando em pé, antes de se virar com a espada devidamente erguida.

A garota sentiu uma mão quente se colocar sobre a sua.

Ela gelou de medo. Ao olhar para o lado, em meio ao breu da escuridão do ambiente, ela viu uma máscara de Oni surgir. Ao seus olhos brilhavam como fogo e, de sua boca, uma fumaça escapou suave e elegantemente, como um suspiro de alívio.

- Kira! –o demônio a chamou pelo nome, antes de avançar em si.




- Kira! – a mulher se sobressaltou na cadeira ao ter o seu nome chamado de forma exasperada, enquanto a mão quente e velha de seu pai apertava a sua com certa pressão, a despertando.

- perdão, meu pai. Acabei cochilando – disse a morena de rosto redondo e logos cabelos escuros e brilhantes como o véu da noite.

- você está muito cansada. O que andou fazendo durante a noite? – indagou Ken, um homem de rosto redondo e queixo largo coberto por uma barba respeitosa e com alguns fios brancos, evidenciando a idade já um tanto avançada.

A garota sorriu, liberando uma lufada ar pelas narinas. Com a mão livre, envolveu a mão um tanto calejada do pai, ignorando a ausência do dedo anelar do mesmo. O homem sempre se acalmava com a carícia terna da única filha. Fechando os olhos e negando com a cabeça, a moça logo tratou de acalmar a preocupação paterna do homem.

- nada demais, meu pai. Apenas me divertindo de forma consciente – respondeu a morena levando a mão do pai a testa.

O homem lhe acariciou o rosto, antes de voltar a se concentrar no homem do outro lado da mesa mediana em que se encontravam sentados. Grande demais para estarem próximos, mas não grande o suficiente para focarem incomunicáveis. O homem de cabelos grisalhos e rosto enrugado não parecia muito satisfeito com o cochilo breve da única mulher presente naquela negociação.

- e que tipo de diversão a filha do líder dos Raposas costuma ter? – questionou o homem jovial ao lado do senhor de cabelos grisalhos de kimono extremamente brega. Um verdadeiro clichê de um mafioso de baixo calão que garantia morder mais do que realmente podia.

Ele sorria galanteador na direção da morena, que lhe encarou com um sorriso simpático.

- uma diversão adulta. Nada que uma criança mimada, como você, possa imaginar – respondeu a mulher de, mais ou menos, mesma idade do homem, que ainda sustentava o sorriso galanteador.

- isso é desrespeitoso em tantos níveis que se quer posso contar – o homem grisalho, pai do castanho ao seu lado, se viu mais indignado ainda com a insinuação da mulher.

Ken suspirou. Não era a sua ideia fazer as coisas daquele modo. Mesmo sendo o líder de um dos grupos mais influentes da máfia ele gostava de abordagens sutis e respeitosas, mesmo que soubesse como seria a resposta que receberia pelas costas assim que as pessoas estivessem fora do sue alcance.

Não era incomum, em seu ramo.

O poder lhe traz muitos benefícios, mas o respeito genuíno se conquista com tratamento digno, não com o medo. Xingamentos, ameaças e até mesmo tentativas de assassinato. Essas eram as respostas que recebia assim que os líderes aos quais negava tratados lhe respondiam assim que estavam longe de seu campo de visão.

Alguns mafiosos eram verdadeiras crianças dominando outras crianças em um mundo de adultos. Mas ele deixou que sua filha cuidasse daquela situação. A maioria dos mafiosos a respeitavam apenas por sua causa. A mulher na sociedade japonesa consegue ser menos valorizada do que em outras culturas e ele sabia disso. No passado, chegou até mesmo tipo de pensamento. Era um câncer hospedando o seu país. As tradições sendo rigidamente passadas, assim como os pensamentos.

Mas a sua falecida esposa havia aberto os seus olhos para o poder que uma mulher poderia ter. E a sua filha era como um legado.

Noshiko era forte. Extremamente forte.

Uma verdadeira Onna-bugeisha

Kira era igualmente forte. O homem via muito de sua falecida mulher na filha, principalmente agora que se encontrava na idade adulta.

- não tão desrespeitoso quanto o seu filho sujar o chão da nossa sala. Não tão desrespeitoso quanto as suas vestes. – a moça respondeu com seriedade, ao mesmo tempo em que lançava um olhar vago para a parede do outro lado da mesa.

O rapaz olhou para si mesmo, finalmente notando que havia se sujado inteiramente com farelos dos salgadinhos de sabor camarão. O mais velho olhou para suas vestes com curiosidade, sentindo a fúria crescer em seu interior. No entanto, ele conteve o ímpeto de empunhar sua arma e disparar. Estava no território dos Raposa. Tinha que se controlar. Havia marcado aquele encontro na tentativa de expandir aa suas forças através de uma aliança sólida. Não poderia vacilar na frente do líder dos Raposa, Ken Yukimura.

- minhas vestes são adequadas para a minha pessoa – argumentou o homem, tentando manter a paciência tanto com a mulher quanto com o seu filho sem modos.

A reunião estava começando a se tornar um fiasco. Ele tinha que reverrer aquela situação.

- nisso nós concordamos. Adequadas para um velho sarnento e desajuizado. – comentou a morena de longos cabelos brilhantes de tão bem tratados.

Kira trouxe os cabelos para a frente, passando a pentear os mesmos com os dedos, em uma carícia costumeira. O homem rangeu os dentes, sentindo a pressão gerar um incômodo em seu maxilar. Estava ficando cada vez mais irritado com a língua afiada da mais nova. O mais novo se viu em choque pelo modo como o seu pai estava sendo tratado. Ele nunca havia presenciado nada do tipo antes. Ele sabia como os Raposa eram poderosos. Sabia como a família Yukimura era extremamente influente. A polícia japonesa se quer tentava investigar os casos envolvendo aquela família.

Entretanto, por ter crescido sob a asa empoderada de seu pai. Sempre usufruindo da sombra que o pequeno grupo de mafiosos criado pelo mesmo gerava qu formar as penas do homem e bebendo da fonte dos crimes por ele cometido.  O dinheiro para a ostentação e para a farra não lhe faltou. A influência do grupo de seu pai fazia as mulheres de sua região serem incapazes de lhe negarem qualquer coisa, uma vez que elas tivessem noção de quem ele era. As pobres desavisadas eram estupradas ou encontradas mortas com a garganta cortada.

Ver o seu velho sendo desrespeitado com tamanha calmaria e prepotência por uma mulher da sua idade era como ver uma própria Kitsune a sua frente. Uma criatura mística que deveria existir apenas em fantasia.

O jovem encarou perplexo para a mulher afrontosa do outro lado da mesa, sentada do lado contrário ao dele, também simbolizando o braço esquerdo do pai, assim como ele.

- quanta insolência! – exclamou o velho Choi, indignado.

- não tão insolente quanto o seu filho se insinuando de forma tão direta e pública para uma superior respeitável, ainda mais na frente do pai respeitável dela. Não tão insolente quanto você exigindo o meu respeito estando você desrespeitando a minha casa, a mim, ao meu pai e ao nosso clã – rebateu a jovem abandonando a pose educada e respeitável, adquirindo uma pose largada ao permitir a envergadura de sua coluna, ao mesmo tempo em que flexionava as pernas, uma estando deitada e a outra ereta, com o joelho apontando para cima. Ela jogou, despojadamente, o braço por sobre o joelho, abraçando, assim, a própria perna.

O velho de vestes cafonas pareceu tomar conhecimento dos seus erros, rangendo os dentes e repuxando os lábios em uma careta enraivecida, ecibindo os dentes de ouro que havia implantado havia anos. O seu filho sentia o suor começar a cobrir a pele ao minar doa seus poros. Estava nervoso. Havia tomado o conhecimento, enfim, de suas atitudes, bem como havia reconhecido os erros do seu pai. Sentia, por fim, a atmosfera ao seu redor pesar. O medo lhe dominava com velocidade. Mas ele tentava, ao máximo, não transparecer.

- velho, é melhor... – o jovem tentou colocar alguma liz na mente do seu pai.

- isso são modos de nos tratar?? Estamos aqui negociando uma aliança! – exclamou o velho, socando a madeira brilhante da mesa.

- francamente... Não haverá aliança alguma! – ralhou a jovem, lançando um olhar entediado para o mais velho da sala, que lhe fitou surpreso.

- você não é quem está na escolha deste assunto – argumentou o jovem de cabelos castanhos bagunçados, observando a elegante mulher em uniforme colegial.

Ela havia chegado de última hora naquela reunião, alegando ter se atrasado com um prova da faculdade. No entanto, agora, parecia até mesmo que a reunião havia sido marcada com ela e não com o pai da mesma. Kira tinha total domínio do diálogo naquele momento. Ken, que se encontrava  silêncio, não via motivos para impedir a filha, uma vez que concordava com os argumentos as mesma, embora discordasse da abordagem agressiva.

- mas minha opinião tem valor. E digo mais, sou entendedora o suficiente para poder compreender o modo de pensar do meu pai. Os seus métodos são vulgares, os seus danos gerados ultrapassam o seu rendimento, os seus lucros se quer alcançam os seus custos. A sua ordem é totalmente desnecessária ao nosso clã – ditou a mulher com convicção, surpreendendo os dois homens do outro lado da grande mesa.

- isso é um fato inegável. Somente nos últimos cinco meses, o seu grupo se envolveu em oito problemas envolvendo a polícia. – comentou Ken, ainda em sua pose calma de líder, ainda sentado de forma elegante.

Os dois homens se viram perplexos com as informações reveladas por pai e filha. Eles não esperavam que ao dois tivessem conhecimento sobre aquelas estatísticas.

- isso sem contar que três dos seus últimos dez carregamentos foram confiscados pela polícia – acrescentou a Yukimura, apoiando o queixo no joelho erguido.

- o que nos leva ao verdadeiro ponto dessa reunião – comentou Ken observando os dois negociantes lhe fitarem aterrorizados.

- se vocês dois acham que iríamos lhes livrar da polícia só porque teriam alguma ligação conosco, vocês estão loucos. Os raposas apenas protegem os seus. Se você não é uma raposa, então não há motivo para nos movermos por vocês – anunciou a jovem lançando um olhar entediado na direção dos visitantes.

As gargantas dos dois homens apresentaram dificuldade na deglutição, devido ao medo que sentiam daquela mulher, e, mais ainda, do homem sereno ao lado da mesma.

Ken apenas pegou mais uma torrada e começou a espalhar a sua geleia favorita sobre a mesma. Ao levar o alimento devidamente preparado aos lábios, o Yukimura parou por um segundo, lançando um olhar sereno para os dois homens aterrorizados.

- acho que está negociação está encerrada – ditou com tranquilidade anres de finalmente morder a torrada com cobertura adocicada.

O velho de cabelos grisalhos cerrou os punhos com força. O seu filho até tentou argumentar, mas a mão do seu pai pousou sobre o seu ombro com força, o impedindo. Os dois, a contragosto, se ergueram e reverenciaram pai e filha, antes de começarem a se retirar da sala.

- se não fosse por essa puta noturna – murmurou o velho Choi para o seu filho.

Assim que sua mão tocou a madeira as porta, pronta para empurrar a mesma, uma lâmina engordurada atravessou a mesma, impedindo que ele abrisse a porta. O homem gritou de dor enquanto, aterrorizado, encarava a própria mão empalada na porta. O jovem Choi lançou uma careta de agonia para a cena, antes de se virar para os Yukimura com uma expressão aterrorizada. Kira olhava com seriedade para a porta de saída, encarando os dois homens com repulsa.

- antes de tentar sair me dando apelidos, deveria procurar se informar sobre o que andei fazendo durante a noite, Choi – repreendeu a moça, com a voz tranquila, vendo o velho retirar a faca que o prendia, antes de se virar em sua direção, com fúria nos olhos.

A garota apenas apontou para a televisão a sua frente e aumentou o volume da mesma.

Os Choi se viram surpresos com o significado do ato. O noticiário local transmitia a reportagem de um massacre ocorrido em uma casa de shows. Um grupo de uma facção criminosa de influência similar a dos Choi foram brutalmente assassinados. A reportar transmitia as informações do caso com detalhes. Todos os vinte e dois homens foram assassinados com armas brancas, a maioria por espadas, estando o líder do pequeno grupo, e também da facção, e mais alguns homens, esquartejados em uma sala particular.

- não pode ter sido você – alegou o Choi mais novo, completamente aterrorizado.

Kira sorriu de canto e jogou algo na direção dos dois homens amedrontados.

- diga isso aos Matsuda – rebateu a Yukimura e os Choi reconheceram, na corrente jogada pela mulher, o símbolo da facção dos Matsuda. Aquela era a corrente do irmão do líder da facção que tiveram alguns dos seus integrantes, incluindo o líder e o seu irmão, brutalmente assassinados.

- é melhor você ensinar o seu filho a respeitar as mulheres. Ninguém ensinou aos Matsuda

Ishida Choi, o velho de mão perfurada, rangendo ao dentes de ódio, se ajoelhou na direção da mulher, sendo seguido no ato pelo seu filho. Ambos com as testas rentes ao chão. Ishida com o mais puro ódio expresso em seu rosto, enquanto Saiki, o seu filho, tinha o medo misturado com admiração em seu rosto.

- me desculpe, senhorita. Jamais duvidaremos de sua honra. Por favor, nos perdoe por nossa insolência – o velho implorou, tentando ignorar a dor em sua mão.

Kir apenas ignorou a imagem de ambos.

- tanto faz. Não é como se eu esperasse muito de um velho caquético. Mas é melhor que isso não se repita. Eu posso ser misericordiosa, mas levo a minha honra muito a sério – disse a Yukimura antes de Ken bater duas palmas suaves.

Uma mulher de, mais ou menos, trinta anos adentrou a sala e reverenciou os Yukimura.

- Natsume, acompanhe estes homens até a saída, por favor – pediu Ken e a mulher meneou positivamente em compreensão.

- sim, senhor. Por aqui, por favor – anunciou a jovem enquanto indicava, educadamente, a direção da saída com a palma da mão.

Assim que alcançaram o elevador do apartamento luxuoso, os Choi foram deixados a sós.

- eu odeio essa mulher – ralhou Ishida, ainda rangendo so dentes de ódio.

- eu acho que estou apaixonado, pai – ditou Saiki, chamando a atenção de Ishida, que apenas lhe lançou um olhar de repulsa.

- com licença – pediu Kira se erguendo, reverenciando o pai e caminhando na direção da outra porta do apartamento, que consistia nos últimos três andares do grandemente prédio na área nobre da cidade.

- para onde vai? – indagou Ken, já imaginando qual seria a resposta as filha.

- treinar – respondeu a mais jovem já abrindo a porta que dava para o interior do apartamento.

- de novo? Você está morta de sono, Kira. Deveria tirar um tempo para descansar – alertou o mais velho vendo sua herdeira atravessar a porta.

- mamãe não descansou, pai – disse a jovem antes de começar a fechar a porta.

- mas você já está em um nível ótimo com a espada, minha filha. Você já dominou todas as armas brancas. Já é uma expert com a espada. Arrisco a dizer que está no nível de sua mãe. Está na hora de diminuir seus esforços, não? – o homem voltou a argumentar, levando o copo com suco aos lábios.

Kira parou de fechar a porta, olhando brevemente para o seu pai por sobre os ombros

- eu não tenho que estar no nível da minha mãe, pai. Eu tenho que ser melhor do que ela, melhor do que uma Alice – afirmou a Yukimura mais nova, fechando a porta e dando por encerrada aquela conversa.

Ken suspirou pesado, tristonho, antes de lançar um olhar penoso para a mão cujo dedo anelar estava faltando.

- não tem nada que eu poça fazer, Noshiko? – inquiriu o homem, em um murmúrio tristonho, antes de elevar o olhar para o teto.




Chapter 50: Mail

Chapter Text

A bebida desceu por sua garganta, gerando a queimação costumeira. Ele adorava, não mentiria. Não era, simplesmente, um hábito que criado tentar impressionar outros homens. Ele havia pegado o gosto para bebida alcoólica havia muito tempo. Agora, era tarde demais para abrir mão dela. Aonde quer que fosse, ele estaria bebendo.

Fora uma decisão que tomara para a sua vida

Assim como aquele emprego.

Ser guarda costas da máfia era perigoso e excitante, como havia sonhado na juventude. Mas a parte entediante nunca esteve presente em seus . Ficar esperando, em pé, enquanto os superiores dialogavam, riam, se xingavam ou até mesmo se matavam era tão chato quanto aa aulas de sociologia que tivera no ensino médio.

A bebida era a sua única companheira naqueles momentos. Sexo era bom, óbvio. Mas prostitutas lhe distraiam com suas línguas habilidosas. Ele tinha que se manter atento. Estar sempre preparado fazia parte do seu emprego. E mesmo que os chefes presentes fossem todos muito fiéis uns aos outros, ele tinha que estar atento. Ele fazia parte da máfia. Estava acostumado com traições e ataques pelas costas de quem menos se espera.

No entanto, ele não era o único guarda costas de seu líder. Muito menos o favorito. Ele, se quer, era para estar ali. Fora convocado como mão de obra extra apenas por estar a conversar com um dos guarda costas favoritos do líder no momento em que eles decidiram sair para a reunião.

Ele odiava aquelas reuniões. Eram sempre tão diplomáticas. Cheias de conversa, enrolação e risadas escandalosas sem motivo nenhum. Preferia mil vezes as ocasiões em que se reunião para torturar ou matar alguém. Eram mais divertidas. Os gritos de desespero, os clamores inúteis por piedade e as expressões cômicas... Tudo aquilo era uma boa ideia de entretenimento para si.

Quando soube que as famílias se reuniriam em uma casa noturna no sub-solo, ficou animado. Haviam dois lugares em que eles poderiam realizar tortura nos Estados Unidos: propriedades privadas de tamanhos consideráveis; ou boates bastante movimentadas. O primeiro, fornecia a privacidade que um grande espaço poderia ter; o segundo fornecia som alto constantemente, abadando os acontecimentos que aconteciam em particular nos bastidores da casa noturna.

Os chefes das oito facções presentes no local gargalhavam ao zombar de algumas facções rivais. Três deles eram japoneses, um era italiano, e outros dois americanos. Conversavam sempre transitando entre as línguas, uma vez que dominavam as três muito bem, devido aos negócios. Haviam se reunido para debater sobre os negócios, mas, agora, jogavam o tempo fora com conversas sem valor algum.

Toshiro olhou para baixo, através as janela do camarote reservado para eles, encarando toda a multidão que pulava, bebendo e se drogando, ao som da música eletrônica tocada pelo DJ com máscara de animal. Nunca gostou daquele tipo de ambiente. A única coisa que, algum dia, lhe motivara a entrar em uma boate americana, era a bebida. E então, a sua atenção fora chamado pelos líderes e a sua conversa.

- vamos falar sério, agora. A liderança da Nemus pode ter sido muito jovem. E a Nemus pode ter durado pouco. Mas os nossos negócios decolaram com ela por perto – comentou o americano de cabelos louros levando o charuto aos lábios.

O italiano meneou em concordância.

- ainda não sabemos quem a traiu – ditou o japonês mais velho com seriedade.

- sabemos que não foi nenhum de nós. E a polícia não descobriu nada sobre o atentado –

- o pior é que eu via futuro na garota –

- eu vou ao banheiro – murmurou para um dos guarda costas de seu chefe, começando a se retirar do camarote.

Assim que fechou a porta, fora recebido pela bagunça do corredor, onde algumas pessoas de outros camarotes se encontravam aos beijos ou risos. Desviando de todos com certa paciência, o homem asiático acabou por se distrair com uma discussão entre dois homens. Ele gostava de encrenca e de analisar ela. Podia perceber, claramente, que daquela discussão sairia uma briga física e que o louro apanharia do moreno, antes de puxar sua arma da cintura. Em meio a sua análise, o homem acabou esbarrando em alguém.

- Olha por onde anda, animal! – ralhou, irritado, vendo o empregado de terno e máscara de pelugem branca se curvar em reverência.

A boate que pertencia ao americano de cabelos negros era um ambiente um tanto quanto exótico. Era uma casa de shows localizada de uma loja de artigos eletrônicos que também lhe pertencia. O local se chamava Toca da Pantera e os empregados tinham de vestir máscaras de animais, e os strippers, roupas de tecidos com características de suas máscaras. O garçom em quem esbarrara, usava terno branco naquela noite.

- m-me desculpe! –

- onde fica o banheiro daqui? –

- tem um no final do corredor. Após as escadas. Mas o primeiro boz está com defeito. Sugiro que use um dos outros -

- agora sai da minha frente –

- s-sim, senhor. Me desculpe, senhor – desesperado, o mascarado se colocou de lado, dando passagem para o membro da máfia.

Atrás do mascarado havia uma carrinho de serviço pomposo. O homem logo identificou o outro. Era o responsável por servir o camarote em que estava, naquela noite em específico.

- hunf! Otário – cuspiu as palavras enquanto seguia para o banheiro.

O mascarado seguiu na direção do camarote em que se encontrava o dono do estabelecimento e os outros líderes de facções. Ao adentrar o local, fora aclamado por alguns que se encontravam animados com a bebida e os petiscos.

- por que a demora? – questionou o americano moreno, dono da boate.

- peço desculpas, meu senhor, mas como os convidados são de tamanha importância e estrangeiros, apenas o melhor deve ser servido –

Os drinks começaram a ser preparados na hora, sobre o pequeno bar que era o carrinho. Os drinks eram servidos sem, se quer, serem ditos os pedidos para o mascarado, surpreendendo os chefes.

- esse é eficiente. Gostei dele – ditou o asiático mais velho, tomando mais uma gole de sua bebida.

Os petiscos foram servidos a cada um dos líderes.

- a partir de hoje, só ele vai nos receber –

-de fato, um serviço eficiente – disse o terceiro asiático, erguendo o drink em um cumprimento.

O mascarado sorriu educado por trás da máscara.

- uma cortesia da Nemus – ditou o mascarado, se curvando, surpreendendo todos os presentes.

Todos já haviam tomado ao menos dois goles de suas bebidas, e agora olhavam para o mascarado com perplexidade.

Toshiro olhou para o sanitário enquanto urinava e acabou se distraindo ao ver um pé com sapato social passando por baixo da parede do box, vindo do área ao lado. O homem de jaqueta se couro, irritado, cuspiu no sapato alheio, sustentando uma expressão de desgosto.

- pervertido do caralho –

Ele estranhou quando o sapato não fora recolhido. Mas ignorou. O mafioso guardou o membro, fechou o zíper e se retirou do box, seguindo para as pias. Ao lavar as mãos, lançou mais um olhar para a cabine ocupada pelo homem pervertido, tentando ver se o mesmo já havia recolhido o sapato para limpar. No entanto, acabou se vendo curioso. As pernas do homem estavam espalhadas de forma estranha.

- ei, tarado. Pode parar de palhaçada –

Sendo movido pela curiosidade, ele se aproximou box, sempre com os olhos no sapato social, que se encontrava imóvel.

Ele estranhou.

Apesar de sua voz grossa e do jeito firme de falar, o outro homem não tentou, se quer, se recompor. Empurrando a porta do box com o pé, Toshiro fora pego de surpresa com o que viu.

No interior da cabine sanitária, uma mulher se encontrava seminua, jogada sentada sobre o sanitário, com a garganta cortada e o abdômen aberto .um grande corte. A máscara branca de coelho não permitia a identificação por meio da face, mas era notável que ela estava morta e incapaz de ser ajudada.

Surpreso, o homem deu dois passos para trás.

Ele era estrangeiro. E, por mais que pertencesse máfia, não era bom chamar a atenção da polícia americana. Principalmente sendo o suspeito de um assassinato. Começando a caminhar para a porta, Toshiro engoliu em seco, antes de olhar para a mulher uma última vez.

No mesmo instante, o seu corpo travou e a sua mente trabalhou. Se encontrava nervoso e surpreso demais para ter percebido antes. Mas, agora, ele conseguiu pensar com clareza. Ao lançar mais um olhar para a vítima a sua frente, o japonês se focou na cabeça alheia a máscara branca de coelho lhe dava a sensação de estar deixando algo passar. As palavras que trocara a pouco tempo, no corredor, se repetiram em sua mente, o surpreendendo mais uma vez.

Aquela mulher era uma funcionária. Trabalhava para o americano de cabelos escuros.

“Tem um no final do corredor. Após as escadas.”

A voz do mascarado se sobressaiu em sua mente, como um eco.

“Mas o primeiro box está com defeito”

Toshiro prendeu a respiração e os seus olhos se expandiram em surpresa.

“Sugiro que use um dos outros”

Aquela mulher era a pessoa mascarada que deveria estar servindo ao seu camarote. Se recordava que ela não conseguia disfarçar muito bem a voz. Pois um dos critérios da boate, era que os funcionários não deveriam ser identificados.

O DJ começou a tocar um remix com uma música com um ar de suspense.

Desesperado, Toshiro correu. Ele praticamente arrancou a porta do banheiro antes de disparar uma arrancada na direção do camarote em que estava acontecendo a reunião. Empurrava todos que via pelo caminho, os xingando e os mandando se retirarem de seu caminho. Assim que alcançou o camarote, ele puxou a sua arma da cintura e chutou a porta do mesmo em desespero.

A imagem do ser de terno branco e máscara de coelho surgiu em seu campo de visão e lhe chocou. Ele se encontrava no centro do camarote, ao lado do carrinho que levara até o local. Em sua mão esquerda, havia uma P90 azul marinho com traços de azul intenso, como raios. Toshiro vasculhou a sala com o olhar, notando todos os presentes mortos, jogados pelo ambiente, com sangue escorrendo ao redor.

- estava te esperando, Toshiro-san – a voz modificada tecnologicamente lhe chamou a atenção.

O homem apontou com sua arma para o mascarado, que apenas virou o rosto para lhe fitar por sobre os ombros. Toshiro se surpreendeu com os olhos brilhantes. Eram como faróis vermelhos. Não era comum.

- quem é você? E como sabe o meu nome? – inquiriu, irritado, empurrando a porta com o pé, para a manter aberta.

- o meu nome... É Branco. Mas você deveria estar preocupado com outra coisa –

Toshiro se vou confuso ao ver o outro largar a submetralhadora no chão. O homem franziu o cenho para o assassino, que voltou a olhar para a frente

- o que você quer? –

- contratar os seus serviços –

Toshiro riu.

- matando o meu chefe?! –

- eu quero os seus serviços, não os dele -b

- agora que o seu chefe morreu, vocês precisam de uma nova liderança, não? –

- se, por um mísero segundo, se passou por sua cabeça... –

- cale-se! Antes que eu me irrite. Eu sou muito ocupado, Toshiro. Não vai querer me atrasar para os meus outros compromissos –

- eu não quero liderar a sua ganguezinha de merda –

- ganguezinha?! – inquiriu, indignado.

- a facção para qual tranalha tem um contato muito importante –

- é claro que tem! Somos... –

- eu quero que entre em contato com eles, por mim –

Toshiro riu.

- você é patético –

Branco se virou na direção do homem de jaqueta de couro, o vendo, puxar o gatilho. O asiático se viu surpreso quando nada saiu assim que ele disparou. Uma risada provocativa fora emitida pelo mascarado.

- achou mesmo que esbarrei em você por acaso? – comentou Branco retirando a tampa de um dos pratos, revelando um pente estendido completamente carregado.

O homem sem máscara reconheceu o item e, surpreso, puxou o pente que se encontrava em sua arma, o vendo vazio. As mãos do asiático começaram a tremer, nervosas. Ele havia cometido uma série de erros. Primeiro, esquecera de verificar se a pessoa com quem esbarrar não havia roubado nada de si; segundo, havia esquecido se verificar a própria arma; terceiro, havia entrado de cabeça na ação, sem parar para pensar se poderia acabar caindo em uma armadilha.

Toshiro havia sido um completo amador diante daquele homem que parecia tão inofensivo, a primeira vista.

- deveria ter verificado sua arma, otário –

O mascarado cuspiu as palavras com deleite, antes de perceber o outro dar alguns passos desengonçados para trás. Toshiro estava, claramente, em dúvida se deveria correr ou não. Ele decidiu por fugir, começando a correr pelo corredor com desespero.

Branco sorriu por trás de sua máscara, antes de começar a seguir o outro a passos apressados.

- não pode fugir de mim, seu lagarto desastrado –

Correndo por entre a multidão na pista de dança, Toshiro, desesperado, empurrava a todos, enquanto tentava adquirir alguma velocidade e tomar distância do outro. Ele olhou para trás, em tempo de verno outro atingir o último lance de escadas que deveria descer para alcançar o mesmo andar que si.

O desespero cresceu em seu interior.

- puta merda! –

Ele empurrou mais alguns jovens, que, revoltados, lhe puxaram pelo braço. Ao se virar para trás, o asiático ignorou os americanos irritados e se focou no ser mascarado que se aproximava em meio a multidão. Ele conseguia ver as orelhas brancas com facilidade. Quando uma garota se moveu, o rosto de olhos vermelhos brilhantes surgiu em seu campo de visão.

Ele grirou a plenos pulmões, completamente aterrorizado. No entanfo, a música que era tocada pelo DJ emitiu um som remixado similar a um grito, que acabou abafando o urro de agonia do japonês. Toshiro, desesperado, puxou a sua arma da cintura e as mostrou para os jovens nativos. Surpresos, eles o soltaram e o homem voltou a correr como se não houvesse amanhã.

O homem fez de tudo para alcançar as escadas que o guiariam para fora da boate. Praticamente arrombou a entrada que deveria, ao menos, parecer um pouco secreta para aumentar o entusiasmo dos clientes mais jovens. Os empregados da loja de eletrônicos e os seguranças se mostraram bastante incrédulos com a atitude do moreno. Quando dois dos quatro seguranças se aproximaram para o escoltar para fora, eles pararam ao reconheceram Toshiro como um dos mafiosos em reunião no local.

- homem armado! Matou os nossos chefes. Roubou minha arma! Segurem ele! –

Ao seguranças se viram confusos. Eles sabiam, muito bem, o tipo de pessoa que era o seu chefe. Entretanto, ele ao pagava bem para o cargo de segurança, considerando as outras empresas, sem contar que eles precisavam de trabalho.

Toshiro observou os seguranças se aproximaram das escadas com armas nas mãos. Os dois encararam as escadas, vendo um dos funcionários subir a mesma com tranquilidade.

- hey, você! Viu algum homem armado? – indagou o louro vendo a pessoa com máscara de coelho coçar o nariz falso do animal, pensativa.

- sim. Vocês dois –

Os dois homens estranharam a voz modificada do outro funcionário. As máscaras do estabelecimento não possuíam aquele efeito. Quando ousaram tentar questionar a máscara e a voz modificada, Branco apontou com as mãos para os dois. Toshiro e os outros funcionários observaram, perplexos, os dois seguranças caírem no chão, com uma lâmina atravessando a testa de cada um.

- ponteiros? – inquiriu Toshiro, confuso e assustado.

Os outros dois seguranças puxaram as suas pistolas, mas fora tarde demais. Apontando com as palmas das mãos para os dois, Branco lançou, da manga de seu terno, mais duas lâminas, que foram disparadas de forma certeira. Uma atravessou o olho direito e parte do cérebro de um. A outra acertou a traqueia do segurança restante, que disparou contra outra funcionária ao cair no chão.

- MAS QUE INFERNO! –

Toshiro berrou ao se erguer e passou a correr para fora do prédio.

- tenham uma boa noite, meus queridos – Branco cumprimentou os funcionários da loja de eletrônicos, que lhe fitavam com desespero e pavor, antes de seguir para fora do estabelecimento.

- você pode correr o quanto quiser, idiota. Isso vai apenas deixar as coisas mais interessantes... Para mim –

Enquanto Toshiro tinha que abrir caminho por entre as pessoas, correndo feito louco, Branco apenas marchava a passos rápidos. Uma vez que o seu alvo havia aberto caminho por entre, ele possuía uma caminho mais livre do que o mesmo. Correr, naquela situação, apenas iria estragar o momento. Isso, sem contar que as ruas repletas de pedestres não eram o local ideal para o que ele queria fazer.

- ALGUÉM SEGURA ESSE CARA! – gritou, desesperado, enquanto recarregava a própria arma.

Mas ninguém ousou se aproximar do mascarado de terno. Ele derrubou o carrinho de compras de um sem teto que estava a catar latinhas, tentando bloquear o caminho do seu perseguidor. Branco aumentou o ritmo dos passos, começando uma leve corrida, antes de saltar o carrinho sem problema algum. O asiático, desesperado, desceu pelas escadas que levariam ao metrô, na esperança de pegar algum veículo partindo. Se não houvesse metrô nenhum na plataforma, ele iria correr sobre os trilhos. De uma maneira ou de outra, ele teria algo em sua vantagem.

Se houvesse um veículo, ele iria deixar o mascarado para trás. Se não houvesse. Iria se livrar da multidão e poderia correr sem obstáculos limitando a sua velocidade.

Ao atingir o final das escadas, o homem se viu emocionado ao ver que um metrô havia acabado de chegar e os passageiros estavam fazendo o desembarque. Pulando as catracas com velocidade, Toshiro apertou o passo, empurrando as pessoas com brutalidade, fazendo de tudo para alcançar aquele vagão vazio antes das outras pessoas. Empurrando uma velhinha de bengala para o lado com força, o moreno conseguiu o seu objetivo, sendo o primeiro a adentrar o vagão, porém, despertando a fúria e a indignação das pessoas. Um homem alto , preto, que estava, aparentemente, indo para a academia, se viu revoltado, enquanto via a velhinha ser amparada por uma mulher de cabelos louros.

- aí! Qual é o teu...

O civil fora calado quando Toshiro ergueu a arma para cima, mirando na parede ao lado das escadas. O homem indignado recuou, prontamente, ao ver a arma de fofo na mão alheia. Quando o disparo fora efetuado, as pessoas desistiram, completamente, de pegarem o metrô, e passaram a correr para tentarem salvar as suas vidas.

Os civis, em seus desespero por autopreservação, acabaram por segurar Branco, que os empurrava para alcançar o vagão que ainda possuía as portas abertas. Toshiro efetuou mais uma disparou mais uma vez, esperando que as pessoas atrapalhassem ainda mais o homem de terno branco.

Toshiro sorriu ao ver as portas começarem a se fechar. Branco procurou apertar os passos, mas já era tarde demais. Quando alcançou a plataforma de embarque, as portas já haviam se fechado. O asiático encarou o seu perseguidor com fúria, o vendo apenas observar o metrô começar a partir. Toshiro o seguiu com o olhar. Branco também o seguiu com o olhar.

Quando uma pilastra passou entre ambos, quebrando o contato visual, o mascarado sumiu, assustando o moreno de jaqueta. Suspirando de alívio, o homem se jogou sentado em uma dos acentos. A viagem seria curta, mas ele poderia, pelo menos, respirar um pouco. Descansar as pernas nem que fosse por alguns minutinhos. Recuperar o fôlego e parar o tremer de seu corpo era sempre bom.

Estava aterrorizado, não poderia mentir. Fora uma das experiências mais horríveis de sua vida. Encontrar alguém do mundo do crime com tamanhas habilidade estrategista e capacidade cognitiva para, não apenas ler os seus alvos, como também os enganar e os fazer dançar conforme a sua dança.

Branco.

Ele não sabia quem era ou o que queria. Mas ele sabia que não queria, nunca mais, se encontrar com aquela figura

Quando sentiu a respiração se acalmar e o corpo começar a parar de tremer, Toshiro passou a analisar a sua arma. Já estava devidamente carregada. O que deveria ser um símbolo se força e poder, agora, representava apenas a sua fraqueza e covardia. Ele havia sido um covarde. Correu como um marica ao invés de apenas recarregar sua arma e cravar o corpo alheio de bala. Ficara tão aterrorizado com o outro, que não havia pensado naquilo antes.

Se sentia um animal.

O metrô parou.

O homem se ergueu, assustado. Não havia chegado na próxima estação, ainda. Então por que parar? As luzes coloridas dos anúncios que estavam espalhados pelo teto do vagão falharam, antes de se apagarem. Toshirobse desesperou. Aquilo não era normal. Um metrô parar no meio do percurso não era nada normal.

Nervoso, o homem se aproximou um pouco da porta que ligava o seu vagão ao próximo. Os vagões seguintes também estava vazios, para o seu maior temor. Encarava a cabine do controlador, tentando identificar se o mesmo estava com algum problema, mas o moreno estava longe demais para poder enxergar com clareza. Toshiro aproximou o rosto do vidro da porta, tentando diminuir a distância entre os seus olhos e a cabine.

Ele já estava ficando nervoso. Pensava, cada vez mais, na possibilidade de não ter conseguido despistar o seu perseguidor. Mas séria impossível. O metrô já havia saído da estação e deixado o mascarado para trás. Como seria possível que aquele ser humano pudesse alcançar aquele veículo tão rápido? Não tinha como!

Desistindo de enxergar qualquer coisa, o homem se virou para, nervoso, verificar, pelas outras portas, se não havia ninguém rondando o vagão. No entanto, assim que se virou, dera de cara com os olhos vermelhos  bem próximos de si. O seu griro de pânico fora abafado quando a mão do outro se fechou em seu pescoço e lhe ergueu do chão.

Toshiro olhou para todas as portas, procurando a que estivesse aberta, na tentativa de formular uma rota de fuga. Mas, para a sua surpresa, nenhuma delas estava aberta. Como Branco havia entrado naquele vagão? Se debatendo, tentando se livrar do agarre alheio, o japonês ergueu a cabeça, tentado trazer o ar para os pulmões. E foi assim que ele notou a saída de emergência, localizada no teto, aberta. Aquela fora a entrada do mascarado.

- vamos! Me entretenha ainda mais – falou o mascarado antes de jogar o homem para o lado, contra um dos acentos.

- pelo que pude ver, eu não

impressionei muito com os seus amigos. Vamos ver se você tem o que é preciso para trabalhar para mim –

Toshiro se virou, confuso, vendo o outro jogar as mãos para cima, ajustando as mangas do terno.

- você só queria trabalhar comigo?! – inquiriu, perplexo

- era só ter me contratado! – exclamou, indignado.

- as coisas não funcionam assim no País das Maravilhas – argumentou Branco erguendo o pé se chutando o outro.

Toshiro rolou pelo chão, desviando. Branco avançou. O japonês retirou sua arma da cintura, a apontando para o mascarado. Ao ver a arma ser retirada das costas alheia, o homem com máscara de coelho saltou, realizando giros no ar. Assim que a arma foi apontada diretamente para o homem misterioso, ele desceu a perna direita com força, acertando o revólver, o retirando da mão alheia.

Após aterrissar, perfeitamente, sobre o solo, Branco girou, chutando o rosto de Toshiro. O moreno, ao cair no chão pelo dano sofrido, não percebeu quando o mascarado apanhou sua arma e a desmontou, jogando os pedaços para os lados.

Se erguendo, Toshiro observou o seu perseguidor entrar em posição de batalha. Se vendo sem outra escolha, o japonês se preparou e avançou contra o mascarado. Branco desferiu um chute na lombar do homem de jaqueta, o vendo bloquear o seu golpe e desferir um soco em sua direção. O mascarado segurou o pulso alheio, antes de se mover para o lado e socar o rosto do moreno.

Toshiro recuou alguns passos. Branco aproveitou o momento e avançou, desferindo um soco potente no peito alheio. O japonês bloqueou o golpe, ao segurar no pulso alheio e o empurrar para cima. O homem desferiu uma sequência de socos no mascarado, que conseguiu defender os oito socos direcionados ao seu torso, nas não os três que lhe foram direcionados ao rosto.

Tendo a cabeça jogada para trás nas três vezes em que fora acertado, Branco recuou alguns passos ao cambalear para trás. O japonês tomou confiança, avançando enquanto o outro possuía uma abertura. Tomando um impulso, Toshiro saltou, erguendo uma das pernas em um chute no queixo alheio. O golpe fora bloqueado quando o mascarado cruzou os braços diante do peito em um X.

O asiático recuou, ao mesmo tempo em que o outro avançou. Branco ergueu a perna, desferindo dois chutes laterais em sequencia, os quais foram bloqueados pelo punho do homem de jaqueta. Toshiro copiou o ataque do homem de terno, o vendo bloquear o seu ataque com o braço.

- você é bom. Eu não vou negar – o mascarado elogiou ao mesmo tempo em que Toshiro abaixou o pé, tomando ima pode defensiva.

- mas lhe falta algo –

Branco avançou no outro, acertando um chute no abdômen do mesmo. Ao se inclinar para frente, após sofrer o dano, o homem sentiu o pé do homem de terno lhe acertar o rosto, lhe jogando para o lado. Caiu com os braços lhe servindo de apoio sobre um soa acentos duros do veículo, movendo a boca, surpreso com a dor que sentia no queixo. O homem misterioso o agarrou pelos ombros, antes de o jogar contra as barras de ferro ao lado.

- Isso é tudo o que máfia japonesa tem para me oferecer? Patético! –

O mascarado recuou, abandonando a pose de luta.

- vamos! Me mostre algo decente! –

Toshiro se viu furioso. O homem asiático se ergueu com ódio no peito. Cerrando os punhos, o homem deslizou um deles pelos lábios, limpando o sangue que escorria se seu nariz. Além de ser perseguido, ter os membros de sua facção, incluindo o seu chefe, assassinados, ele ainda tinha que ouvir aquelas ofensas?

Era demais para ele.

- eu vou lhe mostrar o motivo pelo qual o chefe me reconheceu como útil –

Possesso pela fúria, o moreno se virou e arrancou em disparada contra o mascarado.

Branco gargalhou fraco.

Toshiro investiu com o ombro contra o adversário, que girou sobre o próprio eixo, desviando do ataque. Assim que se virou para o homem de jaqueta, Branco fora pego de surpresa quando um soco potente lhe atingiu a máscara. Um outro soco fora desferido contra o seu peito. Mais três socos foram direcionados a máscara, a atingindo em cheio, antes de um soco no abdômen forçar o homem de branco a se curvar para a frente. Um chute na lateral do joelho o derrubou de joelho no chão, e uma joelhada forçou a cabeça do mascarado para trás, antes de, com um giro, Toshiro desferir um chute no rosto alheio. O jogando de cara em uma das barras de ferro que iam do teto ao chão.

O som de algo caindo no chão ecoou.

O gargalhar modificado do mascarado alcançou Toshiro, o surpreendendo. Aquela batida forte na barra de ferro deveria ter deixado o outro inconsciente ou ao menos tonto. No entanto, Branco não demorou nada para começar a se erguer. O homem tentou chutar as costas do mascarado, o fazendo se bater novamente na barra de ferro, mas o outro rolou pelo chão, desviando.

Branco logo se ergueu, sem qualquer dificuldade, assustando o moreno. O mascarado se virou, surpreendendo o homem quando . Um dos olhos vermelhos havia caído da máscara quando a mesma se quebrou no impactos com a barra de ferro. Agora, Toshiro podia ver, claramente, um olho castanho ser direcionado para si com diversão no olhar, enquanto os poucos fios castanhos se emaranhavam junto dos pelos brancos de sua máscara.

- quem reconheceria alguém tão fraco como você? – inquiriu o mascarado movendo a cabeça, alongando o pescoço, antes de começar a marchar na direção do outro.

- quem é você? – inquiriu o homem, assustado.

Branco riu.

- não se deve questionar uma mulher –

A mulher de máscara correu na direção do japonês, que, receoso, decidiu atacar. Quando Toshiro desferiu um soco, Branco desviou, se abaixando e girando, se colocando nas costas do outro. O homem se virou rapidamente, atacando as costas alheia. A mascarada voltou a se esquivar, irritando e assustando o homem. Quando Toshiro decidiu se afastar, a mulher atacou.

Segurando nas duas barras superiores, a mulher de terno se ergueu, usando dos dois pés para desferir três chutes no rosto do japonês. O homem cambaleou para trás, desnorteado. Ao abandonar as barras e se colocar de pé, Branco chutou o peito alheio com força, empurrando o homem para trás.  Toshiro bateu de costas na porta que levava de um vagão ao outro, antes de receber mais um chute no peito, lhe tirando o ar. A mascarada, então, agarrou o homem pela jaqueta e o jogou com força contra a porta lateral, o fazendo bater com a cabeça no vidro da porta, abrindo um corte na testa do homem.

- ridículo. Totalmente ridículo! – ralhou, se aproximando.

Toshiro, se dando por vencido, apenas girou, se deixando cair sentado no chão. Branco se abaixou e agarrou o colarinho do outro, o puxando para si. Em um ataque desesperado, o homem desferiu um golpe do punho no peito alheio, fazendo o uso do canivete que havia guardado em sua cintura. O asiático se vou surpreso e frustrado quando o seu pulso fora agarrado e, com um golpe do punho livre na parte interna do cotovelo, Branco fez com que o ataque se voltasse contra o dono.

O moreno grunhiu quando o seu canivete atravessou o seu ombro, quase inutilizando o seu braço. Olhando para a sua agressora com temor, o asiático viu apenas o brilho divertido no olhar alheio se tornar mais intenso. Um sorriso largo moldava os lábios da mascarada. E Toshiro sabia disso mesmo com a máscara cobrindo parcialmente o rosto da mulher.

- Um truque barato e você sabe disso –

Ao largar o homem, Branco se manteve abaixado, com o olhar fixo bos olhos do moreno.

- você vai me fazer um trabalho –

Toshiro sorriu de canto.

- e se eu não fizer? –

- posso te matar agora mesmo, se quiser. Eu não preciso que você faça. Eu apenas quero –

- e como vai ter certeza de que eu vou, realmente, cumprir com o que pede? –

Branco sorriu por trás de sua máscara.

- quem você acha que as facções vão culpar pela morte dos líderes? Uma mulher qualquer com um histórico criminal inexistente, ou o único sobrevivente da reunião fracassada? -

A pergunta da mascarada fez o pânico surgir no olhar alheio. Toshiro, enfim, havia parado para pensar no que lhe ocorreria quando a notícia da morte dos cinco líderes alcançasse os outros membros. Engolindo em seco, o homem abaixou o olhar, desesperado. Ele estaria morto. A sua sentença já estava assinada. Não iriam lhe escutar. Principalmente os italianos e os outros japoneses. Eles levavam traições a sério demais para manterem algum traidor vivo. E, agora, ele era visto como um traidor.

- caso o trabalho seja feito, eu assumirei a culpa dos assassinatos –

A voz modificada da mulher despertou a atenção do homem.

- você irá voltar para o Japão e entregar uma mensagem exclusivamente para a família Yukimura – ditou a mulher retirando uma envelope do bolso interno do seu terno.

Toshiro acolheu o envelope em sua mão direita, vendo um selo carimbado no papel branco. Uma brasão feito com os quatro naipes de baralho. Apesar as surra que recebera, ele conseguiu sentir, perfeitamente, o perfume de rosas que o objeto emanava.

- precisa ser entregue aos dois: pai e filha. Diga a eles que Alice os mandou lembranças –

Toshiro analisou bem a mulher a sua frente, antes de voltar a olhar para o envelope em sua mão.

- mas como vai saber que cumpri com a minha parte? – indagou, nervoso.

- deixe que eu me preocupo com isso. Já você, deveria estar se preocupando em sair do país o mais rápido possível. Os italianos e os japoneses são os mais rigorosos quanto a traição. Mas os americanos são os mais rápidos. -  a mascarada gargalhou baixinho, antes de apertar o nariz alheio, suavemente, soltando um “puff”.

- é melhor você correr, coelhinho – comentou enquanto se afastava, se aproximando da abertura no teto.

- agora, se me der licença. Estou atrasado com Cheshire – falou a mascarada antes de usar o acento e as barras de ferro para se impulsionar para cima, saindo do vagão sem problema algum.

- Cheshire? –

Toshiro estava confuso. No entanto, ele não tinha muito o que fazer. Sabia que teria que entregar aquela carta aos Yukimura, se quisesse sobreviver a legião se mafiosos que lhe caçaria sem descanso algum. O homem segurou o envelope com firmeza, antes de começar a se erguer. Com um solavanco, o metrô voltou a se mover, assustando Toshiro.

Branco realmente havia ido embora.

Ele estava perplexo. Aquela mulher havia matado membros e líderes da máfia sem sofrer um arranhão, lhe perseguido pela cidade e tomado o controle de um veículo público no qual não havia embarcado, apenas para poder lhe alcançar e lhe entregar um envelope. A mascarada havia armado uma armadilha incrivelmente útil e perigosa para si.

A mulher que atendia pelo nome de Branco não era alguém com quem ele poderia brincar.

Chapter 51: Contract

Chapter Text

 

- PAAAAAAAI! – 

Derek escutou ao terminar de trancar a porta de casa. Valerie se encontrava na sala de tv quando o pai adentrou a casa. A garota largou todos os brinquedos ao seu redor para correr na direção do mais velho. O moreno de olhos verdes e barba por fazer largou sua pasta ao lado dos pés, ao se abaixar, e agarrou a filha nos braços. 

- ê, filhota! – o homem grunhiu assim que a criança pulou em seu pescoço. E voltou a grunhir assim que a ergueu num braço só, enquanto o outro segurava a sua pasta. 

- você está ficando pesada, moleca. Tem que começar a pegar leve nos doces que sua mãe faz. Não vai querer ficar doente, vai? – a garota negou, ainda pendurada ao pescoço do pai pelos próprios braços, enquanto o homem marchava para a sala de televisão. 

- Quem fica doente por causa do açúcar toma uma injeção todos os dias. Você quer uma injeção todo dia? – 

- não! – a menina exclamou, assustada. 

- então vamos ter que pegar leve no açúcar – 

- mas a mamãe faz os melhores doces. Melhores do que os das lanchonetes – exclamou a mais nova, como se apenas aquilo fosse fazer o seu pai mudar de ideia. 

Derek riu. 

- eu sei, meu anjo. Mas os doces da mamãe também deixam a gente doente se comermos muito – 

O homem jogou sua pasta sobre o sofá e se sentou no chão, junto com a filha. 

- como foi a escola, hoje? – 

- legal e chato – 

Derek riu. 

- legal e chato?! – inquiriu, confuso. 

- é. O Jass quebrou o braço caindo do escorrega. Essa foi a parte legal. A parte chata foi que a senhora Richard deu uma bronca em todo mundo sobre como brincar no parquinho. – 

- Valerie! O seu amigo se machucar não é legal! Quebrar o braço dói muito, sabia? – o moreno repreendeu a sua filha de cabelos castanhos, a vendo menear em concordância. 

- a parte legal não foi ele cair. Foi legal porque quando o Jass voltar do hospital, todo mundo vai poder desenhar no braço dele – a garotinha explicou e Derek não pôde evitar de sorrir. 

- você gosta mesmo de desenhar, não é, pestinha? – o homem inquiriu apertando a criança nos braços e passando a beijar a sua bochecha. 

Ele se recordava de como ficou a casa quando Valerie começou a aprender a desenhar. Em uma manhã de sábado, quando o casal acabou dormindo tarde por passarem um tempo a mais juntos na noite anterior, a garota acordou cedo e decidiu manter a prática aprendida recentemente. Quando Derek e Paige acordaram, o corredor do andar de cima havia sido transformado em uma exposição de arte infantil. 

A parede branca fora redecorada com vários desenhos coloridos feitos a mão pela pequena artista e a sua caixa enorme de giz de cera que a avó dera pouco depois que a garota revelara o gosto pela pintura. Paige passou horas reclamando do trabalho que teriam para limpar as paredes, enquanto repreendia a filha e deixava bem clara a regra de não poder, nunca mais, pintar nas paredes. 

O moreno sentiu o peito derreter com o gargalhar gostoso da filha. A garota alegou que a barba por fazer do pai fazia cócegas. Derek riu, questionando se era verdade, ao mesmo tempo em que se desvencilhava da criança, sorrindo para ela. Valerie era como um purificador em sua vida. Tudo de ruim que ele absorvia no trabalho, simplesmente desaparecia quando ele reencontrava a filha feliz e saudável no conforto e segurança de casa. 

O Hale escutou vozes e passos no andar de cima, antes de direcionar o olhar para as escadas, vendo a esposa descer as escadas sendo acompanhada por uma mulher de cabelos longos. Paige sorria para a visita, que sorria de volta em sua direção, conversando sobre uma publicação recente da editora em que Paige havia trabalhado antes de se casar. 

- ah, Derek! Você está em casa! Barby, esse é o meu marido, Derek. Derek, essa é uma amiga minha da editora, Bárbara – Paige os apresentou. 

O homem apenas sorriu para a loura de cabelos longos enquanto estendia a mão para a mesma. Os dois se cumprimentaram com um aperto de mão e sorrisos, enquanto que, sem jeito, a mulher ajustou a alça da bolsa no ombro. 

- então você é o bonitão dos olhos verdes de quem ela tanto falava – soltou a loura observando o homem sorrir, sem jeito. 

- eu não sei sobre os olhos verdes, mas quanto ao bonitão eu estou certo -  brincou o moreno gerando risos na loura. 

- a Barby se mudou para outro estado pouco antes de noivarmos. Por isso acabou não comparecendo ao nosso casamento – justificou Paige, apertando o ombro da amiga. 

- um ano depois acabei indo morar fora do país. Voltei há dois meses paraba cidade e acabei esbarrando com a Paige na cidade – 

- é mesmo?! E para onde foi? – o Hale deu continuidade a conversa, simpático. 

- Canadá – 

- legal. Uma experiência e tanto, hein? – 

- sim. De fato. Você trabalha para o FBI, certo? – 

- sim, sim. – 

- uma vida e tanto, hein? Tendo que lidar com tanta criminalidade e ainda voltando para casa somente quando pode – 

Derek meneou em concordância. 

- muito estressante. Mas é só ver essa coisinha pequena que o estresse vai todo embora – comentou o moreno, sorrindo para a filha 

- imagino. Bom! Eu já vou indo! – 

- mas já?! Não quer ficar para o jantar? – indagou Derek, cortês. 

Barbara negou com a cabeça, dando de ombros. 

- não posso. Eu tenho muito trabalho em casa e, para completar o meu chefe está um saco nos últimos dias, então eu tenho que deixar tudo pronto o quanto antes – a mulher se justificou, antes de voltar a erguer a mão para o moreno de olhos verdes. 

- foi um prazer – 

- igualmente – 

- qualquer dia desses nós marcamos um jantar, já que você está na cidade, atualmente – comentou Paige enquanto guiava a amiga para o lado de fora. 

- claro! Por que não?! – 

Derek não pôde mais ouvir as duas, já que a porta se fechou e as duas se encontravam do lado de fora, terminando com a despedida. Em alguns minutos, Paige retornou com um sorriso no rosto. 

- e então? Como foi no trabalho? – 

A castanha aparentava estar feliz por reencontrar a amiga. Derek sorriu para a mulher. 

- nada muito difícil. Felizmente conseguimos resolver antes que a mulher conseguisse realizar o objetivo dela – 

A mulher deslizou os dedos pelos fios escuros do marido enquanto seguia para a cozinha. 

- então foi uma mulher, dessa vez – comentou, não muito curiosa. 

- a maioria dos casos que tem homens como vítimas são cometidos por mulheres,. É triste, mas é um fato - 

- criminosos são criminosos, Derek. Não importa o gênero – 

Derek entortou os lábios. 

- sabe que não gosto que fale essa palavra na frente da Valerie – repreendeu o moreno, observando a mulher se aproximar do telefone e discar o número da pizzaria. 

- Derek, eu sei que você quer proteger a nossa filha. Mas criar ela numa bolha não vai ajudar. Isso só vai enfraquecer ela. E quando ela estiver sozinha, não vai poder se defender – 

O moreno suspirou, cansado. 

- você sabe que é verdade. Você trabalha todos os dias com criminosos. Sabe como eles podem convenceram uma criança e se aproximar deles. Sem contar que crianças podem ser muito pior do que criminosos quando querem – 

E ele sabia mesmo. Derek se lembrava bem de Nancy Miller, a Cinderela. Se recordava de como um criminoso lhe arruinou a autoestima ao mutilar os seus pés. E, principalmente, se recordava bem de como os colegas de turma a empurraram em um poço sem fundo ao zombarem de sua condição. 

O homem se recordava com uma nebulosa sentimental, a qual ele não conseguia compreender, das palavras de Alice para a mãe de Kara Mackson, ao confessar que fora estuprado pelo pai. Se recordava do olhar vazio do assassino nas fitas de interrogatório do castanho. Derek sabia muito bem o que um trauma causado pelo incapacidade de se defender poderia causar na vida de uma criança. 

“Valeu a pena?” 

A voz de Alan Deaton ecoou em sua mente, lhs forçando a questionar suas decisões. 

- a pizza vai chegar logo – a voz de sua mulher cortou a sua linha de raciocínio. 

- ISSO! – exclamou Valerie, animada. 

 

 


- está com medo? Pensei que fosse mais corajoso – comentou Isaac enquanto era guiado pelos guardas até o interior do presídio. 

- eu também pensei – murmurou Peter colocando as mãos inquietas no bolso do casaco. 

- não é grande coisa, se quer saber – murmurou o guarda vendo o homem mais velho negar com a cabeça. 

- não é do lugar, cara. Nem dos presos – ditou Vernon seguindo o caminho usual. 

- faz quase uma semana que não voltamos para cá. Será que ele se acalmou? – 

- eu espero que sim, Isaac. Espero que sim – 

- ele não é burro, Peter. Sabe que se não se comportar, ele será afastado de você. Com certeza, Alice já se acalmou. Ele usou esse tempo trancado aqui para respirar e colocar a cabeça no lugar – 

Isaac franziu o cenho 

- eu não sei, não. Alice, as vezes, consegue ser bem impulsivo. E com o Peter longe dele, apenas piora. Não sei que ideia ridícula foi essa de manter ele trancafiado aqui como punição. Deveriam ter isolado ele mais se quisessem lhe afastar dele – 

Vernon cutucou o Lahey com o cotovelo, antes de lançar um olhar repreensivo. 

- não estou falando em prender ele de vez, mano. Só que, tipo, para uma pessoa que ameaça tanto os superiores do FBI, eles fizeram um trabalho de merda punindo o Stiles afastando ele do Peter, mas o manter na segurança mínima nesse período – 

O guarda apenas franziu o cenho na direção dos dois prisioneiros. Ele estava ciente da real situação dos três prisioneiros. Era um dos agentes responsável por fazer vistorias nos prisioneiros dentro da segurança mínima. Mas o modo como Isaac analisava a situação o deixava curioso. O castanho era realmente tão temido por seus superiores? De onde o Lahey tirara aquilo? 

- se eu fosse afastar o Peter do Stiles, teria o levado de volta para Alcatraz durante o período de afastamento. O cara já estava surtado, aí eu vou e tiro o único ser capaz de acalmar a fera de perto do cara?! É burrice! Eles esperavam o quê?! Que o maior assassino do país fosse apenas sentar aqui, jogar poker e dançar com os italianos?! – 

Assim que adentrara o presídio, o grupo fora surpreendido por uma cena inesperada. 

- ele está dançando com os italianos?! – questionou Isaac, franzindo o cenho para Stiles, abaixo de si. 

O castanho de brincos saltitava em círculos, junto com um homem que aparentava ter os seus trinta e sete anos. Os dois saltitavam de frente um para o outro, enquanto intercalavam os pés, os erguendo em sincronia. Os outros sete italianos batiam palmas ritmadas e soltavam alguns gritos que eram comuns de se ouvir quando se dançava a tarantella, os quais eram intercalados com o cantarolar ritmado. 

Peter franziu o cenho, surpreso, quando o homem e Stiles se aproximaram, se colocando lado a lado, com uma mão na cintura alheia, e passaram a girar, se encarando com sorrisos animados no rosto. 

- mas o que está acontecendo? – indagou Peter, perplexo. 

Os três não conseguiam crer no que viam. Stiles, uma pessoa que odiava adultos de forma generalizada, estava a dançar com um desconhecido, estando com o torso desnudo, pois usava o torso di macacão como saia, permitindo que a mão do parceiro de dança tocasse a pele de seu torso sem barreiras. 

- eu não faço a menor ideia – Isaac conseguiu proferir, ainda encarando o castanho abaixo de si com incredulidade. 

- quem diria? – comentou Vernon, perplexo. 

O homem se abaixou, se colocando de joelhos, passando apenas a bater palmas, enquanto Stiles se distanciava, rodopiando, balançando o torso do macacão com o vento. O castanho passou a se exibir para os demais italianos, em meio a sua dança, sempre sorrindo simpático. O Stilinski retornou para o homem ajoelhado, que acolheu a sua mão gentilmente, tendo o membro guiado pelo castanho quando o mesmo dera a volta em si. O homem, então se ergueu, e os dois voltaram a ficar frente a frente. 

Quando a dança, enfim, acabou Stiles ergueu o olhar, ao rir de algo que o seu parceiro de dança pronunciou. Algo que Peter não conseguiu ouvir. Em seu ato, o castanho acabou lançando o olhar sobre os três homens, os vendo a lhe observar. Surpreso, Alice ergueu as sobrancelhas, antes de sorrir largo e acenar gentilmente para o homem mais velho. Peter acenou de volta, notando que os outros prisioneiros haviam lhe visto. 

- tragam ele para mim – disse o louro de cabelos penteados para trás, dando as costas e seguindo para as escadas. 

- quem é o coroa? – indagou o italiano ao lado do homem de cabelos castanhos e macacão aberto, o vendo ainda a observar o grupo que se encontrava no andar de cima. 

- alguém muito interessante – 

O homem franziu o cenho, desconfiado. 

- relaxa, irmão. Isso aqui não é delação premiada sobre a prisão. Eu não me venderia por tão pouco – ditou, revirando os olhos, e vendo o guarda acima de si sinalizar com a mão para outro guarda, que se encontrava no andar de baixo. 

O homem apontou para Stiles, e, logo ele soube o que aquilo significava. 

- eu volto logo, galera. Não vão cantar Bella Ciao sem mim, hein? Eu vou ficar muito puta! – ralhou o castanho começando a andar na direção do guarda que se aproximava. 

- Alice – chamou o homem mais velho do círculo, vendo o castanho se virar para si. 

- não é melhor... Você sabe? Trocar para o homem, de novo? – 

Alice sorriu minimamente. 

- relaxa, eu faço isso no caminho. São poucas as vezes em que o meu irmão me deixa sair aqui – respondeu dando de ombros e seguindo o guarda que, se quer, falou algo. 

Enquanto caminhava pelos corredores, sendo guiado por quatro guardas muito bem armados, Alice sorria de canto, negando com a cabeça enquanto refletia um pouco sobre o que havia acabado de fazer. Mentir sobre a própria identidade para poder chegar mais perto dos italianos fora fácil. A parte difícil fora comprovar a sua real condição mental. Não é todo mundo que acredita em transtorno dissociativo de identidade. E fazer os italianos colocarem fé em suas palavras sem que tivesse trocado de lugar com os outros fora difícil e entediante. 

Mas ele era bom no que fazia. 

Persuadir pessoas e as forçarem a acreditar no que ele queria que elas acreditassem sempre fora parte de seu trabalho. Passara anos fingindo ser uma doce e adorável garota, antes de conseguir o que queria e as abandonar, ou as apunhalar quando menos esperavam. Ao se aproximar da sala de sempre, Stiles abandonou as características femininas suaves que havia incorporado para atrair os prisioneiros para a sua teia de mentiras e retornou ao seu caminhar normal, sem o mover suave de quadris, ou o modo quase alinhado em que posicionava os pés ao dar suas passadas. 

- espera – ordenou um dos homens, o parando e se colocando diante do prisioneiro. 

- anda logo. Não precisa de toda essa cerimônia para me tocar, Richard – 

O homem ignorou e passou a revistar o prisioneiro, começando pelos braços e torso. 

- pode me apalpar sempre que quiser – Alice voltou a provocar, sorrindo mais ainda quando sentiu o aperto violento do homem e os golpes das mãos do mesmo em sua coxa. 

Dois guardas riram. 

Stiles sabia que aqueles quatro eram agentes infiltrados, mas se mantinha calado desde que chegara a prisão. Para ele era fácil diferenciar. Os agentes infiltrados para se manterem de olho em si, Vernon e Isaac eram mais prudentes e tinham um comportamento corporal diferente dos simples guardas de Maybelle, que eram cheios de si. Apesar da boa atuação verbal, o treinamento intenso e diferenciado era evidente em seu modo de agir. 

Eles falhavam em lhe iludir. 

Falhavam miseravelmente e ele se divertia com isso. 

Era óbvio que Gerard e os outros lideres não o deixariam tão livre assim e fariam de tudo para manter o olho em si. Entretanto, Stiles esperava mais. Homens simplórios, apesar de serem bem treinados, continuavam simplórios. 

O FBI não aprendia. 

- fecha a matraca, arrombado! – ralhou Richard, se erguendo e exibindo o fuzil em suas mãos. 

- ah, você nem é tão grande, assim – 

Com um golpe do cano do fuzil no ombro esquerdo, um outro guarda empurrou Stiles para a porta da sala. 

- você não está aqui para der palhaço! – repreendei, mal-humorado. 

Peter assistiu, desconfiado, Alice ser empurrado para dentro da sala, com força. Assim que a porta se fechoi atrás de Stiles, um dos homens se afastou da mesma e puxou o ponto em seu ouvido, anunciando que Alice havia sido colocado na sala. Em um dos corredores da ala das celas, homens vestidos de guardas adentraram o ambiente, invadindo a cela em que o prisioneiro Stiles Stilinski ficava alojado. 

- oi – Peter o cumprimentou, sem jeito. 

- e aí? – 

Com calma, Stiles se sentou na cadeira de frente para o mais velho, o encarando. O louro engoliu em seco. Depois do ocorrido com o Jaguadarte e da conversa de Stiles com Talia, Peter não conseguia olhar Stiles nos olhos. O homem sentia que havia falhado, e olhar nos olhos do assassino parecia lhe lembrar daquilo a cada instante. 

“Você me usou!” 

Era o que ele temia ver nos olhos alheios. 

“Você mentiu para mim!” 

E sabia que poderia ser interpretado assim. 

Peter havia confiado demais na capacidade de Stiles de reter as coisas em si. Deixou o castanho absorvendo demais os acontecimentos, sem tentar o afastar ou o ajudar a liberar. Ele fora irresponsável. Sabia da situação mental de Stiles. Pessoas com aquele transtorno já se sentiam, naturalmente, como se estivessem em um corpo que não lhe pertencia. Deixar que Stiles se sentisse como apenas uma ferramenta apenas agravaria o sintoma do transtorno e faria com que Stiles explodisse. 

- você está bem? – nervoso, Peter procurou a voz em si para questionar. 

Silêncio. 

- eu... Vi o cara lhe segurando, hoje na dança. Você... Está superando ou... Ele é legal? – 

- superando?! Você é engraçado, Peter. Não se supera ódio, Peter. Ou você mata, ou você alimenta. Eu não tenho escolha a não ser alimentar -  

Peter suspirou. 

- você sabe que não precisa ser assim, Stiles. – 

- sim, precisa. Você sabe como as pessoas são. Sabe como elas funcionam. Você é perfilador – 

- e é por ser perfilador que eu sei que as pessoas não são todas assim, Stiles. Nem todos são maus ou doentes como – 

- como eu? – Alice cortou o raciocínio do louro, que se calou, surpreso, com o questionamento. 

- é claro que não. Como as pessoas que nós prendemos. Eu ia dizer isso, Stiles. Você sabe que... 

- eu sou uma pessoa que você prendeu, Peter – 

O silêncio reinou no ambiente. 

- é claro que eu não estou bem. Estou cercado por idiotas que se acham bons demais para simplesmente abaixar a cabeça quando encontram alguém melhor do que eles. Como você acha que alguém narcisista, sociopata e psicopata se sente por aqui? – 

Peter voltou a suspirar. 

Ele havia adiado aquela visita o máximo que conseguiu, receoso de que Alice estivesse exatamente assim. No final das contas, o tempo que dera para o castanho respirar e descansar não serviu de nada. Peter a abou por falhar mais uma vez. 

-  eu estou brincando, Peet. Não precisa ficar com essa cara! – exclamou o mais novo, sorrindo largo na direção do mais velho, apoiando o queixo nas mãos unidas. 

Surpreso, o mais velho ergueu o olhar para o outro, o vendo sorrir divertido em sua direção. 

- eu sei que está irritado comigo, Stiles. Não precisa fingir para mim – 

- eu não estou. Você não tem culpa de nada, Peter. Não é culpa sua que Derek, Scott e Lydia sejam três incompetentes – 

- Stiles... – 

- são eles que não conseguem separar o pessoal do profissional. Allison é, de longe, a melhor que eu já vi em anos. É claro, ela precisa ser lapidada. Mas Derek, eu devo dizer, foi uma completa decepção – 

- eu estou chateado, não nego. Eu odeio ser visto como uma arma. Odeio não me ver como o dono do meu próprio corpo – 

Peter abaixou o olhar. Então Stiles realmente se sentiu usado como uma arma. Aquilo lhe machucava. Havia jurado para Alexander que iria ajudar o rapaz. Mas findou fazendo aquilo que jurara não fazer. 

- mas que culpa eu posso colocar em você? É isso o que sou. É isso o que me designaram para ser quando me colocaram nessa divisão. Apenas uma arma para pegar  - 

- você não é uma arma, Stiles – o louro tentou argumentar. 

- não adianta mentir para mim, Peter – o castanho negou com a cabeça, antes de abaixar o olhar – cala a boca, Rei – o Stilinski coçou a cabeça antes de voltar a erguer o olhar. 

- as vozes estão mais constantes? – 

Stiles riu 

- não. Rei é que gosta de ser um pé no saco. 

- tem certeza de que não quer tentar novos remédios? – inquiriu o mais velho, preocupado. 

- Peter, remédios não funcionam em mim. Já tomei tanta coisa nessa vida que ficaria surpreso se alguma merda dessas funcionasse – 

O sorriso nos lábios alheios não passava a ideia de diversão para Peter. Ele odiava se recordar que não importava o medicamento que passassem, não surtia efeito no castanho. As vozes não sumiam, e as visões permaneciam. Mas o que sempre intrigou os médicos não era a resistência a medicamentos, mas sim a ausência de amnésia. Stiles era um gênio com TDI. No entanto, a memória impecável permanecia, apesar de amnésia ser um dos sintomas mais comuns da doença. 

- você nunca me disse como adquiriu tanta resistência a químicos – comentou o louro, um tanto tristonho. 

- não temos um acordo, Peter. Eu não mato e você não sabe – as palavras calmas silenciaram o mais velho como o tapa de um pai que repreende o filho bagunceiro por ter passado dos limites. 

Peter não havia se esquecido do acordo. Stiles deixaria de matar e Peter deixaria de investigar a sua vida. O acordo que selaram pouco antes da morte de Alexander. 

- mas você matou – Peter viu ali uma chance de adquirir alguma informação a mais sobre Alice. 

- e você não parou de me investigar -  o homem gelou com a acusação do outro. 

- menti? – 

- não – a contra gosto, Peter respondeu. 

- é a minha natureza, Stiles. Entender o que aconteceu com criminosos para entender porquê eles matam.- 

- eu fechei as portas do País das Maravilhas por você, Peter. Eu larguei o meu mundo por você – o argumento silenciou o mais velho por alguns segundos. 


- eu gosto demais de você para ignorar as coisas que você sofreu – 

- e eu gosto demais de você para deixar um homem que tentou lhe matar solto por aí – 

- mas não precisava ter matado ele, Stiles. Os crimes dele já garantiriam a morte dele. Poderíamos passar mais tempo juntos no trabalho se não o tivesse matado – 

- eu precisava matar ele, Peter. Depois do que ele me disse, ele precisava ser morto - 

O mais velho franziu o cenho para o castanho, principalmente ao ver o outro cerrar os punhos com tanta força. Stiles realmente nutria um ódio profundo por Sebastian Crane. O homem que ficou conhecido pela divisão como Jaguadarte aprontou muito com eles. Colocou a vida do grupo em risco ao disparar contra eles em uma cena de crime, e até mesmo a vida de Alice ao preparar aquela armadilha com as bombas no prédio em frente a cena. Mas o homem acabou conhecendo o seu fim nas mãos de Stiles, em uma claro castigo por colocar peter na mira de uma arma. 

- o que ele lhe disse que lhe deixou tão irritado, Stiles? – 

O castanho negou com a cabeça, abaixando o olhar, sério, para as próprias mãos ao ouvir os dedos se quebrando com a pressão de suas mãos. As mãos de Peter voaram sobre a mesa, tratando de separar as mãos de Stiles. 

- não faça isso! Pode me dizer. Fale comigo. Não armazene tudo em você, garoto. Eu estou aqui por você – o homem repreendeu, tentando aliviar a carga do outro. 

- ele me disse... Que o Branco voltou – ditou o castanho erguendo o olhar sério, observando Peter lhe fitar, confuso. 

- Branco? – 

- o Coelho Branco – 

Peter teve os olhos arregalados em surpresa e a sua mente viajou em suas memórias. Em sua cabeça, a imagem de Stiles criança surgiu, em pé, com um pé sobre uma cabeça de coelho de uma fantasia, com o corpo curvado na direção de um Alexander perplexo, caído ao chão com a arma abandonada ao lado do corpo. Atrás da criança, Peter se lembrava de haver um corpo vestido em um terno elegante pregado na parede na forma de cruz. 

- mas você matou ele –  argumentou o Tate, incrédulo. 

 

 

 

 


Derek sorria para a animação de sua filha em arrumar a mochila para o dia seguinte na escola. A garota arrumava a mochila com um sorriso largo, enquanto narrava para o pai as possibilidades que queria que ocorressem na manhã seguinte, durante o recreio. 

- que sem graça! Você cresce muito rápido, piveta!  - exclamou o moreno, tentando chamar um pouco mais da atenção da filha para si. 

- a vovó disse que são os legumes! – exclamou a castanha, animada. 

- então vou cortar os legumes. Eu quero você pequenininha – 

- não! Eu quero crescer mais, ficar grandona que nem você! – 

O homem sentiu o peito derreter com a declaração da garotinha. 

- ah, você não vai gostar, não. É chato – reclamou o homem, mantendo o diálogo. 

- se é chato, então fica em casa comigo. Daí a gente brinca – reclamou a garota se virando de prontidão para o pai, cruzando os braços. 

No movimento da pequena Hale, a pulseira da mesma prendeu no zíper da mochila e os seus materiais caíram da pequena mesa de centro em seu quarto. A garota gelou quando os livros caíram da mochila, a esvaziando. 

Derek estranhou o comportamento da filha. 

A garota, rapidamente, se colocou a recolher os materiais escolares, quase que com desespero. O moreno estranhou mais ainda e levou a mão aos materiais da garota, optando por ajudar a mesma, aproveitando para dar uma leve conferida no que havia ali no meio. 

- está tudo bem? – perguntou o mais velho, apenas para conferir o tom de voz da mais nova. 

Valerie apenas meneou. 

Ao puxar o livro de inglês de cima do pequeno grupo de livros e cadernos, Derek percebeu o motivo do receio de sua filha. Valerie engoliu em seco ao perceber que o pai havia o encontrado. O pequeno livro de capaz azul com uma garota de cabelos amarelados de vestido azul com babados estava escondido entre o livro de inglês e o caderno de mesma matéria. A garota desistiu de recolher os materiais e passou apenas a esperar pelo esporro. 

Derek analisou o livro com pensamentos confusos. 

Ele odiou aquele livro por anos. Maior parte de sua vida, para ser exato. Mas, agora, ele via apenas um livro de história infantil. Não mais um objeto pelo qual nutria um imenso ódio e receio. 

- não joga fora, por favor. É da escola. A senhorita Ronove sorteou livros para nós fazermos resumos. Eu pedi por outro, mas ela não deixou trocar – pediu a criança, já justificando o motivo da infração cometida. 

Tanto Alice no País das Maravilhas quanto Alice Através do Espelho eram terminantemente proibidos naquela casa. 

- está tudo bem, meu anjo. Eu não vou jogar fora – 

A voz serena do homem causou estranheza na garota. 

- você não está bravo? – 

Derek sorriu sem graça e negou com a cabeça. 

- não – 

- mas você odeia Alice - argumentou Valeria, confusa. 

Ele suspirou. 

- eu acho que não mais – 

- não?! – a animação surgiu no rosto jovial e o mais velho não pode competir com aquilo. 

- não – 

- então você pode ver os filmes comigo?! – 

Derek fingiu ponderar, desviando o olhar o teto. 

- não sei – 

- por favor! Por favorzinho! – 

A garota passou a implorar, com as mãos unidas diante do peito, lançando a melhor expressão de cão abandonado que conseguia fazer. 

- hm – 

Ele fingiu pensar um pouco mais. 

- eu faço qualquer coisa – apelou a garota, observando o mais velho descer o olhar. 

- qualquer coisa? – 

- uhum – ela meneou desesperadamente. 

- Então vamos fazer assim. Eu aceito assistir os filmes com você. Mas... Você vai ter que prometer nunca mais esconder nada de mim. Fechado? – 

- aí complica – a garota soltou, abaixando o olhar, fingindo pensar. 

Derek se engasgou com o riso. 

- “Aí complica”?! – 

- eu sou uma mulher cheia de segredos. Não posso prometer uma coisa dessas – 

O mais velho apenas lançou um olhar indagativo para a filha. 

- como é que é?! - 

- uma espiã tem que ser uma mulher misteriosa. Eu não posso ficar contando tudo para você - 

- uma espiã? – inquiriu o agente, confuso. 

- é. Eu quero ser uma espiã quando crescer - a garota soou convencida. 

- uma espiã... Certo. Mas uma espiã não teria que esconder que é uma espiã? E não ficar contando para o pai dela? – indagou lançando um olhar questionador para a criança, que pareceu travar diante do fato exposto. 

Em um segundos, a expressão surpresa se tornou uma desconfiada. 

- qual é o preço do seu silêncio? – perguntou unindo as pontas dos dedos diante do peito. 

Derek explodiu em uma gargalhada. 

- o quê?! – 

- todo mundo tem um preço. Me diz o seu para não sair espalhando que eu vou ser espiã – 

A garota observou, confusa, o pai negar com a cabeça. 

- com quem diabos você aprendeu isso? – 

- eu tenho as minhas pontes – a garota tentou soar misteriosa, mas apenas conseguiu arrancar um gargalhar alto do pai. 

- não quis dizer fontes? – 

Envergonhada, a garota travou ao procurar um jeito de redimir o seu erro. 

- vamos guardar as suas coisas que já está na sua hora de dormir – o moreno tratou de ajudar a filha a guardar os livros antes de a içar no ar e a carregar até a cama. 

- mas a gente vai ver o filme? – pediu, acanhada. 

- só se a espiã guardar segredo – 

- fechado – 

Com um abraço seguido de um beijo estalado na bochecha, a garota fora posta na cama. 

 

 

O moreno de olhos verdes revisava mais um maldito relatório de mais um dos testes realizado na criança de cabelos longos e castanhos. Sentado na cadeira do seu escritório, em sua casa, o agente de olhos claros levou, mais uma vez, a sua xícara de café aos lábios, enquanto passava a página do arquivo em seu computador. 

Aquilo já se tornara cansativo para ele. 

Um incrível desperdício. 

Era a sua conclusão. 

Stiles fora um incrível desperdício de genialidade e talento. Derek não fazia ideia do que levara uma criança ao estado daquele garoto, mas ele se questionava o que Stiles poderia ter sido caso o seu fator estressante não houvesse acontecido. 

Como seria Stiles se Alice não existisse? 

Ele não conseguia imaginar algo fixo. Sabia que grande parte das habilidades de Stiles foram desenvolvidas devido a sua vida criminosa. Não sabia estipular quais eram, exatamente, mas sabia que algumas das habilidades do castanho não seriam desenvolvidas em uma vida normal. Assim como algumas dos outros prisioneiros com quem trabalhava. 

Conseguia pensar, com clareza e facilidade, como poderia ter sido a vida dos outros três membros da divisão 

Erica Reyes, com toda a certeza, teria sido a típica dona de casa do subúrbio. Derek fora o responsável pela prisão da mulher, conhecia a sua vida bem o suficiente para saber, exatamente, qual fora o seu fator estressante e o motivo do mesmo. E, apesar da raiva que Derek sentia por criminosos, em sua maior parte devido a mentira em que vuvera, ele não julgava Erica como julgava Vernon e Stiles. 

Ele, no lugar de Erica, teria feito o mesmo. 

A mulher tinha um jeito família e divertido que atraía a muitos. O jeito da mulher havia atraído até mesmo Alice  o agente percebera a aproximação dos dois. Apesar de a Reyes ter um instinto de sobrevivência superior, ela não se sentia acanhada perto do assassino. Talvez fosse devido ao passado de ambos estar ligado a abusos relacionados as suas figuras paternas, mas eles possuíam uma ligação que a fazia se sentir confiante ao lado do castanho. 

Isaac Lahey, sem sombra de dúvidas, estaria, hoje, formado em química. O seu histórico escolar e a sua habilidade surpreendente com a ciência. Talvez sendo professor em alguma faculdade, ou então trabalhando na pesquisa para desenvolver algum tratamento farmacêutico. O louro levava jeito para a coisa e já havia percebido isso há muito tempo. 

O homem de cachos alourados possuía, com a química, a facilidade que uma criança da idade de sua filha possuí com o ABC. Era algo absurdo de se assistir. A mente de Isaac, quando se tratava de química, chegava a lhe assustar. O Lahey, claramente, poderia se tornar um terrorista avassalador. 

Para a sorte geral, o louro não possuía qualquer intenção maligna. 

Já Vernon Boyd daria muito bem no ramo das vendas ou da advocacia. O homem tinha uma lábia e tanto. Educada, variada e, acima de tudo, articulada. A oratória do Boyd era intrigante quando se parava para pensar no que o homem se tornou e como ele chegou até ali. Mas, quando se recordava de que o outro possuía apenas livros para passar o tempo na cadeia, o agente conseguia compreender como o vocabulário do traficante ficara tão vasto. 

Vernon era um homem com o hábito de leitura. Leitura constante, pelo visto. Livro atrás de livro. E, pelo que informara em uma conversa com os outros detentos da divisão, aquele era um hábito de infância. A habilidade de argumentação e influência do homem, somadas ao seu vocabulário vasto devido a leitura eram uma arma demasiadamente perigosa. 

Era fácil de imaginar como os três teriam seguido a vida sem o crime em suas histórias. 

Mas com Alice era diferente. 

O FBI quase não sabia nada sobre o rapaz. 

Com Erica, Isaac e Vernon era fácil de imaginar, pois o FBI sabiam sobre os três. Conheciam as suas histórias, os seus pontos fracos e fortes. Mas eles não sabiam quem eram os pais de Stiles, muito menos qualquer outra informação sobre a sua família. Não sabiam sobre a sua infância além de seus crimes bárbaros e chocantes. Ninguém tinha conhecimento sobre o seu histórico escolar, não faziam ideia de como ele era antes de se revelar um serial Killer. 

Alice era como um livro em sua biblioteca, cujas paginas vieram em branco, e a única coisa que havia escrita nele eram palavras postas pelos poucos leitores que ousaram lhe folhear. 

A porta do escritório lhe despertou de seus pensamentos, assim que três batidas ecoaram pelo ambiente. O homem ergueu o olhar, observando a porta se abrir e a esposa colocar a cabeça para dentro do cômodo. 

- não vai deitar? Já está tarde -  inquiriu com a voz serena. 

O homem desviou o olhar para o relógio, se surpreendendo com o horário. 

- estou indo. Vou apenas terminar esse arquivo – 

O homem sorriu minimamente para a esposa, antes de levar o café a boca. Paige franziu o cenho na direção do marido, antes de menear positivamente, sorrir e sair. Antes que a porta se fechasse, a mulher voltou a colocar a cabeça no ambiente e lançar um olhar severo na direção do moreno. 

- estou de olho em você, Derek. Quero dormir com o meu marido, hoje – 

- pode deixar – 

Assim que finalizou o relatório que lia, Derek se ergueu e abandonou o notebook sobre a mesa. Não possuía gatos, então não se importava em fechar o aparelho. Ao sair do escritório e fechar a porta, o agente seguiu para o quarto, se dirigindo ao banheiro do cômodo. Observando a esposa sentada, lendo um livro, já preparada para dormir. 

Enquanto isso, no escritório vazio, o computador que deveria entrar em stand-by passou a abrir os arquivos que Derek estava lendo recentemente. A janela estava trancada, as cortinas fechadas, bem como a porta  não havia se quer uma alma viva no ambiente, mas, ainda assim, os arquivos começaram a ser abertos um por um, em poucos segundos. Em questão de minutos, tudo fora fechado. 

 

 

 

 

Chapter 52: Outset

Chapter Text

- isso é impossível, Stiles! Branco está morto. Você o matou. Eu vi. Nós vimos! – argumentou Peter, tentando lembrar o outro de que a morte de Branco fora o evento que os reuniu.

Tentando trazer na mente de Stiles que ele e Alexander estavam lá quando Branco morreu. A noite do assassinato de Branco fora a noite em que Alice se entregou para o FBI em uma armadilha criada por Alexander e Peter. Uma armadilha que falharia miseravelmente se Alice quisesse e a criança demonstrou isso naquela noite. A noite em que Chris, Rafael, Alan e Marin se entregaram a situação, incrédulos, ao encararem pela primeira vez o rosto daquele que perseguiam havia meses, fazendo uma rachadura surgir na escultura perfeita na qual as suas mentes projetavam a inocência e pureza de uma criança.

- eu sei. A morte de Branco foi o que desencadeou tudo até o dia de hoje. Nós. Alexander... A morte de Alexander – o castanho soou cansado enquanto abaixava o olhar para as algemas em seus pulsos.

O louro voltou a alcançar a mão do castanho com a sua, tentando passar conforto para o mais novo. Ele sabia o quanto o cunhado era importante para o assassino a sua frente. Quando alguém perde a esperança no mundo, nada mais tem valor para si. No entanto, o primeiro raio de esperança que o ilumina, se torna tão valioso para si quanto um tesouro sagrado próprio. E Alexander Asmodeus Hale fora o primeiro raio de esperança que alcançou aquela criança fragmentada em pedaços sangrentos que foram rearranjados em uma garota bonita e aparentemente inofensiva.

- então por que deu ouvidos para aquele homem, Stiles? Ele estava claramente tentando lhe afetar! – o louro voltou a argumentar, revelando toda a sua chateação com a situação em que se encontravam agora, que fora uma das consequências do caso do Jaguadarte.

Aquele questionamento inundava a mente de Peter. Como Stiles havia se rendido para a lábia de alguém? Ele não havia, se quer, caído nos jogos mentais dos interrogatórios a que fora submetido. Mas havia caído nas mentiras de um Serial Killer que havia atacado a equipe em uma clara emboscada? Era um pouco difícil de acreditar.

- não. Não estava. Quando ele tentou me tirar do sério, ele falou da Nemus. Ele falou... De outra pessoa. Mas quando ele me falou de Branco... Ele estava calmo, ainda tentando me cortejar. –

O Tate franziu o cenho, confuso.

- que outra pessoa, Sti? E o que diabos ele queria revivendo a Nemus? A Nemus acabou. Desapareceu do mapa. Você matou os principais lideres e grande parte daquela máfia americana –

- você não está entendendo o ponto, Peter –

- então me diga qual é o ponto, garoto! Me ajude a enxergar! – pediu o louro, perdido.

- como o jaguadarte sabia sobre mim, Peter? Sobre o FBI? -

- como assim? – inquiriu o louro, preocupado.

- você consegue entender agora, Peter. Consegue ver além do esperado? – questionou o detento vendo o homem perder a fala.

Aquilo soou como uma confirmação para Stiles.

- existe a possibilidade de haver alguém lá fora. Alguém que sabe sobre nós. Alguém que está caçando a sua divisão. Caçando você... Caçando a mim –

O Tate gelou.

A sua mente viajou para o passado, mais uma vez. O pânico ressurgindo em seu corpo, dominando o seu peito aos poucos. A gritaria ecoando em sua cabeça, o aperto em seu peito e o calor do sangue em suas mãos lhe atormentaram mais uma vez. Do mesmo jeito em que ocorrera várias noites em sua cama. O suor começou a surgir em sua testa e o homem engoliu em seco.

- não pode ser, Stiles! Você disse que ninguém do mundo do crime sabia sobre você! Então por que estão te caçando?! – o homem tentou argumentar, desesperado por quebrar a teoria que lhe aterrorizava.

- é por isso que me recuso a acreditar que existe outro Branco, Peter. Por isso me irritei tanto. Não restou ninguém além de mim. Branco morreu, e só fiquei eu –

Risadas ecoaram na cabeça do castanho, o irritando.

- você não acha que pode ser um dos seus antigos alvos, acha? –

O mais jovem negou com a cabeça.

- nenhum deles seria louco o bastante para criar essa fantasia – murmurou encarando o mais velho com descrença.

- não. Não. Aquele homenzinho ridículo não estava lá para me matar. Ele queria matar vocês... Ele queria matar você, Peter – alegou o assassino, surpreendendo o louro.

- os tiros que o Jaguadarte disparou contra você... – murmurou, se recordando das palavras de Allison – não eram para lhe acertar, eram para lhe afastar da bomba – concluiu, ligando aquele fato a afirmação de Stiles.

- não o chame assim. Ele não passa de lixo – repreendeu o castanho, irritado.

- isso explica o tiro em mim e no meu sobrinho. Era para nos matar. Mas... Com que intuito? – indagou o agente, pensativo.

No entanto, apesar de se esforçar para pensar, a sua mente estava ocupada com o temor que ele alimentava de maneira silenciosa. Ele esta a tão focado em tentar afastar aquelas lembranças e o temor que elas geravam, que se quer ouviu o outro suspirar em derrota.

- você sabe a resposta, Peter –

A acusação não era uma mentira.

Peter sabia. Sabia muito bem. Ele apenas preferia não acreditar que aquela era a verdadeira opção. Pois aceitar aquele fato apenas geraria mais pensamentos que atormentariam o homem de cabelos louros. E Peter Tate preferia manter a sua sanidade segura e funcionando.

- isso só prova que ele teve acesso a informação, Peter. Informação bem detalhada sobre a sua divisão. Ele armou a armadilha perfeita para vocês naquele dia –

O homem suspirou, apenas ouvindo.

- ele sabia quem estávamos caçando e chegou lá antes de nós -Alice pronunciou e Peter se recordou do momento em que Stiles e Erica anunciaram ter visto um homem suspeito ao adentrarem o elevador da primeira vítima conhecida do Jaguadarte.

- ele sabia os pontos fortes e fracos de cada um e usou isso contra vocês – o agente franziu o cenho, confuso, e o assassino continuou antes mesmo que ele questionasse.

- escolheu um prédio velho e vazio para o ataque, pois assim poderia ver o alvo dele se movimentando pelo local com clareza – Peter se recordou de como as janelas do ambiente, principalmente das escadas eram largas e altas. O quarto em que as vítimas foram encontradas se encontrava justamente de fronte a escada, os forçando a se agrupar na frente da janela.

- ele usou um fuzil de precisão como arma pois sabia que não teríamos em mãos armas de precisão para podermos lhe localizar e acertar com facilidade, além, é claro de possuir uma mira horrível –

- ele usou a bomba como precaução. Pois sabia que eu alcançaria o prédio, ele tendo sucesso em lhe matar ou não. E saiu exatamente como ele pensou. Com a a bomba, ele teria tempo de fugir e cobertura para a fuga com o pânico causado pela explosão –

- ele queria que você voltasse a ativa – murmurou o mais velho, derrotado, finalmente admitindo saber do que se tratava.

- você é a única coisa que me impede de voltar – comentou Stiles vendo o mais velho estreitar o olhar para as próprias mãos, pensativo.

- ele me queria morto, pois assim você voltaria a matar –

- tudo bem que o plano dele tinha um furo enorme de roteiro, mas, é, é por aí – concordou o Stilinski, dando de ombros.

- um furo? – indagou o louro, confuso.

- sim –

- qual? –

- ele jurava de pé junto que ficaria comigo quando eu voltasse para o País das Maravilhas após a sua morte – ditou o castanho, começando a retirar o seu baralho de tarô da manga do macacão.

Peter franziu o cenho.

- e não ficaria? –

Stiles franziu o cenho, confuso

- Peter... Ele seria o primeiro a morrer! – argumentou com uma certa indignação na voz, como se aquela opção fosse a mais óbvia de todas.

Peter encarou o rapaz abaixar o olhar para o baralho. O mais velho suspirou, negando com a cabeça, com um sorriso mínimo nos lábios

- sabe... Você me intriga muito mais do que imagina, sabia? –

- é mesmo? – perguntou sem encarar o Tate.

- pessoas com o seu perfil psicológico não desenvolvem um afeto tão... Intenso pelas pessoas. Mesmo os seus cônjuges, pais, irmãos ou filhos –

- mas você... –

- por favor, Peter, não comece com a sessão de terapia. Você sabe o que eu penso sobre isso – suspirou o castanho, levando as mãos as cartas e passando a puxar algumas com calma.

O louro suspirou

- analises psicológicas comuns não... – o homem começou a repertir o que lhe fora dito tantas vezes

-  não funcionam no País das Maravilhas – concluíram em uníssono, enquanto o mais velho meneava a cabeça em compreensão.

- o que você tem pra mim, dessa vez? –

- sabe que eu não leio o futuro, Peter. Eu apenas gosto de reconhecer as pessoas nas cartas –

- bom... Se você lê o futuro, eu não sei. Mas você já acertou muita coisa comigo – brincou o agente observando o assassino sorrir levemente.

- não era surpresa nenhuma... Você é fascinante, mas ainda consigo ler você –

- então me surpreenda – ditou ao se debruçar sobre a mesa metálica e encarar as cinco cartas viradas para cima.

Stiles sorriu de canto.

- o que me aguarda no trabalho? – inquiriu o louro vendo o castanho começar a virar as cartas.

- a morte te persegue – ditou ao apontar para a carta com o nome do acontecimento natural do ciclo da vida.

- fim ou transformação? -

- a transformação é um fim, Peter. Algo deixa de ser de um jeito para ser de outro. É o fim de uma era –

Peter sorriu.

- eu adoro o seu jeito de pensar –

- Temperança com o Diabo é preocupante –

Peter gelou.

- Temperança... pode ser não conseguir conciliar as coisas, certo? – indagou encarando a carta da direita

- sim. Descontrole. Ou pode ser encontrar um oposto seu –

- um oposto? –

- sim. Alguém contrário a você. Ou também pode ser paz – respondeu apontando para o diabo logo em seguida.

- o diabo pode ser um relacionamento abusivo ou a destruição de um relacionamento –

O Tate engoliu em seco, encarando o castanho.

Ele temia que esse relacionamento fosse o dele com Stiles.

- uma pessoa controladora – apontou para O Diabo – pode colocar um fim – apontou para A Morte – na sua paz ou em um relacionamento seu – ditou apontando para A Temperança.

- e o que está oculto nisso tudo? – indagou vendo o castanho virar a carta que se encontrava acima do símbolo que as cinco cartas formavam.

- a Justiça. A pessoa deve ter um senso de justiça forte. Ou apenas tem uma decisão importante e você se encontre no caminho – afirmou enquanto  encarava a carta de baixo, começando a virar a mesma.

- e a solução? – questionou, nervoso.

Todas aquelas suposições lhe assustavam. Pois ele via grandes chances xe estarem relacionadas ao castanho a sua frente.

- Lua. Em resumo, não fazer nada. Ter paciência –

- então é não fazer nada?! Deixar tudo acontecer? –

- a Inatividade, nem sempre, significa fazer nada, Peet. Às vezes, você deve fazer apenas o necessário. E ainda, assim, será inativo –

- entendo. Agir demais sobre o assunto pode apenas piorar as coisas –

- exato –

- você já enganou alguém com isso, certo? – questionou o louro, sorrindo ao ver o castanho sorrir ao começar a recolher as cartas.

- você sabe que sim. Eu precisava de dinheiro e bater carteira as vezes é muito chato quando você é baixinho e os adultos muito altos. Sem contar que eu tinha preguiça de sair escolhendo vítimas. Com o tarot, eu conseguia ver quanto dinheiro elas tinham antes de roubar elas –

- seu demoniozinho – brincou o louro, negando com a cabeça.

- e então? Sobre o que quer falar agora? -

- não tenho nada em específico mente –

- então podemos ficar só em silêncio – sugeriu guardando o seu baralho e cruzando os braços diante do peito.

- na verdade, hoje a minha visita será bem mais rápida – Peter suspirou logo em seguida.

- é uma pena –

- antes que eu me esqueça – murmurou para si mesmo, antes de puxar uma bolsa plástica para cima da mesa.

Alice franziu o cenho, confuso.

- aqui tem um caderno de desenho novo e mais um conjunto de lápis, borracha e apontador. E, a essa altura do campeonato, você já deve ter lido todos os livros desse presídio, então eu trouxe alguns doseis velhos livros para você poder se entreter – explicou o homem empurrando a bolsa para o presidiário, o vendo acolher o material plástico com a mão esquerda, amtes de começar a bisbilhotar.

- O Iluminado? Eu nunca li. It. Também não. Eu gosto dessa mulher. A autora de Morte no Nilo. Ela é um ícone literário. Mas esse homem desses outros dois eu nunca ouvi falar dele –

- ele é muito bom com terror – comentou o louro vendo o castanho dranzie o cenho em sua direção.

- terror? Para mim? – inquiriu, verificando a linha de pensamento do mais velho.

- pensei que fosse melhor do que comédia romântica – o louro deu de ombros.

O castanho sorriu de canto.

- você me entende como ninguém, Peet. Como ninguém – murmurou abaixando o olhar para o pacote em sua mãos.

- obrigado –

- ah, e isso aqui. Imagino que não tenha usado a máquina de snack com frequência – respondeu estendendo uma barra de chocolate ao castanho.

- nisso você meio que está errado – comentou, sorrindo travesso enquanto acolhia o doce em mãos e o abria.

Peter sorriu.

- para uma pessoa tão amarga com a vida, é meio contraditório gostar tanto de doces –

- apenas aqueles que provam do verdadeiro amargo sabem aproveitar o que há de mais doce –

O louro sorriu, minimamente, observando o mais jovem morder o doce com vontade, antes de lhe estender a barra. O homem mais velho negou com a mão, antes de falar.

- e é por isso que odeia adultos e ama crianças – concluiu o louro vendo o assassino sorrir de vitorioso.

- não. Apenas falei algo que pensei que você gostaria de ouvir. Você gosta de pessoas inteligentes. Algumas coisas, simplesmente não tem explicação, e os normais não conseguem lidar com isso –

- você está certo, nesse ponto. Bom, eu já vou indo. Depois eu volto para te ver e conversarmos melhor –

- não tenha pressa. Não é como se eu fosse para algum lugar – comentou o castanho encarando as costas do mais velho, que já se preparava para sair.

Peter sorriu de canto com a provocação do castanho.

- não vai porque não quer – ditou abrindo a porta e se retirando da dala, dando permissão para que os agentes levassem Stiles de volta para a cela.

Os agentes disfarçados ergueram o assassino com brutalidade, ouvindo o mesmo suspirar, orgulhoso.

- eu gosto tanto desse coroa! – exclamou antes de dar mais uma mordida no chocolate e ser empurrado para a porta contrária a que Peter usou. Os agentes o encararam com desgosto.

 

Erica caminhava pelos corredores da penitenciária feminina com tédio e desgosto. Ela nunca, em hipótese alguma, pensou que poderia relacionar a frase “Só damos o devido valor ao que temos, quando nós perdemos.” A solitária do presídio de segurança máxima onde Derek Hale e Chris Argent a colocaram. Estar presa em uma caixa de vidro a prova de balas e um dos metais mais resistentes que ela conhecia nunca estivera na sua lista de “Coisas da qual sentirei falta”.

Não era a segurança do enorme caixote transparente de que ela sentia falta. Era a paz. Ser um hamster humano em uma bola quadrada e imóvel enterrada no subsolo de um enorme prédio, querendo ou não, fornecia uma paz que poucos lugares do mundo poderia fornecer. O silêncio dos guardas fortemente armados e preparados, era muito bem aproveitado. Diferente de todos os imbecis atuais que lhe diziam todos os nomes possíveis, todos os que não fossem elogios, faziam uso de cantadas que Erica jurava que não ouviria uma pior, mas as seguintes sempre superavam expectativas. Inclusive, um dos imbecis atrás de si, tentou acariciar a sua bunda mais cedo, assim que lhe algemaram para que fosse levada para a sala de visitação. Ele disfarçou o ato ao segurar a corrente das algemas, no entanto, a loura quebrou as suas expectativas ao quase quebrar o dedo do homem usando a mesma corrente, ao enrolar o matéria metálico no dedo alheio e o apertar com força até o guarda gritar de dor e se contorcer para tentar soltar o dedo. A Reyes fora repreendida com um soco do maldito, antes de outro agente intervir, afastando o oficial da presidiária. Ela foi empurrada pelo mesmo oficial, garantindo que o colega não ousasse nada do qual poderia se arrepender. Sob a ameaça de que haveria retorno, Erica Reyes apenas sorriu de canto e começou uma marcha silenciosa até a sala de visita.

- entra logo! – ralhou um dos oficiais, a empurrando para dentro da sala assim que abriu a porta.

A sua algema fora retirada por uma oficial que se encontrava ao lado da porta, antes de a mulher se retirar, a deixando sozinha com a visita. Erica ergueu os olhos para a mulher sentada do outro lado da mesa metálica, lançando um olhar questionador para a mesma. O terno escuro quase novo entrava em contraste com o ambiente ao seu redor, e os olhos castanhos calmos não enganavam a mulher de cabelos cacheados.

- o que está fazendo aqui? – perguntou, ríspida, observando a mulher de cabelos amarrados em um rabo de cavalo suspirar.

A mão, gentilmente, indicou para que a sobrevivente se sentasse.

- eu não esperava lhe ver aqui. Nunca... Allison-

- eu vim te ver – respondeu a morena observando a loura permanecer de pé, com os braços cruzados.

- isso está óbvio. Eu quero saber qual é o intuito? –

A Argent suspirou. Ela esperava que Erica estivesse arisca. Era óbvio que ela estaria. Havia um bom tempo que a sobrevivente e ladra do grupo de presidiários estava irritada e apresentava um mau humor voraz com os agentes durante as investigações.

- saber como você está – respondeu a morena, observando a loura lhe analisar com intensidade – você é a única mulher do grupo. A única que está sozinha nessa prisão –

Erica bufou.

- uma agente do governo subestimando o sexo frágil. Era para ru estar surpresa? Acho que não –

- Erica – Allison tentou chamar a atenção da loura, mas a mesma apenas revirou os olhos e voltou a falar.

- não preciso que uma mulher venha ver como eu estou. Principalmente você ou Lydia. Peter vem me ver uma vez por semana. Eu não preciso de mais ninguém -  disse a Reyes, mantendo um olhar rígido sobre a agente a sua frente, que se viu surpresa com a menção do louro líder da equipe da qual fazia parte. Mas ela se focou em outra coisa, no momento.

- principalmente eu? -

- eu não tenho nada para você, Allison – começou a dar as costas para a morena.

- não que você saiba –

Erica a encarou por sobre os ombros.

- como é? –

- podemos conversar? -

- vá direto ao ponto. Se não me interessar, já me poupa o tempo –

Allison suspirou. Era evidente que a loura de cachos estava irredutível diante de sua presença. Mas ela não entendia o motivo. Sempre fora gentil e compreensiva com os prisioneiros da divisão. Jamais fora rude ou os tratara da mesma forma que Derek e Scott. Então por que raios estava recebendo aquele tratamento frio e ignorante?

Allison suspirou, reunindo coragem e pensando em uma nova abordagem. Ela precisava ser ardilosa se quisesse obter sucesso naquele encontro. Lambendo o lábio inferior, a agente abaixou brevemente o olhar, antes de o erguer para a presidiária a sua frente.

- escuta, Erica. Você se juntou a divisão por um bom motivo, não tem como negar. E eu também me juntei para a divisão por um bom motivo. Você quer voltar para a sua vida normal, e eu quero mostrar que a reabilitação é possível, que o meio modifica o homem –

Erica riu brevemente.

- como sempre, querendo provar a alguém que é capaz de alguma coisa – o comentário da loura quebrou a base de Allison.

A mulher, que se encontrava preparada, devido há anos de treinamento em interrogatórios e conversas com vítimas, se viu, agora, no chão. A morena de olhos castanhos caiu como uma torre de blocos de madeira, após Erica mover o bloco errado.  Em apenas alguns segundos, a agente confiante se encontrava completamente desestruturada.

“Por que tenta provar quem é para os homens? Por que tenta, desesperadamente, despertar a atenção deles?”

A voz fria e jovial ecoou em sua mente mais uma vez, lhe fazendo cerrar os punhos. As palavras de Alice insistiam em ecoar em sua mente, agora. Aquilo lhe irritava. Era uma mentira. Nada daquelas palavras era verdade. Ela não estava desesperada por atenção. Allison não era uma estátua para ser exibida aos homens em um leilão.

- pensando na resposta? – inqueriu Erica cortando o raciocínio da agente, a trazendo de volta para a atualidade.

- eu não preciso provar o meu valor a ninguém, Erica. Eu sei o meu próprio valor –

- então por qual motivo se sujeita a ser o cãozinho mandado deles, hm? Olha, quanto ao Peter, eu entendo. O cara é foda. Não é qualquer homem por quem eu sinto respeito – ditou descruzando um dos braços para gesticular brevemente.

- mas, porra! Peter é fora da realidade. Ele é inteligente, simpático e super gente fina. Além do mais, ele é o único que consegue manter Alice na linha –

A conclusão gerou confusão na morena.

- eu concordo com você. O Peter é um gênio. Ainda não consigo entender como o FBI deixou que armassem para ele. Mas... Pelo jeito que você fala... Parece até que tem medo de Alice – afirmou, desconfiada.

- e não devo ter? Você, ao menos, já percebeu as habilidades daquela mulher?  -

- mulher? –

- eu não sei você, agente, mas para mim, está óbvio que a presença de Peter é a única coisa que impede o Stiles de matar vocês três e fugir –

- apenas o Peter? – indagou para averiguar a certeza alheia.

Erica se tornou séria, quase sombria.

- se acha que o estrume Hale possui nem que seja um por cento de controle sobre o psicológico de Alice, você tem que voltar para a academia urgentemente –

- eu sei que você acha que o Derek estragou a sua vida, Erica. Ele lhe prendeu, mas não deixe isso afetar o seu rendimento na equipe. Essa é uma chance e tanto para você sair da cadeia então...

- eu não tenho ódio dele por ter me prendido, Allison. Eu sei que mereci. Eu sei que se ele não me parasse, eu não iria parar nunca e, provavelmente, não teria como voltar para a minha família –

- então por que o Estrume? –

- o meu ódio pelo Derek se deve a outra coisa. Aos pensamentos e hipocrisia dele –

- como assim? –

- vocês dão incríveis! – exclamou a Reyes, indignada.

Allison fez silêncio, esperando pela explicação que ela sabia que viria.

- você estava lá, Allison. Todo mundo estava lá. Mas, mesmo assim, todo mundo parece esquecer o que aquele cara disse. É por isso que eu estou com ódio de todos vocês –

A Argent se viu mais confusa ainda.

- um agente federal simplesmente diz que uma criança mereceu ser estuprada e todo mundo age como se fosse normal! – ralhou a prisioneira, furiosa, chutando a cadeira a sua frente.

Allison suspirou em espanto.

“Deus sabe o que faz.”

A voz de Derek ecoou em sua mente, e tudo ficou claro.

- oh, merda! Erica, eu sei que parece...

- parece?! Allison! Não tem nada que possa ser escondido atrás dessas palavras, Allison! –

- Erica, parece que ele realmente quis dizer isso. Mas não foi. Eu sei que o que ele falou foi um absurdo, mas foi um acesso de raiva. A mesma raiva que você sente por estupradores, Derek sente pelo assassino do pai –

- Alice não é o assassino do pai dele -

- mas nem ele e nem a gente sabia disso quando ele cuspiu aquelas palavras, Erica. –

A loura negou com a cabeça, indignada.

- por que você insiste em defender algo que não pode ser defendido?! – indagou em completo desgosto, encarando a morena suspirar

- porque eu sei que é o tipo de coisa que você diria se encontrar um estuprador que foi estuprado quando criança –

A loura congelou por alguns segundos.

- isso é impossível! Ninguém que passa por isso segue esse caminho –

- é possível, sim, Erica. A mente humana é mais complexa e confusa do que a gente imagina. A ciência afirma tanto sobre a mente humana, mas ignora que sabemos tão pouco para poder definir tanto –

- por que está defendendo aquele lixo com isso? –

- ele falou algo que não devia quando estava possuído pela raiva, Erica. Todo mundo tem um momento assim. Você também. Eu estou defendendo ele do mesmo jeito que defenderia você. Do mesmo jeito que eu gostaria que vocês dois me defendessem –

Erica se silenciou diante da resposta da agente.

- eu preciso de sua ajuda, Erica. Você entrou para a divisão para reduzir a sua pena. Eu entrei pois me interessei bastante, e agora eu vejo um futuro promissor nela. –

- e daí? O que você realmente quer? –

- estudar Alice –

Erica se engasgou com o ar.

- como é? – perguntou, observando a mulher de cabelos escuros se remexer na cadeira, se aproximando mais da mesa.

- Erica, me escute bem –

- não, não, não. Escuta você. Olha, gostar daquele cara e brincar com ele, é uma coisa que eu posso fazer numa boa. Faço com gosto. Mas mexer com ele? É algo que eu não faço nem fodendo. Eu sou uma sobrevivente, Allison, e é isso o que irei fazer: sobreviver –

- Erica, a chance que vocês quatro receberam de reduzir a sua pena de forma tão drástica e rápida é única. É quase um milagre. E pra mim também, acredite. Mas eu sinto que estão querendo destruir essa chance –

A loura não teve como argumentar.

- você percebeu isso também, certo? O jeito como todos os membros da liderança da agência estavam ariscos e completamente dominados pela vontade de mandar Alice para Alcatraz mais uma vez – a Argent viu a Reyes suspirar, pesado.

- é, eu percebi –

- e não dá mais para perder membros, Erica. Na minha visão, vocês quatro são insubstituíveis – argumentou vendo a desconfiança surgir no olhar alheio.

- Allison, eu entrei para substituir dois membros antigos. Um deles, pelo que Isaac me disse, foi sua tia –

- exatamente, Erica. Você, sozinha, conseguiu substituir Ennis e a minha tia. Me desculpe, mas eu não vejo alguém que consiga lhe substituir de forma a manter o nível do trabalho – a Argent rebateu, vendo a desconfiança ser substituída pela surpresa.

- eu estava lá quando o Vernon foi preso. Eu nunca vi uma mira tão perfeita. E olha que eu fui a melhor atiradora da minha turma e de quase todos os grupos de agentes com quem trabalhei. Sem contar que o conhecimento dele sobre o tráfico e o seu vasto leque de possibilidades é de deixar qualquer um perplexo. –

- Isaac consegue sentir o cheiro das drogas como um cachorro e ainda é um gênio da química. A droga que ele inventou jamais conseguiu ser copiada. Scott e eu já fizemos parte da narcóticos. E eu já vi varias listas de drogas no sistema. A do Isaac se encontra no topo de três listas: as mais perigosas, as mais raras e as mais difíceis de se fabricar. Me surpreende que alguém que criou uma coisa dessas seja tão pacífico e simpático – argumentou enquanto se debruçava, para que pudesse falar mais baixo. Diante do ato da agente, Erica resolveu se sentar na cadeira que se encontrava de frente para a morena.

- para você ter uma ideia básica, o governo mantém amostras de quando o Isaac foi preso, guardadas em um Fort onde se guarda as maiores armas químicas e biológicas já inventadas. Lá só ficam armas que seriam capazes de dizimar exércitos com apenas alguns aviões e bombas – exclamou a agente vendo a prisioneira franzir o cenho.

- é realmente tão forte assim? Afinal, o que diabos ele inventou? Sempre que pergunto ele prefere não responder. Diz que se não conseguiu o que queria, não fazia sentido ficar remoendo o passado –

- Erica, Isaac foi o responsável por aquela droga zumbi que aterrorizou o país anos atrás –

- nem fodendo! Aquela que uma mulher usou e arrancou a orelha de um policial que encontrou ela jogada num beco?! -

- essa aí mesmo – respondeu observando a loura se recostar na cadeira, com os braços cruzados e o queixo caído.

- que lourinho filho da puta! Eu sabia que ele era bom fabricando, já que ele não estaria em Alcatraz só por fabricar. Mas eu não esperava que fosse essa droga. Puta que pariu! Saia em tudo que era jornal – exclamou, surpresa, com um sorriso de canto no rosto.

- pois é. Me surpreende e muito saber que ele nunca usou essa droga para mais nada, além de venda. Issac pode ter seguido um caminho difícil, mas ele é uma pessoa boa demais –

- eu discordo. Infelizmente, todas as pessoas tem um lado ruim. E Isaac tem o dele. De alguma forma, ele deixa aquilo bem trancado dentro dele. –

- você acha? – perguntou, um tanto decepcionada ao se ver obrigada a concordar com as palavras de Erica.

- Allison, Isaac estava preso em Alcatraz. Na ala comum! Você não entende? Só os criminosos de grande escalão vão para Alcatraz. E se você não é uma pessoa ruim, quando entrar em Alcatraz, você se torna. Pois a cadeia não é para os fracos, garota. Aqui, é ruim. Mas em Alcatraz é pior. Por mais que os guardas não permitam revoltas e manifestações dos prisioneiros, lá é o lugar em que o filho chora e a mãe não vê. Ou você passa a se defender, ou vira a escória por dias até não aguentar mais -

- eu digo e repito: é impossível entrar em Alcatraz sem um pingo de maldade no corpo e sair de lá como entrou – as palavras de Erica despertaram a curiosidade em Allison.

- Erica, você é uma mulher com instintos bem... Aguçados. Você e Alice sentiram o Jaguadarte naquele dia – ditou a morena se lembrando do dia em que encontraram a primeira vítima do homem que tentou os matar.

- vocês dois disseram que sentiram maldade nele. Você... já sentiu algo no Isaac? – inquiriu a Argent, receosa da resposta.

Agora que havia parado para pensar nas palavras de Erica, de fato, era impossível que alguém tão doce e simpático pudesse ter passado dias calmos e tranquilos na prisão de segurança máxima. Se o louro estivesse na solitária, como Vernon Boyd e Stiles Stilinski, Allison até poderia compreender como o Lahey conseguiu manter o espirito nobre, a simpatia e a facilidade de se comunicar. Mas Isaac havia sido mantido na ala comum, com vários outros prisioneiros: traficantes, procurados internacionais, assassinos, tereoristas.

- não. Nunca. Como eu disse antes, de alguma forma, ele deixa aquilo bem trancado dentro dele. E eu sinto apenas a sede de sangue das pessoas, eu não sinto a maldade nelas. Posso apenas dizer quando alguém tem vontade de matar, não de roubar ou causar qualquer outro tipo de mal – respondeu a loura de cachos observando a morena de rabo de cavalo menear em compreensão.

- entendo – murmurou com um suspiro.

Erica franziu o cenho.

- realmente acredita em mim? – Allison estranhou a pergunta.

- sim. Por que? –

- Allison, estamos falando de instintos que detectam assassinos. Ninguém nunca acredita em mim – comentou a loura observando a morena sorrir gentil.

- garota, você já me provou o suficiente sobre essa sua capacidade de sentir a natureza alheia. Você tem uma ligação forte com a natureza. Os seus instintos são aguçados. Você se move rápido, percebe predadores, consegue definir o comportamento de vitimas diante de seu predador. Você desenvolveu algo muito raro e que eu considero lindo –

- lindo? –

- sim. Hoje em dia, as pessoas se separaram demais da natureza. Vivemos em um mundo governado por zeros e uns. As pessoas estão perdendo a sua natureza com o tempo. Mas você resgatou ela. Eu acho isso muito bonito. -

Com um sorriso mínimo, Erica agradeceu.

- e é por isso que só você pode me ajudar com o Stiles – argumentou observando o sorriso mínimo desaparecer nos lábios alheios.

A expressão de preocupação havia dominado a face de Erica Reyes.

- o que, exatamente, você quer que eu faça? – indagou, receosa da resposta.

- Erica, você consegue dizer quando o Stiles está querendo matar –

Erica riu brevemente.

- Allison, esse é o problema com Stiles. Ele está sempre querendo matar. Ainda não percebeu? –

- eu quero dizer, quando ele está perto de perder o controle – a morena se corrigiu, vendo a loura franzir o cenho, desconfiada.

- eu percebi quando você puxou o Isaac para longe do Stiles quando estávamos em Miami – ditou a Argent vendo a Reyes lhe fitar surpresa. – você sabia que ele iria surtar. Você sentiu –

- e daí? Eu não posso fazer nada quanto a isso. Uma vez que ele perde o controle, tudo o que eu posso fazer é me afastar. Liberar o seu caminho para que não seja o meu corpo ali jogado –

- eu quero definir as coisas que possam fazer ele perder o controle. Compreender o seu jeito. Para que possamos evitar que ele se descontrole novamente. Impedir que outro caso seja como o do Jaguadarte e a divisão seja desfeita –

Quando a mera menção do fechamento da divisão criada por Peter fora proferida, Erica sentiu o desespero crescer em si.

- acha que podemos fazer isso? –

Allison meneou em concordância.

- ele é estranho. Ele é diferente. Único, com certeza. Mas ainda é um ser humano. Todo ser humano pode ser lido, se focarmos a nossa atenção em seu comportamento –

- certo. Tudo bem. Eu te ajudo com isso -

Allison sorriu aliviada.

- mas com uma condição – disse Erica, chamando a atenção para si, mais uma vez. Allison se viu receosa.

- e qual seria? Se estiver em meu alcance, eu faço –

- mova os seus pauzinhos, faça o que for preciso. Apenas me coloque na solitária desse lugar de forma permanente – ditou a loura com seriedade na voz, surpreendendo a agente Argent.

- como é? – indagou, confusa.

- Allison, se eu tiver que lidar com alguma mulher de hábitos duvidosos tentando me estuprar durante a noite, ou algum guarda tentando me estuprar no banheiro, eu mato um. E aí vocês vão ter que encontrar dois substitutos ao invés de um. Porque não tem televisão no mundo que pague esse tipo de coisa – alegou a loura se deixando perder a postura ereta diante da agente, deslizando o quadril pela cadeira, adquirindo um pose desleixada.

- você... Estão tentando estuprar você aqui dentro? – inquiriu a agente, perplexa.

- e quando não tentaram, Allison? Por favor. A minha vida inteira foi movida por abuso sexual. E os inúteis do FBI aqui dentro não fazem nada. Então, eu vou ter que tomar uma providência em breve -

Allison encarou a porta atrás de Erica com perplexidade no olhar.

“Ingênua” .

Pensou Erica ao observar como Allison parecia tão surpresa com a sua situação.

- c-certo. Certo. Eu vou dar o meu jeito. Essa vai ser a sua última noote fora da solitária –

A Reyes ergueu a mão para a Argent, que tratou de apartar a mesma em um selamento de acordo. Erica se ergueu e a agente a seguiu no ato.

- agora, é melhor você ir para casa, Allison. Eu estou dormindo com os estupradores, mas isso não quer dizer que uma agente do FBI não possa dar de cara com um grupo deles pela rua a essa hora da madrugada – aconselhou Erica e Allison desviou o olhar para o relógio em seu pulso, se surpreendendo ao ver que havia se passado uma hora ali, estando as três da manhã em ponto.

- certo. Obrigado. E cuidado, por favor. –

Erica parou na porta, surpresa com o pedido da morena. Olhando para trás, a prisioneira notou a sinceridade que os olhos da agente federal emanavam, indicando a preocupação que ela tinha com sua situação. Sorrindo de canto, a loura ergueu o punho para bater na porta, antes de se virar para encarar melhor a mulher de cabelos escuros.

- sabe, Vernon está certo sobre você. Você é legal, Allison – foram as últimas palavras da loura antes de a porta se abrir e os agente penitenciários a puxarem para o corredor com certa brutalidade e fecharem a porta.

 

Derek admirava, com um sorriso largo no rosto, as costas do agente a sua frente. Estava orgulhoso, não negaria. Não tinha como não sentir orgulho daquele cara. Ele era o seu pai. Um dos homens mais honestos que havia conhecido. Ao seu lado estava o seu tio, Peter, também vestido com im terno escuro. Os três, juntamente com Rafael McCall, Christopher Argent, Allan Dearon e Marin Morell haviam, finalmente, capturado o terrorista que decidira fazer do país o seu jardim pessoal. Finalmente, aquela força tarefa havia encontrado e capturado Alice com vida.

Agora, o seu pai se encontrava diante dos vários microfones e flashs da mídia pronto para fornecer a coletiva de imprensa de que os cidadãos americanos tanto precisavam. Eles precisavam saber que estavam seguros, precisavam ser avisados de que o perigo que os rondava sem que nenhum deles notasse havia sido detido. O governo ainda estava em estado de choque ao, finalmente, conhecer a identidade do serial killer chamado Alice. Durante toda a investigação, piadas sobre o assassino ser uma garotinha eram comuns entre os membros da força tarefa designada para a investigação. No entanto, ninguém esperava que a piada fosse ser a pura verdade.

Derek assistia, ainda encantado, o pai discursar sobre o caso, sempre mantendo sigilo sobre alguns fatos sobre Alice. Como a sua idade e o seu alto grau de inteligência. O moreno de olhos verdes e barba por fazer desviou o olhar do pai para o tio, ao sei lado. Peter mantinha um sorriso igualmente orgulhoso para o cunhado, desviando brevemente para si. O louro se inclinou em sua direção, lhe abraçando pelos ombros e dando leves tapas no peito, em um cumprimento amigável. Derek retribuiu o cumprimento da mesma forma.

- parabéns! Você foi muito bom para um iniciante –

- obrigado, tio. Eu tive bons exemplos a seguir –

Foram as únicas palavras trocadas entre tio e sobrinho antes do disparo ocorrer. O estrondo alarmante colocou todos em alerta. Os agentes seguiram o treinamento básico: pescoço encolhido, assim como os ombros, cabeça baixa e o torso curvado para a frente, de forma a reduzir a sua altura, consequentemente, reduzindo o tamanho do alvo em que se transformaram. Derek sentiu o tio lhe jogar para trás da pilastra ao seu lado, antes de correr até o centro da entrada da sede do FBI. O Hale mais novo puxou a sua arma, assim como os outros agentes no local, e, de sua zona de segurança, analisou o ambiente. O seu corpo paralisou e o seu coração gelou ao ver Peter. O louro estava ajoelhado no chão, atrás da mesa de discurso, apertando a mão esquerda contra o peito de Alexander, enquanto que com a direita, apertava a mão do mesmo.

O desespero era visível no olhar do louro.

Derek, sem se preocupar com tiros e atiradores, apenas correu até o pai, o encontrando soluçando ao ouvido de seu tio, sussurrando algo para o mesmo. A situação era feia. O sangue jorrava do ferimento sem controle algum, tingindo cada vez mais o terno escuro com uma mancha vermelha e molhada que crescia aos poucos.

- ONDE MERDA ESTÁ O ATIRADOR?! – rugiu Peter, furioso, encarando o sobrinho começar a ajudar a pressionar o ferimento no peito de Alexander.

- EU NÃO SEI! – rugiu em resposta.

- aqui – a voz infantil de Alice surpreendeu a dupla, que se virou para trás, vendo o garoto de cabelos longos e vestido azul apontando uma glock preta para a cabeça de Derek.

- você é um inútil. Não me serve para nada – pronunciou a criança, encarando os olhares de pavor de tio e sobrinho com deleite.

- Alice?! – inqueriu Derek, perplexo.

- Alice?! – o agente Hale ouviu a voz de seu pai pronunciar o nome em espanto, com um tom confuso.

Mas o mais estranho era a falta da dor e a ausência do engasgo causado pelo afogamento que seu próprio sangue lhe proporcionava.

Derek olhou na direção contrária a da criança e seus olhos se expandiram em espanto.

- Alice não é o responsável por isso. Não acuse o meu filho assim, cara. Você não sabe com quem está lidando – repreendeu o Hale mais velho, que se encontrava de pé, muito bem vestido com um terno vermelho elefante e uma cartola da coe vinho, com um par de rosas enfeitando o acessório, uma vermelha e outra branca.

- pai?! Mas então quem? – o moreno olhou para o corpo que pressionava, vendo não mais o seu pai agonizando no chão mas, sim, Peter.

- pai! Me ajuda! O tio Peter vai... – Derek se silenciou ao voltar a olhar par ao pai, notando quem o homem de tenro vermelho abraçava pela cintura.

Ao lado do agente Hale mais velho, estava uma Alice adulta, vestindo um longo e rodado vestido azul, com babado branco e mangas com a cor vermelha nos seus pulsos. Os seus longos cabelos castanhos estavam penteados para trás eram enfeitados por uma tiara dourada com pedras vermelhas e pretas. O castanho mais alto ergueu as duas mãos com brutalidade, assustando Derek quando duas cartas de baralho passaram por si, uma em cada lado de sua cabeça. Ao olhar para trás, o Hale se assustou ao ver a criança com os olhos perfurados pelas cartas, chorando lágrimas de sangue.

- eu não preciso de um copiador. O País das Maravilhas só precisa de uma Alice -

Derek assistiu, em choque, a criança cair de joelhos no chão, sorrindo divertida, antes de bater com as duas mãos abertas na cartas, as empurrando contra os olhos. Mais um disparo fora ouvido e a cabeça da criança fora jogada para trás. O moreno voltou a olhar para a outra direção, vendo Stiles erguendo uma pistola na direção da criança, agora morta.

- você... Matou uma criança?! Você se matou?! – inquiriu, incrédulo.

- é claro! Esse é o meu reino! O meu mundo! – ralhou Alice antes anustar a tiara em sua cabeça.

Derek abaixou o olhar para o tio, o vendo morto em seus braços, com olhos azuis e um sorriso largo. O homem estranhou. O cadáver gargalhou brevemente, antes de erguer a cabeça para o sobrinho, de supetão, o assustando. O Hale largou o corpo do Tate, se afastando do jeito que podia. Peter se ergueu em um salto, estalando o pescoço enquanto marchava na direção de Derek.

- você ainda não entendeu? As coisas são muito diferentes aqui, sobrinho. As coisas são mais fáceis no País das Maravilhas. Aqui você pode ser o que quiser – o louro gargalhou antes de seu corpo se desfazer uma montanha de dólares, que voaram na direção de Alice e Alexander, retornando a ser o homem do outro lado do castanho.

Derek se ergueu, confuso, vendo o pai começar a caminha na sua direção enquanto Stiles acariciava a cabeça de Peter. O corpo do louro passou a ter listras esverdeadas, no mesmo tom das cédulas. Alexander se colocou diante da visão do filho, bloqueando a vista para Stiles e Peter. O homem de cartola levou uma mão ao acessório, enquanto a outra segurava uma bengala. O agente Hale observou, confuso, o pai se colocar de lado, em um passo de dança.

- você adoraria esse lugar, Derek – alegou enquanto dava um pasos na direção do filho, ainda dançando.

- mas o problema é que você não passa de um tolo. E um tolo permanece sendo um tolo, não importa o lugar em que esteja – o homem saltou, batendo os pés um no outro antes de girar e voltar a acolher a carta com a mão, a puxando para a frente.

- você não pertence a este lugar – ditou golpeando o chão com a bengala e o mundo ao seu redor deu lugar a um mundo de aparência fantástica e intrigante.

Os prédios deram lugar as árvores, as pessoas correndo em pânico deram lugar para corpos humanos com cabeças de bicho. Os corpos que antes corriam para um local seguro, agora marchavam em perfeita sincronia em sua direção. Os seres com mascaras grandes de animais, como a máscara de porco de Jogos Mortais se colocaram em fileiras ao seu lado, lhe encarando. Alexander girou o corpo mais uma vez, e cartas de baralho surgiram de seu corpo, gerando mais dois corpos idênticos a si ao seu lado. O homem de vermelho voltou a avançar contra o filho em passos de dança, sendo acompanhado por suas cópias ao seu lado, que repetiam exatamente os seus movimentos, simultaneamente, como espelhos.

- aqui não é para qualquer um, lobinho. Apenas os melhores dentre os melhores entram no País das Maravilhas. Alice não aceita fracos ou incompetentes – ditou ainda dançando e suas coisas deslizaram para o lado, se afastando, gerando mais duas cópias. Derek se assustou mais ainda quando a cabeça de Peter surgiu do nada, flutuando a sua frente. O gargalhar macabro do louro surpreendeu o moreno de olhos verdes

- e você não passa de um playboyzinho do caralho! – exclamou, antes de voltar a gargalhar e tomar altitude, se colocando acima do Alexander que s encontrava no meio de suas cinco versões.

- acorde, Derek – o homem ditou antes de erguer a cartola em um cumprimento. No entanto, a sua cabeça acompanhou o acessório vermelho, revelando Stiles, ao longe, mirando com a pistola.

Derek se quer teve tempo de implorar, pois Alice já havia puxado o gatilho

O moreno de olhos verdes abriu os olhos, desesperado, respirando descompassado, com dificuldade, enquanto sentia o suor escorrer por seu rosto e pescoço. Estava estressado e nervoso ao ponto de socar o primeiro rosto que surgisse em seu campo de visão. O moreno de olhos verdes se assustou, dando um sobressalto, quando sentiu uma mão alcançar o seu peito. Encarando a camiseta branca que vestia, Derek viu a mão com uma aliança dourada no dedo anelar deslizar na região, lhe fornecendo uma suave carícia, o que lhe ajudou a se acalmar.

- outro sonho ruim? – a voz preocupada de Paige alcançou os seus ouvidos.

O homem encarou a esposa se aconchegar em si, deitando a cabeças em seu travesseiro e jogando uma perna sobre a sua.

- sim. Não foi nada demais. Pode voltar a dormir – respondeu levando a mão esquerda aos fios castanhos, acariciando a esposa antes de se erguer.

- volte a dormir – pediu Paige, sonolenta, sentindo o corpo protestas com a ausência do marido no colchão.

- eu vou no banheiro. Volto logo – informou seguindo para o banheiro do quarto, onde lavaria o rosto e tomaria um banho rápido para retirar o suor.

 

Alice adentrou a cela com calma, ouvindo os guardas trancarem as grades. O homem responsável por fechar a grade da cela se apoiou na mesma e lhe encarou com seriedade e desgosto.

- pessoas como vocês deveriam ser jogadas em uma ilha no meio do nada, para viverem do jeito que conseguirem – o homem cuspiu as palavras observando o castanho lhe fitar por sobre os ombros.

- tão original! – exclamou o assassino, ironicamente – foi por isso que não conseguiu um emprego melhor? Acho que sim. Sua falta de originalidade e sua incompetência pesam – provocou observando o homem vhitar a grade, irritado.

- cala a boca, filho da puta – ralhou furioso.

- pode deixar, irmão –

O homem se afastou a passos pesados, com os punhos cerrados e os dentes cerrados em fúria. Stiles apenas aguardou, em silêncio, que todos os guardas se afastassem de sua cela, enquanto analisava o ambiente com os olhos. Encarava todo o ambiente em a exímia atenção com que fora ensinado para fazer. Procurava os pontos diferenciados. Os ponto que lembrava que não havia ali antes.

E ele encontrou quatro.

Um fio abaixo da beliche vazia; a marca de joelho no colchão vazio da cama abaixo da sua; a poeira colorida, típica de parede, no canto do chão com a parede contrária as grades; e, por último, a ferrugem localizada barra de ferro da cama abaixo da beliche que ele usava.

Suspirando, ele revirou os olhos em completo tédio.

- tão profissional! Tão inesperado! Tão único! – resmungou com ironia, antes de se dirigir ao primeiro ponto, puxando os fios com força, arrancando uma escuta de debaixo do colchão.

- amadores – voltou a resmungar, desta vez para a escuta, antes de a girar na mão e a jogar na parede, a destruindo.

Ele se dirigiu para o segundo ponto, se jogando sobre o colchão e rasgando o mesmo, encontrando mais uma escuta. Então ele se virou para a barra de sustentação da beliche, puxando uma carta de baralho do bolso, a usando para remover uma escuta muito bem colocada no ferro da beliche, deixando apenas um buraco no local. O castanho pegou o objeto e se dirigiu para o terceiro ponto, aproveitando para jogar as duas escutas em sua mão no chão com fúria, antes de as pisar com raiva, as destruindo.

- sinceramente. Eu estou começando a me irritar com vocês! – o Stilinski retirou de seu macacão uma carta de baralho, passando a usar a mesma para raspar a parede ao redor da câmera escondida que havia encontrado.

Stiles não conseguia ver, mas do outro lado do sistema, os agentes designados para o vigiar praguejavam em ódio e frustração. O castanho, após um bom tempo, conseguiu remover o aparelho o encarando com tédio. O homem ergueu o dedo do meio para a câmera, antes de a jogar na privada e abrir o macacão, passando a urinar no aparelho.

- um bando de incompetentes. Peter não faria algo tão mal feiro assim – resmungou enquanto subia na cama em que dormia e passando a retirar as coisas que o agente Tate havia lhe dado.

- ah, é! Quase me esqueci – murmurou para si mesmo antes de se aproximar do canto da cama, retirando a tampa do topo da barra de sustentação que se encontrava na quina da parede e puxando de lá um embrulho de pano.

- inteligente, Alerquim! Tecidos não conseguem reter digitais orgânicas. Apenas impressões superficiais – murmurou abrindo o embrulho e encontrando o que havia ordenado ao homem.

Um iPod usado.

- agora vamos ver se você realmente existe – murmurou com seriedade, passando a digitar no aparelho.

Não demorou muito para que ele encontrasse o que procurava. Uma notícia recente sobre um atentado em uma casa noturna. Com imagens das câmeras de trânsito usadas pelo jornalista responsável pela matéria, Stiles franziu p cenho ao ver o provável suspeito do crime: um homem de terno branco e máscara grande de cabeça de coelho, com a pelugem branca da mascara cobrindo os cabelos do mesmo.

Ao ler a matéria, Alice se viu surpreso com os nomes dos alvos. Quase todos eram membros de alguma máfia internacional. Todos aqueles reunidos e mortos no ataque eram membros de máfia que tinham envolvimento com a antiga facção chamada Nemus. As suas mãos começaram a tremer e o seu peito apertou. O medo e receio cresciam em seu corpo, disputando corrida com a excitação crescente que começava a alterar o modo como ele sentia o corpo. Ele esta a quente. Fervendo em ódio e pegando fogo em excitação. O sorriso que surgiu em seus lábios fora mínimo.

- então é verdade. Você realmente voltou, Branco – o assassino murmurou para si mesmo, antes de começar a gargalhar baixinho.

- existe, realmente, um coelho Branco vagando pelo meu terreno –

O seu sorriso morreu e o ódio dominou o seu rosto.

- só tem um problema –

Ditou enquanto passava as imagens da reportagem.

- existiam apenas cinco pessoas que poderiam se tornar um coelho Branco. Quatro estão mortas e a quinta sou eu. Então... – o castanho aproximou a imagem do rosto mascarado com olhos brilhantes enquanto o mesmo passava pelas ruas em meio a sua perseguição.

- como você existe? –

Mais uma foto.

- quem é você? Ou melhor dizendo... -

Passou a foto para uma em que o mascarado disparava duas laminas nos seguranças da casa noturna.

-  qual Alice é você, irmão? – indagou enquanto encarava o aparelho em sua mão com ódio.

 

Branco permanecia a trabalhar com a solda em seu equipamento. Estava trabalhando naquilo havia meses e ainda não havia terminado. Mas ele já fazia uma ideia de que não conseguiria terminar aquilo tão rápido, quando começou. Ele poderia ter ordenado que os Tweedles lhe ajudassem naquela tarefa, mas ele não confiava aquele serviço na mão de terceiros. Aquele era uma dos símbolos mais importantes de tudo. Teria que sair perfeito, tinha que ser perfeito.

Entretanto, após tanto tempo trabalhando naquilo, ele, finalmente, estava para terminar. Aquele era o último. A última unidade. O último pacote do último lote. Tudo estava prestes a começar. O momento ele que tanto esperava estava cada vez mais perto.

O mascarado estava completamente focado em seu trabalho. Entretanto, ele era um serial killer. Sabia o mundo em que vivia e os tipos de seres humanos que o rondavam. Por isso, ele não ficou nem um pouco surpreso quando Ethan se aproximou sorrateiramente e se colocou atrás de si, encarando o seu trabalho.

- o que você quer, Tweedle Dee?  - questionou sem parar o seu trabalho.

Trabalhar com o maçarico naquela situação era extremamente perigoso. Qualquer movimento errado e tanto ele quanto Ethan poderiam ir pelos ares. E era por isso que ele não confiava em ninguém para aquele serviço. Se a pessoa errasse, além de se explodir durante a fabricação da bomba, iria alertar as autoridades que alguém estava se preparando para causar chamar a atenção de forma explosiva. A política americana já era um pé no saco, na sua opinião, quanto a revista de bombas e explosivos diversos. Ele não queria fazer com que governo incrementasse ainda mais as medidas defensivas.

- ainda está trabalhando nas bombas? Tem certeza de que não quer ajuda? Quanto antes terminamos, mais rápido você vai conseguir liberar Alice, não é? – indagou Ethan, solícito .

- tenho! Você e o seu irmão são assassinos! Não terroristas! Eu preciso que apenas quem saiba trabalhar com isso manuseie essa belezinha – ralhou o mascarado, irritado.

- e por que não arranja alguém que saiba fazer? – inquiriu, confuso.

- porque eu já estou terminando, Dee! Não faz sentido chamar alguém para ferrar com todo o meu trabalho logo no final – resmungou irritado ainda com a voz modificada pela máscara.

- cara! Você está com a macaca, hoje! – resmungou o homem com um enorme D tatuado no peito.

- é só osso o que você queria? – questionou, irritado.

- não – resmungou – o seu ratinho de computador ligou. Disse que estavam chegando perto do Jackson. O FBI. Aqueles dois imbecis: Rafael e Christopher. Estão chegando bem perto. É melhor você se apressar ou vai perder uma carta -

Branco franziu o cenho por trás de sua máscara. Ele desviou o olhar para cima, encarando os vários relógios pendurados na parede a sua frente, olhando fixamente para um em específico. O mascarado gargalhou por trás de sua máscara.

- bem no tempo em que imaginei – murmurou, se erguendo e se aproximando do celular na mesa ao lado.

Ethan estreitou o olhar, desconfiado.

- terminei o projeto bem em tempo de começar tudo – ditou procurando por um contato no aparelho. Um contato cujo nome era apenas um emoji de rato.

- o FBI está perto de Jackson? Então não tem problema. É só dar para o FBI algo que eles queiram muito mais do que o nosso baralho –

- e o que seria. – indagou Tweedledee, curioso e desconfiado.

Branco levou o aparelho a orelha, ouvindo a pessoa do outro lado da linha atender também com a voz modificada.

- Arganaz, já está na hora de atrair eles. Leve o FBI até a casa –

- a casa?! - perguntou, perdido.

- o projeto está pronto. Vamos começar em breve – Branco finalizou a ligação e começou a marchar na direção do computador do outro lado do galpão.

- de qual casa, exatamente, vocês estavam falando? –

Branco riu baixinho antes de apertar uma tecla do computador e vários monitores começaram a exibir imagens da divisão criada por Peter, assim como dos agentes Rafael, Christopher, Deaton e Morell.

- está na hora do FBI começar a ter algumas respostas, Dee. Eu vou levar eles até a casa de Alice – respondeu apertando mais uma tecla e um dos monitores passou a exibir as imagens de uma casa comum do subúrbio, com um pequeno escorregador no jardim da frente.

- essa casa! – exclamou Branco em animação.

Chapter 53: Line

Chapter Text

De mão em mão, Branco, Aiden e Ethan iam admirando todos os itens serem empacotados com demasiado cuidado e alocados em caminhonetes. Branco com demasiado orgulho, mantinha o olhar fixo em cada etapa do trabalho, averiguando qual dos homens mascarados abaixo de si apresentava qualquer sinal de descuido. Caso percebesse algum, ele mataria sem hesitar.

Havia trabalhado por tempo demais naquela obra prima. E ele precisava que tudo saísse perfeito. Ele tinha que fazer tudo perfeito para agradar ao ser perfeito. A sua deusa. A sua musa inspiradora. O seu herói. O seu irmão, Alice.

Já Aiden e Ethan admiravam o trabalho abaixo de si com êxtase. Eles estavam excitados. A ideia de que finalmente estava para começar lhes deixava animados ao ponto de não conseguirem parar de sorrir. Salivavam com a expectativa alta e ansiavam pela concretização de seu desejo.

Na linha de trabalho, os mascarados tinham as suas tarefas designadas de acordo com as mascaras que vestiam. Os pássaros abriam as caixas e as preenchiam com isopor. Os cães colocavam os itens feitos por Branco nas caixas, os lagartos as fechavam e as lacravam. Os patos as carregavam para os furgões. Paralelamente a aquela linha de produção, havia uma composta unicamente por porcos, trabalhando no mesmo serviço, mas carregando dois furgões específicos. Um homem de máscara branca com o símbolo de Paus por todo o rosto subiu as escadas e marchou na direção do trio.

- você tem certeza de que quer começar com isso? – inquiriu com a voz modificada pela máscara que tinha uma sistema sonoro similar ao de Branco.

- tenho. Espero por esse momento há anos! –

- então você sabe que não tem volta. Se usarmos Cheshire... – o mascarado tentou alertar ao trio

- vamos entrar em guerra com o país – disse Ethan com os braços cruzados.

- sabemos – concluiu Aiden observando o mascarado menear em compreensão.

- Wonderland está escondida há tempo demais. Está na hora de lembrar aos normies que ainda existimos – ditou o coelho unindo as mãos atrás do corpo.

- então, tudo certo. As provas já foram plantadas. Agora é apenas questão de tempo para o FBI morder a isca - 

- perfeito. E com isso, vai ser questão de tempo até ele dar as caras por lá – murmurou o mascarado vestido de branco, chamando a atenção do trio.

- você sabe que se matar ele... –

- Alice lhe mata –

- então por que levar o agente Tate até a casa? – indagou o mascarado com o símbolo de paus na máscara, ouvindo o homem com máscara de coelho rir baixinho.

- porque Peter e eu temos uma conexão, Rainha – respondeu, dando as costas aos gêmeos, passando pelo homem com máscara de paus.

- uma conexão?! – questionaram os gêmeos, confusos, franzindo o cenho na direção do líder.

- sim. O agente Tate e eu compartilhamos o fio da vida. Se um morrer pelas mãos do outro, este também morrerá. Se eu matar Peter, Alice me mata. Mas se Peter me matar, Alice o mata. –

Os gêmeos sorriram de canto.

- vocês são reis de lados diferentes do tabuleiro – disseram em uníssono e o mascarado com rosto de coelho meneou em concordância.

- se Peter morrer, o País das Maravilhas terá a sua soberana de volta, mas será apenas para ser levado a ruína. Mas se eu morrer, Peter perde a guerra – concluiu Branco com um sorriso vitorioso por trás de sua máscara.

Os Tweedles gargalharam, deixando o homem com máscara branca lisa, com apenas o símbolo de um naipe em completa confusão.

- você é um gênio, Branco! – exclamaram novamente em uníssono.

Rainha negou com a cabeça.

- vocês são malucos – murmurou, indignado, vendo os três lhe direcionarem o olhar.

- e não somos todos? – questionou Branco e a luz em seus olhos mudou de vermelho para azul.

Aiden e Ethan retiraram suas máscaras dos bolsos interno de suas jaqueta, sorrindo largo. A máscara de Aiden era um par de furo para os olhos, um nariz e uma testa vermelhos, permitindo que sua boca se mantivesse exposta. Já Ethan era uma máscara igualmente vermelha, cobrindo apenas aquilo que a do irmão não cobria.

- as melhores pessoas são – ditou Ethan com seriedade e Aiden subiu no corrimão ao seu lado, engatinhando sobre o mesmo na direção de Rainha 

- elas são sempre as mais insanas! – exclamou com o sorriso branco e largo, se inclinando na direção de Rainha, que recuou, engolindo em seco, antes de se deixar cair do corrimão, caindo em uma pilha de caixas vazias.

Branco e Tweedle Dee passaram por Rainha, que os encarava com seriedade. O mascarado observava os dois Maravilhanos marcharem na direção do interior do galpão, para a área mais escura do mesmo. Os pensamentos iam a mil em sua mente.

Fora uma boa ideia unir forças com Branco?

Com certeza.

Estava seguro?

Não. Não estava. Descobrira da maneira mais aterrorizante que o tão sonhado País das Maravilhas não era tão Maravilhoso para os estrangeiros. Forasteiros não eram permitidos, a não ser que fossem convidados. E os que renegavam esse mundo não sobreviviam para contar histórias sobre ele, o mantendo apenas no imaginário popular. Um lugar em que o crime compensa, um reino mágico onde a mente mais perversa predominava e dominava as mentes mais fracas. O jogo político naquele lugar era completamente diferente.

Viver com maravilhanos era como viver em um país completamente diferente, apesar de possuir as mesmas coordenadas geográficas, a mesma área, o mesmo relevo, o mesmo clima e bioma. 

Quando Branco e Dee sumiram do seu campo de visão, Rainha negou com a cabeça, cruzando os braços. Um sorriso mínimo surgia em seus lábios, logo se transformando em um sorriso convencido.

- no fudno, todos temos um pouco de loucura por alguma coisa -

- Senhor, toda a carga foi armazenada nos veículos, como o ordenado – ditou uma mulher com máscara de porco vendo Rainha se virar em sua direção com um ar de superioridade.

- perfeito. Abasteçam e preparem cada veículo. Nada pode sair errado. Vocês saem em duas horas – ditou com autoridade, antes de dar as costas e se retirar.

- VAMBORA! VAMBORA! – gritou a mulher, batendo palmas que ecoaram pelo local.

 

 


Kira ajustou a mochila em seu ombro, antes de acenar em uma despedida muda. Observou as suas amigas de faculdade acenarem de dentro do carro de uma delas e iniciarem a sua viajem para suas respectivas casas. A morena se virou parar marchar até o próprio carro. Girava as chaves no indicador com naturalidade enquanto refletia sobre a sua noite.

As vezes era bom, muito bom, abandonar a vida de mafiosa e adquirir a pose da mulher que ela era. Fazer coisas comuns com gente comum. Juntar as amigas para ver um filme, encher um pouco a cara, passar um bom tempo em um fliperama. Banalidades do dia a dia de um jovem.

Suspirando com um sorriso mínimo nos lábios, a mulher parou de girar as chaves enquanto localizava o veículo um pouco distante. Assim que destravou o carro, a Yukimura sentiu uma sensação estranha. Se sentia sendo observada. Ao abrir a porta do carro e jogar a mochila no banco do passageiro, Kira sentiu a sensação se intensificar. Em suas costas, mãos grandes se preparavam para lhe alcançar, mas a morena fora mais rápida.

Em um giro, subjugou o seu perseguidor, o jogando contra o carro enquanto torcia um de seus braços. Quando reconheceu os fios castanhos bagunçados a sua frente.

- Choi! – rosnou irritada, antes de intensificar a pressão de sua mão na nuca alheia e do aperro no pulso do homem, o pressionando ainda mais contra o veículo e aumentando a torção em seu braço.

Um gritinho de dor escapou pelos lábios de Saiki, que rangia o dentes tentando conter a dor.

- calma! Calma! Calma! –

- o quê?! Acha que conseguiria me surpreender e fazer comigo o que faz com as garotas idiotas da sua zona? – a morena falava com calma enquanto via o mafioso a sua frente morder o lábio inferior.

- foi mal! –

- é sério que essa foi a sua tentativa de vingar a mão do seu pai? – debochou enquanto sentia um gargalhar lutar em sua garganta para ser emitido.

- eu só queria cumprimentar – choramingou antes de sentir a Yukimura mover o punho, forçando ainda mais o seu braço.

- não me venha com piadas, Choi. Eu sei o tipo de cumprimento que você usa com as mulheres –

- é sério. Eu nunca faria isso com você! – exclamou, desesperado 

- me poupe, verme. Mulheres são apenas brinquedos na visão de estupradores – ralhou a Yukimura jogando o homem para o lado, o derrubando no chão.

- caramba! Tu é fortinha, hein?! –

- é melhor dizer para os idiotas que vieram com você que não sou pro bico deles – resmungou a morena já se preparando para entrar no carro.

- do que você está falando, mulher?! – Saiki inquiriu, indignado.

Kira estranhou o tom de voz do Choi.

- os homens que vieram com você para me estuprar – respondeu parando o que fazia e se virando para o castanho, o vendo se erguer com o cenho franzido em indignação.

-  wow! Relaxa aí, minha senhora! Não ia rolar estupro nenhum! E só para constar, eu vim sozinho. Fui jogar um pouco e vi você saindo com aquelas garotas do karaokê. Ai segui para poder lhe cumprimentar quando estivesse sozinha –

A Yukimura analisou a postura do homem, antes de se virar para o seu carro e pegar a sua mochila de volta, deixando Saiki confuso. O homem, no entanto, logo sorriu galante, colocando as mãos dentro dos bolsos da calça, fazendo a peça, já folgada, abaixar ainda mais, revelando mais do que apenas o elástico da cueca que usava.

- e aí? – questionou observando a Yukimura fechar a porta do carro – está afim de tomar uma? –

Kira rolou os olhos, ajustando a mochila nas costas.

- só no dia em que você servir para algo além de saco de pancadas! – resmungou enquanto apertava o passo, passando pelo Choi e esbarrando em seu ombro.

- qual foi, gata? Olha, eu sei que a reunião não foi lá essas coisas. Mas não é só porque não somos sócios que não sair... Ficar –

- se, realmente, quiser usar o seu pau em alguém ainda nessa vida, eu sugiro que você corra – 

Saiki sorriu de canto.

- difícil, você, hein? Eu adoro uma mulher forte! – ditou enquanto acompanhava a Yukimura, vendo a mesma jogar as chaves do carro embaixo de um carro qualquer do estacionamento.

- ué?! Mas o que foi isso? –

Kira rosnou em raiva.

- como você é estúpido! Estamos cercados, imbecil! – ralhou antes de começar a correr para a saída de carros, deixando o castanho confuso.

Quando balas começaram a voar pelo local, Saiki se sobressaltou, assustado, correndo para se esconder e puxar a sua arma. Ao se colocar abaixado entre a traseira de um carro e a parede do estacionamento, o Choi pôde ouvir, atentamente e com o dedo no gatilho, passos apressados e gritos masculinos exaltando uma caçada a um mulher.

- mas que merda está acontecendo aqui? – murmurou, assustado e com a adrenalina a mil. 

Havia sido pego de surpresa enquanto estava tentando atrair a atenção de Kira para si.

- Yukimura! – e, como um estalo, a sua mente recebeu a lucidez.

A mulher sendo caçada era Kira.

Ele olhou ao redor, tentando encontrar a morena. Mas, ao sentir a decepção lhe dominar quando constatou que ela não estava consigo, o homem se recordou que Kira correra na direção da rampa de descida dos carros antes de os tiros serem executados. A Yukimura havia previsto o raciocínio dos atacantes e recuou antes de ser atacada por eles. Aquela mulher não cansava de lhe surpreender.

- essa garota é fogo, mesmo – murmurou antes de, com cuidado, analisar o ambiente e se erguer.

Kira saltou o muro da rampa, aterrissando no pequeno gramado que separava o estacionamento da calçada, e correu ao máximo que conseguia. Empurrava todos que via pela frente. A sua única missão, ali, era correr. Correr até um ambiente em que ela tivesse alguma vantagem. A jovem olhou para trás, procurando qualquer sinal de seus perseguidores, encontrando alguns homens montados em motos e apontando para a direção em que ela seguia e gritando.

- certo. Estão vindo – murmurou, pensativa, tratando de roubar uma bicicleta que se encontrava encostada a um bicicletário, enquanto o dono procurava pela corrente na mochila.

A Yukimura pedalou o mais rápido que conseguia, sempre tomando caminhos os mais estreitos possíveis, de modo a retardadas os motoqueiros que lhe perseguiam. Ao entrar em um bairro conhecido, a morena sorriu. Inicialmente, ela pretendia apenas despistar os seus perseguidores e, assim que estivesse a salvo, ela pensaria em alguma providência sobre o . Mas, ao erguer a cabeça, analisando o ambiente em que se encontrava, tentando projetar a melhor rota de fuga em sua mente, a mulher se deparou com um ponto específico e chamativo do bairro.

Os motoqueiros, ao saírem da última ruela apertada, em uma fileira de roncos motorizados acelerados, não encontraram mais sinal algum di seu alvo. Eles haviam sido designados para mandar um recado a Ken Yukimura, o líder dos raposas, aniquilando a sua filha, o seu bem mais precioso. Eles haviam sido alertados de que a mulher sabia se defender e que a missão poderia ser difícil. Mas ninguém os alertou de que a jovem Yukimura seria tão habilidosa em uma fuga.

Eles pararam brevemente, olhando ao redor, procurando por algum sinal. O líder do grupo sinalizou para que eles começassem a circular, vasculhando a área, mas parou quando um dos companheiros apontou para uma direção e acelerou. O homem, confuso, encarou a direção, notando a bicicleta caída na calçada. O grupo se aproximou, encarando bem o prédio diante deles. Era uma construção em andamento, possuía vários andares, mas ainda estava apenas estruturado com vigas e algumas poucas paredes externas.

- ela quer mesmo nos despistar assim? – indagou uma mulher, descendo da moto e marchando na direção do prédio.

- eu quero quatro de vocês cercando o prédio. Ela não vai fugir tão fácil – ordenou o líder antes de duas duplas se voluntariarem e o resto arrancar com tudo para dentro da construção.

Os roncos dos motores ecoavam pelo ambiente aberto e vazio, com o intuito de alertar a Yukimura de que eles haviam chegado. Eles estacionaram as motos no interior do térreo, antes de começarem a vasculhar o ambiente, já armados com seus revólveres, canivetes, bastões e correntes. A medida em que subiam os andares, eles se irritavam. Mesmo com toda gritaria e xingamentos para a morena, eles não conseguiam a encontrar, não importava o quanto vasculhassem.

- achei uma coisa! – alertou uma mulher se abaixando e pegando a mochila de Kira em mãos.

- estava com ela, não? –

- sim – respondeu já iniciando uma busca na mochila.
 
Irritou-se e jogou o material no chão.

- só tem livros e um casaco! – ralhou voltando a empunhar a sua arma.

- é claramente uma afronta. Ela deixou exposto. No meio do ambiente vazio. Não se deu ao trabalho de esconder – ditou o líder do grupo, curioso.

- assim como a bicicleta –

- então a patricinha do papai quer brincar com a gente?! Por mim tudo – a mulher começou a resmungar, mas parou assim que escutou uma melodia.

Uma voz feminina cantarolava uma música de ninar. O som vinha das escadas e do espaço vazio do elevador que futuramente seria instalado, deixando todos confusos e apreensivos. Apesar de ser uma música de ninar, o ambiente escuro e vazio, bem como a premissa de assassinato deixava o clima tenso, estranho, pesado.

A risada maléfica que ecoou logo em seguida forçou alguns a engolirem em seco.

- essa garota é estranha – murmurou um dos capangas, marchando na direção das escadas.

- eu vou pelo elevador – disse o homem com corrente na mão, a pendurando no pescoço, antes de saltar na corda que se encontrava no espaço do elevador, passando a escalar a mesma.

- vamos pelas escadas – ditou o líder começando a marchar na direção do caminho citado. Assim que alcançaram a porta, eles pararam.

O grito que ecoou de trás deles os perturbou. Eles puderam ouvir o companheiro caindo todos os andares que subiram, antes de o som do impacto de seu corpo mole contra o solo duro do poço do elevador. Alguns do companheiros correram para o buraco, olhando para baixo, vendo o corpo completamente estirado do companheiro no chão, cercado por uma perturbadora mancha vermelha.

- ele caiu – murmurou um dos homens, recuando alguns passos, perturbado.

- ele caiu... Ou foi empurrado? – inquiriu uma das duas mulheres do grupo, vendo o homem lhe fitar, surpreso.

- acha que a garota fez isso? –

- disseram que ela sabia se defender. Vamos ver se é verdade – disse adentrando a área das escadas, sendo seguida por boa parte do grupo.

Os dois que averiguaram o som do amigo morto ficaram para trás, ainda encarando o poço do elevador, surpresos.

- vamos – ditou o menos afetado com a cena, já marchando na direção das escadas.

O companheiro ficou mais alguns segundos analisando a imagem do cadáver, sentindo um feio subir a sua

Enquanto subiam as escadas, o grupo foi surpreendido pela mudança na canção. Antes, a música vinha do andar de cima, mas, assim que alcançaram a porta do andar, o grupo parou quando as duas mulheres que lideravam o percurso pararam subitamente.

- qual foi? – inquiriu, confuso, analisando a expressão confusa e curiosa da mulher a sua frente.

- a música... Mudou de direção –

- está vindo do andar de baixo – concluiu a outra mulher e todos olharam para trás, surpresos.

A música parou.

Quando desceram as escadas correndo, eles se depararam com mais um companheiro morto, desta vez com os olhos furados e o pescoço cortado. O homem estava sentado sobre os próprios pés, ajoelhado, com as mãos no pescoço, com a cabeça jogada para trás.

- mas que merda! – exclamou um dos homens, erguendo a arma.

- ela está por aqui! –

Um dos homens gritou de dor, antes de cair ajoelhado no chão. Em suas costas e sua nuca haviam duas kunais. O grupo de criminosos ergueu o olhar, perplexo, observando apenas tambores, lona e matérias pesados.

- mas o que porra está acontecendo aqui?! – inquiriu o líder do grupo, indignado, antes de outro membro gritar de dor e cair de joelhos no chão, para, em seguida, cair deitado, já morto.

- VENHA AQUI E MORRE LOGO! –

- eu não sabia que os raposas eram tão covardes! – provocou uma das mulheres, sorrindo largo ao cerrar a mão entorno do canivete.

Mais um homem caiu e a mulher apena só encarou de soslaio, dando as costas para a companheira, iniciando uma defesa para a sua retaguarda. A risada de lábios fechados de Kira ecoou pelo ambiente, chamando a atenção do grupo para o poço do elevador. A morena se encontrava de pé, apoiada em um pilar de sustentação, girando uma pequena foice com furos, chamada Kama, no indicador. O grupo franziu o cenho para a máscara de madeira no formato de um rosto de raposa com o naipe de Espadas na testa.

- a inteligência de uma raposa é tão incompreendida – ironizou a morena enquanto desviava o rosto para a paisagem ao seu lado.

- atirem nela! – ordenou o líder do grupo apontando com o bastão em sua mão para a Yukimura, que riu baixinho antes de olhar em sua direção.

Nada aconteceu.

- o que estão... – o homem encarou o próprio grupo, furioso.

- ainda não percebeu? Matei todos os seus homens que estavam com armas de fogo nas mãos -

E só então o grupo se preocupou em analisar os cadáveres melhor, percebendo a veracidade nas palavras da mascarada. O home com olhos furados e os três que foram atacados pelas costas. Todos eles estavam com armas de fogo nas mãos.

- vocês começaram com isso. E agora eu vou terminar – ditou a morena antes de começar a marchar na direção do grupo, que avançou em si.

Um dos homens tentou lhe golpear com a faca, mas Kira girou sobre os próprios pés, fincando a lâmina da Kama na nuca alheia, fazendo o corpo do homem cair sem vida atrás de si. O líder girou o bastão nas mãos, antes de descer o mesmo com força contra a morena, que usou a Kama para desviar o ataque, lançando uma kunai de sua cintura no ombro do adversário que recuou com a dor.

- que porra! – ralhou, furioso.

Kira gargalhou por trás da máscara.

- o que houve? Não era para você estar me matando? – a Yukimura provocou, inclinando a cabeça como um bichinho confuso.

Uma das mulheres tentou um ataque por trás, mas a morena girou rapidamente, deslizando a lâmina da pequena foice em seu pescoço, fazendo o sangue jorrar e pintar a máscara branca com o líquido escarlate. Um dos homens restante se abaixou para pegar a pistola de um dos cadáveres, mas fora repreendido quando a lâmina que, outrora, estava na mão de sua companheira de máfia, atravessar a sua mão.

- se quer brincar comigo, tem que brincar direitinho - 

- ora, sua puta! – rosnou outro homem, avançando pela lateral..

- a melhor parte é não precisar de nomes. Ninguém vai se lembrar de vocês, mesmo – provocou enquanto desviava do ataque.

Ela ergueu a kama, se preparando para fincar a arma no pescoço alheio, quando fora surpreendida por um ataque em suas costas. O golpe do bastão de ferro em suas costas lhe gerou uma dor intensa o suficiente para lhe fazer cambalear para a frente, desesperada por evitar que recebesse outro golpe daquele. Ela se virou, furiosa, vendo o líder manusear o bastão com uma mão, antes de, com certo cuidado, voltar a empunhar a arma com ambas as mãos.

- eu vou.. – a Yukimura fora calada por um corte em seu ombro. Ela olhou para o lado, vendo a mulher restante voltar a desferir um golpe em si, desta vez visando a sua garganta.

Com a kama, Kira parou o golpe, encaixando a empunhadura da faca da castanha a sua frente no bastão da sua arma, antes de puxar outra Kama de sua cintura e a fincar com força no ombro alheio. Com um golpe do joelho no abdômen alheio, forçou a mulher a se curvar, e com a Kama a puxou para a frente, a jogando no chão. O golpe do bastão que vinha em suas costas fora interrompido pela cabeça da mulher, perfurando o olho devido a força do encontro.

- O MEU OLHO! -

- oh porra! – exclamou o homem, perplexo e arrependido de seu movimento.

Antes que ele pudesse puxar o bastão, Kira girou e arremessou a Kama em sua direção. O homem não teve tempo de reação. A arma perfurou o seu peito, cortando o seu coração e criando uma fenda em seu pulmão. Kira recolheu a sua arma presa ao ombro da mulher antes de, pisando no corpo da mulher de olho furado, a ouvindo gemer abafado, caminhar até o homem, que estava indeciso entre tirar a arma de seu corpo ou não. Então ela tomou a iniciativa. Girou e puxou a empunhadura para si, puxando também o homem quando a lâmina da pequena foice se prendeu a costela de sua vítima.

- vocês realmente não fazem ideia de com quem estão lidando – ditou, furiosa, antes de, com a outra arma, desferir um golpe no pescoço alheio.

- sinceramente... – murmurou, irritada.

Erguendo as duas mãos, Kira lançou ambas as mãos nas costas da mulher caída. Ela havia treinado não apenas o seu corpo, mas também a sua mente. Havia contabilizado cada uma das vítimas e como as matou desde que começou o seu ataque. E aquela mulher não havia sido morta, apenas ferida. Para bater de frente com Alice, ela precisava incrementar cada habilidade e capacidade que podia, bem como desenvolver as que não tinha. Havia passado a vida inteira treinando para isso, desde que Alice matara a sua mãe na mansão de férias da família, nos Estados Unidos.

Kira cresceu treinando para ser como a criança que matou uma assassina exemplar como sua mãe. Ela não se importava em tomar a liderança do grupo de seu pai, ou criar a sua própria facção, como muitos filhos de mafiosos faziam. Ela sabia que eventualmente teria que liderar os raposas, mas, enquanto o pai vivesse e tivesse em condições de liderar, ele permaneceria no comando, e ela seria apenas a sua arma para alcançar o que quisesse. Pois ela sabia que assim poderia desenvolver melhor suas habilidades.

Suspirando de tédio, ela inclinou a cabeça para o lado, encarando os sobreviventes restantes. O pânico e o desespero estavam escancarados em suas expressões faciais. O modo como as suas mão tremiam segurando as suas armas brancas eram uma boa evidência de sua falta de determinação.

- vamos ser comunicativos e democráticos, tudo bem? Eu sou uma assassina em série, mas também sou uma mulher sociável. Eu deixarei vocês viverem – ditou a Yumimura observando todos lhe fitarem com surpresa nos olhos, logo substituída pela fúria.

- contanto que deixem um de vocês comigo. Tenho algumas coisas a perguntar – explicou antes de se abaixar e puxar as duas armas das costas da mulher, e passando a girar as mesmas em seus dedos.

- Você vai queimar no fogo do inferno! – ralhou o homem com uma Katana, manuseando a mesma antes de avançar com fúria na direção da mulher.

Kira suspirou.

- Então passarei a eternidade torturando vocês lá – ditou observando o homem erguer a espada.

A morena bloqueou o golpe com uma das kamas, antes de usar a outra para perfurar o queixo alheio, fazendo a lâmina atravessar a língua alheia. Ela tomou o cuidado de não o matar com aquele golpe, para que pudesse o puxar para perto de si com a lâmina presa em sua mandíbula.

- se não querem escolher um para morrer, então escolherei um para viver – ditou a morena com fúria, vendo o arrependimento brilhar nos olhos do homem, antes de acertar uma cabeçada no mesmo, o afastando, e usar a outra Kama para cortar a jugular do mesmo.

Em questão de minutos, todos os homens restantes se encontravam no chão, com cortes pelo corpo e grande parte do líquido que lhes dava a vida espalhado pelo chão da construção. Kira suspirou, um tanto cansada, e passou a caminhar pelo ambiente, cantarolando a música de ninar mais uma vez, recolhendo fodas as armas que havia usado no seu ataque.

Havia um sobrevivente. Um único homem que ela havia apenas imobilizado ao cortar as costas dos joelhos e as axilas, fincando uma kunai em cada uma das quatro articulações: joelhos e ombros. Agora que havia recolhido os seus pertences e os colocado em uma bolsa plástica que carregava em sua mochila, a Yumimura se voltou para o seu refém, o vendo chorar, inundado em agonia e temor.

- e então? Quem lhe mandou atrás de mim? Quem quer afetar o meu pai? – indagou a mascarada, observando o homem contorcer a careta de dor em uma tentativa de uma expressão de ódio, que era completamente estilhaçada pela dor.

- vai se foder! – 

- bom. Não tem problema, de verdade. Independente de tua resposta, a morte é a única certeza para você. E quanto ao seu mandante, mais cedo ou mais tarde, eu descubro – a morena levou a mão a uma das lâminas penetrando o corpo do homem, passando a girar a arma ali.

- mas isso não quer dizer que a dor vai acabar rápido. Pois se não me serve para dar informações, vai me servir parar entretenimento –

O homem agonizava e berrava de dor, se contorcendo no chão. Kira parou com os movimentos, antes de inclinar a cabeça para o lado, mais uma vez.

- está doendo?! Me desculpe! Eu vou colocar como estava antes – disse antes de passar a girar a lâmina na direção contrária.

- MATSUDA! MATSUDA! – berrou o homem, desesperado, antes de sentir a Yukimura parar.

- tudo isso pelos Matsuda? –

- sim. Sim. As facções que tinham tratados com os Matsuda querem que você pague pelo prejuízo que causou com a morte dos irmãos Matsuda - desabafou entre respirações rápidas e ritmadas, tentando controlar a dor que sentia.

- então é isso. Hunf! Patético! Chega a ser desprezível – resmungou antes de retirar as armas brancas dos ferimentos do homem.

- isso é tudo – e então lançou duas delas no pobre ferido. 

Uma acertou o peito, a outra acertou o centro do pescoço.

A morena voltou a recolher as suas armas. Assim que se ergueu, um disparo ecoou pelo ambiente, a assustando. Kira se virou, vendo a mulher que teve o olho perfurado pelo bastão do companheiro, e as costas por suas kamas, de pé, com um revolver na mão e um na lateral das testa, por onde o seu sangue jorrava. Ela caiu sem vida no chão, e a Yukimura desviou o olhar para as escadas, vendo Saiki abaixando a arma e se aproximando a passos cautelosos.

- você... Kira? – questionou o Choi, indeciso em apontar a arma ou não em sua direção.

A morena retirou a máscara que cobria o seu rosto, revelando a sua surpresa e desconfiança.

- o que faz aqui? – perguntou a Yukimura, desconfiada.

- eles me ignoraram completamente. Então sabia que estavam atrás de você. Eu vim ajudar, mas... Parece que não precisava – 

- e como chegou aqui? –

- moto –

- e como enteou no prédio. Ele estava cercado – 

- você não é a única que sabe matar pessoas, sabia? – indagou guardando a arma em sua cintura, mais uma vez, fazendo a mulher franzir o cenho em sua direção.

- eu posso... te levar até o seu carro – comentou apontando na direção das escadas com o polegar.

- esquece o carro –

- mas... É o seu carro –

- tem uma bomba nele. Por isso não usei para fugir –

- tem?! –

- ele confessou há um tempo atrás – apontou para o homem recém morto.

- então... –

- Choi – chamou a Yukimura observando o castanho se calar para lhe encarar, nervoso.

- o quê? –

- vamos tomar uma – ditou a Yukimura observando o castanho lhe fitar com surpresa.

- o quê?! –

- você disse que queria tomar ima, não? Vai ou não vai? – questionou já guardando a máscara em sua mochila.

- mas você disse que... Esquece. Eu que não vou jogar água fria agora! –

- você me foi útil, Choi. Agora me seja util mais uma vez e me leve para a minha casa – o homem sorriu largo, enquanto a mulher se aproximava de si, colocando a mochila sobre os ombros.

Saiki abriu espaço, se colocando ao lado da Yukimura, pronto para jogar o braço sobre os ombros da morena. Mas, antes que, se quer, ousasse abaixar o braço, Kira lhe golpeou o tórax com o cotovelo.

- faça isso e eu arranco o teu pau fora! – ralhou, irritada, colocando as mãos nos bolsos.

- assim eu vou me apaixonar! – provocou o Choi e a Yukimura apenas rolou os olhos.

Em questão de instantes, os dois estavam no elevador do prédio, apenas esperando adquirir a altitude correta.

- então... Eu... você estuda o quê? – questionou o castanho, um tanto curioso, de verdade, mas mais por se encontrar sem assunto.

- história – respondeu no momento exato em que o elevador de abriu.

Natsumi os recebeu com uma reverência, se surpreendendo, logo em seguida, ao reconhecer o homem de cabelos castanhos e veates no estilo punk. A morena a reverenciou de volta, e Choi repetiu o ato da Yukimura 

- me siga – disse a dona da casa, acenando com a cabeça na direção do corredor longo a sua frente.

- senhorita. Há um homem a sua espera na sala de reuniões – ditou Natsumi se aproximando para recolher a mochila da morena.

Kira a encarou, confusa.

- a minha espera? – perguntou permitindo que a mais baixa pegasse a mochila.

- sim. Ele e o senhor Yukimura a esperam na sala de reuniões – respondeu Natsumi apontando gentilmente na direção do cômodo citado.

- e do que se trata? –

- eu não sei. Apenas me foi dito que ele tem algo importante para falar –

Kira meneou em compreensão, agradecendo e começando a marchar na direção da sala em que acertou uma faca na mão do pai de Saiki.

- ah, Natsumi. Limpe as minhas armas que estão na mochila, por favor. E leve esse cara aí até o salão de jogos. Isso vai impedir que ele durma até que eu volte – Ela se virou para pedir a conhecida de longa data, a vendo menear em compreensão e estender a mão na direção do salão de jogos, ondicando para que Saiki a seguisse.

Quando Kira adentrou a sala de reuniões, encontrou o seu pai sentado, com um recipiente de chá em mãos, se servindo em uma de suas preciosas xícaras de porcelana, artigo que colecionava fazia anos. A frente do seu pai, de costas para si, havia um homem de cabeça baixa, cabelos pretos e baixa estatura, ajoelhado diante da mesa. Pelo modo encolhido dos ombros e pelo leve tremer que seu corpo deu quando a porta se abriu, Kira soube que ele estava desesperado.

- você chegou – comentou Ken, virando o chá em sua xícara.

O homem de cabelo pretos a encarou de soslaio, receoso.

- do que se trata essa reunião? – inquiriu, indiferente, se colocando ao lado do pai na mesa, como de costume.

- e-eu tenho algo para vocês dois – murmurou o homem, quase sem voz.

- e você seria? – indagou Kira, desconfiada.

- Amayumi Toshiro. Ele trabalha para Tsuna Mayuri, líder da Lua Crescente -  respondeu Ken, observando o vapor que emanava de sua xícara, uma visão belíssima em sua humilde opinião.

- uma das famílias com as quais temos acordo de paz – murmurou a mais nova observando o homem puxar um envelope do bolso.

- Mayuri-san foi assassinado -

Ken parou o chá diante de seus lábios, surpreso.

Porém, não estava perplexo.

- Mayuri foi assassinado... Um movimento ousado. Como isso aconteceu? –

- estávamos nos Estados Unidos. Era para ser mais uma reunião pacífica entre uma antiga associação de famílias. –

- o Bosque Noturno? – Ken voltou a indagar, surpreendendo Kira.

- sim –

- é. Eu me lembro. Fazia parte desse grupo antes de... Antes de minha esposa ser morta –

- mas nós fomos pegos de surpresa e todos os líderes foram mortos –

- todos menos você. Conveniente, não? – questionou Ken observando as reações do homem.

Toshiro se desesperou mais ainda.

- uma mulher – argumentou, rapidamente, surpreendendo Kira – uma mulher apareceu do nada. Estava infiltrada na boate dos Persas como uma funcionária -

- uma mulher? – questionou, esperançosa por alguma pista do assassino de sua mãe.

- sim. Uma mascarada – respondeu e as expectativas de Kira foram consumidas pela decepção.

- e essa mulher... Ela disse alguma coisa? – bebericou um pouco do chá quente.

- ela me disse que, caso eu não quisesse ser responsabilizado pelas mortes dos líderes, que entregasse uma coisa para vocês dois -ditou retirando um envelope do bolso da jaqueta.

- uma carta?! – questionou Ken, confuso. 

Aquilo era tão incomum na máfia. Geralmente recados eram mandados em corpos ou oralmente por sobreviventes. Não por cartas escritas.

Toshiro se ergueu e se aproximou a passos calmos, indicando que não tentaria nada, o homem abandonou o envelope sobre a mesa e Kira o pegou. Ela analisou a embalagem, completamente branca, antes de optar por abrir. Quando ela retirou so envelope uma carta de baralho, os corações de paie filha pararam simultaneamente, antes começarem a bombear o sangue de forma rápida, enquanto a respiração se tornava irregular. Ken quebrou a xícara em suas mãos, antes de avançar contra Toshiro, o puxando pela gola da jaqueta.

- que merda é essa?! – inquiriu, irritado.

- isso é alguma piada?! – ralhou puxando um Tanto de debaixo da mesa, pressionando a lâmina contra o pescoço alheio.

Toshiro gelou.

- ESTÁ ACHANDO ENGRAÇADO BRINCAR COM ISSO?! HEIN?! – o Yukimura berrava enquanto um filete de sangue escorria pelo pescoço do pobre mensageiro.

- pai... Não é brincadeira – murmurou Kira, chamando a atenção de seu pai, antes de girar a carta para ele, revelando um Valete de Espadas com o noem Alice escrito em sangue seco.

Ken sentiu o corpo gelar.

- é idêntica a que Alice deixou no corpo da mamãe naquela noite – ditou a jovem, perplexa.

O seu corpo tremia e o seu peito acelerou o processo de respiração, em um claro sinal de ansiedade. Ken sentia o peito apertar e tudo de ruim que ele havia deixado para trás voltar a sua mente como um tsunami ectoplasmático, trazendo os fantasmas do passado, inclusive a imagem de sua mulher morta no chão de sua mansão, bem como a imagem de uma Kira chorosa ao lado do cadáver.

- quem... Quem te entregou isso? – indagou Kira, tentando ao máximo não se exaltar.

- a mulher de máscara de coelho branco disse que Alice mandou lembranças – ditou o Amayumi, observando a jovem lhe fitar, perplexa. 

Ken lhe cortou a garganta assim que Toshiro encerrou a sentença.

- PAI! -

- eu não quero ouvir mais uma palavra – ralhou o homem, perturbado.

- mas como vamos saber sobre essa mulher de máscara de coelho? E se tivesse mais alguma coisa que ele podia dizer? – inquiriu a mais nova observando Toshiro se engasgar no próprio sangue, antes de cair sobre a mesa.

- KIRA! – ralhou o homem, surpreendendo a filha.

Eram as poucas vezes em que Ken gritava com a sua única filha.

-EU NÃO QUERO OUVIR NADA SOBRE NENHUM COELHO BRANCO NESSA CASA! NEM FORA DELA! – gritou a plenos pulmões, conseguindo chamar a atenção até mesmo de Saiki, que se encontrava cercado pelo som das caixas de som s das bolas do sinuca batendo umas contra as outras.

Ken se ergueu, furioso, e, a passos pesados, marchou para fora do ambiente.

- queime essa carta – ordenou já em um tom mais baixo, porém ainda autoritário e possuidor de sua fúria.

- chame Benimaru, Inomura. Diga a ele que se livre do corpo na sala de reuniões – Kira ouviu o pai ordenar a uma das empregadas, antes de sumir pelo corredor.

A mulher observou a carta de baralho em suas mãos, antes de suspirar e sair da sala.

 

 


- é aqui? – inquiriu um dos policiais, enquanto descia da viatura.

- sim. O chamado foi aqui – respondeu a oficial que dirigia, descendo do veículo.

- disseram que era um tiroteio, não foi? – questionou o homem enquanto analisava a casa a sua frente.

Logo os outros policiais que se encontravam nas outras duas viaturas se aproximaram.

- sim. Teve até um chamado de reforço por um dos nossos – respondeu a mulher analisando bem a rua.

Os vizinhos, aos poucos, saiam nas portas de suas casas, curiosos com o surgimento de três viaturas que chegaram na rua com as sirenes gritando a mil, anunciando a sua chegada. A mulher estranhou.

- se era mesmo um tiroteio, por que os vizinhos estão saindo de casa? – questionou encarando todos eles e seus companheiros fizeram o mesmo.

- estão se sentindo seguros. O tiroteio deve ter parado há um tempo. E, agora, há seis policiais no local – respondeu enquanto analisava a situação.

- mas isso não explica a falta da viatura no local –

- deve estar em perseguição –

- mas não fomos informados de nenhuma perseguição – argumentou a oficial, desconfiada.

- na pior das hipóteses, os nossos foram mortos, e decidiram usar a viatura para fugir. E na melhor das hipóteses, estão em perseguição e os imbecis esqueceram de alertar à central – contra-argumentou o oficial mais velho do grupo, já marchando na direção da casa, enquanto retirava a arma do coldre.

- vão indo. Eu vou falar com os vizinhos, vê se arranjo algo com algum depoimento – disse a mulher dando um golpe da palma no ombro do parceiro e se dirigindo para a casa do lado. 

Os vizinhos de ambos os lados não souberam lhe informar nada. Diziam não terem ouvido nem visto nada. O vizinho da frente ao vizinho direito alegou estar dormindo a noite toda devido ao medicamente controlado que usava. Então ela decidiu ir para a casa ao lado, a que ficava de frente para a residência denunciada, onde uma família composta de um casal, uma filha adolescente e uma criança observavam tudo da varanda.

O homem se desvencilhou da esposa, que abraçou a filha e o caçula, e se aproximou da policial.

- algum problema, oficial? –

- bom. Nós recebemos um chamado para esse endereço – respondeu já puxando o bloco de notas e a caneta.

- um chamado? – inquiriu, surpreso.

- sim. Um dos nossos atendeu o chamado e nos pediu reforços. Poderua me dizer se viu algo suspeito? –

O homem franziu o cenho.

- tiroteio?! Acho que houve algum engano – ditou o homem, confuso.

- você... Não ouviu nada? – perguntou, confusa.

- a coisa mais suspeita nos últimos três meses foram vocês. É a primeira vez que vejo a polícia parando aqui na rua – respondeu cruzando os braços sobre o peito, de modo a proteger o corpo do frio da noite.

- ah... Pai? – chamou a adolescente e os dois desviaram a atenção para a família parada na porta,

A adolescente apontou para a casa da frente.

- ah, meu Deus! David! – exclamou a mulher e os dois observaram o olhar aterrorizado da mulher para a casa da frente.

A oficial e o homem encararam a residência apontada pela jovem, se surpreendendo ao verem um dos oficiais sair da casa, mancando e ensanguentado. Ele correu até a viatura, se permitindo cair ao lado da mesma. A mulher correu na direção do parceiro, o encontrando respirando com dificuldade, enquanto pressionava a coxa.

- Charlie! O que aconteceu?! – questionou a oficial, desesperada, já se dirigindo para a porta, em busca do kit de primeiros socorros.

- chama o FBI – ditou, desesperado.

- o quê?! O que aconteceu, Charlie? Cadê os outros? – questionava enquanto se preparava para enfaixar o ferimento do parceiro, de forma a pressionar a corrente sanguínea, impedindo o sangramento.

- Haley! – ralhou o oficial puxando a parceira pelo colarinho – CHAMA O FBI! ELES ESTÃO MORTOS! -  gritou antes de soltar a companheira e levar as mãos a cabeça.

- Duncan, Harold e Alfred estão mortos. O Daniel estava em outro quarto. Eu não sei se ele também morreu. Mas quanto mais eu entrava na casa, mais mortos eu via. E mais de nós morriam – relatou enquanto sentia os olhos ardendo.

Ele estava em pânico.

- eu vou ver se o Daniel está bem. Você relate tudo para a central – ditou enquanto se preparava para se erguer, mas Charlie agarrou a sua perna e não a soltou.

- você não vai lá! – ditou, desesperado.

- Charlie! O Daniel ainda pode estar vivo – argumentou a oficial, surpresa com o desespero do parceiro.

Charlie negou com a cabeça.

- Daniel estava no fim do corredor do andar de cima. Eu quase não saí vivo, Haley! Essa casa é uma armadilha. Cada cômodo tem um jeito de te matar – argumentou já com as lágrimas banhando o rosto.

Haley, surpresa, encarou a residência de porta aberta. E foi nesse momento em que o corpo de um Daniel ferido caiu no pé da escada, de frente para o corredor que dava para a porta da frente. Haley e Charlie o encararam, surpresos.

- vai. Vai. Vai – ordenou Charlie empurrando a parceira na direção da casa.

Haley não pensou duas vezes. Quando Charlie estendeu mão, em um pedido mudo de ajuda, ela já estava cruzando a porta da casa a passos rápidos. Ela notou o corpo do parceiro caído sobre um corpo morto pálido, indicando que já estava há algum tempo naquele estado

- Calma, Dani-boy. A gente vai sair dessa casa – ela tenrou o acalmar enquanto se abaixava a sua frente.

Daniel se apoiou no chão com uma mão, enquanto que com a outra Haley o puxava para cima. A mão de Daniel afundou no chão e ele olhou aterrorizado para a mesma, vendo o buraco quadrado na madeira. Uma caixa de música que se encontrava sobre um altar na parede se abriu, e uma cabeça de coelho saltou para fora as mesma, balançando sobre a longa mola enquanto risos agudos e nasalados eram emitidos pela caixinha. A mulher parou o que fazia e apontou a arma para o coelho, surpresa.

- Haley... 

A mulher gritou, em pânico, quando lanças surgiram do chão de madeira, perfurando todo o corpo do oficial ferido. Uma das lanças atravessou o ombro, outra a sua garganta, quatro atravessaram o seu torso, e uma atravessou a sua boca, mantendo a sua cabeça erguida na direção da policial aterrorizada.

Haley cambaleou para trás, surpresa.

- HALEY! – ela pôde ouvir Charlie gritar por si.

Ao se virar, aterrorizada, a mulher se viu surpresa ao ver a porta se fechando, enquanto Charlie cambaleava em sua direção, na tentativa de impedir que a porta se fechasse.

A porta bateu.

 

Peter se sobressaltou no sofá quando ouviu o telefone tocar insistentemente. Ele franziu o cenho pelo incômodo que a luz do Sol gerava em seus olhos. Peter chegou tão cansado, que havia se esquecido completamente de fechar as cortinas. Ele estava muito cansado, mas, ao mesmo tempo, inquieto.

A conversa que tivera com Stiles fora perturbadora. Para muitos, poderia ter soado como um dialogo normal entre um agente federal e um assassino encarcerado. Mas para ele fora a lembrança do motivo pelo qual defendia aquele homem com unhas e dentes. Alice não passava de um subproduto de crimes anteriores aos seus próprios. Stiles era apenas mais uma vítima dentre tantas. A única diferença entre ele e as outras, era que ele era a cara estampada no cartaz de procurado.

O louro desligou o despertador, se segurando para não jogar o objeto do outro lado do apartamento.

O ambiente estava uma zona, como de costume. Ele não morava ali. Peter morava com a sua irmã Talia. O apartamento que ele ainda mantinha era apenas um jeito de manter o seu trabalho longe de sua querida irmã. O louro ae ergueu do sofá, se espreguiçando, tentando afastar o sono que insistia em tentar lhe abraçar mais uma vez.

Ao abaixar os braços, Peter encarou a parede a sua frente. Todo o caso Alice estava detalhado ali. Cada página de jornal, cada corte de cópias de documentos relatados ao governo sobre o caso, as fotos de cada vitima, as armas, as cenas do crime. Tudo. Tudo estava ali. Era de se admirar como um único caso preencheu duas paredes inteiras do seu apartamento, como uma pintura excêntrica pouco compreendida pelos amantes da arte e da arquitetura. Incialmente, o louro tentou usar quadros e murais. Mas, assim que preencheu o segundo mural, o homem abandonou a ideia e optou por usar as paredes do escritório.

Peter suspirou, passando as mãos pelos rostos e se dirigindo para a cozinha. Precisava de uma dose de cafeína para voltar a colocar a mente para trabalhar naquele caso. Ele, por vezes, se assustava quando parava para pensar no garoto e na mulher mascarada. Anos se passaram e, até hoje, nunca se soube nada sobre Alice e Branco. Era como se os dois fossem algum tipo de entidade divina. Vieram do nada. Não havia rastro nenhum. Sem pais, irmãos, registros escolares ou médicos. Não havia nada.

Após colocar a cafeteira para trabalhar e puxar um pacote de salgadinhos do armário de cima, o Tate voltou para o seu escritório. Ele voltou a analisar tudo que havia reunido, dando um foque maior nas fotos que possuía de Branco. O corpo pendurado pelas mãos pregadas na parede, como a imagem no crucifixo. A cabeça jogada ao chão, ainda presa a máscara exageradamente realista de coelho branco. Acima do corpo decapitado pendurado na parede, estava escrito “Tudo começou com você, e com você terminará”

- não terminou com você. Mas eu sei que começou – murmurou, pensativo, analisando bem a foto do cadáver na mesa de autópsia.

A mulher que originalmente se intitulava Branco há mais de uma década, a descon, era morena, possuía um rosto redondo, cabelos longos e levemente ondulados, queixo alongado. A sua máscara era uma cabeça de coelho em tamanho humano, feita com pele natural do animal que representava. Se fosse maior e mais redonda, com certeza se pareceria com aquelas máscaras de animadores de festa.

E então Peter olhou para as fotos que imprimira na noite anterior. Acima delas, escrito com letras garrafais suas, havia “Novo Branco?” nas fotos do homem mascarado envolvido no massacre na casa de shows de um líder da mafia. As reportagens estavam por todo os lugares, para o desespero de Peter. Sendo um Branco ou não, aquilo com certeza poderia mexer com a mente de Stiles.

Talia havia lhe mandado um link de uma reportagem sobre o massacre na casa de shows poucos minutos depois que ele havia saído do presídio em que Stiles, Isaac e Vernon estavam encarcerados, para o seu desespero. As imagens e detalhes da reportagem lhe causaram um ataque de pânico, o que o forçou a passar cerca de quarenta minutos apenas sentado no carro, agarrado com toda a força no volante do veículo, como se a qualquer momento fosse arrancar o instrumento do painel do veículo.

Não poderia haver outro Branco. Stiles deveria ser mantido em seu estado atual. O seu garoto deveria ser mantido no controle de seu corpo. Nenhuma de suas outras personalidades deveria alcançar o controle de seu corpo mais uma vez. Peter não fazia ideia do esforço que o castanho deveria estar fazendo para manter os outros longe do controle de seu corpo, mas sabia que não era o suficiente para isolá-los completamente. Stiles ainda podia os ouvir comentar, rir e atiçar sobre tudo, apesar de nunca poderem fazer nada propriamente dito.

Se Stiles voltasse a ser Alice por completo, se voltasse a sua vida de crimes, toda a vida de Peter desde que Alexander faleceu teria sido um completo fracasso.

Um frio percorreu a sua espinha.

“Uma pessoa controladora pode colocar um fim na sua paz ou em um relacionamento seu.”

Se Stiles podia ver o futuro em suas cartas de tarô, ou não, Peter não sabia dizer. Mas ele podia garantir, com veemência, que o maldito conseguia acertar fatos futuros com aquela brincadeira com as cartas.

Porque fazia completo sentido.

Um coelho Branco, segundo Alice quando criança, era alguém como ele, capaz de manipular as pessoas ao seu redor. E o surgimento de um novo Branco seria capaz de romper os laços entre Stiles e Peter. O louro sentia isso no fundo do seu ser.

E o pior é que Stiles tinha razão. Aquela máscara não parecia ser uma mera coincidência. Não fazia sentido. Não havia como Sebastian Crane, um homem tão simplório e egocêntrico, saber sobre Stiles estar trabalhando para o FBI. Não havia como alguém tão primitivo e bárbaro descobrir o caso em que estavam trabalhando e chegar até o culpado antes deles. Então, sim, Sebastian havia recebido ajuda. Mas de quem?

Sebastian Crane não era um maravilhano como Stiles.

Entretanto, Branco parecia ser.

Mas quem seria Branco?

Stiles alegava com confiança que não havia sobrevivido ninguém além dele. Não existia mais nenhum maravilhano. Ninguém do País das Maravilhas havia sobrevivido para contar a sua história.

Então quem poderia vestir o manto de Coelho Branco?

Alice e o País das Maravilhas eram praticamente um segredo de estado. Qualquer um que não fosse permitido, jamais conseguiria acesso aos relatórios e a ficha criminal de Stiles, mesmo que fosse um agente do FBI. Então que havia descoberto sobre o assassino? E como havia descoberto sobre?

O louro suspirou mais uma vez, cansado por não possuir nenhuma luz. Eram tantas perguntas para nenhuma resposta, apenas teorias. Teorias sem embasamento nenhum.

O seu celular tocou mais uma vez, lhe despertando de seus devaneios. O homem olhou para o aparelho, surpreso. Era o dia de folga de sua divisão. Como a estrutura da equipe era preocupante, todos recebiam o dia de folga simultaneamente, para que não houvesse riscos com os prisioneiros. Lydia não lhe ligaria para avisar de algum caso. Talia sabia que ele dormiria no apartamento, ele avisava sempre que o fazia. Ao acolher o aparelho em mãos, o homem franziu o cenho ao ler o nome que brilhava na tela.

- Peter falando -  ditou ao atender a chamada.

- está sentado? – a voz de Rafael era séria.

Ele estava preocupado.

- o que houve, Rafael? -

- Peter, Alan nos passou um caso interessante. E quer que você seja informado sobre ele – disse o McCall, deixando o Tate confuso.

- a minha divisão está de folga –

- não é a sua divisão. É apenas você –

- o que está acontecendo, Rafael?

- Peter... Achamos a casa dele – afirmou o agente McCall e o Tate franziu o cenho.

- a casa de quem? – inquiriu sem entender nada.

- Alice. Achamos a casa em que ele cresceu – respondeu o moreno com firmeza na voz e Peter sentiu o choque percorrer o seu corpo, o paralisando.

- Rafael... Você tem certeza? – perguntou com nervosismo na voz.

- eu estou no quarto dele, agora. Veja a foto que lhe mandei –


O celular do louro vibrou e o mesmo se apressou em abrir a imagem.

O seu queixo caiu, bem como o seu corpo sobre o sofá.

Era a imagem da criança de cabelos castanhos, cabelos curto, bem cortados, ao lado de um adolescente de cabelos castanhos bem penteados, uma mulher de longos cabelos castanhos os acolhia ao tocar os seus ombros com as mãos sorrindo para a câmera, enquanto um homem de cabelos castanhos, rosto quadrado e sorriso mínimo a abraça pelos ombros com um braço, enquanto que a mão do outro se encontrava apoiada no ombro do filho mais velho. A criança mantinha o sorriso mínimo do pai, enquanto o adolescente vestia o sorriso largo da mãe.

Apesar de pouca diferença de idade e da aparência, para Peter, Rafael e Chris, era óbvia a semelhança. 

Aquela criança pequena era, sem dúvida alguma, a mesma criança que eles interrogaram anos atrás.

Aquele garoto mais novo de cabelos curtos bem penteados era a mesma criança de cabelos longos que os perturbava.

Aquela era a família de Stiles.

 

 

Chapter 54: House

Chapter Text

Peter estacionou o carro na frente da casa cercada por veículos. Os vizinhos cercavam as faixas de “afaste-se”, movidos pela curiosidade. Ele não os julgava. Não era todo dia que uma casa de um bairro classe média era cercada por várias viaturas da polícia, FBI, ambulâncias e bombeiros. As suas mãos tremiam quando ele as cerrou entorno do volante. Estava mais do que nervoso. Estava em pânico. Passara tanto tempo perseguindo o passado de Stiles com tanta dedicação e veemência. Mas, agora que se encontrava diante do mesmo, ele estava paralisado de medo.

Ele estava suando, mesmo com o ar-condicionado do carro funcionando no máximo. Caso alguém perguntasse, ele diria que era efeito do café que veio tomando pelo caminho. Mas qualquer mente minimamente analista e conhecedora dos fatos saberia que ele estava suando frio e tremendo de medo. As suas pernas tremiam, as suas mãos tremiam, os seus labios tremiam.

Respirando fundo e tentando, ao máximo se recompor, o homem tratou de controlar as mãos e os lábios. Mas as pernas ainda falhavam. Ele ergueu o olhar para a casa, observando alguns peritos criminais se retirarem do ambiente. Um deles estava com a mão sobre o ombro, que sangrava feio ao ponto de pingar pelo percurso que fazia.

Aquilo o preocupou.

O que diabos estava acontecendo naquela casa?!

Agora que havia parado para prestar atenção. Haviam muitos cadáveres velados em sacos de óbito. Ele conseguia contar pelo menos quinze na frente da casa. Ao lado do homem que fazia anotações e fotografava os sacos de óbito, estavam a dupla de agentes que lhe informaram da descoberta. Chris estava com um bloco de notas em mão, enquanto Rafael analisava um objeto, provavelmente encontrado na casa ou com um dos cadáveres.

Ele desceu do carro, movido por sua curiosidade, e se aproximou. Rafael cutucou Chris, que ainda anotava algo, e apontou para Peter com o indicador. O Argent moveu o olhar, observando o louro se aproximar com as mãos nos bolsos e o olhar fixo na casa. O agente de cabelos parcialmente grisalhos retirou um par de luvas do bolso do paletó e ofereceu ao Tate. Peter o vestiu com agilidade.

- e aí? O que encontraram até agora? – indagou, curioso, observando mais um corpo ser retirado da casa em um saco.

- é mais fácil perguntar o que não encontramos – respondeu Rafael apontando para uma pilha de caixas com provas armazenadas em caixas empilhadas em um furgão.

- Alan e os outros ordenaram que revirássemos essa casa de ponta a cabeça -

- foram dezesseis corpos dentro da casa. Alguns apenas em ossos. Outros bem recentes. Pelas roupas e pertences, com certeza ladrões ou drogados querendo usar a casa como ponto seguro para ficarem chapados – informou Chris olhando para o bloco de notas.

- e por que as ambulâncias e os bombeiros? – questionou apontando para os veículos e os profissionais que se encontravam de prontidão ao lado dos automóveis.

- a casa parece ter saída dos Jogos Mortais, Peter. Está repleta de armadilhas. E esses cadáveres são prova de que estão funcionando perfeitamente – respondeu Rafael apontando para a residência muito bem conservada por fora.

Nisso, mais uma perito saiu com um braço enfaixado.

Peter engoliu em seco.

- como encontraram esse lugar? – perguntou, curioso, observando a milher que acabou de sair com o braço enfaixado, exibir o ferimento aos paramédicos.

O louro não pode deixar de notar o longo e profundo corte que subia de seu pulso até o cotovelo.

- um grupo de oficiais veio conferir uma denúncia anônima. A denúncia segundo a polícia, afirmava que um casal estava discutindo e causando desordem, assustando os vizinhos –

- em seguida, receberam um pedido de socorro de dois oficiais que estavam nas redondezas. Eles informaram que o homem estava armado e disparando contra eles, junto do filho –

- então mandaram mais seis policiais –

- todos morreram? – inquiriu Peter vendo a dupla negar com a cabeça.

- encontramos seis cadáveres com a farda e distintivos da polícia local –

- os dois oficiais que pediram reforços e quatro dos que eram o reforço –

- todos mortos por armadilhas? -

Rafael confirmou com a cabeça, após um suspiro cansado.

- mas dois oficiais que faziam parte do grupo de reforço sobreviveram. O homem está no hospital. Uma das armadilhas quase decepou a sua perna. Mas a mulher está a nossa disposição para qualquer pergunta – disse Chris apontando para a oficial sentada na calçada ao lado de uma das viaturas.

Ela encarava o ambiente com pavor. Mais tarde ela teria ataques de pânico ao se recordar do ocorrido. O trauma lhe perseguiria por alguns anos.

- as armadilhas ainda não foram desarmadas? – questionou o Tate voltando a olhar para a casa.

- não. Não todas. Algumas foram desarmadas por possuírem um número limite de ativações –

- como a armadilha do corredor que matou uma vítima que encontramos já decomposta. Era um fio amarrado em gatilhos de espingardas que estavam apontadas na altura da cabeça de um adulto de altura mediana. Quando a pessoa pisou no fio, o seu crânio se espalhou como confetes – explicou Rafael vendo o louro lhe fitar com certo temor.

- e... Essa é mesmo a casa dele? –

Rafael abriu a boca, mas Chris o cortou.

- me diga o que concluiu quando terminar de analisar a casa –

- ela está bem cuidada, pelo menos externamente. É muito provável que não seja – o louro não surpreendeu a dupla com a sua capacidade analítica.

Mas algo os incomodou em suas palavras.

- muito provável? – repetiu Rafael, curioso.

Peter negou com a cabeça.

- você acha que tem alguém por aí esperando por ele, Peter? Cuidando das coisas dele enquanto está fora? – indagou Chris, desconfiado.

Peter suspirou.

Se aquela casa era tão perigosa assim, ele não poderia manter aquela probabilidade apenas para si. Não agora que mais agentes estavam envolvidos. Não agora que mais vítimas foram feitas usando o nome de Alice.

- existe a chance... De alguém estar vestindo o manto de Coelho Branco –

A dupla franziu o cenho.

- manto? –

- Coelho Branco? –

- a última vítima de dez anos atrás –

Os dois homens engoliram em seco.

- você tem certeza disso? –

- Sebastian Crane, o criminoso assassinado por Alice, recentemente, falou que um coelho branco havia lhe contado sobre Stiles –

- mas aquele homem era um lunático, Peter. Não se pode...

- um assassino com máscara de coelho foi visto por câmeras há alguns dias. Ele é o principal suspeito por um massacre de chefes da máfia. Está em vários sotes de notícias e em jornais – explicou o Tate antes de voltar a caminhar na direção da casa.

Rafael passou a procurar por notícias recentes sobre crimes, enquanto a dupla seguia o louro.  Não demorou para que ele encontrasse links que comprovavam as palavras do agente Tate.

- então acha que esse novo Branco pode estar relacionado com essa casa? –

- isso é um fato, Chris. Não uma teoria – respondeu o louro já adentrando a casa.

O choque de pânico em seu corpo voltou a lhe atormentar, mas a curiosidade e o seu senso de dever lhe movia pelo corredor principal, analisando as paredes, os quadros e toda a ambientação.

- a casa está muito bem conservada, apesar da poeira acumulada – comentou Peter passando o dedo pela parede e analisando as marcas de pés deixadas no chão por todos que ali entraram.

- uma denúncia anônima, pedido de reforço vindo de policiais que foram mortos. Polícia sendo assassinada. Uma casa completamente fora do comum com itens mortais – o louro passou a citar os fatos, antes de se aproximar da escada e, olhando bem para um quadrado marcado pelos peritos no chão, a ativar a armadilha propositalmente, observando as lanças saírem do solo, manchadas de sangue seco.

- isso fora o grande “chame o FBI” escrito em uma das paredes do andar de cima – pontuou Rafael e Peter o encarou por sobre os ombros, antes de voltar a olhar para o ambiente, retirando o pé do piso que ativa a armadilha.

- ele queria que o FBI encontrasse essa casa. Mas por quê? Por que agora? E por que o pedido pelo FBI na parede? Achariam essa casa mais cedo ou mais tarde pelos relatos da polícia, fora as baixas que ocorreriam com as mortes dos oficiais que tentassem analisar essa casa sozinhos –

A sala era comum de uma casa de classe média. Uma televisão pequena na sala, diante do sofá de três lugares, que se encontrava de frente para o aparelho. Ao lado do sofá estava um pequeno criado onde havia um abajur. Ao lado do criado estava uma poltrona, que se encontrava de frente para a mesa de centro diante do sofá.

Os retratos espalhados como decoração demonstravam o tipo de hobby de cada membro da casa. O pai gostava de carros, a mãe de floricultura, o filho mais velho era fã de beisebol, e Stiles...

- não há fotos dele - murmurou Peter, curioso.

- de quem? –

- Alice. Não há fotos dele da sala. Não com um hobby. O pai gosta de carros, a mãe de flores, o irmão de esportes. E há várias fotos deles com seus hobbys. Mas nenhuma de Alice – concluiu olhando ao redor, e os dois agentes repetiram o seu ato.

- é verdade. Na sala não tem. Mas tem no quarto –

- talvez ele não tenha desenvolvido o hobby dele, ainda – pensou Chris notando que as únicas fotos de Alice na sala, eram em fotos de família.

Peter seguiu para a cozinha.

Cada cadeira da mesa redonda possuía um prato a sua frente. Os pratos estavam virados para baixo, com os talheres ao lado.

- há quatro pratos –

- Peter – chamou Rafael, com uma voz pesarosa.

O louro o encarou e o moreno apontou para o chão, ao lado da geladeira. O Tate seguiu o olhar para o ponto em questão. O seu peito apertou e os olhos arderam instantaneamente. No canto da cozinha, estava um pequeno caco metálico com o nome Alice escrito com marcador de quadro sobre uma fita adesiva. Imaginar aquela criança comendo sabe-se lá o que abaixada naquela coisa, enquanto sua família estava farta de bolo de carne e pizza fazia o seu sangue ferver.

- mas... E o quarto prato? – inquiriu Chris e os três se voltaram para a mesa, curiosos.

- já sabem alguma coisa sobre os donos da casa? –

- sim e não. Segundo os documentos, essa casa está no nome de duas pessoas –

- e quem são? –

- Peter Tate e Alan Deaton – respondeu Chris observando o louro lhe fitar, perplexo.

- como?! –

Como resposta, Chris apenas mostrou as cópias dos documentos que possuía.

- o nosso analista, Matt, puxou os documentos da casa. E ela está registrada no nome do Deaton e no seu – ditou Rafael encarando o louro franzir o cenho.

- mas o que ele quer com isso? – murmurou o Tate, analisando os documentos em suas mãos.

- agentes? – uma mulher chamou por Rafael e Chris, se surpreendendo quando três agentes federais se viraram em sua direção.

- sim? – Chris respondeu ao chamado da cientista forense.

- vocês precisam ver isso – disse a mulher, os chamando com a mão, antes de os guiar para fora da casa.

Ao chegarem nos fundos da casa, ao três agentes estranharam o enorme buraco cavado pelos cientistas forenses. A maioria estava abaixada ao redor, enquanto três estavam dentro do buraco, usando de pincéis para retirar a terra de algo.

- o que estão procurando? – indagou Rafael, curioso.

- nós achamos os donos da casa – respondeu a mulher e logo eles alcançaram o buraco, encontrando quatro corpos completamente decompostos, restando apenas os ossos.

- vocês tem certeza? – indagou Chris, surpreso.

- são um homem adulto, uma mulher adulta e duas crianças do sexo masculino de idades diferentes –

- o mais velho deveria ter uns treze para quinze anos quando foi morto. Já o mais novo, ainda tinha entre nove e onze anos quando aconteceu – explicou um dos cientistas, se erguendo do buraco.

- quatro corpos... Quatro pratos – murmurou Peter, pensativo.

- não faz sentido. A foto de família tem quatro pessoas, contando com Alice. Então... Quem é a quinta pessoa? – inquiriu Chris, perdido.

- pai, mãe, o filho mais velho e o caçula. Realmente não faz sentido – ditou Rafael contabilizando os corpos.

- é porque não é “O caçula”, e sim “um caçula” – respondeu Peter chamando a atenção de todos.

- eram três filhos. O mais velho e gêmeos – explicou antes de Chris e Rafael se focarem no esqueleto de menor tamanho

- está me dizendo que...

- o quarto prato na mesa e o quarto que você viu no andar de cima eram do irmão gêmeo do Stiles. A mesma criança na foto de família –

- essa é a casa dele – murmurou Peter, abaixando a cabeça e cobrindo o rosto com as mãos.

- Peter, você não precisa ficar aqui se não quiser. A gente dá conta – disse Chris apertando o ombro do louro.

- não. Eu vou ficar. Eu só... Não esperava por isso, sabe? Eu sabia que era pesado. Eu sabia que o passado de Alice era duro... Eu fazia uma ideia. Mas isso?! Isso...

- Alice... A cachorra? – indagou a cientista, confusa, apontando para um canto do quintal.

Os agentes seguiram a direção citada com o olhar, encontrando uma pequena casinha de madeira, ao lado da cama elástica armada no quintal. Peter perdeu a voz. Se erguendo, ele agarrou uma das pás utilizadas para a escavação e avançou contra a pequena residência de madeira com o nome Alice acima da portinha, escrita com letras tortas. Rafael segurou o agente descontrolado, o imobilizando pelas costas.

- Peter! – repreendeu o McCall tentando acalmar o louro.

- Peter, eu sei que você está furioso. Eu entendo. Era uma criança. Estamos todos perturbados com isso. Mas você não pode esquecer que, agora, são evidências. Você não pode destruir elas –

- uma criança?! – inquiriu a cientista, perplexa.

- assunto confidencial – repreendeu Rafael, antes de sussurrar contra o ouvido do agente Tate – acalme-se! Temos que investigar a casa sem fazer alarde sobre o garoto! –

Peter rosnou de raiva, antes de começar a tentar se acalmar. Quando Rafael o soltou, o louro abaixou a pá, a largando no gramado, antes de passar a marchar na direção da casa.

- o que vai fazer? – inquiriu Chris seguindo o colega de trabalho.

- continuar a investigar a casa – respondeu já alcançando a porta.

O trio seguiu para o andar de cima, tomando cuidado ao passar pela armadilha que matou o oficial Daniel. Para a surpresa de Peter, havia outra marcação no segundo lance de escadas. Uma segunda armadilha. Um pedaço do centro de um degrau em específico a ativava, fazendo as mesmas lanças da armadilha anterior surgirem da parede.

- mas o que é essa casa? – inquiriu Peter, assombrado.

- ali – ditou Rafael apontando para o arco que dividia o corredor do andar de cima ao meio – naquele arco haviam espingardas apontadas para o chão, de modo que todos os disparos acertassem a cabeça de quem ativasse a armadilha –

Peter notou o tanto que o ambiente ao redor do arco era pintado de manchas vermelhas alteradas pelo tempo.

- de uma brutalidade inigualável – comentou Chris e Peter conseguiu mentalizar bem a armadilha em funcionamento.

- o quarto do mais velho é o primeiro a direita – informou o McCall já abrindo a porta.

Um quarto comum de um adolescente comum. Esse era o ambiente que Peter havia encontrado diante de si. Pôsteres de esportes espalhados pelas paredes, livros e cadernos na escrivaninha, junto de boletins empilhados em um espeto para papel.

Peter se aproximou da escrivaninha, enquanto observava a cama e o guarda-roupa. Ele analisou os livros e folheou os cadernos. Eram apenas livros de escola. Livros muito antigos. E cadernos com poucas anotações e alguns desenhos de esportes e mulheres, ou algo que deveriam ser esses dois. Os boletins informavam que aquele adolescente realmente preferia ser atleta a um estudioso. Suas notas estavam sempre na média necessária para ser parte do time da escola, nunca abaixo, e muito menos acima do necessário.

- Nyckolay Augustus Stilinski – murmurou o nome descrito nos boletins.

- temos boletins do irmão gêmeo de Alice? – questionou, curioso e esperançoso.

- sim –

- assim podemos descobrir o seu nome verdadeiro. Alguns gêmeos tem nomes parecidos - confessou Rafael, esperançoso.

- ou não. Está óbvio que os pais não o queriam. Eles queriam um filho, mas vieram dois. Então descartaram o que acharam mais conveniente. Mas por que ele? Qual foi o critério que escolheram? – inquiriu observando as marcações feitas pelos peritos, indicando as armadilhas do cômodo.

Chris e Rafael se entreolharam, pensativos.

O interruptor do quarto estava cercado por fita. Um pobre homem descobriu da pior maneira que não era a luz que ele ligava, mas sim um chuveiro embutido no teto, que fazia chover ácido em quem invertesse o interruptor. No guarda-roupa, estava marcada as duas portas com a fita. Um dos forenses saiu de lá sendo carregado, após quase morrer eletrocutado pelos puxadores do móvel. A cama indicava um jeito único de fechar os olhos para sempre. Várias agulhas tão grossas quanto pregos, ligadas a mangueiras, injetariam veneno de cobra no interior da vítima, veneno este que possuía um teor tão ácido que iria corroer o corpo dentro para fora. Na janela do quarto, havia marcas de tiro no chão. Na cadeira da escrivaninha, uma lâmina de largura curiosa desceria do teto, abrindo a vítima ao meio.

- o gênio por trás dessas armadilhas tem uma criatividade perturbadora! – exclamou o Tate, admirado.

- você quer saber o critério que escolheram? Então venha ver – disse Rafael chamando o homem com a cabeça, antes se seguir pelo corredor.

- cuidado com essa parte do chão – ditou ao passar pelo  banheiro, que ainda era analisado por um forense.

A marca no chão desenhava um retângulo perfeito onde o pé de Peter afundaria caso não tivesse atento a cada armadilha na casa.

- e o que essa faz? – questionou Peter, curioso.

Rafael se afastou um passo, os empurrando para trás.

- isso – respondeu pisando na área marcada, com o corpo inclinado para trás.

Peter encarou, perplexo, um machado digno de cenário de cinema de Hollywood cortar o corredor de um lado ao outro. O louro observou o McCall se erguer devidamente após retirar o pé de armadilha, antes de seguir até a próxima porta.

-- esse foi o critério que usaram na hora de escolher entre os gêmeos – ditou apontando para o interior do quarto.

Peter alcançou a porta e franziu o cenho.

Ele via um quarto comum de criança. Brinquedos espalhados pelo chão e prateleiras. Uma escrivaninha simplória, como a do quarto do irmão mais velho. A casa era bem decorada, mas quando se parava para analisar bem, ficava evidente que a família não possuía a melhor situação financeira do mundo. Mas quando analisou melhor os livros da escrivaninha e da estante do outro lado do quarto, de fronte a porta, o Tate compreendeu o que Rafael queria dizer.

Os livros escolares e os romances não eram leituras comuns para uma criança de nove ou onze anos. Os livros escolares eram os de dois anos a frente dos do irmão mais velho. Os boletins confirmavam que o mais novo também estava algumas séries a frente do irmão mais velho. E os romances... eram literaturas complexas, com críticas sociais e linguajar que com certeza uma criança não entenderia. Poucos adolescentes e adultos entendiam. Como poderia uma criança comum?

- eles escolheram o mais inteligente – comentou Chris vendo Peter encarar os boletins preenchidos apenas com notas máximas.

- ou o que eles pensavam ser o mais inteligente. Claramente ambos os irmãos mais novos possuíam um intelecto de dar inveja. Mas por algum motivo, esse garoto chamou a atenção dos pais – comentou Rafael.

- tempo. Foi o tempo. As crianças, mesmo entre gêmeos, possuem o seu tempo. Esse garoto demonstrou a sua inteligência antes de Alice. Por isso foi o escolhido – explicou Peter abaixando o olhar para o boletim em sua mão, mais uma vez.

- M-mi... Miec... Que raios de nome é esse? – questionou franzindo o cenho – Mieczyslay Genim Stilinski -

- segundo Matt, o nome é uma variante de um nome eslavo, que significa Espada da Glória – ditou o Argent analisando a informação anotada em seu bloco de notas.

- interessante – murmurou o Tate voltando a analisar o quarto - e quais são as armadilhas deste cômodo? –

- a porta, quando se tentar abrir de dentro, libera um anestésico gasoso. A janela dá choque quando se tenta abrir de mãos vazias. A caixinha de música atira, as pistolas de brinquedo, na verdade são reais -

- mas que porra de casa é essa?! – murmurou o agente Tate, perplexo.

- o quarto dos país é um frigorífico mobiliado. Quando a porta fecha, ela se tranca e começa a baixar a temperatura. Tanto o quarto dos pais quanto este quarto possuem janelas a prova de balas –

No quarto dos pais, eles não encontraram nada demais. Quem não tinha um olhar analítico e treinado, como os deles, jamais perceberia os sinais existentes naquele ambiente. Foi questão de segundos para Peter saber que o casamento ia mal. Entretanto, aquilo poderia ser, muito bem, uma armadilha plantada para os seus olhares analíticos.

- toda essa casa parece ser uma total perda de tempo – murmurou Peter enquanto eles saiam do quarto.

- nem me fale. Tudo aqui parece gritar que é uma informação falsa. Plantada. Mas é a única coisa que temos em anos – comentou Rafael enquanto liderava o caminho.

- e com isso revistamos a casa toda – ditou Chris, com um suspiro – espero que consigamos mais do que o esperado com isso tudo. Sendo que o esperado é bem pouco -

Peter encarou um quadro na parede. Na foto, a família de quatro membros pousava diante da casa. A mulher sorria largo, bem como o filho mais velho. O homem a abraçava pelos ombros, enquanto o garoto encarava a câmera com seriedade. Nas mãos da criança, havia um pedaço de papel com um desenho feito com giz de cera. Algo naquela foto lhe intrigava. O louro decidiu retornar ao quarto de Mieczyslay, se focando na escrivaninha do mesmo. Sobre um peso de papel, haviam vários desenhos. Com cuidado, o Tate retirou o peso, e puxou os papeis para si. Folheando cada desenho com exímia atenção, ele ia analisando a pilha de artes infantis. Os dois agentes não demoraram em notar a sua ausência e surgiram na porta.

- não entre nos cômodos sozinho, Peter. Você pode ativar alguma armadilha! – repreendeu Rafael, preocupado.

- aqui – murmurou o louro puxando uma folha para mais perto.

- o quê? –

- ainda há mais um cômodo – ditou o louro virando o desenho para os amigos de profissão.

No desenho, era possível ver quatro corpos diante de uma casa. Era a representação da foto no corredor. No entanto, no telhado triangular da casa, em seu interior, havia um quinto corpo. A dupla franziu o cenho, observando Peter engolir em seco.

- o sótão – murmurou Chris, surpreso.

- essa casa tem um sótão?! –

- deve ter. O telhado é alto demais para uma casa sem sótão –

Eles seguiram para o corredor, onde, no final do mesmo, logo após a porta do quarto dos pais de Alice, puderam ver um relevo no teto, indicando a existência de um sótão. Peter saltou, alcançando a cordinha que estava colada a entrada com uma figa adesiva transparente. Ao abaixar a portinha, a escada desceu. Mas não uma escada comum. Uma escada de ferro, com as pontas afiadas o suficiente para perfurar os pés de quem se posicionasse de forma desatenta. Com cautela, os três subiram os degraus, encontrando o que, inicialmente, aparentava ser um sótão comum.

E então eles olharam com atenção.

- as armadilhas – murmurou Rafael, encarando todos os utensílios ali presentes.

Lâminas devidamente armadas, compartimentos com ácido e outros químicos. Grande parte dos sistemas de armadilhas do andar de cima se encontrava ali. Usando de lanternas para iluminar o caminho, trio avançou pelo local com exímia segurança, sempre atentos para qualquer parte do chão que pudesse afundar, ou fios espalhados pelo lugar.

- está quase tudo aqui – murmurou o Argent, perplexo, admirando a engenhosidade do local.

Todas as roldanas, cabos, alavancas e compartimento de químicos e armamentos. Tudo extremamente bem posicionado e em perfeito funcionamento. O McCall e o Argent se perderam observando os sistemas das armadilhas, analisando cada detalhe com atenção. Eles chamaram pelos forenses, que passaram a fotografar o local, enquanto o analisavam. Peter seguiu pelo ambiente, fascinado com o que se encontrava no final.

Uma estrutura similar a um pilar de sustentação de estilo antigo se encontrava no centro do final do percurso entre as armadilhas. Ao se aproximar, ele se surpreendeu com um tabuleiro de xadrez com um jogo em sua reta final. O louro chamou um dos forenses com a mão, assobiando, e pediu que fotografasse o tabuleiro. Então ele ergueu o olhar, se surpreendendo com o que viu.

- isso é...

- todas essas fotos – murmurou Peter, perplexo.

Todas as paredes a sua frente estavam repletas com fotos. Fotos de Stiles. Várias fotos. Alice criança, Alice adulto. Fotos suas. Fotos de Allison, de Scott, Isaac, Lydia, Vernon, Derek, Erica. Todos eles estavam em várias fotos. Sejam fotos juntos ou separadas. Fotos em trabalho ou em lazer. Havia fotos de Rafael, Chris, Gerard, Alan Deaton, Marin Morell. Todos eles. Todos os que já investigaram Alice e todos com quem ele trabalhava, agora. Aquela pessoa realmente possuía uma fixação anormal com o assassino.

- mas o que é isso?! – indagou o agente McCall, perplexo, observando fotos suas e de seu filho penduradas na parede ao lado do guarda-roupa.

Chris se aproximou de uma foto de Allison. A morena estava de óculos escuros, com um kindle na mão enquanto desfilava pelo shopping em seu dia de folga. Acima, havia uma foto da mulher ao lado de Isaac, batendo em uma porta. Em outra, ela e Derek se encontravam lado a lado, enquanto acompanhavam Vernon e Erica em um ambiente aberto.

- mas quem foi que fez isso?! – murmurou, perplexo, arrancando uma foto em que se encontrava ao lado de uma mulher de canelos escuros.

- esse cara tem muito tempo livre – murmurou o forense, fotografando as paredes e as fotos.

Admirando as fotos, Peter notou, em seu campo de visão, algo refletir o flash da câmera. O homem franziu o cenho. Havia uma grade de madeira, no final do percurso de fotografias. Uma grade de madeira simples, que com certeza não deveria estar ali. Peter pediu para que o forense fotografasse e, mais uma vez, o flash fora refletido.

- tem algo aí – ditou o homem com a câmera observando o agente Tate empurrar a grade para o lado.

Os olhos se arregalaram e a garganta de Peter se fechou.

Ao encarar as correntes presas a parede sobre o colchão velho e mofado, o Tate sentiu um aperto no peito. Nos relatórios de Derek e Scott sobre o caso de Kara Mackson, havia o mesmo relato: o prisioneiro Alice convenceu a vítima a relatar os abusos que sofria do pai ao dizer a mesma que também sofria abusos do pai. Usou das marcas em seus pulsos para a convencer de que era algemado e forçado a satisfazer o desejos do pai.

O louro sentiu vontade de vomitar.

As algemas possuíam resquícios de sangue seco. O colchão possuía resquícios de sangue e manchas que, muito provavelmente, seriam provenientes de urina e vômito. Ao lado do colchão seco, havia um balde metálico velho. Do outro lado do colchão, um prato metálico todo riscado e amassado e uma caneca também metálica com vários amassados e a asa quebrada. Sobre o colchão mofado, enrolada nas correntes das algemas, estava uma boneca velha de pano, com um dos olhos pendurado por fios, e o outro era apenas um furo por onde escapava a espuma que preenchia os entalhos de pano velho e manchado do horrível brinquedo.

Peter se abaixou, se apoiando nos joelhos, segurando a ânsia que havia se agravado e o choro que lutava para rolar de seus olhos. Por um breve momento, ele ergueu a cabeça, e pôde ver, perfeitamente, a criança que interrogara, ali, algemada, sem conseguir se mover devido a fraqueza que sentia, lhe encarando com um olhar vazio, perdido. Um olhar morto. Pois era isso que o Peter conseguia imaginar de alguém que vivia ali: uma pessoa morta por dentro.

- qual é a do xadrez? – questionou o forense, fotografando o tabuleiro.

Ele não entendia porque um tabuleiro de xadrez estaria em um ornamento tão bonito, mas em um ambiente tão sombrio e podre. O homem moveu a mão até as peças. Foi nesse momento em que Peter se virou e o viu tocando no rei preto. O agente Tate quase sentiu a morte lhe abraçando.

- NÃO TOQUE! – repreendeu o agente, exasperado, chamando a atenção dos outros agentes.

- não sai. A peça está fixa -disse o cientista voltando a fotografar a peça, agora com foco em sua base presa a casa em que se encontrava.

- presa? –

- sim. Eu não consegui mexer –

Peter analisou o tabuleiro com calma.

- falta um movimento para o xeque mate – murmurou pensativo.

- ele quer que alguém finalize o jogo – murmurou o Tate tocando sutilmente na rainha que deveria realizar a finalização do jogo.

Ela se mexeu brevemente. Era pesada, mas móvel.

-se afaste – ordenou Peter e o cientista forense, rapidamente, o obedeceu.

- Peter, o que você está fazendo?! – repreendeu Chris antes de Peter realizar a jogada.

A peça afundou na casa, a empurrando para baixo. O louro ouviu as portas do guarda-roupa atrás de si se abrirem. Os quatro se viraram na direção do móvel, esperando por uma armadilha. Mas as duas orbes vermelhas brilhantes os assustaram mais do que qualquer lâmina. O cientista forense se afastou, surpreso, deixando o queixo cair.

- agora você vê? – a voz modificada da máscara surpreendeu o louro, que franziu o cenho, confuso.

- quem é você? – questionou o cientista forense, usando a lanterna no guarda-roupa, iluminando um estranho rosto de coelho

- vocês sabem o meu nome  - ditou o mascarado antes de erguer a mão, com um movimento rígido de braço.

Logo os quatro sentiram um leve tremor no chão em seus pés, devido a madeira um tanto velha e frágil do velho sótão. Nos andares de baixo, todas as portas e janelas foram fechadas por chapas metálicas grossas que surgiram das paredes, bloqueando o caminho, deixando todos que se encontravam no interior da casa assustados. O peito de Peter se apertou em raiva e temor, enquanto Chris e Rafael eram puro pânico. Os três conheciam muito bem alguém com terno branco impecável e máscara de coelho branco.

- Branco – murmurou Peter ouvindo o outro gargalhar com a voz eletrônica.

- cavalheiros – o mascarado os cumprimento com um leve inclinar de cabeça para baixo, em uma reverência





Kira estava sentada em sua escrivaninha, encarando o notebook a sua frente com exímia atenção.  Ela estava analisando tudo o que havia conseguido juntar sobre a mãe. Tudo o que ela nunca soube por ela devido a idade. Sobre a sua mãe, haviam várias páginas de documentos. Mas o outro arquivo aberto mostrava apenas 5 páginas, contando com várias fotografias.

Aquilo lhe frustrava.

Seu arquivo intitulado “Alices” era quase inútil.

Mais de uma década se passou e ela não conseguiu, se quer, descobrir quem eram os outros três naipes e as suas cartas. Ela apenas sabia que sua mãe, Noshiko Yukimura, recebera o título de Valete de Espadas. Como e de quem ela recebera esse título? Kira não sabia.

Agora, já crescida, ela conseguia entender o porquê de seu pai sempre se irritar quando, em discussões com sua mãe, quando ela falava sobre “O País das Maravilhas” como algo do qual ele não fazia parte ou entenderia. Como um mundo escondido nas sombras do mundo que conheciam. Era como se realmente fosse um mundo totalmente diferente. Não havia citações, especulações ou qualquer tipo de informação em lugar algum da internet.

E a Yukimura fora atrás de informações em todos.

Desde pesquisas e notícias no Google, até os confins da Deepweb.

Em seu arquivo sobre Alices haviam apenas fotos de sua mãe e da carta de baralho deixada em seu cadáver, indicando o seu título. Fotos dos outros naipes e meras especulações sobre o mundo em que aua mãe vivia e no quanto ele era difícil de encontrar.

Kira suspirou, derrotada, antes de desviar o olhar para a carta ao lado do mouse.

Um Valete de Espadas de verso escuro com a noite, com o nome Alice escrito com sangue em uma grafia redonda e alinhada.

- letra de garota... Como a dela – murmurou, se recordando da silhueta da criança que havia assassinado a sua mãe

Por um momento, um breve momento, Kira pôde ver o seu rosto mais uma vez. Os lábios finos com um coração desenhado sobre eles com batom e gloss brilhante. Os olhos vazios e uma serenidade sem igual. Uma serenidade que ela havia visto apenas no olhar de sua mãe. A serenidade de uma Alice após abater o seu alvo.

A voz jovial ecoou em sua mente, fazendo o seu ódio voltar a crescer em seu peito.

Ela agarrou a carta com velocidade e a levou até o seu campo de visão. A sua vontade era de rasgar aquela peça de brinquedo. Mas ela sabia que não deveria. Apesar da raiva a consumindo aos poucos, ela conseguia manter aquele mínimo de autocontrole. Ainda furiosa, ela jogou a carta no chão, a fazendo escorregar para debaixo de sua cama.

Suspirando, em derrota, a morena abaixou a cabeça, a apoiando no teclado do computador, enquanto puxava as pontas de seus fios longos para baixo. Ela não conseguia evitar sentir uma vontade extrema de se punir. Ela se sentia tão inútil. Havia jurado vingar a morte de sua mãe, mas ela era incapaz de conseguir qualquer rastro que seja do responsável pelo final trágico daquela noite.

- eu sinto muito, mãe. Mas eu não consigo – murmurou, derrotada, sentindo as lágrimas começarem a surgir em seus olhos.

- eu não sou forte como você queria que eu fosse – sussurrou com os lábios trêmulos e o peito apertado com o choro crescente.

Ela passou alguns bons minutos ali, apenas chorando. Ela ergueu a cabeça, encarando a imagem da mãe em seu computador, o que apenas fez o seu choro se intensificar. A jovem mulher deslizou a ponta dos dedos pelo rosto redondo de olhar severo de sua mãe, antes de se assustar com as batidas na porta de seu quarto.

Com velocidade, ela enxugou as lagrimas, e coçou a garganta para normalizar o seu tom de voz.

- sim? – respondeu girando o rosto para encarar a porta de canto de olho, observando um par de sombras sob a fresta da porta.

- senhorita, o seu pai me mandou trazer alguns aperitivos para você. Os seus favoritos – a voz de Natsume soou abafada pela porta.

Kira crispou os lábios, irritada.

- não estou com fome! – ralhou imediatamente.

- são um pedido de desculpas do seu pai. Ele está preocupado. A senhorita não saí do quarto há dois dias –

- não me importa, Natsume. Eu não quero nada! – voltou a ralhar voltando a encarar a tela de seu computador.

- certo. Eu vou guardar para quando sentir fome. Tudo bem? –

Nenhuma resposta veio. A mulher apenas suspirou e se retirou do corredor.

Kira se ergueu, frustrada, jogando uma kunai que se encontrava sobre a escrivaninha no alvo de madeira que se encontrava em sua porta, acertando o alvo entre duas lâminas que já se encontravam penduradas ali. Ela estava possessa. Se, ao menos, tivesse tido a chance de interrogar o homem chamado Toshiro antes de o seu pai o matar, talvez tivesse arrancado alguma pista. Algo útil. Mas não. O seu pai liquidou o homem antes que ela tivesse qualquer chance.

Ela encarou a própria cama, furiosa. Se recordando de que a carta que era a sua única pista, agora, se encontrava debaixo do móvel. Suspirando, ela se aproximou e se abaixou para pegar o Valete de Espadas. Quando ela o alcançou e o girou nos dedos, se surpreendeu. Recolhendo a carta com velocidade, ela se ergueu e correu até o interruptor, apagando a luz.

A tinta neon logo brilhou na escuridão do ambiente, ao mesmo tempo em que a voz de sua mãe ecoava em sua cabeça.

“No País das Maravilhas nada é o que parece ser”

- um link? – indagou, curiosa, antes de correr até o computador e digitar o código, tomando o cuidado de verificar quatro vezes seguidas se não havia deixado nada diferente do que se encontrava na carta de baralho.

Quando pressionou o enter, ela prendeu a respiração. A página demorou alguns bons minutos para carregar, apesar de sua internet ser extremamente rápida. Aquilo a deixou agonizando em ansiedade. E então, o seu computador desligou. A morena encarou o aparelho, indignada.

- mas que porra é essa?! Agora?! É sério?! – questionou, furiosa.

“Nada é o que parece ser, Ken.”

O computador iniciou mais uma vez sem que ela tivesse apertado nada.

“O coelho é o caçador e o lobo mau é a presa”

Mas o computador não se manteve na área de trabalho. O navegador se abriu, carregando uma imagem de uma clareira com um pequeno buraco no centro. Kira franziu o cenho, confusa.

“A criança é quem comanda a casa e o adulto é o bebê chorão que apenas atrapalha”

Um pequeno coelho branco em desenho animado, vestido em um terninho escuro, usando um pequeno chapéu coco, saltou pela tela, vindo da lateral, até se aproximar do buraco.

“Podemos só parecer um bando de lunáticos com fantasias surreais na cabeça. Mas quando prestam atenção, podem perceber que somos aquilo que temem quando pensam em seu maior medo”

‘Oi! Eu sou Branco, o seu guia para O País das Maravilhas!’

O pequeno balão surgiu sobre o coelho quando ele se colocou de pé e de frente para Kira. A mulher se surpreendeu. A tela se manteve inalterada desde então. Receosa, a morena acolheu o mouse na mão direita e clicou no balão.

“Para os Japoneses eu sou apenas uma mulher fraca e inútil para negócios, incapaz de fazer qualquer coisa pelo meu país da mesma forma que um homem.”

‘eu imagino que, no momento em que estiver lendo isso. O seu pai esteja furioso e provavelmente tenha matado seja lá quem eu tiver mandado como mensageiro’

“Mas eu sou o maior medo deles. Um ser superior pertencente ao seu tão temido sexo frágil. Eu sou o símbolo de sua derrota. Eu sou o temor de cada homem de nossa nação e de qualquer outra.”

‘Mas eu não estou aqui pelo seu pai. Estou aqui por você. Você quer ir para o País das Maravilhas? Não gostaria de ser como a primeira?’

Kira sentiu o seu peito apertar em nervosismo e a ansiedade lhe dominar.

“Eu sou Alice. A Primeira Alice.”

‘Não está interessada em se vingar? Ou vai deixar o assassino de sua mãe viver normalmente enquanto você cresceu com o trauma de ter a mãe assassinada, sem que o culpado fosse punido?’

Kira sentiu o medo lhe dominar. Na tela do seu computador, uma personagem similar a sua mãe surgiu do buraco no centro da clareira, acenando para si com um balão surgindo de si, contendo a letra jota e o símbolo do naipe de espadas, antes de a personagem voltar a sumir pelo buraco.

Como aquela pessoa sabia sobre ela? Como sabia o seu endereço? Como sabia que ela queria vingar a morte da mãe?

“Eu sou o Valete de Espadas”

‘Se quiser entrar no País das Maravilhas, você deve estar nos Estados Unidos da América até o dia oito de Novembro. Ou do contrário, nunca mais poderá entrar.’

O coelhinho exibiu um relógio em sua mão, e um balão surgiu, dando zoom no acessório, revelando o tempo contando com a data citada como plano de fundo do relógio.

‘Chegue antes dessa data, e eu te encontrarei. Mas se atrase e irá perder toda a festa... Para sempre’

- isso não pode ser verdade. É algum tipo de...

Ela fora calada pelo próprio coelho, que agora não apenas falava através de um balão de quadrinho. Uma voz eletrônica ecoou pelo ambiente, oriunda das caixas de som do computador, pronunciando as mesmas palavras do balão do coelhinho branco.

- e como prova da veracidade do meu convite, pequena Kira, estou salvando em seu computador um arquivo que você irá achar deveras interessante – a voz modificada digitalmente possuía um tom grave que fez o seu corpo se arrepiar, antes de um gargalhar suspeito ecoar pelo ambiente, e o coelhinho branco saltar no buraco, que se esticou, revelando olhos vermelhos, com fendas como íris e um sorriso largo de dentes pontiagudos. O buraco, então, voltou a encolher, deixando a tela do computador completamente preta.

Kira encarou a tela, perplexa, esperando por mais alguma coisa. Mas nada ocorreu. Ela, então, voltou a clicar com o mouse, e a tela se ascendeu, revelando a sua área de trabalho. A morena piscou algumas vezes, ainda tentando absorver tudo o que havia ocorrido.

“Estou salvando em seu computador um arquivo...”

Ela se apressou em procurar pelos arquivos mais recentes, encontrando um arquivo de pouco segundos atrás intitulado Alice. Ansiosa, ela abriu o arquivo, se deparando com a imagem da criança que atormentava as duas memórias. Os cabelos castanhos longos amarrados em um rabo de cavalo ereto, o olhar vazio e sorriso de canto. Ela praticamente conseguia ver o mesmo coração vermelho pintado nos lábios finos.

Era idêntico.

As páginas a seguir eram uma análise detalhada sobre ao criança, revelando que não era uma garota, como ela pensava ser, mas sim um garoto se passando por uma garota. Havia de tudo, desde interrogatórios transcritos a relatórios médicos oficiais.

Ela estava perplexa.

Durante anos de pesquisa nunca, se quer, havia encontrado uma foto ou uma pista sobre o nome do assassino de sua mãe. Mas, hoje, em questão de segundos, uma tal de Branco havia lhe entregado tudo pelo que ela sempre correu atrás.

- Stiles Stilinski... Esse é o seu nome de verdade – murmurou, furiosa, antes de encarar o calendário do computador, no canto da tela.

- faltam quatro dias – sussurrou antes de se erguer, marchando até o guarda-roupa e puxando uma mala de cima do mesmo.







- então você realmente existe – ditou Peter em um tom acusatório, erguendo a sua arma e a apontando para o mascarado de olhos vermelhos brilhantes como verdadeiros faróis.

- será que existo? Ou sou apenas mais uma mentira do governo para lhe afastar do trabalho e varrer a sujeira para debaixo do tapete? – alfinetou o desconhecido e Peter crispou os lábios, irritado, enquanto Rafael e Chris o encaravam, perplexos.

- foi você?! – acusou o louro destravando a arma.

- não. Não fui. Mas eu sei quem foi – se vangloriou voltando a erguer a cabeça corretamente.

Peter estranhou o movimento repentino.

- mas, agora que nos conhecemos, eu preciso perguntar: você consegue ver agora, Peter? -

O louro franziu o cenho, confuso.

- ela não pode sair do País das Maravilhas. Ninguém pode. Só há um jeito de sair de lá: Morto. E ela não morreu –

O Tate cerrou um dos punhos, antes de avançar dois passos, com ambas as mãos na arma, mirando especificamente para a cabeça alheia.

- CALA A BOCA! ELE SAIU! ELE SAIU E NÃO VAI MAIS VOLTAR! – gritou, furioso, antes de o outro gargalhar com a voz modificada. A sua cabeça se ergueu, balançando estranhamente de um lado para o outro.

- não. Você não entende. Mesmo se houvesse um jeito diferente de sair de lá, ele não conseguiria – o mascarado começou a explicar, erguendo uma das mãos.

Rafael e Chris franziram o cenho para o movimento estranho.

- por que? Todo mundo muda. As pessoas mudam. Ele pode escolher mudar, se quiser – indagou Rafael, curioso, tentando enrolar a conversa.

- olhe bem para isso. Esse cativeiro atrás de vocês – acusou apontando com a mão para as correntes e a bonequinha de trapos. – Alice já nasceu no País das Maravilhas. Você não pode retirar aquela que nasceu para governar. Ela nunca conheceu aquilo que chamamos de afeto, carinho ou amor. –

- É MENTIRA! Eu mostrei para ele! Eu o amo como um filho! – rebateu o Tate, furioso, balançando a arma ainda apontada na direção do mascarado.

- ah! Peter, Peter, Peter, Peter. Não há mágicas que você possa ensinar a um coelho velho. Não minta para mim. –

O louro cerrou os dentes com força.

- você apenas o usa como a arma que todos enxergam nele. Porque é isso que Alice é para vocês. Um solfado perfeito. Incapaz de ser afetado pela dor física, incansável, capaz de abater um batalhão se for preciso. Um exército de um homem só. –

- você está errado! Você não sabe de nada! –

- estou?! Então me diga. O que ele está recebendo pelo trabalho dele? – a pergunta tirou as palavras de Peter.

- Dinheiro? Eu acho que não. Redução de sua pena?! Muito menos! Então, me diga, o que ele ganha arriscando a vida fazendo o trabalho de vocês? – o argumento do mascarado silenciou a todos.

“É isso o que eu sou... Apenas uma arma”

A voz de Stiles ecoou na mente de Peter, o fazendo puxar o gatilho.

- PETER! – repreendeu o Argent vendo o louro encarar o mascarado com fúria.

- é falso. Não é o Branco de verdade – acusou o louro, encarando a marca se bala no ombro direito do terno branco do mascarado.

Rafael e Chris encararam o mascarado, curiosos, vendo o louro marchar até o guarda-roupa e rasgar o terno branco, exibindo uma estrutura oca e metálica, com roldanas e engrenagens rodando sem parar a medida me que o mascarado movia o braço.

- esse é o motivo pelo qual ele se mexe estranho – ditou o Tate, irritado

O mascarado gargalhou.

- esse é o motivo pelo qual Alice e eu gostamos de você, Peter. Você faz tudo ser tão divertido! –

- quem diabos é você e o que você quer?! – indagou Chris Argent se aproximando e tentando retirar a máscara de coelho, falhando miseravelmente.

- quem sou eu? Ah, meu querido Christopher. Eu sou o pesadelo remanescente do seu sistema de merda. Eu sou o rato em seu sistema. A Lebre que não descansa. O coelho na cartola. Eu sou a metade que falta – riu o mascarado encarando, na tela de seu computador, a ira que os três agentes exalavam.

- eu quero algo que vocês com certeza não vão me dar – disse com tranquilidade, deixando os três receosos – eu quero a liberdade de Alice. Eu quero o meu Ás de volta! –

- nem fodendo! – ralhou o McCall dando as costas ao mascarado, e se focando nas fotos nas paredes.

- vocês não tem escolha, Rafael. Se não o entregarem a mim, eu irei fazer com que ele venha até mim –

- duvido muito! – rebateu Chris, de prontidão.

Branco riu mais uma vez.

- mas o que é isso, rapazes? Não sejam tão ariscos. Nós vamos jogar juntos a partir de agora. Vocês precisam ser legais. Não quero atitudes antiesportivas em nossos jogos –

- eu vou te pegar. Nem que seja nos confins do inferno! – ralhou Peter socando o rosto mascarado, sentindo a dureza do material do qual era feito.

- vai ser difícil me pegar tentando me manter longe de Alice, agente Tate. E eu vou atrás da minha Alice. Não importa onde vocês o escondam. Eu irei pegar ele de volta –

- e eu vou colocar uma bala em sua cabeça! – ralhou Rafael, furioso

Branco gargalhou.

- Será que você consegue manter a pose de machão quando souber que eu sei onde cada membro de suas famílias se encontram? – indagou Branco e Rafael sorriu, de canto.

- até parece! – protestou. Melissa estava no programa de proteção a testemunha, uma vez que haviam invadido a casa do agente para lhe mandar um recado na parede de seu banheiro.

- a bela Melissa McCall está com o programa de proteção a testemunha. Em uma casa no subúrbio do estado vizinho. Victoria Argent está, nesse momento, em sua aula de pilates, no centro da cidade. E a ex-Senhora Tate está em uma academia também no centro da cidade. Eu acho que não preciso falar de seus filhos, ou da família Hale – ditou o mascarado, paralisando os três agentes do FBI.

- sabe. Eu poderia, muito bem, mandar um pacote que os faria sumir que nem um gato sorridente, se eu quisesse – provocou antes de gargalhar mais uma vez, diante do pânico paralisante dos agentes.

- bom, agora que trocamos cordialidades. Vamos começar os jogos. O primeiro de todos, vai ser pique-esconde – ditou Branco chamando a atenção do louro, que lhe fitava ainda com fúria.

- como é?! -

- em cinco dias eu irei fazer com que vocês percebam o quanto Alice é superior a vocês. Quando as duas reuniões das cartas acontecer, vocês perceberão o erro de vocês. O nosso sorriso vai forçar o colapso em vocês – anunciou Branco gargalhando suavemente logo em seguida

- mas, por hora, vocês devem se preocupar com outra coisa. Eu tranquei esta casa. As portas e janelas estão bloqueadas por grossas chapas de metal. E, você, agente Tate, terá que encontrar um jeito de sair daí em quatro minutos -

- quatro minutos?! – a descrença de Rafael era evidente em sua voz e face.

- do contrário? – questionou Peter observando o mascarado inclinar a cabeça e gargalhar mais uma vez.

- do contrário, vocês todos irão desaparecer como fumaça... Uma fumaça rosa – a sua voz se tornou mais grossa, antes de ele voltar a gargalhar alto e de forma escandalosa.

O mascarado chegou a se engasgar em seu gargalhar.

- é melhor vocês começarem a correr, também. Pois o tempo começa correr,  - assim que Branco finalizou a sua sentença, o grupo pôde ouvir gritos nos andares de baixo.

- mas o que...

- vamos lá, Peter. Prove para Alice que você não vale mais o tempo dela -

Peter apenas encarava o mascarado, em pânico. Ele estava tendo um ataque de pânico. Sentia a respiração descompassada, apesar de ter a impressão de não conseguir respirar. A agonia da sensação da asfixia lhe apavorava. Mas o que mais lhe deixava assustado era o medo por seus familiares. Ele não poderia perder mais ninguém. Não poderia perder Talia, sua filha, suas sobrinhas, Derek ou sua sobrinha neta. Ele não suportaria.

O seu coração acelerou e o louro percebeu o mundo começar a girar. Ele sentia que iria cair a qualquer momento. O mundo girava, o seu estomago embrulhava, a cabeça doía e as pernas fraquejavam. Ele sentiu uma mão fria em seu ombro e um abraço apertado lhe envolver por trás.

“o que está esperando, Peter?”

A voz de Stiles ecoou em sua mente, e logo ele sentiu o castanho apoiar o queixo em seu ombro, enquanto lhe apertava em um abraço.

“Você tem que continuar”

O louro ouviu Alexander, antes de outro aperto surgir em seu ombro.

“Volte, Peter. Você deve manter os olhos abertos aqui, e não no País das Maravilhas”

O louro, cabisbaixo, pôde ver dois pares de pés passarem por si, caminhando com calma para a frente. Ao ergueu os olhos, ele pôde ver as costas de Alexander e de Stiles. Os dois se afastavam de si, marchando para a direção de Talia, Corinne - a sua ex-mulher -, Laura, Cora, Malia, Derek, Paige e Valerye. Ele viu Stiles parar no meio do caminho, enquanto Alexander se colocava ao lado de Talia, a abraçando pelos ombros. O castanho se virou em sua direção, e atrás de si, o louro notou uma criança de cabelos longos, lhe encarando com curiosidade.

“ou você pretende deixar mais alguém machucar a nossa família?”

Stiles ditou antes de voltar a marchar na direção da família Hale, cobrindo a criança com o seu corpo. A imagem de sua família se dissipou como fumaça, dando lugar ao mascarado de terno branco, com Stiles marchando na direção do mesmo, antes de também sumir como fumaça.

A respiração de Peter se tornou mais acelerada ainda.

Chris e Rafael se assustaram quando o homem de fios dourados penteados para trás passou a rugir em fúria, antes de correr até o mascarado e passar distribuir socos na máscara branca até que sua mão começasse a sangrar e a máscara ser partir em duas e cair do rosto, se mantendo pendurada por fios, revelando um manequim robótico, sem face.

O acesso de raiva do homem pareceu passar, e o mesmo respirou fundo, antes de se virar parao grupo atrás de si.

- vocês, retirem todas essas fotos e as embalem. Precisamos levar isso daqui antes que tudo vá pelos ares – ordenou o Tate apontando para as fotos enquanto encarava os cientistas forenses.

- nossa vida em jogo e você pensando em fotos?! –

- em provas!  Se ele está mandando você se focar no seu trabalho, quer dizer que ele sabe como fazer o dele. Agora, eficiência. Vai, vai, vai! – rebateu Chris ajudando os forenses a arrancar as fotos das paredes e as jogar em sacolas de provas.

Peter seguiu para a entrada do sótão, com Rafael em seu encalço, olhando sempre ao redor, gravando em sua mente, cada item que conseguia imaginar ser útil em uma provável fuga. O louro desceu apressado, correndo para o andar de baixo, tomando o cuidado de não ativar nenhuma das armadilhas que se encontravam no caminho. Ao alcançar o térreo, ele logo compreendeu o motivo da .

- NÃO DÁ PRA QUEBRAR AS JANELAS! – gritou um dos bombeiros, desesperado, se afastando das paredes.

- A GENTE VAI MORRER AQUI, CARALHO! – gritou uma cientista forense, puxando os próprios cabelos, tomando o cuidado de se manter no centeo da sala.

Peter e Rafael encaravam o modo como todos tentavam, ao máximo, se manter longe de todas as paredes do térreo, que agora se encontravam em chamas. O fogo consumia as paredes de cima a baixo, completamente, cirando uma barreira que mantinha os bombeiros afastados das chapas de madeira. Mesmo com os maçaricos que se encontravam em uso, não poderiam abrir passagem, uma vez que eles não conseguiam alcançar nenhuma porta ou janela.

- como começou? – questionou Peter encarando um dos bombeiros, o que aparentava manter mais a calma.

- do nada. Primeiro as entradas e saídas foram fechadas com chapas de metal. Antes que pudéssemos cortar com os maçaricos, as paredes simplesmente pegaram fogo. As chamas vieram de cima e de baixo, ao mesmo tempo. Como se o próprio diabo quisesse nos manter aqui dentro – respondeu o homem, tentando manter a calma.

- acha que é elétrico? –

- impossível. Não teria como o fogo subir tão rápido. E o cheiro é forte. Certeza de que é Etanol -

- COMO VAMOS SAIR, CARALHO?! TÁ TUDO TRANCADO! NÃO TEM COMO...

Peter agarrou o homem pelo colarinho, o forçando a lhe olhar nos hos.

- CALA A BOCA E ME ESCUTA! TODO MUNDO SUBINDO PRO SÓTÃO! AGORA! – ralhou empurrando o homem para trás.

O mesmo correu para a escada, antes de pisar na armadilha no começo da escada. Quando ele sentiu o pé afundar, as lágrimas surgiram em Eus olhos e o peito gelou. Ele sabia que estava morto antes mesmo de sentir as lanças perfurarem a sua carne. Mas nada lhe perfurou. Ele sentiu a camisa ser puxada mais uma vez, antes de ser jogado no chão pelo agente McCall.

- CUIDADO COM AS ARMADILHAS! – ralhou, furioso.

- se formos para o andar de cima, o dióxido de carbono vai nos matar por asfixia antes do fogo – argumentou o bombeiro calmo vendo o Tate negar com a cabeça.

- não vai. Confie em mim. –

O louro passou a expulsar todos para o andar de cima. Com a ajuda do bombeiro mais calmo, ele conseguiu guiar os desesperados para o andar de cima. Rafael os guiou pelo caminho até o sótão de forma a não ativar nenhuma armadilha, conseguindo manter a calma nos desesperados. O louro puxou o bombeiro até a área de serviço da casa, pegando a escada que se encontrava apoiada no canto entre a máquina de lavar e a parede. Ele pegou a escada retrátil e, juntos, a levaram para o andar de cima.

Assim que todos se reuniram no sótão, Peter fechou a entrada, dificultando um pouco a entrada do dióxido de carbono gerado pelo incêndio.

- tá. Mas e agora? – questionou o bombeiro desesperado, observando o louro franzir o cenho em sua direção.

- você foi treinado. Não? – indagou o agente puxando a arma da mão e atirando no teto, acima da porta do sótão.

- me passa a escada – pediu o louro assim que sentou certeza de acertar os pontos necessários com os disparos

- vamos sair por esse buraco?! – questionou uma mulher, incrédula.

- não. O dióxido de carbono vai – respondeu Peter passando a bater com a escada no círculo desenhado por seus tiros.

O bombeiro calmo e Rafael se aproximaram, passando a ajudar o louro com o trabalho manual. Assim que a madeira cedeu sobre eles, Peter largou a escada nas mãos dos dois agentes, pegando a arma de Rafael e recarregando a sua própria. Seguindo para a área onde havia as fotos nas paredes, Peter passou a desenhar outro círculo com os disparos. Chris passou a ajudar o louro, disparando com a sua própria arma. Quando a madeira se mostrou fragilizada, Rafael e o bombeiro se aproximaram. Um único golpe da escada fez a madeira ceder.

- agora, sim, nós vamos sair por aqui – disse Peter apontando para a escada e o bombeiro logo subiu para o telhado.

- um de cada vez. O telhado está fraco. Não podemos colocar peso ao redor da saída – alertou o bombeiro subindo e estendendo a mão para o próximo subir.

- há a cama elástica no quintal. Usem ela para amortecer a queda. Pulem e saiam rápido para o próximo pular – instruiu Peter, ajudando a segurar a escada, a mantendo firme para as pessoas saírem.

- quando foi que você pensou nisso?! – questionou a cientista observando o louro ajudar outra mulher a subir.

- quando cheguei. Trabalhando com o rapaz com quem trabalho você tem aprender a pensar em como fugir de um lugar em que você nem chegou – argumentou e logo a mulher estava subindo as escadas.

De um por um, a casa foi sendo evacuada. Restando apenas os três agentes. Chris foi o primeiro a subir, sendo seguido por Rafael McCall. Os dois, passaram a segurar as pernas do bombeiro, enquanto o mesmo debruçava o torso sobre o buraco no telhado para que Peter pudesse alcançar os seus braços e assim os dois fossem puxados. Rafael fora o primeiro a pular, acertando o centro da cama elástica. Agora, os bombeiros que se encontravam fora da casa, já estavam no quintal, ajudando na evacuação. Eles folgaram a cama elástica, de forma a apenas receber impacto, e não impulsionar o corpo para cima usando da força elástica. Chris fora o segundo a saltar. Em seguida, o bombeiro. E por último Peter.

- para fora! Vai! – gritou o bombeiro ordenando a evacuação total da área da casa.

Assim que o grupo se encontrava todo na rua, a casa explodiu, espalhando lascas de madeira e cinzas para cima, mas mantendo a sua estrutura de pé. Aqueles que, antes, se encontravam presos na casa, encaravam a cena com perplexidade e pânico. As chamas já consumiam o lado de fora da residência. Quando os bombeiros prepararam as mangueiras, o bombeiro que ajudou na fuga alertou sobre o etanol, os forçando a formar uma nova tática. A água apenas faria o fogo se alastrar pelo ambiente, podendo estender p incêndio até as casas vizinhas. Os moradores da rua já estavam assustados demais com o ocorrido para ainda terem que lidar com incêndios lutando para alcançar as suas casas.

- qual é o seu nome? – questionou o bombeiro que os ajudou na fuga, se aproximando de Peter e lhe estendendo a mão.

- Peter. Peter Tate – respondei apertando a mão do homem.

- se algum dia eu voltar a auxiliar o FBI em uma investigação. Espero que seja com você por perto – confessou sorrindo largo – Dwight. Dwighr Kingfield –

Peter sorriu, fraco.

- para o seu bem, Dwight. Eu espero que você nunca mais me veja em um trabalho – o louro brincou, tentando esconder as preocupações que rondavam a sua cabeça no momento.

Um salva de palmas surgiu ao redor dos três agentes e do bombeiro, que se viraram confusos para todos os trabalhadores que se encontravam presos na casa, que agora os aplaudiam em uma forma de agradecimento e admiração pelo trabalho efetuado por eles. O bombeiro se afastou do trio de agentes, passando a aplaudir os mesmos, enquanto os três, sem jeito, apenas agradeciam.

Eles não estavam bem um pouco empolgados com aqueles aplausos. Nada, no mundo, poderia elevar o humor que eles possuíam, agora. Eles sentiam o seu psicológico. Eles só conseguiam pensar em uma coisa:

“Cinco dias”


Chapter 55: Report

Chapter Text

Vernon entrou na sala, se surpreendendo um pouco ao ver Allison Argent sentada a mesa, lhe encarando com um sorriso de canto sem jeito. O homem franziu o cenho, encarando a morena apontar para a cadeira vazia com a mão, gentilmente.

- o que está rolando? Pensei que fosse o Peter – indagou se sentando na cadeira em que sempre sentava quando o agente Tate o visitava.

- Peter costuma visitar vocês bastante? – a Argent questionou enquanto empurrava, com delicadeza, um copo de café quente na direção do detento, em uma oferta silenciosa.

O Boyd aceitou.

- por que quer saber? – perguntou, desconfiado, levando o copo de café aos lábios.

Vernon não era burro. Muito menos era uma pessoa fácil de ser enganada. Era óbvio que Allison tinha interesse em algo que pretendia adquirir nessa pequena reunião. E ele também tinha plena noção de que a estrutura das agências de segurança, sejam elas federais ou privadas, possuíam semelhanças gritantes com as estruturas de facções criminosas. Ambos os lados tinham um objetivo: ser o melhor no que faziam. Os dois tinham as mesmas peças que o compunham: os poderosos, chefes, subordinados e, o pior tipo, as cobras. Pessoas prontas para boicotar quem quer que estivesse em seu caminho apenas para adquirir o prestígio de subir de classe e aumentar seu poder de influência com os outros, independente de sua eficiência e de como isso afetara o caminho até o objetivo.

E Peter era um homem com uma habilidade de dar inveja para muitos agentes. O alvo que pintava as costas do louro parecia ser pintado com cores fluorescentes, com listras de neon, e lâmpadas de led ornamentando cada anel.

E aquilo era preocupante.

Peter era a sua luz no fim do túnel chamado Alcatraz. O agente Tate lhe escolheu pessoalmente para ter aquela chance única de se redimir e voltar para a sua família. Vernon devia muito ao louro por isso. E se Peter caísse, toda a divisão iria junto. Derek, Scott e Lydia poderiam argumentar o que quisessem o quanto bem entendessem, mas o fato de que Peter era a engrenagem que mantinha aquela divisão funcionando corretamente era como uma lei de Newton. Você poderia fingir que não reconhecia a veracidade, mas lá no fundo você sabe a verdade, e essa verdade é imutável.

- Erica me disse que também recebe visitas dele -

- você foi falar com a Erica? –

- sim. Eu fui pedir a ajuda dela em uma coisa – respondeu dando de ombros.

Vernon analisou a mulher, não notando nenhuma reação em seu corpo. Ele suspirou logo em seguida.

- pelo menos uma vez por semana. Peter vem. Conversa comigo. Me traz algo gostoso para comer. Um livro para ler, uma revista sobre armas e vai embora – respondeu a pergunta voltando a beber do café.

Allison sorriu

- vai ser difícil competir com tudo isso – a morena brincou e o homem sorriu de canto.

- apenas o café já está perfeito –

O silêncio os dominou.

- então... O que você quer, exatamente? – questionou largando o copo de café sobre a mesa e cruzando os braços.

A Argent uniu as mãos ao redor do seu próprio copo de café. Ela parecia nervosa.

- você é um homem inteligente, Vernon. E eu sei que você vai concordar comigo – a agente suspirou levando o café a boca, molhando a garganta.

O detento estreitou o olhar.

- mas Alice é perigoso demais para...

A mulher fora silenciada quando o homem apenas ergueu a mão.

- nem fodendo – ele negou de prontidão.

Allison piscou os olhos.

- mas eu nem...

- eu não vou trair aquele cara, Allison. Você disse que eu sou inteligente, e realmente, mas eu esperava que você fosse mais – o Boyd disse observando a mulher franzir o cenho em sua direção, confusa.

- como? –

- Allison, em primeiro lugar. Eu apenas mandaria de volta para Alcatraz, alguém como Ennis ou Kate. Alguém que não faria falta alguma na divisão. Mas os quatro que se encontram nela agora... eu sinto muito mas, é com muita humildade que eu digo que nós quatro somos indispensáveis –

A mulher segurou o sorriso orgulhoso, sustentando o olhar sério com os lábios retos.

- e por que diz isso? –

Vernon respirou fundo antes de descruzar os braços e se inclinar sobre a mesa.

- vamos começar por Erica. Ela é inteligente, e se formos analisar apenas o seu histórico escolar, não vamos encontrar nada surpreendente. Ela se passa por mais uma mulher suburbana comum. Mas quando se trata de roubar e de sobreviver... Aquela mulher é imbatível. Você viu como ela consegue subir nas coisas? Pegar coisas e armas das pessoas sem elas nem lembrarem que tinham algo para ser roubado até ver a coisa na mão dela? – argumentou o Boyd encarando a Argent menear em compreensão.

- sim. Eu me recordo. –

- ela também parece sentir quando alguém tem uma intenção assassina, sabe? Eu não sei se acredito muito nisso, mas naquele dia com Jaguadarte... Na primeira vítima dele... Ela disse ter sentido ele antes mesmo de descobrirmos a vítima –

Allison meneou em compreensão.

- eu acredito nela. Ela tem essa... Ligação com a natureza, que as pessoa vêm perdendo gradualmente a cada geração que passa. Ela parece ter saído de uma história mitológica – alegou a morena, brincando no final, gerando um baixo gargalhar no outro.

- é. Parece, sim. –

Ele voltou a beber do café, sendo acompanhado pela agente.

- agora, Isaac. Eu nem preciso falar nada dele. O cara parece um cão farejador quando se trata de droga. O que chega a ser engraçado. Muitos fabricantes acabam desenvolvendo problema olfativos e dermatológicos devido as reações químicas e as substâncias com que eles mexem. Mas Isaac tem mãos macias, os dedos não tem nenhum sinal de queimação química, e o olfato dele é perfeito. Isso sem contar na sua capacidade de assimilar químicos e, rapidamente, descrever no que foram ou podem ser usados. O cara parece uma máquina de laboratório –

Allison meneou em concordância.

- eu já trabalhei com a narcóticos algumas vezes. E eu devo dizer, tanto agente ou especialista, quanto criminoso envolvido com drogas, eu nunca vi alguém com aquela capacidade –

Vernon sorriu.

- as vezes, parando para pensar, parece que nossas vidas seguiram o rumo para todos sermos convocados pelo Peter – brincou o Boyd e a morena riu.

- você acredita em destino? – o homem sorriu e negou com a cabeça.

- acreditar em destino é o mesmo que desistir do controle de sua vida. Eu cheguei aqui através das escolhas que fiz, não por que fui empurrado por alguém -

- também não acredito nessas coisas –

- mas eu acredito em signo – pontuou erguendo o dedo.

A mulher riu.

- você é virginiano – pontuou a morena vendo o homem erguer o copo em sua direção.

- por que acha que minha mira é perfeita mas a minha vida é uma bagunça? – brincou voltando a beber do café.

Allison riu.

- eu sou escorpiana –

- a sua cara – os dois sorriram.

- eu acho que não preciso de nenhuma apresentação para você. Foi você quem me colocou atrás das grades – disse o Boyd e a morena sorriu sem jeito.

- eu sinto muito por isso. Mas, infelizmente, era a coisa certa a se fazer –

- eu sei. Não tenho rancor. Eu apenas posso lamentar pelo rumo que tomei – confessou o homem, dando de ombros.

Allison se surpreendeu.

- eu pensei que guardasse rancor de mim –

Vernon negou com a cabeça.

- se tivesse, não falaria com você mesmo durante os casos–

- eu pensei que você estivesse apenas sendo profissional, sabe? Tentando manter a boa reputação para não perder o acordo – comentou a Argent, ainda surpresa, voltando a beber do café.

O Boyd franziu o cenho, em uma careta de estranhamento.

- não! Nada a ver! – exclamou antws de tomar um semblante sério no rosto.

- agora Alice... Aquele cara... Se alguém como ele fosse até mim, na minha época de líder da facção, sugerir um tratado. Eu aceitaria por puro medo, não por ganhar algo. Mesmo que ele fosse uma criança – ditou o detento encarando o seu copo fixamente.

- você sabe sobre os detalhes do caso Alice? – indagou Allison vendo o homem negar com a cabeça.

- consegui apenas ler os de Erica e Isaac. Eu sei que ele é o criador da droga Zumbi de alguns anos atrás. Também sei que Erica é uma assassina de estupradores que surgiu em busca de vingança. Mas Alice... O arquivo dele não me foi entregue. E quando eu pedi a Lydia, ela negou. Ela não confia em nós. Seria tão mais fácil se todos fossem como Peter. Mas infelizmente idiotas como aqueles três estão em maioria na polícia –

Allison suspirou, compreendendo o homem a sua frente.

Ela se abaixou, puxando sua mochila. Vernon a encarou, confuso. A morena retirou uma pasta bege e a jogou sobre a mesa, a fazendo deslizar até o Boyd. O homem encarou a pasta, surpreso, notando o nome Alice escrito ao lado da numeração de identificação de prisioneiro do cadtanho.

- pode ler enquanto conversamos – disse a mulher observando o homem lhe fitar, surpreso, antes de pegar o arquivo

- está falando sério? –

- sabe. Antes eu tinha o meu pai e o meu avô como inspiração. Mas, hoje, eu vejo Peter como um caminho mais parecido com o que eu desejo – disse a morena sorrindo sem jeito, ajustando a mecha do cabelo atrás da orelha, antes de decidir prender o cabelo em um rabo de cavalo.

- com todo o respeito, mas essa sua decisão mudança de objetivo foi perfeita – comentou antes de abrir o arquivo – está tudo aqui? –

- bom, quase. Alguns trechos e páginas são confidenciais até para mim, Derek, Scott ou Lydia – explicou a mulher vendo o homem parar o que fazia e erguer um olhar descrente em sua direção.

- você está brincando, não é? –

- não. Você vai ver algumas paginas apagadas com tarjas – respondeu e o homem averiguou a veracidade de suas palavras ao folhear o arquivo rapidamente

- e você ainda quer mexer com esse cara?! Tu achou mesmo que eu iria trair ESSE cara?! – indagou o Boyd, rindo.

- eu não quero prender o Stiles. Nem o trair, Vernon. Eu quero estudar ele. Entender ele melhor. – explicou a morena, surpreendendo o detento.

- como assim? –

- você vai ler aí que Stiles sofre de Transtorno Dissociativo de Identidade – ela viu o Boyd arregalar ao olhos.

- ele tem dupla personalidade?! –

- múltipla – corrigiu a Argent vendo a surpresa no outro aumentar. -as não conseguiram identificar elas, ou quando as mudanças ocorrem. E é aí que nós entramos. Erica consegue sentir o instinto assassino do Stiles. Em Miami, ela puxou o Isaac para o canto da sala quando o Stiles surtou com o Peter e com o Scott no hospital –

- você quer saber quando o Stiles muda e saber se alguma das personalidades dele é a assassina e não ele – analisou o Boyd observando a mulher menear positivamente.

- não só isso. Stiles é perfeito demais para uma pessoa normal. Ele sabe várias línguas, é extremamente inteligente, possui uma ótima aptidão física e várias outras habilidade. E se cada personalidade for responsável por uma dessas habilidades? E se algumas delas o forçam a quebrar as regras da divisão, como ocorreu com o Jaguadarte? –

- se soubermos como ele funciona, podemos ajudar a se controlar e fazer ele ser mais útil na divisão – concluiu observando a mulher bater com a palma na mesa e apontar para si, empolgada.

- exatamente! É disso que eu estou falando! –

- e como iria funcionar? –

- eu ainda tenho que falar com o Isaac, mas, em resumo, nós ficaríamos de olho no Stiles sempre que possível. Se ele tiver alguma mudança, mesmo que seja mínima, de comportamento, nós temos que analisar ele minuciosamente para tentar descobrir como ele se porta agora, quando mudará de novo e o que causou as suas mudanças – respondeu, ainda animada, vendo o Boyd lhe dar toda a atenção possível, enquanto lia os arquivos de Alice

- pelo pouco que eu sei TDI é causado por traumas fortes, Allison. Traumas tão fortes capazes de criar uma nova identidade para que aquela pessoa lide com aquele trauma. Não vai ser perigoso lidar com isso? –

- Vernon, nós não vamos sair por aí expondo o Stiles a uma série de tortura traumática para ver quando ele muda ou não. Nós vamos apenas deixar tudo seguir naturalmente e quando – ela estalou os dedos – acontecer, nós vamos estar de olho – explicou vendo o homem a sua frente abaixar o olhar mais uma vez.

- mas que porra! Vocês não sabem nada do cara, não é? Sem pais, sem idade, sem data de nascimento. Stiles nem é o nome dele de verdade. Se o nome dele, de verdade, for Alice, eu vou ficar muito puto! – exclamou, indignado, notando o quão pouco os agentes sabiam sobre o pessoal do castanho.

A sua ficha, a de Erica e a de Isaac estavam repletas de detalhes. Os nomes, pais, idade, altura, data de nascimento, histórico familiar, de moradia e escolar. Mas tudo o que dizia na ficha de Alice era a sua aparência, o seu nome escrito entre aspas, indicando não haver nenhuma prova quanto ao dado e o seu problema psicológico.

O telefone de Allison tocou e ela puxou o mesmo para averiguar de quem ze tratava. A morena estranhou ao ver o nome de Lydia. A morena pediu licença e se ergueu, se afastando da mesa para atender ao telefonema. Vernon apenas a ouviu murmurar coisas, surpresa, antes de encerrar a chamada.

- acho que você vai poder ler melhor quando chegarmos no QG – ditou a morena estendendo a mão e Vernon, confuso, devolveu o arquivo.

- um caso? – indagou estranhando o modo como a morena parecia apressada.

- e parece que é um dos grandes – comentou, arregalando um pouco os olhos.

- por que acha isso? –

Allison suspirou.

- porque eu pude ouvir o meu pai gritando com o Peter no fundo da ligação – respondeu torcendo os lábios, antes de se despedir com um “te vejo lá”.

 

 

- e aí?! – exclamou Scott assim que saiu do seu carro, com um guarda-chuva de papel entre os lábios.

- você estava bebendo?! – questionou Allison ao observar o moreno de queixo torto ativar o alarme do carro e começar a caminhar na direção do elevador.

- é claro! É o meu dia de folga. Eu estava em um bar com uns amigos da faculdade –

- deixa eu adivinhar: tentando voltar aos tempos de glória? – alfinetou Erica, que se encontrava aloiada na parede do elevador, ainda com seu uniforme da prisão.

Scott revirou os olhos para a provocação da mulher.

- você não devia... Eu sei lá, estar apodrecendo na prisão? – rebateu o moreno apertando o botão do elevador.

- e você não deveria estar a sete palmos embaixo da terra? – contra-argumentou a Reyes observando o homem colocar as mãos nos bolsos e bufar em desdém.

- e por que eu estaria lá?! –

A loura golpeou a parede ao lado do McCall com força, gerando um som alto que ecoou pelo ambiente. O agente apenas a encarou, com seriedade, vendo o sorriso ladino da mulher crescer. A loura deu de ombros, passando para o outro lado do homem, o cercando como uma presa.

- eu não sei – respondeu com ironia em seu tom de voz, antes de se aproximar um pouco mais para sussurrar no ouvido alheio – acidentes acontecem, não é mesmo? –

Scott não se deu ao trabalho de responder.

- aí? Por que tem tanto carro lá fora? – inquiriu o McCall encarando a Argent.

- eu, sinceramente, não sei lhe responder -

Assim que a porta do elevador se abriu, as vans de Isaac e Vernon adentraram a garagem, que fora fechada. Os cinco subiram para o andar de cima, em silêncio, apenas aguardando as portas se abrirem. E quando elas se abriram, os seus queixos caíram levemente, confusos e descrentes.

- de onde saiu essa gente toda?! – perguntou Isaac, confuso, observando os vários agentes federais espalhados pela ambiente.

- eu pensei que uma das partes cruciais dessa divisão fosse o segredo! – exclamou Erica, indignada, vendo Peter, Chris e Rafael sussurrando com violência em uma discussão de baixo tom do outro lado do andar.

O louro apontou com voracidade para o elevador, e se surpreendeu ao ver o grupo que se encontrava saindo do mesmo.

- o que é isso?! Vocês prenderam esses três no caminho?! – brincou um agente de aparência jovem, mais novo do que Allison e Scott.

O homem de cabelos castanhos estava sentado em uma das mesas, brincando com um isqueiro, enquanto esperava por informações.

- sim. Eles dois estavam comendo a sua mãe em praça pública enquanto eu usava o seu pai de burro para puxar a charrete em que ela estava sendo fodida – rebateu Erica erguendo o dedo do meio e marchando na direção do louro, pouco se importando com a quantidade de agentes que lhe encaravam com surpresa.

- já vou logo avisando. Essa, de longe, vai ser a coisa mais gentil que ela vai falar pra você – ditou Derek, saindo da copa, enquanto mexia a sua xícara de café.

- que porra é essa, Peter?! Cadê a parte do sigilo?! Enfiou no cu do Scott?! – a loura ralhou, cruzando os braços diante do peito.

- Hey! – o moreno de queixo torto protestou desferindo um tapa suave no ombro da loura

- você tem que ser tão baixa no meio de tanta gente? – indagou Lydia, tentando manter o profissionalismo no ambiente.

- ela falou com o Peter, não com você – rebateu Vernon observando a Martin lhe fitar de sobrancelha arqueada.

- calma, gente. Ela está cercada por outros agentes. Ela tem que manter a aparência – provocou Isaac apoiando o braço no ombro do Boyd.

A ruiva bufou, indignada.

- escuta aqui, queridinho! Eu

- fala com a minha mão! – ditou Erica erguendo a mão para a ruiva, ignorando a sua imagem, antes de girar o punho, erguendo o dedo do meio para a ruiva – a minha mão mandou você ir se foder! Você e todo agente aqui que se pareça com você em modo de pensar e agir –

Vernon e Isaac riram.

Allison apenas expressou surpresa, enquanto continha o riso.

- eu não quero ouvir mais uma palavra da boca de vocês! – ralhou Peter, surpreendendo o grupo.

- esses três... – comentou a Martin, negando com a cabeça.

- de nenhum! De vocês! – o louro voltou a repreender, surpreendendo a ruiva e os outros três agentes com quem trabalhava.

- qual é a emergência, tio? Por que toda esses agentes? – indagou Derek, confuso, decidindo por desviar a atenção.

Ele era o outro líder da divisão, tinha que ajudar o tio a controlar ela. Agora, principalmente com a divisão sendo exposta para tantos outros agentes.

- é. Qual é o caso da vez? Pra ter essa gente toda, só me falta a Al-Qaeda ter ressuscitado o Ozama – questionou o louro cruzando os braços e encarando a mesa em que costumavam se sentar, agora repleta de agentes desconhecidos.

- eles tem que sentar na nossa mesa? – inquiriu o Lahey apontando para a mesa redonda.

- vamos ouvir, Isaac – Derek o repreendeu com um tom calmo, fazendo os três detentos franzirem o cenho em sua direção.

- o caso que nós vamos investigar... É o caso Alice – ditou o Tate vendo os membros de sua divisão franzirem o cenho.

- de novo essa palhaçada?! – questionou Isaac, cruzando os braços diante do peito.

- como? – perguntou Rafael, confuso.

- meu Deus! Ele morreu! Supera! Jaguadarte isso. Jaguadarte aquilo. Ele era o quê?! Parente de vocês? – resmungou o químico da divisão, cruzando os braços diante do peito.

- Jaguadarte?! Vocês fazem o quê?! Brincam de polícia e ladrão? – indagou uma das agentes, debochando do nome citado.

- pelo visto, brincam de princesa – provocou o castanho que recebera a resposta de Erica mais cedo.

- Jesus! – resmungou Vernon, revirando os olhos.

- a academia não forma agentes, forma um rebanho de acéfalos chupa rola!- resmungou Erica levando as mãos aos rostos.

- Sebastian Crane, fora um estuprador pedófilo e canibal que se manteve fugitivo do FBI e da Interpol aqui em nosso país. Ele atacou recentemente a cidade de Miami em um ataque direcionado especificamente para a nossa divisão devido a um dos detentos que fazem parte dela – explicou Allison calmamente, com o tom mais profissional que conseguiu manter diante de sua indignação perante a zombaria para a divisão da qual fazia parte.

Lydia mostrou, nas telas que exibiam o logo da agência, fotos do caso. A informação silenciou parcialmente os agentes.

- o detento em questão é Stiles Stilinski. Identificação de número 44.626. Designado para a Solitária de Alcatraz. Seu nome de assassino: Alice. – ditou Scott com seriedade, observando alguns agentes se entreolharam após o nome de assassino de Stiles.

- culpado pelos crimes de terrorismo há dez anos atrás, quando aterrorizou civis com bombas e jogos psicológicos coletivos, latrocínio, homicídio qualificado de duzentas e noventa e sete pessoas. Metade das vítimas eram homens da lei: policiais e agentes federais. – explicou Derek se aproximando do tio, se colocando ao lado do mesmo.

Erica exclamou, puxando o ar para os pulmões.

- QUANTO?! – gritou, descrente.

- isso, sendo as que sabemos que foi ele. O próprio já confessou em interrogatórios que esse não é o número total – comentou Derek vendo a Reyes desviar o olhar para Allison, ainda surpresa.

- ah, tá certo. O maior serial killer do país teve como vítimas sessenta mulheres! São duzentas e trinta pessoas de diferença! – argumentou um dos agentes, descrentes.

- e por que você acha que o governo manteve o caso dele em segredo? Uma criança de onze anos bate o recorde de vítimas com uma diferença gritante. Acha que o país ficaria calmo? Ficaria bem visto lá fora? – argumentou Chris vendo os agentes se entreolharem, pensativos.

Lydia colocou a imagem de Alice criança na tela.

- Uma criança?! – indagou outro agente, ainda descrente.

- hoje, não mais -

- se ele está preso, por que vamos investigar ele? – inquiriu uma das agentes, curiosa.

- vocês deixaram ele fugir?! – questionou outro, perplexo.

- não. Algo pior. Uma das vítimas de Alice era uma outra assassina em série. Bom, pelo menos desconfiávamos que ela fosse. Uma vez que ela nunca esteve nos arquivos federais, não tem identidade, nem nada do tipo, e suas digitais foram apagadas de suas mãos com químicos. Do mesmo jeito que Alice – comentou Rafael e Lydia colocou a imagem do cadáver decapitado pendurado na parede.

- ela se intitulava de Branco. O Coelho Branco – ditou Chris antes de a imagem da cabeça sem a máscara ser exibida na mesa do necrotério.

- por essa eu não esperava – comentou Verno , surpreso.

- não sabemos se eles possuem alguma relação. Ou se os seus títulos serem mera coincidência – ditou Rafael antes de a imagem de Alice, criança, de pé diante do corpo, com um faca nas costas, inclinado sobre um agente federal ser exibida na tela.

- esse foi o momento em que ele se entregou para o FBI – ditou Peter focando o olhar no agente diante de Stiles.

Aquele era Alexander, que se encontrava perplexo com o ser diante de si.

- desde que Alice foi preso, nada do tipo aconteceu. Nenhum assassino extremamente perigoso relacionado com histórias infantis, nem nada similar - explicou Peter voltando a encarar o grande número de agentes ali presentes.

- não até alguns dias atrás – as palavras do louro paralisaram os membros da sua divisão.

Eles lhe encararam com pavor, observando o louro apontar para um canto.

- oi. Eu sou Matthew Daehler, sou analista, e vou introduzir o caso para vocês – ditou o castanho se erguendo atrás de seu notebook, antes de voltar a se sentar.

- há alguns dias atrás, um grupo poderoso de líderes da mafia se reuniram em um de seus pontos de domínio – explicou revelando imagens de uma boate subterrânea.

- acontece que a reunião do grupo conhecido como Bosque Noturno...

- o Bosque Noturno?! A narcóticos está atrás desse grupo há anos! – exclamou Scott, surpreso.

- o que é Bosque Noturno? – indagou Isaac, curioso, para Peter.

- é um cartel de drogas que trafica algumas das drogas mais perigosas e populares da atualidade. Eles chegaram a tentar copiar a sua droga, mas falharam e abriram mão do produto quando os custos ultrapassaram as expectativas – explicou Allison vendo o louro menear positivamente, em compreensão.

- voltando. A reunião foi arruinada quando um homem de máscara de coelho branco assassinou todos os presentes – ditou o castanho de olhos azuis e um vídeo passou a ser exibido nas telas.

Na imagem, um grupo considerável de homens estavam organizados em uma sala. Alguns sentados em poltronas confortáveis, em círculo, como tronos, e ao seu lado, haviam dois homens. Um de cada lado, e três homens espalhados pelos cantos, apoiados nas paredes. De baixo da imagem, a porta se abriu e um carrinho de serviço fora empurrado para dentro por uma pessoa vestida em um terno branco.

- tão discreto! – exclamou Erica, irritada, e Matt pausou o vídeo.

- e nenhum deles desconfiou de um homem mascarado?! – questionou um agente, indignado.

- não se confunda. Nessa boate, os funcionários vestem roupas características e cobrem seus rostos com máscaras de animais – explicou o Daehler e todos voltaram a se concentrar no vídeo assim que o rapaz voltou a dar play.

Após servir todos no ambiente com bebidas alcoólicas, o homem retirou a cobertura metálica do prato escondido no centro do topo do carrinho. O clina se tornou tenso entre os homens sentados. Os agentes conseguiram perceber aquilo com facilidade. O homem mascarado, então se abaixou, retirando, do interior do carrinho, uma metralhadora e passando a disparar sem discriminação alguma. Os homens até tentaram revidar, mas algo parecia errado com eles

- aquilo no carrinho... É um bonsai?! – inquiriu uma das agentes, e Matt deu zoom na imagem.

- sim. Um bonsai com três galhos bem podados – respondeu Vernon, observando Peter, Chris e Rafael se entreolharem com seriedade.

- Nemus – ditou Chris vendo os outros dois menearem positivamente.

- Nemus?! –

- Nemus era uma facção criminosa muito famosa há dez anos atrás. Ela foi destruída... Em um dos ataques de Alice. O líder do grupo era um político influente do leste do país. Ele cometeu suicídio antes do julgamento – Explicou o agente Argent e Matt colocou imagens do caso na tela.

- inclusive, umas das vítimas mais curiosas ocorreu nesse ataque – ditou Peter e a imagem de uma adolescente surgiu na tela.

- Meredith Walker, a filha do líder – anunciou Rafael vendo a imagem da morena de cabelos cacheados ser exibida em várias condições. Mas as mais chamativas estavam no centro da tela. Uma delas era no necrotério, a do meio era a garota em uma cova na cena do crime, e a terceira era ela podando em uma árvore na escola.

Nas três fotos a mecha esverdeada em seu cabelo chamava a atenção, devido a cor chamativa.

- ela foi asfixiada e enterrada na floresta ao lado da mansão em chamas. Encontraram o seu corpo devido a sua mão, que se encontrava para fora da cova, segurando a assinatura de Alice – explicou Peter e a imagem da mão da adolescente surgindo da terra ao lado de uma árvore chocou Isaac.

- a sua identificação como vítima de Alice é: Rainha de Paus –

- poético, do jeitinho que Alice costuma ser – comentou Vernon, chamando a atenção.

- perdão? – inquiriu Lydia, curiosa.

- a filhinha do papai é enterrada na floresta ao lado de sua mansão, com a carta da rainha de pau. Ela, com certeza, deveria ser como uma rainha para o pai e para os capangas. Um tipo de figura real. Se ela pedisse, eles fariam. Como uma rainha. E ela foi enterrada na floresta com a qual estava habituada. Uma verdadeira Rainha de Paus – explicou o Boyd vendo a ruiva olhar para a tela, pensativa.

- uma das vítima mais curiosas, você disse. Quais e quantas são ao total? – indagou uma agente, franzindo o cenho para os agentes mais velhos.

- quatro. Apenas quatro. – respondeu Peter estalando os dedos e apontando para Matt.

Logo as quatro eram exibidas na tela, na forma como foram encontradas nas cenas de crime, e uma foto em vida.

- a primeira, fora Noshiko Yukimura, esposa de um líder da máfia japonesa, conhecida como Os Raposas. Encontrada esquartejada em sua própria casa, pendurada em seu museu pessoal de armas japonesas. A sua carta: o Valete de Espadas. –

- a segunda vítima: Adrian Harris. Professor universitário de química e que trabalhava para o governo como pesquisador. Encontrado em seu laboratório, sobre o balcão, com um olho corroído por ácido. Mas a causa da morte fora gás mostarda. A sua carta: Rei de Ouros –

- a ter eira vítima, já foi apresentada: Meredith Walker, a rainha de Paus –

- Branco. A mulher misteriosa, é a nossa quarta vítima. Encontrada decapitada em um galpão, e pendurada na parede na forma de cruz. A sua carta: uma Coelho Branco de um baralho de jogo de memória –

- não faz sentido! A assinatura mudou de uma vítima para a outra! – exclamou um agente, intrigado.

- é por isso que que acho que essa mulher tem alguma relação com Alice. É apenas uma teoria minha, mas é tudo o que eu tenho – ditou Peter observando os membros de sua divisão olharem, surpresos, para a mulher misteriosa exibida em uma foto no necrotério.

- ele nunca lhe disse nada? – inquiriu Isaac encarando o louro suspirar e negar com a cabeça.

- não é como se os assassinos nos confessem os seus segredos como uma festa do pijama, sabia? – rebateu uma agente

Isaac revirou os olhos.

- temos mesmo que trabalhar com esse rebanho de incompetentes? Eles só vão fazer merda e atrapalhar! – exclamou o louro de cachos, ouvindo o bufar indignado de agentes ao seu redor.

- Isaac está certo. Eles não conhecem Alice. Não sabem do mínimo que ele consegue fazer, como a nossa divisão sabe. Eles apenas vão subestimar ele. Não vão dar o devido valor a periculosidade desse caso – comentou Vernon ouvindo mais protestos.

- com todo o respeito, rapaz, mas você não está apto a julgar a periculosidade deste caso – ditou Rafael cruzando os braços diante do peito.

- exato. Se eu não estou apto. Que estou dando a devida atenção e crédito apara as informações de Peter, imagine esse rebanho de bebê com distintivo e arma – rebateu o Boyd e o McCall suspirou.

- vamos voltar ao ponto? O que o caso Alice tem a ver com o homem na gravação? – questionou Scott desviando a atenção para si – acha que esse cara é algum filho daquela mulher? –

- não sabemos quem ele é. Mas sabemos o que ele quer – ditou Chris antes de Matt colocar a imagem tirada das paredes cheias de fotos no porão da casa recém descoberta.

- o que é isso? – indagou Allison, curiosa.

- ele quer Alice. Quer que Alice seja solto e volte para a agir – ditou Peter vendo a sua divisão se entreolhar, surpresa.

E então eles narraram todo o ocorrido. Desde a denúncia anônima, até a comunicação com Branco através do manequim robótico no guarda-roupa e da armadilha incendiária na casa. Com uma riqueza de detalhes que perturbou aos novos agentes envolvidos. Os membros da divisão encaravam, perplexos, as fotos tiradas de si. Aquele mural enorme, continha momentos de quase todos os casos que eles participaram.

- então por que não chamamos Alice para o caso? Por que ele ainda está em Maybelle quando já devia estar entregando esse cara uma bandeja para gente? – questionou Erica, confusa.

- porque Alice não pode saber sobre ele – respondeu Peter, quase desesperado

- por que não? – fora a vez de Isaac

- espera. Esse Alice trabalha com vocês?! –

- porque Alice já suspeita que exista um segundo Branco agindo – respondeu Peter, surpreendendo o grupo.

- como?! Como ele sabia?! –

- ele suspeita. Porque o Sebastian Crane contou a ele sobre um novo Coelho Branco, e segundo Stiles, esse foi o motivo pelo qual ele matou o Jaguadarte –

- se uma declaração já o fez perder o controle... – murmurou Allison

- ter a certeza o faria enlouquecer – concluiu Vernon, perplexo

- e Branco ganharia. Ele teria Alice de novo – disse Derek, incomodado.

Entregar Alice se volta para Branco, seria chutar todo o trabalho do seu pai para os infernos. Seria insultar o seu pai.

- mas o mais preocupante é a declaração dele. Temos cinco dias até que ele faça alguma coisa que o faça ganhar Alice. E nós temos que revirar cada evidência atrás de alguma pista do que é que vai acontecer em cinco dias – ditou Chris vendo os agentes lhe fitarem com seriedade.

- e por que acha que alguma coisa nessa casa vai nos dizer isso? –

- porque ele é um Maravilhano – respondeu Peter, chamando a atenção para si – ele atua que nem Alice atuava. Ele deixa pistas do que irá fazer, como pequenas charadas sobre o que ele vai fazer. Ele nos dá a chance de impedir o crime, de propósito, porque acha que sempre irá ganhar –

- um Maravilhano?! – questionou uma agente, descrente do que tem nha ouvido.

- se existiam duas pessoas no País das Maravilhas, então podem haver mais. A prova maior é esse novo Branco –

- País das Maravilhas? –

- é o seguinte. Esses dois criminosos acreditam em um mundo sob o mundo. Eles o chama de País das Maravilhas, pois eles podem ser o que bem entenderem, contanto que tenham força para isso. Você pode ser o que quiser, contanto que você seja forte o suficiente para conquistar e se manter. Um mundo sem regras onde a lei do mais forte prevalece – explicou o Tate observando os agentes em geral.

- então ele deixou alguma pista nessa casa. Nós só temos que descobrir o que é – ditou uma das agentes olhando para os outros.

- o problema é que tudo o que nos restou foram fotos – ditou Erica vendo Isaac e Vernon concordarem.

- não temos tempo para perder lamentando. Vocês seis vão analisar as fotos penduradas no sótão. O resto vai analisar as fotos do resto da casa – ditou Peter vendo os agentes menearem com concordância.

- com licença, Peter. Mas esse caso não foi designado para a sua divisão – comentou Rafael surpreendendo o louro.

- como é? –

- esse caso é nosso – argumentou Chris observando o louro bufar indignado.

- nem dele, nem de vocês. Esse caso é meu – ditou Alan Deaton, surpreendendo os agentes ao caminhar por eles até o local em que o Argent, o McCall e o Tate se encontravam.

- Deaton?! – inquiriu Allison, surpresa.

- e como líder do caso, eu digo que a divisão de Peter estará no comando, mas a decisão final será minha – anunciou o homem se sentando a mesa redonda, e retirando o chapéu que usava e levava o copo de café quente aos lábios.

- o quê?! Por que? –

- vai dar o caso para os presidiários?! –

- estava demorando – resmungou Erica, irritada.

- porque a taxa de solução de casos dele pode ser um pouco mais baixa do que a de vocês. Entretanto, os casos que eles solucionaram foram os mesmos que vocês não conseguiram resolver. Logo, se tratando de casos de alta dificuldade de resolução, essa divisão possuí prioridade. – argumentou Alan, surpreendendo os detentos.

- sem contar que eu quero ver, pessoalmente, como eles vão lidar com um... como Peter disse? Maravilhano? Isso. Sem o Maravilhano do grupo – ditou o Deaton levando o café aos lábios.

- Peter, você está no comando. Chris e Rafael vão lhe auxiliar no caso. E todos os agentes presentes estarão ao seu dispor. Como nos velhos tempos -o homem sorriu cruzando as pernas.

- ótimo. Então vão investigar as fotos. Elas estão naquelas caixas. O resto de vocês vão investigar as fotos da casa. –

- ESPEREM! – ditou Matt, chamando a atenção dos agentes.

- o quê?! Algum problema?! -

- os resultados do DNA acabaram de chegar – ditou o Daehler digitando com velocidade no computador.

- DNA? – questionou Derek, confuso.

- encontraram quatro corpos no quintal da casa. Acreditamos que sejam da família de Alice – ditou Rafael, surpreendendo o grupo.

- e? – inquiriu Peter, curioso.

- confirmado. São o pai, a mãe, um irmão mais velho, e um irmão gêmeo – ditou o castanho surpreendendo os detentos.

- GÊMEO?! –

- e a identificação? –

- aí é que está o problema. O pai e mãe possuem correspondência, mas muito antiga. Jonh Stilinski, a última atualização em cadastro nacional foi na adolescência, quando ainda cursava o ensino médio junto com o irmão gêmeo, Noah Stilinski. Os pais relataram um desaparecimento, mas John não possuía o melhor histórico do mundo, então a polícia e a família definiram como a fuga de um adolescente rebelde – o castanho narrava enquanto exibia os documentos nas telas.

- é comum que gêmeos possuam gêmeos – comentou Rafael, pensativo

- Kayle Thomas, a mesma coisa. Última atualização em cadastro nacional ocorreu na adolescência. Pai abusivo, mãe prostituta. Fugiu de casa assim que conseguiu – ditou o Daehler agora exibindo imagens da mãe adolescente.

- nenhuma das duas crianças possuem qualquer cadastro. A sua única ligação são a correspondência de DNA com John, Kayle e Alice - explicou o analista exibindo a foto dos três adolescentes.

- e digo mais. Há um problema com as datas das mortes – anunciou o castanho observando o grupo de agentes no comando franzir o cenho.

- qual é o problema? John, Kayle e Nickolay morreram na mesma época. Mas Mi... Mi... “Miekyxlay?” que porra é essa?! Enfim, o gêmeo morreu anos depois do resto da família –

- então ele mata os pais e o irmão mais velho. Passa anos com o irmão e depois o mata? –

- se for esse caso, passou anos fazendo o quê? Repetindo no irmão a tortura psicológica que sofria do pai? – indagou Rafael, confuso

- o quê? – questionou Derek, perplexo e nervoso.

Aquela informação.... Batia perfeitamente com...

- Alice não mentiu para Kara. Ele realmente era mantido algemado pelo pai – ditou Peter vendo a surpres ano olhar do sobrinho.

Matt colocou as imagens do cativeiro nas telas.

- isso... – Erica não conseguiu terminar

- esse era o quarto de Alice. Um cativeiro no sótão da casa + ditou Peter passando a mão no rosto

A bonequinha de pano surrada enrolada nas correntes perturbou Erica.

- e então, Derek? Acha que eu mereço um pai desses também? – indagou Vernon, vendo o moreno de olhos verdes lhe fitar surpreso.

Erica socou a mesa com força, assustando os agentes. A loura se virou e chutou uma mesa de escritório atrás de si.

- olha, eu não... –

- não perca o seu tempo, Vernon. Não é como se alguém aqui, ao nosso redor, fosse pensar diferente dele. Para eles, a vida que levamos antes do crime são um castigo antecipado pelos nossos atos futuros, e não a causa deles – ditou Isaac com frieza na voz.

- na verdade, os danos presentes nos crânios de Kayle, Nickolay e o irmão gemeo são incompatíveis com os que uma criança poderia causar – comentou Matr, chamando a atenção para si.

- segundo o legista, uma criança de sete anos não teria como causar um dano desses. As três vítimas foram batidas contra uma superfície sólida com forças varias e várias vezes. –

- foi o pai – concluiu Erica, chamando a atenção para si.

- por que acha isso? –

- se ele estuprava Alice, então não tinha nenhuma necessidade sexual para manter a esposa. A esposa deve ter descoberto e ele a matou antes que ele tomasse alguma providência – ditou a Reyes com a fúria que sentia sendo exibida em seus punhos cerrados que tremiam.

- ele já tinha uma nova esposa e ainda tinha um filho. Não precisava de dois que se colocariam contra ele – concluiu Isaac, pensativo.

- mas e o pai? Como ele morreu? –

- marcas nas vertebras e costelas. Algo o perfurou no torso, e um impacto forte na cabeça. O legista especula que a causa da morte tenha sido a soma do impacto forte na cabeça com a hemorragia -

- só nos resta dois suspeitos – ditou Derek, encarando o tio com surpresa.

- ou foi o Stiles, ou foi o gêmeo dele que matou o pai –

- mas como? – indagou Alan, pensativo.

- sótão. É um ambiente em que guardamos coisas velhas, muitas vezes perigosas. Era onde Alice era mantido em cativeiro. – concluiu Peter.

- então um dos gêmeos se arma, e ataca o pai, após ele ter matado a esposa e o filho mais velho. E então, o pai cai pela entrada do sótão e bate a cabeça – supôs Allison, observando os outros presentes, esperando por alguma objeção ao argumentação.

- é uma boa teoria. Mas isso não responde como o irmão gêmeo morreu anos depois – comentou Alan, observando todo os outros agentes voltarem a pensar no assunto.

- segundo o legista, o irmão gêmeo quando tinha uns dez para doze anos – comentou Matt vendo Peter e Alan erguerem a cabeça

- a cronologia bate perfeitamente! – exclamou o Deaton se erguendo e se aproximando do quadro, desenhando uma linha com um pincel.

-como é?! – inquiriu Lydia, confusa.

- nasceu e foi rejeitado pelos pais. Passou a ser mantido em cativeiro, em segredo e abusado sexualmente pelo pai desde o quê? Três anos? Quatro? Atingiu os sete anos e então os pais morrem, junto com o irmão mais velho. Os gêmeos passam a viver juntos desde então, até que um deles morre quatro anos depois. A idade em que Alice passou a aterrorizar o país – explicou o Deaton finalizando a sua linha cronológica dos fatos.

- a morte do irmão gêmeo foi o gatilho que o transformou num assassino – murmurou Scott, perplexo.

- o irmão deve ter matado o pai para lhe proteger. E com isso, Mieczyslay passou a representar tudo de bom no mundo para Alice. Ele era como o seu porto seguro, a sua bolha da paz –

- e quando ele morreu –

- a bolha estourou, liberando o monstro dentro dele –

- mas isso não responde a pergunta mais importante – ditou Alan, cruzando os braços diante do peito, ainda segurando o seu copo de café.

- que seria... –

- como uma criança que cresceu em um cativeiro até os sete anos se tornou uma espécie de super-soldado mirim? – indagou Alan encarando os agentes com esperancayde alguma resposta.

Vernon se ergueu e se aproximou do quadro, pegando uma foto e a colocando no ponto da linha cronológica em que Mieczyslay morre.

- ela é a resposta – acusou se afastando do quadro

- e por que acha isso? –

- todo mundo sabe que um coelho branco é quem guia Alice até o País das Maravilhas. Essa mulher ensinou ele a matar –

- é uma teoria interessante, mas muito óbvia para ser relacionada a Alice.-

- ao mesmo tempo que poética. Combina com ele. Lembram do Jaguadarte? Ele tinha pele estranha como escamas, olhos anormais e implantes de garras – comentou Isaac em resposta

- Cinderela golpeava as vítimas doze vezes, deixava os pés no tamanho correto e deixava a cena limpa como se a tivesse faxinado – argumentou Erica.

- Vernon Boud pode estar certo ou pode estar errado, mas, no momento, a teoria dele é tudo o que - ditou Alan, apertando o ombro do Boyd.

- mais alguma informação, Matt? – inquiriu Peter vendo o castanho negar com a cabeça.

- ótimo. A divisão do Peter vai trabalhar nas fotos do sótão, o resto vai se dividir com as fotos do resto da casa. Peter e eu vamos até a boate em que o novo Branco atacou, e Chira e Rafael vão voltar a casa e ver se encontram alguma prova que sobreviveu ao incêndio -

 

 

 

- você não está mesmo com medo? - imquiriu Rainha, sentada em seu trono.

Ela estava observando Branco, no centro do salão, encarar as telas do computador com curiosidade, enquanto brincava com um cubo mágico, o resolvendo em questão de segundos pela milésima vez. O ambiente era um enorme salão, com uma grande mesa anelar, cujo espaço no centro era maior do que a mesa propriamente dita. Espalhados pelo anel, haviam quatro tronos decorados com cristais coloridos. Cada trono possuía naipe de batalho no topo. O dela, possuía o símbolo de Paus, enquanto os gêmeos se encontravam sentados no trono com o símbolo de copas.

- não. Ele não é nenhum perigo para mim. Mas para você possa ser. Vocês estão trabalham com a mesma área – o mascarado de rosto pálido franziu o cenho por trás da máscara.

- eu me refiro ao país. Eles vão chamar o exército lor nossa causa. Você sabe disso, certo? – inquiriu Rainha observando o mascarado peludo jogar o cubo mágico em sua direção.

Com uma mão, rainha agarrou o objeto e passou a embaralhar o mesmo, antes de o jogar de volta.

- ah! Isso! Não. Eles vão ficar rodando em círculos como sempre fizeram com Alice e a cada segundo em que eles não estão fugindo, nós estamos apenas chegando perto – comentou com a voz modificada antes de os gêmeos rirem baixinho, em meio as suas carícias incestuosas.

A porta no cebtro de uma das paredes se abriu, e os arredondar mascarados sentados em tronos desviaram o olhar para a mesma, enquanto Branco se mantinha de costas para a entrada.

- você está atrasado – ditou Branco ainda resolvendo o cubo, antes de finalizar o mesmo.

- achei que você fosse estar mais – ditou Jackson estranhando a presença de uma quarta pessoa mascarada.

- finalmente! Eu já estava morrendo! – exclamou Ethan levando uma taça dourada aos lábios.

Branco se virou, lançando o cubo mágico no louro, que agarrou o objeto, confuso.

- embaralhe para mim – ordenou e o Whittemore, confuso, obedeceu.

- e qual é a sua grande proposta? – indagou Jackson antes de devolver o brinquedo em um arremesso.

- eu te ofereço o criador da droga zumbi – ditou Branco e em telas espalhadas por todo o ambiente, Jackson viu a imagem de um louro de cabelos cacheados e pele bronzeada surgir.

- o seu nome é Isaac Lahey. Mas, em troca, você vai fazer um servicinho para mim –

- e se eu não aceitar? – indagou Jackson, curioso.

- então o meu bebezinho chorão vai ter que dar um jeito em vocês – disse Branco, erguendo os pés cruzados, e os descendo com certa força sobre um baú, local em que antes se encontravam cruzados.

- seu bebezinho?! –

- eu disse que não se pode dizer não para ele – ditou Aiden o louro se assustou quando um grunhido alto ecoou pelo local.

Branco riu.

O baú se abriu, deixando Jackson confuso. Branco não se abaixou, muito menos alguém se aproximou para o abrir. O louro de topete observou uma mão sair de dentro do baú. Rainha suspirou e os gêmeos gargalharam.

- aí vem! Aí vem! – exclamaram, animados.

Duas pernas surgiram do baú, completamente vestidas de preto. Jackson recuou um passo, levando a mão até a cintura. Como uma aranha, ele viu um corpo estranho engatinhar pelo chão, se retirando do baú. O corpo parou. Uma cabeça surgiu abaixo do corpo. Uma cabeça de porco. O pés foram erguidos para o céu, antes de darem a volta e se colocarem atrás do corpo. Os braços giraram quase que completamente, antes de o corpo se erguer, tomando a forma de um corpo humano esbelto, vestido em preto, com seios medianos empinados em sua direção, e uma cabeça de porco se inclinar em sua direção.

- não importa o quão apertado seja o lugar. Essa mulher vai estar te esperando no quarto, no banheiro, no carro. Onde você estiver. Ela irá buscar a sua alma – ditou Branco estalando os dedos e a mulher, em uma série de mortais, se dirigiu até Rainha, saltando na mesa, antes de saltar e se apoiar sobre o trono com as mãos.

Jackson viu as luzes se apagarem, e o grunhido similar ao de um porco ecoar pelo ambiente. Quando as luzes voltaram a se ascender, a mulher de preto já não se encontrava mais no ambiente.

- e então, Jackson? Vai aceitar o seu trono? – indagou Branco apontando para o trono com o naipe de ouros.

- o que eu tenho que fazer? – perguntou se sentando no trono Indicado, notando uma máscara sobre a mesa.

Uma máscara similar a do quarto membro, mas com a diferença no naipe exibido na máscara branca.

- você vai dar um jeito em alguns agentes do FBI quando eu mandar. Não se preocupe. Não vai ser nada difícil. Eu vou estar lidando com a maior parte. Você vai ficar com uns cinco ou seis deles –

- por mim, tudo bem – ditou o louro, notando um modificador de voz alterar a sua.

- bem-vindo, Rei de Ouros. Estes são a Rainha de Paus e o Ás de Copas – ditou Branco apontando para rainha, e em seguida para os gêmeos.

- Ás de Copas? – murmurou, surpreso.

- certo. Saquei os nomes. Mas qual é o seu objetivo com isso tudo? –

Branco sorriu por trás de sua máscara.

- recuperar memórias – respondeu, deixando o louro ainda mais confuso.

Chapter 56: Cell

Chapter Text

Stiles girou o ás de copas em sua mão, o fazendo girar ao redor dos dedos, surpreendendo Brett, que observava o movimento alheio completamente. Quando a carta parou entre o dedo mindinho e o anelar, o homem se surpreendeu ao ver um valete de espadas no lugar do ás. O Crowler piscou os olhos, espantado, vendo o castanho voltar a girar a carta entre os dedos, mudando novamente para o Ás com um coração no centro.

- como você faz isso?! – questionou, espantado.

- prática – respondeu, desinteressado, ainda sentado no banco sob o Sol.

O louro estreitou o olhar, desconfiado.

- você não está só entediado – comentou o louro observando o castanho lhe fitar de soslaio, antes de voltar a encarar a cerca da penitenciária.

- aí! É você que é o cara que macetou a cara do Rodrigo no chão? – indagou um homem magro, alto, com tríceps levemente ondulados e cabelos negros bagunçados.

Stiles estreitou o olhar na direção do homem, brevemente, franzindo o cenho para o cigarro pendurado nos lábios alheios.  Ele o analisou minuciosamente nos poucos segundos que o encarou. Lábios ressecados, cigarro barato, olhos marcados por olheiras, além dos resquícios de remela seca e na coloração rosada em seus globos oculares. O nariz fora torcido, em uma fungada, e o castanho notou resquícios de substância de cor branca nas bordas das narinas e nos poucos pelos do bigode que crescia.

Uma onda de risadas ecoou em sua mente, o forçando a inclinar a cabeça para o lado, incomodado com o som que sabia que apenas ele ouvia. O castanho girou a carta em sua mão mais uma ves, a prendendo entre o indicador e o dedo do meio.

- eu quero saber quem vai se responsabilizar pelas minhas encomendas? – o homem se aproximou mais, colocando o pé ao lado da cintura de Stiles.

Brett sorriu de canto.

- alguém quer morrer – cantarolou se inclinando para trás, apoiando o torso na mesa nas suas costas, e jogando a cabeça para trás, permitindo que o So lhe banhasse um pouco mais o corpo.

- o quê que é, marica?! – o homem soou indignado.

- escuta. Eu não quero ter que tomar providência, sabe? O cara era o meu fornecedor aqui dentro. E quando a cara dele foi quebrada e ele parou na enfermaria por uns dias, a minha encomenda se perdeu. E eu paguei muito por aquele bagulho, tá ligado? – o homem se curvou, aproximando o cigarro aceso do rosto do castanho, que ainda lhe ignorava a imagem.

Ele soprou a fumaça no rosto alheio e Stiles chegou a sentir a temperatura de sua bochecha aumentar quando o cigarro se aproximou mais de sei rosto assim que o homem moveu o mesmo nos lábios. O castanho pode ouvir, de longe, as vozes se aproximando, como em um eco.

CORTA!”

CORTE!”

CORTE-LHE A CABEÇA!”

E, em um reflexo, ele moveu a mão com a carta para cima.

O homem recuou, abismado e com o corpo frio, observando a brasa subir e descer até o chão, se apagando ao entrar em contato com a terra. Ele sentiu o cigarro em seus lábios perder o gosto. Ao mover a mão a boca, ele compreendeu que havia restado apenas a bituca do cigarro pressa em seus lábios. Ele olhou para a mão alheia, esperando identificar a arma que havia cortar o cigarro naquele movimento rápido, mas tudo o que encontrou fora um Ás de Copas.

- ouse... Se aproximar de mim... Mais uma vez... E será a última vez que seu olho esquerdo verá um rosto bonito –

O homem engoliu em seco, tentando disfarçar o receio que sentia. O homem a sua frente, que antes lhe pareceu frágil e fraco, agora aparentava ter uma nova forma. Uma ameaçadora. Ele não sabia como, mas aquele cara havia cortado um cigarro com uma carta de baralho. Ele recuou dois passos quando o castanho se levantou. Não iria demonstrar fraqueza, mas também sabia que não poderia ir para coma daquele homem.

- e aí, sim – Stiles caminhou em sua direção, e o homem, nervoso, se manteve parado, apenas o encarando.

O castanho se aproximou mais, juntando os seus rosto, fazendo o seu olho esquerdo ficar diante do olho esquerdo do outro.

- você verá um bagulho -

E então o sinal de que o tempo do banho de sol acabou, soou. O castanho começou a sua marcha silenciosa na direção do interior do prédio. Com normalidade, adentrou a própria cela, pegando um dos livros entregues a si por Peter. Ele tentou ler, mas apesar de passar os olhos sobre palavras, ele não conseguia ler, propriamente dito. A sua mente estava ocupada. Estava longe. Estava em imagens de um ser de terno branco e cabeça de coelho, que havia sido fotografado perseguindo um homem asiático.

Foi o Coelho Branco

A voz confusa e animada de Sebastian Crane veio em sua mente. Aquilo lhe irritou. Aquele homem não sabia de nada! Aquele homem não era nada.

Um gargalhar grave ecoou em sua cabeça.

- até mesmo ele, que era um merda, sabia de coisas que você não sabia

- cala a boca, Rei! – resmungou Stiles, se focando em seu livro. Ou ao menos tentando

Quando ele sentiu uma luz sobre si, como um holofote, foi o momento em que ele decidiu que realmente não ergueria o olhar do livro.

- qualquer coisa que um merda daqueles fale sobre o nosso país não deve ser levada em consideração – agora fora uma voz feminina que se pronunciou.

- exato – murmurou Stiles, optando por recomeçar a página em que se encontrava.

- ainda que seja um ser desprezível, ele estava certo. Ele voltou! – Rei voltou a se pronunciar, agora com uma fala macia

- ele era desprezível... Mas trabalhava para mim. Acho que deveria ter algum crédito

As outras duas vozes gargalharam. Rei de forma escandalosa, estranha, já a segunda voz, emitia um som divertido, gostoso de se ouvir. Um som que acalmava. Stiles franziu o cenho.

- calem a boca! Eu quero ler! – resmungou, em um murmúrio, abaixando a cabeça e negando com a mesma.

- hm? Não está irritado?

- estou. Com vocês me interrompendo. –

- ah... Ele está se cansando da gente... De novo! – comentou a voz adolescente, irritada.

- eu só quero ler – comentou o castanho voltando ao começo da mesma página pela terceira vez.

- você pode até nos trancar. Mas não pode nos silenciar, criança – disse Rei voltando a rir, desta vez com malícia.

- você esquece de quem é esse corpo? – comentou o Stilinski, irritado

- hm? E você sabe de quem é? Não... Não vai me dizer que é seu, vai? – provocou gargalhando escandalosamente como se estivesse em um show de comédia.

Stiles apertou o livro em seus dedos.

- pare de provocar, Rei. Não brinque com a as inseguranças dele. É só uma criança! -  a mulher repreendeu e Stiles se manteve em silêncio.

- ah! Pare com essa baboseira, Valete! Ele já cresceu! Ele crsceu enquanto nós paramos no tempo.

Valete gargalhou.

- tivemos a sorte que muitos queriam ter. Não é culpa dele se você já tinha rugas quando surgiu aqui.  Ou você queria esperar até a papada do queixo cobrir o seu pomo de Adão e sua barriga cair até cobrir o seu pauzinho mixuruca? – provocou a mulher e Stiles riu baixinho.

- assim como os seus peitos caídos e sua cara de cachorro pug? – Stiles voltou a rir, enquanto ouvia Valete exclamar em indignação

- pelo visto a única com a sorte grande fui eu, que cheguei aqui ainda na juventude! – exclamou a voz adolescente e Stiles sorriu de canto.

- HÁ! Pelo amor de Absolem, Rainha! Vai buscar o peito que você deixou em casa, sua tábua de carne! – Rei soou irritado.

- calem a boca! – uma quarta voz surgiu, fazendo Stiles perder um pouco do sorriso em seu rosto.

A voz era idêntica a sua, mas com uma leve diferença característica em seu tom.

- iiiih! Chegou! – exclamou Rainha.

- Mieczyslaw, meu rapaz, poderia isolar a acústica da porta dela, por favor? – pediu Rei, cordial, e Stiles suspirou.

- Copas, você não tem o direito de ficar irritada. Afinal de contas, era a sua vez, mas você passou o controle pro garoto – ditou Valete em um tom acusatório.

- isso, aí! Law-Law estava quietinho, mas...

- Para alguém do seu porte atlético que gosta de ficar criando inimizades por aí, não é uma boa ideia se manter isolado em um local tão longe dos outros. Sabia disso? -. Stiles sentiu as luzes sumirem e, ao piscar os olhos, se viu mais uma vez em sua cela, agora encarando o guarda Winston a sua frente, acompanhado de mais dois guardas.

O castanho sentiu a tensão em sua mente, antes de, em alguns segundos, uma onda de cinco gargalhadas ecoar em sua mente, lhe forçando a sorrir de canto ao tentar conter a sua própria.

- achou algo engraçado? –

- você, porco! - Rei exclamou em meio ao seu gargalhar.

- você não entenderia, mesmo se eu te explicasse por cinco dias sem parar – respondeu Alice passando a voltar a dar atenção ao seu livro.

- ele vai fechar a grade – comentou Rainha e Stiles sorriu.

- eu sei – disse o castanho, sem se preocupar em abrir os lábios.

A grade da cela fora batida.

- os dois mais fortes vão vir primeiro – ditou Rei com um sorriso nos lábios que era evidente em sua voz, devido a sua animação.

Os dois homens ao lado de Winston deram um passo para a frente, em diagonal, se afastando do guarda no centro.

- eles estão ciente de sua força, pelo visto – comentou Copas, curiosa.

- eles querem dividir para conquistar – disse Valete entediada.

é uma distração. Quem vai atacar será o velhote! – ditou Copas com seriedade.

- ele vai usar o tazer

Winston, com velocidade, sacou a arma de choque e Stiles fechou o livro com calma. O disparo lhe acertou e o seu corpo passou a se debater e a se contorcer no chão. O guarda Winston sorriu de enquanto via o corpo do castanho com macacão da prisão cair para o lado, com o livro em sua mão.

- segurem ele! Vamos ensinar parece cara que a prisão não é brincadeira de criança – falou já abrindo o cinto de sua calça.

Os dois homens se aproximaram e se abaixaram, agarrando Stiles pelos braços e o erguendo. Eles passaram os braços dele sobre os seus ombros e forma surpreendidos quando os dedos se emaranharam em seus fios de cabelos e forçaram suas cabeças uma contra a outra. Winston encarou, surpreso, os dois guardas se afastarem e o castanho se manter de pé, como se nada tivesse acontecido. Como se ele não tivesse sido atingido me cheio por um tazer. O homem olhou para a arma de choque, conferindo a mesmo pro um momento, tentando achar algum sinal claro de defeito.

- eu vou lhe ensinar que essa bonequinha aqui não é um brinquedo de criança – ditou  puxando o fio do tazer do peito, e o jogando no chão, avançando contra o guarda Winston, que tentou lhe desferir um soco, mas o castanho passou por baixo do golpe, e se colocou em suas costas.

Mas, diferente do esperado por Winston, o homem de cabelos castanhos um pouco longos não lhe atacou. O homem se virou com um ataque do cotovelo preparado, mas o detento se abaixou, sorrindo largo, antes de voltar a passar por si, e caminhando com tranquilidade para o local em que antes estava.

- então você realmente decidiu me estuprar? E ainda trouxe convidados? – o detento soou preocupado, antes de sorrir largo e rir baixinho – isso fica ainda melhor. O seu pequeno diamante vai sofrer tanto! – exclamou tristonho.

Um dos guardas avançou em si, mas Alice voltou a desviar, sem lhe atacar. Winston engoliu em seco ao ver o homem de cabelos castanhos erguer um tazer, analisando o mesmo. O seu tazer ainda estava em sua mão, então não havia como o prisioneiro ter roubado ele. Então ele olhou para o guarda que atacou, vendo o coldre em sua cintura completamente vazio.

- e vocês, rapazes? Aguentam o choque? Ah, eu acho bom aguentar. Estupradores tem que aguentar algo muito pior na prisão. O choque de ser invadido sem gentileza nenhuma não adormece o corpo – e então ele atirou no guarda que ainda possuía o próprio tazer, o fazendo cair no chão.

O segundo guarda avançou em Alice mais uma vez. O castanho apenas empurrou o tazer no rosto do homem, o forçando a recuar, com a cabeça erguida, antes de ser surpreendido pelo fio cercando o seu pescoço. Wi ston assistiu, perplexo, o homem ser asfixiado, antes de cair de joelhos e ser jogado de cabeça na beliche. Ele se aproximou para ajudar, mas fora derrubado no chão por um chute na virilha.

Stiles se aproximou do corpo jogado do guarda armado, e puxou o tazer do mesmo, atirando no guarda asfixiado que tentava retirar o fio do pescoço. O choque o paralisou, permitindo que a asfixia permanecesse a acontecer. Winston se ergueu mais uma vez, mas voltou a ser derrubado no chão por um chute, desta vez no rosto. Stiles repetiu a asfixia no outro guarda, tratando de bater a cabeça dele contra o chão, para disfarçar o seu primeiro ataque em ambos, antes de passar a puxar os dois fios, aumentando o aperto nos pescoços alheios. Quando a coloração de seus rostos mudou e o movimento de suas narinas desapareceu, ele os soltou, tratando de puxar suas camisas, limpando os dois tazers.

O guarda Winston se ergueu, pronto para se defender, mas o esperado não veio. Alice não lhe atacou. Ao invés disso, ele se afastou dos dois cadáveres. O guarda se aproximou, preocupado, segurando os tazers e desfazendo o aperto em seus pescoços. O guarda, desesperado, mediu suas pulsações, sentindo o corpo começar a tremer, em pânico.

- o que diabos você fez? – inquiriu, perplexo, se virando para o assassino, se vendo confuso ao ver o homem enfiar um cassetete no próprio ânus com força. – mas o que porra...

- eu?! – Stiles sorriu de canto, enquanto passava a respirar de forma descompassada e os olhos se tornavam vermelhos – eu não fiz nada, cara! Foi tudo você! – ditou ainda sorrindo antes de retirar o cassetete de seu interior, o jogando no chão, voltar a vestir a calça e se aproximar da grade.

Winston franziu o cenho, sem entender nada.

As vozes riram mais uma vez.

Alice inspirou profundamente e lágrimas começaram a rolar de seus olhos.



O grupo começou a trabalhar nas fotos, como Peter havia ordenado. Eles passaram a primeira hora apenas separando as fotos em pilhas, de acordo com quem aparecia nelas. A maior parte delas eram de Alice, Erica, Vernon, Isaac e Peter. A segunda hora fora apenas montando parte da primeira parede, sempre tomando o cuidado de colocar as fotos na parede na mesma ordem em que foram fotografadas pelos forenses.

- como diabos esse cara tirou tanta foto nossa?! – questionou Isaac, perplexo, encarando o mural parcialmente organizado a sua frente.

- eu não faço a menor ideia. Esse cara deve ter muito tempo livre – comentou Scott, com naturalidade

Mas a sua naturalidade não enganou, nem um pouco, a ninguém dali. Todos conseguiam sentir a preocupação do agente McCall. Porque era a mesma preocupação que eles sentiam. Como Branco havia lhes perseguido em silêncio por tanto tempo e eles nunca notaram? Haviam fotos até mesmo de Ennis Bishop e Kate Argent ao lado dos membros da divisão.

- temos que analisar cada foto com cuidado, lembrando do que ele falou para Peter. Procurem qualquer sinal de cartas na foto – comentou Allison, concentrada.

- sejam cartas de baralho, outros jogos ou até de tarô – alertou o moreno de olhos verdes, se recordando de que Stiles possuía cartas de tarô e

- chega a ser perturbador – murmurou Derek, preocupado.

- você é perturbador – rebateu Erica, em um murmurou.

Mas o Hale ouviu.

Derek suspirou.

- olha, eu sei que o que eu disse foi errado – ditou o moreno de olhos verdes, colocando uma das fotos embaladas na parede de sua sala.

- não. Você não sabe! – argumentou a loura, na parede ao lado, prendendo mais uma foto, tomando o cuidado de reproduzir, exatamente, o modo como estavam nas fotos dos forenses.

- Erica...

- Não! VOCÊ NÃO SABE! – gritou a Reyes, chamando a atenção dos agentes do lado de fora da sala.

Matt cobriu o lábio inferior com os dentes e o cobriu estes com o lábio superior, arregalando os olhos brevemente.

- você me prendeu, seu merda! Você olhou nos meus olhos e disse que entendia a minha dor. E anos depois você me vem falar que alguém merece um pai estuprador?! – a loura soava indignada.

Derek sentiu a voz morrer em sua garganta.

- eu confiei em você! Quando Peter me disse que você seria o responsável por mim nessa divisão, eu pensei: que sorte! Foi o cara que me prendeu? Foi. Mas é alguém que sabe pelo que eu passei. Que sabe o que eu carrego nas costas. Alguém que vai conseguir entender a minha raiva em casos similares e que pode me ajudar a me acalmar – a mulher riu, irônica.

- você só não foi a maior decepção da minha vida, porque eu já fui noiva – ditou a loura com frustração, antes de suspirar pesado.

O silêncio reinou no ambiente. Derek encarava a mulher em choque. Ele não esperava que a loura estivesse tão furiosa consigo. Na verdade, ele se quer esperava que alguém tivesse ouvido aquela conversa dele com Stiles. Muito menos esperava ouvir aquilo de Erica.

- olha... Eu entendo – ditou Vernon, surpreendendo Erica.

- eu entendo, sério. Você passou a vida achando que ele era o assassino do seu pai. Se ele tivesse matado a minha mãe... Eu também estaria uma fera. Eu estaria furioso ao ponto de dizer esse tipo de coisa quando estivesse de cabeça quente. –

- você só pode estar brincando! – exclamou Erica, se preparando para sair da sala, mas fora parada quando o Boyd lhe segurou pelo braço.

- pense em alguém... Pense em alguém que se alguém tivesse matado, você seria capaz de dizer o que o Derek disse quando estivesse furiosa – ditou Vernon, antes que a mulher pudesse se debater.

Erica lhe encarou nos olhos, irritada.

O silêncio dela fora aceito como resposta positiva.

- minha mãe – murmurou Isaac cerrando os punhos.

- os meus pais – disse Scott, tentando ajudar a persuadir a loura.

- tanta gente – comentou Allison, depois de solta rum riso suave.

- naquela noite... Quando eu cheguei em casa. Eu vi a minha filha. E instantaneamente, eu pensei: que merda foi que eu disse?! Ele não teve um pai estuprador porque viraria um assassino. Ele pode ter virado um assassino porque teve um pai estuprador. Eu já vi isso antes – comentou Derek, surpreendendo a loura. – mas eu não falei nada, porque eu ainda tinha ódio dele. E Alice não possui uma mente fraca. Ele não iria se abalar com algo que eu disse –

Derek fora surpreendido por uma garrafa pet com água mineral que voou e lhe acertou a cabeça.

- mas o que

- você é idiota ou o quê, porra?! Enfiou o cérebro no cu quando entrou na divisão do Peter?! – ralhou o Lahey, surpreendendo os outros membros da divisão.

- o filho da puta te vê como a porra de um irmão! E você me vêm com uma merda dessas?! – indagou o louro de cachos antes de se virar para Allison – me algema. Me algema, ou eu vou acabar batendo nele –

Derek encarava o Lahey, perplexo

- ele não me vê assim, Isaac. Para Alice eu sou apenas um reflexo do meu pai – argumentou o Hale e o louro procurou por outro objeto.

- Isaac... – Allison o acalmou.

- eu acho que Derek está certo quanto a isso – comentou Lydia e Erica revirou os olhos.

- ah, bacana! Lá vem a ruiva branca privilegiada defender o hétero branco privilegiado! – ironizou a Reyes e Lydia a fitou, incomodada.

- eu não

- vocês já viram uma foto do meu pai? – questionou Derek e Lydoa tratou de mexer no computador.

O silêncio fora a resposta. A Martin virou a tela do computador de Derek para o grupo, revelando uma foto do agente Alexander Hale presente no sistema da agência.

- ele é a sua cara – comentou Isaac, surpreso.

- sem tirar, nem por – ditou Lydia cruzando os braços diante do peito.

- mas, independente da sua aparência ou de como Stiles o vê, Derek errou, sim. Não estou dizendo o contrário. Você está certa, Erica, em sentir raiva dele. O Derek errou em não se desculpar sobre o que disse – argumentou Vernon, soltando o braço da loura e encarando o moreno nos olhos.

- fala sério! O cara já até

- Vernon está certo. Derek deve desculpas ao Stiles pelo que disse. Principalmente agora! – exclamou Allison, erguendo uma foto do cativeiro.

- se depois disso que viu... Se você realmente não sente necessidade de um pedido de desculpas... Eu me recuso a trabalhar com alguém como você -  ditou Erica encarando o moreno com intensidade.

Derek suspirou.

- você está certa. Assim que eu puder falar com ele, eu vou me desculpar. E me desculpe...por isso tudo. – disse o moreno de olhos verdes, cabisbaixo, pensativo.

Ele sentia que tinha muito o que assimilar.

- ótimo. Agora, por favor, podemos focar aqui? Temos apenas cinco dias para descobrir o que ele vai fazer! Qualquer outro problema interno, a gente pode resolver depois disso – ditou a Argent vendo o grupo menear em concordância.

- por que diabos ele escreveu as letras de “Otário” no fundo de todas as fotos? – indagou Scott observando o fundo de seis fotos, cada uma possuía uma letra da palavra citada.

Todas as fotos possuíam uma dessas letras.

- é uma mensagem – respondeu Vernon adicionando mais uma foto na parede, bem como Allison, Lydia e Derek.

Scott bufou

- eu sei que ele está dizendo que somos todos otários para ele, Vernon. Isso ficou bem óbvio, já. –

- ele quis dizer que há uma mensagem escondida nas fotos, imbecil! – ralhou Isaac, irritado.

- há um anagrama aí! Nós só temos que descobrir qual –

- e por que acha que é um anagrama? – indagou a agente Martin observando o Boyd encarar a foto do mural original, pensarivo.

- porque ele fez um anagrama com Otário. Não é uma provocação. É uma dica –

- tá, mas como vamos resolver os anagramas sem as letras? – inquiriu  Isaac, confuso.

- é por isso que são fotos nossas. As letras somos nós – respondeu o McCall, surpreendendo o Boyd.

- eu não tinha pensado nisso – comentou, perplexo.

- pelo menos um neurônio dele ainda funciona – resmungou o Lahey e o McCall jogou um copo descartável no louro, erguendo o dedo do meio para o mesmo.

- Lydia, você pode ampliar essa foto para mim, por favor? Não estou encontrando ela em nenhuma das pilhas – comentou a Argent, passando a foto do mural para a ruiva.

- vou fazer o máximo que consigo. Mas a resolução não vai ficar a mesma + comentou a Martin já abrindo o arquivo do caso e abrindo a foto na não de Allison na tela do computador, passando a dar um zoom na imagem desejada.

- só precisamos identificar quem está na foto. Não precisa ser perfeita –

- é o seu pai – respondeu Lydia dando espaço par a amorena ver.

Allison estreitou o olhar.

- imprima duas, por favor – pediu a Argent, e a ruiva estranhou.

- mas nenhuma foto se repete – comentou a Martin, confusa.

- eu sei. Só imprima, por favor – pediu a morena e logo as duas impressões foram feitas.

Allison pegou uma das fotos e a pendurou na parede. A outra, ela guardou no bolso do blazer, chamando a atenção da agente Martin e de Isaac.

Assim que a porta do avião se abriu, o grupo de agentes desceu do mesmo, já marchando na direção do estacionamento, onde haviam deixado o carro que utilizaram para chegar ali, há muitas horas atrás. Haviam acabado de chegar da inspeção que fizeram na cena do crime em que Branco fora visto pela primeira vez por câmeras e testemunhas. Todas as pistas que a polícia local havia encontrado foram enviadas para a sede do FBI, para análise. Agora, eles iriam averiguar as provas, principalmente o bonsai encontrado no local da chacina.

Eles não encontraram nada na boate, e todos os funcionários ainda se encontravam perplexos. Principalmente com a morte de uma das funcionárias no banheiro masculino. Ninguém sabia responder a nenhuma pergunta sobre o culpado. Os que havia visto o mesmo, na saída da boate, se encontravam em choque demais para poder identificar algo que pudesse dar uma luz para as autoridades.

No final das contas, eles não encontraram nada.

Para muitos, seria uma perda de tempo, mas para aquele grupo, era uma pista escondida no meio da névoa da incerteza.

Agora, eles tinham certeza.

Aquele Coelho Branco era de verdade. Era uma maravilhano como eles suspeitavam que era. Ele não deixou nada. Não deixou digitais, não deixou DNA, nem mesmo deixou rastros. Ele, se quer, deixou rastros de por onde entrara na boate. Não havia indicação nenhuma nas gravações. Ele, simplesmente, brotou do nada em meio as pessoas. Exatamente como um maravilhano faria em um local público.

As suas armas eram estranhas e... Peculiares. Lâminas nas formas de ponteiros de um relógio antigo e uma metralhadora cujo cano possuía dentes nas pontas, indicando que um golpe direto da parte frontal séria mais efetivo do que um golpe da coronha.

O celular de Alan tocou e o homem parou por alguns segundos para averiguar de quem se tratava, e então atendeu a chamada, retornando a caminhar, agora, atrás dos outros agentes.

- Deaton. Pode falar – Peter e Rafael olharam por sobre os ombros, curiosos, antes de voltarem a se focar no caminho, liderando o mesmo

- isso é... Inesperado. Não. Não o deixe fazer nada. Agora se trata de um caso federal. Sim. Estou indo aí agora mesmo – o homem pronunciou enquanto o grupo saía do aeroporto e se aproximava do veículo.

Ele encerrou a chamada e adentrou o veiculo no bando co passageiro, enquanto Chris Argent tomava o banco do motorista.

- outro caso? –

- alguma ligação com o atual? – questionou Peter, preocupado.

- não está ligado ao caso Alice. Mas envolve Alice – respondeu chamando a atenção do grupo.

- explique – ditou Chris já saindo com o veículo do estacionamento.

- Um dos agentes infiltrados me ligou. Dois guardas foram assassinados na cela de Alice – ditou com naturalidade, encara do a paisagem do lado de fora.

Chris parou o carro bruscamente.

- na cela dele?! –

- há dois suspeitos. Alice e um guarda. Mas tudo indica que foi o guarda –

- e por que diabos o guarda faria isso?! –

- livrar-se da culpa. Stiles é acusado de várias assassinatos. Apenas alguns foram colocados em sua ficha de Maybelle. Pode ser que ele tenha tentado colocar a culpa em Alice. – comentou Peter vendo Alan menear em compreensão.

- ou ele matou os guardas e colocou a culpa no outro guarda – comentou o Deaton, fazendo o louro engolir em seco.

- enfim. Eu estou indo para Maybelle investigar as duas mortes. Vocês vão para a base da divisão de Peter, continuar com o caso Alice –

O trio meneou a cabeça.

- e como, exatamente, eles encontraram os corpos? – questionou Peter, preocupado.

- aparentemente, houve uma tentativa de estupro. Eles encontraram Alice gritando por ajuda, em sua cela, enquanto o guarda, alterado, tentava o espancar com um cassetete ensanguentado – comentou Alan observando Chris tomar o caminho para Maybelle.

- isso está estranho – comentou o Argent, pensativo.

- Alice, normalmente, teria o espancado ou o matado – alegou Rafae, no banco de trás e Peter se viu na obrigação de concordar.

- mesmo que tenha prometido se comportar e não matar mais. Ele com certeza se defenderia – comentou o Tate.

- e se defendeu. O guarda usou a arma de choque nele... Mais de uma vez – ditou o Deaton vendo, de soslaio, Chris lhe encarar, surpreso.

- e ele ainda se manteve de pé – comentou, assustado.

- você não se lembra daquele ocorrido? Quando prendemos ele? – inquiriu Alan, com desinteresse na surpresa do Argent.

Peter engoliu em seco, e a voz de Alan, um Alan de anos atrás, ecoou em sua mente.

“valeu a pena?”

Assim que desceu em Maybelle, Alan caminhou para o interior do presídio, sendo guiado por um dos guardas. Ao chegar na sala do diretor, encontrou o mesmo ralhando com alguns dos agentes disfarçados, os únicos presentes na sala, armados com fuzis. O agente franziu o cenho para o armamento, antes de desviar o olhar para o histérico diretor.

- isso é um absurdo! Como posso não punir aquele desgraçado?! Ele marou o meu pessoal! – ralhou jogando as folhas da mesa para o lado, já perdendo o controle sobre si mesmo.

- não. O seu pessoal fora morto em sua prisão. Agora, temos que descobrir quem foi – ditou Alan vendo o homem lhe fitar com fúria.

- escuta aqui, o guarda Winston... –

- o guarda Winston tem histórico, diretor. E podemos provar isso. Garanto que tem detentos aqui que temem mais o prisioneiro Alice do que as suas ameaças baratas – comentou um dos agentes disfarçados vendo o diretor lhe encarar com uma expressão assassina.

- você não pode, simplesmente, chegar em minha prisão e sair detonando ela por aí! – ralhou elevando a voz.

- vamos manter a calam, por favor. Vocês dois, se retirem. Converso com vocês depois -

Os dois agentes encararam o seu superior, antes de menearem em concordância e se retirarem, em silêncio.

- o problema ocorreu na minha prisão, eu que deveria estar dirigindo essa investigação! – exclamou, furioso.

- o problema envolve um prisioneiro federal. Então ele deve ser analisado por federais. Se você quer ganhar algum crédito com isso, eu espero que coopere. Porque se for averiguado que o guarda Winston estuprava detentos e você estava tentando encobrir isso ao tentar liderar a investigação, o guarda será preso, e você irá junto –

O homem se tornou tenso.

- as ordens são da agência, Senhor Hitchmost. Então, não há muito o que seu resmungo infantil possa fazer, senão irritar ainda mais os responsáveis e chamar ainda mais atenção para si, criando perguntas que você provavelmente não irá querer que sejam ligadas a sua imagem e ao seu nome. Então... Preciso te afastar ou irá cooperar? –

O homem piscou os olhos, nervoso, enquanto engolia em seco.

Alan o analisou minuciosamente.

“O intervalo entre o seu piscar de olhos está curto. O seu pomo de Adão demorou em movimento, então ele está engolindo com dificuldade. Os seus ombros estão tensos. O seu pé direito não para, então ele é destro para chutes e está inquieto. Ele sabe que está encrencado se continuar a se opor a investigação. E ele sabe que Winston tem certa parcela de culpa no acontecimento, mesmo que Alice seja o assassino. A tentativa de estupro foi real”

O Deaton apenas ergueu a cabeça e deu as costas ao homem.

- vou entender o seu silêncio como um sim. E eu espero não te ver no pé do Winston tão cedo. Ou você mesmo será interrogado – afirmou se virando na direção da porta – mas não se preocupe, Hitchmost, estou apenas lhe dando um toque de companheiro de profissão. Afinal, somos todos agentes da lei, não? –  ele parou, olhando por sobre o ombro e encarou o homem com farda da prisão, antes de seguir para fora do escritório.

O diretor Hitchmost encarou o agente Deaton fechar a porta. Então ele suspirou, aliviado. Estava nervoso, ainda, mas pelo menos agora possuía um tempo para pensar e analisar melhor a situação.

Alan caminhou pelos corredores da prisão, observando com atenção o modo como os guardas e os agentes estavam se portando. As reações corporais de um ser vivo exposto a uma determinada situação podiam dizer muito mais do que qualquer relato falado.

- as pessoas pensam que quando adultas nada pode lhe ser ensinado pelos mais novos. Mas crianças podem ter mais a ensinar do que um livro  - divagou e logo passou a ser seguido por dois agentes com a farda da prisão.

- me digam tudo o que sabem e me levem até o 44.626 – ditou com seriedade enquanto seguia pelo corredor.

- sim, senhor – responderam em uníssono.

- o prisioneiro 44.626 fli encontrado em sua cela, clamando por ajuda enquanto o oficial Winston seguia tentando o agredir, mas o prisioneiro conseguia se defender sem problemas –

- a arma do oficial Winston possuía vestígios de sangue e fezes, indicando que fora utilizado no estupro. Segundo Winston, os dois guardas mortos estavam o ajudando a conter o detento após o mesmo se tornar agressivo em uma abordagem, e o prisioneiro 44.626 alega que o Winston tentou lhe estuprar enquanto ele dormia, mas um dos oficiais mortos o encontrou s interferiu –

- a sua versão afirma que Winston o deixou desacordado após bater com a cabeça do mesmo na cama. Um segundo guarda chegou e tentou interferir, mas Winston usou o tazer do guarda desacordado para paralisar o segundo, e o asfixiou com o fio da arma. Então pegou o tazer do outro guarda e fez o mesmo no primeiro guarda, o oficial Richard, e repetiu o mesmo processo de asfixia –

- e durante todo esse tempo... – Alan tentou questionar, mas o agente atrás de si já sabia qual seria a sua pergunta.

- Alice se manteve algemado a cama, tentando se libertar –

- alguém está mentindo. Mas quem? –

- todos os dois – respondeu Alan alcançando o corredor da solitária.

- os dois?! –

- sim. A pergunta é: quais partes das duas mentiras são a verdade? –

- eu posso te ouvir, Alan! – exclamou Alice, de sua cela, e o negro sorriu.

- como está, garoto sonhador? –

- tendo pesadelos com você – brincou Alice e Alan sorriu de canto.

- espero que ele sejam horríveis –

Alice riu.

- e são! Como o bom menino que sou, agora, ver você sendo fervido vivo como um animal em uma panela é algo horrível de se ver –

O castanho gargalhou, antes de dua voz morrer de repente.

- nunca mais me chame de garoto sonhador – ele soou ameaçador e ambos os agentes se prepararam para o repreender, mas Alan se inclinou na direção da porta metálica.

- então me diga toda a verdade. O que aconteceu? –

- estude as provas, agente. Eu não sou obrigado a fazer o seu trabalho. –

- você não faria pelo Peter? –

O silêncio reinou w os agentes se entreolharam, surpresos.

- não – a resposta seca surpreendeu Alan.

- você trocou? Pensei que estivesse estabilizado –

- eu não troquei. Apenas pensei na minha resposta. Não seja preconceituoso! – ralhou, irritado.

Alan se ergueu, colocando a boca diante da fenda usada para  averiguar o prisioneiro.

- vamos nos divertir, Stiles. Como nos velhos tempos. Você pode me dizer se continua valendo a pena – ditou o agente com diversão na voz.

Alice gargalhou.

- cada segundo -




- e então? – questionou Peter assim que adentrou a sala.

- nós temos uma pista, mas ao mesmo tempo não temos nada -  respondeu Isaac, suspirando cansado.

O louro franziu o cenho, confuso.

- como assim? –

Scott suspirou.

- nós sabemos que o mural é um anagrama. Mas não sabemos qual parte dele é um anagrama e nem como descobrir quais letras usar – comentou o McCall, cansado, observando o pai adentrar a sala. – e vocês? –

- nada. Não tinha nada além da confirmação de que ele realmente é como o prisioneiro 44.626 – reclamou o McCall mais velho, se aproximando do filho e se apoiando na parede ao lado do mesmo.

- ele tem nome – resmungou Erica, irritada.

- hoje ela está com a macaca! – resmungou Scott, revirando os olhos.

- ele tem nome. Um nome que não sabemos. Um nome que talvez nem mesmo exista e estejamos aqui apenas perdendo tempo pensando nisso – argumentou Rafael, cruzando os braços.

Scott apontou para o pai, indicando que concordava com o mesmo.

- o nome dele, é o nome que ele quer ter – ditou Derek, surpreendendo a loura – os pais dele eram desprezíveis. Se deram ou não um nome para ele, não deve ser levado em conta – ditou o Hale vendo o parceiro lhe encarar surpreso.

Derek franziu o cenho.

- o quê? Você está vendo a vida que ele levou. Ser considerado inexistente até hoje, sem se quer receber um nome, é cruel demais, Scott. Para o governo, se Stiles não fosse um criminoso, ele seria um indigente – argumentou o moreno de olhos verdes vendo os dois McCall se entreolharem e concordarem em silêncio.

- Derek está certo. Mesmo que ele tenha escolhido o caminho errado, a vida dele foi dificil demais para uma criança suportar. Na verdade, deve ser até hoje – comentou Chris fazendo Vernon franzir o cenho.

- o que vocês sabem que a gente não sabe? – questionou, desconfiado.

O trio suspirou.

- Alice está na solitária, sendo investigado – respondeu o Argent observando Peter se sentar e levar as mãos a cabeça, preocupado

- sendo investigado?! Mas ele se quer sabe da existência desse cara! – argumentou Derek, confuso.

- dois guardas morreram na prisão de Maybelle, hoje – Rafael e Issac resmungou um xingamento.

- e já acham que foi ele! – acusou, irritado.

- eles morreram na cela do Stiles, com o Stiles e outro guarda lá dentro – explicou Peter e o grupo lhe encarou com surpresa.

- e .. Foi ele? – questionou Lydia, curiosa.

- não sabemos. Tem muita coisa relacionada. – respondeu Peter, ainda preocupado.

Derek e Allison menearam positivamente, voltando a colar as fotos nas paredes.

- parece que houve uma tentativa de estupro – comentou Chris e os dois agentes travaram. Scott piscou os olhos, perplexo, e Lydia parou de digitar, surpresa.

- como é?! – questionou Erica, já furiosa.

- Erica, respire fundo – repreenderam Derek, Allison e Vernon.

A loura passou a respirar fundo, expirando pela boca, indicando o grau de sua fúria.

- parece que alguns guardas tentaram estuprar ele... E ele revidou – ditou o Argent mais velho e Erica se debruçou sobre a mesa, apertando as bordas da madeira com força.

- se o culpado foi ele, espero que vocês nunca descubram – ditou Isaac entregando uma das fotos a Allison.

Os agentes o fitaram, surpresos.

- somos dois. Pra mim, estuprador e pedófilo são dois tipos que não têm vez, não tem conversa. Tinha que ser direto pra cova –

Chris suspirou

- particularmente falando, eu concordo. Entretanto, é por isso que hoje em dia as pessoas são presas, e não mais punidas com morte com qualquer crime pelo qual estão sendo julgadas. Pois mesmo com todo o avanço da tecnologia, as pessoas ainda podem ser falsamente acusadas com facilidade –

- lembram da aluna que acusou o professor de abuso sexual? Ele foi demitido e linchado até ser forçado a sair da cidade em que morava. Meses depois, descobriram que era tudo mentira. Ela apenas inventou o boato por não concordar com a nota que recebeu – argumentou Scott vendo os outros agentes menearem, indicando que se lembravam.

- finalmente acabou! – exclamou Isaac, após entregar a ultima foto da mesa para Allison.

- eu posso falar com você em particular? – a morena se virou para o pai, já caminhando para o lado de fora.

Allison guiou o pai para o vestiário e ela se sentou diante do armário de Erica. O homem, confuso, se aproximou e encarou a filha, nervosa, sentada no banco do vestiário. Ele suspirou, sorrindo de canto, e se aproximou, se sentando ao lado da mesma.

- é normal se sentir ansiosa e assustada investigando alguém como ele, minha filha. Não precisa...

- o quê?! – indagou, confusa, franzindo o cenho para o pai.

- Allison, não precisa

- eu não estou com medo! Eu estou puta! – ralhou a morena, surpreendendo o pai – e agora eu estou mais ainda! – ela elevou um pouco o tom de voz, antes de perceber que havia ultrapassado o limite da descrição.

- filha? – o homem inquiriu, confuso – então porque me...

Allison o cortou ao jogar uma foto em si.

- que porra é essa, pai? – questionou a Argent vendo o pai averiguar a foto.

Chris sentiu a garganta se fechar. Ele não sabia como, mas Allison havia conseguido a foto que ele havia recolhido na casa que Branco preparou para os matar. Uma foto que ele não queria que fosse encontrada.

- Allison – ele ditou, tentando encontrar palavras para justificar o que a filha estava lhe mostrando.

- eu estou esperando e espero que seja uma justificativa e tanto! – disse a morena observando o pai suspirar.

- isso... Isso foi um erro meu de anos atrás – respondeu voltando a encarar a foto com um semblante tristonho.

- ah, é mesmo?! – ironizou, furiosa – eu jurava que trair a sua esposa era normal! –

- quando você estava na academia... Sua mãe e eu tivemos problemas no casamento. Até começamos a dormir em casas separadas. Ela na nossa casa e eu em um hotel – disse voltando a observar a foto em suas mãos. Uma foto sua em um encontro com uma mulher.

- isso não justifica nada! – ralhou a morena, furiosa.

- eu sei, querida! E você não sabe o quanto eu me arrependo disso! – comentou o homem, visivelmente chateado.

- minha mãe ama você! E você...

- e eu amo a sua mãe, filha! Foi por isso que eu parei! E esqueci disso tudo! Mas esse cara... Esse cara tirou essas fotos anos atrás, Allison. Ele não está perseguindo a mim, Peter e Rafael só agora que voltou. Ele está nos perseguindo desde anos antes de a divisão do Peter ser formada – comentou Chris, ficando perplexo a medida em que ia raciocinando.

- não desvie do assunto! –

- Allison! Essa foto tem oito anos! – exclamou o Argent, surpreso.

- oito?! –

- essa foi a única vez que eu traí a sua mãe. E foi há oito anos atrás! –

A morena não tinha o que falar sobre aquela informação nova.


Foram três dias árduos de investigação. Eles não conseguiam perceber um padrão no mural de imagens, muito menos qualquer outra pista relevante. Com as imagens do resto da casa, os outros agentes que faziam parte da investigação, conseguiram apenas descobrir pequenos detalhes da família. Matt conseguiu o contato do irmão gêmeo do pai de Stiles, Noah Stilinski. E o homem concordou em ser interrogado pelo FBI.

- entrem, por favor – ditou o homem de cabelos castanho, com alguns fios grisalhos.

Ele aparentava a mesma idade dos agentes, apesar de sua pequena elevação abdominal, que apagou o que um dia fora um tanquinho de um militar dedicado. Assim que Peter, Derek e Allison adentraram o ambiente, foram agraciados por uma casa aconchegante. Uma casa que exalava conforto familiar.

- querida! O FBI está aqui! – exclamou o homem e logo uma mulher de longos cabelos castanhos adentrou a sala, através do corredor que levava para a cozinha, enxugando as mãos em um pano de prato.

- o que houve?! É o Thomas?! A Sonya?! O Striker?! – a mulher se adiantou no interrogatório com um olhar severo na direção dos agentes.

Noah riu.

- Cláudia! Respira! Não estão aqui por causa das crianças – o marido a confortou vendo a mulher levar a mão ao peito e suspirar aliviada.

- eu ia ter um colapso! Me desculpem por isso. Quando se trata dos meus filhos eu fico... Louca. Me mate, mas não encoste nos meus filhos -  comentou a castanha se aproximando e estendendo a mão para os três agentes.

- me chamou Cláudia. Cláudia Stilinski –

Allison respirou fundo, disfarçadamente.

“Famílias gêmeas de irmãos gêmeos. Mas completamente opostas”

Pensou a morena, apertando gentilmente a mão da castanha.

- e sobre o que querem falar? – indagou Noah observando os agentes mais novos se entreolharem.

- eu vou pegar um café para vocês – a mulher se retirou da sala.

- é sobre o seu irmão, Senhor Stilinski – informou Peter e Noah piscou os olhos, surpreso.

- o meu irmão?! Eu... Não ouço falar nele desde a adolescência –

- John Stilinski está morto – ditou Peter e o castanho meneou em compreensão. – eu sinto muito –

Noah não expressou nada.

- sei que deve ser difícil, mas gostaríamos de perguntar um pouco sobre ele – disse Allison enquanto observava as fotos de família.

- difícil? – inquiriu Noah, com naturalidade – não. Não é difícil – emitiu um suspiro cansado – John me abandonou na adolescência. Éramos gêmeos. Ele uma das pessoas que eu mais amava. E então, um dia ele fugiu. Sem mais nem menos. Ele fugiu de casa. Fez as malas e deu o fora. Foi difícil na adolescência. Agora... É como se estivesse me falando que um desconhecido morreu -

A declaração do homem mexeu com Peter e Derek. Como ambos possuíam irmãs, imaginar receber a notícia de que alguém tão próximo morreu e não sentir nada, era preocupante. O que levava uma irmão a abandonar outro?

- onde ele estava? – questionou Noah, curioso.

- Nova Iorque. Em um bairro classe média –

Noah suspirou, descrente.

- dizia odiar aglomerados, mas foi morar numa cidade tão grande. Que irônico –

- como assim? –

- ele vivia dizendo que nunca iria morar em uma cidade grande, sabe? Que iria crescer e morrer no interior. Ele sempre foi muito cabeça dura -

A porta da casa se abriu, chamando a atenção dos quatro.

- hey, pai! Você não imagina o que... – um homem castanho bem vestido adentrou a sala, se calando ao perceber a visita – ah... Olá! –

- filho, estes são os agentes Tate, Hale e Argent do FBI. Esse aqui é o meu filho mais velho, Thomas – comentou Noah apresentando o filho.

- FBI?! –

- o meu irmão gêmeo morreu –

- e desde quando o FBI faz trabalho de funerária? – indagou, desconfiado.

- ele foi assassinado – explicou Allison.

- ah... E estão tentando pegar o cara? –

- na verdade, estamos investigando John Stilinski como um criminoso – ditou Derek surpreendendo pai e filho.

- criminoso?! –

- acreditamos que John seja o culpado pelos assassinatos de sua esposa, Kayle, e do seu filho mais velho, Nickolay –

- espera, espera, espera! Estão acusando ele de assassinato?! Da própria esposa e do próprio filho?! –

- filho mais velho – comentou Thomas – então ele teve outros? –

- sim. Gêmeos – respondeu Derek surpreendendo o Stilinski mais velho.

- eu tenho sobrinhos?! – questionou Cláudia, surpresa, adentrando a saa com uma bandeja com xícaras e uma garrafa de café.

- encontramos os corpos de John, a esposa e dois filhos enterrados no quintal da casa deles. Um dos gêmeos morreu anos depois e foi enterrado junto com a família –

- e o outro gêmeo? – questionou Thomas, curioso.

- está sob proteção do FBI –

- John matando pessoas? – murmurou Noah, impactado.

- esse fato não parece ser um grande choque – comentou Peter, curioso.

- não... O piro é que não é. O meu irmão... Se tornou uma pessoa muito violenta na adolescência. Vivia se metendo em brigas e coisas do tipo. Em uma de duas últimas brigas antes de fugir, ele acabou furando um olho de um cara que arranjou briga com ele –

Cláudia se sentou ao lado do marido, apertando o ombro do mesmo em um carinho reconfortante.

- é uma criança? Ela está bem? – inquiriu Cláudia, preocupada.

Peter suspirou.

- infelizmente, descobrimos a família problemática de Jhon tarde demais. O seu irmão foi morto há mais de dez anos. Nós encontramos os corpos já decompostos – explicou Peter aceitando o café servido por Cláudia.

- e como descobriram os corpos? –

- um criminoso novo nos levou até a casa –

- então... O filho dele –

- infelizmente, ele não soube lidar bem com os abusos que sofreu do pai. – lamentou Allison deixando a família curiosa.

- o seu sobrinho está preso – explicou Peter observando a família lhe fitar com surpresa.

- abusos? Que abusos? – inquiriu Noah, nervoso.

- a esposa do seu irmão não queria gêmeos... Então ela decidiu se livrar de um – informou Derek vendo Cláudia lhe encarar com pavor.

- que tipo de degenerada é essa mulher?! – exclamou, perplexa.

- então Jhon o escondeu no sótão –

Noah pareceu aliviado.

- pelo menos não o matou ou o jogou fora como um bicho –

O silêncio reinou entre os agentes.

- acredite, senhor Stilinski. Teria sido melhor ser jogado fora como um bicho – ditou Derek vendo o homem lhe fitar abismado.

- o seu irmão passou a estuprar o próprio filho, senhor Stilinski – informou Peter vendo o homem entrar em negação, impactado pelas palavras do agente.

- Jesus! – exclamou levando as mãos ao rosto.

- eu sinto muito, senhor Stilinski – disse Derek vendo o homem voltar a negar com a cabeça, tentando assimilar tudo o que ouvira.

- se importar de fazermos algumas questões pessoais? Sobre o senhor e o seu irmão – inquiriu Allison se sentando ao lado de Peter.

- de forma alguma. Eu só... Estou muito surpreso. Mas vou cooperar como puder –

A investigação engatinhava aos poucos, fazendo com que os agentes agonizassem em silêncio enquanto revisavam tudo o que tinham sem suas mentes. Já se passaram três dias e eles não conseguiram nada. Nas fotos da casa, os agentes adicionais que ajudavam no caso conseguiram apenas encontrar cartas de baralho, espalhadas de forma curiosa pela casa. Nos primeiros cômodos, estavam vários valetes escondidos pelos cantos.. Nos cômodos restantes do andar de baixo, reis se encontravam em pedaços de quadros, em frestas do sofá e até mesmo na janela. Nos primeiros quarto, no andar de cima, estavam rainhas escondidas de forma suspeita. E no quarto dos pais e no sótão, era possível vários Ás.

- não fazemos ideia do que significa, mas, claramente quer nos dizer algo- disse um dos agentes quando um relatório oral fora pedido por Peter.

- bom trabalho! Continuem assim – disse o homem de liderava a investigação, mas por dentro ele gritava para que fossem mais rápido.

- com licença... Agente Tate? – chamou uma agente, quando o louro tentou seguir para a sala em que sua divisão analisava as fotos do mural.

- pois não? – respondeu, esperançoso.

- eu não tenho certeza, mas acho que descobri uma coisa – disse a mulher se aproximando com uma foto na mão.

- e o que seria? –

- um gato de pelúcia -

Peter franziu o cenho e a mulher notou o ato. Ele analisou a foto, encontrando um gato de pelúcia, quase completamente escondido na sombra do fogão. O felino era um pouco malfeito e seu focinho possuía um corte reto. Os seus olhos de botão estavam voltados par a câmera.

- eu lembro que um dos detentos que trabalha com o prisioneiro 44.626 dizer que ele costuma ser bem poético em seu modo de agir – explicou a mulher vendo o louro lhe encarar

- e ele é. Todos os seus crimes tem essa característica deixada de forma bem marcante –

- acontece, que gatos estão presentes na história de Alice –

- apenas o gato de Cheshire, mas ele não é preto – argumentou o louro vendo a mulher lhe encarar, esperançosa.

- mas Diná é – rebateu a morena e Peter franziu o cenho.

- Diná? – questionou, confuso.

- na história... Nas duas histórias, Alice possui uma gata preta chama Diná – o louro lhe encarou, surpreso.

- isso pode ser uma pista e tanto. O corte bo focinho faz com que a espuma que escapa se pareça com dentes brancos, como se ele

- estivesse sorrindo – completou a agente, meneando em concordância.

- compartilhe isso com o resto da equipe. Estudem o gato e as cartas – ordenou enquanto seguia para a sala em que a sua equipe se encontrava.

- e aí? Como foi com o tio? – perguntou Lydia, curiosa.

Allison suspirou.

- gêmeos com famílias opostas, Lydia. Enquanto John construiu uma família horrível, Noah possui uma família muito acolhedora. Eles... Até se preocuparam com o Stiles mesmo sem saber de sua existência até o dia de hoje – comentou a Argent, frustrada

Aquele caso estava lhe frustrando. Mas, a sua maior frustração, ainda era o seu pai. Ela ainda estava muito afetada com a conversa que tivera com o homem. Primeiro de tudo, ela descobriu a traição do pai. Depois, o mesmo achou que, na verdade, ela estava apenas com medo, o que não era um equívoco total, mas ainda assim estava errado. Allison estava com medo, sim. Um Coelho Branco havia aparecido e declarado uma guerra com o FBI por Alice. E ela se encontrava bem no meio dela. Mas, ainda assim, essa medo não era o suficiente para lhe desestabilizar. E ter o pai pensando que algo assim iria a tirar tanto dos eixos lhe magoava.

No final, Alice estava certo.

O seu pai não enxergava o potencial que havia em si.

- espera aí! Acho que encontrei uma coisa! - exclamou Vernon, observar a parede que se encontrava atrás de Allison..

- o quê? – questionou Peter, esperançoso.

- duas fotos se repetem – comentou se aproximando e marcando as duas com um adesivo amarelo.

- elas são do Stiles... São a mesma foto apesar de estarem invertidas e em proporções diferentes – comentou Derek, curioso, observando as duas fotos, onde a imagem de Stiles, de perfil, era retratada.

- invertidas e apontando uma para a outra – comentou Scott, se aproximando.

- as fotos entre elas. São elas que formam o anagrama – comentou Vernon, observando todas as foto entre as duas fotos de Stiles.

- mas como vamos descobrir de qual letra do nosso nome ele está se referindo? – inquiriu Erica, confusa.

Peter se aproximou, analisando o quadro.

- o numero de vezes em que a pessoa se repete em sequência, deve ser o número da letra – comentou Vernon apontando para as cinco fotos de Isaac de cabeça para baixo que estavam coladas uma após a outra.

- então isso é um C? – questionou Scott, apontando para as fotos de seu amigo de infância.

- não. É um Y. Estão de cabeça para baixo. As posicionadas normalmente são o primeiro nome. Por exemplo, aqui é um E – explicou Peter apontando para uma foto de Erica, logo após a foto de Vernon.

- e as de cabeça para baixo... – comentou Derek, sorrindo de canto.

- são o sobrenome – explicou Peter.

- vamos formar a palavra – ditou Allison puxando um bloco de nota e uma caneta.

- primeiro é uma foto minha de cabeça para baixo – disse Scott e a morena escreveu.

- M –

- depois é uma foto normal sua –

- A –

- cinco fotos do Isaac de cabeça para baixo –

- Y –

- uma do Vernon de cabeça para baixo –

- B –

- uma normal da Erica –

- E –

- uma foto normal da Lydia –

- que eu espero que esteja boa – comentou a ruiva.

- L –

- uma invertida do Isaac –

- outro L? – inquiriu a Argent, anotando.

- duas fotos normais do Peter –

- E – a voz de Allison saiu baixa, enquanto ela encarava o bloco de notas, perplexa.

- e aí? O que forma? – indagou Isaac, curioso.

- Maybelle – respondeu a Argent, encarando o louro líder da divisão, que arregalou os olhos em sua direção.

- ele sabe onde encontrar o Stiles! – exclamou o louro já puxando a jaqueta de couro e correndo na direção da saída, sendo seguido pelo resto do grupo, com exceção de Lydia, que passou a digitar no computador com velocidade.

Chapter 57: Zero

Chapter Text

- então... – permitiu que as laterais finas e cortantes deslizassem por seus dedos sem problema algum – Brett Talbot, certo? – inquiriu Alan terminando de  folhear o arquivo sem, aparentemente, dar muita importância.

- é Crowler, agora – argumentou o louro vendo o homem bem vestido retirar o chapéu que usava, o apoiando na mesa metálica.

- eu ouvi dizer que você tem as respostas que eu procuro – comentou coçando acima da sobrancelha.

Brett crispou os lábios, curioso

- careca é foda, né? Tem que proteger até da luz da lua – alfinetou o Crowler vendo o agente sorrir de canto.

Alan riu brevemente.

- não tanto quantos os homossexuais que têm que se defender até dos seus – a resposta do agente Deaton pegou o homem a sua frente de surpresa.

Brett ergueu a sobrancelha, desconfiado.

- ao que se refere? –

Alan sustentou o sorriso orgulhoso, movendo a pasta com as informações sobre Brett para o lado.

- nós dois sabemos que o guarda Winston... Como os adolescentes de hoje em dia dizem? É do vale? – comentou vendo o detento dar de ombros.

- eu sei lá! E eu tenho cara de adolescente, porra? –

- não precisa ficar na defensiva, Crowler. Não estou aqui para julgar a sua sexualidade. Na verdade, eu sou um homem com preconceito unicamente religioso. Para mim, a pessoa que prega um deus de bondade infinita, mas que alega ser a sua vontade que pessoas sejam violentadas e mortas, não pensa por si só. Para mim, Deus e o Diabo são a mesma pessoa. – argumentou observando o detento franzir o cenho.

- onde quer chegar com isso? –

Alan deu de ombros.

- se eu nego o símbolo do mal eterno, também nego o símbolo da bondade eterna. As únicas entidades para quem rezo são a Verdade e a Justiça. –

Brett riu baixinho.

- não conta! Deixa eu advinhar! A Verdade é aleijada e a Justiça é cega! Estou certo? – zombou o louro vendo o agente liberar uma lufada de ar pelas narinas, zombando junto de si.

- não. A Verdade é muda. É por isso que precisamos estar atentos aos detalhes. Pois ela, sozinha, não pode contar nada a ninguém. Mas, com os olhos certos e uma boa comunicação, ela diz, exatamente, quem a Justiça deve punir – Alan corrigiu começando a apontar para pontos específicos no próprio corpo.

Brett arregalou os olhos, surpreso, ao ver os dedos indicador e médio da mão esquerda do homem tocarem o pulso direito, o lado esquerdo do pescoço e o lóbulo da orelha direita, antes de finalizar pousando sobre os lábios carnudos e escuros.

Ele sabe!

- como?! – inquiriu, perplexo.

Aquele homem folheou a sua pasta sem interesse, pois o livro que ele estava lendo era o seu corpo.

- os sinais de abuso são claros, senhor Crowler. Não precisa ser um agente para notar quando alguém tão violento quanto Winston abusa de alguém. Esse tipo não tem cuidado em cobrir rastros. Principalmente com uma vítima como você em um ambiente como esse. Ele alegaria inocência, e a culpa recairia sobre um preso indeterminado que não sofreria nada, uma vez que a investigação não seria levada adiante e Winston apenas retornaria pior – explicou o Deaton, passando a esfregar o indicador no polegar, brincando com a poeira que cobriu superfície de seu dedo.

Brett ainda o encarava com temor.

“Ele é como Alice! Não. Ele ainda tem vantagens e limites, ambos sociais. Alice é pior. Aquele cara não segue regras.”

O louro pensava enquanto observava o homem a sua frente, abismado, analisando o pouco do seu intelecto que havia presenciado, o comparando com o seu superior entre os detentos.

- e o que um agente do FBI faz investigando um estupro e dois assassinatos na prisão? Na visão de gentinha nojenta como você, isso deveria ser um dia a dia comum na prisão, não? – perguntou tentando mudar o foco de si.

- você sabe, senhor Crowler. Muitos policiais tendem a ser... Parciais quando se trata de criminosos. Eu, por outro lado, sou bem imparcial. Vai por mim! –

O louro franziu o cenho desconfiado.

- não apenas eu notei, mas também alguns guardas e prisioneiros me informaram de que Winston costumava andar muito com você pelos cantos de vez em quando. Lhe chamando para lugares peculiares, em locais de pouca movimentação – comentou Alan unindo as mãos sobre a mesa – você sabe! O banheiro no horário de Sol. A sua cela no horário de pátio. Enfim, ele não era muito discreto para um homem que queria manter a heterossexualidade aparente –

Brett riu debochado, antes de cruzar os braços diante do peito.

- Winston, realmente, não era dos mais inteligentes – argumentou o Crowler um tanto irritado.

Ter a sua antiga situação exposta era preocupante.

Eles não podiam descobrir sobre Alice.

- então você pode me explicar por que um homem tão inteligente quanto você se rebaixava a esse ponto? Quero dizer, você, com certeza poderia ter feito algo contra Winston há anos atrás. Mas se manteve de cabeça baixa para ele. Qual é o motivo? –

Um gargalhar irônico veio do mais novo. Alan apenas observou o detento lamber os lábios, olhando com indignação para o lado, antes de voltar a lhe direcionar o olhar, revirando os olhos.

- você sabe o motivo, meu irmão! Não se faça de princesinha inocente agora! –

- mas eu preciso ouvir de sua boca para ter certeza, Brett. Afinal, você também tem uma voz a ser ouvida –

O louro bufou, irritado.

- por causa da hierarquia, sacou? Os guardas penitenciários são apenas policiais trancados nessa gaiola humana. Eles podem não ter o titulo e o distintivo, mas possuem o mesmo pensamento dos de fora. Guardas são a policia aqui dentro. E se você mexe com um policial...

- mexe com todos –

- exato. E eu sou só um contra essa prisão inteira. Tanto policiais quanto prisioneiros querem foder comigo. E eu estou de saco cheio dessa gente... E de gente como você! – ralhou o homem e o Deaton ergueu a sobrancelha.

- gente como eu? –

- que senta numa cadeira, todo santo dia, com o alívio de não ter que ficar correndo ou se escondendo de estupradores e de gente que tem poder para lhe humilhar em silêncio, mas acham que fugir desse tipo de coisa é simples. A sua vida é simples, então você acha que a dos outros também é! – argumentou o Crowler, antes de socar a mesa surpreendendo os agentes infiltrados, que montavam guarda na porta.

- “nossa! É só fazer isso que resolve!” – ele imitou uma voz em tom de zombaria – Não! NÃO É! POIS SE FOSSE, EU JÁ TERIA FEITO! – berrou, furioso, voltando a socar a mesa.

- foi por isso que se juntou com Stiles Stilinski nas últimas semanas? – inquiriu Alan, pegando o louro de surpresa.

Brett encarou o homem, surpreso, sem voz.

Alan suspirou.

- eu compreendo você, Brett. As coisas não são fáceis para algumas pessoas. Você acha que foi fácil entrar no FBI sendo o negro filho de hippies? Sabe quantas vezes eu tive que ouvir piadas sobre entrar na agência apenas para poder fumar um baseado sem ser preso, ou então que os interrogatórios feitos por mim seriam na base do “paz e amor”? –

Brett não respondeu

- como eu disse. Eu não estou aqui para lhe julgar, Brett. Eu só quero entender um pouco do lugar, para poder tomar a decisão certa –

- e eu entendo, de verdade. Stiles é capaz de bater de frente com os guardas. Você já percebeu isso, certo? Ele é quase inatingível aqui dentro. Porque só quem pode o atingir está muito ocupado lá fora-

O Crowler suspirou.

- eu fiz um trato com ele –

- um trato? – inquiriu Alan, curioso.

- eu... Transo com ele, e ele me protege dos guardas – o louro escondeu a parte das informações sobre os guardas.

Alan franziu o cenho.

- aquele cara... Aceitando sexo?! – indagou, preocupado.

Brett meneou positivamente.

- você tem certeza de que ele aceitou numa boa? –

Brett sorriu de canto.

- a porra daquela cara seria um bom argumento para provar o mito do abacaxi, cara. – Alan piscou os olhos, surpreso com o argumento utilizado pelo louro.

- deixa eu ver se eu entendi: você se prostitui para um prisioneiro, para não ter mais que se prostituir para os guardas? –

Brett deu de ombros.

- antes um pássaro na mão do que dois voando. Alice cumpre com o que promete. Já os guardas... se eu for cobrar o que os guardas desse lugar estão me devendo eu monto uma mercearia aqui dentro –

Alan riu.

- você é engraçado, Brett. Gostei de você – ditou puxando uma embalagem avermelhada ado bolso – aceita chocolate? –

- eu não vou mamar você –

Alan gargalhou

- sem segundas intenções, Brett. Apenas um agrado pelas respostas –

Brett aceitou, desconfiado.

- agora... Me fale sobre Alice. Como sabe sobre esse nome? –

O louro franziu o cenho, abrindo a barra de chocolate e a mordendo.

- você não está aqui pelo estupro ou pelas mortes. Você está aqui por ele, não é? –

Alan se viu surpreso.

- quem é aquele cara para você ter vindo até aqui? –

A porta se abriu, chamando a atenção dos dois. Brett franziu o cenho para o homem alto, mais velho do que ele, de cabelos louros, com um certo tom grisalho escondido entre os fios, vestindo uma jaqueta de couro e uma expressão de desespero no rosto. Ele havia adentrado a sala a força, contra os protestos dos dois guardas que montavam vigilância no corredor. Alan estreitou o olhar, curioso, antes de arregalar os olhos ao notar o olhar desesperado que Peter vestia

- lá fora! Agora! – ditou Peter antes de se retirar.

- me dê um segundo, por favor. É de extrema importância – falou enquanto se erguia e se dirigia para a porta.

- mas o que raios foi isso, Peter?! O que está fazendo aqui?! Eu disse que eu cuidaria de Maybelle e você deveria

- ele sabe sobre Maybelle! – Peter o cortou, surpreendendo o agente Deaton.

- como é? –

- Branco! A mensagem no mural. Era Maybelle. Ele sabe que mantemos o Stiles aqui!  - comentou o agente Tate, desesperado, encarando o Deaton.

- você tem certeza disso? –

- SIM! A porra da mensagem nas fotos era o nome desse lugar! – ralhou o louro vendo o seu superior suspirar e parar para analisar a situação.

- e a hora? –

- o quê? –

- Branco deu um horário na mensagem dele. Já descobriram o que é? –

- não. Ainda não sabemos quando são as duas reuniões das cartas – argumentou o Tate, suspirando em desgosto.

Aquele era o terceiro dia de investigação. O terceiro dia que já estava se tornando a terceira noite. Eles demoraram três dias apenas para decifrar as fotos. Talvez levasse horas, para decifrar aquela maldita frase, talvez dias fossem necessários. Mas o problema era que eles não tinham mais tanto tempo. Branco havia dado apenas cinco dias. Eles já estavam quase entrando no quarto dia. Talvez eles tivessem menos de quarenta e oito horas, ou talvez um pouco mais. Mas a única certeza era de que em dois dias, Branco iria se mexer mais uma vez.

O cronômetro os atormentava como um contador de xadrez. Ele indicava que, caso eles não agissem rápido e de forma correta, perderiam ao final do tempo. O criminoso possuía o nome de Branco, mas os verdadeiro coelhos apressados eram eles. O tempo corria contra eles e a favor de Branco. Eles possuíam a desvantagem.

- sobre o que estavam conversando? – desconversou Peter, curioso.

- a índole de um dos guardas – respondeu Alan observando o homem apertar o próprio pulso.

- então é verdade? Tentaram mesmo estuprar ele? – inquiriu, nervoso.

Alan suspirou.

- o exame confirmou que, sim, ele foi penetrado de forma rude. O sangue no cassetete é dele -

Peter apertou o próprio pulso, tentando conter a sua raiva.

- mas você boa está aqui para isso, Peter. Temos que nos reunir e pensar wm como vamos agir, agora que Branco pretende libertar Alice –

- quando ele disse que iria arrancar Alice de nós... Eu não imaginei que fosse tão literal – argumentou o Tate, preocupado.

- seja lá o que ele estiver planejando fazer nessa prisão, se ele, realmente for comi Alice, Deus terá que ter piedade de nós – comentou Alan apertando o ombro do agente Tate, antes de se virar para voltar para a sala de interrogatório.

- eu posso ver Alice? Ou isso pode afetar sua investigação? –

- e vai falar o quê com ele? –

- ver se ele está bem. Ele era estuprado na infância, essa tentativa pode ter afetado o psicológico dele – comentou o louro olhando por sobre o ombro para o calvo.

- tome cuidado, Peter. Com esse rapaz, nada é o que parece ser –

O louro suspirou

- eu sei, Alan. Eu sei –

O agente caminhou pelos corredores da prisão, sendo guiado por um dos guardas, até a cela da solitária em que Stiles se encontrava. No caminho, Peter mudou a trajetória para a cela comunitária, decidindo por averiguar a cena do crime antes de se encontrar com o assassino de sua divisão. Ele fora surpreendido pela imagem dos forenses posicionando dois corpos de manequim no local, tentando criar uma teoria que os ajudasse a encontrar a verdade.

- com licença! Eu posso ajudar? – inquiriu a responsável observando o louro adentrar o local a passos calmos, analisando o ambiente.

- está é uma cena de crime que está sendo analisada para o FBI. Não pode ficar aqui – argumentou o homem e o louro apenas ergueu o distintivo em sua direção.

- visão geral? –

A mulher suspirou

- ao que tudo indica, o prisioneiro é a vítima, realmente – disse em um suspiro.

- tem certeza? –

“Nada é o que parece ser”

- sim – mais um suspiro – as digitais nos tazers são do guarda Winston. Não encontramos nenhuma do detento –

- é claro que não. Ele não possui digitais – argumentou o Tate, surpreendendo o grupo de forenses.

Eles sabiam daquela informação, apenas não esperavam que o homem também soubesse.

- Mas ele também possui DNA, que pode ser abandonado pelas mãos através de suor ou resquícios de pele. No entanto, o DNA dele não foi encontrado nas armas – explicou a mulher e o louro meneou.

Em sua mente, a imagem de Stiles limpando as armas fora produzida perfeitamente. O homem afastou a ideia de sua cabeça e encarou o local demarcado para os corpos.

- estão reconstruindo a cena para alguma teoria? –

- exatamente. Acreditamos que ambas as histórias possuem... Aspectos suspeitos –

- a do detento Stiles possuí uns pontos suspeitos. Mas a do guarda Winston tem mais furos do que uma peneira – comentou o forense ao lado da mulher que liderava a investigação forense.

- como sempre – murmurou o louro, preocupado.

Os forenses notaram o seu olhar.

- com licença, mas... Você tem alguma informação útil sobre qualquer um dos lados? – indagou a mulher, curiosa.

- sejam imparciais, por favor. Mesmo sendo um assassino em série e um guarda estuprador, investiguem as mortes apenas para buscar o culpado, não para descontar raiva –

Os dois cientistas lhe encararam, um tanto indignados. O homem riu, bufando.

- diga isso para a família do detento estuprado e dos guardas mortos – ironizou o moreno vendo a mulher lhe repreender com o olhar.

- fique tranquilo, agente. Eu sou imparcial mesmo quando envolve o meu emocional –

- ótimo. E a título de curiosidade, esse detento é como um filho para mim – ditou o louro, surpreendendo o homem que posicionava o manequim, antes de se virar.

- espera! –

Peter parou para a observar de lado.

- o que você acha... Ele está mentindo ou realmente não está envolvido no assassinato? –

Peter suspirou.

- como pai, eu sempre penso o melhor dele. Mas como agente.. .eu tenho quase certeza de que ele é o assassino – comentou o Tate antes de dar as costas e começar a marchar na direção da solitária.

- e por que acha isso? – indagou a mulher, apertando o passo para lhe acompanhar.

- porque eu faço uma ideia do que ele é capaz –

- faz uma certa ideia? Não tem noção do que ele realmente é capaz?  Pensei que fosse como um filho para você – argumentou a loura, confusa.

- eu não sou um gênio, senhorita...

- Megan. Megan Oormond. –

- eu não sou um gênio, senhorita Oormond. Então não posso dizer, exatamente, do que um gênio é capaz -

- um gênio? –

- um gênio. Uma pena que tenha tido pais horríveis que o forçaram ao limite. Agora, se me der licença, tenho que ver o meu filho –

A mulher parou a caminhada, o encarando com surpresa no olhar.

Assim que alcançou o corredor da solitária, Peter sentiu o sangue gelar. Os seus pelos se arrepiaram e sua nuca esfriou, se tornando tensa. Ele, em si, estava, apavorado. A ideia de encontrar um Stiles completamente lhe perturbava há dias. Cada passo na direção da cela ecoava em sua cabeça, como se toso o seu corpo vibrasse, do mesmo jeito que uma taça de vidro sendo afetada por ondas sonoras. Ele sentia as pernas fraquejarem, como se estivessem adormecendo.

- é a próxima – ditou o agente disfarçado, segurando o fuzil em mãos e apontando com o queixo para a próxima porta metálica.

- certo. Obrigado –

-  não chegue muito perto da porta. Esse cara quase acertou o olho do agente Deaton pela fresta de observação –

Peter fora surpreendido pela informação, se virando com indignação na direção do agente.

- o agente se inclinou para falar com ele. Lhe fez um pergunta. O detento riu e o silêncio rolou. E então ele simplesmente enfiou o dedo pela fresta de observação, quase acertando o olho do agente e ficou brincando  com ele como se estivesse falando com um bebê -

Peter encarou a porta com pavor.

O seu medo estava se realizando.

Com receio, ele se aproximou da porta, respirando fundo, tentando se acalmar. Ele conseguiu ouvir uma canção ser cantarolada do outro lado da porta. O seu peito gelou. Aquela era a mesma canção que Alice cantava quando criança. A mesma música que ele cantava em interrogatórios que não queria responder e quando se encontrava sozinho em sua cela, sendo monitorado pelos agentes através das câmeras. Ele sabia o nome, mas não sabia a letra.

Stiles dissera a Alexander e ele, em um dos interrogatórios, que uma mulher costumava cantar aquela canção, e ele acabou gostando da música de ninar. Stiles gostava de músicas de ninar. Mas não por ser algo que representava um laço fraternal. Ele gostava porque dizia que canções de ninar eram como ele. Eram bonitas de se ouvir, mas quando se parava para pensar em seu conteúdo, elas eram perturbadoras. Apesar de serem bonitinhas, as letras de canções de ninar quase sempre possuíam acontecimentos trágicos ou ameaças a crianças.

- Sti? – o homem chamou e a música parou instantaneamente.

Demorou segundos para que Peter pudesse ouvir uma resposta baixa.

- Peet? –

- hey, garoto! Como você está? – fora impossível para Peter usar de um tom carinho ao ouvir o apelido ser emitido pelo castanho.

Aquela pequena pergunta lhe tirou uma montanha de receios e medos das costas.

- o de sempre – o louro suspirou baixinho.

- Peter .. por que você não está investigando as mortes? Por que o Alan? – inquiriu o castanho e o louro se viu nervoso.

- porque já estou em um caso com o resto da equipe –

Stiles ficou em silêncio.

- e por que está aqui e não trabalhando? –

- porque eu vim te ver. Precisava saber como você estava. Se estava bem – respondeu se apoiando com o ombro na porta.

Ele não tinha a permissão de abrir a cela. Os superiores estavam apavorados. Alan era o único deles que não tinha medo de Stiles. E fora isso que o levara a tomar a liderança do caso. Mas os outros sete estavam em pânico total e ordenaram que a cela não deveria ser aberta até que tivessem a certeza de que o castanho estava sob controle. Peter julgava que, por aquele critério, aquela porta deveria ser trancada eternamente.

- eu estou bem – respondeu e Peter o ouviu se sentar de costas para a porta.

- e... Os outros? –

Stiles crispou os lábios.

- e isso importa? –

Peter suspirou, se colocando de costas para a porta e cruzando as pernas, bem como os braços.

- importa. Querendo ou não são parte de você. E se eles não estão bem, você também não está –

Stiles riu baixinho e o silêncio reinou.

- e então? – Peter voltou a questionar

- Peter... O que está acontecendo aí fora? – o louro ouviu o castanho se esquivar da pergunta, o que fez o seu peito gelar em nervosismo.

- como assim? –

- que caso é esse que faz o FBI ignorar a influência que você tem sobre mim? – indagou o Stilinski, curioso.

Peter se viu sem palavras, antes de suspirar e apoiar a cabeça na porta, olhando para o teto com pesar.

“Me desculpa, garoto”

- terrorismo. A coisa está séria lá fora – a sua mentira, no fundo, era uma verdade.

Branco havia aterrorizado o condado com a casa repleta de armadilhas que explodiu. A casa em que Stiles cresceu. Mas Peter faria de tudo para manter Stiles longe de Branco. Ele usaria tudo o que tinha para afastar o sej garoto de sua vida antiga. Ele jurou. Ele prometeu a Alexander.

“Você tem que continuar”

- terrorismo, é? Com bombas ou biológico? –

- bomba – respondeu o louro ainda se sentindo culpado.

“Não vamos mais mentir uns para os outros. Certo, garoto?”

A voz de Alexander voltou a ecoar na mente do louro. Peter se sentia mal com o que estava fazendo. Ele sabia que havia se tornado a pessoa em que Stiles mais confiava além dele mesmo. Mas o que mais lhe deixava triste, era o fato de que, mais cedo ou mais tarde, Stiles iria descobrir sobre a sua mentira. Pois, uma hora o castanho iria descobrir sobre o caso, tenha ele sido resolvido ou não. Mas Peter rezava para que Alice só descobrisse sobre o novo Branco quando tudo já estivesse resolvido. Ele sabia que era sonhar com o impossível. Mas ele insistia. Se com Branco e Alice nem tudo era o que parecia ser, então um desejo impossível como esse poderia ser possível.

- tenha cuidado. Não gosto da ideia de você perto de bombas –

- eu sei garoto. Eu vou ter –

O silêncio reinou entre eles e Stiles voltou a cantarolar a música de ninar.

- Stiles?

- hm –

- ele realmente tentou te estuprar, não foi? –

O silêncio dominou por alguns segundos. Alguns bons e longos segundos.

- sim. Ele tentou –

- e você não tentou o matar? – indagou, desconfiado.

- existem destinos piores do que a morte, Peter. E Winston vai descobrir isso – o castanho sorriu vitorioso, mordendo o lábio inferior.

- então você se deixou ser estuprado para punir Winston, porque sabia que o FBI iria investigar – comentou o louro, perplexo com a artimanha do mais novo.

- no dia em que eu confiar o meu corpo a idiotas como Scott, Derek e Lydia, Peter, você tem que me prender em um hospício, porque eu terei perdido a cabeça! -

- Alice, me diga! Você matou essa gente? – inquiriu o louro, preocupado e receoso da resposta que receberia.

Stiles gargalhou, irônico.

- então é isso! Você veio por eles – comentou o castanho se erguendo.

O som dos cotovelos de Stiles batendo na porta metálica alertou Peter.

- Stiles

- você não tem que estar interrogando outros suspeitos, Peter? Eu sou incapaz de plantar uma bomba estando aqui –

- Sti

- vá embora, Peter! Ou eu vou trocar apenas para não ter que ouvir a sua voz – ameaçou o Stilinski e o louro suspirou.

Ele sabia que era uma ameaça vazia, mas ainda assim ele sabia que tinha que, ao menos, respeitar a privacidade do assassino. Ele havia pisado na bola. Não deveria estar interrogando o castanho daqiele jeito. Não de forma tão escancarada. De fato, poderia dar a entender que ele não estava se importando com Stiles e apenas com a resolução do caso.

- fique bem, garoro... Eu me importo com você – ditou com o tom baixo, se afastando da porta.

- Peter – Stiles o chamou, e o homem parou, esperançoso.

- uma última coisa – a esperança se foi – você não descobriu nada sobre a existência de um novo coelho branco... Não foi? – o questionamento fez a respiração do homem parar e suas mãos tremerem.

Ele engoliu em seco e cerrou os punhos.

- não. Não houve nada a respeito –

- certo –

Peter seguiu o seu caminho para a saída da prisão, deixando Stiles sozinho em seu isolamento. O castanho abaixou a cabeça e logo as vozes em sua mente trataram de lhe atormentar.

- men

- ti

- ro

- so

- Mentiroso! – o castanho resmungou sentindo os olhos começarem a arder.







- e aí? Como foi? – questionou Derek adentrando a sala e fechando a porta atrás de si.

- como foi o quê, Derek? – indagou, impaciente.

- com Alice -

O louro suspirou, exausto.

- poderia ter sido melhor – murmurou se jogando sentado em sua cadeira e abaixando a cabeça, a apoiando nas mãos unidas.

- acha... Que ele foi o culpado? –

Peter ergueu a cabeça, incomodado.

- por que quer saber, Derek? Ainda está tentando afundar essa divisão?! – o mais velho soou acusatório enquanto mantinha as mãos unidas, apertando as duas com força.

Derek piscou os olhos, surpreso.

- eu

- não seja cínico, Derek. Eu estou cansado! Cansado de tudo! Eu tenho um psicopata maníaco a solta, doente o suficiente para se considerar similar a uma criança perturbada!  Eu tenho uma ameaça que se encerra em um dia! Tenho que lidar com Alice na prisão!  Tenho que lidar com a minha vida! E ainda tenho que lidar com três crianças egocêntricas me rondando e infernizando o meu local de trabalho! – o louro ralhou, furioso.

- tio, eu não... – Derek tentou argumentar, mas Peter se ergueu de prontidão, lhe surpreendendo.

Derek não havia visto o tio tão alterado em sua vida.

- não o quê, Derek? Hein?! Não o quê?! Não pensou que eu tivesse percebido como você e Scott McCall ficam conversando pelos cantos como duas garota de fundamental? Não pensou que eu fosse perceber o modo como vocês tratam os detentos? Vocês se quer disfarçam o quanto querem sair dessa divisão! Então, eu vou encurtar as coisas para você entender, meu sobrinho: eu estou me fodendo para o que você pensa de mim! Estou me fodendo para o que qualquer um pense de mim! Você, Scott, Lydia, Chris, Allison, o FBI, o país! Foda-se! As únicas pessoas que eu me importo, mesmo, do fundo do meu coração, são a sua mãe, que foi ele quem esteve do meu lado quando tudo desmoronou sobre mim, Malia e Cora, que assim como a sua mãe sempre me entenderam, e Alice, pois é a única pessoa que eu conheço que nunca conheceu o amor de um pai. O resto eu quero que se foda! –

O louro desatou a falar, cuspindo tudo o que guardava sobre o sobrinho, que apenas o encarava, em choque. Toda a frustração, raiva, dor e indignação que sentiu por anos e meses, Peter guardou. Ele sempre guardou tudo o que sentia. Mas, agora, ele estava sobrecarregado. E Derek ter entrado ali e lhe perguntado sobre Alice, o fez explodir. Quando chegou na base de sua divisão, Peter correu para a sua sala. Ele só queria se trancar ali, respirar, e brincar de tetris com tudo o que sentia. Ele pretendia organizar a cabeça para que a raiva e frustração que sentia a mais pudesse ser guardada em si junto do resto. Mas Derek interrompeu o processo e tudo voou por sua boca sem controle algum.

- tio Peter...

- se você quer tanto sair, VÁ! – o louro elevou o tom de voz, chamando a atenção daqueles que se encontravam do lado de fora da sala – é apenas ir. Redija um documento formal e leve para os superiores, que foram quem lhe escolheu para isso. Porque todos sabiam que você iria surtar com Alice. E você surtando com Alice me sobrecarregaria e tudo iria para casa do caralho! Porque no fundo eles só querem que tudo dê errado! Eles querem que eu vá embora e que Alice morra! É apenas isso o que eles querem! –

O louro passou as mãos pelos cabelos, antes de respirar fundo e tentar se acalmar

- se você, ou o Scott, a Lydia ou quem quer que seja, tentar foder com essa divisão... É melhor que esteja preparado porque eu vou chutar o balde e a merda quando acertar o ventilador vai cobrir esse país todo, como já está cobrindo agora. E eu não vou mexer um dedo. Eu pego a minha filha, a minha irmã e a minha sobrinha e dou o fora dessa merda! E não...

- eu só vim perguntar porque me preocupo com vocês –

Peter bufou, indignado.

- e desde quando você se importa comigo ou com o Stiles?! Não seja cínico, Derek! – o homem se dirigiu a janela, procurando por ar fresco. Ele já não tinha mais a idade para surtar daquele jeito e sentir que estava tudo bem com o seu corpo.

- não fale assim, tio. Por favor. Eu sei que eu fiz muita merda com você. Mas eu quero compensar. Agora que... Agora que eu sei a verdade eu quero compensar, Peter. Eu estou com você! – o moreno se aproximou, aperta do o ombro do tio.

Peter sentiu o peito apertar.

Ele se manteve em silêncio.

- e quanto ao Stiles... Eu ainda sentia muito ódio dele, eu não vou mentir. Mas depois do que eu vi nesses dias. Eu... Fui investigar as fotos da casa... Agora eu posso entender o que levou uma criança ao limite de sua sanidade. Tudo se encaixa, mesmo que tenham peças faltando.-

Peter se virou, se apoiando na janela com a cintura.

- eu não sei o que você e os meus pais viram nele para se apegarem tanto. Mas vocês só descobriram ao se aproximarem dele. Então ru quero tentar.  O ódio que eu sinto por ele... Me machuca. Eu olho para ele e vejo um assassino. Então eu penso nessa casa e no passado dele, e vejo apenas alguém que podia ser diferente. Assim como eu vi a Erica há muitos anos atrás -

Peter fora surpreendido não apenas pelas palavras do moreno, como também pelo abraço que o mesmo lhe dera.

- você não tem que lidar com tudo sozinho, tio. Eu vou estar aqui, com o senhor. Eu vou melhorar, eu juro. E pode deixar que eu fico de olho no Scott. Ele vai escutar melhor se vier de mim –

Peter sentiu a calma começar a surgir em si. O mais velho ergueu os braços, apertando o sobrinho em um abraço, e desferindo alguns tapas amigáveis em suas costas. Derek ouviu o tio suspirar, antes de se afastar.

- Alan disse que nos reuniríamos aqui para decidir o que fazer quanto a Maybelle e Branco. Então... Reúna todo mundo e revisem tudo o que temos até agora – o moreno meneou em compreensão.

- certo. Tente se acalmar até lá. Se houver algo novo que nós descobrimos, eu venho te avisar -

- obrigado –

O louro voltou a dar as costas ao sobrinho, tentando respirar fundo e se acalmar enquanto observava a janela. Derek se preparou para sair, mas, ao fechar a mão ao redor da maçaneta da porta, ele sentiu que tinha a necessidade de falar algo mais. Peter fizera de tudo em sua adolescência para substituir o seu pai. Peter lhe ensinou a dirigir, a atirar e até a beber. Ele fora em todas as reuniões de pais e mestres de Malia e Cora. E até nas festividades de dia dos pais que a escola das duas fazia, o louro estava lá. E, desde a morte de seu pai, havia algo que Derek nunca disse para o tio.

- tio Peter – o moreno chamou, fazendo o louro apenas responder com um “hm” – eu te amo –

Peter se viu surpreso, antes de ouvir a porta de seu escritório se abrir e Derek sair pela mesma.  Um sorriso de canto surgiu nos lábios do homem de fios alourados com alguns fios grisalhos, que apenas se inclinou sobre a janela, se apoiando na lateral da mesma com o ombro e cruzou as pernas, bem como os braços.

- você sabe que eu amo você, seu cabeção! – resmungou ainda com o sorriso, mas com um olhar abatido.





Kira desembarcou primeiro, observando toda a movimentação das pessoas que se encontravam no aeroporto. Ela estava ansiosa. Era um fato. Ela sentia a agonia arranhando o seu peito, implorando para que encontrasse com Branco logo. Mas ela já era uma mulher experiente e bastante inteligente. Esperar que um mascarado estivesse entre o público segurando uma placa com o seu nome seria estupidez.

Então ele tratou de pegar suas malas e se dirigir para a saída, com o intuito de pegar um táxi até o hotel. Os membros dos raposas que respondiam a si chegariam logo depois. Em voos alternados, para não despertar a atenção do seu pai. Assim que colocou a mala com rodinhas no chão e a bolsa em seu ombro, Kira se virou, sempre atenta ao ambiente, como uma Alice faria.

Ela pegou o primeiro táxi que viu e deu o endereço do hotel. Em instantes, ela chegou ao prédio luxuoso. Fez o check-in e pegou o elevador para o andar em que iria ficar. Com um suspiro, ela pegou o celular e observou a tela do mesmo. Nenhuma ligação de seu pai. Mas ela sabia que era apenas questão de tempo para ele descobrir que a filha havia saído do país. Ela chegou ao quarto e não se preocupou em desfazer as malas. Em breve ela poderia estar então caçada pela polícia. Então era melhor deixar tudo como estava.

Ela pegou a chave do quarto, saiu e trancou a porta. Ela guardou a chave em seu bolso e ajustou a mochila no ombro. Ela já estava nos Estados Unidos, já estava no hotel, agora ela precisava ir atrás de seu armamento. Ela possuía copias de suas armas em uma residência no país, apesar de o seu pai se recusar a morar mais uma vez em terras norte-americanas, eles ainda mantinha propriedades no país. Não só por poder econômico, como também para demonstrar que ainda possuíam vínculo com os americanos e que sempre estariam abertos para negócios.

Ela alugou um carro que julgou ser útil o suficiente e abandonou o serviços de aplicativos. Ela não poderia ter a liberdade que precisava para perseguir e assassinar Alice usando um aplicativo para se mover.

Em questão de quarenta minutos ela alcançou a velha mansão que os Yukimura mantinham naquela cidade. Ela cumprimentou os poucos empregados responsáveis por manter a residência em ordem até que um dia a família decidisse visitar o local. Os empregados, uniformizados, deixaram o queixo cair, em surpresa. Havia anos que não ouviam falar dos Yukimura, eles apenas sabiam que o dinheiro caía na conta. Ver Kira Yukimura, agora uma mulher adulta  e sendo a cara da mãe, os deixou perplexos. Não faziam ideia de que os Yukimura iriam aparecer. Ela não se importou com os olhares de espanto. Apenas acenava e cumprimentava, sendo cumprimentada de volta. Ela seguiu para a garagem, no subsolo. As mansões que possuíam ainda tinham a mesma aparência, estrutura e sistema. Logo, ela sabia que os seus armamentos foram guardados juntos do arsenal de sua falecida mãe.

Ela atravessou todos os carros devidamente lavados estacionados um ao lado do outro e se aproximou de um armário, abrindo o mesmo e vendo um mural de equipamentos de construção e mecânicos. Ela ignorou as chaves de fenda e as furadeiras, se focando em um ponto específico que somente a sua família sabia da existência. Kira pressionou a região e os seus dedos afundaram ali, então ela os puxou para o lado, ouvindo um estalo. Kira puxou os dedos junto com o buraco e a parede do armário acompanhou a sua mão como uma porta acompanhava a maçaneta, revelando um corredor.

Quando alcançou o fim do corredor, ela virou a diteita, vendo uma grande porta de cofre. Ela estreitou o olhar.

- hm, porta nova. Papai mudou o sistema como estava pensando em fazer há um tempão... Nem me falou que já tinha feito – comentou consigo mesma, um tanto chateada prla falta de comunicação entre pai e filha – algo de extrema importância entre os dois desde o assassinato de Noshiko.

A morena de jaqueta se aproximou do teclado ao lado da porta e digitou a senha.

A luz da tela acima do teclado passou de azul para vermelha.

Kira então tentou outra senha de seu pai e mais uma vez a tela ficou vermelha.

- então só sobrou uma. Papai só usa três senhas nos Estados Unidos – resmungou digitando a última combinação.

“Onna-bugeisha”

A luz se tornou verde e o estalo da porta sendo destrancada ecoou pelo pequeno hall vazio. Quando entrou no cofre, Kira fora surpreendida pela quantidade de lâminas que se encontravam bem distribuídas no ambiente. Havia pelo menos três suportes exibindo dezenas de espadas das mais variadas formas. Kira encarou, surpresa, todo o arsenal da mãe.

- eu não lembrava de que ela tinha tanta espada – comentou deslizando a mão pelas empunhaduras.

Ela parou ao percebe um suporte específico diante de si. Onde haviam apenas quatro espadas.

Ela sorriu tristonha.

- a família inteira – murmurou, tristonha

- papai – ela tocou a empunhadura de uma das Katanas favoritas do pai.

- mamãe amava katana, mas suas favoritas sempre foram cimitarras -  dirou erguendo as duas espadas da mãe, antes de encarar a quarta espada com seriedade.

- e eu vou usar essa para vingar você, mãe. A minha Katana feita pelo mesmo homem que fazia as suas espadas favoritas: Hiroto Hazashi – comentou desembainhando a katana, observando a letra H cravada no pé da empunhadura, com detalhes tribais ao redor da letra.

Kira guardou a espada na bainha e a colocou em sua cintura. Ela retirou a mochila das costas e passou a recolher os vários tipos de armas brancas ali guardadas. Soco inglês, kunai, shuriken, machadinhas, facas de lançamento, facas militares. Tudo o que achou necessário para se enfrentar Alice. E então decidiu voltar para o hotel. Parou no caminho para comprar algumas roupas, nas quais ela enrolaria a espada para esconder dos seguranças do hotel.

Ela adentrou o seu quarto no hotel e jogou as roupas e a espada sobre a cama, largando a mochila no chão do quarto e seguindo para a geladeira da cozinha. Ela estava ansiosa e nervosa. Nunca pensou que, se quer, chegaria perto de descobrir nada sobre Alice. No entanto, ali estava ela, em um quarto de hotel em Miami, a espera do contato de seu misterioso bem feitor.

Ao adentrar a cozinha, Kira fora surpreendida por um bule de chá liberando vapor, e um copo tradicional japonês fumegando, exatamente como o bule. Ela sentiu o corpo gelar e logo buscou a faca em sua cintura.

- esse era o chá favorito de sua mãe – a morena se virou de forma brusca, observando o homem de terno e máscara de coelho atrás de si.

Branco saía do seu quarto, com um copo de chá em mãos. Mira se viu perplexa.

“há quanto tempo ele estava no quarto?!”

-como sabe o chá favorito da minha mãe? – indagou a Yumimura, desconfiada e assustada, já buscando outra faca em sua cintura.

- poupe suas lâminas, criança. Eu sou um conhecido da velha –

- minha mãe não...

Branco gargalhou baixo.

- Noshiko ficava puta quando chamávamos ela de velha – ele comentou, nostálgico antes debliberar um suspiro – imagino que ainda fique – ele deu de ombros e enfiou o canudo em seu copo na máscara de coelho, bebendo do chá.

Kira olhou para o mascarado com desconfiança.

- a minha mãe foi assassinada –

- hm – Branco deu de ombros – não é só porque ela morreu que ela não possa estar viva –

Kira o encarou, confusa.

- Noshiko vive em outro lugar, agora – comentou, rindo logo em seguida.

- do que está falando? –

- vamos aos negócios, Kira. Não preciso te dizer tudo o que sei –

- você foi quem me mandou a mensagem, certo? –

- eu mesmo. Coelho Branco, esperando você ficar ao meu dispor –

- perdão?! – inquiriu, piscando os olhos, descrente.

- sabe, Kira. Como filha de uma Alice, eu espero muito de você – comentou voltando a beber do seu chá – no entanto... Eu não tenho certeza se você dá conta do serviço –

- você sabe que sou filha de uma Alice, mas com certeza não sabe do que eu sou capaz –

Branco riu.

- sabe a diferença entre você e um burro de carga? – indagou Branco vendo a expressão da mulher ser tomada pela fúria.

- se você disser que é a carga, eu vou matar você aqui e agora –

Branco gargalhou, maleficamente, com a sua voz modificada.

- não. A diferença é que o burro é mais útil –

A faca voou pelo ambiente, acertando o copo na mão do homem de terno branco. Branco apenas assistiu o seus dedos serem banhados pelo líquido quente enquanto o copo de desfazia em cacos que caíram no chão se quebrando em outros cacos de porcelana.

O canudo permaneceu preso nos lábios da máscara de coelho.

- viu? Muito mais útil –

- você me chamou até o país só para me insultar? – indagou adquirindo uma posição de luta.

Em sua mente, a voz de sua mãe ecoava com frequência, como um cd arranhado, desde que Branco surgiu a sua frente.

“Nunca confie em um coelho Branco, querida”

Kira avançou sobre o mascarado, com a faca fixa em sua mão direita. Branco apenas puxou o canudo da boca e esperou pela morena. Quando ela desferiu o primeiro golpe, ele bloqueou o ataque e segurou o pulso alheio. Ele, então, girou, a jogando na direção do sofá. Antes alcançar o móvel, Kira sentou o pé do homem no seu, lhe fazendo tropeça. Ela cairiam sobre a própria lâmina, se não fosse rápida o suficiente para afastar a mão da faca e se apoiar em um braço só.

“Eles são mais traiçoeiros do que a aranha que espera os insetos caírem em sua teia”

Ele saltou na direção de Kira, tentando pisotear as costas dela, mas apenas acertou o sofá, quebrando a madeira estrutural em duas. Kira acertou um chute nas costas do joelho do coelho, o fazendo cair de costas no chão. Kira arremessou um vaso no outro, que bateu com a palma da mão no objeto, mudando a trajetória para cima, como uma bola de voley.

Ela se ergueu e avançou mais uma vez.

- essa é a diferença entre você e uma Alice, Kira – o homem pronuncioi com a sua voz computadorizada, irritando a morena.

- você apenas ataca como louca, mas com os pontos fracos do outro em mente -

Kira se jogou de ombro no outro, esperando que ele bloqueasse com o corpo, para que assim ela o golpeasse com a faca. Mas Branco se abaixou, esticando a perna e lhe acertando o tornozelo. Kira se desequilibrou e caiu sobre o mascarado, que a colocou sobre os ombros durante a queda e se ergueu, a jogando contra a porta do quarto, fazendo a mulher cair de qualquer jeito ao pé da cama.

Kira sentia as costas protestarem com o golpe recente.

“Coelhos Brancos não esperam. Eles empurram a teia em sua direção, como a língua de um sapo, e então assistem você se debater até morrer asfixiado no nó que você mesma deu”

- Alices atacam para transformar o ponto forte do inimigo em um ponto fraco -

Kira se ergueu, com certa dificuldade, devido a dor em suas costas. Branco caminhava para o quarto com tranquilidade. A morena esperou alguns segundos, apenas o observando, enquanto o via se aproximar mais. Quando Branco chegou perto da porta, Kira avançou. O homem mascarado suspirou já se preparando para golpear a morena, mas ele fora surpreendido quando Kira de abaixou, não para o atacar diretamente no mesmo golpe, mas sim para pegar impulso para saltar, se pendurando na portada e lhe acertar os dois pés no peito. Ele cambaleou para trás, tropeçando nos cacos de porcelana e no chá derramado.

Kira aproveitou a oportunidade e avançou.

- pelo visto o seu ego é o seu ponto forte, senhor coelho – alfinetou correndo na direção do corpo caído e pulando sobre o mesmo com a faca.

Branco ergueu a perna, a fazendo passar pelos braços de Kira e acertar o queixo da mesma com força. A morena ouviu o trincar do impacto entre os seus dentes, enquanto o corpo caía para trás. Kira ficou deitada no chão, tentando fazer o corpo voltar ao normal e abandonar a tontura que sentia. Enquanto isso, Branco se erguia e lhe dava as costas, se movendo como se não tivesse sofrido dando algum. Ele se aproximou da Yukimura, e a mesma reagiu.

Ela tentou uma rasteira, mas ele desviou. Ela tentou um soco baixo enquanto se erguia. Ele bloqueou. Kira então tentou um gancho, se erguendo bruscamente. Esse fora bloqueado ao ter o pulso agarrado. Branco a encarou com seriedade, aumentando o brilho vermelho dos olhos em sua máscara.

- você não vai querer continuar essa

Ele fora surpreendido quando a Yukimura lhe golpeou o braço com o nó dos dedos, pressionando o seu nervo, forçando uma reação involuntária em sua mão. Ela usou esse curto espaço de tempo para se soltar. Ele se apressou em ae defender, mas Kira não o atacou de forma direta. Ela apenas se moveu, passando por baixo de seu braço, e lhe abraçando por trás. Kira llhe apertou no abraço e lhe ergueu do solo, se inclinando para trás.

- vadia – resmungou com um sorriso nos lábios.

Ele apenas aceitou seu destino. Kira lhe jogou de nuca no chão. A morena sentiu o homem amolecer em suas mãos. Suspirando de exaustão, a mulher jogou o corpo dele para o lado e se ergueu, com certa dificuldade. Ela se enfureceu ao ouvir o outro gargalhando. Ela o agarrou pelo pé, e o arrastou até a mesa de centro. Kira, com dificuldade, encaixou o peito ente as cochas do mascarado, e lhe agarrou o terno com força, lhe erguendo no ar.

Branco permanecia a gargalhar, como uma criança em que alguém fazia cócegas.

Kira o ergueu acima de sua cabeça, e Branco se moveu.

Ele desferiu golpes de cotovelo na cabeça. A morena rugiu de ódio antes de inclinar o corpo para a frente, jogando o homem de terno branco sobre a mesa de centro. O vidro se quebrou assim que o homem caiu sobre a superfície, fazendo vários cacos lhe rasgarem a roupa e a pele. Kira respirava com dificuldade, enquanto observava o corpo imóvel do homem misterioso. Ela se afastou, ainda o observando, se aproximando da mesa da cozinha e se servindo do chá quentinho feiro pelo invasor.

- você vai... Me falar tudo o que sabe sobre o assassino de minha mãe – ela ditou enquanto tentava recuperar o folego.

- está mais do que óbvio que você não me serve como Valete de Espadas – a voz do homem surpreendeu a morena, que o encarou, perplexa, enquanto o via se erguer.

- como é?! –

- eu estou juntando pessoas, senhorita Yukimura. Pessoas muito... Peculiares... Assim como você. Eu estava em dúvida sobre quem deveria ser o Valete de Espadas do meu baralho. –

- você...

- então eu pensei se a filha do Valete original não seria capaz de assumir o manto. Mas você não pode. Você não é boa o suficiente para ser uma Alice –

Kira arregalou os olhos.

“Você não é boa o suficiente, querida”.

- pelo visto vai ter que ser aquele cara – resmungou o mascarado, ajustando o terno em seu corpo.

- não é que ele não seja bom. Mas... Sinceramente, ele não possui a classe necessária para ser uma Alice –

- do que diabos você está falando? –

Branco inclinou a cabeça levemente para a esquerda, como um filhote confuso.

- eu estou iniciando uma caça as bruxas reversa, Senhorita Yukimura. Ao invés de caçarmos os que quebram as regras, vamos caçar os que seguem elas –

- mas isso seria... Caçar mais da metade do seu próprio país – argumentou, confusa.

Branco gargalhou.

- eles já ficaram por cima por tempo demais. Agora, é a vez deles ficarem escondidos nas tocas –

Kira franziu o cenho, confusa com a declaração.

“Nada é o que parece ser”

- hey. Hey!. HEY! Não me diga... Você me trouxe aqui tendo essa porcaria de ideia?

- ah! Você vai sobreviver. Infelizmente, muita gente vai. Mas o lado bom é que teremos Alice! – ele começou, desapontado, antes de seguir animado, erguendo as mãos unidas como uma criança deslumbrada.

- teremos Alice?! Você enlouqueceu?! Vai começar uma guerra civil e só se importa com uma pessoa?! – indagou, perplexa.

- ela é a única que me importa! –

- pois então não se anime tanto com a presença dela. Pois eu vou natar aquele cara – ameaçou a morena e o homem de terno abaixou ad mãos, lhe encarando.

Kira se viu nervosa. Ela notou a diferença entre ela e Branco. Não era estúpida. Apenas um imbecil não perceberia. E aquela máscara naotlhe permitia ler a face do ser a sua frente. Sendo assim, dl não conseguia perceber sinais de raiva, ódio ou decepção. Ela não conseguia perceber nada. Pois Branco justamente o que seu nome dizia. Um grande branco vazio. Você sabe que ele existe, mas não sabe como ou por que. Aquilo a assustava mais do que a ideia de enfrentar o assassino de sua mãe.

- morrer... Nas mãos dele, morrer você vai. Mas, diferente de sua mãe, será – a japonesa se viu confusa e ofendida.

- tá bom, Yoda. Vamos deixar as coisas bem claras. Eu vim aqui para este país, única, E EXCLUSIVAMENTE, matar o assassino de minha mãe. Eu não vim travar uma guerra que não é minha – a mulher explicou com cala e indignação na voz.

Todo mundo odiava ser passado para trás.

- acontece, senhorita, é que a única chance que você tem de matar o assassino de sua mãe será durante a guerra. Porque, depois dela, ele vai estar mais perigoso do que o FBI consegue imaginar... Mais perigoso do que eu mesmo posso imaginar. Aquele garoto era um prodígio, mas... Quando tudo acabar... Ele será divino –

Kira franziu o cenho.

- não faz sentido. Você me chamou aqui sabendo que eu quero matar Alice, mas o seu plano é... Ajudar ele?! O que você tem na cabeça? –

- eu tenho a plena noção de que você é incapaz de matar uma Alice. Você não é tão boa, garota. Mas, se você se juntar a nós, poderá se tornar uma Alice – ditou estendendo a mão na direção da morena, oferecendo-lhe ajuda.

Kira franziu o cenho, e negou com a cabeça.

- você não sabe de nada. Se eu não vou poder matar ele depois da guerra, então eu vou matar antes dela – argumentou finalizando o chá e batendo com o copo sobre a mesa.

Branco gargalhou e Kira revirou os olhos.

- o que foi agora?! –

O mascarado ergueu a mão e um relógio de bolso caiu, ficando pendurado no ar por uma corrente presa ao seu dedo. O relógio balançava de um lado para o outro, como em um show de hipnose. A morena franziu o cenho, confusa.

- eu não acredito nessas merdas, não –

- acontece, garota, que não há mais tempo para o matar antes da guerra – Kira franziu o cenho, desconfiada.

- por que? –

- porque eu vou começar a guerra em algumas horas – comentou gargalhando e só então Kira notou que o relógio não marcava o horário correto. Ela percebeu que ele não estava marcando as horas que se passavam, mas sim as horas que faltavam.

A morena arregalou os olhos na direção do relógio.

- como... Quanto falta? Quantas horas faltam? – inquiriu, nervosa.

- ah, Yukimura-san! O relógio é uma coisa engraçada, sabe? No mundo de vocês, ele é lento. Mas, no País das Maravilhas... Ele corre tão rápido quanto um coelho – comentou o mascarado, em japonês, colocando uma mão sob o relógio, o exibindo enquanto ainda o balançava de um lado para o outro.

Os olhos vermelhos se tornaram róseos, deixando a Yukimura confusa.

- você! – ela rosnou, irritada, voltando a avançar contra o mascarado.

Branco gargalhou alto, se inclinando, assustando a mulher, que parou de se mover. O mascarado puxou uma granada do bolso do paletó, surpreendendo a japonesa, que se preparou para correr.

- UM PRESENTINHO DE BOAS-VINDAS, YUKIMURA-SAN! – gritou, alegremente, puxando o pino da granada, que explodiu em sua mão.





Os prisioneiros que estavam em Maybelle já se encontravam intrigados e desconfiados. Agentes do FBI e até membro do exército americano vagavam pelos corredores da prisão, devidamente armados e vestidos em coletes a prova de balas. Os prisioneiros encaravam os agentes federais e penitenciários correrem de um lado para o outro, em seus coletes a prova de balas e seus comunicadores pendurados em suas orelhas.

Era para ser mais um dia comum na prisão. Mas, de repente, se tornara uma zona de guerra. Os detentos estavam se preparando para o banho de Sol diário, quando todos os guardas começaram a surgir em suas celas, instruindo para ficarem quietos e comportados, para que assim, quem sabe, não morressem com uma bala perdida em suas cabeças.

Os prisioneiros sabiam muito bem que aquela tal bala perdida citada no discurso, estava mais do que bem direcionada.

Os agentes federais frisaram a importância de os detentos permanecerem em suas celas, a qualquer custo, pois estariam fazendo uma grande operação no local. Não demorou nada para que a maioria deles se tocasse do que se tratava a operação.

- alguém vai tentar fugir hoje e com ajuda de fora –

- a gente pode tentar fugir também. Se sairmos dessa cela, a gente pode usar o momento de distração da primeira fuga, para fazer a nossa – sugeriu um dos detentos, em um sussurro.

- eu não aconselharia isso – a voz de Scott os surpreendeu.

- qual é?! –

- o cara que está vindo aí... ele só quer saber de uma pessoa. E nenhum de vocês é ela –

- tudo tudo por um cara?! +

- um cara só vai invadir essa prisão e fazer a fuga? – outro detento questionou, debochado.

Scott sorriu.

- não vai ter fuga – ditou destravando o fuzil em suas mãos – ele vai morrer assim que colocar os pés nessa prisão. Porque, infelizmente, se render ele não vai – o McCall pronunciou com frieza, surpreendendo os detentos.

- o cara não vai se render, ou vocês não vão deixar ele de render? – indagou outro detento, observando o moreno de queixo torto lhe encarar com seriedade.

- ele não vai. Aquele lunático acha que é algum tipo de vilão de história em quadrinho ou coisa do tipo. – resmungou o agente antes de começar a marchar pelo corredor, se afastando da cela.

- fazendo o seu show, mais uma vez – comentou Erica, que se encontrava abaixada, amarrando os cadarços.

Scott revirou os olhos.

- larga o meu pé, Reyes! – Repreendeu ignorando a mulher e seguindo para a sua ronda, como ordenado por Peter e Alan.

- então deixa de ser um merda, McCall! – resmungou a mulher se erguendo após averiguar que os cadarços estavam bem amarrados.

Um assovio ecoou pelo ambiente e a loura sentiu vontade de revirar os olhos até eles completarem uma volta completa.

- e aí, docinho? Você amarra um cadarço como ninguém – o homem na vela ao lado forçou uma voz sedutora, enquanto se forçava contra a grade.

- foi mal, cadela no cio. Eu esqueci o meu caralho em casa – rebateu a loura se erguendo após terminar de amarrar o cadarço de seu sapato.

- Erica – a loura ouviu Allison lhe chamar e se virou na direção da morena – o que está fazendo aqui? Você deveria estar com o Derek no corredor da solitária – argumentou a Argent se aproximando ao lado do pai.

- não dá, Alli. Eu não consigo ficar lá – argumentou a loura olhando com um olhar suplicante para a agente Argent.

- e por que não? – inquiriu a morena, confusa, antes de se surpreender ao lembrar da conversa que tivera coma Reyes – alguma lembrança negativa? Aconteceu alguma coisa na prisão depois que eu saí de lá? – indagou, preocupada.

A loura negou com a cabeça, balançando suavemente os seus cachos.

- é ele, Alli. A energia pesada que está lá... Eu não consigo ficar perto daquil –

- Alice? – perguntou, receosa da resposta.

- Stiles – corrigiu a loura, deixando a morena confusa.

- como assim? –

- vocês duas! Deveriam estar em seus postos! Sabem a importância dessa operação! – repreendeu Chris, surgindo no corredor.

- quieto! – repreendeu Allison, surpreendendo o pai

- como é?! Mocinha, eu ainda sou o seu... –

- você sabe a importância de alguma coisa, pai? Você realmente sabe? – a provocação da filha fora recebida por um silêncio constrangido.

Chris sabia ao que Allison estava se referindo. A morena voltou a encarar Erica.

- o que está acontecendo com Stiles? –

- ele... Está chorando, Allison. Mas o choro dele me assusta. Porque eu fico tremendo e meu corpo grita para sair de perto dele – argumentou a loura, deixando Chris confuso.

- chorando? – perguntou Allison, confusa.

- não precisa se preocupar com nada, Sti. Só fique quietinho e não apronte nada – foram as últimas palavras de Peter para o castanho trancado atrás da porta metálica, antes de sair a passos apressados corredor a fora.

Derek franziu o cenho para o tio, enquanto ouvia Stiles bater na portae gritar pelo louro.

- PETER! PETER! O QUE VOCÊ ESTÁ ESCONDENDO DE MIM?! PETER! POR FAVOR, PETER! – o moreno de olhos verdes se assustou, enquanto a porta metálica sofria cada vez mais com os golpes do homem ali aprisionado.

Derek não estava assustado com a violência contra a porta metálica. Ele tinha uma certa noção do quão agressivo Alice poderia ser. Ele estava assustado com o fato de Alice implorar por algo a alguém. Porque era isso que Stiles fazia, agora. O Stilinski implorava para que Peter falasse com ele. Antes de parar de gritar, Stiles implorou para que Peter não o abandonasse. Aquilo pegou Derek de surpresa. O moreno parou o tio ao segurar o seu braço. Era notável que Peter estava ignorando as súplicas do castanho. A muito custo, mas estava. Derek conseguia ver o olhar perturbado do tio com as súplicas alheias.

- você tem certeza disso, tio? –

Peter suspirou.

- é o único jeito, Derek. Stiles não pode saber sobre a existência desse cara de jeito nenhum. Ou pode colocar tudo pelo que seu pai e eu lutamos no lixo – argumentou o louro antes de seguir para fora do corredor.

Derek suspirou.

Ele não tinha a ligação emocional que seus pais e seu tio tinham com o castanho. Mas ele não desejaria, nunca, jogar o trabalho deles fora. Mesmo que não compreendesse o motivo, ou o trabalho propriamente dito. Se ele sse esforçaram para afastar Stiles do assassino que ele foi um dia, Derek iria preservar esse esforço ao máximo.

Ele passou minutos ali, apenas encarando o corredor em que Alice se encontrava preso. Ele era o único detento naquela ala das solitárias. E, surpreendentemente, aquela ala parecia lhe mais assustadora do que a outra ala, que possuía três detentos aprisionados. Derek não sabia dizer o porquê, mas sentia como se ali estivesse preso mais do que um detento. Ele sentia como se o próprio diabo estivesse naquele corredor, lhe chamando, cantarolando como uma criança, narrando na forma de versos a sua morte.

Apertando os dedos ao redor do fuzil, Derek avançou alguns passos. Ele se quer notou quando Erica, que deveria liderar consigo o grupo que protegeria aquele corredor, sumiu. O que ele ouviu ao se aproximar da porta lhe perturbou.

Stiles esta a chorando. Soluçando como uma criança. Derek se colocou de lado, paralelo a porta, e se esgueirou até a mesma, se colocando em silêncio a espreita. O choro durou vários minutos, com sussurros clamando por Peter e por outros dois nomes que lhe perturbaram. Mas perturbaram muito, lhe fazendo soltar o rifle e levar a mão ao peito, contendo a dor que sentia ali. A imagem do cativeiro vinha a sua mente com velocidade, lhe fazendo cerrar os dedos sobre o peito, apertando o colete a prova de balas.

- por que? – questionava-se o castanho – Por que ele está assim, Alex? – mais um soluço o silenciou.

Stiles tentava conter o choro, mas falhava miseravelmente, sempre soluçando quando perdia o controle.

- por que vocês me deixaram? Por que todo mundo me abandona? Por que? Por que todo mundo quer ser meu inimigo? –

Derek se viu surpreso com os questionamentos do prisioneiro que ele julgava sem coração.

- por que você me deixou, Lay? Por que você foi morrer? Se... Se você ainda estivesse aqui, irmão... Nada disso teria acontecido. –

- Lay é o irmão – murmurou Derek, surpreso.

O choro parou.

- quem está aí? – Derek se viu surpreso mais uma vez.

Ele não havia falado alto o suficiente para alguém escutar do outro lado da porta. Então como diabos Stiles sabia que havia alguém do outro lado da porta. Derek decidiu permanecer em silêncio. Talvez, Alice achasse que havia ouvido coisas e ignorasse. Mas, para a sua surpresa, a acusação permaneceu e com um fator curioso para si.

- nós podemos lhe ouvir, sabia? –

“Nós?!”

- espero que esteja se divertindo com o showzinho – o tom magoado ainda existia, mas a ameaça evidente nas palavras o fazia ser ignorado – porque o próximo show vai ser de mágica. E eu vou fazer você ser partido em dois –

Derek engoliu em seco. Não pela ameaça. Mas por se ver na obrigação de se apresentar.

- s-sou eu... Derek – o moreno pronunciou e o silêncio reinou do outro lado.

Aquilo lhe incomodou muais.

- sabe?... Eu não sou seu inimigo – o silêncio perdurou.

Antes que Derek voltasse a abrir a boca, um gargalhar maléfico soou do outro lado. O moreno se viu confuso e surpreso.

- você não é nosso inimigo?! – exclamou, indignado, enquanto ainda gargalhava.

Alice ria genuinamente.

- por favor, Agente Hale! Cada um de nós sabe que você não passa de um estrume fardado que, se quer, é elegível para qualquer título que não esteja relacionado a inimizade –

Derek suspirou.

- eu sei que eu fiz muita merda, ok? Mas eu quero fazer as coisas certo dessa vez. Nós... Podemos começar do zero. O que acha? – argumentou recebendo o silêncio como resposta.

- eu só quero... Me deixe em paz, Derek –

O moreno abriu o espaço usado para observar os detentos no inferior, surpreendendo Stiles.

- você não está sozinho, Stiles. E o tio Peter não está abandonando você +

- você não sabe de nada! –

- eu sei que ele gosta de você como um filho... Na verdade, ele sempre fala para as pessoas que tem dois filhos –

As palavras do moreno de olhos verdes surpreenderam o castanho, que se ergueu, se aproximando da porta.

- palavras são apenas recipientes, Derek. Muitas vezes, estão vazias –

- mas as dele não são. E as minhas também quando eu digo que quero começar do zero, quando digo que você não está sozinho -

- eu... – o homem fora silenciado pelo seu celular, que tocou em sinal de chamada.

Stiles gargalhou alto, antes de socar a porta metálica, assustando Derek, que deu um salto para trás.

- hora de brincar de ser agente, Derek. Você não consegue nos enganar com esse teatrinho de bom samaritano preocupado. Você teria que recomeçar a sua vida inteira do zero para conseguir nos enganar – o castanho pronunciou, furioso, antes de desaparecer nas sombras da cela, murmurando coisas para si mesmo.

- é o Derek – o moreno atendeu, preocupado, observando a porta da cela enquanto se afastava.

- Nós erramos feio – a voz de Isaac ecoou pela linha e Derek engoliu em seco, sentindo Scott exclamar, perplexo.

- o alvo não é Maybelle – a voz de Alan veio logo em seguida.

Os corpos de todos os agentes gelaram de medo.

Alice gargalhou dentro de sua cela.






Chapter 58: Smiling cat

Chapter Text

O dia inteiro fora movimentado na delegacia, naquele dia. Para o delegado Ryan, fora um daqueles dias de cão. Era como se tudo estivesse seguindo passos muito bem calculados para que tudo na sua vida desse errado naquele dia. Se mulheres, de repente, começassem a cair dos céus, completamente nuas e dispostas a uma boa rodada de sexo, quando ele estendesse os braços para agarrar a primeira que conseguisse pegar, em seus braços cairia um homem chamado Chuck com uma terceira perna e uma hemorroida daquelas.

O homem de cabelos morenos bem cortados e penteados para trás com a ajuda do seu bom e velho gel de cabelo saiu de sua sala com o intuito de pegar mais uma xícara de café. Porque ele estava precisando mais do que nunca. Ele fechou a porta atrás de si, observando com cansaço a correria dos outros oficiais. Quando o moreno alcançou a porta da copa, ele fora surpreendido quando a simpática senhora Nyelman surgiu em seu campo de visão com uma caixa embrulhada com paple de presente e uma prancheta sobre o pacote, amassando um pouco o laço que o enfeitava.

- Delegado Ohran, chegou esse embrulho para o senhor dos correios. –

- pacote? – inquiriu o delegado, confuso.

- sim. Com um bilhete. Diz ser de uma admiradora secreta – disse a senhora, animada, sorrindo sugestiva para o homem, que corou com a mensão de uma mulher pode estar interessada em si.

- admiradora? – indagou, confuso, assinando a prancheta e a colocando sobre o pacote, pegando o mesmo para que a senhora pudesse pegar a prancheta.

- sim! Parece que alguém quer tirar o seu título de solteirão – brincou a simpática senhora Nyelman vendo o homem rir fraco.

- vamos abrir isso na minha sala. Não quero que os caras descubram e fiquem me atazanando – ditou chamando a senhora para a sua sala.

- ah, não. Eu estou curiosa, mas depois vou em sua sala, ver. Agora eu tenho uma pilha de papéis para organizar na minha mesa – disse a mais velha batendo suavemente no ombro do mais jovem e marchando com seus típicos passinhos curtos até a sua mesa.

Ryan Ohran deixou o café completamente de lado e seguiu para a sua sala. Ele fechou a porta e apoiou o pacote em sua mesa, não se importando em bagunçar algumas folhas que se encontravam sobre ela. Ele puxou o cartão de sua admiradora secreta, vendo apenas o seu nome e “de sua Admiradora Secreta” logo abaixo. O resto do cartão era apenas uma frase: O seu sorriso nubla a minha mente e me faz explodir em emoção.

O homem franziu o cenho para o cartão, sorrindo de canto para o coração desenhado no final da mensagem.

- faço é? – inquiriu, curioso.

Afinal, de quem seria o cartão e o presente? O homem largou o cartão ao lado do embrulho e passou a desfazer o laço no topo do mesmo. Quando rasgou o papel presente com os dedos e abriu a caixa de papelão, ele se viu confuso ao ver um urso de pelúcia. Era um gato preto sentado, com os braços abertos e o rabo ereto com leves curvas em ambas as extremidades. O homem franziu o cenho. Era um presente bonito e um tanto romântico... Mas não para se dar a um homem heterossexual adulto. Ele notou o adesivo na pata direita do bichinho e o apertou, o ouvindo gargalhar doce como uma criança.

Ele sorriu.

-É... Eu gostei – ditou apertando a pata do bichinho de pelúcia mais uma vez, o ouvindo gargalhar mais uma vez. – mas quem foi que te mandou, hein, gatinho? – inquiriu vendo a etiqueta do bichinho de pelúcia, tentando descobrir a loja.

Mas não era uma etiqueta comum. Não havia detalhes de como lavar nem nada do tipo. Apenas informava que o pelo do bichinho não afetava a alergia das pessoas e de que o brinquedo era... Para maiores de idade? O homem franziu o cenho, confuso, antes de olhar o verso da etiqueta, vendo o desenho de um coelho correndo.

- que empresa é essa? –

 


Kira se engasgou mais uma vez, enquanto ainda sentia o gargalhar incontrolável em seu interior. Ela estava de joelhos atrás do balcão da cozinha, onde antes estavam o bule com chá quente feito pelo mascarado. Havia passado os últimos dez minutos apenas ali, jogada no chão, gargalhando. Estava estupefata, ainda, com a situação. O seu gargalhar fora ocasionado pela granada, mas, Kira tinha que admitir que a situação era trágica, porém engraçada.

Quando o ser de máscara de coelho branco puxou uma granada de dentro do paletó, a Yukimura, que até então estava partindo para o ataque, entrou em pânico e se jogou sobre o balcão, com a intenção de o usar de escudo. No entanto, ao rolar sobre o mármore, ela viu o que realmente aconteceu.

Quando Branco puxou o pino, um clarão fora emitido da granada. Era uma granada de luz, com a aparência de uma de fragmentação. Mas Branco não usaria uma granada tão simples contra a filha de uma Alice. O clarão fora seguido de uma vazão de gás extremamente rápida. Quando Kira caiu de joelhos, atrás do balcão, completamente cega devido ao flash de luz da granada, ela ouviu o som de metal a sua frente e logo um cheiro estranho no ar  ela recuou, engatinhando, porém um som parecido ocorreu atrás de si. O desgraçado havia usado duas granadas. As duas granadas lhe cercaram com uma fumaça que possuía um cheiro peculiar. E, então, quando menos esperou, ela estava rindo. Mas rindo como se alguém tivesse lhe contado a sua piada favorita pela primeira vez. Ele ria de rolar no chão, com a barriga doendo, sendo envolvida por ambos os braços.

Ela sabia, agora, o que era aquela fumaça branca que saíra das granadas do mascarado. Era Óxido Nitroso. O conhecido gás do riso, somado a alguma substância que lhe dera cor sem reduzir o efeito do anestésico. Na verdade, ela sentia que havia algo mais ali. Algo que não apenas dava bem-estar e risos, mas também deixava as pernas moles. Assim que o gás se espalhou e o oxigênio alcançou os seus pulmões sem interferência, o riso começou a se dissipar junto. 

- aquele maldito – murmurou, se erguendo, com certa dificuldade.

Ela sabia que ele não estaria ali. O ouviu gargalhar enquanto se retirava do quarto de hotel. O desgraçado havia ido mais do que bem preparado ao seu encontro. Branco além de lhe pegar de surpresa em seu próprio quarto de hotel, lhe surpreendeu com aquelas granadas. Ela se assustou com a possibilidade do desgraçado ser um maluco suicida. Bem, maluco ele era. Mas suicida? Ela tinha as suas dúvidas. Começar uma guerra civil, sem dúvida alguma, era um ato suicida. Bater de frente com o próprio governo, em um país de primeiro mundo, era algo que poucas pessoas podiam fazer. Mas, agora, Kira se questionava se Branco realmente não seria capaz daquilo.

- o desgraçado vai mesmo começar essa merda – ditou, irritada, começando a marchar, lentamente, na direção do quarto assim que alcançou 

Ela precisava ver que horas eram. Conseguia se lembrar com clareza da imagem do relógio que balançava sobre a mão do mascarado. Ela havia memorizado a posição dos ponteiros assim que compreendeu que eles não marcavam a hora exata. Pois se um relógio de alguém que se intitula um Coelho Branco não marca as horas atuais, ele só pode marcar uma contagem regressiva.

Menos de quatro horas.

Faltavam menos de quatro horas para os dois ponteiros se encontrarem e, juntos, apontassem para a corrente que sustentava o relógio. Apenas algumas horas para que o seu primeiro movimento naquela guerra começasse. Só pouco mais de três horas para ela poder ter a chance de matar Alice. Pelo menos, segundo o Coelho Branco. E, agora, ela achava que, talvez, ele estivesse certo. Em meio ao caos de uma guerra civil, ela poderia ter liberdade de cometer assassinatos para atrair ou procurar por Alice, sem despertar, tanto, a atenção da polícia.

Ela pegou o celular e franziu o cenho ao perceber a quantidade de mensagens não lidas. Ao desbloquear o celular, logo ela vou de quem se tratavam as mensagens. O seu pai já havia descoberto sobre a sua façanha. Ela ignorou todas as mensagens dele, e se focou em mandar mensagens para os raposas que viriam consigo. O grupo de mafiosos que lhe deviam obediência não por ser uma Yukimura, mas por ter sido ela quem os encontrou e recrutou. Eles eram um pequeno subgrupo dos raposas. Um subgrupo liderado por ela.

Ela precisava deles no país o quanto antes.

- por enquanto, eu vou entrar nesse tabuleiro de xadrez, Coelho. Mas eu vou ser um cavalo. O seu Cavalo de Troia – ditou a asiática, irritada, apertando o celular na mão, enquanto ainda piscava os olhos irritados pela luz da granada.

 

Finalmente David Korgy havia arranjado um tempo para respirar. Não era que o trabalho estivesse tão difícil como era em alguns dias. Ser médico era difícil. As pessoas sempre adoeciam, ou tinham algum problema de saúde grave, ou até mesmo se quebravam de algum modo estranho e quase suicidar. Mas, naquele dia, a sua exaustão era emocional. Havia tido uma discussão seria com a sua ex-namorada, que era médica também. Os dois estavam a debater sobre como iriam tratar de um paciente, quando, dr algum jeito que ele não lembrava, a discussão sobre o seu relacionamento se iniciou. E, como se já não bastasse todo o desgaste emocional que eles tinham com os pacientes e os parentes do mesmo, a criatura de cristo havia decidido lhe infernizar o resto dia, sempre que possível, ao bater de frente consigo por qualquer motivo.

- maldita hora que namorei aquele desgraçada – murmurou, irritado, jogando o plástico de sua barra de cereal no lixo do corredor.

Quando alcançou a recepção, ao cruzar o prédio principal do hospital, o homem fora surpreendido pela recepcionista, que acenava para si, freneticamente. Ele passou por um entregador, que apenas o ignorou e seguiu o seu caminho de cabeça baixa, com o boné da empresa lhe cobrindo o rosto. Ele se viu curioso com o boné. Nunca havia visto uma empresa de correio com o símbolo de um coelho correndo, antes. Era um bom símbolo para uma empresa de correios. Coelhos eram rápidos, e era uma boa comparação a se fazer com um serviço de entregas.

- fala, Tiffany – ele disse ao se aproximar.

- aquele cara acabou de deixar um pacote para você – disse a mulher, apontando para a grande caixa de presente ao seu lado.

- esse? – inquiriu, surpreso.

- sim. Eu assinei na. Ficha do entregador, agora você tem que assinar na do hospital – informou a moça entregando a prancheta para o doutor, que a assinou.

- obrigado – ele agradeceu antes de puxar o presente e começar a o abrir.

Ele desfez o laço enquanto analisava o cartão.

- O seu sorriso nubla a minha mente e me faz explodir em emoção. – ele leu em voz baixa, mas não o suficiente para que Tiffany não escutasse.

- uma admiradora secreta? – indagou, curiosa.

- é o que diz o cartão – respondeu dando de ombros.

Ela sorriu animada.

- ah, eu acho essas coisas tão românticas – comentou a recepcionista vendo o homem sorrir, simpático e rasgar o papel de presente.

-um gato? – questionou ele, confuso, ao retirar o bichinho de dentro da caixa recheada de isopor.

- um gato de pelúcia! É bem bonitinho! – comentou a recepcionista, se apressando e apertando a patinha do bichinho felpudo, e o gargalhar gostos de criança chamou a atenção de várias pessoas próximas.

- isso é... Inovador. Nunca recebi um presente assim de uma admiradora secreta. Geralmente eram doces, energéticos e calcinhas – comentou o homem, se recordando de sua época de escola e faculdade.

- ah, aí não eram mulheres que gostavam de você. Elas só queriam dar para você – concluiu a mulher e o homem olhou para o bichinho com certa fascinação.

- Deus me livre! O meu último relacionamento terminou uma merda – exclamou em aversão.

- aí você complica, David. Se ficar correndo só porque um não foi bem, você nunca vai viver um bom – comentou a loura, parando para amarrar o cabelo.

David ficou pensativo por um tempo.

- é. Você tem razão. –

- posso tirar uma foto com ele? Ele é uma gracinha! – disse a recepcionista vendo o médico sorrir e menear em concordância.

- é bom que já sei o que te dar de aniversário – comentou ele, brincalhão como costumava ser.

- ah! Eu acharia tudo! Amo essas coisas. O meu quarto é cheio! – exclamou já puxando o celular e voltando a soltar o cabelo, o bagunçando um pouco para dar volume.

- sério?! Não parece. – comentou, genuinamente surpreso.

- um homem me conquista assim. Com coisas bem clichê – comentou ela rindo antes de se preparar para uma selfie com o gatinho de pelúcia.

- meio pesado, né? – comentou ela, surpresa.

- deve ser a criança que sequestraram e colocaram aí dentro para ele rir desse jeito – provocou ele sorrindo.

- aí, que horror! –

- tá afim de um cinema, mais tarde? –

- só se for filme de terror – Ditou ela trocando a pose da foto, não se sentindo nenhum pouco desconcertada com o convite repentino.

- não acabou de falar do horror do bebê? – ele cruzou os braços, se apoiando na bancada, a vendo voltar a bagunçar os cabelos.

- eu gosto de terror. Apesar de odiar coisas macabras com bebês e animais + David riu com a reposta.

- os adultos que se fodam. É isso? – perguntou, sorrindo de canto.

- exatamente. A maioria merece mais do que as cenas brutas de filmes de terror – argumentou largando o celular sobre o balcão e voltando a amarrar o cabelo.

- e trabalha em um hospital – comentou o moreno vendo a loura sorrir de canto.

- para dizer “bem feito” quando um desses humanos morre – sussurrou ela e o homem caiu em gargalhar.

- hey. Você pode guardar ele para mim? Enquanto eu vou trabalhar. Não posso ir até o vestiário por hora – pediu ele vendo ela sorrir e concordar com a cabeça.

- gatinho risonho vai para debaixo do balcão. Se você esquecer dele, eu levo ele pra casa e você nunca mais vai ver – disse a loura antes de uma garota entrar no hospital, carregando um rapaz pelos ombros, que mancava com a perna erguida – agora vai que eu tenho que trabalhar – disse se aproximando da dupla, que alcançou o balcão

 


Peter respirou fundo, mais uma vez. Ele ainda estava tentando se acalmar desde que Derek saíra pela porta de sua sala. A sua situação era difícil. Ele tinha plena noção desse fato. Bem como sabia que a maioria das pessoas, em seu lugar, estaria enlouquecendo, entrando em desespero, e completamente fora de si. Mas ele sentia que não tinha esse direito. O louro precisava respirar fundo, acalmar o peito, fincar as pernas firmemente no chão e apontar uma direção em que deveriam seguir.

Passando as mãos pelos cabelos, ele voltou a suspirar.

A ansiedade batia forte em seu peito, abaixando a sensação térmica de seu corpo e amolecendo os seus membros. Ao afastar as mãos de sua cabeça, ele as observou com atenção, e se espantou. Peter estava tremendo. As suas mãos tremiam sem controle algum. Como duas varas verdes, diria a sua irmã. O homem respirava fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções que sentia.

- puta que pariu – resmungou, cerrando os punhos e cobrindo os olhos com os punhos ainda cerrados.

Era muita pressão em si. Por um lado, havia Branco, tramando seja lá o que fosse. Eles tinham que descobrir antes do ocorrido. Eles tinham que impedir. Do contrário, eles poderiam perder Alice. O castanho poderia surtar com o surgimento de um novo coelho e voltar para a vida de assassinatos. E ele não podia perder Stiles. Deixar aquela criança voltar a se o que a vida o transformou, seria o mesmo que cuspir na lápide de Alexander. Eles juraram ajudar aquela criança. Do outro lado, havia Stiles na prisão. Peter sentia que o garoto já estava mais maquiavélico do que o comum. E ele sentia que era culpa de Branco. O Jaguadarte foi uma cartada e tanto. Se ele, realmente, pretendia “ativar” Alice mais uma vez, o assassino cuja a identidade era Sebastian Crane foi um bom jeito de começar. O garoto estava emotivo e volátil. Mas Sebastian não podia levar todo o crédito pela explosão de Alice.

Tudo funcionou como uma reação química.

Havia Stiles no ambiente, Branco adicionou Sebastian Crane a mistura, aproveitando o catalizador disponível, para gera Alice.

E é aí que entra o terceiro lado de seu pico de estresse: os agentes em sua divisão. Como Stiles disse em sua conversa, eles foram uma decepção. Mas não era como se Peter esperasse algo mais de agentes tão jovens. Ele não esperava algo mais dos mais velhos, com os quais trabalhara antes de ser afastado. Peter sabia que agentes da lei como ele, seu cunhado e sua irmã eram uma raridade. Mas ele também não esperava trabalhar com agentes tão birrentos quanto crianças. Aquela divisão era um sonho para si. Um projeto não apenas para reduzir o índice de criminalidade do país , como também ajudar a inserir ex-detentos de volta a sociedade. Mas estava sendo arruinado aos poucos. Ele sabia que não seria fácil. É claro que não seria fácil. Mas ele também não esperava essa situação. Três dos seus quatro agentes eram completamente dominados pelo complexo de policial.

Ele se virou e encarou a sua sala.

Mais um suspiro escapou de seus lábios.

Depois de tantos anos, ele finalmente tinha a chance de realizar aquele projeto. Mas o mundo conspirava contra si. Mais uma vez. O homem viu, pela janela da porta, Isaac passar pelo corredor a passos apressados. O Lahey parou bem diante de sua porta, se virou para o caminho que havia percorrido e ergueu o dedo do meio para alguém. Peter riu, baixinho.

- ah, Erica não foi uma boa companhia para se colocar perto desse cara – murmurou o homem, negando com a cabeça.

Logo em seguida, Allison passou com velocidade, seguindo Isaac.

- pelo menos alguém é como a gente, Alex – murmurou o louro abaixando o olhar para o relógio em seu pulso. Já estava quase na hora e nada de Alan chegar.

Eles precisavam traçar uma estratégia o quanto antes. Se Maybelle era o alvo de Branco, então eles precisavam transformar aquela prisão de segurança mínima, em uma cadeia de segurança máxima em um espaço de tempo milagroso.

Horas. 

Eles tinham apenas horas até que o ataque ocorresse. E se Branco realmente era um maravilhano como argumentava ser, então que Deus os protegessem quando a hora chegasse. O seu peito estava a mil. Vidas estavam em jogo ali. Ele sabia que pessoas morreriam. Seriam detentos e trabalhadores honestos. Ele próprio poderia ser uma das vítimas, bem como qualquer um dos agentes que estavam sob o seu comando ali. Peter sentia que não aguentaria aquela pressão toda sozinho. Mas ele sabia que teria que fazer. Não queria preocupar a sua irmã. Não queria envolver Talia nisso, muito menos Malia. E ele não possuía mais um parceiro como Alexander para que ambos pudessem se apoiar como faziam no passado.

- Deus! Me ajuda, por favor! – exclamou em sussurros, desesperado.

- não pensei que fosse religioso – Peter se assustou quando a porta se abriu e Alan adentrou o ambiente pela mesma, já tecendo o seu comentário.

Peter se recuperou do susto e cruzou os braços.

- não tenho uma crença específica. Mas, no momento, estou rezando para qualquer divindade que esteja disposta a nos ajudar – Alan franziu o cenho com a réplica do louro.

- estás tão desesperado a este ponto? Acha mesmo que ele realmente tem alguma relação com a criança, e não apenas im fanático bem informado? –

- fanático de onde, Alan? De onde surgiria um fanático de um criminoso que o país inteiro recebeu transmissões de telejornais informando sobre a morte? De onde?! – 

O Deaton deu de ombros, se dirigindo para uma das poltronas do escritório bem organizado. Típico do Tate. Ele se sentou diante da mesa, observando os itens devidamente alocados. Peter continuava com a sua organização excessiva no local de trabalho, como de praxe. Peter se sentou na frente do homem de chapéu coco que usava e o apoiar no joelho, enquanto  cruzava as pernas, elegantemente.

- ora! Peter! Francamente! Somos bons agentes! Você sabe que existe corrupção em toda a sociedade. As raízes desse mal se alastram sem controle algum. E muita gente foi afetada por Alice. Muita gente que sabe sua verdadeira identidade e o seu verdadeiro fim. Qualquer uma dessas pessoas pode ter trocado de lado – argumentou o homem, começando a balançar o pé erguido para frente e para trás.

Peter encarou o seu superior em silêncio, suspirando.

- é. Você tem razão. Do mesmo jeito que montamos essa força tarefa para bater de frente com esse novo Coelho Branco, fizemos há anos atrás para capturar Alice –

- a diferença é que anos atrás estávamos muito melhor acompanhados. Tínhamos Alexander e você na linha. Tínhamos a minha irmã. Tínhamos oficiais bons e tão inteligentes e de intuições magníficas. – 

Peter meneou, em uma concordância silenciosa com o velho amigo.

- se compararmos com os que tem aí fora. Hoje, estamos trabalhando com crianças - 

Os dois riram, fraco. Peter largou o riso e tomou um olhar vazio.

- nossas chances de sucesso são mínimas, Alan. Mínimas. – ele estava desesperado. Sentia que poderia desistir a qualquer momento. Ele queria. Mas sabia que não conseguiria.

- calma, Peter. Assim como Alice cresceu, nós também crescemos. Não somos mais tão inocentes – 

- hunf! Acredita mesmo nisso? –

- Peter, tanto eu quanto você não paramos de investigar aquela criança. Podemos estar cercado de jovens inexperientes e com ego inflado. Mas se eles conseguirem, ao menos, seguir nossas ordens, podemos fazer acontecer –

Peter riu.

- o problema é justamente esse, Alan. O ego inflado não dos deixa seguir ordens corretamente. O ego inflado os faz crer que conseguem resolver o problema sozinho. E nós dois sabemos que essa era a maior característica de Alice: passar a imagem de um problema pequeno. E pela que odmeos ver, esse Branco também tem. A casa era para ser só uma cena de crime com armadilhas, mas as armadilhas eram demasiada complexas e a casa simplesmente pegou fogo, do nada! –

- então vamos deixar isso bem claros para ele, Peter. Porque o agente que ignorar os avisos de seus superiores experientes, se tratando do maior serial killer do país, não estão aptos a continuar coma carreira de agente. Ganhando ou perdendo essa operação, servirá como seleção natural. Apenas aqueles que sabem quando seguir ordens e quando quebrar elas saíram dessa vivos – 

- Alan! Não são peças de xadrez! São vidas! – repreendeu o Tate.

- Peter, são agentes federais. Eu não estou os sacrificando. Eu estou designando eles para uma operação que, caso não levem a sério as nossas recomendações, eles irão morrer. Do mesmo modo que morreriam em um assalto ou apreensão comum caso não levassem o trabalho a sério –

O louro o encarou por um tempo, em silêncio, estreitando o olhar em sua direção.

- não me julgue. Você penda exatamente como eu, Tate; - acusou o Deaton observando o louro começar a sorrir de canto.

- é estranho, não é? Nunca fomos muito próximos. Mas sempre tivemos tanto em comum – comentou o louro, unindo as mãos sobre a mesa. Alan uniu as mãos no colo, meneando em concordância.

- apesar de sermos parecidos, temos gênios incompatíveis – argumentou o Deaton e Peter sorriu fraco, concordando.

- a vida é estranha –

O silêncio dominou o ambiente por quase dois minutos, antes de Peter voltar a quebrar o mesmo ao suspirar, pesado.

- precisamos decidir o que vamos fazer, Alan. O alvo dele é Maybelle. Não podemos deixar que ele chegue até Stiles –

Alan franziu o cenho.

- você tem certeza absoluta de que o alvo dele será Maybelle? Certeza absoluta, Peter? – questionou o Deaton e Peter suspirou.

- a parede de fotos era um anagrama, Alan. E o Anagrama era a porra do nome Maybelle. É impossível ser coincidência! – exclamou o louro, aterrorizado com a ideia de perder o castanho para o crime.

Alan ponderou por um tempo.

- é. É impossível um anagrama feito por um maravilhano gerar tal coincidência ao ser errado por quem o interpretava -

- o que faremos, Alan? – inquiriu Peter observando o seu superior suspirar – mover Alice nesse espaço de tempo seria perigoso. Não sabemos o horário exato do ataque de Branco. Ele pode, justamente, esperar que vamos devolver Stiles para Alcatraz e atacar o comboio que o transfira. E proteger um comboio seria muito mais perigoso e difícil -

- algo que nem mesmo um maravilhando esperaria que façamos – respondeu o homem erguendo o seu chapéu coco, o apoiando na mesa do Tate, que lhe encarou, confuso e curioso.

- e o que seria? –

- prender todo e qualquer agentes federal que queira impedir Branco de conseguir chegar até Alice – respondeu vendo a incredulidade.

Alan ergueu uma sobrancelha, cobrindo a sua careca brilhosa com o chapéu, e só então Peter largou a incredulidade, passando a menear em compreensão e sorrir minimamente.

- pode funcionar –

- É O QUÊ?! – gritou Um agente de cabelos castanhos.

Todos os agentes estavam reunidos na sala

- é isso mesmo. Não faremos nada para impedir a invasão a Maybelle – ditou Peter observando a indignação plantada nos olhares alheios.

- mas no que porra você está pensando, Peter?! – inquiriu Rafael.

- você enlouqueceu?! – indagou Chris.

- mas que caralho de ideia foi essa?! – questionou Scott.

Logo uma onda de questionamentos indignados e comentários revoltados surgiu.

- calma. Eu tenho certeza de que o meu tio tem uma ideia por trás disso tudo. Vamos ouvir! – pediu Derek, tentando conter os agentes ao seu redor.

- não é só porque é o seu tio que você tem que deixar os criminosos fazerem o que quiserem, cara! Temos que agir! – exclamou um dos homens, revoltado.

- eu confesso que estou surpresa. Mas estou curiosa para saber no que, exatamente, você está pensando – comentou Allison, interessada.

- a ideia não foi minha – disse Peter chamando a atenção.

- foi minha – disse Alan e todos os agentes indignados se silenciaram.

- interessante. Eu estava disposto a ouvir suas reclamações. Por que pararam? – inquiriu o homem de chapéu e sobretudo preto, observando os agentes lhe encararem com certo desconforto.

- que merda é essa, Alan? Não podemos deixar esse maluco pegar o outro maluco! Um só já deu trabalho demais. E era só uma criança! – exclamou Rafael, ainda indignado.

- como sempre, Rafael. Abrindo a boca antes de pensar – comentou Alan, vendo o moreno lhe fitar incomodado.

- ais alguém pretender questionar antes de pensar? – inquiriu o Deaton observando os agentes lhe encararem, receosos.

- é disso que estou falando, Alan. Só vai dar certo se usarmos gente que use a cabeça – ditou Peter observando os agentes lhe fitarem, indignados diante da clara ofensa.

Os olhares controversos em caretas de julgamento dominaram o ambiente, sendo direcionadas para o louro quarentão que não parecia se importar com nenhuma delas. Alan sorriu de canto, analisando cada agente ali presente. Peter estava certo. Ele sabia disso. Em meio a tantos agentes, apenas alguns seriam capazes de atender as suas expectativas. E era justamente por isso que ele estava ali, sorrindo vitorioso ao seu modo.

- e é por isso, Peter, que eu vou escolher alguns deles para liderar os grupos que iremos separar – ditou o agente na liderança da investigação, deixando os agentes ansiosos.

Ser escolhido naquela seleção de Alan os destacaria dentre os demais. Tanto na visão de Alan, quanto dos outros agentes mais velhos. A ansiedade dominou a pequena multidão de agentes em questão de segundos. Erica, Isaac e Vernon os encarava com tédio.

- podemos só debater o que vamos fazer? Que esses caras são uns merdas nós já sabemos, Alan! – exclamou Erica, irritada 

- precisamos focar no que vamos fazer – alertou Vernon e Isaac sinalizou um relógio no pulso.

- o tempo está passando, coroa – 

- eu sei. Vou explicar o plano a medida em que escolho os líderes dos grupos. Entretanto, todos esses líderes irão se submeter a mim e a Peter – ditou o negro surpreendendo o louro – no momento, somos os mais experientes e preparados para lidar com essa situação. Então a ordem geral é a de que sigam os nossos comandos de forma exemplar –

Rafael crispou os lábios e Chris apenas suspirou.

- quatro grupos estarão responsáveis pelas alas comunitárias. Grupos de oito pessoas – 

- só isso?! – indagou Chris, indignado. Alan o ignorou.

- estes grupos se unirão aos guardas da prisão de Maybelle, bem como os agentes disfarçados que já se encontram na prisão. Vocês serão responsáveis por rondar toda a área das celas comunitárias. Nenhum corredor, jamais, deve estar sem supervisão. – o homem explicava enquanto apontava para o mapa da prisão atrás de si.

- os líderes dos quatro grupos serão: Chris Argent, Allison Argent e Scott McCall e Erica Reyes – a nomeação da ladra sobrevivente surpreendeu até mesmo ela.

- como é? – inquiriu Scott, indignado.

- os corredores de Maybelle parecem largos, a primeira vista, mas se você pensar em uma luta corpo a corpo, aquele ambiente é bem estreito. E Erica possuí um histórico interessante. Há vários relatos de lutas duas em Alcatraz – explicou Alan vendo a loura lhe fitar, ainda surpresa, antes de franzir o cenho em sua direção.

- imagino que você não teria problemas em enfrentar alguém ali, estou certo? Uma vez que, em relatórios de sua prisão, haviam relatos de o quanto você era boa em lutar em um ambiente fechado –

- é. Eu não teria problemas com isso –

- ótimo. Então será uma dos quatro

- eu não quero – a loura cortou o homem, o surpreendendo. A mulher cruzou os braços diante do peito, mal-humorada.

- por que não? – inquiriu uma dos agentes, curiosa, tentando manter a inveja e indignação escondidas em si.

- eu compreendo Erica e, na verdade, concordo com ela – disse Allison, chamando a atenção para si, que encarava a mulejr de cachos louros com compreensão.

- e do que se trata? – indagou Chris, tentando puxar assunto com a filha. Allison estava relutante e irredutível depois da descoberta de sua traição. A morena suspirou, revirando os olhos, e decidiu se focar em Alan.

- Erica é uma prisioneira de Alcatraz que se encontra ajudando o FBI em casos com o intuito de ajudar a abaixar a taxa de criminalidade, por meio de um trato. Quais desses agentes estariam dispostos a seguir as ordens dela? - - explicou Allison apontando para os agentes ao seu redor.

Nenhum deles se manifestou, pois ela estava certa.

- sem contar que eu não acho que Erica tenha a aptidão necessária para liderar uma abordagem desse calibre – ditou Derek, vendo a loura lhe encarar com seriedade. Ele logo tratou de corrigir a imagem que ela tinha de seu comentário - Com todo o respeito. Eu sei das habilidades de Erica mais do que qualquer um aqui. E é por isso que eu digo que ela não serve para liderar. Erica é boa em trabalhar sozinha,  e melhor ainda sob uma boa orientação, como a do Peter. Mas liderando .. não –

A Reyes suspirou.

- pelo visto, em uma coisa eu tenho que concordar com esse cabeça de vento – comentou a loura de cachos ignorando a imagem do Hale – e é isso, Alan  Colocar alguém habilidoso num meio de pessoas sem talento ou profissionalismo não vai fazer elas serem melhor – ditou a Reyes, crispando os lábios. Os agentes já estavam prontos para protestar quanto as suas palavras quando Isaac ergueu as mãos, dando de ombros.

- colocar um diamante em um monte de bosta não vai fazer ela ser admirada. É apenas desperdiçar uma joia incrível – o louro sorriu de canto, vendo Boyd rir baixo, enquanto Erica gargalhava alto.

- é isso aí, gatinho! –

Os agentes estavam irritados.

Alan riu.

- é uma analogia interessante, Isaac. Certo, então Leona Granger irá substituir Erica na liderança do quarto grupo na zona azul, a área das celas comunitárias. Agora vamos falar da zona vermelha –

- que seria? –

- a área das solitárias – respondeu Vernon vendo o Deaton  concordar com a cabeça.

- exato. E é aqui que a verdadeira ação vai acontecer. Caso, milagrosamente, Branco consiga passar pela zona azul. A zona vermelha será uma área impossível para ele. As duas áreas de entrada para o corredor estarão cercadas com dois grupos de vigilância. Esses grupos de dez agentes serão liderados por Derek Hale e Peter Tate. Não haverá como ele alcançar a cela do detento 44.626 sem um confronto com, pelo menos, um dos grupos – 

- é uma estratégia interessante, mas onde entra a parte de não fazer nada? – inquiriu Lydia, confusa.

Alan e Peter sorriram.

- Alice está sendo mantido sozinho nesse corredor de solitárias. Todas as celas ao seu lado estão vazias. Mas não por muito tempo, eu consegui a ajuda do exército americano com um contato. Teremos um pequeno esquadrão ao nosso dispor. Iremos colocar eles nessas celas.  O confronto dos grupos de Derek e Peter serão encenados. Qualquer um dos dois que entrar em contato com Branco, deve recuar para as laterais, nesses dois corredores, abrindo caminho para ele alcançar Alice. Assim que Branco avançar e entrar no corredor das solitárias, as celas irão se abrir e ele estará cercado tanto pelo exercito, quanto por dezenas de agentes nas saídas – explicou Peter apontando para os pontos necessários do mapa, surpreendendo os agentes.

- é brilhante! – exclamou Rafael, sorrindo de canto.

- cada uma das celas será liderada por um agente: Rafael McCall, Ivan Claude, Kassidy Gyand, e Vernon Boyd – ditou o Deaton vendo os olhos caírem sobre o detento, que se manteve com a mesma expressão séria.

- esse cara?! – outro agente soou indignado – esse cara vai liderar um grupo de militares?! –

- bom, se ele conseguiu liderar uma facção que ganhou muita visibilidade e ainda nos deu um enorme para prender, ele consegue lidar com um grupo pequeno de militares com facilidade, diria eu – respondeu Deaton chamando a atenção para si, observando o sorriso de canto que surgiu no rosto do Boyd.

- como responsável pela prisão de Boyd, eu digo com total convicção de que ele é capaz disso – ditou Allison meneando em confirmação para Alan e Peter, que menearam de volta.

- nós sabemos, Allison. Foi por isso que designamos ele para isso. Não precisamos provar nada para eles aqui. Eles verão com vocês no campo- falou o Tate vendo a mulher sorrir, orgulhosa.

- Isaac Lahey, Matthew Daehler e Lydia Martin ficaram aqui, na base, continuando a investigar tudo o que conseguimos da casa. Qualquer nova informação, eles irão nos manter informados. Mais alguma dúvida? -

Os agentes negaram com a cabeça, frustrados.

- ótimo. Agora vamos nos preparar. –

- eu tenho uma – disse Erica, chamando a atenção para si.

- pois não? –

- tudo bem que eu sou boa de briga e tudo mais. Mas eu não posso enfrentar um cara armado estando desarmada. E Vernon tem uma mira excelente. Ele não vai conseguir ser tão útil nessa operação sem armas – comentou a loura, tentando passar o seu ponto para o homem, sem realmente usar uma pergunta.

- Não! – repreendeu Chris, encarando a loura com seriedade.

- vocês receberão o armamento necessário, Erica – Allison soou tranquila sobre o assunto.

Na verdade, a divisão inteira estava. Peter estava tranquilo desde o momento em que os tirou da cela, com exceção de Ennis e Kate, que assim como Scott, Derek, Lydia e Allison, não foram uma escolha sua. Allison estava tranquila pois, assim como Peter, via o quão mais efetivos eles podiam ser em campo quando devidamente armados. Já Derek estava tranquilo, pois, assim como Scott, presenciara em primeira mão o quão necessários os dois eram em campo quando eles batiam de frente com algum criminoso.

- eu disse não, Allison! – repreendeu Chris, nervoso. A mulher respirou fundo, não conseguindo esconder a raiva em seus olhos.

- e eu disse sim! Você não está nessa divisão, eu estou. Você não é o meu pai, aqui. Você é um agente que está a disposição da divisão da qual faço parte. Então, se eu digo sim, você não tem voz para dizer o contrário! – ralhou a morena, surpreendendo o pai, que nunca antes havia presenciado uma onda súbita de rebeldia por parte da filha.

- senhor, Erica já salvou a vida do Scott antes, usando apenas uma faca e uma pistola contra vários homens armados. Ela será de grande ajuda se estiver armada – argumentou Derek para Alan, não sabendo que o homem já iria liberar o armamento para os dois detentos.

- Erica Reyes e Vernon Boyd estão liberados para o uso de armas nessa operação – ditou o Deaton vendo o grupo de detentos lhe fitar, surpreso – eu confio na decisão de Peter.

- olha! Esse daí se salva, hein? – comentou Isaac sorrindo curioso.

Horas depois, todos já estavam em suas posições devidas, todos muito bem armados e preparados. Cada líder de grupo designado por Alan, selecionou os agentes que formariam o seu grupo a dedo. A divisão de Peter se viu perplexa quando Derek Hale escolheu Erica Reyes como o primeiro membro do seu grupo.

“Seremos parte da linha de frente e estaremos em um ambiente mais apertado do que os corredores da ala comum. Erica será perfeita nesse ambiente”

Fora o que ele alegou quando chamou pela loura, voltando a os surpreender, que esperavam que ele a tivesse escolhido apenas por ser o responsável por ela na divisão. Cada um dos agentes estava com um ponto em seus ouvidos, onde se comunicavam entre si, para que pudessem se manter coordenados mesmo em meio a toda a ação. Enquanto isso, Matt dedilhava em seu computador, enquanto Lydia se maquiava com o pequeno estojo de maquiagem que se encontrava em sua bolsa.

- você não cansa disso, não é? – indagou Matthew vendo a ruiva desviar o olhar  para si, brevemente.

- você não cansa desse jogo, não? – inquiriu a Martin vendo o castanho dar de ombros – sabe, ele não vai fazer a sua vida mudar, Matt. Você vai continuar o nerd entediante – comentou, venenosa, como resposta a crítica alheia.

Isaac franziu o cenho, incomodado. Ele se encontrava ao lado dos dois analistas, no canto da mesa. Com Lydia de costas para si e Matthew de perfil, concentrado demais em digitar no computador.

- e essa tinta não vai mudar a sua cara, Martin. Vai manter a mesma mulher vazia, ainda vazia. Sabe? Uma falsificação jamais vai ser uma obra prima – rebateu o castanho parando de digitar para encarar a mulher, que parou o que fazia para lhe fitar com indignação no olhar.

- vagabundo! – protestou erguendo o dedo do meio para o homem e os dois caíram em risada.

- vocês dois se conhecem, não é? – indagou Isaac, entediado, encarando as fotos da casa a sua frente. 

- nós fizemos a academia juntos. Éramos quatro pessoas tentando os cargos de analistas, em uma turma de cinquenta pessoas tentando ser agentes de campo – explicou Matt vendo o louro erguer a sobrancelha e menear em compreensão.

- saquei –

- éramos quatro nerds cercados por bombados – comentou Lydia sorrindo e Matt fechou uma careta.

- ninguém merece! –

- era um inferno! – ditou Lydia voltando a sorrir.

Isaac se focou na ruiva, a vendo manusear as mãos, com certa emoção ao voltar a conversar com Matt sobre o passado 

- você não deveria estar investigando a casa? – inquiriu Isaac, completamente desinteressado sobre o passado de Lydia Martin.

A mulher o encarou, surpresa, enquanto o Daehler torcia os lábios em uma careta.

- eu penso melhor quando estou focada em outro assunto – respondeu ela, de forma grossa. Estava irritada diante da repreensão do detento.

- se você acha isso... –

- ah, agora você quer dizer como eu penso ou devo pensar?! – comento ua ruiva, irritada, largando o espelho compacto de forma redonda com base redonda sobre a mesa, o fazendo girar algumas vezes.

- como Matt disse, uma mulher vazia – rebateu o louro se focando no modo engraçado como o espelho rodava na mesa.

- eu mereço! – reclamou a mulher antes de iniciar um monólogo sobre como ela não era e nem nunca seria uma mulher vazia.

Enquanto Lydia realizava o seu monólogo que era completamente ignorado por si, Isaac Lahey encarava o espelho com curiosidade e diversão. Se questionava se ele iria parar de rodar antes que a ruiva se calasse. O louro tinha quase certeza de que sim. E quando, finalmente, o espelho parou, Isaac o encarou com mais curiosidade ainda. O objeto refletia o quadro em que os agentes haviam escrito alguns detalhes da investigação, como eles sempre faziam em seus casos. Mas a parte que era refletida pelo espelho era a data em que o ataque do Coelho Branco seria realizado.

9/II

O sangue de Isaac gelou.

Algo sussurrava no fundo de sua mente. Não. Não era um sussurro. Era um grito. Um grito que ecoava por sua mente por tanto tempo e de tão distante, que quando lhe alcançava de fato, era quase como um sussurro. Mas ele não conseguia entender o que a voz gritava. E quando Lydia se preparou para pegar o espelho, o louro saltou sobre a mesa, assustando os dois agentes. Era como se, caso Lydia pegasse o espelho, a voz iria se afastar e ele perderia seja lá o que ela quisesse lhe dizer. Matthew e Lydia se ergueram de prontidão, se afastando do louro.

- mas que porra foi essa, cara?! – questionou Matt, assustado e indignado, vendo Isaac pegar o espelho e voltar a o colocar de modo que refletisse a data.

- acho que eu vi algo – disse o louro, ignorando o receio de ambos os analistas.

- é, Isaac. É um espelho! – reclamou Lydia, como se fosse o óbvio.

- cala a boca! Apenas cala a boca e me deixa pensar! – exclamou o Lahey, irritado.

E então a voz pareceu se aproximar mais, após as palavras de Lydia.

“Espelho!”

Era o que ela dizia.

- podemos nos focar no caso Alice, por favor? –

“Alice!”

E então a voz não parou de falar.

“Espelho! Alice! Mensagem! Jaguadarte!”

E logo o louro se lembrou do casa do Jaguadarte, onde Sebastian Crane deixou uma mensagem para Stiles nas portas do armário de sua primeira vítima no caso. Quando os espelhos eram colocados um de frente para o outro, a mensagem conseguia ser lida com clareza. E então Vernon revelou a origem da mensagem.

- puta merda! – exclamou o louro, largando o espelho sobre a mesa e se virando para o quadro atrás de si.

- o quê? O que foi? – inquiriu Matthew, curioso com o pavpr que tomou o rosto alheio.

- a gente errou. Errou feio! – exclamou aterrorizado.

- o quê? Onde? O que te fez pensar isso? – inquiriu Lydia, confusa.

- o espelho! – respondeu, ainda encarando o quadro, trêmulo .

- eu vou ligar para o Alan – disse Matt, já digitando o comando em seu computador e puxando o seu Headset.

- Isaac, explica isso – disse Lydia vendo o loura marchar até o quadro e encarar a data.

9/11.

- o Alan já está ouvindo. Deaton, o Isaac Lahey acha que erramos feio em uma coisa – disse o castanho apertando um botão no computador e a voz de Alan passou a ser reproduzida pelas caixas de som.

- desenvolva, Isaac. E rápido, de preferência – disse Alan e logo Lydia se dirigiu para o seu computador, passando a ligar para todos os membros da divisão.

- a dica do que Branco vai fazer era a própria data do evento – explicou o louro apontando para os números.

- como assim? – inquiriu Alan, confuso.

- através do espelho de Lydia, eu entendi a mensagem. A data não foi escolhida por acaso. É uma referência dupla –

- uma referência dupla? –

- sim. Branco é completamente pirado no Alice. Até o seu nome está relacionado ao universo. Então é natural que ele tenha e use algumas ironias e referencias. E essa data é uma referência a Alice Através do Espelho – ditou o louro apagando a data.

- Isaac – repreendeu Alan, preocupado.

- nove de novembro. Em número e de trás para a frente fica: 11/9 – explicou escrevendo a nova data e os agentes congelaram, apavorados.

- Onze de Setembro – ditou Alan, desapontado.

- é o Derek – a voz de Derek fora emitida nas caixas de som.

- nós erramos feio! – exclamou Isaac, ainda aterrorizado.

- o alvo não é Maybelle – concluiu Alan fazendo todos gelarem ao ter a confirmação com a verdade sendo proferida.

- o quê?! Como não?! – inquiriu Scott, perplexo 

- o anagrama dizia Maybelle – argumentou Allison, preocupada.

- o anagrama era um pista falsa – concluiu Peter, a derrota era clara em sua voz.

- a data de hoje era verdadeira dica. Se colocar no espelho, Nove de Novembro fica Onze de Setembro. Branco não vai atacar Maybelle. Ele

- ele vai fazer um atentado terrorista – concluiu Alan Deaton e Derek sentiu as pernas fraquejarem.

Ele só conseguia pensar na esposa e na filha. Pensava na mãe e nas irmãs, no sobrinho e nos amigos. Allison pensou na mãe e nos melhores amigos do tempo de escola, com os quais ainda mantinha contato constante. Scort pensou na mãe e nos amigos. Peter pensou em Talia, na filha, nas sobrinhas, na família em geral e na ex-mulher. 

- onde? Onde vai ser, Isaac? – inquiriu Derek, aterrorizado.

- eu não sei! –

- Isaac! – Scott protestou, no desespero 

- EU NÃO SEI! – o louro gritou, furioso.

- deve ter alguma outra pista sobre isso –

- nós não vamos conseguir em tempo – ditou Peter, derrotado, socando a parede ao seu lado.

- não! Peter, ainda temos tempo. Ainda podemos... – Allison fora cortada pela voz de Alan.

- nós perdemos – concluiu o Deaton, suspirando, derrotado.

Nas mentes de Peter, Chris e Rafael, os últimos que ouviram a conversa dos agentes pelos pontos que usavam para se comunicar, a risada perturbadora de Branco ecoou mais uma vez.
.

 

Kaytlin Overmoond se alongou ao lado do caminhão. Haviam acabado de chegar de um atendimento. Estava exausta. Tinha que tirar o carvão do rosto e a graxa do tecido do macacão. Mas essa era apenas o ponto negativo da profissão que escolheu exercer com tanto afinco. A mulher encarou Cody descer do caminhão e retirar a parte de cima do uniforme sem a menor preocupação. Ela sentiu um pouco as maçãs do rosto esquentarem. Já não era de hoje que ela sabia que estava se apaixonando pelo colega de trabalho, o que, particularmente, lhe incomodava. Ela não queria se envolver com ninguém do trabalho além da amizade. Mas, infelizmente, Cody Leomord tinha que estragar os seus planos.

O louro desviou o olhar em sua direção, sorrindo gentil. Ele piscou os olhos e sorriu de volta, se aproximando e socando o peito desnudo do bombeiro. Os outros bombeiros que desceram do caminhão não pareceram perceber o modo como os dois colegas de trabalho se comportavam perto um do outro. Eles acabaram de apagar um incêndio em uma igreja vazia. O prédio fora incendiado por intolerantes que se irritaram com um projeto beneficente organizado pela igreja. Com sorte, eles conseguiram conter o fogo e não houveram baixas.

- bom trabalho – elogiou a morena soltando os cabelos e  passando direto pelo colega.

- obrigado, capitã – ele agradeceu mordendo o lábio inferior assim que ela passou por si 

- capitã Overmoond – chamou um dos colegas de equipe, surgindo na porta que levava para o interior do predio

- fala, Charlie – ditou a mulher seguindo para a porta que levava para o caminho mais curto para o vestiário.

- chegou uma encomenda para você – a mulher parou e se virou para o colega.

- uma encomenda? –

- é. Um presente –

- presente, é? – perguntou Cody, curioso.

Ele entrou no prédio e logo trouxe a caixa enrolada em papel de presente. A mulher franziu o cenho, confusa. Cody assoviou, surpreso com o tamanho do embrulho.

- isso é para mim? – inquiriu a mulher, surpresa.

- exatamente. Chegou pelo correios há pouco tempo. Está endereçado a você – respondeu Charlie e a mulher entregou o embrulho para Cody, pegando o cartão que havia no topo, ao lado do laço.

A mulher gargalhou.

- eu lá tenho idade para ter admirador secreto. Quem mandou isso?! Um adolescente?! – exclamou constrangida, erguendo o cartão.

- o que diz aí? – inquiriu Cody, tentando disfarçar o ciúmes após ouvir que o presente era de um admirador secreto. A mulher, ainda envergonhada, suspirou e puxou o ar para os pulmões, encarando o cartão com atenção.

- O seu sorriso nubla a minha mente e me faz explodir em emoção – ela leu com emoção, antes de fazer uma careta – esse cara, claramente, não me conhece. Odeio essas coisas melosas – comentou amassando o cartão e o jogando na lixeira que havia no canto do ambiente.

- parece um velho – comentou Cody, sorrindo.

Kaytlin forcou outra careta.

- e o que é o presente? – indagou uma dos membros do coro de bombeiros, que havia chegado no mesmo caminhão que Kaytlin e Cody. A capitã suspirou, entediada.

- muito provavelmente algo que eu vou odiar – respondeu abrindo o presente, retirando um gato de pelos pretos e rosto inocente, com um rabo em um S perfeito.

- que fofo! – exclamou a bombeira, enquanto Kaytlin analisava o objeto com atenção.

- não sei dizer se gostei ou não – comentou erguendo o gato, o achando estranhamente pesado. Charlie se aproximou e apertou a patinha dianteira do felino bonitinho, o ouvindo gargalhar como uma criança.

- Deus! Eu odiei! Se essa porra toca de madrugada em minha casa, eu mesma começo um incêndio lá! – exclamou a capitã Overmoond e os colegas gargalharam.

- ah, eu achei adorável! – exclamou a bombeira, se aproximando e acolhendo o gato nos braços.

- minha namorada iria amar isso. De que loja é? – indagou outro bombeiro se aproximando. A bombeira analisou o bichinho, estranhando.

- não tem o nome da loja. Apenas o símbolo de um coelho, e informando que ele não afeta pessoas alérgicas a pelo – respondeu vendo o amigo franzir o cenho.

- sério?! Que estranho! Geralmente vem mais informações nas etiquetas – comentou, curioso.

- enfim. Por mim, isso vai para o lixo – disse Kaytlin se dirigindo para o vestiário.

- ah, não! Vamos deixar ele aqui! Vai servir de mascote para a base – disse a bombeira, antes de abraçar o bichinho apertado e o beijar, enquanto outro bombeiro apertava a patinha felpuda mais uma vez, o fazendo gargalhar.

 

Branco se esticou em sua cadeira, alongando os braços e gemendo de preguiça.

- está na hora de começar – disse chamando a atenção de Ethan e Aiden, que se encontravam deitados nos sofás logo atrás de si, se erguerem de súbito.

- já está na hora?! – inquiriu Ethan, surpreso e ansioso.

- já – respondeu começando a digitar em seu computador.

Enquanto isso, em uma prisão bem longe dali. Um homem conhecido pelo FBI como Sagitário envolvia as grades de sua cela com uma corrente de um relógio de pulso, o mantendo sobre a fechadura da cela. Ao mesmo tempo, Rainha e seus subordinados se encontravam prontos para invadir um presídio de segurança mínima.

- estão prontos? – questionou Branco, animado.

O homem na cela se afastou das grades. Rainha verificou o seu fuzil uma última vez, enquanto, ao seu lado, dois homens mascarada preparavam um lança-foguetes.

- sim! Sim! Sim! – exclamou Aiden em resposta.

Eles esperavam por aquele momento há muito tempo. E quando Branco anunciou que o momento estava próximo, a sua ansiedade apenas aumentou. Agora, que a hora havia chegado, a ansiedade deles estava a mil.

- então vamos fazer acontecer – ditou começando a digitar em seu computador.

Os sons que as teclas emitiam quando os seus dedos as pressionavam, algumas vezes, se associavam ao som do ponteiro do relógio saltando, marcando os segundos. Os gêmeos sorriam, divertido, já ligando todas as televisões que eles tinham no ambiente, colocando em todos os jornais possíveis. Enquanto isso, Rainha chutava a porta do camburão e o homem com o lança misseis saltou, mirando na grade do presídio. Logo atrás dele, mais dois homens saltaram e usaram outros lança-foguetes, abrindo caminho nas barreiras que restavam. Quando Branco terminou de digitar o comando, os gatos de pelúcia que riam, espalhados em vários locais começaram a rir, chamando a atenção de seus destinatários e quem mais estivesse por perto. Ele riam e gargalhavam sem parar, gerando estranheza nas pessoas que os ouviam.

- isso é normal? – questionou o delegado Ryan, confuso.

- ele começou a rir sozinho, sem parar – comentou Tiffany, a recepcionista do hospital, surpresa.

- cala a boca dessa porcaria! – exclamou Kaytlin, irritada com o brinquedo.

O relógio amarrada na fechadura da cela atingiu o número doze, sendo este apontado pelos três ponteiros e o objeto explodiu, abrindo a cela, surpreendendo o homem de cabelos grisalhos, que encarou a porta de abrir sozinha, com um sorriso nos lábios. O homem começou a gargalhar, histericamente, embriagado, subitamente, pela estranha sensação de liberdade. Uma sensação quase afrodisíaca.

- que barulho foi esse? – inquiriu um guarda, já desesperado, se aproximando e o homem grisalho se silenciou.

- puta merda – reclamou o detento, desarmado, já imaginando o trabalho que teria para fugir daquela prisão sozinho.

A explosão do brinquedo consumiu a sala de Ryan e boa parte da delegacia, fazendo oficiais e civis voarem para paredes e janelas, sendo arremessados para fora. As chamas engoliram todos os que se encontravam próximo a sala, os matando instantaneamente. Algumas das pessoas que foram jogadas para longe, morreram com o impacto de seus corpos nos sólidos após serem arremessadas. Os vidros da porta do delegado Ryan e alguns objetos próximos a sala voaram, alcançando a doce senhora Nyelman, perfurando o seu corpo e atingindo vasos sanguíneos importantes, o que geraria a sua morte mesmo que ela tivesse sobrevivido ao impacto de sua caixa torácica no balcão a sua frente, o que quebrou as suas costelas que acabaram perfurando os órgãos internos. Um dos oficiais fora arremessado para cima, batendo com a nuca no teto, quebrando o pescoço e tendo o corpo rotacionado no ar. O impacto do corpo do oficial que atingiu o teto no da mulher grávida que prestava queixa do marido bêbado agressor gerou a morte instantânea do feto. Os vidros que atravessaram os olhos e o pescoço do corpo adulto geraram a morte da mãe. A explosão na delegacia assustou os civis do lado de fora da mesma, que foram surpreendidos quando os vidros das janelas quebraram e o som da explosão ecoou pela rua. Carros se bateram ou invadiram as calçadas, quando os motoristas, assustados, perderam completamente o controle dos corpos ao serem movidos pelos instinto do medo. Um dos oficiais fora arremessado para fora da delegacia e atingiu a rua, de onde não conseguiu se mover, sendo atropelado pelo ônibus descontrolado que fazia o seu percurso costumeiro. O pneu traseiro passou por cima de sua cabeça, gerando a sua morte.

O guarda alcançou a cela do grisalho, se vendo perplexo com a grade aberta e algumas barras pretas e entortadas, indicando que houvera uma explosão ali. Logo ele apontou a arma para o detento, que ergueu as mãos, com seriedade no olhar, pensando em um jeito de desarmar o guarda a adua frente e tomar a arma para si. Métodos? Ele tinha vários. Agora, qual escolher? Essa era a questão.

- o que merda você fez?! – questionou o guarda, em choque. – o que porra você fez, vagabundo?! – voltou a perguntar, elevando o tom de voz.

- calma. Eu posso explicar – ditou o grisalho erguendo as mãos, indicando que não tinha a menor intensão de o atacar e que não precisava estar sobal a mira de uma arma.

Logo outro guarda chegou, apontando a arma para a cela e se viu perplexo com o que viu.

- MAS QUE PORRA FOI ESSA?! O QUE VOCÊ FEZ, COROA?! PUTA QUE PARIU, VÃO CO

O homem fora calado quando uma bala atingiu a sua cabeça. O outro guarda, perplexo, se virou na direção do tiro, recebendo uma bala bem no meio da testa. Sagitário encarou a cena, confuso e assustado, antes de uma mulher com roupas de guarda se aproximar, com uma pistola na mão e olhou com seriedade em seus olhos.

- se for seguir o Branco, vem comigo. Se não for, diga logo que eu tomo a devida providência – ditou erguendo a arma  e a apontando para a testa do mais velho.

Sagitário riu.

- com um convite tão humilde, como eu poderia recusar? – inquiriu, sorrindo de canto.

- já vou logo avisando: pegue a arma que quiser. Mas escolha bem em quem você atira. A última vez que tiraram uma peça do tabuleiro do Branco, essa pessoa implorou pela morte – ditou a mulher já dando as costas. O grisalho saiu da cela, recolhendo as duas pistolas dos guardas mortos com velocidade, bem como munição para as armas.

A recepção do hospital virou um caos. Tiffany e outros recepcionistas viraram pó, nem como o delegado Ryan. David, que ainda se afastava, fora jogado contra as escadas, batendo a coluna, fraturando a mesma, e logo após tendo o pescoço quebrado quando a cabeça continuou o percurso. Pacientes e visitantes foram mortos pelas chamas, enquanto as paredes de vidro da entrada do hospital viravam cacos afiados, que foram arremessados no estacionamento como lâminas prontas para perfurar corpos novos e arranhar latarias brilhantes. As chamas não engoliram tantas pessoas quanto na delegacia e a onda de choque também não arremessou tantos corpos. Mas a quantidade de vidros e objetos que voaram nas pessoas que se encontravam a certa distância dos fundos da recepção aberta de bancada circular completa foi grande. Pedaços de concreto acertaram cabeças gerando concussões e cortes, criando uma orda de pessoas desorientadas que tropeçaram e caíram, sendo pisoteadas ou até mesmo morrendo na hora devido as pancadas. As canetas da recepção voaram, e uma atravessou o olho esquerdo de uma criança de dez anos, que ao ser abraçada pela mãe, fez com que o objeto apenas adentrasse mais o seu corpo, atingindo o seu cérebro e gerando sua morte. A lâmina de uma prancheta vou e girou, até acertar o pescoço de uma idosa que se encontrava em cadeira de rodas, sendo empurrada pelo filho mais novo após receber alta por ter se recuperado de um câncer. O ferimento lhe gerou uma morte agonizante por se engasgar em seu próprio sangue. O seu filho recebeu o impacto de pedaços pequenos de mármore em seus olhos, lhe tornando cego de ambos os olhos. A explosão gerou o caos no hospital, fazendo com que pacientes, visitantes e profissionais da saúde se desesperassem e tentassem correr, se amontoando na entrada, gerando mais tumulto. As pessoas se desesperaram ao ver os corpos e as chamas na recepção, forçando os primeiros a parar bruscamente, sendo empurrados pelos que vinham atrás, que por sua vez eram empurrados pelos que estavam ainda mais atrás, sendo forçados a pisotear os que caíram, gerando mais feridos e, até mesmo, mais mortos.

Sagitário disparou contra dois guardas que surgiram em suas costas, os derrubando rapidamente. Ao se virar para continuar seguindo o caminho, ele se viu surpreso ao ver a mulher de cabelos ruivos saltar, se apoiando na parede, desviando de um tiro, e saltar mais uma vez, na direção dos guardas, abaixando a arma em sua mão. Ela disparou uma vez contra o primeiro, acertando a sua testa, e colocando o pé em seu rosto, o usando de apoio. Com a outra arma, ela disparou contra os guardas que se encontravam em seu caminho, os matando com rapidez.

- caramba! Você é boa, mulher! – ele elogiou, surpreso, a vendo recarregar as armas com velocidade.

- sem tempo para conversas, candidato. Você tem que chegar ao lado de fora o mais rápido possível – 

- mas e as torres de vigia? Há guardas nas torres. Guardas bem armados. Ou você se esqueceu? –

- se tudo estiver correndo bem, esses daí já estão mortos – falou a mulher correndo e se abaixando, deslizando de uma mão que surgiu das grades de uma cela, tentando lhe agarrar os cabelos. Ela se esquivou e não se importou. Ela tinha um objetivo em mente, e nada a impediria de atingir aquele objetivo.

Mais um grupo de guardas surgiram no corredor e a mulher lidou com eles com velocidade. O primeiro recebeu uma cabeçada de surpresa e um tiro no queixo que explodiu os seus miolos, ensanguentando o teto do corredor. O segundo recebeu um golpe das costas da mão dela, jogando a cabeça para o lado. Quando se deu conta, o cano da pistola da mulher estava em sua orelha e a bala foi disparada. Ela apontou com as duas armas para a frente e disparou indiscriminadamente, acertando todos os corpos que se encontravam de pé a sua frente, não se importando com a quantidade, apenas com a região atingida. O grupo inteiro foi ao chão e a ruiva seguiu sobre eles sem problema algum. Se quer teve o trabalho de evitar pisar nos corpos. Ela, simplesmente, os pisoteou, sem nunca perder o equilíbrio, e avançou. Sagitário a seguiu sem preocupação alguma quanto ao caminho que deveria seguir.

Ele assoviou impressionado, só então notando as curvas bonitas no corpo a sua frente.


Quando Jolene, a bombeira que adorou o gato preto de pelúcia, se aproximou para analisar o mesmo, tentando descobrir o motivo das gargalhadas repentinas, ela fora pega de surpresa pela explosão. Ela se quer soube o que a matou e a transformou em poeira rosa. Cody, que se encontrava próximo, lavando o caminhão, fora jogado para trás, tendo alguns ossos deslocados com a força da explosão. O homem bateu a cabeça na porta da garagem e morreu na hora. Os outros membros que se encontravam no local foram jogados em direções diferentes. Alguns, sobreviveriam para contar a história, outros morreram devido a má sorte. A explosão afetou o caminhão, que se encontrava cercado pelas chamas que queimavam toda a estrutura. O concreto das paredes e do teto foi intensamente afetado pela explosão, que ocorreu exatamente em uma das paredes, fazendo com que o teto cedesse e as pessoas do andar de cima fossem ao chão do térreo, engolidas pelas chamas da explosão por alguns segundos. Alguns tiveram poucas queimaduras e nada mais, já outros sofreram vários hematomas e algumas fraturas nas pernas ou braços.

Os bombeiros que sofreram poucos danos logo trataram de tentar controlar o fogo, enquanto tentavam ajudar os companheiros de trabalho a saírem do local antes que houvesse uma segunda explosão. Porque a chance era pequena, mas existia, e tudo estava a favor dela. O caminhão de bombeiros se encontrava inutilizado, devido ao concreto, e se encontrava cercado por chamas, o que poderiam e iriam gerar a sua explosão. Kaytlin, que fora jogada no interior do prédio, atravessando a porta aberta, devido a onda de choque, logo surgiu com um extintor de incêndio, tentando abrir caminho para a mangueira de emergência. Mas, infelizmente, a mesma fora enterrada por concreto quando o andar de cima cedeu. Ela não conseguia abrir caminho para a mangueira, e os poucos bombeiros em condições de ajudar estavam participando da evacuação, que exigia ainda mais participantes do que os que a estavam executando. O sistema contra incêndio do prédio havia sido ativado, mas, infelizmente, com o estrago da explosão, alguns galões dd combustível que estavam no canto da garagem, devido ao diretor que estava saindo de férias naquele dia e ia fazer ima longa viagem direto do prédio, viraram e espalharam gasolina pelo chão, que se misturava a água, criando um lençol de chamas vivas que caminhavam para perto do caminhão a cada segundo que água era jorrada do sistema de emergência. 

 

- por aqui – ditou a mulher e Sagitário a seguiu com confiança. Eles se encontravam em um dos corredores do começo da prisão. Um dos primeiros corredores que os detentos alcançavam assim que entravam naquele: o único momento em que eles usavam aquele corredor.

O homem grisalho já podia ouvir, há muito tempo atrás, uma troca de tiros incessante do lado de fora. Ele se questionava o que diabos estava acontecendo. Por que parecia que uma guerra civil estava acontecendo do outro lado da parede, apenas há alguns metros dele? Quem era aquela gente que estava arriscando o próprio couro por ele? Quem era Branco para conseguir que aquelas pessoas fizessem aquilo? Eram tantas perguntas, mas que ele não possui tempo de ur atrás de respostas. Se quisesse as respostas, primeiro teria que sair daquela prisão. E a mulher a sua frente era a sua chave de ouro para os portões de saída.

Ele pôde ver alguns guardas, adiante, dispararem contra alguma coisa através de um enorme buraco na parede. Ele franziu o cenho, confuso. Antes mesmo que pudesse perguntar, a mulher guardou as armas em sua cintura e avançou na direção da tropa de guardas. Ele se manteve parado, armado, encarando a cena se desenrolar. A mulher com uniforme da prisão avançou com velocidade. Quando um dos guardas percebeu a aproximação, ele berrou por mais munição para a mulher, e a viu colocar as mãos atrás das costas. Então ele estendeu a própria mão, pronto para receber a munição pedida, mas o que recebeu fora uma faca perfurando o seu pescoço, bem como outro guarda.

- MAS QUE

Quando o guarda se virou para a acertar com alguns tiros, já era tarde demais. Ela saltou em si, lhe penetrando o coração com a faca pela abertura lateral do colete aprova de balas. Quando os outros guardas iriam disparar na traidora, a mesma girou, dando um passo para trás, voltando a puxar suas armas e disparando. Ela conseguiu derrubar três deles com tiros na cabeça, mas os outros dois abates vieram do lado de fora. Ela olhou para a cratera na parede caída, vendo, ao longe, Rainha abaixado, com um rifle de assalto em mãos.

- Branco disse que você tinha uma mira perfeita – murmurou, pensativa, analisando o mascarado voltar a mirar para outro lugar, se escondendo atrás do furgão.

- mas o que porra está rolando?! – questionou o detento, incrédulo, se aproximando. A mulher apontou para o lado de fora.

- eles. Eles vão te tirar daqui sob ordens do Branco. É melhor não se meter com Rainha. Ele não é de brincar muito – explicou começando a recarregar suas armas.

- e estamos esperando o quê? Vamos para aquela porra de furgão! – exclamou se abaixando ao lado da cratera para analisar o ambiente enquanto a mulher recolhia suas adagas.

Ele esperou pela resposta, que não veio.

- Oh, mulher! Como nós vamos... – ele se virou para a encarar, se surpreendendo ao não encontrar nenhum corpo vivo.

Sagitário olhou bem ao redor, tentando encontrar algum sinal da mulher que lhe resgatara. Mas ele não encontrou nada. Nem mesmo ouviu sons de passos ou disparos, indicando para qual direção ela havia seguido 

- mas que porra foi essa?! – Exclamou, confuso, antes de voltar a analisar o ambiente

Ele estava sozinho, agora. Precisava tomar muito cuidado. Quando voltou a olhar para fora, ele viu um homem com máscara branca e símbolo de Paus acenar para si, indicando que ele deveria ir até lá. Quando julgou que o perímetro entre a cratera na parede e o furgão do outro lado das grades estava tranquilo o suficiente, ele disparou na direção do furgão. Em sua corrida, teve os disparos dos homens mascarados que acompanhavam o homem que sinalizara para si como cobertura, afastando qualquer guarda que ainda tentasse impedir a fuga.

- pula dentro! Agora! – ralhou o homem com máscara de Paus lhe empurrando na direção da traseira aberta do furgão, onde ele pôde perceber uma grande quantidade de munição.

Obedecendo as ordens do mascarado, o homem de cabelos grisalhos saltou no interior do veículo, sendo seguido por dois outros mascarados. O primeiro bateu na lateral do furgão e o motor fora ligado. Ele saltou no interior do furgão e o motorista arrancou quando um dos mascarados gritou para ele acelerar. Assim que eles percorreram um bom percurso, Sagitário suspirou aliviado e encarou todos os mascarados, metodicamente, recarregarem suas armas e se manterem sentados.

- então... Quem é o chefe? – inquiriu e logo uma aa fora apontada para a sua cabeça.

- vamos deixar as coisas bem claras. Você só está solto porque Branco achou você interessante o suficiente. Mas se você sair as linha, eu garanto que cada junta do seu corpo vai ter uma bala separando os ossos – ralhou o homem com máscara com símbolo de Paus, surpreendendo o mais velho, que sorriu de canto.

- é você – ele respondeu a própria pergunta, sorrindo largo. – você que é o tal do Rainha? – 

- o próprio. E eu não estou para gracinhas –

- não tinha um nome de homem, não? Ou você é bicha mesmo? – questionou com um sorriso de canto, negando com a cabeça.

O soco que lhe acertou fora inesperado. A coronhada em sua mandíbula a deslocou, surpreendendo mais ainda a si. A dor fora grande o suficiente para nublar a sua mente pelo tempo necessário para que Rainha lhe roubasse as duas armas. Sagitário ajustou a mandíbula, grunhindo de dor, e se virou mais uma vez para o líder do grupo, que passou as duas pistolas para os dois mascarados ao seu redor.

- eu não tolero preconceitos, velhote. E, diferente de mim, você é completamente substituível. Existem muitos por aí que podem tomar o seu lugar no plano de Branco. Então eu tenho permissão para meter uma bala em sua cabeça e jogar teu corpo no primeiro bueiro que a gente passar. Então é bom você medir as suas palavras quando estiver diante do meu pessoal. Estamos entendidos? – repreendeu Rainha, com sua voz modificada, e logo todas as armas do furgão estavam sendo apontadas para o fugitivo, que ergueu as mãos, em sinal de rendição, mas o sorriso ainda estava em seus lábios.

- claro, princesa! – o soco, desta vez, veio da sua direita.


Alguns civis que se encontravam próximos ao corpo de bombeiros se aproximaram para ajudar na evacuação. Kaytlin se juntou ao trabalho e passou a retirar os feridos com cuidado. Alguns estavam soterrados por concreto, enquanto outros estavam tão feridos que só de serem tocados sentiam uma dor intensa se espalhar por seus corpos e os fazer urrar de dor.

- CHAMEM A EMERGÊNCIA! – gritou um dos bombeiros para os civis, que já estavam com os celulares na mão, discando o número da emergência, chamando por ambulâncias.

- precisamos de uma varra de ferro para erguer o concreto do lado direito do caminhão! – ordenou Kaytlin apontando para a direção da vítima a ser resgatada e logo todos olhavam ao redor, a procura de um instrumento que servisse.

- eu estou com um taco de lacrosse no carro. Deve servir – ditou um dos civis e um dos bombeiros pediu, aos berros, para que ele fosse buscar.

Kaytlin correu para o interior do prédio com uma das mulheres do seu trabalho e, juntas, se armaram com extintores de dióxido de carbono, passando a lutar contra o fogo que se espalhava com a água do sistema contra incêndios. Elas conseguiram impedir que as chamas escorressem até o caminhão de bombeiros, impedindo, assim, uma segunda explosão. Com a ajuda do taco de lacrosse, ele ergueram o pedaço de concreto o suficiente para que o grupo conseguisse colocar os dedos por baixo dela e todos a erguesse em um esforço conjunto. Eles retiraram o homem de debaixo dos escombros e o levaram para fora do prédio. A situação era tensa e caótica. Quantos mais vitimas eles retiravam do prédio, mais se acumulavam do lado de fora. Aquilo já estava irritando os bombeiros.

- CADÊ A PORRA DA AMBULÂNCIA?! – gritou, furioso, vendo um dos civis dar de ombros.

- eu não sei! Já ligaram quatro vezes! – exclamou, nervoso com a situação.

- ENTÃO O QUE PORRA ELES ESTÃO FAZENDO?! – 

Nenhum deles sabia que, tanto as delegacia de, quanto os hospitais e outros corpos de bombeiro da cidade estavam na mesma situação.

Enquanto todos os profissionais do sistema de emergências da cidade estavam completamente inutilizados pelo caos em seus locais de trabalho, oriundos das explosões dos gatos risonhos. Nenhum deles sabia, nenhum dos destinatários sabia ainda, pelo menos os que sobreviveram para poderem descobrir. Mas, mais tarde, eles saberiam que, o que eles haviam recebido naquela tarde era um personagem muito distinto.

- finalmente... Cheshire – ditou Branco, com um sorriso largo por trás de sua máscara.

 

 

Chapter 59: Hierarchy

Chapter Text

- acorda! – o golpe recebido em seu rosto fora mais do que o suficiente para lhe acordar.

O homem rolou no chão, tossindo, e cuspiu o sangue em sua boca. Jurava que haviam farpas de madeira em sua boca. O seu dente canino estava balançando em sua boca. Ele tentou se erguer, mas logo percebeu as mãos amarradas. Não precisou de muito para perceber que a escuridão ao redor era fruto da venda em seus olhos. O homem de cabelos grisalhos se esforçou para se colocar de joelhos e, ao conseguir, ergueu a cabeça.

- você acabou de me acordar com a coronha de um revolver?! – questionou, indignado, ao, finalmente, se colocar de joelhos.

- e como sabe se foi um revolver? – Inquiriu em um tom risonho e Sagitário franziu o cenho.

Ele começou a se lembrar de como havia ido parar ali. Ele havia acabado de fugir da prisão em que fora encarcerado. Pulou no camburão em que Rainha havia ido lhe soltar e, enquanto fugiam, recebera uma série de golpes na traseira do veículo. Um deles, um soco vindo do seu lado, tão potente que lhe apagou de vez. Desde então, não se lembrava mais de nada.

- só uma arma poderia ser manuseada por alguém tão viado! – exclamou em resposta, sorrindo logo em seguida

Ele não viu quando o outro homem jogou a revolver de seis tiros para cima, com coronha de madeira, e o agarrou pelo cano, antes de desferir um golpe potente no outro. O golpe acertou em cheio a lateral do rosto do mais velho, lhe quebrando o dente já mole devido ao último golpe. Sagitário caiu de lado, mais uma vez. O homem se engasgou e logo cuspiu o sangue e o dente.

- até a minha filha tem uma mão de macho, comparada com a sua – provocou se recusando a admitir a humilhação.

- he! Aqui, você vai aprender que sexo é apenas uma moeda de troca. As mulheres desse grupo vão te surpreender – respondeu guardando o revólver em sua cintura.

- como é? –

- você vai ser comido vivo até aprender o seu lugar – ditou puxando as mãos algemadas, forçando Sagitário a se erguer.

- para onde está me levando? - indagou ao começar a ser empurrado.

- lhe colocar sentado – respondeu empurrando o outro para baixo, e o mesmo sentiu o impacto do próprio corpo na cadeira de madeira.

Logo a venda foi retirada e Sagitário se viu surpreso quando conseguiu analisar o ambiente ao seu redor. Era um quarto de criança. Um quarto com escorregador de brinquedo gigante o suficiente para um adulto escorregar como uma criança de quatro anos. A cama era um carro de formula 1 e o guarda-roupa uma estante de livros, em que cada livro na horizontal era uma gaveta.

- mas que porra de lugar é esse?! – exclamou, surpreso, vendo que a cadeira em que estava sentado era um ursinho sorridente.

- eu estou aqui para lhe alertar dos próximos acontecimentos e lhe instruir – ditou um homem de aproximando mente vinte e um anos, surpreendendo o mais velho 

- você é só um garoto! – exclamou, indignado e o jovem riu.

- não existe idade para começar a lutar pelo seu país, cara -

- meu pai do céu! Onde diabos eu vim me enfiar. Uma criança me dando instruções... Vai me instruir sobre o quê, porra? Bob esponja?! – argumentou, irritado

Os dedos do jovem se emaranharam em seus cabelos grisalhos e lhe forçaram a abaixar a cabeça.

- primeira regra, vovô: respeite sempre as cartas maiores – 

- cartas maiores? – a confusão e indignação era clara.

- você ainda não é parte do baralho, então eu ainda sou maior do que você. Branco está montando o baralho dele, e você é candidato para ser o Valete de Espadas. O Valete é a quarta carta dos quatro pilares. O mais fraco dos quatro – 

- e você é...? -

- não lhe interessa. Segunda regra: nunca vá contra os planos do Branco. Se ele estiver com um plano para pegar um político, e você fizer algo para atrapalhar, você morre. É simples. É só não foder com o Branco que fica tudo numa boa. Deu pra entender? Ou eu preciso trocar a sua frauda geriátrica antes de desenhar? –

O olhar sério de Sagitário serviu como resposta. O rapaz gargalhou e se aproximou do mais velho, passando a soltar as mãos do mesmo. Sagitário se tornou pensativo. Atento. Quando sentiu as mãos livres, ele se preparou para agarrar o pulso alheio, mas fora impedido quando mais um golpe de coronha lhe atingiu a cabeça. Ele fora empurrado para a frente, o forçando a se erguer da cadeira. Ao se virar, o revolver estava apontado em sua direção. Ele se viu sem opções. O lugar era amplo demais para ele poder avançar de modo a controlar os movimentos do adversário.

- vai – o jovem apontou com a arma para a porta atrás de Sagitário – você tem que caçar o Branco – ditou com um sorriso de canto no rosto.

- como é? -

- todos os candidatos a pilar tem que passar por um teste. Cada pilar tem um teste diferente. O teste do Valete é caçar o coelho Branco – 

- mas que porra sem sentido é essa?!  -

- você não é um caçador, Sagitário? Então cace – ditou antes de se sentar na cadeira em que antes o outro estava sentado.

- eu já estou ficando de saco cheio dessa gente – resmungou encarando o mais novo com fúria, antes de se virar na direção da porta e agarrar a maçaneta com raiva.

- mais uma coisa – o mais novo chamou e ele se virou, com um olhar de ódio, indicando para outro que todo o seu bom humor já havia ido para o ralo.

- o que é, agora? –

O mais novo sorriu de canto, antes de vestir uma mascara de lagarto e apontando a arma para a própria cabeça. Sagitário franziu o cenho, se questionando se aquele idiota realmente faria aquilo. Ele decidiu ficar para ver. Queria saber até onde aquele pessoal estranho era capaz de cometer loucuras.

- seja bem-vindo ao Parquinho – o garoto puxou o gatilho, e conferes saíram no lugar da bala. 

Ele ficou perplexo. Estava receoso diante de um idiota com uma arma falsa durante esse tempo todo? Se deixou ser manuseado e humilhado por aquela criança estúpida?! A sua raiva agora já era ódio. Ele iria mandar aquele pessoal todo pro inferno e iria embora. Não tinha tempo, muito menos paciência, para ficar lidando com gente louca. O homem apenas ergueu o dedo do meio para o mascarado e saiu do lugar pela porta indicada. E quando passou por ela, cabisbaixo, se viu perplexo. A sua frente, um corredor de espelhos engraçados, posicionados de forma a distorcer as imagens refletidas. O quarto dava diretamente para um labirinto de espelhos. 

Ele estranhou.

- mas que porra é essa? – indagou, perdido e irritado – eu me alistei para o circo?! – 

- algo assim – respondeu uma voz desconhecida e o homem se manteve alerta.

- quem está aí? –

Ele olhou ao redor, mas tudo o que via eram espelhos. A única porta que enxergava era a pela qual ele havia acabado de passar. Uma porta branca com maçaneta vermelha. Ele sabia que a voz vinha do único caminho possível de se seguir. Seja lá quem fosse, estava a sua frente. Mas a pergunta que ficava era: ele estava certo disso? Se encontrava, no momento, em uma casa de espelhos. O modo confuso e distorcido dos espelhos, somado a vastidão que aquele ambiente poderia ter lhe deixava a dúvida se, o que pensara, no momento, era de fato, verdade, ou ele estava apenas seguindo um eco. A sua audição era boa, mas não perfeita. Ele poderia, muito bem, se equivocar. Era humano, no final das contas. Capaz de cometer erros tanto quanto qualquer um. Mas ele não era qualquer um, e tinha plena noção disso.

Um gargalhar eletrônico lhe fez engolir em seco, encarando o corredor de espelhos a sua frente. Começava se questionar até onde aquele corredor eram um corredor só. Onde ele virava a curva? Onde a ilusão dos reflexos começava? E onde terminava? Com indecisão, o homem passou a caminhar na direção dos espelhos. Se aquele pateta conseguiu passar por ali, ele também conseguiria.

- assustado, caçador? – a voz eletrônica ecoou pelo ambiente, o deixando mais atento ainda.

Mas ele não parou de se mover. Não demorou mais do quatro metros para que percebesse que havia um espelho a sua frente e uma passagem a esquerda.

- eu não estou assustado – alegou com firmeza na voz.

- então por que está tão tenso? – a voz eletrônica voltou a lhe surpreender. Mais alguns passos foram necessários para ele perceber mais um vidro a sua frente e ele teve que voltar a virar a esquerda.

- é, cara! Relaxa o corpitcho! – exclamou a voz desconhecida, sem efeito eletrônico.

- qual é a das vozes? Por que usa um efeito em uma e na outra não? – inquiriu tentando puxar assunto enquanto caminhava por aquele labirinto de espelhos e vidros.

A risada alterada eletronicamente voltou, ecoando mais uma vez pelo labirinto, percorrendo as paredes espelhadas e transparentes. O homem seguia pelos corredores com cautela, sempre analisando o ambiente, na busca pelo caminho correto e do dono das vozes desconhecidas. Ao passar por mais um espelho, constatando que a sua frente era um vidro que impossibilitava a sua passagem, Sagitário notou algo ao seu lado. Ele se virou para a direita, notando um homem alto de cabelos castanhos, vestindo uma jaqueta de couro preta, uma camisa preta colada ao corpo e calça de moletom em um verde escuro. Ele estava de braços cruzados e corpo apoiado na perna esquerda, enquanto lhe observava com tédio nos olhos A sua boca e nariz eram cobertos por uma máscara vermelha escura, com detalhes em preto.

- é complicado demais para você, caçador? – o mascarado inquiriu, inclinando a cabeça para o lado.

O tom de deboche na voz eletrônica era evidente, o que irritou mais ainda ao homem de cabelos grisalhos. Sagitário apressou os seus passos na direção do homem mascarado. Quando o alcançasse, iria mostrar o que seria complicado demais para alguém. No entanto, antes que seu desejo se concretizasse, o homem parou bruscamente. O mascarado riu, brevemente, dando as costas.

- o bebezão quer a chupeta? – a voz sem efeito voltou a ecoar, deixando o mais velho curioso.

Havia um vidro entre ele e o homem misterioso. Sagitário deu um chute no vidro, não se surpreendendo muito ao ver o mesmo intacto. Ele já esperava que os vidros fossem resistentes. O homem que se denominava Branco não parecia ser estupido o suficiente para lhe colocar em um labirinto de espelhos e vidros, sem que este pudesse lhe prender por um bom tempo. Porque, sim, ele iria atravessar tudo até a porta de saída. Mas, com aquelas condições, gastar toda a sua energia em criar passagens através daqueles materiais resistentes com as mãos nuas seria suicídio. Ele não sabia, ao certo, o que queriam consigo. Se tentassem lhe atacar e ele estivesse exaurido da fuga do labirinto, seria um inferno.

- o seu teste já começou, vovô – a voz do mascarado lhe chamou a atenção e, só então, ele notou que o homem estava de perfil, caminhando por entre os espelhos. 

E em questão de dois míseros passos, o perdeu de vista por completo.

- teste? – inquiriu com a voz alta.

- não achou que Branco simplesmente pegava qualquer vagabundo na rua e o jogava em seus planos sem saber se ele aguentava o tranco, achou? – a voz sem efeito voltou a ecoar por entre os espelhos e o homem se irritou, passando a apertar os passos.

- quando eu te pegar, seu desgraçado – rosnou entredentes, antes de se bater em um vidro, o que lhe irritou mais ainda.

O outro riu.

- de que diabos de teste você está falando?! –

Mais uma vez, ele se encontrou com o homem mascarado, de costas para si. Mais uma vez estavam separados por uma parede de vidro bastante resistente. Sagitário cerrou os punhos, irritado. E então ele notou a máscara. Era diferente. A outra lhe cobria a boca e o nariz. A nova cobria apenas a testa e o nariz. A mesma roupa mas máscaras diferentes.

- você deve me caçar até a saída do labirinto de espelhos – ditou o mascarado, agora sem o efeito na voz, e Sagitário compreendia o motivo. 

Ao mudar a máscara, o efeito sumia. Pois o modificador se encontrava no interior da máscara que cobria a boca. Mas havia algo estranho ali. Ele sentia que alguma pegadinha estava sendo mantida em segredo por trás de toda aquela palhaçada. Que tipo de facção criminosa testava os integrantes daquele jeito? Uma simples caçada?! Tudo bem que era em um labirinto de espelhos. Mas só isso?! Algo de muito errado não estava nada certo. Os seus instintos gritavam para que ele prestasse atenção em algo que estava perdendo.

- e é só isso? – perguntou, ainda desconfiado, esperando conseguir algum sinal na mentira que receberia como resposta.

O mascarado sorriu, exibindo os dentes brancos. Brancos demais para alguém que não ia ao dentista há anos. Logo ele fez a sua nota mental: eles não eram aquele grupo de idiotas que fugia de responsabilidades comuns, como algumas facções criminosas faziam. As suas vestimentas eram outro indicador deste fato. Eram bem cuidadas, aparentavam ser quase novas. Que ele se importava com a aparência, era óbvio. Agora a pergunta era: qual o motivo? Que tipo de criminoso era aquele? Não um tipo selvagem como Sagitário, é claro. O homem misterioso voltou a dar as costas e sumir por entre ao espelhos.

Aquilo lhe intrigava.

- você não é o Branco, não é? – inquiriu ao virar em mais um corredor de espelhos.

Um gargalhar eletrônico veio segundos após a sua pergunta. Ele alcançou outro corredor. E foi nesse momento em que ele levou um susto, ao se deparar com o mascarado do outro lado de outro vidro. Aquilo lhe surpreendeu bastante. Ele não esperava que ele reduzisse o espaço de tempo entre as suas aparições. 

- você é tão estúpido. É claro que não sou Branco! – respondeu com a voz eletrônica inclinando levemente a cabeça para o lado, como um filhote confuso.

E novamente, algo em sua mente gritava para ele ficar alerta.

- o seu tempo esta correndo contra você, coroa. É melhor apertar o passo para ser mais rápido do que o tic-toc. – o mascarado voltou a correr, desaparecendo por entre os espelhos mais uma vez.

Sagitário voltou a correr, tentando alcançar o outro. Alguns corredores depois, o homem voltou a aparecer, usando a máscara de cima, sorrindo e acenando para si do outro lado de um vidro. Aquilo lhe irritou. E ao tentar descobrir como chegar do outro lado do vidro, foi que ele percebeu. Aquele lugar ficava do lado contrário para o qual o seu caminho seguia. O corredor em que ele estava ia para a direita e dobrava a esquerda. Mas o corredor em que o mascarado se encontrava vinha da esquerda e dobrava a direita. Mas o mascarado, há poucos instantes atrás, surgiu do mesmo corredor em que ele se encontrava. Era apenas uma suposição, mas a sua mente começou a trabalhar em uma teoria sobre o que estava acontecendo ali.

Se acalmando e recuperando o ar de tranquilidade, Sagitário se aproximou do vidro, sorriu de canto e bateu no objeto transparente com o nó do dedo indicador, chamando a atenção do outro.

- e então? Cadê o outro mascarado? – questionou vendo o outro sorrir de canto e erguer as mãos, dando de ombros.

- eu não sei. Você não deveria era estar preocupado com outra pergunta? – respondeu o mascarado de olhos misteriosos e sorriso largo, vendo o homem a sua frente franzir o cenho, confuso.

Que outra pergunta? Sagitário havia acabado de analisar a sua situação. Então era bem possível que houvesse, de fato, uma pergunta que ele ainda não havia feito a si mesmo. Ele nunca foi dos mais inteligentes, mas também nunca fora um acéfalo.

- que outra pergunta? –

- qual de nós dois está levando você para a porta? – ditou o outro, sorrindo largo – eu? O meu outro eu? Nenhum dos dois? Afinal... Você já percebeu que estamos percorrendo caminhos diferentes. Agora... O seu é o certo? Ou é o meu? -

A pergunta foi acompanhada por um sorriso de canto que apenas fixou ainda mais o pânico no homem mais velho.

- O... certo? - a sua voz saiu em um sussurro que não alcançou o mascarado.

 

 

 


Peter sentia que todas as suas forças haviam se perdido em algum lugar longe de seu corpo. Sentia o mundo girar e uma vertigem fora do comum lhe dominar. Ele não conseguia crer no que estava acontecendo. Lydia e Matt estavam assistindo aos noticiários, junto de Isaac, quando eles voltaram para a base. E as notícias eram péssimas. Uma série de atentados terroristas no sul do país. Explosões em várias cidades dos condados do Novo México, Texas, Louisiana, Mississippi e Alabama. O homem suspirou, se permitindo cair sentado em uma das cadeiras giratórias do local.

Ao seu lado, Derek jogava o colete a prova de balas sobre a mesa redonda. Ele se via desnorteado. Como se um grande tijolo o tivesse atingido a cabeça. Tanta dedicação fora investida naquela investigação. Ele passou horas com a sua equipe trancados em uma sala, apenas tentando desvendar o mural de fotos que eram as paredes do porão da casa que explodiu. Horas tentando apenas entender a mente de Branco e como ele havia planejado tudo aquilo, com a esperança de evitar uma catástrofe.  Mas eles não conseguiram impedir nada. Tudo ocorreu exatamente como o maldito havia planejado. Todos os passos seguiram, exatamente, como o infeliz havia planejado. Eles passariam horas investigando, com toda uma frota de agentes concentrados na maldita casa, e tudo o que eles conseguiriam seria morder a pista falsa deixada pelo desgraçado, para que, se quer, conseguissem chegar perto de deter as explosões das bombas.

- Desgraçado! – rugiu Vernon jogando o seu colete no chão.

- V... – Allison tentou confortar o colega de trabalho, mas ela não tinha o que dizer.

Não havia como confortar aquela situação. As imagens amadoras dos bombeiros tentando salvar os próprios companheiros, bem como civis ajudando policiais em delegacias de polícia e médicos em hospitais era, não apenas perturbadora devido ao cenário caótico, como também humilhante. Aquele atentado era o seu erro sendo exposto não apenas para eles e para Branco, mas para o país inteiro e até mesmo para o mundo. Não haviam palavras que pudessem amenizar o sentimento de decepção que sentiam. A decepção de si mesmos, o sentimento de que decepcionaram a todos ao seu redor, todos que juraram proteger, todos os familiares e amigos que ficaram em risco.  E o pior de tudo era saber que eles receberam uma chance de evitar tudo aquilo. Porque, por mais que Branco fosse um ser humano horrível, ele lhes deu a chance de resolver aquilo.

- então é isso? – inquiriu Isaac, chamando a atenção dos agentes mais próximos que puderam procurar curiosidade em meio a tanta decepção.

- é isso o que é investigar Alice? Você... Você dá tudo de si para.... Para perder, cair no chão e olhar para cima, e finalmente perceber a diferença entre vocês? – o louro de cachos abaixou o olhar para as próprias mãos, as vendo tremer. Ele ficou apavorado ao descobrir sobre o atentado.

Ele nunca sentiu tanto medo da morte na vida. O que lhe deixava confuso. O que mais ele tinha para perder? O que ele tinha tanto medo de deixar? O seu único bem era a sua mãe, que partiu há anos. Então ele se questionava: por que ainda queria tanto viver?

- é, Isaac. É exatamente isso – murmurou Alan, cansado.

- agora... Que... O Isaac colocou em palavras, eu me sinto mais inútil ainda – murmurou Scott, irritado e chateado.

Peter suspirou, passando as mãos pelos cabelos com fios grisalhos destacando-se entre os louros. O homem ergueu a cabeça e respirou fundo. Se erguendo e atravessando o caminho de alguns agentes, algumas vezes pedindo licença, o Tate se aproximou do quadro de dados e apagou alguns deles e escrevendo novas informações. Ele escreveu a data e o real significado dela, escrevendo a data espelhada logo ao lado. Ele destacou os condados e cidades atacados. Alguns agentes o observaram com curiosidade, outros com um ar de desistência.

- o que está fazendo? – questionou um dos agentes que não faziam parte da divisão.

- trabalhando – respondeu passando a escrever o espaço de tempo em que se acreditava que as bombas haviam explodido.

Derek suspirou e descruzou os braços.

- Peter está certo. Nós perdemos. Não conseguimos evitar as explosões nem as vítimas. Mas nós podemos prender esse cara. E nós vamos –

- agora, não temos tempo nos pressionando, mas ainda temos a responsabilidade nos ombros. Temos que trazer paz para as famílias das vítimas. Prender o culpado. – ditou Scott concordando com o amigo e com o tio do mesmo.

- do que vocês estão falando? Ainda estamos correndo contra o tempo – ditou Peter, confuso, recebendo olhares igualmente confusos.

- estamos? – inquiriu Erica, confusa.

- sim. Estamos. Branco disse “Quando as duas reuniões das cartas acontecer” – respondeu o Tate vendo os agentes franzirem o cenho.

- então... – Matt questionou, receoso da resposta que receberia.

- o ataque tem duas ondas – respondeu Rafael vendo os olhares derrotados voltarem a exibir o pavor se instantes atrás.

- então ainda tem mais bombas – comentou Vernon sentindo o peito se apertar.

- eu vou dividir vocês em dois grupos.  Um será composto por trinta por cento do pessoal, o outro, por setenta. O menor grupo irá focar na base e analisar a casa toda novamente. Procurem por sinais que deixavam claros o ataque e os alvos. Se entendermos a primeira onda, podenos entender a segunda. O resto, já se dividir em grupos menores e vão visitar os locais afetados pelas bombas – ditou Alan já começando a separar o grupo que ficaria no local.

- Isaac e Erica, vocês vão com Allison até um dos locais de explosão. Scott, Rafael e Chris vão para outro. Eu quero o máximo de informações que vocês possam tirar. E quero ambas as visões: Isaac, procure por restos da bomba e analise a composição E Erica... Você sabe o que fazer – ordenou Peter vendo os agentes menearem em compreensão.

- pode deixar – ditou a loura de cachos, enquanto Isaac apenas meneava em silêncio.

-  Lydia, eu preciso de um mapa – pediu e a ruiva tratou de providenciar o mesmo, pronunciando uma resposta monossilábica .

- Matt, eu quero acesso as câmeras de segurança dos locais alvos e dos arredores dos mesmos. Precisamos saber, com exatidão, como as bombas chegaram até os locais sem levantar suspeitas. Vernon, eu quero que ajuda o analista a estudar esse ponto – 

- certo –

Em instantes, mais da metade dos agentes estavam embarcando em aviões rumo ao sul do país. Os grupos dividiram os pontos que visitariam e assim partiram a trabalho. Todos tinham em mente a mesma coisa: Eles tinham apenas horas até que tudo acontecesse de novo. Horas até que mais vítimas fossem feitas e mais terror fosse espalhado pelo país. Allison foi a primeira a descer do carro assim que chegaram ao local da explosão. O cenário ainda era caótico. O hospital ainda liberava fumaça, apesar de as chamas já terem sido contidas. Vítimas ainda eram retiradas do local em sacos de evidências para que fossem analisadas na necropsia. A agente Argent levou a mão ao peito, enquanto travava o veículo, pedindo forças a sua mãe, a sua avó, e a Deus. Um pequeno ritual que ela sempre realizava quando o caso era intenso.

Assim como aquele.

Ao se aproximar da área delimitada, Allison ignorou os civis amontoados ao redor da faixa de “Mantenha Distância”, e se focou brevemente nos policiais e na viatura ali perto. Ela foi a primeira a notar, em seguida Erica e Isaac também notaram o detalhe.

- esses policiais... – Isaac tentou comentar, mas Allison apertou o passo.

- agente Argent, FBI, estes são os consultores Lahey e Reyes – ela se apresentou para a oficial mais próxima, que lhe permitiu a passagem e passou a lhe acompanhar.

- graças a Deus! Mais reforços! – exclamou a mulher os guiando para a entrada do hospital.

- antes de tudo, uma pergunta. Por que a polícia da cidade vizinha está aqui? Onde está a polícia local? – inquiriu a Argent se virando para a oficial, que lhe encarou com desconfiança.

- você não sabe? As bombas inutilizaram o sistema de emergência da cidade – respondeu, surpresa com a falta de informação da agente.

- mas foram todas as delegacias locais?! – questionou Allison, em choque.

- não deixaram nada escapar – respondeu a oficial e logo eles alcançaram o centro da explosão, onde um grupo de forenses analisava o local.

- inutilizaram a emergência? Como assim? – inquiriu Erica confusa.

- ele atacou todos os setores: Hospitais, delegacias e corpos de bombeiros – murmurou Allison, em resposta.

- bom, Lydia nos passou isso no avião –

- mas não disse que foram todos da cidade. Cada delegacia, cada hospital e todos os corpos de bombeiros da cidade. Ele deixou a cidade completamente vulnerável a tudo - 

- por isso que há mais de um local por cidade – comentou Isaac, pensativo.

- bom, não completamente vulnerável. Os civis foram bastante úteis e se prontificaram a ajudar – comentou a oficial, observando Erica analisar o local com olhos atentos.

- e é exatamente isso o que ele quer – comentou Isaac, ainda pensativo, se abaixando e analisando um pedaço de orelha de gato de pelúcia completamente queimado.

- como assim? Vocês sabem quem foi o responsável? –

- temos uma certa ideia – comentou Allison observando Isaac – o que você quis dizer? –

- Branco quer fazer as pessoas se tornarem independentes. Quer mostrar que vocês são inúteis. Sem bombeiros, médicos e policiais... As pessoas –

- só terão elas mesmas – concluiu Erica encarando um ponto específico, vendo alguns corpos ainda espalhados pelo chão.

- ele quer fazer as pessoas se voltarem contra a polícia – comentou o louro, se erguendo e se aproximando dos forenses.

- ele quer começar uma guerra civil – concluiu a Argent se aproximando dos forenses enquanto a oficial a seguia, franzindo o cenho.

- uma guerra civil?! Como se começa uma guerra civil? –

- mostre vulnerabilidade no governo e a força do povo. É questão de tempo e mais ataques para tudo acontecer -

- Eu... confesso que não entendi – comentou a oficial, genuinamente curiosa.

- ao mostrar a vulnerabilidade do governo, os que já se mostravam contra ele vão cair matando com críticas e protestos. Mostrar a força do povo vai apenas dar mais força aos argumentos dos protestantes e acabará atraindo mais pessoas para o grupo. Os que se mantiveram fiéis ao governo vão arregaçar as mangas e ir para as ruas protestar contra os protestantes. Ainda nos primeiros movimentos contra os protestos, o primeiro confronto vai surgir. E é aí que tudo vai sair do controle – explicou a morena escondendo, ao máximo, o pânico que crescia em seu peito.

- bom. Se sabemos com funciona, podemos descobrir como evitar – comentou a oficial, dando de ombros, tentando mostrar positividade diante da possibilidade catastrófica.

- não é tão simples, oficial. O único modo de evitar a guerra, seria acalmando os rebeldes. Mas, como fazer isso? – argumentou Isaac vendo a mulher lhe fitar, curiosa.

- eu... – a mulher não sabia o que responder.

- vamos fazer uma pequena suposição. Você é a favor de aborto? –

- bom... Sim –

- e se eu for contra e vou para as ruas protestar. Como você me pararia? – indagou Isaac observando as costas de Erica, que analisava o ambiente com curiosidade.

- eu te prenderia – respondeu a oficial, convicta.

- certo. Mas a minha situação iria inspirar outros. Você os prenderia também? –

- bom, sim –

- agora me diga. Quando esse número ultrapassar o limite que você pode prender... O que vai fazer? – a pergunta deixou a mulher sem palavras.

- entende, agora? Impor a sua vontade sobre um rebelde, não é resolver o problema. É atrasar ele e aumentar o seu tamanho. Ao invés de parar uma bola de neve, você está apenas fugindo dela e a deixando crescer –

- e aí, Erica? – inquiriu Allison, ao perceber que a loira se encontrava em silêncio já há um bom tempo.

- eu odiei esse lugar – murmurou a Reyes, em resposta.

- é. Eu imaginei – 

- sabe? Eu posso lutar contra homens armados, mulheres psicopatas e gente perturbada das ideias. Mas... Uma bomba? Nem tem como proteger alguém disso. As coisas que acontecem... É quase como se a própria morte viesse brincar com a vida dessas pessoas – a emoção por trás da mulher era notável. Ela estava com medo. Estava apavorada.

- o quê? –

- a quantidade de vidas tiradas em instantes, cada uma a seu modo. Chega a ser ridículo. Você pisca... E boom... um vidro lhe corta a jugular, ou então os olhos, uma pedra bate em sua cabeça ou uma placa de metal arranca ela fora. – ditou apontando para resquícios de sangue na parede a sua esquerda e no chão a sua direita, há uma certa distância da recepção destruída.

- é a sua primeira vez com uma bomba? – inquiriu o cientista forense, vendo a loura desviar o olhar para si.

- ficou óbvio? –

- o jeito que você está afetada. Todo mundo fica assim na primeira vez – respondeu o homem se erguendo e se aproximando de um outro ponto marcado com um triângulo amarelo enumerado.

- como ele deve ter reagido? – inqueriu outro dorense, chamando a atenção do grupo.

- quem? – inquiriu Allison, curiosa.

- o culpado pela bomba ao descobrir que nos hospitais, apenas as pessoas presentes no local da explosão e desavisados desesperados foram as vítimas? Afinal de contas, o restos das pessoas nos hospitais foi removido dos prédios pelos fundos e saídas de emergência –  respondeu encarando a agente com uma curiosidade genuína.

- se você achou que ele se surpreendeu, abandone essa ideia ingênua. Esse cara sabia disso... Da possibilidade da evacuação ocorrer pelos fundos e pelas saídas de emergência – respondeu Erica, abaixada ao lado de um dos cadáveres carbonizados.

- se ele sabia, por que também não atacou as saídas? O terror seria maior, devido ao aumento do número se perdas – 

- aí é que está o motivo. Quanto mais sobreviventes, melhor para ele –

- isso não faz o menor sentido! Um terro -

- ele não é um terrorista. É um assassino em série. Um psicopata que planeja usar isso para jogar com o país. Se ao menos um desses sobreviventes, se juntar ao grupo de protestantes que vai surgir, a sua voz vai dar um alcance muito maior ao protesto. Vai atrair mais pessoas – explicou a loura se aproximando de Allison.

- eu não sei dizer como a bomba foi alocada, mas consigo dizer que a posição foi estratégica e muito bem pensada – comentou enfiando as mãos nos bolsos. Allison apenas meneou em concordância.

- e por que diz isso? – questionou a oficial e Erica apenas apontou com o queixo para trás dela.

- essa é a única saída que dá para o estacionamento. É claro que as pessoas menos informadas e mais burras iriam correr desesperadamente para seus carros. E quando eles perceberam a barreira de fogo e que não tinha como passar por ela, foi tarde demais. Os idiotas que vinham atrás os empurraram nas chamas. Eles caíram e formaram um tapete sobre o fogo. Outros caíram logo atrás e também foram pisoteados, mas não nas chamas. Uma boa parte dos mortos foram consequência das atitudes de outras vítimas e não da bomba – 

- e você consegue dizer tudo isso como? –

- eu sou especialista em sobrevivência. Não importa a situação – respondeu a loura dando as costas e admirando Isaac, que analisava a área da explosão – e aí? Alguma coisa? –

- foi uma bomba pequena. Mas com um componente muito inflamável. Ele deve ter tido um trabalho e tanto para fabricar essas coisas. –

- você é algum especialista em bombas? Nós já coletamos quase todas as partes da bomba. Como sabe que foi pequena? – inquiriu o cientista forense, curioso com a analise do recém chegado.

- porque ninguém encontrou a bomba antes que ela explodisse. Logo, ela era pequena o suficiente para ser escondida em algo que não chamasse a atenção. Como um ursinho de pelúcia – respondeu apontando para outra orelha felpuda no chão, ao lado do que sobrou de um computador.

- isso me parece bem maravilhano, para mim – comentou Allison, se aproximando e analisando o que havia sobrado da orelha felpuda.

- eu consigo imaginar o Stiles fazendo uma dessas, com certeza – comentou Erica dando de ombros.

- ? É assim que chamam o culpado pelas bombas? - questionou a oficial vendo a loura lhe encarar com seriedade.

- Não. É alguém que pode ajudar a pegar esse cara – respondeu Allison vendo Isaac lhe encarar por sobre os ombros.

- e ele está ajudando nas investigações? Está em outro local de explosão? -

- ele está impossibilitado de fazer investigações, no momento - respondeu a agente, finalizando com um suspiro cansado.

 

 


Peter suspirou pesado, enquanto levava uma das mãos a cabeça. A dor começava a lhe tirar os trilhos do pensamento, que já não eram muitos. Era tão difícil perseguir alguém como eles dois. Como diabos poderia existir pessoas assim? Tão inteligentes e ao mesmo tempo tão malucas, capazes de se tornarem extremamente difíceis de investigar e ao mesmo tempo tão eficientes no assunto. Era perturbador, quando se parava para pensar que um dos dois atingiu aquele auge ainda na pré-adolescência. Ainda criança.

Alice e Branco.

- o que eu tenho que fazer para prender você, Branco – murmurou o louro, encarando o quadro de informações que haviam montado.

Estava há quase uma hora plantado ali, na frente do quadro, enquanto admirava cada informação escrita e como ela se encaixava na investigação. Havia quase uma hora que Peter estava tentando não cair em desespero. A situação já era desesperadora quando ele sabia que possuía cinco dias para investigar. Mas, agora, que ele se quer sabia quanto tempo tinha e já sabia do que Branco era capaz... o pânico era ainda pior. Ele já sabia qe Branco queria causar o terror. Mas até onde ele iria para isso? Quais seriam os próximos alvos? Escolas? Creches? Cinemas? Sedes políticas? Era impossível saber a resposta. Alice tinha um ódio mortal por adultos e, por algum motivo, um apreço por crianças. Então era óbvio que ele não atacaria locais com crianças dessa forma. Mas e Branco? Qual era o limite daquele estranho mascarado? Ele tinha algum limite?

- chamar Alice – a voz de Alan surpreendeu o agente Tate, que se virou na direção do seu superior, o encontrando sentado, com o chapéu sobre o joelho da perna cruzada e um copo de café em mãos.

A resposta o perturbou.

- não. Não mesmo – o homem encarou outro agente com seriedade e repreensão, deixando claro que aquela linha era um limite que Alan não deveria passar.

O Deaton suspirou.

- a balança não bate, Peter – o outro repreendeu, se erguendo e voltando a colocar o chapéus – já perdemos muitas vidas. Vidas que, possivelmente, poderiam ter sido salvas se tivéssemos colocado Alice desde o começo – o outro pontuou, se aproximando.

Derek os observava, de canto.

- não podemos nos prender a suposições do passado, Alan. Não agora. Não temos tempo para isso! –

- aí é que está, Peter! Como sabes? Quanto tempo temos? Onde adquiriu essa informação? – o homem argumentou sabendo muito bem que estava colocando o louro contra a parede.

- eu não sei! Mas se tem tempo para fazer suposições, tem tempo para investigar –

- você e eu sabemos que, com noventa e cinco por cento de chance, Alice saberia muito mais do que nós sabemos agora – pontuou Alan observando o Tate, frustrado negar com a cabeça.

- não podemos afirmar nada –

- não minta para mim, Peter. Você sabe que nesse trabalho confiança é a única coisas que não se pode perder –

Peter se manteve em silêncio, encarando o Deaton. O outro se aproximou ainda mais, se colocando exatamente a frente do louro. Peter sabia que não era uma tentativa de intimidação, apenas queria que abaixassem a voz.

- ele não pode ser exposto a isso –

- ele não pode ser exposto a alguém como ele? Qual é a lógica nisso? –

- Alan, eu demorei anos para conseguir essa chance. E eu não vou jogar isso fora por causa -

- você já está – a voz de Derek chamou a atenção dos dois homens, que agora sussurravam um para o outro.

- como é? – inquiriu Peter, indignado.

- você já está jogando fora, tio – Peter encarou o sobrinho com fúria, erguendo o dedo.

- eu lhe avisei, Derek. Eu deixei claro que não iria deixar você boicotar essa divisão mais uma vez –

- ele estava questionando você –

Peter e Alan franziram o cenho.

- quem? –

- questionando quem? –

O Hale suspirou e se aproximou 

- quando estávamos em Maybelle. Eu me aproximei da cela e ouvi ele falando sozinho. Alice estava falando sozinho, sobre você –

Peter piscou os olhos, surpreso, enquanto tentava formular algo.

- e o que ele dizia? –

- ele perguntou... Ele estava perguntando ao meu pai o motivo de você estar abandonando ele – a resposta levou o louro a engolir as próprias palavras ditas ao sobrinho.

- ele... Se perguntou porque todo mundo odiava ele –

- isso não me parece coisa boa – comentou o Deaton cruzando os braços e direcionando um olhar pensativo para Peter.

- isso está apenas afastando ele de você – 

Peter piscou os olhos, surpreso, antes de negar com a cabeça.

- eu estou fazendo o que tem que ser feito. Se Stiles souber sobre o Branco e essa investigação, existe a possibilidade de Alice voltar. E eu não posso permitir isso. Ninguém aqui pode –

- tio – Derek tentou argumentar, mas Peter o cortou rapidamente.

- você não entende?! Não é apenas sobre perder um esforço já jeito. Isso é sobre não conseguir reparar o estrago que vai ser feito – 

Alan franziu o venho, curioso.

- como assim? –

- se Alice voltar, agora um adulto, a gente não pega ele antes que consiga o que quer – o louro respondeu, antes de suspirar, derrotado, e erguer um olhar suplicante – não podem trazer ele aqui. Não para esse caso. Quando criança, ele tinha limitações. Mas agora... Agora, eu tenho certeza de que ele volte ainda pior –

- Peter...

- a resposta é não! – exclamou o louro olhando com indignação para o sobrinho e para Alan, antes de dar as costas.

Alan suspirou e sinalizou para Derek, com a cabeça, para que se afastassem. Os dois se dirigiram para a sala de Derek, onde as fotos estavam espalhadas pelas paredes. O Deaton fechou a porta assim que passou por ela. Derek se aproximou da janela e passou a observar os prédios, tentando pensar.

- quanto tempo nós temos? – inquiriu o Hale, sem se virar para olhar o seu superior suspirar mais uma vez.

- até onde eu sei, ele só falou essa data. Então temos até antes da meia noite, creio eu. Qualquer hora nesse curto espaço de tempo pode ser o momento em que teremos mais notícias ruins sobre Branco – disse o homem de chapéu se aproximando da mesa e apoiando o seu chapéu alí.

 - é muito louco tempo! – exclamou, indignado – se quer conseguimos impedir o ataque de hoje, tendo cinco dias para investigar. Só um milagre para nos fazer conseguir impedir isso nesse ! – voltou a exclamar, colocando as mãos na cintura e abaixando o olhar.

- um milagre... Ou um maravilhano – comentou o Deaton, chamando a atenção do agente Hale, que franziu o olhar em sua direção.

Alan estranhou o olhar do moreno, antes de o mesmo estalar os dedos.

- nunca foram para nós...

- o quê?! –

- as pistas nunca foram para nós. Só Alice saberia dizer o que é verdade e o que é distração. Tudo isso... É um maravilhano enviando um código para outro – 

- um código? – inquiriu Alan, desconfiado – então não podemos deixar Alice ter acesso a ele –

- não. Aí é que está o X da questão. Branco sabe que Alice vai odiar ele. É por isso que ele está fazendo todo esse jogo. Branco tentou matar o tio Peter. E Alice jura que ninguém que soubesse de sua existência tinha sobrevivido a ele. Isso o deixaria duplamente irritado e ele mataria o Branco por isso. –

- então por que mandar um código para Alice? – inquiriu Alan, sorrindo de canto com a analogia do moreno de olhos verdes.

Assistir a mente de Derek trabalhando a mil para tentar compreender Alice era como ver o seu velho amigo de novo. A nostalgia lhe agradava. Ele gostava de lembrar do passado. E também gostava da época em que Alexander ainda era vivo. Da época em que os seis eram uma única equipe de agentes pouco experientes.

- eu... eu não sei – murmurou ainda pensativo.

- e por que acha que as pistas são para Alice? – inquiriu Alan se sentando e cruzando as pernas.

- “Em cinco dias, eu irei fazer com que vocês percebam o quanto Alixe é superior a vocês” –

- como?! –

- foram as palavras de Branco para o meu tio, Rafael e Chris. Ele sabia que Peter iria fazer de tudo para afastar Alice desse caso.

“Por que ele está me abandonando?”

OS olhos verdes se arregalaram quando a voz ecoou em sua memória. Agora ele sabia o motivo. E agora ele também sabia que, realmente, Branco era uma pessoa preparada e ardilosa. Ele se via perturbado, mais uma vez, desde a notícia das bombas que explodiram e mataram tantas pessoas inocentes. Era a segunda vez, apenas naquele dia, em que ele ficava boquiaberto por causa de um maravilhano.

- ele... Ele quer separar o Peter e o Stiles – respondei olhando na direção do tio, do outro lado da grande janela de sua sala.

- entendo. Peter é o único capaz de controlar, mesmo que minimamente, o Stiles –

- isso. E se o Stiles perde a confiança no Peter... 

- o Peter perde o controle sobre Stiles – concluiu Alan vendo o moreno menear positivamente.

- precisamos do Alice nessa investigação. Mas eu também não quero ir contra o meu tio. Não agora que... – o Hale coçou a cabeça, frustrado.

- vá! – ordenou o Deaton e o moreno de olhos verdes lhe fitou com confusão.

- Alan, eu... –

- é uma ordem! Uma ordem minha. Não tem como o seu tio lhe culpar por isso – o moreno de olhos verdes encarou o superior, analisando as palavras do mesmo, antes de suspirar.

- e se o Peter estiver certo, Alan? E se o Stiles surtar e voltar a ser um serial killer? – inquiriu o moreno, nervoso. – o meu pai morreu tentando ajudar esse cara. Eu não... Eu não quero desfazer o que o meu pai morreu para fazer – argumentou o agente de olhos verdes, observando o mais velho negar com a cabeça.

- se não usarmos Alice contra Branco, vamos perder ainda mais vidas. Não pode arriscar dezenas ou centenas de vidas por medo de perder um assassino, Derek –

- mas se ele voltar a ser um serial killer, mais pessoas vão morrer. E de uma forma mais violenta –

- se ele voltar, nós matamos ele – as palavras do Deaton paralisaram o Hale.

Derek o encarou, perplexo, o observando ajustar o chapéu na cabeça.

- não me olhe assim. Sabes que Alice deveria ter pego pena de morte assim que completou a maioridade. Matar ele agora seria o mesmo que ter matado anos atrás. Estaríamos apenas fazendo o que ele fez com o Sebastian Crane: aplicando a sua pena –

Derek não conseguiu argumentar. Ele sentia a veracidade das palavras do mais velho e concordava com elas. Muitos outros receberam pena de morte no país, mas nenhum tivera crimes tão brutais nas costas como aquela criança. Segundo a lei, Alice deveria receber pena de morte pelos crimes de porte ilegal de armas, drogas e substâncias ilegais, somados a desacato a autoridade, terrorismo e homicídio qualificado. Tudo isso com apenas onze anos de idade. Mas é claro que eles teriam que esperar ele completar a maioridade para executar a pena. Mas Alice não recebeu pena de morte.

- por que? Por que ele não recebeu a pena de morte? – inquiriu Derek, curioso, observando o mais velho suspirar.

- isso é com os superiores, Derek. Tudo o que sei é que foram apresentadas provas, no julgamento, que fizeram juiz não o sentenciar a morte - 

- provas? – inquiriu, confuso, vendo o homem a sua frente dar de ombros.

- eu não sei o que foi. Mas por ordem de superiores, as provas foram consideradas secretas e não foram expostas no julgamento.

- mas o que porra acontece com esse cara? Tudo parece... Conspirar para ele. Ao mesmo tempo em que contra ele, também conspira a favor dele – 

- é por isso que precisamos dele aqui. Na situação em que estamos, precisamos das coisas que conspiram a favor dele – 

- mas e se as coisas conspirarem contra ele, desta vez? – ele ainda possuía receio da possibilidade citada por Peter acontecer.

Alan suspirou mais uma vez.

- sabe, as pessoas apenas enxergam o que aquele garoto fez como atos de um vilão de psicológico fodido e mente perturbada. E estão certas, por um lado, mas ninguém nunca pensou no outro lado? Não existem super-heróis, apenas pessoas com escolhas. – argumentou o Deaton dando as costas ao moreno e seguindo para a porta da sala.

Derek franziu o cenho.

- que outro lado? – perguntou observando o seu superior parar diante da porta.

- as vítimas de Alice. Nem todas eram inocentes. Na verdade, se você parar para pensar, os inocentes foram efeitos colaterais de suas vinganças pessoais – respondeu voltando a ficar de frente para o mais novo.

- como assim? O que quer dizer? –

Alan riu.

- não me surpreende em nada que você não saiba. Como eu disse: não existem heróis e nem vilões. Apenas pessoas com escolhas. E eu escolhi ordenar que você vá buscar Alice para investigar esse caso. Se ele enlouquecer, a culpa será toda minha e eu arco com as consequências. No entanto, se ele salvar a vida de centenas de pessoas, o crédito será meu e dele – ditou abrindo a porta.

- Alan – Derek o chamou, esperando por respostas, mas antes que perguntasse qualquer coisa, o Deaton o cortou, lhe encarando nos olhos com seriedade.

- é uma ordem! – ditou se virando.

- por que não vai você mesmo? – inquiriu chamando a atenção do mais velho.

- como? – indagou Alan, descrente da audácia.

- ele me odeia, Alan. E com razão, eu não nego. Ele não vai colaborar se eu for lá – explicou vendo o outro voltar a fechar a porta, para que o assunto não alcançasse ouvidos indevidos. 

- ele pode, muito bem, odiar você, mas ama a sua imagem – ditou o homem de chapéu, observando o outro estranhar suas palavras.

- o quê? –

- você é idêntico ao seu pai. Ele podia odiar você por dentro, mas ele ama o seu pai. Você não tem que ser você. Apenas seja para ele o que seu pai era. Wu não me importo se você esteja usando ele ou não. Apenas faça o que for necessário para trazer ele para o nosso lado – ditou voltando a se virar para a porta.

- e como porra eu vou fazer isso. Eu só sei como o meu pai agia em interrogatórios eu vou fazer p quê?! Interrogar ele?! –

- você pode não ter visto o seu pai. Mas você presenciou o relacionamento dele com o Peter. Faça o mesmo. Mas melhor. Comece dando isso a ele – Derek ergueu a mão quando Alan arremessou um pirulito que havia retirrado do bolso.

- Stiles adora doces. Dê um pirulito com um recipiente de café instantâneo. Duvido muito que Peter tenha dado café a ele nesses dias –

- café instantâneo?! – inquiriu, descrente.

- sabe aqueles doces antigos? Um pirulito com um pacote de açúcar com substância azeda e com corante? Alice usa o café instantâneo para isso. –

- isso é nojento! –

- não está aqui para julgar os gostos dele. Apenas o seduza com carinho fraternal. Faça ele gostar de você. E então você vai ter o maior soldado do país ao seu dispor, agente Hale –

- e por que você não faz isso? – Ele voltou a repetir a pergunta e Alan suspirou 

- porque ele saberia que eu estou apenas o usando. Mas vindo de um Hale? Ele vai se agarrar a esperança da possibilidade de ser real – disse o Deaton voltando a girar a maçaneta.

- isso é horrível! – exclamou o mais novo, indignado.

- não tanto quanto dizer que ele merecia ser estuprado pelo pai, Derek. Ele já passou por tanta coisa pior. Mas se acha que está sendo cruel demais, então não finja, faça de verdade. Como eu disse, não me importo. Eu apenas quero ele na coleira e trabalhando para nós -  o homem se retirou, deixando o agente de olhos verdes encarando a porta com perplexidade.

Derek abaixou o olhar para o pirulito em sua mão, antes de apertar o mesmo.

 

 


Sagitário, arfante, encarou a porta a sua frente. Era uma porta comum. De madeira, pintada de branco, sem verniz, descabelada redonda na cor vermelha. Acima da porta, havia um relógio. Ele encarava o desgraçado há dois minutos, enquanto tentava recuperar o fôlego. Estava abismado! Não sabia dizer se havia enferrujado na cadeia, ou se aqueles dois desgraçados eram extremamente treinados em atletismo.

Depois de começar a ignorar ambos os mascarados e se focar no ambiente ao seu redor, ele entendeu o jogo. Os filhos da puta estavam, ambos, lhe levando para portas. Cada um para uma. Mas se decidisse seguir os dois, não daria em nada. Seria beco sem saída. Mas ele também não sabia que cada um levava para uma porta. Então decidiu não seguir nenhum dos dois. Decidiu acreditar única e exclusivamente em seus talentos. E com isso, notou, no chão de um dos corredores, marcas de terra laranja. A mesma terra laranja que percebeu nos tênis brancos do jovem que lhe acordou no quarto que levava ao labirinto. E, s desviar o caminho ou dar ouvidos aos mascarados, ele conseguiu alcançar a porta de saída antes que o tempo acabasse.

- cansado, vovô? – a voz do mascarado sem efeito lhe chamou a atenção.

O homem de cabelos grisalhos desviou o olhar para o lado esquerdo, e visse o homem de máscara nos olhos. Sagitário se encontrava em um túnel de vidro, que era separado do labirinto por uma porta também de vidro. O seu túnel se encontrava no meio dos dois em que se encontravam os mascarados. Ao total, eram três portas diferentes, cada uma liga ao labirinto por um túnel de vidro. As duas portas eram vermelhas com maçanetas brancas. A ridada eletrônica do outro mas arado o fez olhar para a direita.

-  ele vai mesmo aguentar o tranco, Branco? Tem certeza? – inquiriu e logo o timer acima das três portas chegou a zero e as mesmas foram destrancadas eletronicamente, surpreendendo o mais velho dos três.

Os dois mascarados abriram suas portas sem preocupação e as adentraram. Sagitário imitou o ato dos dois, um tanto curioso quanto ao que encontraria do outro lado. Mas, assim que abriu a porta, se surpreendeu ao encontrar um enorme salão com quatro tronos dispostos em um circulo, separados dos computadores dispostos no centro do salão por uma certa área aberta e uma mesa também circular feita de mármore. Diante dos computadores no centro do salão, estava um homem de terno branco e máscara de coelho com pelagens brancas que lhe cobriam os fios de cabelo. Ele o reconheceu pela máscara imediatamente. Era o homem que havia lhe visitado na prisão, mas com roupas diferentes. Mas haviam algumas pessoas que ele não havia visto antes. Duas delas usavam máscaras brancas com símbolos de Paus e Outos. E os dois mascarados estavam cercados por dois homens cada. Esses quatro homens estavam vestindo mascaras de animais comuns. Um cão, um gato, um macaco e uma coruja. 

Sagitário se surpreendeu quando um dos mascarados que se encontrava no labirinto com ele, saltou a mesa de mármore e cruzou o espaço até se jogar no braço de um dos tronos, onde o outro mascarado já se encontrava sentado. E, só então, ao olhar os dois lado a lado, que Sagitário notou que suas máscaras se completavam. E, juntas, as duas máscaras possuíam o símbolo de Copas.

- eu esperava mais de você. Eu não vou mentir – ditou Branco, chamando a atenção para si.

- eu disse que ele está velho demais para isso – ditou o homem com a máscara de Paus com a voz eletrônica de sua máscara.

- velho é a sua tua mãe! – rebateu, irritado e ainda cansado.

- dá um descanso pro velho. Ele estava na cadeia há anos. Não tem uma academia descente lá para a terceira idade – falou o mascarado com o símbolo de Ouros e Sagitário se vou irritado mais uma vez.

- vou enfiar um par de alteres no seu cu! – ralhou o grisalho cerrando ao punhos, em uma ameaça de briga.

- cuidado que ele pode gostar – ditou um dos gêmeos, gargalhando log oem seguida, sendo acompanhado pelo irmão.

- eu tenho certeza de que ele iria gostar – falou Rainha e os gêmeos gargalharam com mais intensidade.

- eu não posso negar – disse o homem com máscara de Ouros dando de ombros e os quatro riram.

- eu vou ter que calar a boca de vocês matando cada um? – ameaçou o homem sem máscara e o silêncio se instalou entre eles, antes de os quatro voltarem a rir.

- impulsivo! Impulsivo demais para o psicopata que disseram ser – comentou Rainha vendo o mais velho lhe fitar com fúria nos olhos.

- essa porcaria não vale um centavo – comentou o homem com naipe de ouros.

- também não é pra tanto, Rei. Eu não jogo moedas em chafariz fazendo desejos – comentou Branco terminando de digitar algo no computador e girando a cadeira na direção de Sagitário.

- que circo dos horrores é esse? Vocês são um bando de nerd baitola vestindo máscaras! Não passa disso?! – 

O silêncio voltou a reinar.

- não gostou do nosso clubinho do crime? – inquiriu Branco rindo baixinho e cruzando as pernas e os braços.

- vocês são um bando de maricas sem juízo. Se quer sabem com o quem estão lidando! –

- um velho caquético de orgulho maior do que a faca – rebateram os quatro, instantaneamente.

- você! – ditou Sagitário apontando para Rei – foi você a mulher que me ajudou na prisão? Eu esperava mais de – o homem fora calado pelo ervuer de mão do mascarado.

- poupe sua saliva,  velhote. Eu sou homem. E nunca que eu iria pisar em uma prisão apenas para tirar um qualquer como você – 

- então cadê aquela mulher? Aquela, sim, é alguém com quem vale a pena trabalhar –

- você está falando dela? – inquiriu Branco estalando os dedos e, das sombras do teto, um corpo caiu abaixado ao seu lado.

Sagitário se assustou, bem como os homens com mascaras de animais. A mulher ergueu a cabeça, torcendo e retorcendo os braços, fazendo os ossos dos seus ombros estalarem. Ele encarou, confuso, a máscara de porco. Ele era um homem do interior, criado no mato para sobreviver. E ele conseguia perceber, claramente, que aquilo era um javali de verdade. Aquela máscara foi feita de um javali de verdade.

- esse pumba aí é aquela mulher? –

- sim. Eu mandei o meu bebê ir, pessoalmente, lhe ajudar a lidar com os guardas – Branco ergueu o pé e a mulher com cabeça de javali se abaixou ao seu lado, se sentando, permitindo que ele apoiasse o joelho em seu ombro.

Ela abraçou a sua perna com carinho.

- e qual é a da máscara? Eu já vi o seu rosto – indagou e a mulher sorriu.

- aquele rosto não era meu –

- o meu bebê é perita em artes plásticas. Trabalhava para a indústria cinematográfica. Ela pode criar e recriar rostos, inclusive roubar o rosto que quiser – acusou o homem de terno branco com orgulho.

- acredita mesmo que vou acreditar nessa merda? –

Branco apenas ergueu a mão, pressionando um botão em seu teclado e os monitores espalhados pelo local mostraram o rosto conhecido para Sagitário em uma cabeça de manequim, sem olhos, apenas pele e cabelos.

- eu apenas escolho os melhores, Adam. Cada um aqui é o melhor no que faz. E você... Bom... Eu fiquei sabendo que você desceu para o segundo lugar – comentou Branco erguendo a mão e passando a puxar as luvas brancas, as ajustando em sua palma.

- desci?! Como assim, eu desci?! – inquiriu, confuso e indignado – eu se quer sabia que estava em um ranking. Muito menos em primeiro lugar! –

- é. No mundo fora do país das maravilhas, você era o melhor sobrevivnte. Mas perdeu o pódio para outra pessoa –

- então por que não chamou esse cara? Porque me chamou? –

Um dos gêmeos gargalhou e o homem estranhou.

- reclamando de barriga cheia? – inquiriu Rei puxando uma taça de vinho ao rosto, guiando um canudo para trás da mesma.

- preferia estar na cadeia? – perguntou Rainha e o homem crispou is lábios.

- eu não chamei, porque a mulher que roubou o seu pódio, está trabalhando para o FBI – respondeu Branco chamando a atenção de Sagitário.

- como é?! Eu perdi para a porra de uma boceta?! – exclamou, indignado.

- sim. Para ela – Branco voltou a apertar um botão no teclado e os telões passaram a a exibir fotos de Erica Reyes.

- ela?! – exclamou, ainda revoltado.

- sim. E foi por isso que eu escolhi você. Não está indignado?! Não quer mostrar para ela o quão melhor você é? – provocou se erguendo e caminhando na direção do mais velho.

- e o que porra eu tenho que fazer para você? Porque não vai deixar a minha figa sair de graça – 

Os gêmeos voltaram a rir.

- pelo menos ele e inteligente para perceber isso –

- eu quero que você cace ela. Faça a vida dela voltar ao inferno – ditou Branco vendo o homem sorrir.

- é só isso? –

- é. É só isso –

- mas e quanto ao FBI? Não quero ser preso de novo –

- deixe isso com a gente. Ela vai ter apenas uma pequena equipe com ela. O resto do FBI cai estar muito ocupado com o resto de nós – ditou Branco e a mulher com máscara de porco gritou, igualzinho a um javali, surpreendendo a Adam, conhecido pela policia como Sagitário.

- ela entrou mesmo no personagem, não é? –

- bem como você vai –

- como é? –

- o seu papel é o Valete de Espadas – disse Branco e os olhos de sua máscara mudaram de vermelho para preto.

- hey! Eu não sou disso não. Negócio de Valete. Eu sou –

- cala a boca! Você não escolhe porra nenhuma. Branco dá os papéis. Você apenas diz se quer aceitar o papel ou morrer – Rainha o cortou, cruzando os braços e jogando os pés sobre a mesa.

- anda logo, velho. Rainha e eu temos negócios para administrar. Branco têm um compromisso marcado. Os únicos desocupados são aqueles dois alí! –

- a gente tem um golpe marcado pra hoje. Temos que bancar nossos lances – ditou o gêmeo com máscara nos olhos.

- espera aí. Ou eu aceito, ou eu morro? – 

- eu não deixo fios soltos, Adam –

- nesse caso, eu vou ter que ser essa porra de Valete. – murmurou o grisalho vendo o homem a sua frente dar de ombros 

- é um titulo temporário e secreto, não se incomode. Para a polícia, você ainda será Sagitário. Mas, quando for falar com esse cara, você vai se apresentar como Valete de Espadas – ditou estalando os dedos e a mulher com roupa escura e cabeça de javali apertou o teclado, fazendo várias fotos de Stiles Stilinski aparecerem surgirem no lugar das de Erica Reyes.

- ele é o seu objetivo? –

- é. É ele. Mas isso é tudo o que você precisa saber. Agora, vamos ver se você vai entrar para o time ou não –

- eu aceito. Não tenho outro jeito. Eu sou essa porra de Valete. É sério? Não tinha um nome melhor não? -

- eu não disse que era você quem decidia isso. – a fala de Branco surpreendeu Adam.

- como é? +

- Às de Copas. Vocês estavam com ele no labirinto. Acham que ele vale a pena? –

- e por que eles tem que decidir isso? –

- o homem que é o meu alvo. Ele tem o título de Alice. Um dos maiores títulos de onde eu venho. E ele é... Algo que você nunca viu antes na vida. Para atingir ele, eu preciso dos melhores dentre os melhores. Você é um assassino em série com uma incrível capacidade de sobrevivência. Rei é um traficante e fabricante de drogas com grande influência, fora o conhecimento vasto em química. Rainha possui uma influência avassaladora no mundo do crime. Quando ela quer alguém morto, essa pessoa morre pelas mãos de alguém que se quer sabe o motivo. Apenas faz porque Rainha quer feito. E os gêmeos? He he. Esses dois são treinados por mim desde a adolescência para se tornarem Alices. Eles são os mais aptos a dizerem se você fica ou morre – explicou Branco e o homem a sua frente se viu surpreso por um momento.

- eu sou alguma puta para acreditar nessa - ele fora silenciado, quase instantaneamente, ao mesmo tempo em que sentiu duas facas apontadas para si e uma dor intensa na orelha esquerda.

Uma das facas tinha a ponta da lâmina pressionada contra o seu peito, enquanto a outra lâmina possuía o fio encostado em seu pescoço. A sua orelha esquerda pingava sangue em seu ombro e ele sabia que havia perdido o lóbulo para a bala disparada por Rainha. Uma bala que fora disparada de uma arma que ele se quer viu ser apontada para si. Mas o que mais o silenciou não fora o fato das duas facas que q mulher com máscara de porco apontava para si, a qual ele se quer viu se mover e dar a volta no salão para lhe alcançar. Muito menos fora a habilidade de Rainha com armas. O que lhe calou fora a energia assassina que Branco emanava. O homem lhe encarava com a máscara de olhos brilhantes. O silêncio de sua parte era mais assustador do que se ele estivesse sem a máscara. A falta de expressão deixava Sagitário nervoso. Sem expressões faciais, ele não saberia o que o outro tramava.

- escute bem, Adam. Você pode falar de tudo o que quiser. Mas nunca ouse ofender Alices e o País das Maravilhas na frente de uma Alice –

- uma... Alice? Então você –

- é. Apenas uma Alice pode criar outras. E os gêmeos já são Alices. Agora.. vamos ver se você entendeu – Branco respondeu dando um passo a frente e colocando a palma da mão no cabo da faca que pressionava o peito de Adam, exatamente sobre o seu coração.

- o que você não deve fazer de jeito nenhum? – inquiriu exercendo pressão sobre a faca, criando um corte superficial no peito alheio. Branco puxpu o braço, ainda com a palma aberta e apontada para a faca, indicando que daria um golpe fatal em Adam.

- nunca ofender Alices. Eu entendi, eu entendi – ditou antes que o homem desse um golpe da palma aberta na arma em seu peito.

- ótimo. Às? – Branco se virou para os gêmeos, mas a mulher permanecia mantendo Adam sobre o alcance de suas lâminas.

- olha... O velho não parece ter tanto juízo quanto a outra candidata. Mas eu acho que ele é melhor para o cargo. Ele só precisa entrar em forma – disse o homem com máscara sobre o queixo.

- é. Nós podemos deixar o mini valete para posterioridade – concordou o homem com máscara sobre olhos.

- mas, se ele voltar a falar merda... – alertou o mascarado de parte superior do rosto exposta.

- nós matamos ele – os gêmeos disseram em uníssono lançando um olhar furioso para o mais velho, antes de tomarem um ar suave e ignorarem a sua imagem – 

- certo. Então Adam será o Valete de Espadas. Pode ir para o seu lugar e vestir a sua máscara, Adam. Nós vamos te explicar todo o plano – disse Branco se dirigindo par ao seu lugar e a mulher largou o homem, apontando com uma das facas para o trono vazio e recuando, desaparecendo nas sombras atrás dele.

 

Chapter 60: Shift

Chapter Text

Os gritos eram constantes. Eles iam e vinham sem nenhum controle de sua parte, ou até mesmo algum padrão ou sentido. As várias vozes gritando, ecoando pelo espaço amplo e então morrendo ao fundo como os seus donos, para logo em seguida retornarem gritando mais atrocidades e palavras difíceis de compreender em meio ao caos. O fogo dominou a sua visão e o seu corpo esquentou rapidamente. Sangue escorreu pelo seu rosto e ele levou a mão esquerda ao olho quando não conseguiu enxergar mais nada com aquele olho. Não sentou nada. Não havia mais olho. Agora era apenas a cavidade vazia por onde jorrava sangue. Levou as mãos ao campo de visão do olho direito, notando que suas mãos estavam separas dos pulsos por corte únicos, além de estarem pálidas e sujas de terra.

Como ainda as movia?

Não sabia. Apenas sabia que conseguia e que doía. E como doía. E elas não eram as únicas, abaixando o olhar, notara um corte igualmente limpo nos cotovelos. E ao olhar para o ombro direito, percebeu outro corte, com lâminas de vidro perfurando sua pele, acompanhadas de anzóis. O seu corpo tremia. A dor apenas crescia e fugia de seu controle. Logo, gritar se tornou inevitável. Respirou fundo, trêmulo, com dificuldade, grunhindo no processo, antes de berrar toda a dor que sentia. Ele fora calado alguns segundos após quando viu as adagas serem arremessadas e perfurarem suas mãos, sendo ligadas ao nada por correntes. Os grilhões foram puxados e suas mãos se foram com eles, parando alguns metros a sua frente.

Ele estranhou, mas não conseguiu pensar em nada, devido a dor que sentia. Logo viu mais adagas serem arremessadas em sua direção, perfurando suas pernas e virilha. Logo, todo o seu corpo fora perfurado por adagas com correntes e puxados para metros a sua frente, onde era remontado por Deus sabe quem ou o quê. A sua cabeça permaneceu imóvel, flutuante, observando todo o seu corpo despedaçado ser montado a sua frente como um manequim em um crucifixo. Dedos se emaranharam em seus fios de cabelo e lhe puxaram para trás, onde ele pôde ver um ser de terno branco e máscara de coelho igualmente branca lhe segurar a cabeça. Ele ouviu o outro rir divertido, antes de arremessar a sua cabeça no seu corpo.

Stiles inspirou profundamente de forma súbita ao abrir os olhos e se deparar, mais uma vez com a escuridão. Ao se sentar lentamente, ele pôde ver o ambiente ser levemente clareado por quatro portas que estavam dispostas ao seu redor, como se ele estivesse em uma caixa.

- você dormiu – a voz jovial se pronunciou, soando levemente acusatória.

- é. Eu sou um ser vivo. Eu TENHO que dormir – resmungou apoiando um dos braços sobre o joelho, enquanto inclinava o corpo para trás, o apoiando na outra mão.

- é estranho você dormir duas vezes no mesmo dia – a mulher comentou e o castanho abaixou a cabeça, irritado.

- eu tenho que descansar –

- está ficando enferrujado, garoto? -  a voz máscula ecoou seguida de um riso

- eu estou ficando farto. Isso, sim –

- deixem ele. Sabem que não dormimos muito bem. Mas precisamos disso. Ainda somos apenas um corpo humano. E corpos humanos precisam de dozes de sono. –

- ah, pronto! Lá vêm ela babar o ovo dele! – resmungou o homem.

-. Será que você só sabe reclamar, Rei? –

- É CLARO, PORRA! SOU EU QUE ESTOU TRANCADO! NÃO ELE! –

- CALA A PORRA DA BOCA! – gritou, revoltado, assustando os guardas, devido ao eco que o seu grito gerara.

- não precisa gritar –

- cala a porra da boca – rosnou em resposta, voltando a se deitar no chão frio e se encolhendo ali.

- AH! MEU! DEUS! Até quando você vai ficar aí se deprimindo por aquele cara como uma puta abandonada?! – o homem soava indignado.

- cala a porra da boca, Rei! –

- você tem que parar de ser um vagabundo insensível – comentou a voz jovial.

- o investigador é como um pai para ele. É claro que ele vai se sentir deprimido por ser abandonado aqui – comentou a mulher mais velha e Stiles suspirou, pesado.

Algumas vezes, ter vozes em sua cabeça era bom. Não lhe fazia se sentir solitário mesmo passando dias ou semanas sozinho. Mas, é óbvio que nem tudo eram flores. E o inconveniente era que ele nunca tinha controle sobre elas.

- e o que porra uma vadia velha como você sabe sobre laços fraternais?! Tu abandonou a tua filha, porra! – o homem estava revoltado.

- olha – a risada travessa interrompeu a sua fala – ela não teve muita escolha, não –

- aquilo foi completamente diferente! Eu fui forçada a isso –

- é. Realmente. Você foi forçada. Já o Peter está abandonando ele por livre e espontânea vontade –

- eu não queria falar nada. Mas ele têm razão –

Rei comemorou e o silenciou reinou logo após. Eles sabiam. Na verdade, sentiam. Tinham aquela conexão que, aparentava ser normal para o mundo, mas para eles era estranha: a sensação de sentirem uns aos outros. Saber o que sentiam e a intensidade disso. E aquela habilidade os silenciou por alguns segundos. Eles sentiram a ira sendo emanada da mente que comandava o corpo. Stiles estava furioso.

- Peter é um assunto sensível para ele. É melhor parar –

- há! E ele vai fazer o quê?! Me matar?! Somos um só! Não tem como ele fazer nada! –

- ele pode te mandar para longe de novo – pontuou Rainha e ela sentiu o ânimo desaparecer do homem.

Valete gargalhou.

- você coloca toda essa banca de marrento. Mas continua o mesmo verme. Adora ter ele por perto – acusou a mulher mais velha ouvindo um resmungo em alemão como resposta.

- Sabe que todos nós somos peritos em línguas, certo?  - a mulher argumentou em japonês e o homem voltou a resmungar.

- uma dupla de velhos caquéticos –

- mas voltando ao assunto: você sabe que Peter Tate está apenas te usando, não é? –

- é claro que ele sabe! Não tem como ele não saber dessa porra! –

O silêncio se instalou e Stiles entendeu que os quatro estavam lhe encarando.

- é. Eu sei –

- aquele engomadinho topetudo do caralho é igual aos outros, garoto. Não se deixe enganar por esse papinho de papai. Ele te elogia e passa a mão na cabeça. Mas é só você dar as costas que ele bota a cara de nojo –

- você foi mesmo um professor? Com esse linguajar... que decadência -  comentou Valete, indignada.

- eu tenho uma certa ideia do motivo pelo qual ele foi forçado a deixar a sala de aula – acrescentou Rainha.

- o ponto é: por que se humilha tanto por esse cara? Esse homem não lhe valoriza em nada, senão como mão de obra barata. Nós merecemos mais do que isso, garoto –

- nisso ele tem razão. Peter nos limita. Somos obrigados a viver em quartos, enquanto você é obrigado a viver nessa caixa de fósforos mofada que fede a mijo, vômito e suor – pontuou Valete, desgostosa.

- éramos livres. Por que temos que seguir ele? –

- ninguém aqui gosta dele –

- ele quis se livrar de nós –

- somos um só –

- ele quis matar a gente –

- se não gosta de nós. Não gosta de você –

- diz que você é foda –

- mas no fundo odeia a gente –

Stiles levou as mãos a cabeça, cobrindo os ouvidos e se encolhendo ao máximo.

- tudo seria melhor se o Peter morresse -

- se ele não existisse, nós não estaríamos assim –

- por que ele não faz como o outro cara e morre? –

- se formos livres de novo, seremos perfeitos –

- se nos livrarmos dele, será tão melhor –

- se eu estivesse no controle... –

- CALA A BOCA! SE. SE. SE. É sempre assim! Se vocês tivessem feito como eu mandei, ninguém estaria aqui! – o castanho explodiu, voltando a se sentar e encarando as portas coloridas ao seu redor.

O silêncio reinou por alguns segundos.

- bem. Se você não tivesse saído naquela noite... – Rei começou a falar, sendo seguido por sons exclamativos oriundos das outras três portas.

Os olhos de Stiles se arregalaram e ele direcionou um olhar furioso na direção da porta com o naipe de ouros desenhado em preto. Ao franzir o cenho, ainda irritado, o castanho viu a porta ser arrastada para a escuridão, se afastando de si. Em questão de segundos, a porta branca com símbolo preto desapareceu por completo, deixando apenas a parede da cela em que Stiles se encontrava. O castanho ouviu um suspiro cansado ao seu lado.

- ele precisava calar a boca. Mas eu não acho que... – Valete fora calada quando Stiles encarou a sua porta e fechou o rosto em uma careta de de raiva, fazendo a sua porta também desaparecer por entre o cimento, como em uma dimensão que apenas a porta poderia acessar.

- ela também?! – Rainha questionou, incrédula, antes de o castanho se virar em sua direção – EU TAMBÉM?! –  então a sua porta fora se afastando – que filho da puta! – foram as suas últimas palavras antes de desaparecer por completo.

- sabes que não vai se livrar da gente, certo? Eu sou tão forte quanto você, aqui, irmão. Não pode nos manter longe e manter ela presa ao mesmo tempo. Você precisa de nós. E nós de você – A única porta restante se encontrava atrás de Stiles, exatamente onde deveria estar a porta da solitária.

- silêncio, Copas!– rosnou antes de a porta ser arrastada para longe.

Stiles respirou fundo, encolhendo as pernas e abraçando os próprios joelhos. Abaixando a cabeça, ele apoiou a testa nas pernas e permaneceu ali, sentado no chão da solitária como uma criança arrependida que fora colocada de castigo. Era difícil colocar os pensamentos no lugar com tanta gente falando em sua cabeça.

A sua mente estava uma bagunça. O seu peito estava uma bagunça. Fazia anos que ele não queria chorar como queria agora. As vezes, ele se questionava qual era o seu problema. Como raios ele conseguia ser uma máquina de matar muito bem desenvolvida e treinada, e ainda assim ser tão fácil de derrubar. Era uma Alice. Uma treinada desde a infância. Enquanto algumas pessoas recebiam treinamento militar no final da adolescência e início da fase adulta, ele começou a receber o treinamento aos seis anos de forma igualmente rigorosa. Sem outra opção, o dominou, e ainda assim era facilmente derrubado pelo seu emocional perturbado.

- O amor é apenas uma história inventada para quando Peter morrer você alegar que ele era a sua religião –

Stiles revirou os olhos. Deveria imaginar que isso aconteceria. Sem os outros por perto e com o seu emocional destruído, ela ganhava mais liberdade. E, com isso, vinha a superfície para lhe perturbar. Ele ergueu a cabeça e olhou para a frente, vendo uma porta sem símbolo.

- nós não somos uma arte de Michelangelo! – protestou o castanho observando a madeira branquinha da porta, enquanto uma luz emanava pelas frestas, junto de neblina.

- não pode negar que Peter está nos atrasando. Está te machucando. Nos machucando –

- você que o diga, não é? Tem todas as qualificações para falar sobre o assunto –

- agora quer fazer julgamentos?! Não está tarde demais para cortar cabeças? –

- ME DEIXE EM PAZ! – gritou abaixando a cabeça, a escondendo ente os joelhos e cobrindo os ouvidos.

O castanho cerrava os olhos com força, desejando com todas as suas energias que aquela porta fosse embora mais uma vez. E então, ele arregalou os olhos quando ouviu o estalo da tranca sendo girada. O seu corpo gelou em pânico, antes de esquentar com a fúria. Ao erguer os olhos com ódio queimando neles, ele esperou que a porta se trancasse mais uma vez. Mas, diferente do esperado, ela apenas se abriu, revelando um corpo másculo e alto. O rapaz estranhou.

- Derek? – inquiriu, confuso, vendo que a porta não era mais feita de madeira de um branco impecável, mas sim de um ferro cuja camada de ferrugem era impressionante para uma porta ainda em funcionamento.

- eu... Tenho que conversar com você... –

- eu não gosto desse cara – a voz feminina de copas voltou em sua mente e Stiles revirou os olhos.

“Eu não sei qual de vocês é mais insuportável!”

- você tem que escolher. Ou a cobra. Ou a gente -  cantarolou Rainha com divertimento na voz.

Derek suspirou, coçando o braço. O rolar de olhos do assassino de cabelos castanhos batendo nos ombros assustou o Hale com a possibilidade de o homem não ajudar na investigação. Ele estava desesperado para pegar o terrorista intitulado como Branco. O moreno de olhos verdes encarou o mais jovem vendo o mesmo erguer o olhar em sua direção, com tédio.

- é claro que tem. Todo agente desse país tem algo para conversar comigo. Acontece que... Eu não quero falar com ninguém -  ditou o castanho erguendo os braços, se espreguiçando, antes de se colocar de quatro com o abdômen para cima e engatinhou com certa velocidade para a área escura da cela.

Derek arregalou os olhos, vendo o assassino desaparecer nas sombras do local mal iluminado, em um engatinhar contorcido, como se estivesse atuando para alguém filme de terror.

- mas que porra foi isso?! – indagou um dos agentes carcerários encarando a cela, aparentemente, vazia.

O moreno de olhos verdes coçou a garganta, encarando o local em que Stiles desapareceu nas sombras. Nervoso, ele deu um passo a frente, adentrando o ambiente, se mantendo na zona iluminada, que era uma cópia deformada da porta.

- preciso falar com você... De homem para homem... – o moreno se pronunciou, ainda nervoso, encarando as sombras a sua frente.

- esse cara não bate bem da cabeça – murmurou um dos homens atrás do Hale, esticando o braço e apontando uma lanterna para dentro, iluminando a área a frente do agente do FBI, se surpreendendo ao não encontrar nada além da parede.

Eles foram surpreendidos pela ausência do homem. E aterrorizados quando um pé chutou a lanterna vindo da lateral, a arremessando para fora da cela.

- MAS QUE PORRA! –

- eu não sou um homem. Eu sou mais do que isso –

O moreno de olhos verdes respirou fundo, tentando se acalmar. Não gostava em nada do que estava fazendo. A ideia de iludir uma pessoa com dependência emocional com o intuito de a solucionar um caso relacionado a ela. Um caso que expunha seus traumas mais fortes. Ele não queria fazer o castanho passar por aquilo. Não importava o que ele tivesse feito. Ninguém merecia reviver tudo o que havia passado quando era apenas uma criança indefesa. Ninguém merecia lembrar que as pessoas que deveriam lhe instruir e proteger, apenas quiseram lhe destruir.

- Então de homem para quê? – inquiriu o Hale olhando na direção de onde o chute viera, mas Stiles lhe surpreendeu saindo das sombras que se encontravam de fronte a porta.

- para tudo. Eu sou homem, mulher, garota, criança. Posso ser o que eu quiser. Eu sou Alice –

- certo. De homem para Alice – ele falou dando um passo na direção do castanho, que gargalhou e recuou para as sombras mais uma vez.

- acha que estamos em pé de igualdade?-

- bom... Eu posso te levar ao Peter, se você me levar a alguém que eu quero – ditou erguendo o pirulito entregue a si por Alan.

Os oficiais atrás de si estranharam o ato.

- acha mesmo que a porra de um pirulito vai me fazer trabalhar para você?! – o assassino soou indignado e se manteve na escuridão.

- não. Não acho. Eu lhe devo um pedido de desculpas –

- hm? – o som indagativo veio da esquerda, e Derek se virou para a direção.

- o que eu fiz a você... O que eu te disse... Não têm justificativa que o transforme em um ato que dispense desculpas. – o seu tom de voz calmo tentava passar o seu arrependimento. O sentimento intenso que havia sentido quando olhou para as provas que, agora, se encontravam na base da divisão, penduradas em quadros. A imagem perturbadora das correntes ensanguentadas e da boneca destruída, sobre um colchão repleto de mofo e poeira.

- depende... De qual delas você está falando?  Você já me disse tanta coisa! – perguntou em um tom de zombaria, rindo logo em seguida.

Derek sabia que ele já não se encontrava mais a sua frente. Ele apenas não sabia que, atrás de si, mãos pálidas se projetavam das sombras, ameaçando lhe agarrar o pescoço com força. Os agentes miraram de prontidão nos dois braços que surgiam das sombras da cela.

- Eu estava furioso. Eu te odiava. E eu ainda achava que você tinha me tirado o meu pai. Então eu só... Falei a primeira coisa que poderia machucar qualquer pessoa, inclusive você. Eu não pensei, verdadeiramente, no que eu estava dizendo. Apenas para quem eu estava dizendo – as mãos atrás de si pararam de tentar lhe alcançar de forma agressiva, tomando uma pose de rendição, antes de tentar lhe alcançar as costas, e recuarem para as sombras segundos antes de o agente se virar.

- me desculpe. Você não merecia o pai que teve. Ninguém merece.  –

- você acha mesmo que um pedido de desculpas é o suficiente? –

- não. Não é o suficiente. Mas é um começo – respondeu voltando a oferecer o pirulito ao criminoso – o que acha? Não quer ir ver o Peter? –

- e por que eu iria querer ver aquele mentiroso? -  o castanho se retirou das sombras, com as mãos nos bolsos, atravessando o feixe de luz que adentrava o ambiente pela porta, e retornando para as sombras.

- como ? – Derek se viu nervoso.

Stiles sabia?

- ele mentiu para mim. Ele mente para mim. Por que eu iria querer ver alguém assim? Por que eu iria querer me juntar a alguém como ele? – perguntou fazendo sua mão surgir na luz, passando a brincar com os dedos ali.

- eu não sei sobre o quê o Peter mentiu, mas ele só estava tentando proteger você – o moreno tentou argumentar para que Stiles não se afastasse de seu tio, ou da ideia de ajudar nas investigações.

- o seu argumento, por si só, já vai por terra ao admitir não saber sobre nada – o homem de cabelos castanhos rebateu o argumento, antes de surgir diante de Derek, aproximando do agente, deixando os seus rostos próximos o suficiente para apenas sussurros serem proferidos – e eu pareço alguém que precisa de proteção? – murmurou antes de voltar a se afastar, mas fora impedido de entrar nas sombras pelo moreno, que lhe agarrou o pulso.

- sim. Precisa. Todo mundo precisa. E você

- eu preciso de que proteção, Hale? O que poderia me destruir, hein? O que diabos poderia fazer isso depois de todo esse tempo? –

- o seu passado – a resposta silenciou o assassino, que lhe fitou com surpresa por um mísero segundo.

A mesma reação que tivera quando Alexander lhe perguntou sobre o que ele sonhava.

- Peter sabe que ele é uma das poucas coisas que podem te machucar. Você pode ter essa armadura que passou anos criando. Mas ela não lhe protege do que vem de dentro, apenas do que vem de fora – o agente de olhos verdes argumentou, observando o castanho lhe fitar com seriedade, em silêncio.

- então

- eu não sei o que meus pais viram em você. Mas, se para eles, valeu a pena... Eu quero ver também – o Hale pronunciou soltando o pulso alheio.

- hunf. Isso não é algo que eu possa providenciar. Depende apenas de você – argumentou voltando as sombras, sumindo mais uma vez.

- mas você pode ficar comigo até que eu veja – argumentou o agente, não percebendo a surpresa no olhar do assassino que se escondia na escuridão da cela. – eu sei que não tenho o direito se lhe pedir isso. Mas, por favor, me ajude a prender esse cara. Fique comigo para eu poder ver o que meus pais viram. –

O silêncio reinou na cela por alguns bons segundos, que se arrastaram como minutos para Derek. Do lado de fora da cela, os agentes carcerários apenas conseguiam chegar a conclusão de que aquele era o diálogo menos esperado, por eles, entre um agente e um prisioneiro da solitária.

Não acredito nele” Copas pronunciou e Stiles pôde ver a porta atrás de Derek dar lugar a porta de madeira branca mais uma vez.

Igualzinho aos outros. Ele não nos quer. Ele quer nos usar”. Cuspiu Rainha e a sua porta surgiu a direita de Derek.

Vai te encher de elogios, mas quando der as costas, vai proferir tudo o que realmente pensa de você. Ele nos odeia”. Rei pronunciava com fúria e sua porta surgiu a esquerda do Hale.

Há algo errado”. Foi tudo o que Valete disse e Stiles passou a caminhar ao redor de Derek, pelas sombras.

- Peter não me quer nessa investigação. Por que você iria querer? Você me odeia! Por que me pediria para ficar com você? –

- porque agora eu entendo. Você não sofreu por ser um criminoso. Você virou um criminoso porque você sofreu, Stiles. – respondeu se colocando de frente par ao castanho e erguendo a mão, se surpreendendo ao conseguir, de fato, apertar o ombro alheio.

- você era só uma criança e ninguém conseguiu te ajudar –

- você realmente acreditou nessa baboseira que falei? – inquiriu o assassino em tom zombeteiro, afastando a mão de seu ombro e se afastando do agente, adentrando a luz da cela - não seja idiota, agente Hale. Foi uma mentira contada para persuadir uma criança. Eu nunca –

- achamos a casa em que você viveu com os seus pais, Stiles - o assassino parou de se mover – achamos as correntes, o colchão mofado. Nós sabemos a verdade. Você mentiu. Mas apenas quando disse que sua mãe chamou a polícia e te ajudou a prender o seu pai –

ele sabe!”. As quatros vozes soaram acusatórias.

- o que disse? – inquiriu retornando para as sombras, se escondendo do agente enquanto levava as mãos aos cabelos, tentando reduzir o som das vozes em sua cabeça, que não paravam de acusar o homem atrás de si.

- nós achamos a sua casa –

- isso é impossível! –

- mas nós achamos! –

- como?! Como fizeram isso? Como acharam aquele lugar?! –

- nós fomos levados até lá –

- levados?! Quem diabos... – o castanho parou imediatamente.

Derek suspirou.

- Stiles... O homem que preciso que você me ajude a prender –

- é o Coelho Branco, não é? – a pergunta do assassino surpreendeu o agente, que fora cortado pelo mesmo.

- como sabe sobre ele? – inquiriu o agente, perplexo.

- esteve nas notícias, Derek. Um massacre em uma boate, e o suspeito fora um homem com máscara de coelho branco que perseguiu um homem até o metrô -

O moreno de olhos verdes se espantou instantaneamente.

- Maybelle tem televisão e acesso a internet. Não me diga que você esqueceu. – o gargalhar malicioso ecoou pelo ambiente – Jesus! Você ao menos lembra que eu deveria estar preso em Alcatraz e não aqui? –

- se estivesse em Alcatraz, não poderia me ajudar – o Hale rebateu e o Stilinski sorriu de canto.

- uma arma deve ser mantida acessível, não é mesmo? – Derek engoliu em seco.

Sabia que Alice odiava ser visto como uma arma. Ainda se lembrava de Miami, quando, em um hospital, Stiles roubou a arma de Scott e a apontou para a própria cabeça e gritou com Peter por estar sendo usado. Se recordava também de quando seu tio Peter lhe explicou, no avião, uma vez, que isso também era consequência do problema psicológico do assassino. O Transtorno Dissociativo de Identidade fazia com que os seus portadores não se sentiam donos de seus corpos. No caso de Stiles, como era um tipo de soldado super desenvolvido, isso o fazia se sentir como um objeto, uma arma.

- você não é uma arma, Stiles. Você é uma pessoa! Uma pessoa que trabalha comigo e é mais eficiente do que muitos agentes com quem já trabalhei –

Outra risada fora proferida por parte do assassino.

- você realmente sabe bajular uma pessoa normal. O treinamento fez efeito. Mas eu não sou normal, Derek. Eu sou de outro lugar –

- por isso que eu trouxe o pirulito –

- hm? Prender um coelho Branco por um pirulito?! Acha mesmo que é um preço justo? Você ao menos sabe – o assassino fora cortado pelo agente

- você não quer proteger o Peter? –  a pergunta silenciou Alice por um tempo.

- eu não entendi –

- Branco tentou matar o Peter. O levou até a sua casa, o trancou lá e incendiou a . E disse que sabia onde encontrar as nossas famílias – o moreno pontuou, apelando para o lado protetor do castanho para com o seu tio.

Se Sebastian Crane havia morrido por apenas acertar uma bala no braço de Peter, Branco poderia sofrer o mesmo destino por ter tentado explodir o seu tio.

- eu sei que você está chateado com o meu tio, porque ele mentiu para tentar não te machucar. Mas você ainda gosta dele. Você ainda gosta da minha mãe e das minhas irmãs. Você... Iria adorar a minha filha, se a conhecesse. Ela é louca por Alice no País das Maravilhas –

O Hale fora surpreendido quando o castanho saiu de seu esconderijo, se colocando a sua frente, com seriedade. Não era preciso ter o instinto de Erica para perceber a raiva queimando no corpo do homem magro. Stiles sorriu de canto e Derek engoliu em seco, nervoso.

- o que eu ganho? – o moreno de olhos verdes piscou, confuso.

- como? –

- o que eu ganho por proteger vocês mais uma vez? Dá ultima vez, eu sofri uma punição por proteger o seu tio. E todas as vezes em que me foquei em te proteger, sofri alguma injuria –

Derek fora pego de surpresa pela acusação. Uma acusação real. Se recordava de todas as vezes em que seria ferido diretamente pelo suspeito, e Stiles se colocou a sua frente como um escudo humano. No caso do assassino das palavras, o castanho rebateu uma lâmina arremessada com a própria arma, e se colocou diante de sua mira para evitar que a faca lhe acertasse. Stiles não se importou de levar um tiro seu, contanto que parasse a faca arremessada. Já no caso do Jaguadarte, Sebastian Crane mirou em si com um rifle de precisão e, mesmo tendo ciência de como destrutiva uma munição daquela poderia ser, Stiles não se importou de se colocar na mira, contanto que lhe tirasse da trajetória. Não funcionou completamente, mas, ao menos, conseguiu evitar um dano maior.

- primeiramente, você não vai matar ele. Você vai prender ele – Derek esclareceu vendo o castanho inclinar a cabeça para o lado.

- mas eu nem disse se toparia ou não –

- se aceitar ajudar... Você... Gostaria de ver a minha mãe, de novo? – inquiriu Derek, nervoso.

Ele ainda não tinha certeza se seria uma boa ideia. Mas quando parava para analisar e percebia que, da última vez, sua mãe havia acalmado o assassino enquanto nem mesmo Peter conseguia, aquele parecia ser um bom jeito de evitar o pesadelo do seu tio.

Dois coelhos com um tiro só.

Stiles apenas abriu a boca e colocou a ponta da língua para fora. Derek franziu o cenho, ouvindo ao fundo, os guardas murmurarem exclamações somadas a xingamentos. O Hale ignorou os questionamentos e lambeu os lábios secos. A sua vontade era de mandar Stiles se virar, mas ele se conteve. Aquele era o jeito estranho de Alice dizer que estava dentro. Maravilhanos são estranhos, ele pensou. O moreno, como resposta, apenas desembrulhou o pirulito e o colocou na boca alheia, vendo um sorriso infantil surgir no rosto adulto.

- eu não vou matar ele – as palavras do castanho aliviaram o agente - Mas é melhor deixar uma ambulância de prontidão –

Derek franziu o cenho.

- como é? –

- eu vou machucar ele muito. Vou deixar ele a beira da morte. E aí, sim, ele vai ser seu – ditou passando pelo moreno de olhos verdes, que se virou, para o encarar por sobre os ombros.

Assim que o prisioneiro passou pelo agente, os guardas ergueram as armas em sua direção, preparados para atirar se fosse necessário. Derek suspirou, seguindo o assassino, que não se importou com as armas apontadas para si.

- contanto que eu possa interrogar Branco depois, você pode fazer o que quiser com ele – comentou erguendo a mão, sinalizando para que os guardas não atirassem.

Eles se afastaram, ainda assustados com a aproximação do assassino.

- ah! Eu queria que tivesse café! – resmungou o detento ao mover o pirulito para o canto da boca, enquanto seguia pelo corredor.

- hey! – o castanho olhou por sobre o ombro em tempo de ver o agente federal arremessar um pequeno embrulho em sua direção.

Alice o agarrou sem problemas, se surpreendendo ao perceber se tratar de um pacote de café instantâneo. Ele ergueu o olhar do pacote para o agente, que se aproximava, franzindo o cenho.

- você tem um gosto estranho – comentou Derek ao alcançar o assassino.

- Peter não me quer na investigação – fora a vez de Alice comentar, enquanto abria o pacote de café e mergulhava o doce ali dentro – então quem te mandou aqui? –

Derek fora pego de surpresa. Ele não queria dizer a Stiles que fora mandado ali. O castanho poderia perder o pouco da confiança que tinha em si, naquele momento. E ele precisava muito da ajuda do castanho naquele caso. Temia que Stiles voltasse a recusar participar das investigações. Mas, ao mesmo tempo, não poderia mentir para ele agora. Já estava fragilizado o suficiente com mentiras. Pegar mais uma, poderia o repelir mais uma vez.

Derek suspirou.

- Alan? – questionou dando as costas ao agente e voltando a seguir o percurso.

- eu queria colocar você no caso. Tio Peter estava com medo de você... Se machucar e voltar a sua vida de crimes. Então ele me proibiu de vir lhe buscar. Mas Alan acha que não vamos conseguir a tempo sem você. Sendo assim, ele me ordenou que buscasse você – respondeu Derek, bufando logo em seguida – eu tinha acabado de fazer as pazes com o tio Peter. Não queria ir contra ele. Mas não posso ignorar uma ordem do Deaton. Ele é o meu superior –

- fazer as pazes com Peter? –

- você sabe a história. Não precisa que eu reconte tudo – resmungou o agente, não notando os olhares confusos dos guardas atrás de si.

- aquele velho safado! –

- você não iria aceitar se fosse ele no meu lugar, não é? –

- nem fodendo. Eu ia meter esse pirulito no olho dele – respondeu voltando a mergulhar o doce no café instantâneo.

Derek riu fraco. Imaginar a cena seria, de fato, engraçado. Mas quando se recordava de que era Stiles a sua frente, a maior parte da graça se perdia.. Stiles já forçado a aposentadoria de um carcereiro aos onze anos de idade, usando as algemas que estavam lhe prendendo. Usar um pirulito para cegar Alan Deaton não deveria ser um grande desafio para a sua forma adulta. E foi pensando nisso que o moreno de olhos verdes fora pego de surpresa quando Stiles simplesmente parou de andar e se virou bruscamente em sua direção, aproximando os seus rostos. O castanho lhe encarava com questionamento, com os olhos a centímetros dos seus, enquanto as pontas de seus narizes se tocavam.

Instantaneamente, os guardas apontaram as armas para o assassino. Frustrados por não terem uma visão limpa do alvo, eles apenas permaneceram a mirar nos dois corpos a sua frente rezando para que não tivessem que atirar em dois corpos. A ameaça era clara e Derek não precisava que fosse colocada em palavras. O agente engoliu em seco, enquanto sua mão tremia  levemente sobre o coldre em sua cintura.

- Derek... Você... Não mentiria para mim, mentiria? – a pergunta do Stilinski o pegou desprevenido.

- n-não – ele se xingou por gaguejar.

Mentiroso!”

- tem certeza? Não está mentindo... Você está? – o tom suave e simpático do outro fez com que o agente engolisse em seco mais uma vez, nervoso.

- eu não estou. Pode confiar em mim, Stiles –

Vai nos trair como todo mundo!”

- eu não vou mentir para você –

- sabe? – ele interrompeu a si mesmo ao rir brevemente – todos os meus amigos me traíram. Agora, estão todos mortos – a sua voz soou fria quando ele concluiu e os guardas voltaram a colocar os dedos sobre os gatilhos de suas armas, prontos para qualquer tentativa do detento. Quando Alice girou o corpo bruscamente, se colocando de costas para o agente e o encarando por sobre os ombros.

- mas nós não somos amigos – comentou com um sorriso de canto, antes de voltar a seguir o caminho.

Derek encarou as costas do assassino, ainda um tanto assustado com a situação. Aquilo fora claramente uma ameaça. A pergunta que ficava era: Stiles havia percebido o que havia feito? As vezes, o Hale se perguntava se o transtorno do castanho o forçava a agir de modo inconveniente sem que ele percebesse. Seguindo o assassino em sua caminhada, o moreno suspirou, respirando fundo, tentando acalmar o peito .

- agora, a pergunta é: isso melhora ou piora a situação? – murmurou enquanto via o homem a sua frente voltar a afundar o doce no pó de café instantâneo. – isso é nojento! – sibilou pada que o assassino não o ouvisse.

Derek voltou a engolir em seco.

Funcionaria, certo? O plano de Alan tinha que dar certo. Ele já estava se sentindo mal por ter que ir contra o tio mais uma vez, ainda mais em um assunto em que ele não era nada experiente. Se o plano fosse por água abaixo e Alice voltasse





- e então? – inquiriu o louro assim que Allison e Isaac se sentaram a mesa redonda, sendo observados por alguns agentes que ainda trabalhavam com as provas da casa incendiada.

Era tão difícil quando se tinha apenas fotos e não a cena em si para analisar.

- as bombas foram revestidas com espuma. E, analisando as câmeras de segurança, descobrimos que eram ursos de pelúcia – explicou Isaac observando o louro e outros agentes franzirem o cenho, curiosos.

- um urso de pelúcia? –

- um gato, segundo uma capitã de um dos corpos de bombeiros atacados. Ela recebeu um gato de pelúcia de um admirador secreto – ditou Erica, se sentando sobre a mesa, ao lado de Allison, lançando um olhar analítico no ambiente.

- um gato? – inquiriu um dos agentes, curioso.

- as bombas tem um mecanismo simples de detonação. Pelo que pude analisar com os restos encontrados pelos forenses, mas a sua carga... É muito carregada. Possuí dois núcleos de detonação. É uma bomba pequena, mas de alcance considerável – explicou a Argent e Lydia se aproximou do Tate com uma cópia do relatório dos forenses sobre o explosivo.

- e qual substância foi usada como carga? Podemos seguir ela até encontrarmos o cara – sugeriu um dos agentes vendo Peter analisar os papéis e Lydia suspirar.

- trinitrotolueno – respondeu Isaac se recostando a cadeira e cruzando os braços.

- não vai ser, realmente difícil rastrear isso – comentou Lydia ao ver

– o problema é que pode ser uma perda de tempo – ditou o Lahey chamando a atenção dos agentes.

- e por que diabos? –

- ele não usou apenas TN por acaso, ou por ser um explosivo fácil de manusear, já que ele não explode sozinho com facilidade.  Ele usou TNT para derreter e misturar com outros explosivos –

- e onde isso se aplica a uma busca falha? – inquiriu outro agente, sem entender o ponto do louro.

- TNT é uma substância extremamente comum por ser um explosivo militar e muito utilizaod em demolições controladas –

- eu ainda não entendi, Isaac – comentou Allison, pensativa.

- acham que ele roubou todo esse TNT de uma vez só? Acham que ele ficou esperando, para então fazer tudo de última hora? Qual é, Allison? Peter disse que esse cara está no nível do Stiles. E o Stiles não faria uma merda dessas, a não ser que quisesse ser encontrado. -

- e ele só iria querer ser encontrado se tivesse feito uma armadilha – concluiu Erica observando o cacheado menear em concordância.

- obviamente, ele deve ter adquirido esse TNT de pouco em pouco. Em quantidades que não chamariam a atenção caso sumissem. Eu sei lá! Invadiu alguma base militar, roubou empreiteiras. Eu não sei. Mas o cara que conseguiu encontrar a casa de Alice e a transformou em uma armadilha gigante no nível Jogos Mortais não iria ser tão burro e tão pouco meticuloso –

- ele tem um ponto. Algo não está cheirando nada bem – comentou Scott, observando Peter e Allison se tornarem pensativos.

- pode ser que sim, mas também pode ser que não. Estamos lidando com um coelho Branco. Alice fazia as coisas de um heito único e peculiar. Podemos esperar o mesmo vindo dele – Disse Alan vendo i Tate menear em concordância

- Lydia, vá investigar se houve alguma movimentação suspeita em alguma base militar ou em demolições. Pode ser que não dê em nada, mas, no momento é tudo p que temos sobre as bombas. – ordenou Peter vendo a ruiva menear positivamente e seguir para o seu computador, mais uma vez.

- Matt, investigue as câmeras de segurança. Eu quero saber como esses ursos de pelúcia foram tão facilmente espalhados pelo sul do país – ordenou o Deaton vendo o rapaz castanho de óculos menear em compreensão e já começar a digitar em seu computador.

- alguma novidade quanto a casa? – inquiriu o Tate vendo alguns agentes negarem com a cabeça.

- eu fiz algumas investigações e descobri que a conta bancaria usada para pagar as contas e impostos da casa estão no nome de Adrian Harris – uma das agentes se pronunciou enquanto se erguia e se aproximava dos dois agentes mais velhos.

- a vítima do Rei de Ouros? – perguntou Alan, curioso.

- sim. Eu entrei em contato com o banco e informei a situação. Eles me passaram a ficha do cliente. – a mulher entregou duas folhas impressas.

- é parecido com a vítima. Mas não é, exatamente ela – comentou Peter observando a imagem do homem de cabelos parcialmente grandes e cacheados. Ele tinha uma pele morena e olhos verdes

-e parece latino – comentou Alan observando o louro menear em concordância.

- o problema está na existência dele – comentou a agente, despertando a curiosidade alheia.

- como assim?

- Acontece que esse Adrian Harris não existe em nada. Nem em cadastros do governo, nem em redes sociais – respondeu vendo os outors franzierem o cenho, pensativos.

- e a digital usada? – perguntou Scott vendo a mulher se virar para lhe fitar.

- é a mesma do defunto –

- mas e a fonte de renda? –

- é uma conta fantasma. Não tem um único centavo nela – respondeu a agente vendo os superiores franzirem o cenho em sua direção. – todo mês é transferida a quantia exata necessária para as contas da casa –

- transferidas de onde? –

- várias contas diferentes. Todo mês é uma conta diferente. Conta com dinheiro o suficiente para não perceber o sumiço –

- ele pula de conta em conta, apagando suas pegadas –

- e de onde, exatamente, essas transferências são feitas? – Peter questionou já imaginando a resposta que receberia.

- os analistas não conseguiram chegar em nada. Sempre um IP novo. Sempre internet pública, em um aparelho que nunca mais foi rastreado –

O desânimo dominou. Os agentes suspiram, se vendo mais uma vez de mãos atadas. Chegava a ser frustrante. Como diabos alguém conseguia cometer aqueles crimes, deixando implícito como os realizava, mas sem nunca deixar uma única pista sobre si?

- o filho da mãe não tem apenas habilidade e potencial. Ele tem recursos – comentou Vernon cruzando os braços diante do peito, marcando os músculos na vestimenta.

- esse cara já está me irritando. Afinal de contas, por que diabos ele está fazendo isso? – resmungou Erica, cruzando os braços, irritada.

Peter suspirou.

- eu já disse. Ele quer tirar Alice da cadeia –

- tá. Está bem. Mas, ele precisa? -  a pergunta da loura surpreendeu o agente. – olha para isso! Esse cara sabe que Alice está com a gente. E, se o Stiles tem essa habilidade toda que vocês dizem, o que, para deixar bem claro, eu não duvido nem um pouco que ele tenha –

- somos dois – ditou Vernon

- três – disse Isaac.

- quatro – comentou Allison

- o Stiles poderia, muito bem, simplesmente fugir da gente, se ele quisesse. A maior prova disso foi o Jaguadarte. O cara sumiu e reapareceu com a cabeça do desgraçado no colo. Então, eu volto a perguntar, ele precisa disso estando com a gente? – concluiu Erica observando Peter abaixar o olhar, preocupado.

Ainda era seguro usar Stiles em suas investigações? Os membros do conselho não veriam problema nisso? Como o final daquele caso iria afetar a divisão? Eram tantas perguntas com as quais ele não poderia lidar agora.

- Erica tem razão – comentou Vernon – qual é o sentido disso? Ele sabe que Alice pode fugir quando quiser. Quer dizer, ele tem espionado a gente há um bom tempo! A sala do Derek está cheia de fotos nossas. Então para quê? Por que começar uma guerra civil por alguém que não precisa de ajuda? –

- porque ele quer – a resposta surpreendeu os membros da divisão, que arregalaram os olhos, direcionando os mesmos para o dono da voz.

- Stiles?! – inquiriu Peter, perplexo, vendo os agentes abrirem espaço para o detento, que era seguido pelo agente Hale.

- porque ele pode. Porque vocês, sozinhos, claramente não conseguem impedir ele. E o mais importante: porque é divertido – concluiu o assassino parando diante da mesa, observando os olhares surpresos de Peter e dos membros da divisão.

- divertido?! - exclamou um agente, indignado.

- Alice – cumprimentou Alan, meneando uma vez na direção do homem de cabelos castanhos batendo nos ombros.

- capeta velho – o castanho cumprimentou de volta e o Deaton riu baixinho

- o que ele está fazendo aqui? – indagou o Tate lançando um olhar questionador desesperado na direção do homem de chapéu e sobretudo.

Alan deu de ombros, em resposta.

- é assim agora, Peter? Também vai fingir que não existo? – o questionamento do castanho surpreendeu o louro.

- ho ho! O filhinho voltou rebelde! – exclamou Scott com um sorriso venenoso nos lábios, cruzando as pernas e os braços, estando apoiado em uma parede.

- Scott! – ralhou Derek, irritado.

- Stiles, não é nada disso – comentou o louro, pesaroso.

MENTIROSO!”

- mentiroso! – ralhou o castanho, surpreendendo o louro e ao resto da equipe.

- esse é o assassino mirim de vocês? – inquiriu um dos agentes, desconfiado.

- ele fala como uma criança – comentou outro, igualmente desconfiado.

- Stiles, tente entender –

- mentiras. Mentiras. Mentiras. Apenas mais mentiras –

- eu estava protegendo você –

- você me traiu! –

- não. Eu não traí! – o louro protestou e Stiles ignorou a imagem da porta branca atrás do homem para se focar na expressão séria e preocupada do mesmo.

olhe só a cara dele. Se quer treme!”

Exclamou Rei e Valete gargalhou.

Mente que nem sente”. Provocou Rainha.

- Stiles, eu sei como –

- você é igual aos outros! Você só queria me usar! -

- não! –

- Stiles, podemos discutir problemas particulares depois – ditou Derek tocando o ombro do assassino o vendo reprimir o ato ao girar o ombro, retirando a sua mão dali.

- não me toque! Temos um trato, mas isso não quer dizer que te dou essa liberdade. Você é ainda pior do que o seu tio. Você consegue ser pior do que muitos –

- Alice! Você está aqui para ajudar. Não para piorar a situação com drama – repreendeu Alan observando o assassino manter um olhar fixo irritado em Peter Tate.

- eu não vim aqui para ajudar, velho infeliz. Eu vim aqui fazer o trabalho de vocês. De novo. Porque vocês são uns inúteis que não conseguem, se quer, perseguir um criminoso –

- é um copiador imitando um coelho Branco – rebateu Alan tentando clarear a mente do assassino, mesmo que, ele mesmo, tivesse dúvidas se era um copiador ou um sucessor.

- não me refiro a Branco. E ele não é um copiador – a resposta do Stilinski gerou questionamentos nos agentes.

Ele havia acabado de chegar. Como sabia se era uma cópia ou não? Vernon proferiu as dúvidas de todos observando o castanho se virar em sua direção.

- eu vi as notícias do ataque a boate. E sobre a perseguição até o metrô –

- ainda não encontramos o corpo do alvo daquele ataque. Acreditamos que ele conseguiu escapar de Branco – comentou Rafael.

- e nem vão achar. Porque não há corpo. É por isso que sei que é um coelho Branco legítimo. Ele fez vocês pensarem que o alvo do assassinato era aquele cara. Quando na verdade, ele apenas queria usar ele – argumentou o castanho, justificando logo em seguida.

- usar ele? Mas para quê? – indagou outro agente e o castanho deu de ombros.

- só esse Branco deve saber -

Scott franziu o cenho.

- você fala como se fosse um título: um Coelho Branco Legítimo –

- porque é. Mas isso não vem ao caso. O que me importa agora é –

- o que são as reuniões das cartas? – perguntou Isaac, cortando a fala do assassino, que se virou em sua direção, surpreso.

- quem te falou sobre isso? –

- Branco. Ele falou isso quando tentou nos explodir junto com a casa – respondeu Christopher lançando um olhar severo ao assassino.

- o primeiro ataque foi as quatro e cinquenta e cinco da tarde – a voz do castanho saiu acusatória e os membros da divisão franziram o cenho em sua direção.

- como sabe? –

- a primeira reunião das cartas é as cinco para as cinco da tarde: é a hora do chá – respondeu cruzando os braços atrás do corpo e erguendo a cabeça, pensativo – a pergunta é: como ele sabe sobre a segunda reunião? –

- como assim? –

- a primeira reunião das cartas é um evento comum do Coelho Branco original. Mas a segunda reunião era algo particular nosso –

- nosso? – questionou Vernon, confuso. Scott agradeceu mentalmente, pois aquela seria a sua pergunta. Mas, como Vernon a havia feito, ele optou por apenas tomar um gole de seu refrigerante.

- sim. Meu e dos outros na minha cabeça – a resposta forçou o McCall mais novo a cuspir o refrigerante como se tivesse levado um soco no estômago.

- que porra é essa? A primeira é a festa do chá e a segunda é a festa da maconha? –

Rafael estapeou a nuca de seu filho pelo comentário, enquanto via o assassino direcionar um olhar irritado na direção do mais novo.

- são nove da noite – o castanho comentou, direcionando o olhar para Alan – vocês têm oito horas para parar as bombas –

- então realmente tem mais bombas – comentou Peter, preocupado.

Stiles olhou para o mapa atrás do louro, onde havia um desenho feito com vários X vermelhos, indicando onde ocorreram os atentados de quatro horas atrás. O castanho sorriu, negando com a cabeça. Ele apontou para o mapa atrás de Peter, chamando a atenção dos agentes para o mesmo.

- vocês não acham que isso daí é uma lua, acham? –

- para falar a verdade .. eu achei. Estamos no período da lua minguante – respondeu Isaac, inocentemente. Stiles riu

- é um sorriso. -

- um sorriso? – inquiriu Rafael, confuso.

Stiles suspirou, cansado.

- vocês realmente não pensam. Vem do nada, desaparece como fumaça e tudo o que fica para trás é um sorriso largo – ele pontuou cruzando os braços e  passando a encarar o teto.

- que porra é essa? – questionou Scott, desorientado.

- é um gato de Cheshire –

- faz sentido. As bombas estavam escondidas em gatos de pelúcia – comentou Allison, curiosa.

- gatos pretos – acrescentou Erica.

- como Dinná. A gata preta – comentou Isaac, pensativo.

- um gato de Cheshire? - murmurou Peter, em choque.

- então... Ele... Vai completar o desenho? - inquiriu uma das agentes, perplexa.

Imaginar outro atentado que possuía uma escala maior era aterrorizante. Quantas bombas ele possuía? Há quanto tempo tramava aquilo? Até onde ele iria? Era perturbardor parar para pensar nisso.

- é. Ele vai terminar o gatinho risonho -  ditou o castanho com um sorriso risonho.

A mente de Peter sofreu um estalo e ele se lembrou das palavras de Branco.

"O nosso sorriso".

- só temos oito horas. Como vamos encontrar as outras bombas? –

- é simples. Ele entregou tudo a vocês. Só não estão sabendo procurar – disse Stiles marchando na direção de Peter.

- Stiles –

- sai da minha frente – ordenou empurrando o homem pelo ombro, liberando a imagem completa do quadro.

Ele encontrou imagens de uma casa completamente queimada, com os restos carbonizados ainda de pé, mas em péssimas condições. Ele franziu o cenho. Aquela, realmente, parecia a casa em que nasceu e cresceu. Imagens de sua infância vieram em sua mente. Cenas em que ele olhava para a rua, por um pequeno buraco na parede do sótão, vendo carros indo de um lado para o outro, crianças brincando no jardim da casa da frente e adultos passando vestidos de formas variadas de acordo com as atividades que praticavam: trabalho, corrida, apenas uma conversa enquanto caminhava.

E então sua mente projetou a imagem perfeita de si, lhe encarando com olhos sérios, porém curiosos.

- e em pensar que você estava tão perto – murmurou Peter, ao lado do castanho, um tanto receoso de se pronunciar.

- é o quê? – inquiriu Stiles, confuso.

- a rua Hockster não é tão longe de nossa casa. Se Alexander e eu soubemos que essas coisas que lhe aconteceram estavam tão perto de nós – comentou o louro, com as mãos nos bolsos – se eu soubesse eu... Eu teria espancado o seu pai –

- pera. O quê? Do que você está falando? – Peter franziu o cenho com a pergunta.

- de sua casa... Seu passado – respondeu, indeciso.

- rua Hockster? –

- qual é, Alice?! Sabemos que você cresceu na Rua Hockster. Aqui em Nova Iorque –

O castanho franziu o cenho e riu.

- Rua Hockster? – questionou ainda rindo. – essa não é a minha casa

- o quê? – indagou Derek, surpreso.

- não adianata mentir, criança. Está tudo lá. Fotos, boletins, armadilhas... Correntes –

- armadilhas?! Essa não é a minha casa. Nossa casa não tinha armadilhas –

- nossa? – inquiriu Peter

- você tem certeza? – questionou Allison, indecisa.

- é claro que eu tenho certeza –

- chega de mentiras, Alice – repreendeu Christopher Argent.

- NÓS SOMOS DO TEXAS! – ralhou o castanho, abrindo os braços, encarando o Argent mais velho com fúria.

- o quê?! – inquiriram Scott, Peter, Vernon e Derek.

- nós nascemos e crescemos no Texas. Não tem como essa casa ser nossa! –

- Stiles, você tem certeza disso. Não é... Efeito do seu transtorno? – questionou Peter, cuidadoso.

- sim. Eu tenho. Meus outros eu nasceram no Norte, Leste e Oeste do país. Eu nasci no Sul. E nenhum deles é de Nova Iorque. Minha casa não tinha armadilhas. Era uma casa comum! –

- se essa não é a sua casa, como os corpos de sua família foram parar lá? – inquiriu Vernon vendo o castanho parar e se virar para si com olhos predatórios.

- o que você disse? – Stiles questionou vendo o homem de rosto sempre sereno engolir em seco.

Vernon se lembrava da teoria dos agentes. A morte de Mieczyslay foi o estopim para a vida criminal de Stiles. O nascimento de Alice dependeu daquela criança. Se um monstro desses surgiu do laço que os gêmeos tinham, era óbvio que o irmão gêmeo era uma tipo de santidade para Stiles. Um tesouro sagrado que deveria se manter intocado.

- achamos... Os corpos dos seus pais e de seus irmãos enterrados no quintal daquela casa – ditou Peter e o assassino direcionou o olhar furioso para si.

- irmãos?! – inquiriu, irritado, tentando manter o controle.

“Fodeu de vez”

- nós sabemos que você tinha um irmão mais velho e um irmão gêmeo, Stiles – comentou Derek, calmo, tentando acalmar o castanho.

Stiles retorceu o pescoço, o alongando, o que gerou um estalo em seus ossos.

- o Lay estava lá? – o homem pronunciou com os dentes cerrados, quase como em um rosnado.

Derek engoliu em seco ao ouvir o modo carinhoso como Stiles chamou o irmão. O mesmo modo que ouviu o castanho sussurrar na cela de Maybelle.

- o seu irmão gêmeo estava na cova, junto com o resto da família. Todos lá – respondei Scott, indiferente.

Erica apertou a mão de Allison, chamando a atenção da mesma.

- ele está diferente? – murmurou a Argent, curiosa.

- não sei. Mas ele está puto. Bem puto. – sussurrou a loura receosa.

- mudança de planos, Derek. Branco vai morrer – ditou desviando o olhar para o lado, vendo as fotos de quatro esqueletos em uma cova rasa.

- Stiles, você não – e então o castanho não escutou mais nada.

Quatro fotos colocadas lado a lado, com fotos pequenas do que deveriam ser os seus donos. Ele não demorou para os reconhecer. O primeiro era o seu progenitor. O motivo de seu temor por anos. A segunda foto era a da sua mãe. O terceiro corpo era o seu irmão mais velho. E o último era a sua foto acima do esqueleto. Todas as fotos eram cópias das fotos encontradas na casa queimada. Atrás de si, Derek, Scott, Rafael e Chris protestavam quanto ao seu pronunciamento. A imagem a sua frente lhe perturbava. O castanho ergueu a mão, a arrancando do quadro e a levando a frente do rosto. Peter estranhou e ergueu a mão, silenciando os outros agentes.

- ele está... Tremendo – murmurou Allison ao notar os movimentos involuntários das mãos alheias.

- não só tremendo. Ele está chorando – murmurou Erica vendo o castanho erguer a mão livre, ainda trêmula, e a deslizar pela foto do castanho de roupinha combinando.

O assassino fungou e suspirou, com o torso trêmulo. Ele cambaleou para frente, se apoiando no quadro a sua frente, enquanto abaixava a cabeça, ainda encarando a foto em suas mãos. Em sua mente veio a imagem do garoto da foto, abaixo de si, lhe estendendo a mão há pouco mais de um metro de distância. A risada infantil de seu irmão ecoou em sua cabeça. Se recordou de seu irmão gêmeo, consigo, montando um castelo de cartas, enquanto tomavam achocolatado em caixinha. Lay sorriu em sua direção e então o castelo de cartas caiu, gerando surpresa em ambos, que riram logo em seguida. Ao tocar a foto com a mão esquerda, Stiles se recordou da sensação quente e aconchegante que era ter a mão do irmão na sua enquanto assistiam televisão.

- Stiles? – chamou Peter, um tanto surpreso

- por que? – murmurou o Stilinski sentindo as pernas tremerem, antes de fraquejarem e ele cair de joelhos no chão.

Stiles conseguiu ouvir passos se aproximando, enquanto as lágrimas rolavam por seus olhos. Os seus olhos estavam fixos na foto tirada por sua mãe de seu irmão gêmeo em um estúdio barato, apesar da visão turva pelas lagrimas. Ele insistia em sussurrar a pergunta para si, tentando compreender o motivo, dentre tantas pessoas, logo o seu irmão tinha que morrer tão jovem. Por que a única pessoa que lhe amava e lhe compreendia tinha que morrer? Qual a razão de ele nunca poder ter ninguém do seu lado?

“É porque você não presta”

A voz de Rei alcançou os seus ouvidos e Stiles sentou a pressão das nádegas do homem em suas costas. Ele sabia que o homem estava apoiado em si, com as nádegas em seus ombros e um dos pés no final de suas costas.

“Você é uma pessoa ruim, Alice”

Fora a vez de Valete se manifestar, se inclinando ao lado do homem, abaixado, aproximando o rosto do ouvido alheio.

“Você tem uma história ruim”

Fora a vez de Rainha se inclinar na direção do rapaz.

“O seu futuro é horrível”

Os três pronunciaram em uníssono.

O castanho arregalou os olhos, perplexo, sentindo o peito afundar em mágoa e tristeza. Ele ouviu mais passos se aproximarem e um corpo se abaixou a sua frente. Uma mão quente e suave lhe alcançou o rosto, deslizou os dedos em uma carícia calorosa em si, antes de descer por seu rosto e alcançar o seu queixo, erguendo a dua cabeça com cuidado.

“Não foi sua culpa, Law. Apenas acontece. Acidentes acontecem. Até mesmo com pessoas como a gente

- não foi um acidente – murmurou Stiles abrindo os olhos ainda chorando e vendo uma imagem quase perfeita de si a sua frente.

Quase.

“Eu sei”

Copas tinha um tom calmo e sereno em sua voz.

“É mentira”

Acusaram os outros três.

“Sempre foi culpa sua. E sempre vai ser!”

“Você é fraco!”

“Você nunca vai ser o suficiente para nada, nem para ninguém”

A medida em que ouvia as acusações de Rei, Rainha e Valete, Stiles estava hipnotizado pelo olhar carinhoso de Copas enquanto sentia o corpo inteiro esfriar, como se afundasse nas águas de um lago em pleno inverno cuja a precipitação de neve bateu recorde. A medida em que eles iam falando, lhe diminuindo, ele se sentia pequeno diante da grandiosidade dos outros. Se sentia inútil, inexistente, incapaz, sufocado.

- o irmão gêmeo é, realmente, um assunto delicado para ele – comentou Vernon, curioso.

- são gêmeos, no final das contas – falou Scott.

- única vez em que vou dizer isso: mas é impossível discordar do Scott. Se eu tivesse um irmão gêmeo morto, ele também seria como um santo para mim  - disse Isaac cruzando os braços atrás da cabeça.

- ele realmente é capaz de sentir alguma coisa – murmurou Derek, surpreso comas lágrimas derramadas pelo assassino.

Ele assistia, perplexo, o assassino soluçar enquanto acariciava a foto do irmão gêmeo. Uma foto que remetia muito a ele, como o esperado. Para si, era completamente surpreendente, assistir àquela demonstração de carinho.  Era de deixar qualquer um perplexo, ver como uma única foto poderia deixar completamente vulnerável alguém que fora capaz de aterrorizar um país, capaz de matar ventenas, surpreender milhares e assustar milhões. Ver um assassino frio e calculista chorar de forma tão emotiva para uma foto era chocante. Eram lagrimas verdadeiras. Lágrimas iguais as que sua mãe derramou no enterro de seu pai. Lágrimas de um amor incondicional.

- foi só falar do Mieczyslay que ele ficou assim – comentou um dos agentes, um pouco alto demais e Alice inclinou a cabeça e a girou sutilmente para o lado.

- não é para menos. Ele e Mieczyslay são irmãos gêmeos – comentou outro agente e ninguém notou os punhos cerrados do serial killer da divisão.

- mas mesmo se tratando de gêmeos, pessoas sem a capacidade de se conectar emocionalmente a alguém não sentem esse tipo de emoção – outra agente teceu o comentário, completamente alheia ao comportamento do homem de cabelos castanhos um tanto longos.

Erica apertou a mão de Allison, chamando a atenção da agente de cabelos escuros presos em um rabo de cavalo. A Argent direcionou um olhar confuso para a Reyes, que engoliu em seco, chamando mais ainda a atenção da agente treinada. Allison apertou, sutilmente, a mão da loura, indicando que havia entendido o chamado e estava esperando por qualquer manifestação vocal por parte dela. Ninguém parecia ter percebido que Stiles havia parado de chorar. Ninguém, senão Erica Reyes.

- não fale do Lay! – repreendeu.

Todos se surpreenderam com a voz séria e calma do assassino. Derek franziu o cenho, confuso. Stiles estava, até então, chorando, quase em prantos. Ele estava até emocionado e, parcialmente aliviado, ao perceber que aquele homem era capaz de possuir sentimentos bons dentro de si depois de tudo o que havia passado. engoliu em seco antes de lamber os lábios.

- ele trocou – disse a loura em um sussurro perplexa com a energia tensa e alarmante que sentia sendo emanada do corpo alheio.

Chapter 61: Law

Chapter Text

- foi só falar do Mieczyslay que ele ficou assim –

- não é para menos. Ele e Mieczyslay são irmãos gêmeos –

- mas mesmo se tratando de gêmeos, pessoas sem a capacidade de se conectar emocionalmente a alguém não sentem esse tipo de emoção –

Erica apertou a mão de Allison, chamando a atenção da agente de cabelos escuros presos em um rabo de cavalo. A Argent direcionou um olhar confuso para a Reyes, que engoliu em seco, chamando mais ainda a atenção da agente treinada. Allison apertou, sutilmente, a mão da loura, indicando que havia entendido o chamado e estava esperando por qualquer manifestação vocal por parte dela. Ninguém parecia ter percebido que Stiles havia parado de chorar. Ninguém, senão Erica Reyes.

- não fale do Lay! – repreendeu o assassino cerrando os punhos.

A sua voz séria e calma soou estranha. Vernon, Lydia e Scott não sabiam dizer ao certo o motivo, já Derek, Isaac e os agentes mais velhos que já tinham certa experiência com Alice juravam de pé junto que o tom levemente agudo de sua voz era consequência do choro recente devido a dor do luto eterno pelo irmão gêmeo. Erica engoliu em seco antes de lamber os lábios ressecados de tanto argumentar e questionar durante a investigação.

- ele trocou – disse a loura em um sussurro perplexa com a energia tensa e alarmante que sentia sendo emanada do corpo alheio.

Allison encarou o castanho com seriedade, completamente atenta. Tirando a voz serena e levemente aguda, ela não havia percebido nenhum indicativo que ali na sua frente, naquele corpo conhecido, agora estava outra pessoa. Ela havia começado a ler sobre o assunto quando leu a ficha que o FBI liberou sobre o detento 44.626. Transtorno Dissociativo de Identidade era algo complicado. Era um transtorno psicológico que agravava as inseguranças dos portadores e precisava ser tratado com terapia. Obviamente, não havia cura. A terapia servia unicamente para ajudar o portador a lidar consigo e com os outros em sua cabeça, que eram tão pessoas quanto ele. Cada personalidade possuía as suas vozes, seus sexos, sexualidade, idades, opiniões, pensamentos, sentimentos, trejeitos,... Eram como gêmeos em um corpo só. Com uma única diferença: as personalidades surgiam, em sua grande maioria, por traumas. Elas surgem de forma espontânea, como uma célula que sofre por bipartição, com o único propósito de proteger o portador do transtorno de um trauma psicológico intenso demais para que ele pudesse lidar sozinho.

Quantos traumas Alice sofreu com os quais não podia lidar?

Aquela pessoa ali na frente do agentes foi a que nasceu com a morte de Lay?

- Stiles, eu sei que...

- você - uma risada contida fora ouvida – você não sabe de nada, garoto – ditou o castanho enquanto se erguia e batia nos próprios joelhos, os limpando da sujeira quase inexistente - E aquele que vocês chamam de Stiles não está mais aqui – as palavras chocaram os agentes e o assassino se virou, colocando a mão na cintura, a quebrando levemente para o lado.

- não... – murmurou o Tate, perplexo, se afastando em um passo

Alice jogou os cabelos, os balançando, retirando alguns fios de seu campo de visão, antes de lançar um sorriso vitorioso na direção do agente de cabelos louros penteados para trás.

- Olá, Peter! – a voz feminina chocou a todos.

- ele trocou de personalidade – anunciou Allison ao observar a confusão presente nos olhos dos agentes que estavam auxiliando as investigações, tentando indicar que eles não deveriam fazer ou falar nada.

A risada escandalosa e aguda surpreendeu aos agentes, que se colocaram atentos quanto ao assassino.

- eu lhe daria parabéns se a mudança não fosse tão óbvia, agente Argent. Não é como se aquele garoto e eu fôssemos tão parecidos, no fim das contas – a mulher pronunciava com orgulho, enquanto sustentava um ar superior.

- quem é você? – inquiriu Isaac observando a mulher no corpo masculino rir baixinho.

- ah, querido, eu sou Alice –

- traga ele de volta! – ralhou Peter cerrando os punhos com força o suficiente para os seus dedos protestarem.

A mulher o encarou com tédio, antes de retorcer a cabeça, como se algo lhe incomodasse o pescoço. Quando retornou a encarar Peter, o seu olhar era predatório. O gargalhar grave e psicopata que escapou por seus lábios voltou a chocar os agentes. Os quatro agentes mais velhos sentiram um arrepiou percorrer as suas costas e fazer suas bases tremerem. Rafael e Christopher puxaram suas armas, as apontando para o castanho jovial, que, agora, havia abandonado a pose feminina.

- você sempre me deu nos nervos, Peter – o assassino falou enquanto girava os pulsos, gerando estalos na região – a vontade que eu tenho de derreter a sua cara é indescritível! – Alice voltou a proferir ainda direcionando um olhar predatório para Peter

Os outros agentes ergueram as suas armas para o assassino.

- outra pessoa? – indagou um dos agentes, surpreso.

- Rei – resmungou Peter, com fúria contida em sua voz.

- oh! Sentiu a minha falta? – o homem questionou com veneno na voz. Alice inclinou a cabeça para trás brevemente, como se algo a puxasse,

- será que podemos todos nos acalmar?! E vocês aí abaixar essas armas, por favor? Pelo amor! Um momento raro desses! Tem briga aqui fora! Tem briga aqui dentro. Puta que pariu! – o assassino exclamou com um ar feminino e gracioso, confundindo os agentes.

- mudou de novo – murmurou Erica, enquanto contava com os dedos das mão as personalidades que presenciava. Alice voltou a inclinar a cabeça, desta vez para a frente, deixando os agentes confusos com o seu comportamento estranho.

-.... Pa dessa peste! Eu estava aqui, com toda a minha classe, fazendo contato com esses estúpidos armados quando ele tomou o controle pra ele – a voz feminina da primeira personalidade voltou, ajustando os cabelos castanhos com as mãos, antes de erguer o indicador – vocês podem nos dar um minuto, por favor? – pediu virando a cabeça para o lado.

- mas que porra é essa? – murmurou Scott, irritado observando o assassino mover a cabeça como se ponderasse sobre algo, antes de menear em concordância.

O castanho fez uma careta de desgosto, antes de rolar os olhos e voltar a concordar com a cabeça. Peter marchou na direção do assassino da divisão, chamando a atenção dos agentes armados. Allan o chamou em repreensão, antes do Tate surpreender a todos ao desferir um soco potente no rosto alheio, jogando o castanho contra o mural atrás de si. O louro agarrou o outro pelo colarinho da farda da prisão, o puxando para si, o afastando do quadro organizado.

- traga ele de volta! AGORA! – o mais velho berrou, furioso, já preparando outro golpe.

O castanho golpeou o rosto alheio com a sua testa, atordoando o agente. O pinho que antes agarrava o tecido laranja com força, agora girava livremente a medida em que Alice girava o próprio punho, forçando o mais velho a girar o corpo para amenizar a dor do movimento ao qual era forçado. Mais armas foram erguidas contra o assassino, incluindo as de Scott, Vernon, Lydia, Matt e Derek. O Hale sentia o desespero tomar conta de seu corpo. O castanho passou o outro braço pelo pescoço de seu tio, apertando a região, deixando o mais velho com dificuldades para respirar, o mantendo como um escudo humano. Peter estava certo sobre manter Stiles na cadeia e longe daquele caso?

- ah, Peter! – a voz grossa de Rei aumentou o desespero de Derek.

Aquela personalidade era perigosa. Ele ainda se lembrava do que aconteceu nos interrogatórios de Alice quando Rei apareceu. Aquele acontecimento apenas aumentou a sua certeza sobre o quão aquele assassino poderia ser perigoso, mesmo estando algemado. A única aparição daquela personalidade nos interrogatórios gravados de seu pai gerou um agente gravemente ferido, o levando a aposentadoria por invalidez.

- não é tão fácil. Mesmo que nós quiséssemos trazer o garoto de volta, o que, para deixar bem claro, não queremos, nós não conseguiríamos. Vocês quebraram ele de novo. Branco o quebrou! E agora, ele foi para bem longe da região consciente de nossa mente. Ele voltou para o buraco de coelho – as palavras do assassino em seu ouvido fizeram as pernas de Peter tremer.

- não! – murmurou o louro aterrorizado com as possibilidades da veracidade daquelas palavras.

- você foi um completo estúpido, Peter. Fez exatamente o que Branco queria - a voz feminina jovial voltou a soar pelos lábios finos do castanho.

Alice deu alguns passos a frente, e um tiro acertou a lateral do tênis de seu pé direito. O assassino se quer desviou o olhar para o buraco no chão ou a arma de qual saíra o projétil. Ele estava focado no desespero a sua frente. O sentimento que lhe despertava extremo prazer, principalmente por estar vindo daquele rosto conhecido, daqueles olhos muitas vezes pacíficos e atenciosos.

- como Rainha, devo ser a primeira a declarar: você é patético! Você foi tão inocente quanto os seus ideais. Branco usou você de coelho. Fez com que você mesmo empurrasse o pobre garoto para o abismo mais uma vez. –

- eu não... –

- você o afastou, ignorou. Você o empurrou para longe. Do mesmo jeito que todos os adultos fazem –

“Olha a língua, garota!”.

Valete repreendeu em pensamento, enquanto via Rainha erguer as mãos e acolher o rosto do agente nas palmas gentis.

- você o desprotegeu para que, assim, o corpo de Mieczyslay fizesse o resto do trabalho de destruir o seu psicológico –

- Não! – o louro voltou a murmurar, assustado com o sentimento de culpa que crescia em seu peito.

- sim. Você fez. Tudo foi lindamente arquitetado para isso. Só você não percebeu –

- eu não fiz...

- Branco mandou o senhor Crane atrás de vocês, pois sabia que Alice perguntaria sobre como ele o encontrou, e que Crane abriria o bico. Isso o deixaria furioso e instável. Então, quando atraiu vocês para essa falsa casa, garantiu que vocês encontrassem o maior trauma da vida de Alice: Mieczyslay. Criou o ataque terrorista para forçar vocês a colocarem o garoto na investigação. E quando ele chegou aqui e se deparou com Lay mais uma vez, depois de ser rejeitado por você, Peter, a verdadeira bomba explodiu – a garota explicou se afastando do Tate e sorrindo divertido na direção dos agentes.

- eu não o rejeitei! – ralhou, entredentes.

- ah, não? – ela ergueu a sobrancelha – e na prisão? Quando ele ficou chamando por seu nome, implorando por respostas, por contato. E tudo o que você fez foi...? – finalizou com um sorriso travesso, esperando que o outro terminasse a sentença.

- eu estava protegendo ele! –

- estava o chutando para longe como um cachorro morto como todos sempre fizeram! – rebateu Valete, inconformada com a hipocrisia.

- estava afastando ele do Branco! Não de mim! –

- mentiras, mentiras e mentiras. Não mente apenas para ele, mas para si mesmo! –

- FOI PARA O BEM DELE! –

- E FUNCIONOU?! – gritou uma voz madura, surpreendendo o louro – me responda. Funcionou? – o silencio fora tudo o queveio do Tate.

- olhe para mim, Peter. Olhe para nós! Adultos sempre fazem tudo do jeito mais fácil para eles. É mais fácil proibir uma criança de brincar do que a supervisionar. É mais fácil bater do que dialogar. É mais fácil mentir do que explicar a verdade. Foi mais fácil para você manter ele dentro de uma cela mofada do que o ajudar a lidar com isso – a mulher marchava para a frente, com um baralho em mãos, movendo as cartas umas nas outras, as embaralhando.

- é sempre assim. O mais importante é não dar dor de cabeça. Sabe... Me enoja dizer isso. Mas seria diferente. –

O louro sentiu as palavras na consciência como um tiro.

- você era o último porto seguro que ele tinha. A última pessoa que ele sabia que se importava com ele que não estava presa nesse corpo junto com ele. Você era o Rei do tabuleiro dele. Mas você mesmo se deu um xeque-mate. Ele não teria sofrido esse colapso mental se tivesse você com ele. – uma viz idêntica a de Stiles proferiu, mas nenhum deles pareceu se dar conta do fato.

- AH!Copas! Eu que queria ter dito isso! Era eu quem deveria estar destruindo o psicológico desse velho! – ralhou Rei, indignado, guardando as cartas nos bolsos.

- Cale a boca, Rei! Você é tão velho quanto ele! – rosnou Copas, rolando os olhos.

- entenderam, agora? O senhor Crane foi o disfarce, o agente Tate foi a munição, Lay fora o detonador, e vocês do FBI foram o dedo que acionou tudo. A sua incompetência rendeu todos esses estragos. Se fossem, realmente bons, teriam impedido isso – ditou Rainha sorrindo e ouvindo Rei resmungar ao fundo, ainda chateado com a chance que lhe foi roubada.

- o que aconteceu com o Lay? – indagou Allison e o sorriso sumiu do rosto do assassino de cabelos castanhos Instantaneamente.

- Não fale do Lay! – repreendeu Valete, mas, internamente, todas as quatro personalidades ralharam simultaneamente.

A voracidade no tom de voz surpreendeu a todos. Desde que Alice surtou, todas as suas vozes falavam com calma, em tom de superioridade, como se fossem incapazes de serem atingidas por qualquer coisas que aquele grupo de agentes armados tentassem dizer ou fazer. Eles se portavam como se fossem deuses diante de meras amebas. Mas a pergunta da agente Argent gerou uma ação contraditória. Valete a havia repreendido como como uma igual. Como o cão que rosna para o gato que se aproxima de seu território. Aquilo foi, no mínimo, inesperado.

Scott sorriu, vitorioso.

- há! Pelo visto esse tal de Lay não é um assunto delicado apenas para o Stiles – comentou o McCall, audacioso, vendo o castanho sorrir de canto.

Agora fora a vez de Rei rir. O homem começou a rir baixinho, antes de seu típico gargalhar escandaloso voltar a assolar os ouvidos alheios.

- você vai morrer muito antes do que espera, garoto. Você é igualzinho ao seu pai. Acha que o distintivo e arma fazem de você um ser superior. E, assim como eu fiz com ele há muito tempo atrás, vou tirar isso de você. Te colocar no devido lugar – as palavras do homem de voz grave surpreendeu ambos os McCall, que lhe encararam com seriedade.

Scott estava furioso com a audácia do detento. Já Rafael estava perplexo. Ele reconhecia o fato, mas não quem o proferia.

- como é que é?! –

Rei voltou a gargalhar.

- é tão fácil mexer com você que chega a ser entediante. Sinceramente, desde que Peter montou essa divisão, eu e os outros temos analisado vocês. E eu devo dizer, que escalação terrível de agentes. Não teve um bom. – o homem dizia com desdém enquanto começava a caminhar de um lado para o outro diante do quadro, analisando o mesmo.

- nós não temos tempo para isso! – ralhou Allan vendo o assassino lhe fotar com tédio.

- e você deixou essa escalação acontecer. Ou foi você quem a fez? Devo dizer... Patético. O agente Hale não passa de um mauricinho brincando de policial, almejando a glória do pai, mas tudo o que consegue é sujar a sua memória. O McCall júnior não passa disso: uma criança com um distintivo na mão e uma arma com a qual ganha discussões contra os desarmados. A agente Argent não passa de uma Barbie policial. Ela acredita veemente que pode ser melhor do que os superiores se submetendo cegamente a eles. A única coisa realmente de agente que aquela mulher tem é a vestimenta. Peter é o típico vovô cinquentão que acredita de pé junto que dá conta das novinhas. Vive reclamando da geração atual porque o seu momento de glória se foi há muito tempo. E Lydia?! Ela realmente é uma agente?! Pensei que fosse só a secretária. Fica sentada o dia todo na frente de um computador e o máximo de esforço físico que faz é servir um café. E nem isso ela faz direito –

- agora vocês entendem? São patéticos! – exclamou Valete abrindo os braços, antes de levar um deles a cintura, encarando os agentes com um sorriso mínimo nos lábios.

Os agentes encravam o Stilinski com ódio. Derek, Scott, Peter, Allison e Lydia intercalavam entre fixar os olhos no assassino, se entreolhar e encarar o chão. Eles se sentiam indignados com as palavras do assassino. No entanto, eles também se sentiam atacados justamente. Eles se reconheciam, minimamente, nas acusações proferidas contra eles.

Derek seguiu a carreira do pai, pois se sentia instigado a seguir os passos do seu herói. Passou anos odiando Alice, o suposto assassino de seu pai. Anos depois, quando passou a trabalhar com o dito cujo e pensado várias vezes em prender o mesmo mais uma vez na segurança máxima, inclusive lhe dizendo coisas horríveis, lhe foi revelado que o seu pai não morreu pelas mãos do alvo e origem de seu ódio. Na verdade, o seu pai gostava do garoto, do mesmo modo que seu tio Peter, outro injustiçado que era alvo de sua raiva e indignação, e sua mãe gostavam. Depois das palavras daquela personalidade de Stiles para si, Derek passou a perceber, levemente, que ele, realmente, havia sujado a memória de seu pai ao tentar ir conta o ultimo trabalho dele.

Scott estava com ódio. Ele recordou de todos os erros de julgamento que já havia cometido desde que havia se tornado agente federal. Cada pessoa que foi investigada e por algum fato ocorrido na investigação que a transformou em suspeita e se tornou seu alvo incondicional, mas que posteriormente fora provada como inocente. Cada erro de julgamento, cada inimizade desnecessária que criou. Cada novo Isaac que ele criou em sua vida. Como havia sido repreendido algumas vezes por seus superiores justamente por suas fixações com alguns suspeitos em específicos. Lembrou-se do caso em que trabalhou antes de começar a trabalhar com Derek e Allan Deaton, onde um culpado de abuso sexual e tráfico de drogas quase saiu impune graças aos seus métodos de abordagem e interrogatório.

Allison sentiu a mesma sensação nauseante de quando Stiles falou consigo naquele beco, em Miami. A mesma sensação de submissão em que as palavras do castanho lhe deixaram naquele dia lhe entorpecia mais uma vez. A mulher se sentia frustrada por mais uma vez ser colocada daquela forma. Por mais uma vez ser forçada a encarar aquele fato. Ela jurava que já havia superado aquilo. Pensou ter absorvido as palavras do assassino e as convertido em uma força interna para mudar a si mesma e o seu jeito de agir. Mas, após ser exposta pela outra personalidade do assassino, ela voltou a se sentir diminuída, julgada, oprimida. Agora, Allison chegava a se questionar se, algum dia da sua vida, aquele peso na consciência iria, realmente, lhe abandonar, sumir de vez.

Peter sentiu uma pontada forte no peito. Em sua mente, a voz de sua ex-mulher ecoou. “Você não acha que já está um pouco velho para ficar se metendo com essas coisas, Peet? É muito perigoso. Principalmente com aquele garoto envolvido”. Ele sabia que sua ex-mulher estava certa em lhe questionar. Mas a vida de policial sempre foi perigosa. A de um agente do FBI então, que lidava com casos que ultrapassavam o limite de jurisdição da polícia. E foi com esse pensamento que ele seguiu em frente. Com a sensação de que tinha um dever a fazer, ele aceitou retornar e liderar aquela divisão. Agora, ele se questionava: havia feito o cero? Havia sido um bom líder? Se a liderança pertencesse a outra pessoa, eles teriam chegado até aquele ponto? Stiles teria surtado? Ele teria o tratado de forma diferente, uma vez que a decisão de inserir Alice na investigação não seria sua.

Lydia queria muito rebater o assassino, mas tinha consciência de que bater de frente com um assassino perturbado poderia não ser a melhor ideia. Muito menos naquela situação.

- se me permite perguntar... er... – Isaac chamou a atenção, antes de coçar a garganta, um tanto receoso de acabar irritando ainda mais o grupo de personalidades.

O assassino sorriu de canto, curioso.

- Valete –

- certo, hã... Estranho, mas ok. Então... Valete, se me permitem perguntar, o que aconteceu com... vocês sabem quem? – indagou o Lahey e todos já estavam esperando que o assassino ralhasse consigo por tentar voltar ao assunto do irmão gêmeo falecido.

Mas, estranhamente, a repreensão não veio. Valete encarava o louro de cabelos cacheados com um olhar pensativo, antes de desviar o olhar para o lado direito e em seguida para o esquerdo. Peter sabia que ela estava olhando para os outros que mais ninguém podia ver. A mulher lambeu os lábios e cruzou as mãos atrás do corpo.

- eu pensei que já havíamos dito isso antes, mas nós não falamos sobreo Lay. – a resposta frustrou os agentes. Valete seguiu sorrindo, marchando na direção do louro de cachos – mas aquele que chamam de Stiles não está aqui agora, então... Acho que podemos fazer uma... pequena exceção –

Rei gargalhou.

“Tentando compensar com as pessoas erradas, Valete?”

-cale a boca, Rei! Eu vou dar essa colher de chá apenas porque ele foi educado. Nos tratou com respeito desde sempre –

“Ele nos teme como os outros!”

- não. Esse daqui não. – a mulher murmurou, sorrindo na direção do louro e lhe acariciando os cachos dourados.

Isaac estava tenso. E tentava a todo custo não demonstrar isso ao assassino, mas falhava miseravelmente.

- er... tudo bom? – o Lahey indagou, receoso.

- nós não temos tempo para isso! – ralhou um dos agentes, furioso.

- isso! Nós não temos tempo para isso! O maldito do terrorista ainda está solto e temos apenas algumas horas para impedir o novo ataque dele! – ralhou Scott apontando para o quadro de informações.

- isso aí! Se está em condições de fazer esse teu showzinho, tem condições para fazer o que você foi solto para fazer! – ralhou outro agente, irritado.

- oh! Achar Branco? Oh, por favor! E por que diabos eu faria isso? Nós não damos a mínima para o que eles está fazendo! Quer explodir o país? Que se foda! –

- você não quer... ou sabe que não pode pegar ele? – provocou uma agente, tentando psicologia reversa.

Valete sorriu de canto, cruzando os braços.

- criança... pelo amor! Só olhamos para esse quadro por alguns minutos e já sabemos o que ele quer fazer. Encontrar ele? – a assassina estalou os dedos – assim! -

-então vá pegar ele! – ralhou Scott apontando para o quadro.

- acontece, meu querido acéfalo, que não foi a nenhum de nós que o FBI chamou para a divisão do Peter – comentou Valete, sorrindo com cinismo.

- nós convocamos Alice, não o Stiles. E vocês são Alice. Vocês todos juntos, formam Alice. Vocês e o Stiles! – rebateu o Deaton e Valete pôde ouvir Rei exclamar em tom zombeteiro.

-ah! Então agora você nos considera, Allan? Agora, que lhe é conveniente, você nos aceita? O que aconteceu com o homem que anos atrás alegou que deveríamos sumir? Que não deveríamos existir? Hã? Cadê ele? – o tom de indignação era descaradamente exposto pela mulher.

- as pessoas mudam, Valete – comentou o homem, simplesmente, dando de ombros.

-você me enoja!- exclamou Rainha, indignada.

- e olha que para alguma coisa deixar essa daqui com nojo... você é a escória dos nojentos – comentou Rei apontando para o lado como se todos pudessem ver a adolescente ali.

- conte o que aconteceu com o Lay – Derek ditou, com certo desespero, antes de o corpo de cabelos castanhos lhe direcionar um olhar frio – por favor – pediu calmamente, tentando corrigir o seu tom de voz autoritário.

- hunf! Já Alice não está aqui... e Vocês são um bando de neandertais sem intelecto. Acho que podemos dar uma ajudinha para... você sabe. Dar uma apimentada na brincadeira de policia e ladrão. – comentou com divertimento na voz, marchando na direção de Derek, antes de parar e olhar para o lado, receosa.

- você tem certeza? Ele vai ficar muito puto – comentou Rainha, com um leve receio na voz e deu meia volta, olhando para o outro lado.

- é. Eu também acho que isso já é um pouco demais. Digo, uma coisa é nós sabermos. Outra coisa é... esse lixo saber – Rei proferiu, sério, levando os dedos ao queixo, pensativo, antes de se virar para o quadro.

- se nós não contarmos, eles nunca vão saber. E aí nunca vão conseguir chegar perto dele outra vez. Isso iria estragar tudo. É melhor contar – resmungou Copas.

- é. Sem eles o jogo não seria engraçado. –

- o que aconteceu com o Lay? – inquiriu Peter, curioso.

Talvez, se eles soubessem o que havia acontecido com o irmão gêmeo, eles pudessem achar um jeito de ajudar Stiles a superar esse trauma e o trouxessem de volta em tempo de impedir o plano de Branco. Além disso, ele poderia ajudar o garoto a se controlar, o ajudar a superar o trauma poderia o ajudar a mudar completamente.

- não se pode falar do Lay –

- nós já sabemos! – reclamou Scott, irritado.

- isso é algo que eu tenho que deixar bem claro para vocês... Ou podem acabar morrendo antes do esperado – comentou Valete vendo o moreno de queixo torto franzir o cenho em sua direção.

- como assim? –

- nós não falamos do Lay – ditou Rei, deixando o McCall mais novo ainda mais nervoso.

- não se pode falar do Lay – comentou Rainha olhando fixamente para Vernon.

- é proibido falar do Lay – ditou Valete cruzando os braços.

- proibido? –

- mas... Vamos falar um pouquinho dele, sim – ela ergueu o indicador e passou a caminhar pelo local.

- era o nosso último ano, juntos – ditou a mulher com um ar educador.

- era o nosso ano de formatura – Rei a cortou com certa nostalgia na voz.

- último ano juntos? – inquiriu Derek, confuso.

Como personalidades poderiam ter um último ano juntas, se todas permaneciam presas ao mesmo corpo. Aquilo estava confuso. Mas Valete apenas confirmou repetindo as suas palavras, enquanto permanecia a marchar diante dos agentes. E o que diabos Rei quis dizer com ano deformatura?

- nós estávamos quase prontos e ganharíamos um desafio por isso - disse a mulher com orgulho carregado na voz, como a mãe que se vangloriava para as amigas sobre o filho que havia conseguido uma bolsa de estudos em uma faculdade renomada.

- um desafio que mudaria nossas vidas – comentou Rei com suspense na voz e Valete franziu o cenho para si, irritada. A mulher o analisou de cima abaixo, deixando os agentes curiosos.

- Branco se aproximou com seu jeito único de ser que nos assustava – Valete se aproximou de Derek o encarando com um olhar predatório.

- o original! – exclamou Rei com um sorriso de canto.

- você quer parar com essa porra?! – exclamou a mulher, irritada, olhando para o nada ao seu lado, enquanto se afastava.

“Eu só estou fazendo suspense. Deixando mais interessante!”. Ele se defendeu, dando de ombros.

A mulher suspirou, negando com a cabeça, e continuou.

- Branco deu a cada um de nós uma coordenada, que sozinha não era nada – ela comentou antes de sorrir e abrir espaço para Rei.

- para quê ele foi fazer isso?! – exclamou o homem, com sofrimento, se direcionando para Erica.

- uma coordenada? –

- ele claramente nos desafiava a buscar vingança, como se algum de nós fosse se interessar por isso – ela comentou, com tédio, se sentando a mesa em que Erica e Allison se encontravam sentadas

- então foi realmente Branco quem treinou Alice? – inquiriu Vernon vendo a mulher desviar o olhar para si.

- e quem mais seria capaz disso? – respondeu dando de ombros. – éramos um grupo... Singular. Cinco pessoas completamente diferentes que passavam dias trancafiados em um mesmo lugar, mas em ambientes diferentes. Treinados para virar armas de guerra perfeitas –

- espera. Branco sabia sobre vocês? – indagou Allison, se erguendo da mesa e se aproximando um pouco mais.

Valete sorriu de canto.

- você não faz ideia! – exclamou a mulher dando as costas para a Argent.

- mas nós éramos Alices. Cada palavra de Branco ficou guardada em nossas mentes como um ensinamento materno – Valete voltou a proferir, se virando para Erica, antes de se erguer e se voltar contra Derek mais uma vez.

- ela não sabia o que estava fazendo – ditou Rei com seriedade na voz.

- graças a Branco, todos nós estávamos presos e conectados como insetos em uma teia de aranha –

- só não sabíamos que a viúva negra esteva lá o tempo todo –

- do que porra eles estão falando? – inquiriu Rafael, confuso e indignado.

- não pediram para falar do Lay? Agora estamos falando sobre ele – respondeu Rainha passando pelo agente, o encarando com cinismo.

A adolescente sorriu ao olhar para Vernon e se aproximou do mesmo com diversão no olhar. O Boyd franziu o cenho com o olhar fixo do assassino em si. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a garota pulou em sua direção, assustando os agentes, que ergueram as armas de maneira de instintiva na direção do ser de cabelos castanhos. No entanto, quando perceberam que a garota apenas segurava a mão do traficante, eles se sentiram aliviados, e Vernon, confuso.

- depois que nos formamos, nunca mais nos falamos. Cada um de nós sumiu para o seu canto. Parando para pensar, uns com os outros realmente nunca nos importamos. A única coisa que consigo me lembrar bem deles era de como eles usavam bem as cartas, sabe? As jogando de um lado para o outro. Eu demorei meses para aprender aquilo, e eles dois conseguiram em dois dias –

- é, mesmo? – inquiriu o Boyd, ainda confuso.

- eles quem? – inquiriu Isaac, curioso.

A garota se virou sorridente em sua direção. A simpatia que transbordava em seu olhar era perturbadora. Não porque era excessiva ou coisa do tipo. Mas, sim, pelo fato de que eles sabiam que aquela garota era capaz de matar qualquer um deles ali sem motivo aparente. Rainha levou uma das mãos aos brincos de argolas pequenas e grossas em seus lóbulos.

- os gêmeos, é claro! – ela exclamou com animação.

Uma animação que morreu logo em seguida, quando a raiva brilhou em seus olhos.

- o jeito que as coisas vinham com facilidade para eles estava sempre me irritando. Com seus jeitos e trejeitos foram ao Branco enfeitiçando. Não foi de surpreender ninguém que conseguiram o título mais desejado. – a garota proferiu com ódio na voz.

- nós éramos mais velhos do que eles. Éramos melhores do que eles fisicamente. Mas, ainda assim, em tudo o que faziam, aqueles dois conseguiam ser bons com uma média que veirava a excelência. Chegava a ser revoltante. Eles eram bons com línguas, matemática, química, física, armas, tudo! Não chegavam a ser os melhores, mas ainda assim, compensavam em outros aspectos, que fez com que Branco os escolhesse – a jovem proferiu entredentes, torcendo o macacão da prisão em suas mãos, enquanto o seu olhar se perdia no nada.

- mas quando a notícia de que Mieczyslay morreu nos alcançou ficamos chocados. Quem no mundo seria capaz de matar ele? Nos perguntávamos. A resposta era Branco. – Alice comentou, distraidamente, voltando o seu olhar para as mãos, que agora ajustavam a roupa maltrapilha que vestia, antes de lançar um olhar ferino para o Boyd.

- Branco?! Branco matou o irmão do Stiles?! – Erica estava perplexa observando o assassino de cabelos castanhos menear positivamente.

- e ele decidiu ir atrás do Branco. Mas, para isso, ele precisava das coordenadas dele – comentou Valete com certo tédio na voz.

- ele queria vingança – comentou Derek, surpreso.

- é claro que ele queria. Branco nos criou para sermos assassinos cruéis e impiedosos. Mas ele não contava que alguém, realmente, fosse atrás dele – comentou Rei passando as mãos pelos cabelos, os colocando para trás.

- então, de um em um, aquele que vocês chamam de Stiles foi nos caçando. Para a sua vingança nenhum de nós estava ligando. Ele era uma criança, não nos importamos se ele estava nos rondando. O que foi um erro pois o cerco estava se fechando, enquanto não estávamos observando – a garota explicou com receio na voz enquanto se aproximava de Vernon com um olhar chateado.

- lhes caçando? – indagou Allison, confusa.

- exatamente. Era tudo muito simples. Nós só teríamos que lhe dizer as coordenadas que recebemos e cada um seguiria o seu caminho. Mas por algum motivo, todos nós nos opomos a sua vingança. E foi aí que tudo começou a ir para o inferno –

- o que aconteceu? – indagou Peter, nervoso.

- sabe, Peter? Nós cometemos o mesmo erro que você. Era só falar. Era só dizer a Stiles e tudo ficaria bem... Mas nós não dissemos. Quando ele implorou pelas coordenadas, nós rimos, erguemos o dedo do meio e lhe demos as costas. E como foi dito: o cerco fechou e ninguém notou – a adolescente soou mórbida, apertando o braço se Vernon, como se pedisse por ajuda.

- como assim? – a agente Argent voltou a questionar, curiosa, se erguendo e se colocando diante da mesa.

- como eu disse antes, um a um, o garoto foi nos caçando. Com suas artimanhas ele foi nos testando. Sempre fazendo joguinhos quase impossíveis de ganhar – comentou o assassino se afastando de Vernon e se aproximando da agente, a encarando com um olhar predatório – você quer tentar? -

- hey! Fique longe da minha filha! – repreendeu Christopher já com a arma apontada para a cabeça do assassino.

Alice riu baixinho. Um gargalhar suave, contido. Chris rosnou o nome do castanho enquanto destravava a arma, em uma ameaça clara. Alice se afastou com um sorriso largo no rosto, enquanto erguia a mão em rendição.

- que tipo de jogos? – perguntou Allison, erguendo a mão para o pai, em um pedido mudo para que ele parasse.

- do tipo que você só joga uma vez... Isso se você perder, é claro! -

- o Stiles realmente foi tão ruim assim? Quero dizer, ele é um assassino e tanto. Mas... Vocês meio que não são parte dele? – questionou Isaac vendo a garota sorrir e lhe dar as costas.

- um mal tão grande! Como pode ser encarnado em um corpo tão apertado? – a voz de Rei escapou pelos lábios finos, indicando que já se haviam trocado de lugar mais uma vez.

- como? – indagou Scott, confuso.

- essa foi a primeira coisa que se passou em minha cabeça quando eu vi o verdadeiro potencial que aquele garoto tinha. O potencial que Branco viu desde o começo. Mas, sabe, ele nem sempre foi assim. Antes do Lay morrer, aquele que vocês chamam de Stiles era inofensivo. Por vezes, medroso. Ele se escondia de tudo e de todos. Mas quando algo ameaçava o Lay – ele estalou os dedos e Valete tomou conta do corpo.

- ele se transformava. Alguma coisa mudava nele. E o que sentia medo, passava a transmitir ele. Stiles era o tipo de pessoa que não pensaria duas vezes antes de se colocar entre o irmão gêmeo e uma bala. Se ele pudesse parar o projétil com a cabeça, ele pararia. – explicou Valete com um ar sério, quase pensativo.

A risada grave e escandalosa de Rei voltou a escapar pelo lábios finos.

- uma pena que não foi uma bala que matou o Lay! – ele exclamou sem piedade alguma na voz.

- como assim? Do que o irmão do Stiles morreu? – indagou Derek, desconfiado.

- esmagado por uma parede enquanto dormia. Simplório. Trágico. Hipócrita. Não é? Quem diria que alguém tão habilidoso em treinamento militar morreria para uma simples parede?! Mas essa é a graça da vida. Não importa quem ou o quê você é. Todos podemos morrer. Todos somos frágeis como papel. E com Lay não foi diferente – o homem proferiu com naturalidade, antes de dar se ombros e seguir marchando pelo ambiente.

- esmagado por uma parede... Isso explica porque os ferimentos do garoto de distinguiam do que uma criança poderia fazer – comentou Allan, pensativo.

- então a morte do irmão, realmente, foi o estopim – murmurou uma das agentes, curiosa, anotando em um bloquinho.

- muito mais do que isso. A morte de Lay incrementou aquele garoto de um jeito inesperado –

- como assim? –

- um estopim apenas criaria um assassino naquela criança que se desenvolveria lentamente. Não. Não. Não. A morte do seu irmão gêmeo iniciou uma... reação muito mais intensa dentro dessa mentezinha caramiolenta cheia de... Inseguranças e coisas esquisitas - Rei explicava enquanto movia os dedos das mãos, como se estivesse descrevendo algo grotesco, como um monstro de Dungeons and Dragons.

- reação?! Como uma reação química? – inquiriu Isaav, curioso.

- pode apostar nisso, pequeno Barão – o castanho proferiu com um sorriso largo, marchando na direção do Lahey, que franziu o cenho para si.

- Barão? –

- os reagentes estavam todos ali e o sistema era propício. Só precisava do primeiro contato. E Branco cuidou disso – Rei fingiu apertar um botão invisível em sua mão com o polegar, como uma caneta, imitando o som com a boca.

- boom! – murmurou abrindo as mãos, enquanto alcançava Isaac

- ele apertou o botão do Start quando matou Lay com aquela explosão. – Rafael franziu o cenho.

- não foi uma parede? –

- e você acha que a parede caiu por conta própria?! – o assassino inquiriu, entediado – foi assim que Stiles começou a sua caçada, procurando pelos jogadores que uqeria em seus jogos doentios –

- jogos? – perguntou Isaac, nervoso com a aproximação daquele que não era Stiles, mas estava no corpo dele.

Rei gargalhou, dando a volta em si.

- sim, sim. Stiles fazia jogos maravilhosos. E foi assim que eu vi o verdadeiro monstro que ele era. Ele lê a sua mente – o homem agarrou firmemente os ombros do Lahey pelas costas, sussurrando contra o seu ouvido.

- e a corrói lentamente - ele sussurrou em seu outro ouvido antes de lhe soltar.

- como assim? –

- os mais velhos sabem do que estou falando – o homem sorria com orgulho – Stiles sempre estava um passo a frente. Ele calculava todos os passos possíveis antes de começar o jogo, lhe deixando completamente sem opções, fazendo seguir um roteiro escrito por ele, onde a morte te espera no final –

- uma aberração – proferiu Chris, indignado.

- ah, não! Mas ele era um bom garoto. Ele te dava um opção: ou você dava o que ele queria, ou tinha que jogar o jogo dele – proferiu Valete sorrindo gentil.

- mas é claro que ninguém aceitava a humilhação de dar o que ele queria. Todo mundo prefere lutar. “Não tem como eu perder para uma criança”. É o que todos pensam. Mas, sim, tem. Sempre tem – disse Rainha se afastando do louro de cachos em um giro com as mãos erguidas com elegância.

- não é possível que ninguém soubesse argumentar com uma criança! – argumentou uma agente, indignada.

Rainha gargalhou alto, com a sua voz jovial, cobrindo os dentes com a mão, elegantemente.

- não havia como argumentar com ele. Nada poderia ficar entre ele a sua vingança. Nada -

- vocês... Falam como se já tivessem sido caçados por ele – comentou Allison, curiosa, observando atentamente a reação da garota.

- e fomos –

Rainha sorriu de canto antes de o seu semblante mudar completamente.

- quando ele me achou, eu disse para ele não perder a cabeça. Horas depois eu que havia perdido a minha – ditou Valete agarrando os próprios cabelos e os puxando para o lado, deitando a cabeça sobre o ombro.

- já eu, disse para ele tentar ter um olhar diferente sobre a situação, então ele arrancou o meu olho fora – Rei colocou a mão sobre o olho esquerdo, olhando com um sorriso predatório na direção de Isaac.

- eu até disse que o ajudaria. Disse que daria uma mão para ele não caça ao Branco. E a minha mão foi tudo o que restou de mim – Rainha ergueu o braço direito com delicadeza, antes de o abaixar bruscamente quando Valete tomou o seu lugar.

- acha mesmo que dá para argumentar com alguém do País das Maravilhas?! – os três gritaram, mas apenas Valete fora ouvida.

- estão consumindo o nosso tempo com baboseiras! – ralhou outro agente, furioso.

Valete gargalhou, passando a caminhar na direção do agente. As armas voltaram a ser destravadas, em um sinal claro de ameaça. O assassino não se importou, marchando mais um pouco. Um tiro de aviso fora disparado diante dos seus pés por Rafael, mas Alice também não se incomodou. Ela parou diante da arma do agente, que se encontrava sério com a arma apontada para o peito do assassino a sua frente. Valete lambeu os lábios com deleite ao identificar o medo escondido nos olhos alheios.

- quando Alice voltar a agir... E ela vai voltar, é melhor você ir para bem longe – ditou a mulher enquanto via as outras três personalidades cercarem o homem, com olhares doentios voltados para o agente – porque nós vamos atrás se você por sua insolência –

- Alice vai voltar? – inquiriu Allan, curioso.

Valete gargalhou, venenosa.

- e você espera algo diferente, agente? Olhe a que ponto vocês chegaram! Stiles era imparável até que Alexander e Peter surgiram. Eles o acertaram com esse... amor fraterno. Mas Peter vacilou. E vacilou feio. – a mulher puxou um baralho da manga do macacão que vestia e passou a embaralhar as cartas.

Peter mordeu o lábio inferior.

- e vocês, claramente, não sabem lidar com Branco. E não vai haver um jeito de Stiles investigar Branco para vocês sem ser atingido por ele. Então é tudo uma questão de força e tempo. Qual força vai ser maior? O ódio e o trauma? Ou o amor e a paz? – Rei inquiriu com a sua voz grave, enquanto mudava o estilo de embaralhar as cartas.

- como é? – inquiriu Scott.

- e se Stiles for acertado com força por esse novo Branco... O que Peyer vai fazer? Você joga tão sujo para alguém tão doce, Peter. Envolve o garoto com suas palavras tão bonitas, mas a verdade é que suas presas estão sedentas para se fincarem na carne dele. Um demônio disfarçado tentando roubar a espada mais forte do céu. – Rainha gargalhou ao final, observando o Tate cerrar os punho com fúria.

Mas Peter não argumentou. Era perda de tempo tentar conversar com aqueles três. A adolescente estranhou o olhar de Derek para si. O cenho franzido em desconfiança. Mas ela ignorou o homem para se focar em Vernon.

- e como era o irmão gêmeo do Stiles? Pode me dizer mais sobre ele? –

A garota sorriu gentilmente antes de desviar um olhar pensativo para cima.

- existe alguém mais qualificado para falar sobre isso – ditou erguendo a mão e estalando os dedos.

O ar gentil se foi completamente. O castanho de olhos claros se tornou sério. O assassino apoiou o peso do corpo sobre apenas uma das pernas, quebrando um pouco a cintura no processo. A mão antes erguida com a delicadeza de uma dama, desceu brusca, bruta, como a vida nas ruas. O olhar gentil com brilho jovial deu lugar a um olhar frio, calculista.

- se espera que eu diga que ele foi um daqueles clichês típicos de crianças cuja morte gera uma raiva incontrolável em alguém, vai tirando o cavalinho da chuva – a voz de Stiles surpreendeu aos agentes e aos detentos.

- Stiles? – inquiriu Isaac, desconfiado.

- parece – murmurou Erica, confusa. Havia uma pequena diferença no modo de fala,mas a voz era a mesma, sem alteração de tom ou sotaque.

- e você seria? – indagou Vernon vendo o assassino revirar os olhos.

- não somos amigos, não precisa saber nomes – o assassino rebateu, irritado.

- se não me engano, Rei a chamou de Copas – comentou Isaac, curioso.

- Lay era uma criança muito acima da média. A sua inteligência era surpreendente. Um gênio. Mas, estranhamente, ele não se portava como os outros gênios. Sabe, pessoas com uma inteligência tão avançada costumam se dividir em dois grupos: os comuns, que amam os pais e amigos como pessoas normais; e os egocêntricos, que se acham extremamente superiores e que ninguém no mundo está a sua altura – o assassino se dirigiu até a mesa, se colocando sentado sobre a mesma, erguendo uma perna e a abraçando, despojadamente, lançando um olhar entediado para o chão.

- Mas Lay, não. Ele era louco pelo irmão. Beirava a obsessão. Para Lay, Stiles era como um Deus na terra. Um anjo que o guiaria para o paraíso. Os dois, na verdade, possuíam essa obsessão maluca um com o outro, sempre colocando o outro num pedestal. Eles se matariam um pelo outro. Mas havia uma diferença: Lay sabia do que era capaz. Mas Stiles, por outro lado, era inseguro. Não tinha noção alguma de suas capacidades. E isso apenas fazia Lay querer o proteger mais ainda –

- quando Lay morreu, Stiles ficou sem rumo. Ficou suas horas inteiras parado, plantado, completamente paralisado, na frente do corpo de Lay. O trauma foi tão forte que ele criou mais uma de nós. Uma que ele nunca deixa sair. Uma que ele guarda a sete chaves no local mais seguro de todos. Uma personalidade que o faz se lembrar de Lay e o faz se esquecer da culpa. –

- culpa? Ele teve culpa na morte do irmão? – indagou Derek, curioso e preocupado.

Copas suspirou.

- não. Ele não teve. Mas insiste em dizer que sim. Era aniversário dos gêmeos. E nós queríamos fazer uma surpresa para Lay. Então o deixamos sozinho na casa e fomos comprar coisas. Quando voltamos, já não havia mais Lay. Stiles conseguiu achar o corpo, mas eu impedi que ele o desenterrasse dos escombros por completo. O trauma seria maior se ele fizesse assim. Então eu apaguei o Stiles e fiz tudo o que tinha que fazer: peguei o corpo e o enterrei no quintal da antiga casa da família Stilinski. Quando acordei Stiles, ele estava diferente, havia jurado vingança e as suas inseguranças haviam sumido –

Derek franziu o cenho, curioso, mais uma vez.

- ele havia virado outra pessoa – Copas suspirou e então sorriu largo – ele havia crescido. Evoluído. Havia virado o Deus que Lay via nele -

O sorriso orgulhoso de Copas atormentava os agentes. E então o semblante sério retornou, antes de dar lugar a um olhar de fúria pura ser direcionado para Peter.

- e então veio a dupla de patetas. Alexander e Peter o estragaram. O fizeram voltar a ter inseguranças, a ser imperfeito. O fizeram fraco. –

- não seja ridícula! Nós demos o que ele nunca teve. Nós o tratávamos como um filho!- o Tate argumentou vendo o castanho lhe direcionar descrença.

- ah, é mesmo?! Vocês não o estragaram?! –

- claro que não! –

Copas revirou os olhos e exclamou em desgosto.

- merecem todos morrer – resmungou antes de virar a cabeça para o lado e dar lugar para Valete.

A mulher iria falar, mas se silenciou quando todos os quatro que se encontravam conscientes naquele corpo sentiram uma vertigem tomar conta deles. Naquele momento eles souberam que Stiles estava tentando sair do caos em que sua mente lhe afundava. Eles sabiam a luta internava que estava acontecendo enquanto eles instigavam os agentes a pensar mais sobre os gêmeos de cabelos castanhos. No entanto, o que os perturbava não era o homem de fios castanhos tentando se libertar. Era aquele que o acompanhava no percurso, tentando tomar o controle do corpo para si. Só de lembrar do rosto eles sentiam os pulsos cerrados tremerem e o sangue ferver.

- o tempo está acabando – resmungou Rei passando as mãos nos cabelos castanhos, se afastando dos agentes.

- é o que estamos falando há tempos! – reclamou Rafael observando o assassino lhe ignorar prontamente.

“Ele nunca se recuperou tão rápido”. Argumentou Valete levando o polegar ao queixo, pensativa.

- alguma coisa o tirou dos trilhos – o homem voltou a resmungar, perplexo.

- parece que nem todas os reagentes foram considerados em nossa equação, velhote – resmungou a adolescente cruzando os braços diante do peito másculo.

- quieto vocês dois! – ralhou Valete se apoiando no quadro e levando a mão a cabeça, pressionando a região.

- ah... Está tudo bem? – inquiriu Derek, curioso.

“O que faremos? Não podemos deixar que Law-Law perca o controle!”. Questionou Rainha receosa.

“Ele não vai perder o controle!”. Ralhou Valete, irritada.

- acham que deveríamos fazer alguma coisa? – inquiriu Rei, num sussurro, deixando os agentes confusos.

“Não façam nada! Não podemos tomar partido nisso”. Repreendeu Copas.

- não fazer nada?! – exclamou o homem, indignado.

“Sim”.

“Ela tem razão”.

“Mas e se Law-Law perder?”

“Se ele perder, nós voltamos”. Repondeu Copas, indiferente. “Mas se ele ganhar, nós voltamos”.

- ah... Rei? – inquiriu Derek se aproximando um pouco receoso ao ver o assassino passar a bater a cabeça contra o quadro repetidas vezes.

- Derek – Peter repreendeu.

O assassino não respondeu e o agente se aproximou. Assim que o Hale se colocou ao lado do castanho, o homem de macacão agiu com velocidade. A mão do Stilinski voou até o pescoço do moreno de olhos verdes, o agarrando em um aperto severo. Rei voltou a golpear a cabeça no quadro de anotações, se surpreendendo quando a testa alcançou uma superfície macia. Ao desviar o olhar do chão para o quadro, o homem se surpreendeu ao encontrar a palma da mão de Derek no quadro, impedindo que sua cabeça atingisse a superfície dura do objeto. O assassino entreabriu os lábios, surpreso.

- hey... você só está se machucando – o agente proferiu com seriedade e calma na voz.

Rei inclinou a cabeça para o lado, lançando olhar descrente para o agente. A sua risada veio logo em seguida. Aquele mesmo gargalhar escandaloso de instantes atrás ecoou pelo ambiente, deixando os agentes confusos e receosos.

- você... – ele proferiu com um sorriso de canto.

Um sorriso que forçou Derek a engolir em seco. Mas foi um sorriso que logo sumiu daqueles lábios finos quando eles se abriram para tentar facilitar a entrada do ar. Derek estranhou e levou as mãos aos ombros do castanho, que tentou lhe afastar, sem sucesso.

- Chegou! – pronunciou Rei, junto de Valete, Rainha e Copas quando o ar se fez mais ausente.

- chegou? Quem chegou? – indagou Peter, confuso, se aproximando para tentar ajudar o assassino.

- não encos... – Rei tentou se soltar de Derek mais uma vez, mas se calou quando sentiu um pontada feroz no peito.

O assassino sorriu de canto.

- Lei – o assassino murmurou, deixando tio e sobrinho perplexos.

Chapter 62: For Us

Chapter Text

Ele sentiu o frio da água gelada abandonar o seu corpo, deixando apenas marcas em pontos específicos. Ele compreendia aquela sensação. Estava acorrentado, mais uma vez. É claro que ele sabia reconhecer aquela situação. Havia vivido preso em toda a sua vida. Desde quando a sua mãe lhe abandonou após o seu irmão gêmeo proferir as primeiras palavras compreensíveis, até o dia de hoje. Ele nunca soube o que realmente significava ser livre. O que era ter vida.

Ping.

Ele sentiu, mas bem fraco.

Ping.

Desta vez ele sentiu com mais força.

E outra vez, ping.

Ele já havia entendido. Água gotejava em sua cabeça enquanto ele estava imobilizado pelas correntes. Uma tortura clássica. Podia parecer idiota, mas, com o tempo, a água levava os aprisionados a loucura. Branco lhe ensinou isso quando tinha apenas sete anos. Havia demonstrado os efeitos para eles, os deixando assistir de camarote um veterano de guerra enlouquecer com apenas gotas de água e correntes. No início, era possível ignorar a água, ou até mesmo a agradecer nos momentos de sede mais extrema. No entanto, com o passar das horas, a fome e o estresse aumentavam e a paciência e gratidão se exauriam, levando a vítima ao desespero, e posteriormente a loucura.

Mas ele não iria falar nada. Não iria demonstrar nada senão dor e tristeza. Pois era isso o que ele podia sentir, agora. Já era louco há muito tempo! Não tem como água lhe transformar naquilo que ele já era. A única coisa que poderia lhe mudar era o fogo. Poderia o transformar em um assassino maluco para um conjunto de ossos e cinzas.

A lâmina perfurou o seu tornozelo com força e precisão, lhe surpreendendo e arrancando um grunhido de dor e surpresa. Ele se forçou a olhar para baixo, vendo um mascarado com rosto de um homem sorridente inclinar o pescoço para a direita. A máscara sorria largo de forma perturbadora. Mas Mieczyslaw não se importou nem um pouco. Mais uma lâmina perfurou o seu corpo, desta vez o seu braço. Ele olhou para a lâmina, vendo uma pessoa com máscara de mulher igualmente perturbadora a do homem. Uma lâmina atravessou toda a superfície do seu abdômen, iniciando um corte profundo, mas não o suficiente para abrir a sua barriga. Uma pessoa com máscara de criança acenava para si de forma animada, tentando aumentar o seu astral. 

Ele nada disse ou expressou.

A tortura perdurou por dez minutos a finco, sem um descanso para o seu corpo. Quando uma lâmina saía do seu corpo, outra o perfurava em outra parte do corpo. O homem esfaqueou a sua virilha, antes de a mulher esfaquear o seu peito. A criança voltou a abrir a o seu abdômen, desta vez do pescoço até a virilha. Stiles se manteve impassível. Ele estava abalado, destruído mentalmente. A culpa voltava a lhe assolar com força. Não sentia a dor das lâminas. Os seus cortes e lacerações não eram nada comparados a dor em seu psicológico.

Para a sua surpresa, anzóis foram fincados em sua pele e passaram a puxar a mesma, ameaçando lhe rasgar como um urso de pelúcia disputado por crianças birrentas. Naquele momento, ele sentiu dor ao ponto de não conseguir controlar a sua expressão corporal. Grunhindo de dor, ele tentou, ao máximo, ignorar a dor que sentia, como fizera com os cortes que sofrera recentemente. Quando abriu os olhos, ele se deparou com um espelho erguido a sua frente, enquanto os seus três torturadores se colocavam atrás de si, de modo que seus reflexos surgissem no espelho.

- Esse corpo não lhe pertence – o homem sorridente proferiu com calma inclinando a cabeça para a direita, sendo seguido no ato pelos outros dois mascarados.

Stiles arregalou os olhos, aterrorizado.

- vamos. Deixe o verdadeiro dono sair – ditou a mulher e só então Stiles percebeu a manivela ao lado da mulher e da criança.

- Não. Não! Pare com isso! –

- Relaxa! A gente ajuda você com isso – as mãos dela e da mulher se ficaram na manivela e o desespero cresceu.

- Não! Não! Por favor! – as lágrimas começaram a rolar por seu rosto.

A manivela fora movida uma vez, em um movimento sincronizado, e todos os anzóis presos em seu corpo por correntes passaram a ser puxados, aumentando ainda mais a dor que lhe causavam. O sangue começou a escorrer livremente pelos ferimentos causados pelas novas correntes. Dois dos anzóis estavam presos bem abaixo dos seus olhos, dois acima de suas sobrancelhas, dois em suas bochechas, um no lado esquerdo do seu lábio inferior, e outro no lado direito do seu queixo. Todos eles passaram a puxar com mais força e Stiles sentiu como se o seu rosto estivesse se rasgando.

- Por favor. Por favor, para! Tudo menos isso –

A criança gargalhou inocentemente.

- Quem será que está embaixo da máscara de couro? – questionou, simpática, antes de girar a manivela mais uma vez. 

Os anzóis foram puxados mais uma vez. Sentiu algo quente escorrer por seu rosto, pescoço e começo do peito, antes de, por ali, começar a pingar no chão. Stiles olhou para si mesmo no espelho, sentindo o pouco de coragem que lhe restava se esvair pelas pontas de seus dedos quando viu o seu rosto, rasgado ao meio, como um desenho que fora partido em dois. O seu rosto ainda possuía expressões, e os seus lábios se moviam com coordenação. Mas, ali, onde antes o seu nariz estava unificado, havia um novo nariz. Um diferente do seu. O seu rosto estava se rasgando como uma máscara.

- Não! Isso não é possível. Eu sou o verdadeiro. Eu sou o dono deste corpo – ele resmungou mais para si mesmo, do que para os mascarados.

O homem gargalhou, enquanto deslizava a mão de forma depravada por seu corpo. Stiles sentia o seu toque nojento percorrer suas pernas e abdômen, enquanto a mulher forçava a manivela para girar mais uma vez, mas era contida pela criança, que segurava a manivela do outro lado, a impedindo de girar.

- Você fez um papel excelente fingindo ser quem não era. Mas agora está na hora de fechar as cortinas e o ator sair do personagem – o mascarado mais novo pronunciou com calma e tranquilidade, antes de abrir as mãos, permitindo que a mulher girasse a manivela com fúria, dando vários giros de uma única vez.

Stiles berrou um grito desesperado. Um grito de morte, antes de sentir o seu rosto se partir por completo, e toda a pele de seu corpo ser arrancada de si como uma vestimenta. Ele abaixou a cabeça, sem ar, se sentindo fraco e sem forças para ir contra as correntes em seus pulsos, com cotovelos, ombros, coxas, joelhos e calcanhares. As mesmas correntes que ainda lhe mantinha erguido no ar, deitado, completamente à mercê daqueles três seres odiados. Quando reuniu forças para erguer a cabeça ele se espantou ao encarar o espelho e perceber. O seu rosto não era mais o mesmo jovial. O seu cabelo não era mais castanho e batendo em seus ombros.

- Não - murmurou, perplexo, observando o seu rosto redondo, olhos pequenos e cabelos longos.

Ele não se via mais como Stiles. Agora, ele via a imagem de Valete. Aquela mulher bonita, na faixa dos quarenta anos, seios pequenos, pele clara e macia, olhar cativante e lábios atraentes. A mulher piscou os olhos, perplexa, antes de sentir a mão áspera do homem em seu queixo, o segurando firmemente, mantendo o seu rosto direcionado para o espelho.

- Olha que rostinho mais bonito! - exclamou pressionando o queixo alheio entre os dedos, antes de jogar o rosto da mulher para o lado.

- É. Seria uma pena se ele também fosse falso – a mulher ditou com desdém, surpreendendo Stiles.

E mais uma vez, os anzóis se agarraram ao seu corpo, perfurando a sua nova pele. Aterrorizado, ele gritou. Gritava de dor, de desespero, de ódio. O mascarado mais baixo, que apesar de ter uma máscara de criança, aparentava ser uma adolescente de uns quatorze ou dezesseis anos, apenas socou a manivela, a fazendo girar uma vez, forçando os anzóis a puxarem a pele de Stiles.

- eu não gostei dessa máscara nova. Vamos, traga o verdadeiro! – ordenou a mulher antes de girar a manivela mais uma vez, forçando os anzóis a rasgarem a pele alheia de novo.

Mais uma vez, Stiles viu um rosto se formando abaixo do seu, emergindo através do corte que o dividia ao meio. O corte surgiu entre o nariz e o seu olho castanho escuro. E ali, naquele corte, ele conseguia ver um olho diferente do seu atual, que também era diferente do seu castanho claro, quase mel. Era um olho verde, que olhava para o espelho, diretamente para o deu reflexo, com ódio.

- vamos! Forcem mais! Quando tem resistência é que fica mais gostoso – comentou o homem cravando a sua lâmina no seio esquerdo da mulher erhuida por correntes.

Stiles berrou com a dor da perfuração. A criança e a mulher giraram a manivela mais uma vez, voltando a arrancar a pele em seu corpo. Abaixo da pele arrancada, jaxia uma pele branca, com pelos nos braços e peito. Stiles encarou o espelho, assustado, observando cabelos castanhos mais uma vez, mas castanhos mais escuros do que os que ele lembrava de ter. Os olhos verdes não mais possuíam ódio. Agora eles exibiam pânico. Os lábios finos e nariz arrebitado puxavam o ar com necessidade desesperada. O maxilar quadrado e o queixo partido em dois de forma tão bonita eram familiares para si.

- Rei?! – eles exclamou, surpreso, em um sussurro, passando os olhos verde ssobre o seu novo reflexo.

A mão áspera e grande do homem armado abaixo de si voltou a tocar a sua pele, deslizando por suas coxas e seguindo para cima, alcançando o períneo e as nádegas rapidamente. Stiles sentiu o nojo lhe dominar e embrulhar o seu estômago com velocidade e voracidade. Em um único refluxo, ele vomitou apenas água e suco gástrico. A risada do homem perturbou os seus ouvidos, que imploravam para serem fechados ou destruídos.

- eu não me importo com o que carrega entre as pernas. Com tanto que tenho um buraco para foder, você sempre será a princesinha do papai – as palavras do homem atravessaram o seu peito com força, como uma estaca de medo que envenenou todo o seu corpo.

Ele passou a se debater e a gritar, tentando se afastar daquele monstro. A criança riu do seu desespero. Os seus esforços foram inúteis, obviamente. As correntes mal permitiam que ele se mexesse, quem dirá se afastar. A criança gargalhou divertida, antes de girar a manivela três vezes no sentido anti-horário, e logo anzóis voaram contra o homem castanho, voltando a perfurar a sua pele, o imobilizando por completo.

- se o pau tanto te incomoda, podemos resolver isso facilmente – ditou a mulher se aproximando com a sua lâmina em mãos.

- não! NÃO! – Stiles voltou a gritar quando a mulher agarrou o seu membro flácido.

Ela cravou a lâmina no membro, o perfurando pela glande e o preenchendo com a lâmina, antes de inclinar a mão, fazendo a sua arma partir o membro em dois. Stiles berrou de dor e lágrimas surgiram em seus olhos, rolando por seu rosto livremente. A mulher cravou dois anzóis, um em cada metade da glande, antes de se afastar, rindo e unindo as mãos, apreciando a imagem.

- tão melhor! Não acha? – inquiriu admirada.

- com certeza. Mas ainda está raso. Ela sabe que o papai vai FUNDO – o homem se aproximou respondendo, antes de cravar a sua lâmina na base do pênis partido em dois.

Stiles já sentia a voz pedir por clemência enquanto berrava a sua dor. A criança riu e girou a manivela, puxando a pele do homem, bem como as metades de seu membro. O castanho cerrou os punhos com tanta força que seus dedos doíam. A sua unha perfurava a própria pele, gerando novos cortes em seu corpo.

- eu não gosto desse. Eu quero o original –

- e nós vamos ter, querido! Mas, primeiro, por que não brinca com ele? –

A criança nada respondeu. Ela apenas girou uma segunda manivela, e Stiles sentiu apenas os anzóis em seu pênis serem puxados para os lados, abrindo ainda mais o seu ferimento. Ele girou de novo e as correntes voltaram a puxar com mais força . O prisioneiro urrava de dor, enquanto tentava, ao máximo, não se mexer, para que mais anzóis não intensificaram os ferimentos em seu corpo. Ele já sentia a sua voz dar sinais de que estava passando dos seus limites vocais, bem como a garganta, que ardia como se ele tivesse vomitado recentemente. Mais um movimento da manivela fora o suficiente para os anzóis começarem a rasgar a carne em que estavam fincados. Quando as mãos pequenas completaram mais um giro completo, os anzóis partiram as metades do membro ao meio, se libertando.

Stiles berrou de dor, antes de morder o lábio inferior com força o suficiente para lhe arrancar sangue. Ele havia se cortado com os próprios dentes na tentativa frustrada de suportar a dor que sentia.

- está tão suja. Por que você não banha a cachorrinha? – inquiriu o homem vendo o garoto inclinar a cabeça para o lado, antes de levar a mão a uma alavancar.

- a banheira já está pronta – proferiu a mulher, venenosa, e Stiles engoliu um grito de pânico ao abrir os olhos, sem erguer a cabeça.

Ele viu, abaixo de si, uma banheira enorme cheia de um líquido transparente. Stiles não gostava nem um pouco daquela ideia. Sabia exatamente o que lhe esperava ali, sem se quer se aproximar. Não precisava se aproximar para saber que aquele líquido queimaria as suas narinas assim que tentasse inspirar o seu cheiro. O Stilinski também era um assassino. Sabia muito bem como torturar alguém. E sabia, principalmente, os métodos de tortura usados por aqueles três estranhos. Porque aquela tortura que estava sofrendo eram todas ideias suas.

As correntes com anzóis foram o método que ele utilizou para arrancar informações de um capanga dos Raposa anos atrás, quando ainda era uma criança. Com a ajuda de roldanas, ele espalhou correntes por um quarto vazio, e colocou o homem no centro, sentado em uma cadeira. Acima dele, Stiles preparou uma goteira. Com as correntes, prendeu anzóis ao corpo do homem anestesiado. E quando, ele acordou, a tortura começou. As gotas de água, a fome, a sede e a humilhação faziam o homem querer sair dali gritando, mas os anzóis o faziam se manter onde estava. O dividindo entre a dor física e a tortura psicológica. Caso optasse por suportar a dor física e abandonar a psicológica, os anzóis abririam tantos cortes por seu corpo, que ele morreria de hemorragia antes mesmo que conseguisse achar a saída do prédio abandonado em que estava.

Alice provou de sua própria máquina de tortura. E, agora, estava prestes a experimentar outra de suas ideias macabras.

- não. Isso não – pediu enquanto a criança puxava a alavanca.

O castanho chorou, mudo, antes de sentir as correntes se moverem, começando a abaixar o seu corpo. A medida em que o seu corpo se aproximava da banheira, ele sentia a agonia e o pavor preencherem o seu peito ao ponto de transbordar em segundos. Os anzóis em seu corpo impediriam que ele se debatesse. Uma variação interessante, na qual ele tinha pensado no passado, mas dispensou por achar ser de pouca criatividade.

Era efetivo. Mas pouco original. 

Ele já possuía anzóis em uma de suas torturas.

Então ele decidiu inovar. No lugar de correntes e anzóis, ele usou chapas metálicas e eletricidade, criando duas paredes quentes que queimariam a pele da vítima se ela tentasse se debater ao ponto de quebrar a cadeira de madeira em que estava sentada e algemada. Afrouxando os pés de trás da cadeira, ele garantiu que a vítima não tentaria se balançar para a frente e para trás e tentasse fugir da armadilha de calor de maneira frontal. Porque se ela se balançar se demais e os pés traseiros quebrassem, ela cairia em uma banheira de ácido perclórico

A banheira de ácido. Fora assim que Stiles conseguiu arrancar a localização de Adrian Harris de um militar. O algemou a cadeira e o torturou com agulhas, a sua fobia, facas e gelo. Ao final, quando finalmente conseguiu a informação, Stiles apenas o empurrou para a piscina de ácido. A polícia nunca descobriu sobre as facas, agulhas e o gelo, pois o ácido eliminou todas as evidências presentes no cadáver.

Quando a glande repartida de seu membro tocou o líquido transparente, Stiles berrou de dor e começou a se contorcer. Ele se debatia Com desespero crescente a medida em que a dor apenas aumentava. Os anzóis em seu corpo puxavam sua pele e seus músculos, rasgando ambos, fazendo mais sangue escorrer sobre si. Por fim, o corpo fora jogado de vez na piscina ácida quando as corrente foram liberadas bruscamente. O liquido corrosivo subiu e desceu em uma pequena explosão, mas nenhuma única gota acertou os torturadores. Alice já não se importava mais com os anzóis. Ele estava desesperado. Se debatia com determinação, na esperança de conseguir deslocar os ossos do corpo e se librar as correntes.

A dor era insuportável. A sua pele derretia sobre o seu corpo. Os seus fios castanhos se unificaram com o líquido, desaparecendo por completo. Os seus olhos estouraram e murcharam nos buracos aos quais pertenciam. Stiles começou a sentir a dor da queimação alcançar a carne abaixo de sua pele, e foi assim que ele soube que morreria alí. A dor não era apenas em sua pele, desta vez. Era em todo o seu corpo. Ao abrir a boca para gritar a sua dor, ele sentiu o ácido invadir a cavidade e seguir queimando o interior do seu corpo.

Descobriu falhar miseravelmente em sua tentativa de libertação quando sentiu o corpo era puxado para cima pelas correntes. Quando a sensação se submersão lhe abandonou, sentiu a orelha esquerda pendurada por uma cartilagem, antes de se desprender totalmente e cair de volta na piscina de ácido.

- está linda! - exclamou o homem, admirado.

Stiles sentiu a necessidade de piscar os olhos, se surpreendendo ao ver que ainda tinha olhos. Ele ficou confuso. Como ainda possuía olhos, se os sentiu derretendo na piscina de ácido? Erguendo a cabeça, ele ergueu a cabeça e piscou os olhos rapidamente, retirando a sensação de encharcado dos cílios, e olhou para o espelho. 

O seu queixo caiu.

- apesar do cabelo horrível, está parecendo uma bonequinha! – exclamou a mulher se aproximando.

Stiles olhou para a piscina de ácido, esperançoso de que a mulher caísse ali. Mas, para a sua surpresa, a piscina havia sumido. Não havia mais como a mulher ser engolida por ácido que a mataria em instantes.

Ele voltou a olhar para o espelho, reconhecendo o rosot que possuía agora. Era Rainha. Mas não a Rainha que ele se lembrava de ter matado. Era a Rainha que havia conhecido anos antes a sua morte. Ela ainda tinha cabelos cacheados volumosos. Os cabelos que ele sempre achou lindos, embora a garota os odiasse. A pele estava intacta, apesar de ter saído recentmeente de um tanque de ácido.

- os peitos são pequenos, mas dão para o gasto – ditou o homem e a mulher ergueu a mão para os seios de Stiles.

- NÃO TOQUE EM MIM! – ele berrou, se debatendo, mas foi em vão.

A mulher agarrou o seu seio esquerdo com força e o apertou, fazendo as unhas perfurarem sua carne.

- além desse cabelo ridículo, já é uma mulher. Não precisamos de outra – ralhou puxando a mão, raspando a unhas pela pele alheia, antes de sinalizar para a criança, que ergueu ambos os polegares de forma animada.

- é uma pena que eu não vou poder brincar com esse seu corpo. O papai já está até duro –

- NÃO TOQUE EM MIM! -

- sabe uma coisa que vai combinar perfeitamente com esse seu cabelo? – inquiriu a criança antes de puxar outra alavanca que se encontrava a sua frente.

Stiles sentiu o seu corpo era alvo de um líquido que veio de cima de si, em um volume ridiculamente grande. Quando a vazão do liquido cessou, o pânico lhe dominou. O cheiro ao seu redor era forte e incapaz de ser confundido. Aquilo era gasolina. Ela fora banhada em gasolina. Stiles ergueu o olhar para a criança, com temor. A criança mascarada agora erguia um isqueiro aceso em uma das mãos, enquanto encarava o brilho pequeno da chama com admiração.

- fogo. O fogo vai purificar você direitinho – comentou o garoto antes de permitir que o isqueiro caísse no chão, onde gasolina havia se acumulado da queda.

- desgraçado! – choramingou o Stilinski e uma lágrima rolou de seu olho.

As chamas se espalharam pelo líquido, se acumulando abaixo da garota de cabelos cacheados. Em segundos, o calor das chamas gerou fogo em seu corpo coberto por gasolina. A garota passou a berrar e se debater, enquanto sentia a sua pele esquentar, arder e doer. As correntes esquentaram ao ponto de marcarem a sua pele. Stiles sentiu a sua pele começar a derreter e a dor tomou conta de sua mente. A sua pele queimava como o inferno e, em questão de segundos o desmaio ocorreu.

A sua consciência retornou em segundos. Ele não conseguia compreender o que estava acontecendo. Mas ele conseguia distinguir o que sentia. E ele sentia ódio. Stiles estava irado, mas, ao mesmo tempo, ele sentia medo. Ao erguer o olhar para o espelho mais uma vez, ele se deparou com uma versão feminina sua. Uma versão adulta da criança afeminada que o FBI prendeu há anos atrás. Ele sabia muito bem quem estava ali, no espelho, agora.

- Copas – murmurou com pesar.

- está aí uma que eu gostava – comentou o homem mascarado, voltando a acariciar as coxas da mulher castanha com malícia.

- essa puta – reclamou a mulher.

- eu não gosto dela – murmurou a criança e Stiles soube que estava com medo.

A criança temia copas.

- vamos. Me deixe aproveitar um pouco mais -

Stiles sentiu a mão do mascarado subir por sua coxa, alcançando a sua virilha.

- NÃO ME TOQUE! – ralhou, desesperado.

- ou o quê? Vai trocar de lugar de novo? –

- não! – protestou a criança, aterrorizada.

- troque comigo – Stiles viu o seu reflexo falar, o deixando aterrorizado.

- vamos trazer logo o original – ditou a mulher puxando uma alavanca e Stiles engoliu em seco, procurando de onde viria a dor desta vez.

Para a sua surpresa, uma guilhotina veio de baixo, e tudo o que ele teve tempo de fazer fora abrir a boca, em um suspiro de pânico, antes de tudo escurecer. Quando ele acordou, algo estranho ocorria. Os seus torturadores não mais tentavam joguinhos com o seu corpo. Não havia mais anzóis, não possuía ácido ou fogo, muito menos guilhotina invertida. Não faziam mais nada. Pelo menos não consigo. Os três estavam agrupados ao lado do grande espelho em que Stiles conseguia ver, agora, a aparência que costumava ter.

- qual deles? –

- eu não sei –

- qual deles deve ser? –

- tem que ter um original –

- não é possível que não exista um original – 

- deve estar escondido mais fundo –

- temos que procurar mais –

- mas e se acharmos ela de novo? –

- estará presa. Não poderá nos matar. Não uma segunda vez –

- podemos apenas fazer com que ele fale –

- podemos? –

- sim. Ele não gosta que confrontem ele. Não gosta de perder o controle –

- e aqui ele não tem o controle –

Os três riram, antes de voltarem para si. E, mais uma vez, ele sentiu medo. Os seus lábios tremiam, o peito gelava e a respiração se tornou difícil. O homem agarrou o espelho com força, e a mulher passou por trás do mesmo, o contornando. Assim que passou pelo espelho, a sua roupa mudou, se tornando chamativa e levemente sensual. Ela vestia uma roupa de assistente de palco.

- vamos lá, seu puto. Qual de vocês é o original? – questionou o homem e Stiles encarou o espelho, confuso e assustado, antes de o homem e a mulher girarem o espelho, o revelando como uma caixa espelhada.

- é o Valete? – inquiriu a mulher, e o espelho passou a refletir a imagem da mulher de cabelos longos e rosto redondo. Acima do espelho, o naipe de espadas era exibido como um ornamento.

- não – ele negou, aterrorizado com a ideia de, realmente, não ser o dono daquele corpo.

A ideia de não ter o controle sobre nenhum aspecto de sua vida lhe matava por dentro. Era como um tiro de espingarda a queima roupa. Um tiro de bazuca em que a bala se alojava em seu peito, o assustando com a ideia da explosão, antes de realmente explodir.

- é o Rei? –

- não... Por favor -

Eles giraram aa caixa mais uma vez, revelando a imagem de Rei, com o baile de ouros ornamentando o topo da parede espelhada da caixa.

- será a Rainha, então? –

- PARA! – 

A caixa fora girada, e a garota de cabelos cacheados fora exibida, com o maior de Paus afina do seu espelho.

- então Copas? –

- NAAAAO! –
A caixa exibiu a mulher de expressão séria, com o símbolo de Copas acima do seu espelho. Mas, diferente dos outros naipes, o seu estava quebrado, dividido na metade, com uma rachadura que o dividia em quatro pedaços. E o seu brilho havia sido perdido. Era como se aquele coração vermelhos possuísse séculos de existência. Um coração velho e desgastado.

- quem é?-

- quem é? –

- qual é? –

- diga! –

- chega de mentiras! –

- devolva! –

- você não merece existir aqui! –

A cada ordem e ofensa proferida por aqueles três, a caixa era girada com mais velocidade, voltando a intercalar as quatro imagens denominadas por cartas de baralho. Stiles começou a chorar a medida em que os reflexos iam passando mais rapidamente. Ele entendia. Ele concordava. Não deveria existir. Sentia que nunca deveria ter existido. Seus pais queriam apenas um filho, e ele veio como um brinde que ninguém pediu. O brinquedo velho e inútil que ninguém queria brincar.

- você não é fraco – a voz de um garoto quebrou a onda de questionamentos e ofensas, lhe surpreendendo.

As ordens e os berros dos três torturados desapareceram por completo, mesmo que eles ainda as proferissem contra si. Stiles sabia que eles continuavam, pois apontavam para si com fúria. E permaneciam a girar a caixa. Mas ele já não os ouvia. Ele percebeu, no espelho, a imagem de uma criança de mais ou menos nove anos. Ela possuía cabelos negros e olhos azuis, a pele era pálida como a neve e a sua expressão era fria, quase vazia. Vestia um uniforme de marinheiro, enquanto segurava um urso marrom na mão direita, o qual vestia uma coroa de brinquedo.

- você... – Stiles conseguiu murmurar, em meio a dor que sentia e ao choro.

Estava perplexo.

- não perca o seu tempo com seres irrelevantes, Law. Preocupe-se com os outros de nós -

- o resto? –

- os outros quatro estão no corpo, agora. Estão brincando. Mas tem alguém querendo mais do que alguns minutos de diversão - proferiu o moreno erguendo a mão e tocando o espelho.

- está caçando. Está me caçando. E você sabe o que acontece se ela me pegar –

- Miguel, quem está... – Stiles questionou, mas interrompeu a si própria assim que a imagem de um ser de terno branco e máscara de coelho tomou a sua mente.

- Branco quer tomar o controle. Ele sabe que, sem mim, você não tem controle sobre os outros – 

- o quê? –

- Branco está tentando me matar, Law. Eu preciso de você.  Nós precisamos um do outro. – proferiu a criança, com calma, encarando o castanho acorrentado choramingar, mordendo o lábio inferior, antes de abaixar a cabeça, chorando.

- eu não posso. Não consigo – 

- é claro que consegue! Não seja idiota! Você sempre foi o melhor. – o moreno sorriu gentil, antes de os três mascarados gargalharem, chamando a atenção de Stiles.

O assassino se encolheu brevemente, enquanto cerrava os punhos. A criança pareceu perceber a tentativa frustrada de afastamento por parte do outro. Suspirando e negando com a cabeça, o moreno exibiu a sua frustração, antes de erguer a mão, movendo o urso de pelúcia, o erguendo pelo braço, antes de estalar os dedos. Instantaneamente, os três mascarados rugem de dor. Stiles se assusta e abre os olhos. Erguendo a cabeça, se surpreendeu ao perceber os três torturadores se contorcerem e cair de joelhos no chão. Ele não entendeu nada. Se concentrando nos corpos alheios, ele conseguiu compreender o que havia acontecido. Mas não sabia como.

- você é melhor do que eles, Law. Você é uma Alice – a criança pronunciou, ignorando os urros de dor dos mascarados, enquanto os seus membros se quebravam em pontos específicos.

O homem apenas caiu de joelhos e levou as mãos a cabeça. Mas a mulher e a criança tiveram os quatro membros quebrados, bem como algumas costelas. O homem gritou mais uma vez, inclinando o torso para trás. Sangue jorrou do seu abdômen.

- esses três não tem como lhe machucar, Law. Eles não têm como lhe machucar há muito tempo – o garoto estalou os dedos mais uma vez, e os três pegaram fogo imediatamente.

Os gritos de dor e agonia perduraram por mais alguns segundos, antes de o silêncio dominar por completo, e os três corpos em chamas caírem no chão, se tornando apenas esqueletos.

- a sua família já não pode mais lhe ferir. Mas Branco pode -  o moreno voltou a informar, abaixando a mão com o urso.

- ela não sabe onde eu estou, graças a você. Mas isso não quer dizer que ela não vai conseguir se não a impedir. Ela pode não saber onde, mas está perto, Law –

- eu estou na minha cabeça, não é? De novo –

- sim –

- entendo. Alguma coisa me fez voltar –

- sim. Você... Reviveu uma memória da morte do seu irmão – respondeu com a voz suave, vendo o assassino erguer as sobrancelhas, surpreso, por um segundo.

- oh! Foi isso, então – resmungou, incomodado e triste.

- sim. Foi. Agora se solte e venha me ajudar. Eu não posso com ela – 

- me ajude a sair –

A criança suspirou, negando com a cabeça.

- você se esquece muito fácil – o garoto apenas encarou o castanho e as correntes começaram a tremer, antes de se quebrarem, libertando o assassino.

Stiles caiu de quatro no chão frio. A sensação da nudez e a temperatura baixa do ambiente lhe davam calafrios que ele preferia evitar. Ele era um assassino treinando para resistir e prosseguir, mas até mesmo possuía limites. E sabia que já estava perto do seu limite. Havia sido humilhado, torturado, assediado, esfolado, banhado em ácido e incendiado. O seu psicológico, que já não era dos melhores, estava fraco. O homem se ergueu e encarou o espelho, ainda nu.

- se apresse – a imagem do garoto se dissipou no espelho, tremulando como o reflexo da lua no mar agitado, deixando apenas o reflexo do homem.

O Stilinski caminhou até o espelho e esticou a mão, sentindo a mesma atravessar o espelho como se a estivesse mergulhando em uma piscina vertical. Ele atravessou o objeto, se vendo, agora, em um corredor de uma escola. Os armários vermelhos e pretos tinham um brilho chamativo, apesar da aparência abandonada do lugar. Tirando os armários, aquele corredor parecia não ser habitado há séculos. Os azulejos brancos e pretos eram sujos e quebrados em alguns pontos, resultado, muito provavelmente, da dilatação do material na mudança de temperatura das estações. O teto era revestido com tinta azul envelhecida pelo tempo, já descascando em alguns pontos.

- esse lugar... – murmurou ao analisar bem o ambiente.

Ele o conhecia até demais. Havia passado três anos inteiros em corredores parecidos. Stiles já havia tomado conhecimento de que estava em sua mente. E que, nada daquilo era completamente verdade. Eram apenas projeções de sua cabeça. Fatores de seu passado e do seu distúrbio modificados por sua saúde mental frágil. Mais uma prova de seu delírio era o modo como o corredor se torcia em espiral ao decorrer de seu caminho. Se andasse por mais doze metros estaria de ponta a cabeça. Mas, com uma certeza convicta de que não cairia dali, ele seguiu o corredor a passos rápidos, antes de começar a correr.

Os corredores eram uma verdadeiro labirinto. E os corredores eram tão malucos quanto se podia imaginar. Havia corredores que giravam; que encolhiam; que cresciam; que refletiam; possuíam piscinas; fornalhas; que eram barulhentos; e os tão silêncios que se quer dava para ouvir passos neles. Mas ele sabia o caminho. Diferente de sua personalidade que queria Miguel morto. Mas o que lhe preocupava era a astúcia e as habilidades de sua outra personalidade. Ela era persistente, e ele sabia muito bem disso. Ao virar a esquerda em um corredor gigante após passar por um repleto de flores, Stiles parou de correr bruscamente, surpreso com o que viu.

Ela estava a sua frente todo aquele tempo. Deveria ter demorado muito sendo torturado pelos fantasmas do seu passado. Pois, do outro lado do corredor, ele via de pé um ser com calça social e terno, ambos tão brancos quanto papel. Em seus pés, sapatos sociais com um leve salto, que mal daria para perceber se não tivesse olhos treinados, completavam o seu traje. O rosto fora virado na direção do castanho, exibindo um coelho sério, natural, como se a cabeça do animal, em uma proporção enorme, tivesse sido arranca e colocada em um corpo humano. A pelagem branca balançou com a leve brisa que veio do corredor ao lado.

- Branco! – rosnou o castanho observando a mulher mascarada virar o corpo em sua direção e unir as mãos atrás do mesmo.

- o meu preferido! –

Stiles cerrou os punhos.

- se você está aqui... Então Miguel já sabe que estou atrás dele –

- sim. Ele sabe –

- e você veio me impedir –

- como sempre, astuta –

- como sempre, sério demais para o símbolo que carrega –

- não vai passar por mim –

A mulher mascarada riu. O seu riso se tornou um gargalhar alto que ecoou pelo corredor. Ela jogou a cabeça para trás, ainda gargalhando por trás da máscara, antes de a abaixar, separando as mãos e as colocando ao lado do corpo. Branco ergueu a mão esquerda, exibindo uma faca Katambit com lâmina prateada e cabo preto.

- vamos ter um jogo limpo, certo? Pelos velhos tempos – inquiriu girando a faca no dedo indicador, antes de agarrar o cabo com firmeza mais uma vez.

Stiles apenas manteve a mesma posição e estalou o pescoço.

- somos maravilhanos, Branco. Nós não jogamos limpo – 

Os dois arrancaram em disparada um contra o outro. Branco, com a mão livre, puxou duas facas do bolso interno de seu terno e as lançou no castanho em um arremessos único. Ele não parou a sua investida, apenas reduziu a velocidade para efetuar um giro no próprio eixo, dando dois passos para o lado, e voltou a apertar o passo. Quando eles se alcançaram, Stiles se jogou no chão e esticou a perna esquerda, mirando no tornozelo alheio. A mulher saltou, colocando a mão livre ao lado da cabeça do castanho.

Ela golpeou com a faca na garganta do homem, o vendo rolar para o lado, desviando do ataque. Stiles se ergueu com velocidade e correu até a parede. Branco o seguiu com igual velocidade. Ele saltou e chutou a parede, girando o corpo e movendo a perna em um chute. A mulher inclinou o corpo para a frente, enquanto girava no próprio eixo, fazendo a perna do outro passar por cima de seu corpo. Ela se voltou contra o outro assassino e ergueu o corpo devidamente, colocando a mão com a faca atrás do corpo, e erguendo a outra mão, a mantendo aberta e preparada. Stiles aterrissou em pé e girou o corpo, se afastando dois passos, antes de flexionar uma perna, se abaixando, e esticar a outra, mantendo as duas mãos atrás do corpo, com os braços esticados para trás e os olhos fixos na adversária. 

- você sabe como isso termina – acusou o Stilinski com fúria nos olhos.

- he! Você não está tão bem informado desta vez – a mulher soou animada antes de estalar os dedos.

Um som maquinal antes de um estrondo. Stiles se colocou atento antes de arregalar os olhos, surpreso. Ele viu a estaca de ferro descer, presa a uma haste, como uma foice, pronta para lhe atravessar o abdômen. Ele reagiu por reflexo e se jogou para o lado, vendo a armadilha passar por si, e retornar ao teto.

- Mas que porra! – exclamou ouvindo a outra gargalhar.

- estamos no campo perfeito para uma maravilhana como eu, Miescyslaw. Aqui, eu posso fazer de tudo! – ela exclamou, animada, antes de voltar a avançar.

Stiles não recuou. A mascarada lhe alcançou e girou, desferindo um golpe da faca. Ele se abaixou e a socou na barriga, a acertando em cheio. A mulher recuou um passo, antes de ele se erguer avançando um passo e desferindo mais um soco potente no abdômen alheio. Com um gancho de esquerda, forçou a adversária a jogar a cabeça para trás e cambalear na mesma direção. Ele correu na direção da mulher e desferiu mais um soco. Ela agarrou o seu punho com a mão esquerda e girou na mesma direção, passando por seu braço e acertando uma cotovelada em sua mandíbula.

Stiles recuou com o golpe. Quando voltou a focar o olhar em Branco, ela já havia saltado e girado no ar. O pé dela lhe acertou o peito com força, o forçando a recuar mais alguns passos. Quando, enfim, parou, sentiu o pé afundar no azulejo do corredor e arregalou os olhos. Atrás de si, uma estaca de ferro lhe atravessou o abdômen, fazendo sangue jorrar de seu corpo. Branco gargalhou correndo até o castanho e o apunhalando no pescoço.

Stiles arregalou os olhos, perplexo, observando a mulher inclinar a cabeça.

- eu não tenho como negar que você já me derrotou antes, Law. Você e o seu irmão foram os melhores que eu treinei. Mas você me mostrou algo que eu não havia percebido: todo mundo tem um ponto fraco. Até mesmo um maravilhano como nós. Eu não sabia que tinha um ponto fraco até você o esfregar na minha cara -a mulher sorria por trás da máscara, o que ficava evidente em seu tom de voz 

Ela se aproximou mais, girando a faca no pescoço alheio, fazendo sangue começar a escorrer pelos lábios finos do homem.

- E o seu, Stiles, é o fato de que você é o verdadeiro assassino do seu irmão – as palavras secas e o tom sério da mulher perfuraram o peito alheio com mais força do que a estaca de ferro havia atravessado o abdômen dele.

- agora me deixe em paz, para eu fazer o que você deveria ter feito há muito tempo, criança – a mulher puxou a faca para si, abrindo metade do pescoço de Stiles, fazendo o sangue descer como uma cachoeira até a o seu peito.

Stiles sentiu os dedos gélidos, enquanto erguia a mão, já sem forças, para tentar agarrar o braço alheio e impedir que se afastasse. Ele não sentia medo da morte. Havia se acostumado com a ideia que morreria há muito tempo atrás. O que ele temia, era o que ocorreria com a morte de sua mente, ali dentro. Quem tomaria o seu lugar? Branco? Miguel? Alguma das Alices? A maioria das opções eram devastadoras. Como Peter iria lidar com aquilo? Ele certamente morreria se Branco ou qualquer uma das Alices assumir o controle de seu corpo. A sua visão ficou completamente escura quando Branco lhe deu as costas e o seu último suspiro foi dado.

Branco apenas jogou a mão para o lado, e girou a lâmina em seu indicador, limpando o grosso do sangue, marcando a parede com o sangue, e a jogou para o lado. A mulher virou a direita no fim do corredor, continuando o caminho que seguiria se Mieczyslaw não tivesse lhe interrompido. Ela não se surpreendeu ao encontrar o castanho de pé, olhando para si com seriedade, no fim do novo corredor. O homem ergueu as mãos abertas em palmas e separou os joelhos, em uma posição de defesa. Branco apenas levou uma mão a máscara, coçando o seu nariz de coelho com o polegar e suspirou.

- eu já tinha me esquecido que, de todos nós, você é o que renasce mais rápido –

- não podemos morrer em minha mente, Branco. Nem mesmo Miguel –

- eu discordo. Miguel é diferente. Ele pode ser morto – afirmou encarando o castanho erguer a sobrancelha em questionamento. 

- e o que te faz pensar isso? Nunca se quer o encontrou –

A mascarada gargalhou e inclinou a cabeça para o lado.

- porque ele é uma farsa –

- uma farsa? –

- se me deixar matá-lo, verá a verdade –

- para matar o Miguel, terá que passar por cima de mim – proferiu, irritado, cerrando os punhos, ainda na mesma pose marcial.

Branco apenas estalou a língua no céu da boca e suspirou.

- então tá. Eu posso te matar de novo – ditou desfilando na direção do homem.

Stiles arrancou em sua direção, furioso. Branco sorriu por trás da máscara e ergueu o indicador na direção do adversário. Uma lâmina surgiu do chão e girou, completando um ângulo de 180 graus, antes de desaparecer no chão novamente. Instantaneamente, o corpo de Stiles caiu no chão, após o próximo passo, se abrindo em dois.

- se isso é o melhor das Alices que criei... Eu devia estar louca quando os escolhi – ela encarou o corpo caído no chão, observando o coração exposto parar de bater, lentamente.

Ao erguer o olhar do cadáver, observou o castanho cuspir no chão, há alguns metros a sua frente e cerrar os punhos. Ela suspirou, negando com a cabeça, e seguiu avançando, ignorando tanto o cadáver, quanto o assassino a sua frente. Stiles avançou mais uma vez, e a mulher levou a mão as costas, e retirou um revolver calibre 38. O castanho arregalou os olhos quando se viu na mira as arma. Branco disparou e ele se jogou para o lado, efetuando um giro e seguiu em sua investida. A mulher o seguia com a arma, disparando em meio ao seu zigue e zague. A cada disparo, ele contava as balas, esperando o momento certo para sehuiryde forma mais direta.

“Só mais um tiro”

Ele pensou e decidiu que era a hora de avançar. Quando Branco ergueu a arma para a sua cabeça, Stiles agarrou o pulso da mulher e o abaixou com firmeza. Ela usou a mão livre para desferir um soco no Stilinski, que girou soltando o seu pulso e se colocando atrás de si. Assim que terminou o giro, o assassino se viu ao ver que a adversária também havia girado. Os dois trocaram golpes rápidos com as mãos, tentando desarmar um ao outro. Branco recebeu um golpe do pulso alheio no queixo, antes de efetuar um golpe da lateral do punho no rosto alheio. Stiles jogou a cabeça para trás, sentindo Branco rodopiar a sua frente. Quando ele olhou para o lado de canto de olho, se viu surpreso com o 38 apontado para a sua cabeça, enquanto Branco estava de lado, ignorando a sua imagem. 

O tiro fora certeiro e ele caiu morto no chão mais uma vez. Jogando o revolver para trás, sem se importar, seguiu o corredor, não se vendo surpresa quando, ao piacar os olhos, encontrou Mieczyslaw de pé, diante de si mais uma vez.

- por que não pode fazer como o resto de nós e ficar morto por uns dez ou vinte minutos? – perguntou visivelmente incomodada.

- e por que você não pode fazer como os outros e ficar quieta em sua cela? –

Ela suspirou e Stiles sabia que, por trás da máscara, ela estava revirando os olhos.

- porque eu sou forte. Porque eu sou melhor. Porque eu mereço. E porque você não está fazendo um bom trabalho como Alice –

- eu não vou fazer parte do seu jogo estúpido. Não me importa o que você quer ou deixa de querer –

- hm. O sentimento é reciproco. Não me importo com o que quer. Eu vou consehuir o que eu quero. Como sempre fiz – 

Stiles voltou a avançar com velocidade. Branco voltou a sacar uma faca e correu até o outro. O homem saltou em um giro e deitou o corpo no ar, tentando acertar os pés no rosto alheio. A mascara desviou com eficiência. Quando o outro aterrissou, ela desferiu um golpe das lâminas em um X, com cada trajetória intercalada. Alice desviou de casa golpe, antes de voltar a girar, erguendo a perna. Branco saltou para trás e arremessou as lâminas. Stiles aproveitou o embalo do seu giro e saltou, desviando das lâminas. As portas dos armários ao lado do assassino se abriram, revelando fuzis preparados. Ele correu, desviando das balas, que acertaram os armários de onde foram disparadas. A medida em que corria, os armários iam se abrindo, revelando mais fuzis. Alice sorriu vitorioso ao correr na direção de Branco, forçando os armários a se abrirem e dispararem, como um efeito dominó.

Branco riu, antes de os armários diante dela se abrirem, surpreendendo Stiles, que observou o efeito dominó ocorrer a sua frente ao mesmo tempo em que ocorria atrás de si. Em breve, ele não teria para onde correr. O homem encarou os armários, notando a distância entre eles e o teto. Sorrindo, ele correr até os armários e saltou, exatamente quando seria alcançado pelos disparos que vinham da frente. Ele conseguiu pular o muro de disparos, evitando a sua morte. Branco inclinou a cabeça para o lado, e ele voltou a correr em sua direção. Os armários já abertos dispararam, perfurando o seu corpo por todos os lados. O corpo alvejado caiu no chão e Branco seguiu a desfilar pelo corredor.

Em mais um piscar de olhos, Stiles voltou a aparecer a sua frente.

- você não desiste, não é? Quando você vai entender que eu sou mais forte aqui? –

Stiles não encontrou palavras para rebater. Por mais que soubesse o que havia acontecido há anos, as palavras permaneceram perdidas e sua boca silenciada. Havia morrido mais de duas vezes para aquela mulher, ali. Por algum motivo, Branco estava mais forte ali do que em seu passado. Ele não sabia quando, nem como, havia todas aquelas armadilhas ali. A mulher puxou uma espada das costas, intrigando o homem mais uma vez.

- o que diabos você... – ele se calou ao sentir uma mão pequena envolver a sua mão direita.

Ele olhou para a mão, notando, só agora, que segurava uma espada idêntica a de sua adversária. Franzindo o cenho, tentou lembrar quando havia pego aquilo. Então a voz de Miguel ecoou em sua mente, e só então Stiles notou que a criança segurava a sua mão e a empunhadura. Miguel havia lhe entregado a arma.

- não se confunda. Esta é a sua mente. Não se deixe confundir com truques. Ela pode até ter poder, aqui. Mas você é o rei, aqui. Mostre a ela porque ela está aqui - 

- e se eu não conseguir? – inquiriu preocupado, cerrando o punho envolta da empunhadura da espada.

- não seja idiota, Law. Ela perdeu quando era para valer. E se você levar a sério, ela perderá de novo -

- então está por aqui, Miguel? – inquiriu Branco olhando fixamente para Stiles, tentando descobrir onde o pequeno se escondia.

- afinal de contas, aqui é a sua mente. Não a dela! –

- tanto faz. Se não quer se entregar, eu posso continuar brincando de caça e caçador - 

- não. Você não vai poder – o castanho moveu a mão, jogando a espada por sobre o ombro.

- e lá vamos nós – a mulher ergueu a espada devidamente e avançou contra o castanho, que repetiu o seu ato.

As espadas se encontraram de forma nada gentil, com a de Branco empurrando a lâmina de Stiles para trás. O castanho estalou a língua, em protesto. Ele estava irritado. Nada do que fazia funcionava contra Branco. Toda abertura que criava era Instantaneamente destruída pela mulher mascarada. Aquilo estava errado e ele sabia disso. Branco não deveria ser tão habilidosa. Ela era, sim, forte e capaz de muitas coisas. Mas ele havia a derrotado quando era apenas uma criança. Como, agora que era um adulto, estava sendo superado tão facilmente.

- você não pode me derrotar, Alice –

- tsc – o castanho atacou, sendo surpreendido quando a mulher golpeou a sua espada, a afastando, criando uma abertura.

A espada atravessou o seu corpo, o forçando a se ajoelhar com a dor. Ela puxou a espada de volta e agarrou os seus fios castanhos, o fazendo a encarar nos olhos.

- eu sou melhor do que você, garoto. Fui eu quem te criou. Se, hoje, você é algo, é graças a mim – ditou antes de enfiar a espada no pescoço do homem, o vendo arregalar os olhos e começar a engasgar com o próprio sangue.

- deixe-me alertar sobre algo antes que você volte. Nada do que você fizer vai adiantar. Nada do que tente pode me ferir. E sabe o porquê? – inquiriu abandonando a própria espada, que se manteve no pescoço alheio, e levando a mão para a sua máscara, a puxando lentamente – é porque eu sou você – 

Stiles arregalou os olhos, perplexo, ao se ver retirando a máscara de coelho de seu rosto e sorrindo vitorioso.

- você entende agora, Stiles? Você é só um pedaço meu que pensa ter vontade própria. – Branco voltou a cobrir o seu rosto com a máscara, antes de puxar a espada com força, terminando de matar o castanho a sua frente.

Stiles retornou várias vezes, e em todas ele caiu antes que pudesse realmente machucar Branco. Atrás da mulher de terno branco e máscara de coelho, havia uma pilha de cadáveres espalhados por todo o corredor. Cadáveres baleados, cortados, esquartejados, esmagados, queimados e espetados. Branco cantarolava animadamente, de forma distraída. A cada vez que Stiles voltava, ela sentia que ele estava mais debilitado. O psicológico dele estava cada vez mais abalado. Se sentia imbatível! Finalmente o dia havia chegado. O dia em que trocaria de lugar com Mieczyslaw de forma definitiva.

- desista, Mieczyslaw. Não há como ganhar. – 

Stiles tremia. Em parte de ódio, outra de temor. A sua insegurança voltava a martelar em sua mente, como um cutelo despedaçando o seu corpo. Se Branco era realmente assim tão forte, então... Qual deles dois era o original? A mulher de longos cabelos castanhos e máscara de coelho, ou o homem com cabelos castanhos batendo nos ombros e sérios problemas psicológicos? Stiles já começava a achar que, talvez, ele fosse apenas mais uma personalidade em meio àquele conjunto embaralhado de tantas. E se ele fosse só isso? Mais uma carta em meio a outras? O medo e a dor se tornaram fúria e negação. O castanho avançou com as mãos para trás.

- criança tola! Você me envergonha! – Branco esperou que Stiles a alcançasse para que pudesse atacar.

A mulher brandiu a espada em um golpe na horizontal, tentando partir o corpo alheio em dois. Mas Stiles fora mais rápido. Se jogando de joelhos no chão, eoe evitou o golpe. Ele puxou as mãos para a frente, surpreendendo a adversária ao revelar uma espingarda em sua posse. Deslizou até que os pés da assassina se encontrasse abaixo de sua virilha, e apontou com a arma para a mascarada. Branco não teve tempo de reação. O tiro abriu um buraco em seu queixo e explodiu o topo de sua cabeça.

Stiles sorriu vitorioso, orgulhoso de seu feito. Agora, após a morte, Branco demoraria uns quinze a vinte minutos para lhe importunar mais uma vez. O que lhe daria tempo para a trancar de volta em seu quarto. O homem suspirou, antes de notar a chuva vermelha ao seu redor. Diferente do esperado, não eram respingos de sangue. Eram confetes vermelhos. O castanho encarou, confuso, o corpo a sua frente, o vendo explodir em borboletas que se espalharam por todo o lugar.

- o quê?! –

O gargalhar da mascarada o assustou, fazendo se virar e olhar nos olhos vermelhos do rosto de coelho que a assassina vestia.

- que amor! Quem sabe um dia isso se torne algo que chegue a me chamar a atenção, criança – a mulher proferiu com um sorriso por trás de sua máscara e desferiu um golpe forte na horizontal, decapitando o assassino e agarrando a sua cabeça pelos fios longos.

Branco ergueu a cabeça do outro até a altura da sua, o encarando nos olhos, vendo os últimos reflexos de seus sistema nervoso tremer os seus lábios por um segundos.

- você sempre gostou de mágica. Lembra? De todos, você era o mais criativo em assassinatos devido ao seu gosto por truques e ilusionismo – comentou antes de beijar a testa alheia e deixar a cabeça cair sobre o corpo jogado do homem.

- agora, se me der licença, tenho muito o que fazer – assim que ela deu as costas ao cadáver, Miguel se ajoelhou diante do corpo decapitado de Stiles.

O garoto ergueu as mãos, agarrando a cabeça do castanho com carinho e a trazendo para o seu colo, a abraçando com ternura. Uma lágrima rolou pela bochecha da cabeça decapitada. A criança afrouxou o abraço e encarou o cadáver nos olhos, revelando temer em seus próprios olhos.

- não desista, Law. Você não pode desistir -  murmurou observando os lábios mortos se manterem inertes.

- eu... eu não posso com ela – a voz do homem veio de suas costas, mas o garoto ignorou, mantendo o olhar fixo na cabeça em suas mãos.

Stiles se jogou sentado no chão, com as costas coladas as costas da criança, sustentando um olhar derrotado para o chão. Ele não tinha como impedir Branco. Não ali. Não sabia como, mas ela havia ficado forte demais. Ou será que ele havia enfraquecido após tantos anos? Não sabia dizer qual era a resposta. E ele também não queria saber qual delas era a verdade.

- eu sinto muito, Miguel –

- é claro que você pode com ela, Law! – exclamou o garoto, apoiando a cabeça em suas coxas e acariciando os fios castanhos.

- não. Eu não posso. Olhe para isso! Olhe quantas vezes eu perdi! E na única vez em que pensei ter ganhado, era só ilusão – argumentou, indignado consigo mesmo, com a sua fraqueza, erguendo a mão e apontando para todos os eus cadáveres que se encontrava espalhados por aquele corredor – eu sou ridículo –

- não, não é. Você é melhor do que pensa, Law. Você é –

- SER UMA ALICE NÃO MUDA NADA! –

- você é um sobrevivente, Law. Era isso o que eu ia dizer –

- um sobrevivente... Puff. Eu sou uma piada, Miguel. –

- sobreviventes não são fracos, Law –

- é claro que são! Sobreviventes são apenas pessoas que não morreram, não pessoas que venceram. É diferente –

- sobreviventes são pessoas que conseguiram seguir em frente, Law. Seja perdendo ou ganhando. E você ganhou –

- ganhei?! O que porra eu ganhei?! Nunca tive família, o meu irmão morreu, eu matei os únicos amigos que tive. E dois dos únicos seres vivos que me enxergaram como uma pessoa, um está morto por minha causa e o outro... Eu já não sei mais quem ele é –

O silêncio se instalou entre os dois.

- se isso é ganhar... Eu.. eu só quero morrer, Miguel. –

- morrer?! Por quê? –

- eu não tenho mais o Lay... Ele era o meu único motivo de viver. Eu só queria ele bem. E até nisso fui um fracasso. –

- você nunca foi um fracasso! –

- você não sabe do que está falando –

- você me prometeu, lembra? –

- hm? –

- você disse que iria viver por ele –

- não vale a pena, Miguel –

- e também disse que iria vingar ele –

- e eu já vinguei –

- não. Não completamente. Você sabe que eles ainda estão lá, vivendo a vida como se não tivessem feito nada – comentou apertando os polegares sobre os olhos da cabeça em seu colo, espremendo os globos oculares.

- eles não mataram o Lay – comentou olhando por sobre o ombro.

- não. Eles fizeram pior. Foi com eles que tudo começou. E é com eles que tudo vai terminar –

- não, não vai. Porque pra terminar com eles, eu teria que ganhar de Branco aqui –

- não seja estúpido, Law. Você não é Rei, Valete, Rainha ou até mesmo Copas. Você já matou Branco outras vezes. Pode fazer de novo –

- ela está mais forte, Miguel. Viu as coisas que fez? Ela nunca fez essas coisas antes. Eu sei lá. Está tudo tão maluco –

- Esse é o ponto, seu idiota! Está tudo maluco porque é a sua cabeça. Você É maluco. NÓS somos malucos. Todo mundo aqui é maluco. Se Branco pode fazer essas coisas. Você pode fazer melhor. Porque ela é só um pedaço seu. Branco não passa do coelho na cartola. Mas você... Você é quem veste a cartola – a criança abandonou a cabeça sem corpo e se ergueu.

- como pode saber? –

- do quê? –

- que eu sou o original? –

- porque eu sou uma das personalidade que surgiram, Law. E como o psiquiatra te disse uma vez, sou do tipo que tem conhecimento de tudo. Eu sei quando nasci, porque nasci e qual é o meu intuito. Eu estou aqui porque você precisou de mim. Não por causa dos outros. Eu sou o segundo mais velho, mesmo sendo a criança. E assim como você precisou de mim, agora eu preciso de você. Então se levante e mate aquela vadia como você fez antes – o garoto correu para um dos armários, que se abriu sozinho, e se jogou lá como um mergulhador em uma piscina, desaparecendo.

- não falhe em me proteger. Você sabe o que a minha morte vai significar -  a voz do garoto ecoou no corredor, fazendo Stiles arregalar os olhos, aterrorizado.

O temor se tornou ódio. O Stilinski cerrou os punhos e fechou os olhos, ze concentrando. O silêncio do corredor fora quebrado pelo som de sapatos sociais caros atingindo o azulejo. Ao abrir os olhos e erguer o olhar, ele se deparou com a mascarada mais uma vez.

- você é masoquista?! Estranho. Pensei que fosse capaz de ignorar a dor. O que não faz sentido se você sente prazer com ela – comentou a mulher erguendo as mãos ao lado do corpo e dando de ombros.

- mas ainda bem que está sentado. Pelo menos já aceitou a derrota e vai deixar as coisas mais rápidas – 

O castanho se ergueu, antes de lançar um olhar frio na direção da assassina, que parou de caminhar, surpresa. Branco franziu o cenho por trás de sua máscara e puxou a espada de suas costas. Stiles retirou um bastão de beisebol das costas e o jogou por sobre o ombro. 

Branco gargalhou.

- é sério isso? –

Stiles gargalhou.

- por que ter medo? É só um bastão – 

- você não já foi humilhado o suficiente? – inquiriu já caminhando na direção do castanho

- vamos começar a brincadeira – ditou marchando na direção da mascarada.

Branco e Stiles apertaram o passo, antes de começarem a correr um contra o outro. Ela saltou e girou, ele se abaixou, pegando impulso para o movimento do bastão.. Mulher e homem se encontraram, desferindo um golpe cada um. Branco descia a katana em sua mão em um corte em diagonal que partiria o seu adversário em dois. Já Stiles desferia um golpe vindo de baixo, também em diagonal, completamente contrário ao golpe da mascarada.

- faça pelo Lay. Por mim. Por nós – a voz de Miguel ecoou pelo corredor, fazendo Stiles e Branco apertarem ainda mais o agarre de suas mãos em suas armas.

 

 

 

Chapter 63: I am You

Chapter Text

- AAARGH! – homem e mulher rugiram um contra o outro em seus golpes.

 

O impacto do taco de beisebol com a lâmina da espada gerou um som metálico agudo extremamente alto, o que incomodou ambos os ouvidos. A expressão de Stiles se manteve neutra, nula, carregando apenas o ódio fervente em seus olhos, mas o rosto estava sereno. Branco permanecia ilegível devido a sua máscara, conservando o seu ar misterioso. Ambas as armas foram giradas, sem se quer serem afastadas, permitindo que ambos adquirissem a mesma pose, enquanto um empurrava a sua arma contra o outro.

 

- eu deveria ter te matado há muito tempo! Antes mesmo de tudo isso começar! – acusou a mascarada, furiosa.

 

- Nem sei porque eu sofri com a sua morte! – ralhou o castanho, irritado.

 

Os dois se afastaram em um salto.

 

Branco caiu abaixada e o encarou acolher o chão com os pés e rodopiar ao redor de si mesmo, caminhando para trás. Ela rosnou, irritada, e manuseou a própria arma com habilidade, antes de cortar o ar ao seu lado e avançar com fúria. Stiles girou o bastão na mão algumas vezes, aproveitando o movimento para girar o pulso, e esperou pelo ataque alheio.

 

Ela o atacou por cima, mas ele cortou o ataque ao golpear a lateral da lâmina com o taco, desviando o ataque. Ela girou a espada, antes de receber um chute na costela. Branco golpeou o castanho de baixo para cima, mas o ataque fora bloqueado. No entanto, Stiles sentiu quando a adversária lhe chutou a lateral do joelho.

 

A dor se alastrou ali.

 

Ela quase quebrou o seu joelho, bem como ele quase quebrou a sua costela.

 

O castanho empurrou a lâmina para trás e Branco saltou na mesma direção, se afastando. Alice observou a mulher manusear a espada com habilidade, mais uma vez, antes de adquirir uma pose de batalha. Branco não estava apenas se preparando, estava o alertando.

 

“Chega de joguinhos”

 

A posição alheia gritava para a sua mente treinada. O castanho girou o taco em sua mão, duas vezes, enquanto girava o próprio corpo. Diferente de Branco, ele não parou com a arma empunhada a mostra. O homem se mantinha ereto, com o peito estufado e o queixo erguido, enquanto as duas mãos se uniam em suas costas, segurando o bastão atrás de seu corpo.

 

- você me subestima demais – Branco soou calma, embora o outro conseguisse sentir a fúria em suas palavras.

 

- eu digo o mesmo – 

 

A mulher avançou em uma corrida e o homem apenas a esperou. Ela rugiu ao desferir um golpe lateral com a espada, ele bloqueou o golpe com outro. O som metálico voltou a ecoar pelos corredores. Instintivamente, os dois repetiram o mesmo ataque, surpreendendo a ambos quando perceberam o que fizeram em perfeita sincronia. Eles giraram para a esquerda, se afastando de um possível terceiro ataque.

 

Branco emitiu um xingamento em russo enquanto, com a mão livre, disparava três shurikens no homem de cabelos castanhos. Stiles rebateu dois dos ataques com um único golpe do bastão de beisebol, enquanto dava um passo para o lado, desviando da terceira estrela. O Stilinski rebateu o xingamento proferindo outro em Nynorsk, dialeto norueguês, antes de marchar na direção do inimigo.

 

- Vou fazer você engolir suas palavras –

 

Ele não se deu ao trabalho de responder. Branco, furiosa, avançou contra o castanho com os punhos cerrados envolta da empunhadura da espada. No momento em que a mulher deu o último passo na direção do homem, o tempo pareceu parar para ambos. As duas mentes trabalhavam a mil, bem como os seus olhos. Eles se analisavam, percorriam o campo de visão com olhares treinados e suas mentes trabalhavam em cada pedaço do campo das possibilidades.

 

Branco, por trás de sua máscara, analisavam minuciosamente a expressão fácil de seu pupilo, bem como as suas reações corpóreas, tentando prever o próximo movimento do mais novo. Já Stiles analisava sua mentora com frieza no olhar. Estranhamente, para ele, a mulher havia voltado a ser previsível. Exatamente como era no passado. Do mesmo jeitinho que era quando ele a matou. Ele sabia exatamente o que ela faria naquela situação.

 

“apoiar o corpo na perna direita, ao flexionar o joelho direito.”.

 

Ele pensou, e fora exatamente o que Branco fizera.

 

“Em seguida, vai jogar mais uma shuriken. Desta vez, em meu abdômen. Assim, mesmo que a espada não me corte, o ferimento na barriga limitará, mesmo que minimamente, os meus movimentos.”

 

E, mais uma vez, a mulher vestida em um terno de cor com o mesmo nome que o seu título fez exatamente como o castanho pensara. Ele trouxe o bastão de beisebol para a frente do corpo, colocando a sua arma no ponto em que seria atingido pela estrela ninja, forçando o objetivo pontiagudo e afiado simplesmente recuar com o impacto no metal do bastão e cair no chão.

 

“Mas, mesmo que eu perceba o golpe da shuriken, ela acha que irei me distrair com ele e perderei o foco em sua espada. Ela vai me golpear segurando a espada com uma mão só. Um corte firme e bem desferido de baixo para cima. A estrela ninja fora, unicamente, uma distração. A técnica de distrair a presa encurralada para um ponto específico, a deixando alheia a verdadeira arma do crime, e a forçando a criar uma brecha gigante em sua defesa. Mas isso não vai funcionar comigo. Posso ver claramente o seu ferrão de escorpião em sua mão esquerda, Branco.”

 

O castanho pensou, com o olhar fixo na máscara branca e inexpressiva de coelho de pequenos olhos de vidro vermelho. E, novamente, todos os passos raciocinados pelo homem de cabelos castanhos na altura dos ombros foram efetuados de maneira exímia em ordem fiel. Quando a lâmina da espada começou a subir em sua direção, Stiles apertou firmemente o seu punho no cabo do bastão. Ele jogou o corpo para trás, girando, permitindo que a espada passasse por si. Alguns de seus fios castanhos foram cortados pela arma em meio ao seu giro.

 

Branco observou, com surpresa, o mais novo simplesmente se colocar ao lado de sua lâmina ao inclinar o corpo para trás, diagonalmente, enquanto se abaixava. Mas a maior surpresa da mulher veio com a dor em seu pulso. Primeiro veio a imagem, em uma velocidade tão grande que ela de quer conseguiu fazer o seu corpo responde a tempo. Ficou tão surpresa com a resposta do seu adversário em relação ao seu ataque fracassado, que perdeu o momento em que ainda seria possível se esquivar.

 

Em seguida veio o som do impacto do metal em seu corpo, mas especificamente em seus ossos. O bastão de beisebol acertou, de maneira certeza, a parte externa de seu pulso com força o suficiente para que o som emitido pelo impacto fizesse qualquer pessoa que presenciasse a cena se contorcer de agonia. Depois de som do impacto em seus ossos, a mulher sentiu a dor. Uma dor tão grande que a fez morder o lábio inferior, contendo um grito em sua garganta.

 

- SEU GRANDE FILHO DA PUTA! – ela berrou, descontrolada – VOCÊ QUEBROU O MEU PULSO! –

 

Ela podia sentir, com clareza, que, agora, as juntas de seu pulso já não estavam iguais. E a dor que sentia ao tentar mover o pulso quebrado a fazia questionar se havia mesmo a necessidade de o fazer.

 

- e vai fazer o quê? Chorar? – o castanho inquiriu, com tédio, vendo a mascarada lhe encarar em silêncio.

 

Branco deixou a espada cair no chão, livremente. Então, encaixou o pé sob a lâmina e depois o puxou com tudo para cima, erguendo a arma no ar e a agarrando com a mão livre. Alice sorriu, negando com a cabeça e jogando o taco por sobre o ombro. A mascarada ergueu o braço do pulso quebrado no ar, o deixando curioso. Com um só giro rápido da espada em sua mão direita, a mulher decepou a própria mão. 

 

Alice sorriu de canto.

 

- vá em frente. Tudo no seu tempo – o castanho apenas cruzou as pernas, sustentando um ar de superioridade.

 

Branco rosnou. Com fúria, ela pisou em sua mão decepada. O membro decepado explodiu como um balão, espalhando confetes vermelhos no formato dos naipes de baralho. Os pequenos papeis plastificados vermelhos se movimentaram no ar, se dirigindo para o braço de Branco e ali se uniram, formando a sai mão mais uma vez, desta vez sem estar quebrada.

 

- podemos? – inquiriu Stiles levando uma das mãos aos cabelos, ajustando uma mecha atrás da orelha.

 

- está se achando a bocetuda, garoto? - questionou, sentindo que estava para perder as estribeiras com a pose alheia.

 

O castanho gargalhou, genuinamente, jogando a cabeça para trás, antes de a deixar pender para o lado e a abaixar diante do corpo.

 

- Isso tudo é apenas inveja, não é? –

 

- inveja?! Inveja?! INVEJA?! Do que eu teria inveja em uma peste irritante que se quer viveu alguma coisa na vida?! Acorde para a vida “Stiles” – a mulher cuspiu o nome com desprezo – você se quer teve pais, amigos, nem mesmo colegas. Você só é alguém hoje por causa de mim. Se não fosse por minha benevolência, você ainda seria uma criança inútil e sem vida –

 

O Stilinski ficou sério.

 

- hunf! – o sorriso retornou mais largo do que antes.

 

- e é exatamente por isso que você morre de inveja de mim. Você não suporta a ideia de que foi superada por uma criança assim. Encare a realidade, você é ultrapassada –

 

A mulher avançou em uma corrida suicida. A mascarada berrava enquanto apontava com a espada para a frente, a segurando firmemente em suas mãos. Stiles recuou um passo, pronto para girar para o lado e desviar do golpe, mas ele parou de se mexer quando sentou o calcanhar afundar suavemente no chão. Branco riu por trás da máscara

 

Do teto, logo acima de Stiles, um machado grande e afiado desceu, pronto para cortar o homem em dois pela lateral. Alice vestiu uma expressão de tédio, surpreendendo a adversária. Ele avançou um passo e agarrou o terno de Branco. A mulher não teve tempo de raciocinar. Em um segundo, estava guiando o homem para uma armadilha mortal, no outro, estava sendo puxada por suas roupas para se colocar no lugar dele na armadilha. Ela não teria tempo de desviar. Tudo o que conseguiu fazer foi colocar a espada na trajetória, a mantendo de com a lâmina para baixo, deitada ar, enquanto uma mão segurava a arma pela empunhadura, e a outra mão encostava a palma na parte de trás da lâmina, a segurando como uma barreira.

 

O machado teria acertado em cheio a espada, se Stiles não tivesse acertado o taco de beisebol na espada, exatamente na lateral, com toda a sua força, quebrando a lâmina ao meio.

 

- não – murmurou a mulher, espantada.

 

“De novo não”.

 

Ela pensou. Estava diante de sua morte, mais uma vez, e ela sabia o que significava morrer na mente de Stiles. Voltaria a ficar presa e isolada no fundo da mente daquele homem doente. Passar mais alguns anos aprisionada na mente daquele sociopata esquizofrênico era uma tortura sem fim. Já não aguentava mais apenas observar. Não aguentava mais ver o que aquele cara estava fazendo consigo mesmo, nem com o corpo em que habitavam.

 

Mas, agora, já era tarde demais para qualquer coisa. O machado lhe perfurou o tórax, partindo o seu externo e adentrando o esôfago. A mulher sentiu, além da extrema dor em seu corpo, os pés abandonarem o chão, a medida em que o enorme machado seguiu a sua trajetória de pêndulo, se movendo na direção do teto. O machado atingiu a altura máxima e o corpo de Branco se desprendeu da arma, que retornou pelo mesmo trajeto em que chegara ali. Enquanto isso, o corpo da mulher batia no teto e, em seguida, despencava no chão.

 

A mascarada respirava com dificuldade, sentindo o seu corpo se afogar no próprio sangue. Com o pouco de força que restava , ela moveu a cabeça, direcionando o olhar para Stiles, usando dos seus últimos segundos de liberdade para o amaldiçoar. O homem de cabelos castanhos batendo nos ombros sorriu de canto e se aproximou a passos calmos, se deleitando com a cena a sua frente. Com o pé, ele chutou a mulher, a forçando a se virar e ficar com o peito para cima.

 

- você... você ainda vai... se arrepender por isso – 

 

Stiles riu em desdém.

 

- eu duvido muito –

 

A mulher foi sentindo o seu corpo esfriar e a ficar dormente, indicando que estava perdendo a consciência aos poucos. Branco apenas sentiu a ponta do taco do castanho encostar em seu ferimento, antes de suas pálpebras ficarem pesadas ao ponto de ela não conseguir mais as manter avertas, então tudo ficar escuro.

 

- não. Fácil demais. Depois de tudo o que me causou...– 

 

Ela abriu os olhos instantaneamente, enquanto um grito de dor escapava por seus lábios, quando o choque elétrico se espalhou por seu corpo. O corte em seu peito passou a queimar, sendo cauterizado pelo taco de beisebol, que se tornou quente como a chama de um maçarico. O choque durou alguns segundos, tempo o suficiente para o seu corte se fechar, antes de parar de vez.

 

Confusa, Branco olhou para o taco em seu peito, vendo o mesmo ser sustentado em pé, não pelas mãos de Alice, mas sim por fios elétricos de alta tensão, que surgiam das paredes e se emaranhavam na outra extremidade do item esportivo. A mulher girou no chão, instantaneamente, se afastando do taco de beisebol, que passou a ser suspenso no ar pelos fios elétricos.

 

Varreu o ambiente a procura de Stiles, falhando miseravelmente na identificação do mesmo.

 

- onde você está?! –

 

- me pague pelo que me fez – as palavras foram sussurradas em seu ouvido, por suas costas, a surpreendendo.

 

Se virando de supetão, desferindo um golpe do cotovelo no processo, Branco acertou apenas o vento. Stiles não estava lá. Não estava em lugar algum.

 

- Você me toma por um perdedor que não consegue fazer nada sem você – as palavras do castanho ecoaram pelo corredor, chamando a atenção da mulher mascarada.

 

- mas eu não tenho que te provar nada, Branco. Só tenho que me manter no controle. O que você pensa de mim, não me interessa. Mas tem uma coisa que eu preciso deixar bem clara, aqui -

 

Branco se virou mais uma vez, encontrando Alice há alguns metros de si, de perfil, cabisbaixo. Irritada, Branco puxou de suas costas um fuzil de assalto e mirou no castanho.

 

- você acha que eu sou você. Que não passo de um fragmento defeituoso de sua existência – a mulher rangeu os dentes e passou a disparar, descarregando o pente do fuzil no castanho.

 

Assim que as balas do pente acabaram, Branco encarou o seu alvo, esperando que o mesmo caísse. Mas tudo ficou confuso quando ele não caiu. Ao invés disso, uma estranha rachadura surgiu sobre ele. Franzindo o cenho, observou com atenção o castanho erguer a cabeça e direcionar o olhar para si. A rachadura cresceu, tomando todo o corredor a sua frente. A explosão do vidro espalhou cacos por todos os lados. A mulher se viu confusa. Quando o vidro explodiu, Stiles sumiu por completo.

 

A mulher sentiu um arrepio na espinha e se virou, bruscamente, apenas para receber um golpe do bastão de beisebol na cabeça. Com a força do golpe, fora forçada a girar em seu próprio rixo uma vez. Mas não se deixou abalar por completo. Em meio ao giro, preparou um golpe com a coronha do fuzil, mas fora inútil. Antes que o seu golpe pudesse atingir qualquer parte do homem, o mesmo já havia lhe golpeado o abdômen com o taco.

 

Desta vez, o golpe fora ainda mais forte.

 

Branco fora arremessada contra a parede do corredor, a qual explodiu em sangue enquanto o seu corpo a atravessava. A mulher sentiu o mundo girar de cabeça para baixo, enquanto a sua queda se estendia por mais tempo do que ela esperava. Girando o corpo no ar, a mulher teve tempo de ver o chão se aproximando.

 

A queda fora feia e soltar um som abafado enquanto o ar saia de seus pulmões fora inevitável. Ao erguer a cabeça, Branco se viu surpresa ao perceber onde estava. Não era mais um corredor de escola. Era um dojô. O sangue em que a parede se transformou quando ela a atingiu caiu pouco tempo depois de ela erguer a cabeça para as paredes, pintando todo o chão de vermelho. Um vermelho sangue que fora, instantaneamente, absorvido pelo solo. Como se este estivesse vivo e aceitasse aquele líquido vermelho e viscoso de bom grado. Com um pouco de dificuldade devido a dor da queda e da surta que levara, a mascarada se colocou de pé. Era impossível que a primeira coisa que ela observasse naquele ambiente não fosse aquele ornamento. A grande estátua de prata estava diante da parede, de frente para Branco. Era lisa, brilhante, bem acabada, e com um detalhe artístico surpreendente para o matéria em que fora trabalhada. Os olhos bem feitos e detalhados, as expressões de fúria e loucura. As espadas tão bem feitas que não pareciam representações, mas sim katanas de verdade.

 

- que lugar é esse? – 

 

- você sabe. Estamos na minha mente. E, em nossas mentes, as pessoas costumam guardar coisas, mesmo que contra a vontade delas. E uma das coisas que mais guardamos, são traumas – a voz do homem ecoou pelo ambiente, antes do mesmo surgir de trás da estátua.

 

Branco franziu o cenho em sua direção, antes de olhar melhor ao redor. Estatua de prata, dojô em estilo oriental, com seda e armas penduras por todas as parede, bem como manequins trajando armaduras e empunhando armas. Ela não precisou de mais detalhes.

 

- foi aqui que Valete nasceu. Essa é uma lembrança minha. O dia em que eu matei Yukimura Noshiko – o castanho pronunciou em um japonês perfeito com certa nostalgia, e a sua risada fora a única coisa a preencher o ar no ambiente.

 

Branco o acompanhou nas gargalhadas.

 

- Você… é bem estranho, sabia? Até mesmo para uma Alice. -

 

- As pessoas não costumam expor os seus traumas tão facilmente. Principalmente para alguém com quem possuem alguma desavença - ela finalizou se preparando para iniciar mais uma luta.

 

Stiles apenas sorriu.

 

- Nós não temos desavenças, Branco. Não há como ter desavenças com os mortos - provocou dando a volta na estátua que representava uma criança e uma mulher adulta se degladiando com espadas.

 

Branco riu.

 

- Acontece que eu não estou morta. E você sabe disso -

 

A criança vestia um vestido longo, com bordadinhos em suas bainhas, e detalhes de árvores e corações costurados à mão. Os seus cabelos eram longos e estavam soltos, erguidos no ar como se estivessem a balançar ao vento. Em suas mãos, segurava uma espada pequena para um adulto, mas ideal para a idade que aparentava. Os seus pés calçavam sapatilhas sociais e as meias seguiam até as suas coxas, também com detalhes feitos a mão: os símbolos de espadas e ouros. A expressão de fúria era sustentada em seu rosto, juntamente com a maquiagem de naipes de baralho espalhados por seu rosto. Os olhos tão expressivos que pareciam dar vida a estátuas. 

 

A mulher, por outro lado, vestia um kimono longo, com cerejeiras desenhadas por toda a ceda do tecido. A sua espada era enorme, em comparação a da criança para quem a erguia. Os seus cabelos devidamente amarrados em um coque bem feito, com algumas mechas caindo pelos lados em cachos, destacando a beleza de seu rosto jovial. A sua espada possuía detalhes marcados em sua lâmina. A assinatura de seu forjador em em kanji estava escrita em um lado, enquanto que do outro havia uma dedicatória. A mulher estava descalça, provavelmente pelo ataque ter acontecido em seu próprio lar. Os seus olhos pareciam brilhar em meio a expressão de loucura que dominava o seu rosto tão bonito.

 

- Você tem uma língua maior do que a espada, criança! - Branco o repreendeu, antes de uma espada cair na sua frente, se fincando no chão de madeira.

 

A mulher observou a arma, antes de erguer o olhar para Alice, o vendo com uma katana em mãos. O homem jogou a mão com a espada para o lado, antes de girar a lâmina, se apresentando para aquele duelo. Com fúria, Branco agarrou a espada à sua frente e imitou o ato do mais novo. Stiles sorriu minimamente.

 

- Dance comigo - ordenou antes de a mascarada avançar contra si.

 

- Como quiser! - a mulher o golpeou por cima, mas ele bloqueou o golpe com facilidade.

 

Alice girou e desferiu um golpe na horizontal. Branco se abaixou, permitindo que o golpe passasse sobre o seu corpo. Assim que se ergueu, ela sentiu o calcanhar do castanho em suas costas. Ele havia dado mais um giro e erguido o pé em resposta a sua esquiva. Cambaleando para a frente, a mulher se jogou no chão e rolou na mesma direção, se colocando abaixada de frente para o adversário assim que terminou o seu movimento. O homem avançou pela lateral, com as mãos para trás e a lâmina da espada em suas costas. Com um mortal para trás, a mulher jogou a espada para cima e passou a atirar shurikens e adagas em seu adversário. O ambiente estava bem escuro, o que fazia com que eles apenas enxergassem as lâminas através de seus brilhos graças a pouca iluminação que vinha pelas janelas.

 

Stiles rebateu todas as armas disparadas pela mulher. O homem sorriu, antes de ser a sua vez de jogar uma shuriken na assassina. Branco desviou da lâmina voadora e voltou a se focar no mais novo. Ela percebeu a mudança. O homem não fazia mais barulho com os pés enquanto corria. Ela arregalou os olhos brevemente por trás de sua máscara e então o que ela temia veio. Dando um mortal de lado, no ar, o castanho gargalhou e se colocou atrás de umas das pilastras do lugar. Ela olhou ao redor, com exímia atenção.

 

- Acha mesmo que pode me pegar duas vezes no mesmo truque? - ela soou minimamente ofendida.

 

Stiles riu.

 

- Calma. Para quê esse medo? Só por que essa foi a única técnica que você não aprendeu? - o castanho deixou o veneno escorrer por sua voz antes de disparar uma kunai nas costas de Branco.

 

A mulher se virou em tempo de agarrar a arma e a lançar de volta na direção em que veio.

 

- Eu não sou os patetas que habitam a sua mente com conversas e peripécias, garoto -  

 

Ela argumentou encarando a direção em que lançou a adaga, atenta ao som da arma batendo na parede, antes de cair no chão. Ela permaneceu observando aquela direção em específico, perdendo o momento em que um par de olhos brilhou na escuridão atrás de si, com o reflexo da pouca luz que tinha no local. Os olhos se fecharam e Branco se virou na direção deles, instantaneamente. Ela encarou o nada por alguns bons segundos, antes de a risada de Stiles vir da sua direita. A mulher lançou mais alguns shurikens em uma área cônica na direção em que ouvira a voz do castanho.

 

- Esse é o problema, Branco. Você não é uma dos patetas em minha cabeça - 

 

Branco aproveitou as palavras dele para atirar em sua direção. A mulher disparou uma única shuriken, se surpreendendo quando não houve som algum desta vez. Sem som metálico na parede ou pilastra seguido do som do chão sendo atingido pela arma. Simplesmente não houve som, e ela compreendeu. Havia atingido o desgraçado em cheio. O orgulho cresceu em seu peito. Mesmo naquela situação, mesmo com a escuridão e a habilidade do outro de se esconder nela, a mulher havia acertado o homem com a sua arma.

 

- e é exatamente por isso que eu vou tomar o controle do corpo de volta, garoto. Você não está fazendo um bom uso do meu corpo lá fora. Você não está sendo produtivo. Está apenas brincando de casinha com um policial meia tigela -

 

A shuriken que ela havia arremessado voou de volta em sua direção. Sendo pega de surpresa, teve tempo apenas de inclinar o torso para trás, de mal jeito, permitindo que a arma passasse por cima do seu ombro, fazendo uma curva para a escuridão. A lâmina brilhante quase lhe cortou a máscara e o pescoço. Mas a dor em sua coxa denunciou o segundo projétil. Ela cambaleou para trás, após perder a força na coxa por alguns segundos, devido ao espasmo da dor. Quando se ergueu, recebeu uma kunai no peito, logo abaixo da clavícula. Branco até tentou desviar da lâmina em seu peito, mas falhou miseravelmente, fazendo apenas com que ela cambaleasse ainda mais para trás. Mais uma lâmina veio pelo ar, desta vez em sua cabeça, a mulher, desesperada, se permitiu cair para trás, desviando da arma. Ela sentiu algo duro em suas costas, algo com relevo. 

 

Não era o chão. 

 

Algo molhado e quente caiu em seu ombro, queimando o seu terno e lhe fazendo grunhir de dor quando a sua pele passou a queimar como o inferno. Ela se apressou em se sentar e remover, seja lá o que a estivesse a queimando, de seu ombro. A mulher sentiu a mão queimar assim que encostou no líquido em seu ombro.

 

Não lhe queimava por estar quente.

 

Lhe queimava devido a sua propriedade química. Era ácido e evaporava aos poucos. A mulher estranhou o tom prateado em sua mão assim que a encarou. Olhou para trás, onde antes estava deitada, tentando entender de onde viera aquilo. E assim que os seus olhos piscaram, ela compreendeu tudo. A estátua de uma versão infantil de Stiles confrontando Noshiko Yukimura no auge de sua carreira, antes perfeita, agora mostrava sinais de imperfeições. Lágrimas prateadas escorriam dos olhos das duas pessoas retratadas. Logo os seus olhos explodiram e uma fumaça avermelhada passou a escapar pelos quatro orifícios. O resto da estátua começou a se deformar como se algo muito quente estivesse a recheando. Mas era impossível. Não havia como existir algo que forçasse a prata a atingir o seu ponto de fusão dentro de uma estátua sólida. A não ser que a estátua estivesse vazia o tempo todo, mas conectada a um tubo de alimentação, que só depois começou a jorrar o conteúdo dentro dela. Mas esse não era o caso. O que saía da estátua era gás e não líquido. Então só havia uma solução. 

 

Não era prata.

 

A estátua não era feita de prata. Ela apenas era feita de um material que simulava a aparência brilhante do outro estimado. A estátua fora preenchida com o líquido daquele gás, que ao entrar em contato e passar um tempo reagindo com o material da estátua, liberava aquele gás ácido. O material da estátua, após a reação, se tornava ácido. Já o líquido, Branco não sabia do que se tratava.

 

Ela viu, por sua visão periférica, um brilho laminado se direcionar para si. Instintivamente, ela o bloqueou com a sua espada, se surpreendendo quando Stiles surgiu em seu campo de visão, com a espada na mão, lhe direcionando um sorriso louco. O homem gargalhou ensandecidamente, por vezes cuspindo em sua máscara. 

 

- Está mesmo procurando lógica dentro da minha cabeça?! Que patético jeito de perder tempo! - exclamou antes de recuar e voltar a avançar, golpeando com a espada.

 

- Até mesmo no País das Maravilhas existe lógica! - a mulher o repreendeu, bloqueando todos os seus golpes.

 

Um dos golpes do castanho passou por baixo da espada da mulher, cortando o seu ombro já queimado. Ela recuou rapidamente, antes que fosse ferida mais uma vez.

 

- Acontece que aqui não é o País das Maravilhas. É apenas a mente de uma pessoa doente, mulher. Aprenda a distinguir as coisas - o castanho passou a recuar a passos calmos, sem dar as costas para a mascarada. 

 

A estátua atrás do homem teve as duas cabeças completamente derretidas, fazendo o gás escapar para o ar com mais violência. Stiles gargalhou adentrando o gás vermelho e desaparecendo na neblina da cor de sangue. A mascarada se manteve atenta. Um estrondo de vazão surgiu atrás de si e ela se virou, instantaneamente, encontrando apenas um local do chão onde havia um cilindro por onde mais do gás vermelho escapava. Mais três cilindros espalhados pelo salão explodiram com a vazão do gás, preenchendo o ambiente de vermelho. Logo, não se podia ver nada, senão vermelho por todos os lados.

 

Branco se manteve em alerta. Passou a recuar com a espada erguida em prontidão para defender qualquer ataque. A passos calmos, ela seguiu recuando, até tropeçar em um cilindro vazio. ela cambaleou para trás em um passo e se bateu em uma estrutura dura como mármore. Se apoiou brevemente na estrutura, apenas o suficiente para recuperar o equilíbrio do corpo, e se virou, analisando aquilo. Era um balcão feito, exatamente, de mármore. Aquilo era estranho. Aquilo não estava ali antes. Não no ambiente em que Noshiko Yukimura fora morta. A mulher estendeu a mão para a lateral do balcão, encontrando algo frio e liso, como vidro. Ela o trouxe para perto, vendo se tratar de um longo e fino tubo de ensaio.

 

Um tubo de ensaio?

 

A mulher se assustou e tratou de prender a respiração na mesma hora.

 

Névoa vermelha e tubo de ensaio?

 

Ela sabia que lugar era aquele.

 

Primeiro veio a Yukimura. Depois veio o Harris.

 

- Não adianta mais prender a respiração. Você já respirou o suficiente do gás - uma voz máscula alcançou os seus ouvidos e Branco sabia que era de Stiles, mas, por algum motivo, ela estava diferente.

 

Estava distorcida.

 

Ela soltou o tubo de ensaio no balcão, mas se surpreendeu quando o mesmo se quebrou no chão. Olhou para baixo e se arrependeu logo em seguida. Ela sentiu a distância entre os seus olhos e o chão aumentar em quilômetros. A espada caiu de sua mão e demorou cinco minutos para que ela ouvisse o tilintar da lâmina, que caiu ao lado dos seus pés. 

 

Stiles gargalhou e ela se assustou com o grave de sua voz.

 

- Você se lembra, não é? A segunda Alice, o Rei, era O Barão da Química. Todas as armas químicas que ele já criou estão trancadas no Depósito de Ouro dos Estados Unidos. O conhecidíssimo Fort Knox foi agraciado com itens dos País das Maravilhas -

 

- Filho da puta -

 

- É. Minha mãe era uma tremenda de uma puta, sim. Preferia manter o pau do meu pai nela ao invés de me ter - 

 

Branco viu uma mão, em câmera lenta, atingir o seu abdômen. Ela teve o instinto de se proteger, flexionando o abdômen e se inclinando para a frente. Mas o seu corpo não se mexeu. O golpe a acertou, mas ela não sentiu nada. Segundos depois foi que a dor lhe atingiu em cheio, e só então o seu corpo lhe obedeceu. O seu movimento de se curvar para a frente, somado a dor do golpe a fez cair de joelhos no chão. Ela viu o chão se aproximando, mas só sentiu a dor em seus joelhos segundos depois. Estava ficando desesperada. Não sabia o que estava acontecendo. Por que o seu corpo demorava tanto para sentir as coisas? Mas não era só isso. A dor deixada pelos seus ferimentos era prolongada. Uma queda tão simples jamais doeria tanto em seus joelhos. Por que a dor demorava tanto para ir embora?

 

- Que merda é essa?! O que está acontecendo?! -

 

- Ah! Cortesia do reinado de ouros. Uma das drogas criadas por Rei. É ideal para tortura e interrogatórios. Ela retardada os nervos, deixando a pessoa meio grogue das ideias. Mas ela continua consciente. Ela vê tudo, ouve tudo, sente tudo. Mas o sentir é diferente. Ele demora. Demora para vir, e, principalmente, demorar para ir. - Stiles surgiu diante dela, e se ajoelhou a sua frente.

 

Ela ergueu um olhar aterrorizado por trás de sua máscara. O castanho sorria para si. Não parecia sentir os efeitos do gás. O que mais lhe assustava. Ele ergueu uma faca pequena na mão esquerda e acenou com a mesma com uma simpatia perturbadora.

 

- Você faz ideia de todas as coisas divertidas que podem ser feitas usando esse gás? É claro que não. Você sempre teve uma mente limitada. Mas vou dar um exemplo básico que até mesmo alguém como você pode pensar. Vamos pegar uma faca -

 

A mulher abaixou o olhar, vendo a faca surgir em seu campo de visão logo em seguida, sendo posicionada acima de sua coxa esquerda.. 

 

- Lembra do que eu disse? O sentir demora. E se uma facada já dói. Imagine, então, ser esfaqueado bem lentamente. E sentir essa dor vir mais lenta ainda, então? - e então a faca passou a ser empurrada em sua direção. 

 

A ponta perfurou o seu terno, antes de alcançar a sua pele. Stiles sorriu largo e seguiu empurrando a faca contra a mulher, bem devagar, como se estivesse manuseando uma peça de arte feita de vidro que poderia se estilhaçar a qualquer momento. Demorou bons segundos para a lâmina inteira perfurar a coxa da mascarada. Então o castanho sorriu de canto e passou a puxar e empurrar a lâmina algumas vezes. A mascarada tentou mover as mãos para a faca, mas ele as afastou sem dificuldades. Branco estava dopada, mas ele estava completamente bem. Não tinha dificuldades em dominar a mais velha. Ele riu divertido, antes de enfiar a faca por inteiro mais uma vez, e então girou a lâmina em sentido horário. Tudo bem devagar, para que ela sentisse ainda mais sobre o efeito do gás. Branco grunhiu de dor, puxando o ar para os pulmões, tentando, ao máximo, não liberar nenhum gemido ou grito de dor. A fava fora girada no sentido anti-horário e a mulher sentiu todo o corpo tremer com a ideia de sentir aquela dor segundos depois. Era um efeito perturbador. Ela via tudo acontecer normalmente. Assistia a tudo como se fosse um seriado de TV. Mas a dor só vinha ser sentida alguns bons segundos depois, o que lhe causava uma ansiedade e pânico nunca antes sentidos. A ideia de saber que uma grande quantidade de dor estava para vir e em poucos segundos a fazia se contorcer internamente só de pensar. O arrepio escalava a sua espinha quase derrubando a sua estrutura psicológica no processo.

 

- Imagina só. Amarrar alguém em uma cadeira e arrancar as unhas dele com esse gás? E então, poder colocar pregos em seus dedos sem unhas. Acender um fósforo perto dos seus dedos. Colocar agulhas em seus olhos. Arrancar os seus dedos. E tudo isso com esse alguém assistindo sem sequer poder se mover para reagir? Você quer tentar? -

 

Stiles gargalhou e soltou a faca, permitindo que a mulher levasse as mãos, lentamente. Ela conseguiu fechar o punho em torno do cabo da faca e a retirou de sua coxa. Segundos depois veio a dor de seu ato. Permaneceu no chão, se jogando sentada para poder aliviar o peso em sua perna ferida. Levou as mãos a coxa, sem saber se deveria tocá-la ou não. Afinal, se a tocasse, doeria como o inferno. E ela iria sentir aquela dor bem lentamente, e não deixaria de senti-la tão cedo. De repente, a sua máscara foi arrancada, revelando a imagem de Stiles mais uma vez. O homem puxou os seus cabelos castanhos para trás, forçando Branco a lhe encarar. Stiles estava atrás do assassino mascarado, segurando uma seringa com um líquido perolado.

 

- Tá. O gás do medo já perdeu a graça. Toma aqui o antídoto - então ele levou a agulha da seringa até os seus olhos da cor de mel, e passou a enfiar a mesma em sua pálpebra inferior, bem entre o olho e o crânio. 

 

Stiles soltou Branco e desapareceu em meio a névoa vermelha. O assassino mascarado, agora sem a máscara, passou a agonizar no chão, ainda com a cabeça para cima, enquanto esperava o efeito do antídoto agir. A dor em sua perna estava insuportável, e agora havia a dor em seu olho para somar com a desgraçada. Quando o antídoto enfim começou a fazer efeito, a mulher de cabelos castanhos curtos tratou de alcançar a sua máscara, que se encontrava no chão, ao lado de sua espada, e a vestiu.

 

Com dificuldade a mulher se ergueu. Ela levou a mão à coxa ferida, e cobriu o ferimento. Se concentrando em sua dor, a mascarada fez com que o ferimento sumisse. Mas, por algum motivo desconhecido, a dor permanecia ali. No entanto, a ignorou com afinco. Precisava confrontar o desgraçado que havia lhe causado tamanha dor. Caminhando pelo ambiente, Branco se perdeu facilmente. Tudo havia mudado de novo. Não havia mais balcão em meio a névoa vermelha, muito menos estátua prateada. A mulher fechou os olhos e se concentrou, tentando fazer com que a névoa sumisse e lhe desse alguma visão. Mas, ao abrir os olhos, tudo estava do mesmo jeito. Não importava para onde olhasse, tudo o que conseguia ver era uma neblina vermelha como sangue. Suspirando de frustração, cerrou os punhos enluvados e abriu os braços, exibindo o peito.

 

- ME ENFRENTE, COVARDE! APAREÇA E ME ENFRENTE COMO UM MARAVILHANO! - a mascarada berrou, girando, esperando que o outro surgisse de algum lugar da névoa vermelha.

 

- Do que diabos você está falando? - o outro soou confuso, atrás de Branco.

A mulher se virou rapidamente, vendo uma sombra em meio a névoa, passeando por ela, antes de desaparecer. Ela tentou o seguir, mas a sombra havia sumido.

 

- ESTOU FALANDO DE VOCÊ, SEU COVARDE! POR QUE ESTÁ SE ESCONDENDO?! VAMOS, ME ENFRENTE, FRACOTE! -

 

- "aparecer e te enfrentar"? "Como um Maravilhano?" - ele cuspiu as palavras com desprezo, voltando a aparecer como uma sombra em meio a névoa, antes de desaparecer.

 

Branco o seguiu, mas o perdeu de vista mais uma vez.

 

- Não seja ridícula. Maravilhanos se esconden no submundo do crime, fazendo uso de fantasias de Normais. Nós caçamos nossas vítimas sem que percebam e só nos aproximamos para dar o golpe final, assim que elas não tem mais escapatória - a voz voltou a surgir das costas de Branco e quando a mulher se virou, a mesma se surpreendeu ao ver uma arma ser apontada para si.

 

- Foi você que me ensinou isso. Não se recorda? - e ele puxou o gatilho, fazendo dois pinos metálicos voarem e atingirem o peito da mulher de terno, se mantendo ali por correntes elétricas que se espalharam por todo o corpo da assassina, a derrubando no chão. 

 

- Não… pode ser - ela conseguiu resmungar em meio a carga elétrica. 

 

- Own! Está revoltadinha? Eu sou melhor do que você, Branco. Eu sei a quantidade de energia necessária para paralisar cada um de nós - ele jogou a arma de choque com força na cabeça da mascarada, antes de desfilar de volta para a névoa vermelha, desaparecendo ali.

 

- Eu vou te matar, desgracado. Vou te matar e assumir o controle de uma vez por todas - resmungou enquanto se erguia e arrancava os pinos metálicos de seu terno branco, que já não se encontrava em um perfeito estado como antes.

 

Stiles gargalhou. O som de sua gargalhada vinha de todas as direções, deixando a mulher confusa.

 

- Até parece! - o homem exclamou e a sua voz veio de uma direção só. 

 

Branco se virou nessa direção, com uma faca na mão, pronta para degolar o castanho de uma vez por todas. Mas tudo o que surgiu em seu campo de visão fora a cor metálica de uma pá.

 

- Olha a cabeça! - Stiles gritou com diversão, acertando o rosto alheio com tanta força que a máscara rachou no meio, mas se manteve inteira.

 

A força do golpe fora tanta que Branco sentiu o corpo ser jogado para trás, tendo as pernas erguidas e as costas empurradas para trás. A sua queda não foi rápida, como o esperado. O seu corpo demorou trinta segundos para atingir o chão. A névoa se movia rapidamente ao seu redor, como se um tornado a puxasse para cima, deixando apenas a assassina em queda. Quando a névoa vermelha se foi, a mascarada sentiu o corpo atingir a terra molhada do chão.

 

Ela se colocou sentada no chão rapidamente. Olhou ao redor, notando estar cercada por quatro muros de terra de tamanho considerável. Terra molhada. Ergueu a cabeça encontrando folhas lhe cobrindo e gotejando a água que recebiam da chuva. Voltou a olhar ao redor. Estava em um buraco ao pé de uma árvore. O ambiente parecia ser iluminado por uma fonte de luz grande que vinha de trás da árvore, que estava atrás de si. Uma fonte de luz e de calor também. O cheiro de queimado e de terra molhada dominava o ar ao seu redor.

 

- mas que lugar é esse? - inquiriu confusa levando as mãos para a borda do buraco, tentando se impulsionar para cima.

 

Um machado desceu com força sobre sua mão, decepando a mesma na altura do pulso. Ela olhou para o lado, vendo Stiles tirar as mãos do machado e sorrir vitorioso para si.

 

- Aqui foi onde o falso Jaguadarte nasceu. Não se lembra? Ah, tudo bem que você ainda não estava na minha cabeça quando isso aconteceu. Mas você assistiu a minha luta contra o Sebastian Crane. Aquele lixo de homem. Ugh! Me arrepio só de pensar em alguém como ele no País das Maravilhas! Que desgosto! - 

 

Branco rosnava de ódio enquanto tentava controlar o impulso de gemer de dor com o pulso jorrando sangue enquanto o seu sistema nervoso entrava em pânico com o rompimento de seus nervos na parte decepada do corpo.

 

- desgraçado! -

 

- Ah! É o meu jeitinho menino levado de ser! Mas não se preocupe com a sua mão perdida. Para o que vou fazer em seguida, eu só preciso de uma delas -

 

- O quê? - inquiriu, confusa e furiosa.

 

Stiles rosnou e rolou os olhos.

 

- santo Deus! Você não precisa pensar, idiota. Apenas deixe acontecer. Isso que dá ser o cérebro deste lugar. Sebastian! - o castanho reclamou antes de chamar pelo homem, estalando os dedos.

 

Branco franziu o cenho, confusa, antes de sentir um golpe na nuca que a fez perder a noção do mundo. A mulher desmaiou, caindo deitada no buraco, mais uma vez.

 

Quando acordou, ela se sentia estranha. O seu corpo estava estranhamente pesado e frio. A mulher tentou se mover, mas os seus pés estavam pesados demais e molhados. As suas pernas estavam na mesma situação. Tentou se sentar, mas descobriu o abdômen igualmente pesado. Fechou a mão boa e a abriu mais uma vez, a sentindo livre. Mas algo estava errado. Por que sentiu algo em seu pulso, como correntes? Por que o seu braço estava erguido? E por que diabos a sua visão estava tão limitada, como se um túnel cercasse o seu rosto? Era quase como um antolho. Aquilo era… terra? Ela… ela estava sendo enterrada viva?

 

O desespero a acertou em cheio. Ela fechou os olhos e tentou imaginar que aquilo tudo não acontecia. Mas havia falhado miseravelmente. Tentou uma, duas, três vezes. Mas não surtia efeito. Ela gritou, desesperada. E logo a imagem do homem cheio de feridas pelo corpo surgiu acima do buraco de terra que cercava o seu rosto. 

 

- Ela acordou - disse Sebastian erguendo o rosto em uma direção. 

 

Um tiro foi dado e Sebastian Crane jogou a cabeça para trás e caiu no chão. A arma cruzou o ar acima do buraco e caiu em algum monte de folhas.

 

- Inútil. Não era para avisar que eu estava aqui - resmungou o castanho surgindo no campo de visão da mulher - e aí, coelhinha? Aproveitando o aconchego da cova? -

 

- ME TIRA DAQUI! - ordenou aos berros, furiosa. 

 

Stiles apenas riu.

 

- Sabe? Meredith não berrou desse jeito quando eu a enterrei. Se bem que, quando eu a enterrei, ela já estava morta. Mas isso não vem ao caso. Enfim - ele abandonou o olhar simpático, tomando um brilho mórbido nos olhos - era melhor ter ficado em seu quarto - e então a terra começou a cair sobre o rosto de Branco.

 

- NÃO! VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO! GAROTO! - ela berrava enquanto a terra era jogada sobre si.

 

Logo, Branco já não podia mais falar ou gritar. Ela se quer podia respirar. Sempre que tentava, não era ar o que adentrava por suas narinas. Eram apenas pequenos grãos de terra molhada. O ar que havia ali, por entre os grãos de areia, era pouco demais para que ela pudesse usar em sua respiração. Se quer conseguia o capturar com sua inspiração. A hipóxia se tornou inevitável. Com tão pouco oxigênio ao seu redor, logo os seus tecidos e órgãos também deixaram de receber oxigênio, incluindo o cérebro. Ela se sentia tonta,frágil e desorientada, apesar de estar deitada no chão. A sua mão que se encontrava do lado de fora da cova não respondia mais corretamente aos seus comandos, antes de parar de vez. A angustia de não conseguir respirar não atacava apenas o seu corpo, como também a sua mente. Aquilo era uma tortura. Ela sabia que morreria, mas a morte parecia demorar horas para lhe alcançar. Já começava a sentir frio quando, em segundos, a hipóxia se tornou anoxia. Ela estava prestes a apagar novamente quando sentiu algo estranho em sua mão. Ela já não estava sentindo os membros corretamente, então não sabia direito o que estava acontecendo com a sua mão. 

 

Algo a havia puxado com força pela mão, lhe arrancando do túmulo com brutalidade. Quando o ar lhe alcançou os pulmões, inspirou profundamente, em um ato desesperado. Olhou para a própria mão, vendo Stiles a segurando com a própria. O homem sorriu ladino e a puxou mais uma vez, lhe arrancando por inteiro do buraco no chão. O seu corpo foi erguido no ar, para a sua surpresa. O castanho lhe soltou a mão e o seu corpo continuou subindo. Melhor dizendo, o seu corpo começou a cair para o céu. Ela apenas assistiu o assassino de cabelos longos se distanciar de si, enquanto lhe encarava com um sorriso no rosto. Se virou para o céu, vendo uma enorme carta de baralho se aproximar ao longe. Era um Ás de Espadas. Branco atingiu uma enorme estátua de vidro de uma mulher asiática com as mãos em seu kimono, encarando a mascarada com desprezo. A estátua se quebrou e os cacos de vidro criaram vários cortes em seu corpo, alguns o perfuraram, se mantendo ali. Ela atingiu o centro do símbolo do naipe de espadas, atravessando o mesmo, que se desfez em um líquido preto, a tingindo de preto dos pés a cabeça.

 

Mas não era tinta. Era asfalto quente. A substância queimou o seu corpo enquanto a mulher caía ainda mais.

 

Ela caiu por mais dois minutos, antes de uma enorme carta de Ás de Ouros surgir ao longe. Branco avistou um enorme homem de nariz arrebitado e sorriso sádico feito de um líquido transparente e borbulhante. A assassina o atingiu em cheio no nariz, sentindo tanto o asfalto quando a sua pele passarem a queimar como o inferno e começarem a derreter. Aquilo era ácido concentrado. Ao sair do homem de ácido, atravessou a carta bem como fizera com a de espadas, tingindo o seu corpo com partes em vermelho e partes em preto. Ela só queria que aquilo acabasse. Não aguentava mais aqueles ferimentos intensos sendo marcados em seu corpo. Não sabia como, mas Stiles havia se recuperado rápido demais de seu dano psicológico recente. Ele havia voltado a dominar aquele corpo.

 

Uma risada infantil ecoou pelo ambiente infinito. Branco olhou ao redor, vasculhando o ambiente com o olhar, não encontrando a origem risada. Raízes surgiram do nada, passando por si com velocidade, formando um corpo, uma árvore com a aparência perfeita de uma adolescente de cabelos cacheados e sorriso cativante. Ela atingiu os cabelos folheados da garota com velocidade, atravessando o mesmo enquanto era atingida por galhos e espinhos. Ao sair das folhas da árvore, ela atingiu a carta exatamente no centro do naipe de Paus. A carta queimou como papel encharcado de querosene na fogueira, a queimando junto. O fogo se uniu a tinta em seu corpo, queimando ainda mais forte.

 

A última carta se aproximava. O fogo em seu corpo começou a fluir para fora, como água sendo puxada pela corrente. Quando enfim pôde respirar de seus ferimentos, a mulher pôde ter uma visão melhor do que estava por vir. Diante da carta, mais ao lado dela, haviam duas pessoas de fogo a encarando. Uma delas, a criança, lhe encarava com divertimento no olhar e um sorriso traquino de uma criança travessa. Já a mulher adulta do outro lado da carta, lhe encarava com seriedade e desprezo. Tanto a criança quanto a mulher eram a representação perfeita de Stiles. A criança era igualzinho ao assassino em sua infância, mas tinha os cabelos cortados extremamente curtos, como um garoto comum. Já a mulher possuía os cabelos batendo no ombro e o olhar cansado do homem em que o rapaz havia se tornado. Tanto a mulher quanto a criança moveram uma de suas mãos até Branco, assim que a mascarada os alcançou. Eles a golpearam juntos nas costas, aumentando a velocidade da queda da mulher.

 

A assassina atingiu o centro da carta de copas, mas, diferente das outras, aquelas não se desfez. Muito pelo contrário. Era dura como o solo deveria ser. Branco caiu na carta e rolou algumas vezes, tendo a sua velocidade diminuída. A queda havia quebrado quase todas as suas costelas. O seu braço que ainda possuía mão se quebrou em três pedaços, e o seu antebraço em dois, com um pequeno pedaço do osso perfurando o seu músculo e pele, surgindo na superfície em uma ferida sangrenta. O seu joelho esquerdo havia sido triturado, fazendo com que sua perna se movesse para o lado, ao invés de para trás. Já o joelho direito fora forçado para trás, dobrando a sua perna para a frente.

 

Stiles gargalhou alto.

 

- Eu não me canso de ver pessoas caindo assim, sabia? - 

 

- C-como?! - Branco proferiu, em um fio de voz.

 

- Hm? -

 

- Como se recuperou do trauma do Lay tão rápido? - inquiriu exausta pela dor.

 

Um chute fora desferido no rosto da mascarada.

 

- Não ouse falar o nome dele - um estalo ecoou pelo ambiente e Stiles olhou para o braço da mulher, o vendo se regenerar.

 

Ele sorriu.

 

- Não era… para você… conseguir me derrotar -

 

- Ah, não? E por que não? -

 

- mexeram no corpo do seu irmão. O corpo que você enterrou sozinho. Você deveria estar sofrendo! Tocaram no seu irmão! A criança que é como um Deus para você! - alegou a assassina.

 

- Hm… uhuhuhuhum! Sim, Lay é como um deus para mim… e é por isso que eu vou ser como o diabo para quem o desenterrou! Eu vou caçar essa sua nova versão até que ela desista da própria vida. E enquanto ela estiver implorando para morrer brevemente, eu vou torturar ela da maneira mais macabra e agonizante que eu conseguir imaginar. E você bem sabe como eu posso ser criativo - o castanho soou venenoso enquanto, a passos calmos, dava a volta no corpo da mulher.

 

- Isso se eu não me juntar a ela antes. Você não pode comigo, Stiles. Nós somos os mesmos! EU SOU VOCÊ! - a mulher se ergueu rapidamente, se colocando sentada, e esfaqueou o homem. O castanho sorriu de canto.

 

Stiles encarou a faca em seu peito, antes de, entediado, erguer o olhar na direção da mascarada, que não acreditava no que via. O homem não havia se abalado. Na verdade, ele não parecia nem mesmo ter sentido a lâmina adentrando o seu corpo. O corpo dele passou a mudar de cor, adquirindo uma cor branca extremamente forte. Havia se transformado em um pilar de cartas, que se desfez, espalhando cartas ao vento. Branco encarou a cena com incredulidade. Ela se recompôs quando ouviu passos se aproximando correndo ao seu lado. Virou o rosto na direção do som, se preparando para se defender e atacar. Porém, assim que seus olhos processaram o seu campo de visão, a assassina deixou o seu queixo cair. Um corpo havia saltado para lhe socar, mas não era Stiles. Os cabelos longos escuros balançavam ao vento quando Noshiko girou em seu próprio eixo e ergueu a perna. O chute acertou o rosto alheio de forma certeira, deslocando a máscara branca de coelho para o lado, mas sem sair do rosto da mulher. A Yukimura ainda desferiu uma sequência de golpe com os nós dos dedos no torso alheio, antes de acertar um soco no rosto da mascarada, a forçando a girar, ao mesmo tempo em que voltava a ajustar a máscara em seu rosto.

 

Noshiko gargalhou.

 

- Você acha que eu sou uma parte de você. Acha que eu sou você - a voz do castanho de trás da mulher com máscara de coelho.

 

Branco se recuperou dos golpes da assassina asiática e se virou, com o cotovelo pronto para acertar o peito da mulher, mas uma mão máscula e áspera parou o seu golpe. A mulher mascarada ficou confusa. Não era mais Noshiko com quem ela lutava. Adrian acertou a lateral do joelho da mascarada com o peito do pé, a fazendo perder a base do corpo. O homem de olhos claros acertou uma sequência de socos na assassina, que conseguiu bloquear alguns e até tentava revidar, mas o Harris afastava as suas investidas com alguns simples movimentos com as mãos, e revidava instantaneamente, acertando golpes cada vez mais fortes. O homem agarrou a cabeça da mulher e a forçou para baixo, enquanto erguia o joelho. Ele repetiu o último golpe, antes de acertar um gancho potente no queixo alheio, forçando Branco a jogar a cabeça para trás e cambalear na mesma direção. 

 

- Patética. - Adrian cuspiu com desprezo.

 

- Eu não sou você, Branco. Você é ridícula por achar isso - o castanho seguiu falando.

 

Branco cerrou os punhos, furiosa. Ela recobrou a postura e apontou uma espingarda na direção de Adrian. Mas o homem já não estava mais lá. Olhou ao redor, procurando pelo adversário, mas o mesmo havia desaparecido completamente. Ele não estava em lugar algum daquela enorme carta. Quando ela se virou mais uma vez, pôde ver Sebastian Crane, vestido com um terno prero, marchar em sua direção com uma tesoura de jardinagem em mãos. Quando ele estava a certa distância, Branco disparou.

 

O homem caiu instantaneamente.

 

Ela se virou de novo, e mais dois Sebastian's marchavam em sua direção. Elas disparou contra os dois, os matando sem dificuldades. Logo, ela estava cercada por vários Sebastian's. Todos eles avançavam, e Branco se viu obrigada a trocar a espingarda por uma submetralhadora. Todos os Sebastian's caíam sem dificuldades diante dela, criando um amontoado se corpos ao redor da assassina.

 

- Assim como Valete, Rei, Rainha e Copas, você não passa de uma personalidade criada por minha mente após um trauma com o qual eu não soube lidar - o homem falava e sua voz surgia de cada um dos Sebastian's, irritando Branco por não poder o rastrear.

 

Em dado momento, ela se virou para matar mais Sebastian's, mas fora surpreendida quando todos sumiram, restando apenas um corpo a sua frente. Bem a sua frente. Os cabelos cacheados longos com mechas pintadas de verde davam um ar jovial rebelde para a adolescente. Antes que pudesse puxar o gatilho, a garota empurrou a arma contra si e a girou, tirando a mira de sua cabeça. A arma bateu no peito de Branco e Meredith aproveitou para golpear a parte interna do cotovelo do braço que era a base de apoio da arma, forçando a mascarada a apontar a arma para cima. A garota acertou dois socos no abdômen da mais velha, a fazendo recuar dois passos. Quando Branco finalmente pôde abaixar a sua arma, Meredith se abaixou, e desferiu uma rasteira na mais velha.

 

A mascarada caiu, mas logo se recuperou, e, ainda no chão, atirou contra a adolescente. A Walker passou a dar uma série de piruetas e cambalhotas para trás e para os lados, desviando das balas. Em meio a um mortal, a garota girou o corpo no próprio eixo e jogou os braços na direção da mulher, que arregalou os olhos e passou a rolar no chão, desviando de várias lâminas que se fincaram no chão por onde ela rolava. Branco se colocou ajoelhada e mirou na Walker, mas a mesma havia dado lugar a uma versão feminina da Stiles, que corria em sua direção com velocidade. A mais velha disparou, descarregando o pente. A assassina mais jovem se jogou no chão, desaparecendo no mar de tinta vermelha que era aquele enorme coração no centro da carta de Copas. A mais nova surgiu atrás da mascarada, que se virou com o fuzil pronto para golpear a face alheia. Copas foi mais rápida e inclinou o corpo para trás, permitindo que o fuzil passasse por cima de seu corpo. Branco seguiu com o giro e desferiu uma rasteira na mais nova, mas a castanha saltou, desviando do ataque e acertando um chute em sua nuca. A mascarada cambaleou para a frente e recebeu um chute no queixo, que a fez erguer a cabeça, recobrando o equilíbrio. A mulher se afastou a tropeços, se virando. Deu de cara com a versão feminina de Stiles, que lhe acertou um soco potente no rosto que a forçou a girar. Atrás de si, Stiles estava realizando um giro e acertando o calcanhar em seu rosto. Ela voltou a girar, dando mais uma vez de cara com Copas.

 

Estavam juntos.

 

Copas e Stiles, um de cada lado da mulher, a golpeando seguidas vezes. 

 

A mulher ficou confusa. Como poderia Copas estar em dois lugares ao mesmo tempo. Ela não era idiota. Sabia que Noshiko, Adrian e Meredith, eram apenas Stiles fingindo ser os três. Ela conseguia os sentir na superfície daquela confusa mente. Enquanto Stiles e ela estavam disputando o controle supremo em uma corrida contra o tempo até Miguel, os outros quatro estavam lá, na parte externa, entretendo os agentes federais. O problema era Copas. Brabco ainda a sentia lá, ao lado dos três patetas. Como poderia ela estar ali, na parte profunda também? 

 

- Você é patética - o castanho girou chutando o cóccix da mais velha.

 

Branco fora jogada para o lado e logo ela sentiu o pé de Copas em seu pescoço. A mulher mais jovem havia imitado o movimento de Stiles, mudando apenas o alvo do golpe. A mascarada voltou a cair deitada no chão, já sem forças. Ao abrir os olhos, ela não viu dois castanhos, mas apenas um. Copas já não estava mais lá. 

 

- Vamos deixar algo bem claro, aqui. Eu não sou você, Branco - o homem colocou o pé sobre o peito da assassina de terno e se abaixou, levando a mão até a máscara da mesma.

 

A mulher apenas rangeu os dentes, levando suas mãos até os pés do homem, tentando o tirar de cima de si, falhando miseravelmente. O castanho alcançou a sua máscara e a puxou, revelando uma mulher de cabelos louros longos, e rosto fino e lábios grossos, que não era em nada parecida consigo. Os fios louros eram tão claros que quase eram brancos, os olhos azuis tão claros quanto o céu. A pele de seu rosto era lisa, sequer apresentava algum sinal de deformação. Por outro lado, estava tão seca e ressecada que deixava claro todo o descuido dela com a própria saúde. Os lábios estavam rachados e feridos em alguns pontos, denunciando o péssimo hábito de puxar a pele ressecada de vez em quando. Ela assistiu, aterrorizada, ao homem vestir a máscara de coelho lentamente.

 

- Você sou eu - o castanho proferiu, antes de gargalhar e pressionar o pé contra o peito alheio.

 

- De todas as minhas personalidades, você é a única verdadeiramente preocupante. É a única psicopata dentre os sete. A única que não se importa com nada além de sua obsessão por Miguel e sua vingança. E é por sua causa que todas são presas -

 

Fora a vez da mulher de gargalhar, mesmo com a dor constante e crescente em seu peito.

 

- Isso! Continue! Se esconda atrás dos defeitos alheios como sempre fez. Se livre de sua culpa, criança mimada! Você é tão fraco que não tem coragem de encarar os próprios defeitos e erros - Branco cuspiu as palavras e Stiles apertou ainda mais o seu peito.

 

- Valete morreu porque é contra tudo o que faço. Rei morreu porque me odeia. Rainha morreu porque era invejosa. Branco morreu porque era psicopata. - a mulher provocou fazendo uma voz infantil. - ASSUMA AS SUAS RESPONSABILIDADES! - ela berrou antes de soltar o pé do homem que a machucava e bater com os braços no chão ao os abrir o máximo que pôde.

 

Branco afundou na tinta vermelha do símbolo de copas e surgiu da mesma maneira, atrás do novo assassino mascarado, com uma faca em mãos, pronta para o golpear na nuca. Stiles se virou e a sua mão foi certeira no pescoço da mulher, enquanto a outra segurava o pulso da mão que manuseava a faca. A mulher se engasgou com o aperto em seu pescoço, enquanto o homem mascarado a erguia do chão. Ela chutou a virilha do assassino, se surpreendendo quando o mesmo apenas a encarou com frieza, não demonstrando sentir nada com o golpe.

 

- você foi a única inconsequente que nunca admitiu os seus erros. Sempre se achando superior. Sempre perfeita. E eu sempre concordei com você. Sempre te achei perfeita e superior a mim. Mas você errou feio em matar o meu irmão. E depois disso, eu abri os meus olhos. Eu consegui ver você como você realmente é. Como foi. Como sempre será: uma mulher vazia e irresponsável, que não é capaz de se preocupar com ninguém, ao mesmo tempo em que não pode viver sem ser amada pelos outros. - o mascarado moveu o pulso da mulher, o torcendo.

 

- Eu não… - ela fora calada quando o aperto em sua garganta se intensificou.

 

- Foi por isso que nos sequestrou. Foi para isso que nos treinou. Para se mostrar superior e arrancar nossa admiração. Você só não esperava que tivéssemos personalidades fortes demais e resistimos ao seu controle mental. Você tentou criar a sua própria gangue das cartas, e se fodeu, pois acabou criando inimigos. Monstros com os quais não sabia lidar. Pois eram todos iguais a você, tão habilidosos quanto você. Mas eram mais fáceis de atingir do que você. Eles tinham o que proteger. Pelo que lutar, pelo que viver. E você? O que tinha? Nada. Você nunca teve nada. Por outro lado, os monstros também eram mais fortes do que você. Porque, quando eram atingidos, eles se voltavam para o culpado com tudo o que tinham. Eles sempre tinham o que melhorar, porque enxergavam os próprios limites. Mas você… você se julgava perfeita. Acreditava ter alcançado a perfeição e estagnou no tempo. Logo, eles lhe ultrapassaram e você não percebeu. Quando enfim veio notar a diferença entre expectativa e realidade, era tarde demais. Quatro dos cinco monstros haviam morrido, fazendo surgir um pior ainda. Um que estava a sua frente, pronto para lhe fazer pagar pelo que você fez -

 

- ISSO NÃO É VERDADE! - ela reuniu o pouco de voz e ar que tinha para gritar aquelas palavras, o aperto eu seu pescoço se intensificou mais ainda.

 

- Coloque isso em sua cabeça vazia, Branco. Você não passa da personificação do meu passado sombrio. Você surgiu da dor que me atingiu quando eu finalizei um ciclo, apenas para descobrir que tinha aberto outro. Você não é como os outros quatro. E é por isso que todos nós mantemos você trancada bem lá no fundo, onde sua voz não ecoa e suas vontades não se propagam. Portanto, fique lá! -

 

- Miecyzslaw - a mulher tentou argumentar mas a sua faca fora forçada contra o seu pescoço, e Stiles levou a mão a sua cabeça e a girou para trás, quebrando o pescoço esfaqueado, a matando.

 

Uma porta branca sem símbolo algum surgiu no chão, em meio a tinta do coração vermelho gigante. Ela se abriu lentamente, revelando um ambiente escuro e sombrio, por onde uma neblina escura escapava. Stiles soltou a mulher e o corpo dela caiu porta a dentro. O homem assistiu a porta se fechar, lentamente, rangendo a cada milímetro que se movia, dando um aspecto macabro para a cena. Assim que se fechou, a porta voltou a afundar na tinta vermelha, como um caixão de metal em um lago profundo. O castanho mascarado permaneceu encarando a tinta vermelha com desprezo, enquanto cerrava os punhos com ódio. 

 

- Acabou - a voz infantil chamou a atenção, o forçando a se virar.

 

Miguel estava sentado em um puff gigante, em frente a uma televisão, assistindo a um episódio de Papa-Léguas. A cena que passava era do Coiote caindo de mais um precipício enquanto o Papa-Léguas assistia a tudo de camarote com naturalidade.

 

- Sim. Acabou -

 

- Por enquanto. Ela vai voltar -

 

- Ela sempre volta -

 

- Branco é uma de nós, no fim das contas - respondeu o garoto com naturalidade, puxando um suco de caixinha e levando o seu canudo à boca.

 

- Como pode ficar tão tranquilo? Sabendo que ela vai voltar para te matar - o castanho se aproximou e se sentou no chão, ao lado do garoto, o observando manter o olhar fixo na tv.

 

- Porque era assim que você via o Lay. Lembre-se, Law. Eu sou a representação do seu irmão gêmeo que surgiu quando você descobriu sobre a morte dele. Eu nasci para preencher o vazio que o seu irmão deixou, mesmo que de forma incompetente. Mas nós não temos tempo para discutir isso. Os outros estão bancando os contadores de histórias. Você deve parar eles antes que falem mais do que realmente querem -

 

- O quê?! - questionou, se erguendo, perplexo.

 

- Sabe como Alices são. Adoram se vangloriar e acabam falando mais do que deveriam. E nós sempre fomos muito de fofocar - o garoto pegou o controle da tv e mudou de canal, mostrando um chão com carpete azul escuro, quase preto.

 

Stiles estranhou. A câmera subiu, revelando uma mão. E então se moveu para o lado, mostrando o rosto de Derek, a encarando com um semblante preocupado. O assassino encarou a tela com fúria, cerrando os punhos.

 

- precisa de ajuda para mandar eles de volta para as suas celas? -

 

- de forma alguma - 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 A mão do Stilinski voou até o pescoço do moreno de olhos verdes, o agarrando em um aperto severo. Rei voltou a golpear a cabeça no quadro de anotações, se surpreendendo quando a testa alcançou uma superfície macia. Ao desviar o olhar do chão para o quadro, o homem se surpreendeu ao encontrar a palma da mão de Derek no quadro, impedindo que sua cabeça atingisse a superfície dura do objeto. O assassino entreabriu os lábios, surpreso.

 

- hey... você só está se machucando – o agente proferiu com seriedade e calma na voz.

 

Rei inclinou a cabeça para o lado, lançando olhar descrente para o agente. A sua risada veio logo em seguida. Aquele mesmo gargalhar escandaloso de instantes atrás ecoou pelo ambiente, deixando os agentes confusos e receosos.

 

- você... – ele proferiu com um sorriso de canto.

 

Um sorriso que forçou Derek a engolir em seco. Mas foi um sorriso que logo sumiu daqueles lábios finos quando eles se abriram para tentar facilitar a entrada do ar. Derek estranhou e levou as mãos aos ombros do castanho, que tentou lhe afastar, sem sucesso.

 

- Chegou! – pronunciou Rei, junto de Valete, Rainha e Copas quando o ar se fez mais ausente.

 

- Chegou? Quem chegou? – indagou Peter, confuso, se aproximando para tentar ajudar o assassino.

 

- não encos... – Rei tentou se soltar de Derek mais uma vez, mas se calou quando sentiu um pontada feroz no peito.

 

O assassino sorriu de canto.

 

- Lei – o assassino murmurou, deixando tio e sobrinho perplexos.

 

Tio e sobrinho, bem como os agentes, estranharam quando o assassino simplesmente jogou o peito para a frente, como se tivesse sido apunhalado pelas costas. Demorou alguns segundos para que logo nem mesmo ganidos o homem soltasse mais. Agora, ele sofria com a boca fechada, apenas grunhindo com os lábios colados. Peter e Derek estavam assustados com o que estava acontecendo com o assassino. Eles não compreendiam nada. Stiles parecia... Quebrado de várias maneiras. Maneiras aparentemente irreparáveis.

 

Já as quatro personalidades olharam para o próprio peito, cada uma, vendo um arpão atravessar os seus corpos. Valete, Rei e Rainha apresentavam dor em suas expressões faciais. Copas exibia apenas seriedade e naturalidade. Correntes com naipes de cartas começaram a surgir, se enroscando em seus corpos e começaram a tentar os puxar para direções específicas. Correntes deslizaram por seus torsos e pescoços, finalmente alcançando os seus lábios, passando a pressionar os mesmos, os silenciando. Passos foram ouvidos, em meio as perguntas de Derek e Peter de que o assassino estava bem e o que estava acontecendo. Completamente imobilizados, os quatro olharam de soslaio para os passos, vendo um homem de cabelos castanhos e olhar frio se colocar diante dos quatro.

 

“Essa foi rápida!”. Eles pensaram.

 

- Não deveriam ter saído - repreendeu o castanho com irritação.

 

Os quatro nada puderam dizer. O homem ergueu a mão diante do próprio rosto, exibindo a máscara de coelho que havia arrancado de Branco. O Stilinski deixou a máscara branca deslizar por sua mão e cair no chão escuro de sua mente, sendo absorvida pelo solo. Ele estalou os dedos da mão erguida, e as correntes que prendiam os outros foram tensionadas. Do nada, os quatro foram puxados violentamente, sendo erguidos do chão, na direção de quatro portas brancas diferentes. Quando cada um atravessou a sua porta, as mesmas se fecharam e correntes com arpões caíram de antes delas, as bloqueando.

 

 

- Esse vai ser o castigo pelo que vocês fizeram comigo - o homem ditou com frieza, observando as quatro portas se moveram, indicando que os quatro estavam tentando abrir suas portas, e falhando miseravelmente devido às correntes diante delas.

 

As quatro portas passaram a ser violentamente movidas, indicando o desespero de quem se encontrava do outro lado.

 

- NÃO PODE FAZER ISSO COM A GENTE! - gritou Rei, furioso, de sua porta.

 

- NÓS TÍNHAMOS UM ACORDO! - berrou Rainha, tentando abrir uma pequena fresta em sua porta.

 

- VOCÊ NOS DEIXARIA LIVRES SE FICÁSSEMOS EM NOSSOS QUARTOS - Valete o lembrou de seu acordo.

 

- Tínhamos um acordo, até vocês quebrarem ele agora a pouco - o homem proferiu, visivelmente irritado.

 

As portas sumiram, deixando apenas as portadas onde se encaixavam e as correntes que bloqueavam a saída, revelando as quatro personalidades de pé, em seus domínios da mente de Stiles, o encarando com indignação. O homem, furioso, olhou para a personalidade que era uma versão feminina de si, a vendo cruzar os braços diante dos seios.

 

- Não pode nos trancar definitivamente -

 

- Não pode ir contra mim. Temos um acordo -

 

- Sim. Temos um acordo. E por termos um acordo, escute o que eu digo. Não nos tranque -

 

- Então devo só ignorar o que fizeram comigo? Não posso continuar existindo nos dois lados sabendo que a qualquer momento vocês vão me mandar de volta para lá! -

 

- Tivemos um motivo e você sabe disso. Se não te mandássemos para lá, ninguém iria para Branco, que iria matar Miguel. É isso o que queria? - argumentou Valete observando o castanho lhe direcionar o olhar com fúria.

 

- Vocês brincaram comigo. Com as minhas inseguranças. Brincaram com o que deveriam combater - Valete, Rei e Rainha deram de ombros.

 

- confesso que gostei - comentou Rei e logo uma porta desceu entre ele e as correntes - COPAAAAAAAAS! - o homem berrou por ajuda e a mulher desfez a porta à sua frente.

 

- foi o único jeito -

 

O castanho rangeu os dentes e rosnou, furioso.

 

- Que se foda! O que merda vocês fizeram? -

 

- Nada - os quatro responderam de prontidão. 

 

Stiles franziu o cenho.

 

- Sobre o que os merdinhas abriram o bico? - ele rangeu os dentes enquanto dizia com ódio 

 

- Copas - os três chamaram pela mulher e as quatro portas voltaram a surgir logo após as correntes.

 

- Filhos da puta - 

 

 

 

 

 

Chapter 64: Got You

Chapter Text

Tio e sobrinho, bem como os agentes, estranharam quando o assassino simplesmente jogou o peito para a frente, como se tivesse sido apunhalado pelas costas. Demorou alguns segundos para que logo nem mesmo ganidos o homem soltasse mais. Agora, ele sofria com a boca fechada, em silêncio e com os lábios colados. Peter e Derek estavam assustados com o que estava acontecendo com o assassino. Eles não compreendiam nada. Stiles parecia... Quebrado de várias maneiras. Maneiras aparentemente irreparáveis.

Já as quatro personalidades olharam para o próprio peito, cada uma, vendo um arpão atravessar os seus peitos. Valete, Rei e Rainha apresentavam dor em suas expressões faciais. Copas exibia apenas seriedade e naturalidade. Correntes com naipes de cartas começaram a surgir, se enroscando em seus corpos e começaram a tentar os puxar para direções específicas. Correntes deslizaram por seus torsos e pescoços, finalmente alcançando os seus lábios, passando a pressionar os mesmos, os silenciando. Passos foram ouvidos, em meio as perguntas de Derek e Peter se o assassino estava bem e o que estava acontecendo. Completamente imobilizados, os quatro olharam de soslaio para os passos, vendo um homem de cabelos castanhos e olhar frio se colocar diante dos quatro.

“Essa foi rápida!”. Eles pensaram.

- Não deveriam ter saído - repreendeu o castanho com irritação.

E com uma longa inspiração desesperada, o homem os surpreendeu ao se recompor. Derek piscou algumas vezes, surpreso com a mudança drástica. Em um momento o assassino estava em completa agonia, no outro, estava calmo e sereno, como se nada estivesse acontecendo. Tio e sobrinho olharam com desconfiança para o castanho, tentando captar qualquer sinal que o mesmo transmitisse involuntariamente.

- Eu posso saber porque diabos vocês dois estão me tocando? – inquiriu o Stilinski deixando tio e sobrinho surpresos.

O assassino puxou o próprio corpo para longe dos dois agentes, os afastando de si.

- Ele voltou – Erica suspirou, aliviada 

- Stiles? – indagou Derek vendo Alice se soltar de suas mãos e passar a ajustar o próprio cabelo.

O homem passou os dedos pela testa e estranhou. Ele lambeu os lábios, impaciente.

- Rei estava batendo a testa na parede, não estava? – questionou, irritado.

- Você voltou! – o Tate exclamou, sentindo o medo libertar os seus ombros, como uma armadura de ouro sendo desprendida de seu corpo.

- ótimo! O tempo está correndo e nós deveríamos estar fazendo o mesmo – ditou Allan puxando um relógio de bolso.

- você está em condições de ajudar na investigação? – inquiriu o Hale, preocupado com a vermelhidão que tomava a testa do castanho, que apenas suspirou e lambeu os lábios. 

- isso não é nada –

- Então cumpra a sua parte do trato. Me ajude a pegar esse maldito Branco – ditou o agente estendendo a mão para o assassino, que a encarou com descrença. 

Stiles ergueu a mão, pronto para repreender o agente de sua atitude amigável repentina. Mas a voz de Copas em seu ouvido o paralisou. O castanho desviou o olhar de canto de olho para a mesa, onde Erica estava sentada e Isaac e Vernon estavam apoiados. Os três o encaravam com curiosidade e apreensão.

O assassino lambeu os lábios.

- como eu disse: mudanças de plano –

- Stiles, eu não posso deixar que mate e... – o agente se silêncio quando o castanho agarrou o seu braço, o apertando em um sinal de trato feito.

- eu não estou pedindo a sua permissão, Derek. Eu estou anunciando – ele puxou o agente para si, quase colando suas testas e o encarando com seriedade nos olhos e o forçando a lhe encarar – eu vou lhe entregar ele inteiro. E vocês terão tempo para investigar ele e o interrogar, fazer o escambau e o caralho de asa que quiserem fazer. Mas, depois disso, não haverá julgamento para ele. Ele já foi julgado... por mim. E a pena dele é de morte por ousar encostar no corpo de Lay –

Derek desviou o olhar para Alan, que lhe encarou com seriedade. O moreno de olhos verdes não precisou de muitas palavras. Sabia bem o que aquele olhar de seu superior queria dizer. As palavras do próprio Deaton ecoaram em sua mente.

“Apenas faça o que for necessário para trazer ele para o nosso lado.”

O tempo está acabando.

As palavras de todos os agentes vieram em sua mente, como um peso o empurrando para um precipício. Ele tentou fazer força contra o peso. Ele tinha conhecimento de que a situação naquela divisão apenas iria piorar caso ele mentisse para o assassino. Quebrar a confiança de Stiles em Peter era o objetivo de Branco com todo aquele atentado terrorista. Derek faria de tudo para impedir que o terrorista obtivesse sucesso. Mas, caso ele não tivesse sucesso em sua missão  alguém precisava substituir Peter como pessoa de confiança para o assassino. Alguém teria que ser o novo pilar de controle de Alice.

- Tudo bem. Mas primeiro você tem que nos deixar interrogar ele. Eu quero extrair o máximo de conhecimento dele – ditou com seriedade apertando o braço de Stiles com o seu, sentindo a mão do serial killer se fechar com força sobre o seu braço. 

- isso é p... – Rafael tentou se manifestar, mas Alan o silenciou com um erguer de mão em sua direção. 

- feito –

- Mas você tem que achar ele e impedir o atentado – alertou puxando o braço do outro para si, como um alerta da importância de sua condição para aquele trato.

- me dê tudo o que tem sobre esse caso até agora e eu lhe dou o que quiser – o castanho proferiu com seriedade, se desvencilhando do aperto de mão e seguindo para a foto dos corpos presas no quadro ao seu lado. – não importa o preço. Ele vai pagar por profanar o meu irmão - a sua voz estava carregada de um tom casual, mas Derek conseguia sentir a ameaça escondida naquela calmaria.

Ele conseguia enxergar a tempestade escondida naquele mar calmo da cor de mel.

- não deixe a sua vingança atrapalhar na investigação, Stiles. O tempo é curto e o país é grande demais – o moreno soou extremamente amigável em sua repreensão.

Stiles lhe lançou um olhar frio por cima dos ombros.

- com quem você pensa que está falando? – o assassino soou indignado antes de voltar o olhar para o quadro, agarrando a foto dos restos mortais do seu irmão gêmeo e a amassando.

Derek se viu confuso.

- eu não sou como vocês, agente Hale – ditou arremessando a foto amassada para trás  sem olhar para onde, a acertando em Rafael, que lhe fitou indignado.

O castanho se virou e encarou o enorme grupo de agentes ali presente com um olhar de nojo e desgosto, ao mesmo tempo em que lançava um olhar interrogativo aos mesmos.

- O que porra essa gentinha faz aqui? - o homem usou de todo o nojo que possuía em seu tom de voz.

- Essa “gentinha” está trabalhando no caso –

Stiles negou com a cabeça, tomando um sorriso gentil no rosto.

- Não. Não. Não. Não. Não. Não. Acho que vocês se equivocaram. Os peões ficam no andar de baixo, esperando as ordens. Aqui em cima, apenas quem investiga – ditou estalando os dedos e abanando o ar com a mão,  como se estivesse os afastando. 

Os agentes o encararam com confusão. 

- O quê? –

- Não entendi -

O semblante gentil se foi, sendo tomado por uma expressão séria. Erica sorriu de canto, encarando os agentes com olhos predatórios. Ela gargalhou contida, sorrindo vitoriosa na direção dos agentes que continuavam a encarar Alice com confusão. Peter tentou repreender o castanho ao chamar o mesmo pelo apelido, mas o Stilinski estava irredutível. 

- eu disse fora! – ordenou unindo as mãos atrás do corpo e mantendo uma postura ereta, autoritária. 

- não pode nos expulsar. É só um detento – argumentou um dos agentes.

Derek suspirou, tentando achar, o mais rápido possível um jeito de apaziguar a situação. 

- apenas deixe de estrelismo e encontre esse criminoso, já que é tão bom assim em caçar ele – ralhou uma mulher apontando para o quadro.

Alice sorriu de canto e se dirigiu ao quadro. 

Todos que faziam parte da divisão o encararam, confusos. Rafael, Chris e Matt o encaravam surpresos.  Alan apenas o encarou com uma sobrancelha erguida. Stiles diante do objeto e se virou para os agentes, abrindo os braços e se sentou lentamente, sem usar as mãos. Os agente se viram indignados.

- Não disse e iria... – um agente tentou argumentar, mas se calou quando o castanho pronunciou algo que poucos conseguiram ouvir. - é o quê? - inquiriu, confuso.

- eu disse: não sou eu que está correndo contra o tempo. – as palavras do homem de cabelos castanhos silenciaram a indignação dos agentes.

- você... – a mulher fora silenciada quando o castanho trocou a posição, passando a se deitar no chão, com as mãos cruzadas atrás da cabeça. 

- Stiles, por favor – pediu Peter, mais uma vez.

O castanho grunhiu em resposta a voz do loiro. Aquilo machucou o mais velho.

- Sabe? Eu posso pegar o coelho depois da segunda reunião. Sem problemas. Afinal, Branco permanecerá vivo depois do atentado. Já os civis... – o assassino debochou, passando a analisar as unhas de uma das mãos. 

- Stiles. Fizemos um trato – Derek o lembrou. 

- que irá por água baixo se esses merdinhas não sumirem da minha frente – o castanho rebateu.

- Você disse que iria fazer, não importava o preço. – Alan argumentou contra o assassino.

- mas isso está fora de cogitação, Diabo Velho. Eu me recuso a trabalhar com esses mortos ambulantes estando no mesmo recinto – o castanho estava irredutível.

- se não aceita trabalhar com eles pelo seu trato com o Derek. Então, ao menos, faça por mim, Stiles. – pediu Peter com suavidade, tentando amenizar o ânimo do assassino da divisão. 

Stiles gargalhou.

- Por você?! Investigar o Branco por você? – o castanho inquiriu,  indignado, e, no mesmo instante, Peter se arrependeu do seu pedido – por você, eu, se quer, estaria aqui. Baixe a sua bola. Sabe? Agora eu começo a entender. Agora eu saquei porque você e Alexander se interessaram de mim e se aproximaram. –

- hmmm, lá vem ele – resmungou Scott, revirando os olhos.

- Você acha que eu sou ruim, Peter? Você acha que eu sou manipulador. Acha que sou cínico... mas nunca um monstro. Não acha engraçado? - 

- Stiles, não. Eu... –

- Você apenas enxerga em mim, o que tem dentro de você,  Peter – as palavras de Stiles não atingiram apenas o agente Tate, mas os outros atingidos apenas se mantiveram em seu silêncio absoluto.

- É por isso que nunca quer que as pessoas me vejam como um monstro. Porque isso faria de você um pior ainda – as palavras do assassino atravessaram o peito do mais velho.

Scott apenas deixou o queixo cair com um sorriso se moldando no processo 

- Stiles, você sabe que... – Derek tentou argumentar, mas o castanho o cortou.

- não ouse tentar defender o seu tio! – o assassino ralhou, furioso - nada do que me disser irá me fazer concordar em trabalhar com esses imbecis ao meu redor! Nada! –

O assassino estava irredutível, para o terror dos investigadores. Peter já não sabia mais o que fazer. Derek estava certo. Branco havia lhe vencido. Havia tudo acontecido exatamente como Stiles havia lhe descrito na leitura das cartas. As palavras do assassino começaram a ecoar em sua mente, enquanto as imagens das cartas lhe assombravam.

“Uma pessoa controladora – O Diabo – com uma decisão importante e você se encontra no caminho – A Justiça - pode colocar um fim –  A Morte – na sua paz ou em um relacionamento seu –  A Temperança – e você não deve fazer nada. Tenha paciência  - A Lua”.

Branco veio, justamente,  para destruir o seu relacionamento com Alice. Um manipulador sem igual o havia feito ele mesmo afastar o castanho de si.  E Peter reagiu, tentando, ao máximo,  manter Stiles afastado do caso, quando ele simplesmente deveria ter deixado as coisas acontecerem.

Derek estava certo.

Stiles estava certo.

Branco estava certo

E Peter fracassou.

Mais uma vez.

A imagem de Alexander caído no chão, sangrando,  e com o olhar se esvaindo aos poucos voltou em sua mente. O homem sentiu o peito apertar, o coração acelerar, o corpo suar e ad mãos tremerem. Ainda sentia a sensação do sangue quente e escorregadio em suas mãos enquanto tentava, inutilmente, estancar o sangramento do peito de seu cunhado e parceiro.

“Você tem que continuar”.

A voz sôfrega pela dor e pela agonia da hemorragia proferiu com autoridade.

“Isso tem que parar”. 

Voltou a ordenar, dolorido e em agonia, e Peter sentiu o aperto da mão do parceiro na sua.

“Prometa que vai parar isso!”.

Aquele havia sido o último pedido de Alexander Hale, feito na frente da base de Quântico da cidade de Nova Iorque, após ser baleado por um franco-atirador que deixou apenas uma trufa de chocolate como pista de sua existência. E ele havia falhado miseravelmente no único pedido que o seu parceiro havia feito para si. Ele não havia protegido Stiles. Não havia realizado o desejo do seu parceiro e acabado com o País das Maravilhas. Não havia destruído aquele mal e vingado o seu parceiro. E, agora, estava tudo retornando para lhe atormentar uma vez mais.

- Stiles – chamou Isaac, chamando a atenção de todos.

O castanho se virou na direção do loiro com o semblante ainda irritado. O Lahey não soube como reagir. Não sabia como começar a falar. Mas ele tinha noção que precisava se manifestar. Não era como se ele tivesse a influência que Peter tinha sobre o outro. Na verdade, Isaac tinha plena noção de que não tinha influência alguma sobre aquele homem. No entanto, situações desesperadoras pedem medidas desesperadas. E o FBI estava desesperado. E pior, a divisão de Peter havia sido exposta a muitos agentes. Eles precisavam mostrar eficácia  para comprovar a necessidade daquela divisão existir. Do contrário,  eles poderiam perder a única chance de saírem da prisão antes de atingirem a terceira idade.

- eu... eu sei que... eu sei como você se sente. Você está levando esse atentado do Branco numa boa porque você não tem o que perder com ele. Eu também não tenho. Eu e você não temos motivos próprios para evitar esse atentado. Mas Boyd, Erica e Allison têm. Então,  por favor,  faça isso por eles – o loiro apontou com a mão  suavemente, para Vernon e Erica, que se encontravam ao lado de Allison.

Stiles encarou Isaac com um semblante sério e olhos vazios.

Ele havia hesitado. 

Mãos macias e suaves se apoderaram de seus ombros e o homem sentiu um arrepio suave lhe percorrer a espinha.

“Entre no jogo dele. Faça com que eles acreditem que ainda tem controle sobre você.”

A voz sussurrou em seu ouvido e ele inclinou a cabeça suavemente em sua direção,  tentando a afastar de si. Mas os mesmos lábios que lhe sussurravam na orelha direita passaram a lhe sussurrar na orelha esquerda.

“Eles precisam de você para pegar esse desgraçado. Mas vão se livrar de você caso sintam que não têm controle algum sobre você.”

Ele inclinou o rosto para a esquerda. Aos olhos dos agentes, o assassino parecia um filhote confuso. Mas na mente de Stiles, ele era apenas uma pessoa incomodada com um inseto em seu ouvido.

“Isaac é perfeito para isso. Faça dele e os outros os novos Peter e Alexander. Use até o Derek e a Allison, se quiser. Mas os faça comer em nossas mãos. Só precisa fazer o que sempfe gostou de fazer: Faça a sua mágica acontecer.” 

Os lábios sussurraram ao mesmo tempo em seus dois lados e o castanho se enfureceu. Se curvando, levou as mãos aos cabelos e os bagunçou ferozmente.

“Vamos. Vai ser como nos velhos tempos: Isaac será o Peter. Vernon será Alexander. Erica pode ser a Talia. Derek será  o Christopher. O Scott? Tal pai, tal filho. Lydia será o Deaton.”

O homem se enfureceu e passou a rosnar e gritar enquanto bagunçava os próprios cabelos. Derek e Peter já estavam para se aproximar do assassino quando o mesmo paralisou. Stiles ergueu a cabeça e passou ambas as mãos pelos seus fios castanhos, que agora batiam em seus ombros. Respirando fundo, ele se acalmou.

-ele trocou? – sussurrou Allison, curiosa.

Erica apenas negou com a cabeça. 

- Tudo bem. Eu faço – a resposta do Stilinski chocou a tio e sobrinho, que se entreolharam rapidamente, surpresos

Tamanha surpresa também atingiu pais e filhos, com os Argent e os McCall piscando os olhos, em choque. Alan ergueu as sobrancelhas, em choque, antes de dar de ombros e retornar a sua expressão serena.

- obrig... 

- Mas! Eu preciso de espaço para trabalhar. – pontuou colocando as mãos nos bolsos.

Alan não perdeu tempo.

- todos os agentes, afastem- se um pouco – o homem ordenou movendo as mãos no ar, abanando os agentes para trás, que, sem opções,  seguiram a ordem do seu superior.

- você também, capeta velho – o castanho adicionou sem encarar o Deaton.

Todos os agentes ali presentes ainda se impressionavam com a forma que o assassino de referia ao superior geral de todos eles. O homem vestido com o uniforme da prisão mantinha um total de respeito zero pelo Deaton. Alan, novamente sem opções, acompanhou os agentes, se afastando do assassino, mas mantendo uma distância em que podia observar bem o que ele estava fazendo. 

- Stiles, antes de começar, eu acho que seria bom você ver uma coisa – Allison chamou a atenção do homem enquanto se levantava. 

Erica seguiu o ato da mulher, preparada para seguir para onde quer que Allison fosse. Sabia que Alice poderia a acompanhar, então ela precisava estar lá para dizer quando o castanho mudava de personalidade ou ao menos tinha algum desejo assassino sobre a mulher.

- e do que se trata? – inquiriu o homem, ainda parado.

- Sabe, é melhor ver do que explicar sem mostrar – comentou Allison indicando o corredor com a cabeça. 

- são evidências que achamos na casa – adicionou Erica e o assassino ergueu a sobrancelha, curioso.

- Não preciso de fotos da minha família – rebateu.

- Não são da sua família, cara – comentou Vernon se aproximando das duas mulheres.

- Pelo menos, não da sua biológica- comentou Isaac chamando a atenção dos membros da divisão e dos agentes.

Aquilo deixou o castanho em alerta e curioso. Stiles sentiu dois apertos suaves em seu corpo, antes de um riso ecoar em sua cabeça. Estremeceu suavemente, afastando aquelas sensações incômodas, antes de se pronunciar.

- Do que está falando? – inquiriu, desconfiado.

- ah... é melhor você ver por você mesmo – o Lahey desconversou.

- por aqui – chamou a Argent, guiando o caminho. Quando a morena abriu a porta da sala de Derek e deu espaço para o assassino passar, Stiles franziu o cenho, desconfiado. Ele olhou para todas as paredes, estranhando as fotos que decoravam todas elas.

- sabe? Eu sabia que você era obcecado na gente. Mas o estilo psicopata voyeur não se encaixa bem em você, agente Hale – zombou o assassino cruzando os braços e se aproximando das fotos.

O moreno de olhos verdes suspirou.

- essas fotos não são minhas – comentou receoso da reação do castanho ao descobrir a verdadeira origem das fotos.

- É. Eu imaginei quando vi a sua fuça pendurada aqui – argumentou dando de ombros.

- são do Branco – a voz de Peter saiu fraca, mas carregada de ressentimento.

Os olhos da cor de mel foram tomados de surpresa, logo após a desconfiança os abandonar. Alice se virou para a divisão atrás de si, os surpreendendo com o seu olhar de espanto. Aquele olhar no rosto do assassino despertou o medo no grupo. 

Eles já trabalhavam juntos havia meses. Peter conhecia Stiles há anos. E, desde então, aquela era a primeira vez que eles viam o assassino espantado com algo.

- essas fotos são do Branco... Vocês as encontraram na casa... ele tinha acesso a fotos nossas e ai corpo dos meus pais... ele sabia até mesmo a localização do corpo do Lay... – as peças iam se encaixando em sua mente, enquanto ele sentia o coração acelerar e o ódio preencher mais um pedaço do mesmo.

- Alguma conclusão que devemos saber? – inquiriu Scott, tentando manter a pose de tédio, mas os seus olhos ainda mantinham a surpresa de ver Alice espantado pela primeira vez.

- esse cara... esse Branco... Ele tem informação demais –

- Argh! Isso nós já sabemos! – ralhou o McCall, irritado.

- não. Você não sabe. Branco não está atrás de mim por causa dessa divisão – a alegação de Alice despertou uma curiosidade anormal em Peter.

- Como assim, não? Ele lhe descobriu depois que lhe soltamos, não? – inquiriu o loiro mais velho confuso.

- Branco me segue... desde a minha infância – 

- O quê?! – exclamaram Erica e Isaac, surpresos.

- Você tem certeza disso, Stiles? – o agente Hale estava receoso da confirmação daquela afirmação e do que ela significaria.

- Não tem como ninguém saber a localização do corpo do meu irmão gêmeo. Não se já não estivesse me seguindo na minha infância. Seria impossível! Eu tive a certeza de que ninguém nunca encontraria o corpo do meu irmão quando o enterrei –

- e como teve tanta certeza disso? – o agente de queixo torto estava curioso.

- dando a ele a maior lápide que um túmulo poderia ter – respondeu seco, cerrando os punhos com ódio. 

A resposta deixou todo mundo confuso. Mas a mente de Vernon era rápida. 

- puta merda! Você... colocou o seu irmão embaixo de um prédio?! -exclamou o Boyd, perplexo, deixando o resto da divisão igualmente surpreso.

- uma criança não teria como fazer isso. Mesmo que tenha a sorte de construírem um prédio depois, existem prédios com estrutura subterrânea para ser a casa de máquinas. Os construtores teriam cavado a área e encontrado o corpo. E não tem como uma criança entrar com um corpo numa zona de construção e ninguém perceber! – o McCall preferia um soco a aceitar aquela hipótese. 

- Quando se é um maravilhano, McCall

- Não me venha com essa baboseira! – ralhou, furioso.

- Scott! – repreenderam tio e sobrinho observando o agente de queixo torto ranger os dentes irritado.

- você sabe reconhecer o lado podre de pessoas que tem muito a perder. E isso lhe dá mais poder do que qualquer quantia em dinheiro poderia dar -  o castanho concluiu chamando a atenção de Peter.

- com a ameaça certa, na vítima certa, com um toque de demonstração de poder. Eu posso fazer o que eu quiser, inclusive construir um prédio sobre o túmulo do meu irmão – o castanho murmurou com ódio antes de se virar com velocidade contra a única parede sem fotos e a socar com força, derrubando um retrato que havia ao lado.

 Erica e Isaac se sobressaltaram.

- ele esteve lá! – ralhou entredentes.

Se recordava nem da noite em que ele e Copas enterraram o próprio irmão.  Copas o impediu de ver o estado em que o irmão se encontrava desde que haviam encontrado o corpo de Lay soterrado. Ela sempre presou pelo psicológico do assassino, sempre o dando suporte quando podia e quando o mesmo permitia. Mesmo que significasse se despedir de uma maneira bem fria e rasa do próprio irmão gêmeo. A garota, hoje mulher, sabia que ver o estado do corpo de Lay apenas destruiria Alice.

- ele sempre teve lá! – outro soco fora desferido na parede.

- o Branco? –

- sim. Ele esteve lá em tudo. Branco também o criou. Não éramos quatro cartas de baralho. Sempre fomos cinco! –

“Cinco!” 

As quatro vozes em sua cabeça repetiram em uníssono. 

- É claro! – mais um soco – aquela vadia era muito mais precavida. Ela sabia que algum de nós podia dar errado! Ela tinha um Coringa esse tempo todo! –

- Branco é o Coringa? – inquiriu Scott temeroso com a associação que a sua mente produziu entre a realidade e o mundo cinematográfico.

- é, Scott. Antes de ser Branco, ele era um Coringa. E a carta Coringa sempre está no baralho, mas poucos jogos a usam, então é normal ela passar despercebida até que apareça na mesa. Sem contar que, nos jogos em que aparece, ela costuma ser estimada. Então os jogadores a guardam para si até o momento mais oportuno – o Stilinski voltou a socar a parede, fazendo o quadro com o diploma de Derek, que estava ao lado, passar a tremular a cada golpe.

- isso é ridículo! – exclamou, irritado.

- Então por que Branco esperou até essa divisão ser criada para agir? –

- Ele não esperou! Não tinha como ele saber que essa divisão seria criada. –

- Ele não sabia. Mas ele esperou o melhor momento. E a criação dessa divisão foi esse momento – argumentou Vernon e Stiles estalou os dedos, apontando para o homem com uma pistola de dedos.

- exatamente. Quando me tiraram da cadeia, deram um acesso maior para ele chegar até mim. Foi aí que o momento oportuno surgiu. –

- Então... se essa divisão não existisse... – comentou Allison, curiosa.

- Não estaríamos na situação em que estamos – concluiu Peter, pesaroso, com o olhar voltado para o chão.

- Essa gente toda não teria morrido – murmurou Vernon, também culpado.

-  Tio, isso não é sua culpa. Esse cara está atrás do Stiles há anos. Ele, provavelmente, já estava planejando em soltar Alice de Alcatras. Mesmo que o Stiles não fizesse parte dessa divisão, nós ainda teríamos que lidar com o Branco. – Derek argumentou, tentando aliviar o peso que o tio sentia nos ombros.

Aquela divisão fora ideia do agente Tate. Saber que fora por causa dela que Branco estava fazendo tudo aquilo poderia acabar com o psicológico do homem. 

Peter apenas suspirou, tentando aceitar as palavras do sobrinho como a verdade.

- Derek tem um ponto. Não pode se culpar pelo Branco. Ele realmente iria atrás de mim de todo jeito. E, se te serve de consolo, eu tenho certeza de que o jeito original seria muito pior. Comigo aqui, vocês ainda tem uma chance de vencer ele, e é por isso que ele está apelando tanto para os civis – ditou Stiles analisando as fotos de uma das paredes.

- apelando para os civis? – inquiriu Erica, confusa.

- por que acha que ele usou tantas bombas? Por que acha que atacou apenas pontos de emergência? Isso, além de diminuir a força policial, também afeta a mente dos outros membros da área da segurança. Mas esse não é o objetivo foco dele. O que ele, realmente, quer é dividir o foco de vocês-

- e ele está conseguindo –

- é. Ele está. Vocês não estão focados em prender ele. O que vocês mais querem é evitar o atentado e continuar com medo de mim. Isso faz com que ele fique em segundo plano e como eu estou me submetendo a vocês, teoricamente, isso também me limita. Mas, como eu disse, teoricamente –

- merda. Ele está certo! – exclamou Vernon, irritado.

- Viu? O senhor não tem culpa nenhuma – argumentou o Hale observando o tio apenas manter um olhar pensativo.

- Peter, você que está mais perto da porta, eu quero um café gelado - ditou o castanho observando, pelo canto do olho, o louro se surpreender ao ouvir seu nome de sua boca e então menear em concordância,  ainda afetado pelo peso do atentado e se retirar da sala, fechando a porta logo em seguida. 

- Isso é hora para os seus mimos? – inquiriu Scott, azedo.

- Por um lado, você está certo, Derek. Mas, por outro, vocês ainda continuam sendo responsáveis pelas mortes dos civis de hoje – o castanho soou frio enquanto se virava para os membros da divisão. 

- Stiles? – indagou Allison, confusa.

- Você pode se decidir? Como que as mortes podem ser nossa culpa,  mas o Branco estar fazendo um atentado não é? – o McCall já estava perdendo a paciência 

- porque eu poderia ter evitado essas mortes. Vocês tiveram dias para evitá-las e preferiram ficar brincando de polícia e ladrão com um Maravilhano ao invés de chamar outro para resolver o caso. Vocês tiveram a chance de impedir as mortes e jogaram fora por criancicsse. Então, sim. A culpa das bombas é do Branco, mas as das mortes são suas – o assassino cuspiu as palavras enquanto se dirigia para a terceira parede com fotos.

O silêncio reinou na sala até o momento em que Peter voltou com o café pedido pelo assassino.

- com gelo e sem açúcar,  como você gosta – disse o mais velho entregando o copo nas mãos do castanho.

- agradecido – o assassino pegou o copo e se manteve de costas para o loiro, que levou a mão instintivamente ao ombro alheio, mas parou antes que pudesse tocar o outro.

Suspirando, Peter recolheu a sua mão e se afastou alguns passos.

- então é só isso? – inquiriu o assassino, assim que terminou de analisar as fotos.

- Sim. Nós sabemos que é uma pista falsa, mas queríamos que soubesse que ele esteve de olho na gente esse tempo todo – comentou Allison encarando o castanho negar com a cabeça enquanto tomava um gole do seu café gelado.

- falsa? Não. Não. Isso daqui é mais importante do que vocês imaginam. Agora, eu quero ver as fotos da casa – 

- o quê?! Importante? Importante como?! Foi isso que levou a gente pro lugar errado! – exclamou Scott, confuso.

O assassino riu baixinho enquanto ignorava a confusão do grupo e se dirigia para o lado de fora. 

Vernon não demorou em o seguir.

- Como aquilo pode ser importante, Stiles? O que são aquelas fotos? –

Stiles continuou rindo e ignorou a pergunta do traficante.

- e então? – perguntou Alan ao perceber o castanho saindo do corredor. 

- eu descobri algo muito importante – afirmou chamando a atenção de todos os agentes presentes.

- e o que foi? –

- vocês tem que trocar a marca de café  - ditou com seriedade e toda a expectativa colocada em suas palavras se perdeu em meio a raiva e o desânimo. 

- do caso, Alice. Do caso! – ralhou Chris, entredentes.

- ah, disso. Também descobri. Mas agora eu quero as fotos da casa –

- Alice, nós estamos trabalhando juntos nisso.  Nós temos direito a informação – alegou Chris vendo o homem de cabelos batendo nos ombros se virar para si em um giro, agitando os cabelos castanhos.

- e terá. Quando eu acabar. Até lá, eu só desprezo a sua existência e aprecio o seu silêncio –

- está bem. Está bem. Venha comigo. Eu vou te mostrar os arquivos que temos da casa – 

- vamos, capeta –

 

 


- você tem certeza disso? – a mulher tinha um tom de receio em sua voz enquanto encarava a mesa ao deu lado.

-estás a duvidar de mim? – o homem mascarado soou magoado enquanto caminhava ao redor dela.

- Não.  De forma alguma. Eu tenho certeza de que você está mais do que pronto para isso. –

- Maaaas... –

- mas... e o resto de nós? Acha que... acha que vai dar tudo certo? – inquiriu receosa, observando aas mãos enluvadas de Branco irem de encontro ao seu rosto. 

- Meu bebê. O meu precioso porquinho chorão.  Não se preocupe com nada. Tudo vai sair exatamente como eu planejei – os polegares deslizavam pelas bochechas dela, em uma carícia reconfortante.

- acha... acha que eu estou pronta para isso? – 

- eu não incluiria você se não estivesse – o mascarado encostou a boca da mascara na testa alheia e produziu o som de um beijo com os lábios.

- tudo bem. Vamos fazer isso – comentou, tentando soar confiante.

- É assim que eu gosto. Você treinou tanto! Não tem como você falhar -  Branco soava gentil e animado.

- e quanto as Alices? Elas já estão prontas para a ação? – inquiriu se virando, dando as costas ao mascarado, que se sentou em uma poltrona.

- sim. Elas estão. Estão em um hotel em Miami. Rainha disse que queria pegar um bronze e relaxar já areia antes de tudo acontecer. Rei achou uma boa ideia. Já valete... não é o tipo de homem que se mistura com qualquer pessoa. Mas o forcei a ir mesmo assim. Rei e Rainha precisão colocar ele nos trilhos antes de deixar ele sozinho por aí  -

- Eu tenho uma pergunta –

- manda –

- Por que só os gêmeos receberam o Treinamento da Coroa Vermelha? – a pergunta pareceu deixar o mascarado sem palavras.

Mas apenas pareceu. Porque Branco riu.

- isso te preocupa? –

- Sim. Rei, Rainha e Valete. Esses três tem os mesmos nomes de seus antecessores, mas nenhum deles teve treinamento para isso –

O mascarado voltou a rir.

- É simples, querida. Eu juntei vocês para mexer com a segurança nacional. Mas os gêmeos... eu os peguei para mexer com Alice – respondeu passando a brincar com o seu relógio de bolso, o usando de pêndulo. 

- entendo. Mas não seria melhor treinar todos eles? Todos nós? – ela perguntou, intrigada, enquanto amarrava o próprio cabelo, se preparando para fazer a sua maquiagem.

Branco bufou por trás de sua máscara, surpreendendo a mulher.

- Claro que não! Eles tem o nome de Alices, mas não possuem os títulos de Alices. São apenas cartas. Valete seria merecedor de pena, se não apenas de morte, caso não tivesse se isolado se adaptado a uma boa caçada. Ele nunca será uma Alice de verdade. Ele é agressivo, inquieto, sem classe e, o pior, sem higiene – o mascarado pontuou, se erguendo.

- Rei é educado. Ele tem uma certa classe, ninguém pode negar. Mas ele não tem a força necessária para se tornar uma Alice. Muito menos o carisma magnético para receber tal titulo. Sem contar que não é tão inteligente quanto acha que é. Nunca vai chegar aos pés de um verdadeiro Rei –

- Rainha... é um pouco problemático. Ele tem um carisma magnético  e uma inteligência intrigante, mas não o suficiente para ser Alice. Ele tem força,  mas a habilidade... e a sua capacidade de aprendizado é... questionável. Não, ele não serva para ser Alice –

- E... os gêmeos... servem? – a mulher perguntou, receosa da reação do seu superior.

Branco parou de brincar com o relógio de bolso e encarou as costas da morena de cabelos curtos. Ela engoliu em seco ao encarar o reflexo do mascarado no espelho, gelando quando os olhos azuis da máscara se tornaram vermelhos, encolhendo o brilho aos poucos.

- está me deixando desconfortável com todas essas perguntas, Thaphne – ele soou ameaçador, com o equipamento que deixava a sua voz bifurcada a deixando mais grave a medida em que as palavras saiam, indicando a fúria de seu superior e mentor.

- Me desculpe, senhor – ela engoliu em seco mais uma vez, parando de se maquiar.

- Está duvidando de minha palavra? Acha que o meu plano é fraco? Acha que não vai dar certo? –

- De forma alguma, Branco. Eu só... –

- é por isso que você não teve o Treinamento da Coroa Vermelha. Porque você não tem autoestima. Você não tem coragem – ele argumentou, se aproximando.

- Eu tenho coragem –

- você não tem garra –

- e-eu tenho –

- então não está pensando em dar para trás,  não é? Desistir logo agora? –

- Não. Não. Não. Eu nunca iria desistir – ela afirmou, desesperada, e logo sentiu as mãos enluvadas em seus ombros.

Os olhos vermelhos se tornaram azuis e voltaram ao seu tamanho original exageradamente grande. Branco riu fraco por trás da máscara, inclinando a cabeça para o lado.

- ótimo! – exclamou apertando as mãos suavemente nos ombros alheios, antes de se inclinar até alcançar a orelha alheia – porque agora é tarde demais para desistir – a mulher engoliu em seco.

- s-sim, senhor –

- Eu te dei muito, Thaphne –

- Eu sei, meu senhor – ela permanecia encarando a face mascarada no espelho.

- E eu posso tirar muito mais do que dei – os olhos voltaram a encolher e a mudar de cor, surpreendendo a mulher.

Instantaneamente, o olhar no rosto de Thaphne mudou. O que antes apresentava nervosismo e remorso, passou a exibir frieza e indiferença.

- eu sei, meu senhor. Sei e sigo completamente fiel a você, Branco –

Os olhos vermelhos retornaram a cor original. O mascarado se ergueu novamente, mantendo apenas as mãos nos ombros da mulher, que o encarava com os olhos vazios.

- ótimo! É assim que eu gosto! – o mascarado deu dois tapinhas nos ombros alheios e se afastou, deixando uma mulher temerosa e triste para trás. 

- Eu não acho que estamos prontos para isso – murmurou, desanimada.

Um par de mãos caiu sobre os seus ombros, a assustando. Ao erguer um olhar aterrorizado para o espelho, a mulher se viu perplexa ao ver os gêmeos descamisados e suados lhe encarando com sorrisos predatórios. Cada um dos gêmeos que formavam o Ás de Copas estava com uma das mãos em seus ombros, enquanto se abaixavam para poderem colocar os rostos ao lado do seu. Thaphne tremia como vara verde. Ela se quer sabia que os dois estavam no mesmo andar que ela, quem dirá no mesmo ambiente. Ela jurava de pé junto que eles estariam no subsolo, se preparanso.

- e é por isso que nós somos Alices e você não  - murmurou Ethan lambendo o lóbulo da orelha alheia.

- Nós nos preparamos muito, “Porquinho”. Nós sabemos que tudo está indo conforme o plano e continuará assim porque nós faremos continuar assim. Não precisamos da sorte. Nós ditamos as regras. Não ficamos grunhindo e chorando – ditou Aiden antes de os dois se afastarem, gargalhando.

Thaphne ficou ali, apenas se encarando no espelho, com ódio.  A mulher estava tão possessa pelo que acabara de ouvir. O modo como aqueles dois lhe desprezavam e lhe diminuíam era demais para que conseguisse controlar as emoções e mantivesse a expressão fria nos olhos.

A mão que segurava o pincel que usava para finalizar a sua maquiagem se fechou com força ao redor do objeto. A pressão continuou aumentando até que a haste se partisse ao meio, destruindo parcialmente o utensílio. Ao perceber o que havia acabado de fazer, ela se irritou mais ainda.

“Nunca será Alice”

As palavras de Branco ecoaram em sua mente. A sua respiração pesou e o peito passou a subir e descer rapidamente. Furiosa, jogou a cabeça para trás e grunhiu alto. O mesmo grunhido que aterrorizou Valete em sua iniciação,  bem como todas as suas vítimas anteriores.

O grito de um porco.

 

 

 

- e então? O que queria falar comigo? – inquiriu Peter, abrindo a porta as própria sala e dando passagem para o sobrinho.

- Tio, eu... – o moreno de olhos verdes sentiu as palavras morrerem em sua garganta.

E se ele estivesse errado? E se, na verdade, nada daquilo fosse possível? E se ele estivesse apenas perturbando o seu tio, mais uma vez? Aquelas duvidas surgiram de repente em sua mente, lhe atormentando e fazendo com que as palavras se perdessem em sua garganta.

- Derek? – indagou Peter observando o mais novo encarar o nada, nervoso.

- Peter, eu... eu queria saber se... se o senhor ainda investiga o Alice – o moreno tomou coragem para perguntar, mas o seu receio foi exposto em sua voz.

O mais velho franziu o cenho.

- E por que quer saber disso? –

- eu... eu venho prestando atenção em tudo o que o Alice fala desde que o tirei da solitária, hoje –

- eu... não sei dizer se reconheço isso como bom ou como ruim – comentou o mais velho, cruzando os braços.

- não. Não. Eu não... quero mais prender o Stiles de volta em Alcatraz. Eu só... –

- só...? –

- só... eu ouvi ele dizendo que sabe que você ainda investiga ele. É verdade? – perguntou, curioso e receoso.

Peter franziu os olhos mais uma vez, desconfiado. Ele queria muito acreditar que tinha alguém com quem contar. Alguém que nos fosse apenas Talia. Alguém que, assim como ela, acreditava em si e no garoto. Uma pessoa, qualquer uma para lhe dar algum suporte naquilo, do mesmo jeito que o seu cunhado fazia. Mas o seu sobrinho era... era um sonho antigo e distante. Derek já havia seguido por um caminho diferente por muito tempo. Já havia feito demais e falado demais. Seria uma boa ideia fornecer qualquer informação que tinha ao seu sobrinho?

- Se você... estiver investigando o Stiles... eu... eu queria dizer que eu acho que... – o Hale se sentia ridículo .

Havia tanto tempo que não gaguejava na frente de ninguém. Muito menos passava tanto tempo procurando as palavras que queria usar. Se sentia no passado. Se sentia mais uma vez uma criança traquina que poderia ser repreendida por ser tio, um homem mais velho. Lembrava-se vagamente das vezes em que tentou mexer na arma do tio ou do pai, sendo repreendido duramente pelos três mais velhos

- Desembucha, Derek. Tempo é algo que nós não temos – o mais velho o repreendeu, como o temido, mas não pelo motivo esperado.

O agente mais novo respirou fundo, tentando criar coragem para falar.

- Eu acho que... não. Eu acredito. Eu acredito, de verdade, que descobri quem são as identidades das personalidades do Stiles. – o moreno de olhos verdes encarava o tio com seriedade, tentando passar confiança no que dizia.

Peter sorriu de canto.

- tudo bem, então. Vamos ouvir o que você tem -  Derek já esperava a rejeição do seu tio para com a sua afirmação.

Era esse o motivo pelo qual se sentia tão nervoso e, principalmente, porque tentava tanto, desesperadamente, procurar as palavras perfeitas para usar. No entanto, um Peter receptivo e mente aberta fora o que ele recebera.

- Não... não tem nenhuma crítica quanto a isso? – o moreno perguntou, surpreso.

- terei uma assim que ouvir o que você tem a dizer – o loiro rebateu com tranquilidade, cruzando as pernas.

Derek engoliu em seco, antes de respirar e dar início a apresentação de sua teoria.

- eu fiquei bem intrigado com as coisas que as personalidades dele disseram ali na sala principal. O jeito que eles falavam, o modo como cada uma tinha um sotaque diferente e também os trejeitos. Sabe? Eu nunca tinha visto alguém com essa condição antes, então eu fiquei bastante chocado. Mas, depois tudo, quando passei a refletir sobre o que eles disseram. –

- e a que conclusão chegou? –

- Sabe, eles falaram como o Stiles pode ser inteligente, ardiloso e perigoso. Mas não por apenas reconhecerem isso. Eles falaram como se... como se eles tivessem experimentado. Sabe? Sentido na pele. Como se –

- como se tivessem sido vitimas – Peter concluiu surpreendendo o sobrinho.

- eu sei. Parece loucura. Não tem como uma alma ou personalidade ser transferida para outra pessoa. Mas se você parar para analisar. As coisas que eles disseram. Valete disse ter perdido a cabeça quando disse para o Stiles não perder a dele. E a Vítima Noshiko Yukimura foi decapitada. Valete tem o sotaque asiático e os mesmos trejeitos de uma mulher criada e crescida no Japão –

Peter sorriu.

- Rei disse que perdeu o olho depois de falar para o Stiles que olhasse de outro ponto de vista. Adrien Harris, a segunda vítima estranha teve um dos olhos derretido por ácido. Um homem adulto com sotaque de Nevada. Tal qual Rei. E Rainha falou que tentou dar uma mão ao Stiles em sua vingança, mas tudo o que lhe restou foi a mão. Meredith Walker, enforcada e enc9ntrada enterrada, com apenas a sua mão do lado de fora da terra, sinalizando a sua cova. Meredith era de Dakota do Norte. E Rainha tem o sotaque de lá. Tudo se encaixa. E todas as vítimas receberam as cartas de Rei, Rainha e Valete. –

Peter gargalhou. Aquilo deixou Derek ainda mais desconfortável.

- Mas e Copas? – 

- hm? –

- E Copas? A última personalidade que o Stiles já mostrou ter. Quem seria ela? –

Detek ficou pensativo por um bom tempo.

- não temos nenhuma prova com ninguém contendo uma carta de Copas... ou temos? –

- não. Nenhuma de suas vítimas já registradas tem uma carta com o símbolo de copas. De todas as ventenas de vitimas que ele fez, ele usou todas as cartas do batalho que tinham os outros naipes. Mas nunca usou o coração. –

- Bom... Copas sabe muito sobre o Lay. Talvez seja ele, eu não sei –

Peter suspirou.

- eu também pensei nisso quando descobri sobre o irmão gêmeo. Mas descartei assim que vi o que nos foi falado sobre o Lay –

- como assim? –

- Copas é uma mulher. E durante todo o dialogo que tivemos falando sobre o irmão gêmeo do Stiles, todos, inclusive o próprio Stiles se referem a ele no masculino. Inclusive Copas. Não. Ela não surgiu com a sua morte, como Valete, Rei e Rainha. Copas já estava dentro do Stiles antes da morte do Lay. –

- Espera. Então... acredita na minha teoria? – questionou, desconfiado.

- sim. Tudo bem que a sua teoria não me trouxe nada de novo. Eu ná sabia quem eram eles três há anos. Hoje eu apenas tive a confirmação. E não é nada impossível. Realmente, não há como transferir alma ou personalidade de um corpo para outro. Mas há como uma pessoa criar uma personalidade a mais baseada no que ele via como a personalidade de outra pessoa. –

- oh! –

- Eu estudei TDI por anos. Metade da comunidade cientifica é dividia. Há os que não acreditam. E há os que sim. Os últimos argumentam que o cérebro ainda é muito misterioso para negarmos a existência verídica dessa condição. O ponto é: Stiles não roubou as duas personalidades ao matar eles três. Ele apenas tinha um vinculo tão forte com eles, seja de carinho ou até mesmo ódio, e eles eram peças importantes de sua vida ao ponto de que, ao matar eles, o seu mundo ruiu. E para manter o seu mundo de pé, a sua mente recriou as suas personalidades dentro dele mesmo, para substituir o pilar perdido em sua vida –

- Então... –

- Valete, Rei e Rainha que conhecemos não são Noshiko, Adrien ou Meredith. São a visão que o Stiles tinha deles três –

- Wow! – sussurrou tentando absorver toda a informação.

- eu descobri isso há anos. Mas, até hoje, um dos maiores mistérios para mim é: quem é Copas? - 

 


- é só isso? – o assassino perguntou erguendo o olhar, observando os olhos de Peter vacilarem ao encontrarem os seus.

- Sim. Eu... queria que tivéssemos mais -  o louro respondei se afastando um passo, se encolhendo.

- Qual é?! Ah, tenha santa paciência! Essa cara só olhou para as fotos. Ele se quer tentou analisar elas! – exclamou uma agente, indignada.

- na verdade, agente, o detento 44.626 tem uma habilidade cognitiva impressionante. Podendo ler e memorizar textos e imagens em uma velocidade que a maioria das pessoas consideraria sobre-humana, mas que na verdade só está fora dos padrões. Eu mesmo já fui um dos descrentes de suas capacidades cognitivas. Hoje, eu tiro o chapéu para esse homem – comentou Alan observando a agente suspirar enquanto lhe encarava.

- Deaton, você é o meu chefe e eu lhe respeito. Mas eu tenho um limite para seguir as pessoas. E isso está indo numa direção que... que não dá para mim - 

O mais velho suspirou, observando a agente cruzar os braços diante do peito.

- Eu disse para se livrar deles. Não preciso de ninguém. Gente da mente fechada só atrapalha. Eles impedem as mentes livres de voar alto – disse o castanho antes de se erguer da cadeira em que estava sentado e se dirigiu até o quadro.

- Uau! Militou. Agora, faz algo de útil e trabalha! – ralhou outro agente cruzando os braços.

- o que vai fazer? – inquiriu Erica ao observar o assassino colocar as mãos nos bolsos e respirar fundo.

- achar o que ele escondeu na casa – respondeu Stiles deixando 9s agentes curiosos.

- E como vai fazer isso? A casa foi destruída! – argumentou Christopher encarando o assassino sorrir de canto.

- Mas acabou de ser reconstruída – Alice rebateu vendo os agentes se entreolharem, confusos.

- Como assim? –

- é simples, seu idiota. Branco fez essa casa ser idêntica a casa da minha família. Com as fotos que vocês tiraram e com a minha memória da casa original, eu consigo dizer quais são as pistas que ele deixou –

- isso só pode ser brincadeira. NÓS. NÃO TEMOS. TEMPO. PARA ESSA. PALHAÇADA! – ralhou um dos agentes encarando o assassino com repulsa e repreensão.

- eu vou começar – o assassino suspirou e fechou os olhos.

Stiles ouviu os resmungos de alguns agentes, mas Alan e Peter os silenciaram rapidamente com repreensões e ameaças. O castanho sentiu uma mão em seu braço, próximo ao seu pulso. Era uma mão macia e pequena e de toque inconfundível para si.

- Eu posso ajudar com isso – a voz infantil de Miguel soou confiante e calma.

Uma mão também macia e suave tocou-lhe o ombro esquerdo, do lado contrário ao de Miguel. Stiles também não precisou abrir os olhos para reconhecer o toque dela.

- isso vai ser fácil pra mim. Mas a parte de identificar as diferenças vai ficar com você – ditou Copas ao passar pelos castanho.

- podemos manter a casa de pé por quanto tempo você quiser. Mas não vamos poder ajudar em mais do que isso – ditou Miguel largando o braço do assassino e seguindo na mesma direção que Copas.

- Tente não se perder nas memorias com o nosso irmão – ditaram os dois em uníssono.

Stiles bateu o pé direito duas vezes no chão. Copas e Miguel desapareceram e ele abriu os olhos, dando de cara com a porta da frente de sua antiga casa. O h9mem marchou até a porta, ignorando a grama que apenas surgia ao seus pés quando os mesmos tocavam o chão. Pelo que podia ver, existia apenas a fachada da casa. Como se fosse tudo apenas uma grande pintura feita em uma enorme parede. Tentou olhar pelas janelas, estando ainda de frente a casa, sem sair do caminha de grama baixa que levava para a varanda da casa, mas não conseguia enxergar o interior da residência. Era como se atrás daquela parede existisse apenas o vazio.

Se aproximou mais da entrada, ficando de fronte a porta, apenas encarando a maçaneta. Ele não tinha medo, nem receio, apenas saudades. Não da casa em si, mas do que ela representava, do que ela já havia sido, mesmo que por um curto espaço de tempo. O assassino suspirou e levou a mão a maçaneta da porta, pronto para abrir a mesma. Quando tocou o objeto, ele sentiu como se uma onda de choque suave lhe acertasse as costas, lhe envolvendo como uma bolha, e seguisse se expandindo e aumentando. A onda alcançou a maçaneta e a parede, mas, ao invés de parar ali, ela seguiu. A medida em que a onda ia progredindo, o resto da casa ia surgindo. Era como se Copas e Miguel fossem grandes artistas pintando uma imagem realista a sua frente do mais absoluto nada.

Ao abrir a porta, ele pode ver o interior da casa ainda surgindo. O castanho suspirou, sentindo uma nostalgia intensa lhe atingir. Marchou para o interior da casa olhando bem ao redor para identificar qualquer diferença existente entre aquele ambiente e as fotos que havia acabado de analisar e memorizar. No corredor inicial da casa ele não havia notado nada de diferente. Olhou a sala de estar que ficava logo a esquerda, mas também não viu nada que lhe chamasse a atenção. Na sala de jantar também não havia nada. Tudo estava idêntico ao que ele se lembrava. Até mesmo o caco de comida da cachorra de seu irmão mais velho estava ali no chão.

Ao colocar os pés na cozinha, o homem pode identificar algo. Abaixa da pia, bem escondido nas sombras, ele viu. Brilhava como um espelho refletindo a luz em seus olhos, mesmo que não houvesse iluminação alguma ali embaixo.

- Dinná – Stiles falou, chamando a atenção dos agentes.

- O quê? – inquiriu um dos agentes, surpreso.
 
- A primeira pista que ele deixou. Dinná. Era a gatinha de pelúcia do meu irmão gêmeo. Lay nunca era descuidado com Dinná. Então não faz sentido ela estar embaixo da pia, logo acima da tubulação de gás. Ele alertou a vocês sobre as bombas. – o castanho encarou a gatinha de pelúcia por alguns minutos, se recordando do irmão e sentindo o peito apertar em saudades.

“Não se perca nas memórias com o nosso irmão.”

O aviso ressoou baixinho em sua cabeça e o assassino suspirou, dando de costas. Os seus olhos se arregalaram de espanto ao ver uma criança de olhar serio atrás de si. Ela o encarava nos olhos com facilidade, uma vez que o mundo ao seu redor parecia ter crescido e ele encolhido. O garoto era idêntico a si, mas mais jovem. Stiles encarou a criança lhe estender a mão e lhe sorrir com carinho.

- eu estava te procurando. Acordei da soneca e você não estava na cama – o garoto proferiu com carinho encarando os olhos do assassino com ternura.

- Lay...? – Stiles inquiriu, quase sem voz, perplexo.

O garoto a sua frente sorriu alegre e tomou a liberdade de agarrar a mão do assassino na sua.

- É, bobo. Quem mais tem a sua cara e vive nessa casa? – o garoto soou divertido enquanto puxava o irmão pela mão.

Stiles queria chorar.

- vamos brincar do quê? Não quero ver TV –

- eu... eu tenho que correr – murmurou Stiles, pensativo, tentando ignorar a sensação de ter o irmão consigo.

- Você quer correr? Então vamos brincar de pique. ESTÁ COMIGO! – o garoto terminou com um grito, enquanto dava pulinhos para longe do irmão gêmeo e se virava para o mesmo – dessa vez eu vou ser bem mais rápido! –

Stiles riu divertido. A alegria que o seu irmão tinha na infância era contagiante. Lay sempre fora muito divertido com ele, sempre tentando lhe alegrar depois que saíra de seu cativeiro. Era uma alegria que lhe contagiava. Ele olhou ao redor, se perguntando para onde correria. Ele correu para a sala de TV enquanto o irmão virava de costas e começava a contar até dez. Quando a contagem chegou ao fim, Mieczyslay saiu em disparada na direção do irmão, que correu do outro como se a sua vida dependesse disso.

Eles brincaram por meia hora no andar de baixo da casa, com direito a subir no sofá, pular os moveis e saltos com pés nas paredes, tentando manter o impulso que tinham na velocidade, mas ainda assim fazer uma curva no percurso. Cenas que deixariam uma dona de casa de cabelo em pé com a possibilidade de seus moveis serem destruídos, de suas crias se machucarem ou a aparição de manchas de pés em suas paredes. Nesse meio tempo, os garotos viraram o jogo varias vezes. Ora o pique estava com Stiles, ora com Lay. 

Naquele momento, estava com Stiles. Mieczyslay correu com toda a velocidade que tinha, subindo as escadas da casa a passos pesados, enquanto ria de felicidade e desespero. Stiles subiu as escadas logo atrás, quase tropeçando nos primeiros degraus. Os dois correram pelo corredor, na direção do quarto de casal, onde Lay pretendia enganar o irmão e passar pelo mesmo, voltando para o andar de baixo. Mas, assim que passaram pelo quarto de Mieczyslay, Stiles sentiu um frio percorrer a sua espinha e o seu riso morreu, bem como a sua corrida. Ele ficou parado no corredor por um minuto inteiro, paralisado.

Havia visto. De soslaio, apenas instintivamente, mas havia visto. Quando passou pela porta do quarto de seu irmão gêmeo, em sua forma infantil, ele viu Branco, em pé, no quarto do seu irmão. Aquilo o aterrorizou. O Branco original havia matado o seu irmão gêmeo. Estar vivendo um sonho com seu irmão e ver Branco ali não era uma coincidência que ele queria viver. Dando passos para trás, ele voltou a porta do quarto de seu irmão. Ao alcançar a porta, não era mais uma criança. Tinha voltado a ser o prisioneiro 44.626 e Branco havia desaparecido. Havia, ali, apenas a máscara branca do mesmo, que caiu no cão assim que o homem surgiu na porta do quarto, sendo partindo ao meio.

Stiles franziu o cenho. Com calma e cautela, marchou para o interior do quarto. De cara, percebeu as diferenças mínimas que havia entre aquele ambiente e o quarto original de Lay. Os brinquedos, os pôsteres, cadernos, detalhes que apenas quem tivesse um olho critico bem treinado no quarto original teria. Ele desfilou pelo quarto, deslizando a mão suavemente pela escrivaninha. Um flash de memória do seu irmão sentado ali, estudando, surgiu em sua mente, mas logo fora ignorada.

Ele não estava ali para se lembrar de Lay.

Estava ali para descobrir a mensagem que sabia que Branco havia deixado para si. Ignorando a escrivaninha, seguiu até a cômoda, logo ao lado, analisando os carrinhos de brinquedo ali posicionados. Sua mente conseguia exibir, claramente, a diferença entre passado e presente, original e falso.

- como puderam ser tão burros? - murmurou para si mesmo, seguindo na direção da estante onde antes havia visto Branco.

Parou de andar assim que sentou algo sob os seus pés. Olhou para baixo e observou o próprio pé pressionar um pedaço da máscara de coelho branco. O castanho se sentou observado e ergueu o olhar atento para a porta, se surpreendendo ao encontrar o seu irmão gêmeo, ainda criança, lhe observando da mesma. O silêncio reinou entre eles. Stiles não sabia o que dizer. Ele tinha total conhecimento do que aconteceria assim que encontrasse o que precisava, mas ele também não queria sair dali. Queria ficar ali para sempre, apenas relembrando a sua infância com o irmão. Mesmo que soubesse que nada daquilo era real. Era tudo apenas uma representação das memórias que possuía.

- Maninho? O que está fazendo? – a voz de Lay alcançou os seus ouvidos e lhe atingiu como um tiro.

- Eu... estou... – Stiles estava surpreso. Havia mais de uma década que ele não ficava sem palavras diante de alguém.

Lay se apressou em correr até si. O Stilinski adulto congelou com a atitude da criança. O garoto o alcançou e ele se surpreendeu mais ainda. Lay enfiou a mão em seu abdômen e, para Stiles, aquilo fora como uma granada explodindo em seu peito. Logo, Lay puxou a mão de volta, trazendo com ela uma versão criança de Stiles. Aquilo destruiu Alice.

Os dois garotos correram na direção da porta.

- Vem. Eu preparei o lanche -argumentou Lay antes de os dois desaparecerem pelo corredor.

Stiles suspirou.

- é claro. É só mais uma lembrança – murmurou para si mesmo antes de pisar com força na mascara de coelho branco, terminando de a destruir.

- Agora, o que você mudou aqui que pode me dizer, exatamente onde você está? – murmurou o castanho passando a analisar a estante de livros.

Livros estes que nunca estiveram na estante original de seu irmão gêmeo. Stiles analisou cada capa com cuidado. Havia percebido um padrão ali. Todos aqueles livros eram antigos. Todos eles eram histórias que já existiam quando ele ainda era uma criança. Histórias que já foram adaptadas para o cinema e, devido a sua péssima bilheteria, a maioria das pessoas já se esqueceu de sua existência. O assassino franziu o cenho, pensativo, antes de finalmente entender o que havia ali.

- então esse é para lá que você quer que eu vá. Você me quer de volta na escola – ele sorriu de canto.

- tá. Tudo bem. Eu volto. Mas, desta vez, será como professor – o castanho fechou os olhos e deu as costas para a estante, perdendo o momento em que todo o ambiente ao seu redor derretia como queijo na chapa.

Ao abrir os olhos, Stiles estava encarando os agentes que permaneciam a lhe encarar com tédio e desdém. Peter adentrou o ambiente, com Derek em seu encalço.

- e aí? Tivemos algum avanço? – inquiriu, esperançoso.

- Shiu! Ele abriu os olhos! – ralhou Isaac apontando para Stiles.

- Abriu os olhos? – perguntou Derek, confuso.

- aposto que ele não tem nada – murmurou um agente, ouvindo o amigo concordar em voz baixa.

- E então, Stiles? – indagou Allison, esperançosa.

- eu sei a localização das bombas – ditou cruzando os braços, chamando a atenção de todos, que lhe encaravam em choque.

- tem certeza? Isso é bom. Podemos -

- eu ainda não acabei. Eu também sei onde Branco está – afirmou com convicção, surpreendendo a todos.

Chapter 65: Risk

Chapter Text

- Eu aposto que ele não tem nada – murmurou um agente. 

 

- E então, Stiles? – 

 

- eu sei a localização das bombas – ditou com convicção, o que surpreendeu aos agentes. 

 

- tem certeza? Isso é bom. Podemos –Peter se sentiu ser tomado pela esperança. 

 

- eu ainda não acabei. Eu também sei onde Branco está – afirmou com uma certeza admirável, pegando os agentes desprevenidos. 

 

- isso é impossível! – 

 

- com diabos você descobriu isso em menos de uma hora?! – inquiriu Scott, perplexo. 

 

- eu não vou me repetir, McCall Junior. Está claro que problemas está na linhagem – 

 

- e então? Onde estão? – inquiriu Christopher, exasperado, antes que pai e filho se pronunciassem em protesto. 

 

- Primeiro, uma palhinha com os lideres dessa porcaria aqui. E com os imbecis que se encontram na parte de baixo – ditou o castanho unindo as mãos atrás do corpo. 

 

- ALICE! – Rafael ralhou, furioso, socando uma mesa. 

 

- Calado! Ainda tem algumas horas antes de tudo acontecer. Com o contato certo, tudo será resolvido antes do esperado. Sem contar que o que vou dizer também é um alerta para aqueles que virão comigo atrás do Branco. – repreendeu o assassino se virando para o homem, o encarando com os olhos vazios e uma mão amostra, estalando os dedos apenas os movendo. 

 

- Um alerta? – inquiriu Alan, curioso. 

 

- Como puderam ser tão burros? Ele deixou tudo exposto para vocês – ralhou encarando Alan, Peter, Derek, Rafael e Chris. 

 

- deixou? Onde, exatamente? – inquiriu um agente, desconfiado. 

 

Alice foi até as fotos da casa e passou por algumas, até escolher uma e a virar para todos. 

 

- que tipo de criança tem apenas carros de ambulância, bombeiros e policia? É sério que ninguém desconfiou a ausência de um carro comum em meio aos brinquedos? – indagou jogando a foto para o agente desconfiado. 

 

Os agentes ao redor se aproximaram para analisar a foto. 

 

- Ele está certo. Não tem carros pessoais ou de corrida. Só do setor de emergência nos brinquedos. – 

 

- mas vai que ele queria trabalhar nisso quando crescesse? – argumentou uma agente dando de ombros. 

 

- e que tipo de pai não tenta influenciar o filho, minimamente, a ter um carro próprio? – 

 

Antes que qualquer agente se manifestasse com qualquer que fosse o argumento, todos tiveram a sua atenção atraída pelo grunhido seguido pelo gemido de desgosto que Scott McCall liberou. 

 

- Eu ODEIO quando ele está certo. Não adianta reclamar com ele. Nós vacilamos. Não nos apegamos direito aos detalhes e deixamos isso passar. Não temos tempo para bater boca. Apenas ande logo -  ralhou o homem de queixo torto cruzando o braços e crispando os lábios. 

 

- Scott está acerto. Vacilamos mais uma vez. A gata na tubulação de gás e os carros. Eram coisas que nós poderíamos ter percebido. – comentou Matt observando os agentes lhe fitarem com certa irritação. 

 

Mas ninguém ousou responder. Matt era um cientista forense que trabalhava nos bastidores das investigações, tal qual Lydia. Nunca era bom quando agentes e os forenses acabavam tendo desavenças durante os casos. Era sempre importante manter uma boa relação por ambas as partes. 

 

- Okay. Isso foi realmente um erro nosso. Mas e as bombas? Onde estão? Precisamos mandar equipes para elas, imediatamente – ditou  uma agente tentando soar compreensiva ao máximo que podia. 

 

- bem. Existe essa opção. E existe a opção pegar o detonador e cancelar a detonação delas, e aí, sim, ir até elas – o castanho argumentou com certo tédio na voz. 

 

- isso seria ótimo. Mas a pergunta é: existe essa possibilidade de pegarmos o detonador? – inquiriu Vernon observando o castanho sorrir e abanar com a mão para si. 

 

- é claro que tem! Esse cara é uma Alice também. Não tem graça competir em um jogo onde o seu inimigo não poderia ganhar mesmo que soubesse sobre os segredos do jogo – 

 

- É o quê? – um agente soou confuso – e como diabos tem certeza disso? – 

 

- Porque é assim que nós mostramos a nossa superioridade em relação a vocês. Nós te damos a chance de vencer e vocês falham – o castanho proferiu com orgulho, observando o ódio dominar os olhares alheios. 

 

- Stiles está certo. Branco nos deu a chance de evitar o primeiro atentado. E nós falhamos. Ele certamente tem algum meio de desativar as bombas remotamente. Ou então deve ter apenas um detonador e nós podemos pegá-lo. – ditou Peter com seriedade, encarando o chão, pensativo. 

 

- O ponto é: certamente há como parar essas bombas no local onde Branco se esconde – comentou Derek observando o tio permanecer focado em seus próprios pensamentos. 

 

- Nós só temos que pegar o detonador! E então estaremos mais aliviados para perseguir e prender o filho da puta – comentou um agente, animado, e as esperança começou a se espalhar por entre o grupo. 

 

- Que, com toda a certeza, é uma armadilha onde ele estará nos esperando – as palavras de Alan pareceram desanimar os agentes. 

 

- isso sem contar que o detonador não vai ser tão fácil assim de pegar – argumentou Alice – ele pode estar em qualquer lugar e disfarçado de qualquer coisa. Desde um simples c9mputador, até um mero brinquedo – 

 

O animo dos agentes se foi por completo. 

 

- mas isso não quer dizer que não possamos pegar ele – pontuou Derek, tentando manter as expectativas dos agentes, para que eles não desistissem. 

 

- Ele está certo. Branco pose até ser um maravilhano. Mas o melhor maravilhano está do nosso lado. – argumentou Allison, tentando ajudar Derek a manter os agentes esperançosos. 

 

Scott crispou os lábios. Ele não aprovava a atitude dos dois agentes. Ele preferia que os outros estivessem cientes de como a situação realmente estava complicada. Preferia agentes concentrados e alertas, do que esperançosos e animados. Mas ele não se manifestou sobre. Apenas respirou fundo e mudou de assunto. 

 

- tá. Tudo bem. Vacilamos. Os carros de brinquedo, a pelúcia na tubulação do gás. Mas e a localização das bombas? Você descobriu elas. E nós estudamos as fotos minuciosamente.  Como você descobriu a localização? – inquiriu genuinamente curioso sobre o assunto. 

 

- é. Pensamos que fossem anagramas com as letras de nossos nomes. Mas nada faz sentido ali. Só Maybelle, que é uma pista falsa – pontuou Vernon 9bservando o castanho  pegar um piloto e se aproximar do quadro.. 

 

- vocês estavam certos. É um anagrama com nossos nomes. Mas erraram em uma coisa simples – ditou  destampando o piloto. 

 

- e o que seria? Porque até usamos Alice para seu nome e não Stiles, e ainda assim não diz nada com nada – 

 

Alice escreveu a palavra Otário no quadro, deixando os agentes confusos. 

 

- isso aqui – respondeu grifando a palavra. 

 

- A outra pista falsa? A ofensa que ele deixou para nós? – inquiriu um agente, confuso. 

 

Stiles suspirou. 

 

- não é uma ofensa. Aquelas fotos são um anagrama duplo. Para que as letras de nossos nomes formem coisas com sentido, você tem que organizar as fotos de forma que o fundo forme a palavra Otário. Vocês não suspeitaram de nada quando viram que todas as fotos tem uma letra nos fundos? E ninguém percebeu que a palavra está embaralhada em linha continua e única? – 

 

- como assim? – 

 

- Nenhuma letra de Otário se repete até que todas já tenham aparecido em uma linha. Ou seja, organize as letras nos pequenos grupos em que estão juntas, e só então o enigma principal fará sentido - 

 

Chris estalou os dedos e apontou para alguns agentes. 

 

- vocês, vão agora desvendar o anagrama.  Temos que... – 

 

- poupe o esforço, Argent. Eu posso falar os nomes das cidades agora mesmo – as palavras do assassino paralisaram os agentes, que o encaravam com perplexidade. 

 

- Só pode estar brincando! – exclamou um dos homens. 

 

- Não é possível que você tenha desvendado o anagrama, já organizado as letras das palavras e decorado os nomes de todas as cidades! – exclamou outra agente, perplexa e indignada. 

 

- ah, não. Eu tenho os nomes das cidades decorados há muito mais tempo – respondeu Alice puxando uma cadeira para a frente do quadro e se sentando com o peito voltado para o encosto da cadeira. 

 

- Como assim? Desde quando sabe os nomes das cidades alvos? – inquiriu Allison, confusa. 

 

- Desde a minha infância – respondeu, deixando os agentes mais confusos ainda. 

 

Um estalo ocorreu nas mentes de Peter e Alan, que encararam o prisioneiro 44.626 com espanto. 

 

- Não me diga que... – 

 

- O plano de Branco, na verdade, era meu – as palavras do assassino geraram um silencio perturbador no ambiente. 

 

- er... pode repetir? Eu acho que não ouvi direito – disse um agente, descrente. 

 

- Nem fodendo – foi tudo o que escapou da boca de Isaac 

 

- você que fez tudo isso? Você que organizou isso?! – inquiriu Vernon, incrédulo. 

 

- tudo isso é culpa sua! – ralhou um dos agentes, furioso. 

 

- Calma. Calma. Vamos respirar fundo e tentar entender a situação. Stiles, por favor, explique-se - 

 

- em parte, sim. Eu não nego. Planejei esse atentado ainda quando criança. O meu plano era usar isso quando fugisse de Alcatraz no ano seguinte a minha prisão – 

 

- fugisse de Alcatraz? Achou mesmo que iria fugir da solitária da prisão de segurança máxima do país sendo só uma criança?! – questionou Christopher, incrédulo. 

 

- é idiota?! – inquiriu outra agente. 

 

Stiles apenas gargalhou baixo. 

 

- Por que acha que eu me entreguei quando era criança? – a pergunta pegou os agentes mais velhos de surpresa. Ninguém soube responder a pergunta. – achou mesmo que eu simplesmente iria estender os pulsos, deixarem me algemar, me jogarem na solitária e se gabarem da minha prisão sem pensar em como fugir? – questionou estendendo os pulsos unidos e dramatizando ao infantilizar a própria voz. 

 

Nem o Argent, nem o McCall, o Deaton, e muito menos o Tate ousaram responder aquela pergunta. 

 

- Eu sabia. Alexander nos alertou, mas eu não acreditei na época. Ninguém acreditou. Você realmente tinha um plano de fuga – o homem comentou, abismado, sentindo o terror que sentia no passado voltar a correr por seu corpo, tentando lhe dominar aos poucos. 

 

Stiles gargalhou mais alto. 

 

- sabe? Você e Alexander sempre foram os meus preferidos. Mas eu tenho que confessar. Alexander era o mais inteligente de vocês dois. É uma pena que o legado dele se resume a... ao Derek. Laura não tem coragem. Ela só é muito mais burra do que o irmão. Mas, sim. Eu sempre tive um plano. Mas abri mão da fuga quando... você e Alex me seduziram com aquele carinho fraternal. Se eu fugisse naquela época, jamais poderia ter vocês por perto de novo. – 

 

- Olha. Eu sei que estamos todos curiosos para saber sobre o seu passado e os seus planos. Mas, no momento, nós temos bombas para desarmar em algumas poucas horas! – exclamou Matt, irritado, apontando para o relógio. 

 

Alice suspirou. 

 

- Matt está certo. Não temos tempo para isso, agora. Alice, precisamos das localizações das bombas – ditou Alan observando o castanho se aproximar de um quadro, arrancando e apagando tudo o que havia nele. 

 

- o que está fazendo?! – exclamou uma agente, indignada ao ver horas de trabalho sendo jogadas fora. 

 

- tudo isso é lixo. Não serva para nada. Só está ocupando o quadro – argumentou o assassino antes de começar a escrever os nomes das cidades. 

 

Lydia passou a digitar cada nome em um programa em seu computador. Assim que Stiles se afastou do quadro, quase preenchendo o mesmo com tantos nomes, a ruiva apertou enter no seu teclado e deixou o queixo cair. 

 

- Ele está certo! – exclamou, espantada. 

 

- E quando eu não estou? – o Stilinski rebateu, mas fora ignorado. 

 

- O quê? – indagou Scott, se aproximando. 

 

- olhem para o telão. – ditou a ruiva, projetando a imagem de seu computador na grande tela sobre os quadros. A mesma tela que usava para explicar os casos que iriam investigar. 

 

O mapa dos Estados Unidos surgiu na tela. Linhas vermelhas marcavam os locais de explosão do primeiro ataque de Branco. Linhas azuis começaram a surgir no mapa, em cidades costeiras e próximas as divisas do país. As linhas azuis contornavam todo o país, desenhando um rosto de gato no mesmo. 

 

- As linhas azuis são os nomes das cidades que Alice nos deu – informou a ruiva observando Scott crispar os lábios. 

 

- Realmente formou um gato – comentou Derek, abismado. 

 

- Puta merda! – murmurou o Lahey, perplexo. 

 

- o cara é doente da cabeça. Mas ninguém pode negar que ele é um gênio – murmurou Vernon, encarando Stiles observar o telão com tédio. 

 

- Mas são muitas cidades e no país inteiro! Não temos como cobrir isso! – exclamou Chris, indignado. 

 

- E não vamos – ditou Peter chamando a atenção. 

 

- é o quê?! – exclamou Isaac, confuso. 

 

- Mas e as pessoas?! Vamos só deixar as bombas explodirem?! – exclamou uma agente, perplexa. 

 

- Peter está certo. – 

 

- calado, assassino! – ralhou um agente, furioso. 

 

- Hey! Esse assassino planejou esta merda toda. Se tem alguém que sabe como proceder é ele! – rebateu Derek, se aproximando do castanho. 

 

- O número de bombas e a sua localização não é atoa. Não precisa de tantas bombas para desenhar um gato em um mapa. Quando eu planejei esse atentado, eu tinha um intuito. Todas essas bombas seriam o sinalizador. Seriam a ratoeira em que eu prenderia o FBI e a SWAT. Enquanto eles investigavam e desativavam as bombas, os meus alvos estariam desprotegidos e eu os atacaria. – 

 

- Então elas são uma distração? – 

 

- sim e não. No meu plano original, sim. Mas nesse do Branco, não. O objetivo de Branco sou eu. Não tem como ele me atacar aqui, ou enquanto estamos em outra sede da segurança nacional. É por isso que ele manteve o número de bombas. Porque ele sabe que eu vou atrás do detonador junto de alguns de vocês. Então, o objetivo dele é nos impedir de pegar o detonador pois eu estarei lá – 

 

- E, afinal, onde porra está o detonador? – questionou Erica, impaciente. 

 

- Aqui – o castanho bateu com o dedo no mapa. 

 

- Wyoming?! – Vernon estava curioso – por que lá? – 

 

- porque Branco não quer começar um grande show apenas para apresentar o País das Maravilhas para as pessoas. Ele quer me fazer voltar a minha vida de crimes. Ele quer que eu volte a vestir o manto de Alice. Quer me ver finalizar o que eu comecei. E para isso, ele tem que voltar do começo. E foi no Wyoming que tudo começou – o assassino encarou o agente Tate nos olhos com uma seriedade perturbadora. 

 

 

 

 

 

- Acha que vai demorar muito? – inquiriu Rei jogando uma bolinha antiestresse na parede do quarto de Rainha. 

 

O loiro encarava o mascarado de vez em quando, de soslaio. Os dois ainda vestiam as suas máscaras de naipes de carta. Nenhum dos dois ousavam removê-las. Mas a calmaria de Rainha diante daquela situação era admirável. Jackson queria poder ao menos ver o rosto do seu companheiro de crime para saber como era e como estaria ali, naquela situação. Estaria a sua face transmitindo a mesma calmaria? Ou seu rosto entregaria todo o nervosismo que a sua voz escondia? 

 

- Pode ser a qualquer momento – respondeu a pessoa com máscara de Paus. 

 

Os dois mascarados estavam em Miami, como ordenado por Branco, apenas esperando que a operação do FBI se iniciasse todos eles caíssem na armadilha criada pelo coelho. Mas estava demorando, e aquilo estava enlouquecendo os dois. Jackson não era bom mascarar os seus sentimentos, por isso estava usando e abusando de sua bolinha antiestresse. Já Rainha parecia mais habituado com o desespero que o loiro sentia. 

 

- vocês dois ainda estão nesse computador? – inquiriu Valete ao surgir na porta do quarto. 

 

No mesmo instante, Rainha e Rei suspiraram pesadamente. Não suportavam aquele homem, mas tinham que o aturar devido as ordens de Branco. Os três estavam hospedados no mesmo hotel em Miami. Deveriam ficar lá durante toda a operação. Só estavam permitidos para sair quando tudo acabasse. Era um apartamento de três quartos, cada um com um computador onde podiam assistir, separadamente, o que estava acontecendo com Branco, Alice e o FBI. Mas, agora, todos estavam no mesmo quarto, o de Rainha. Valete, há pouco tempo, estava jogado no sofá da sala, com a máscara abandonada sobre a mesa de centro, enquanto assistia a um jogo de beisebol. 

 

- Sim. Um de nós tem que saber quando tudo começou para que todos não percam a hora – respondeu Rainha, indiferente. 

 

- por que não tiram as suas máscara? Só estamos nós três, aqui – argumentou Valete erguendo a cerveja para poder arrancar a tampinha com os dentes. 

 

- é regra do Branco. Nós sabemos a sua identidade, então está livre para ficar sem a sua dentro do hotel. Mas nós temos que esconder nossas identidades de você – respondeu Rei, voltando a jogar a bolinha na parede. 

 

- e vocês sabem as identidades um do outro? – inquiriu, incomodado. 

 

- Eu sei a dele – respondeu Rainha. 

 

- mas eu não sei a de Rainha – respondeu Jackson. 

 

- E por que não? – 

 

O loiro mascarado suspirou, agarrando a bolinha no ar. 

 

- Medida de segurança do Branco. Uma carta não deve saber a identidade da carta posterior a ela – 

 

- Como assim? – 

 

- meu Deus! É simples. Eu só posso fazer a minha parte do plano, depois que vocês dois fizerem as de vocês, então eu sou posterior a vocês. Logo, eu posso saber as suas identidades, mas vocês não podem saber a minha – 

 

- Mas, se eu não me engano, os gêmeos vem depois de você. Mas todos viram os rostos deles. E todos sabem os seus nomes – argumentou Valete, confuso. 

 

- Eles são diferentes. Eles são Alices de verdade – respondeu Rainha, com frieza na voz. 

 

- Tá. Mas, afinal, o que são essas Alices? – 

 

- não sabemos explicar. Tudo o que sabemos é que Alice é um titulo que um assassino recebe quando passa por treinamento especifico - 

 

- e vocês passaram por esse treinamento? – 

 

Rainha revirou os olhos. 

 

- não. Nós somos apenas cartas, assim como você – 

 

- e por que Branco não nos fez passar pelo treinamento. Eu iria me sair bem nessa porra – comentou Valete virando um bom gole de sua cerveja. 

 

Rainha e Rei se entreolharam, antes de os dois mascarados caírem na risada. Valete estranhou. O homem com máscara branco com o naipe de Ouros desenhado jogou a cabeça para trás e cambaleou para trás, gargalhando como se não houvesse amanhã. Já o misterioso de máscara branca com uma árvore desenhada balançava a cabeça de um lado para o outro, em negação, se recusando a acreditar que ouvira tamanha idiotice sair da boca de um homem adulto. 

 

- do que estão rindo? Acham que eu não iria me sair bem? Vocês reprovaram no treinamento, por acaso? - 

 

- estamos rindo porque você é patético, Valete. Você teria que renascer umas sete vezes para poder passar pelo treinamento da Coroa Vermelha – 

 

- treinamento da Coroa Vermelha? – 

 

- escuta aqui, cara – ditou Rei se aproximando e tocando o ombro de Valete com a mão. 

 

O mais velho olhou para a mão em seu ombro e se enfureceu. Estavam tirando sarro dele. Faziam pouco caso do homem que havia ido para uma prisão e sobrevivido lá por anos. 

 

Quem aqueles merdas pensavam que eram? 

 

Quando iria levar a sua mão para a de Rei e a torcer como uma laranja apodrecida, o homem fora  surpreendido quando o mais alto puxou um revolver calibre 38 e encostou a ponta do cabo em seu queixo. Aproximando o rosto mascarado do seu, Rei colocou as suas cabeças lado a lado. Valete pensou em avançar e arrancar a garganta do desgraçado na base da dentada, mas se controlou quando ouviu a arma ser destravada. Poderia ele, muito bem, tomar a arma da mão daquele moleque insolente . 

 

- Dá próxima vez que eu ouvir uma merda desse tamanho sair da sua boca, vai ter uma goteira sobre os seus pés sempre que você beber – 

 

Valete moveu a mão com velocidade para roubar a arma do mascarado. O pulso de Rei, e muito menos a arma, chegou  a ser tocado pelos dedos do mais velho. Quando a garrafa avançou para ser quebrada na cabeça do mascarado, o vidro escorregou de sua mão quando a dor em seu nariz explodiu e a tontura lhe dominou. Rei evitou o seu ataque apenas dando uma cabeçada em si. O seu nariz quase se quebrou com o impacto da máscara em seu rosto. Os seus lábios eram umidificados, agora, por seu sangue, enquanto era empurrado para trás pelo mais novo. 

 

- Filho da puta! – exclamou, dolorido. 

 

- Alices não são qualquer pessoa. E eu nem precisei de muito para perceber isso. Existem, atualmente quatro pessoas com esse título. O Ás de Copas, - ele desceu dois dos quatro dedos erguidos para Valete – Branco – o terceiro dedo – e o alvo de Branco. A vida desses quatros se resumiu a aprimorar as habilidades que eles tem hoje. Eles falam várias línguas com facilidade, dominam várias áreas de conhecimento, principalmente física, química e biologia. Assim, não importa onde o alvo deles esteja, eles são capazes de perseguir o cara até o inferno e matá-lo até mesmo com uma moeda - 

 

- Eu vou te dar um exemplo bem fácil. Se soltarmos um deles aqui, outro na Rússia, o terceiro na Coreia do Norte e o último na Coréia do Sul. Eles tem duas opções: ou causam a terceira Guerra Mundial... – Rainha se pronunciou, com a voz suave. 

 

- ou cada um acaba com cada país de dentro para fora – Rei e Rainha pronunciaram com frieza, surpreendendo o criminoso mais velho. 

 

- Perto deles, nós quatro somos apenas cartas de um baralho, prestes a serem usadas em seus jogos doentios -  Rei e Rainha pronunciaram com frieza na voz. 

 

- Se eles são tão bons, por que precisam da gente? Por que estamos com eles? – 

 

Rei guardou a sua arma na cintura e deu as costas para ele. 

 

- porque o mundo não tem super-heróis e super-vilões, Valete. Ninguém consegue fazer tudo sozinho. Limites existem. Até mesmo para alguém que treinou a vida inteira para ser um assassino de elite. Eles precisam de cartas e peões em seus jogos mortais. E nós somos parte disso – 

 

- Então ele só está usando a gente! – 

 

- só percebeu isso agora? – zombou Rei 

 

- E por que diabos continuam com ele? – 

 

- Tivemos a sorte de fazer uma parceria com Branco. Prefere ser inimigo dele? Porque eu dispenso. Prefiro o país inteiro atrás de mim do que um daqueles quatro – respondeu Rei, cruzando os braços. 

 

- Sem contar que não estamos apenas sendo usados. Estamos sendo recompensados por nosso papel. Branco dará a cada um de nós o que queremos. Você quer voltar a ser o número um, não é? Branco está lhe dando essa chance. Jogue com aquela mulher, Erica Reyes, e o título volta a ser seu – comentou Rainha voltando a sua atenção para o computador. 

 

- Mas e se não der certo. Vocês já pensaram nisso? – 

 

- É melhor não falhar, Valete. Deus é misericordioso, mas até mesmo ele tem um limite – 

 

-vai começar – ditou Rainha com seriedade e Rei se virou para sair do quarto. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

- É aqui? Tem certeza disso? – inquiriu Derek ao descer da viatura. 

 

Alice estava em pé, na frente de um dos carros, encarando a fachada do lugar. Estava algemado, mas não se importava. Estava ocupado demais admirando o ambiente com um olhar nostálgico. Algumas viaturas estavam estacionadas ao redor, juntamente com camburões de onde mais e mais agentes saíam devidamente armados e com coletes a prova de balas. 

 

- É. É aqui, sim – respondeu observando que não havia mudado quase nada.

 

Ele sentiu o Hale o libertar das algemas.

 

A única coisa que Stiles via de diferente no lugar era a pintura, que parecia um pouco mais nova, pois com certeza havia recebido uma camada a mais de tinta enquanto ele estava na cadeia. 

 

- por que porra estamos em um estúdio de cinema? – questionou Scott, intrigado. 

 

- Porque não é um estúdio de cinema. É uma fachada. – respondeu Stiles, se aproximando da entrada e tocando os portões com suavidade. 

 

- uma fachada? Mas parece tão... verdadeiro – comentou Allison, abismada. 

 

- É porque um dia isso já foi um estúdio de verdade. Se vocês forem pesquisar, todos os livros que não eram acadêmicos que estavam na estante de livros da casa que Branco incendiou, vão perceber que todos receberam uma adaptação para o cinema. E todos foram feitos por essa antiga empresa. E todos os filmes foram uma porcaria. Quando a empresa faliu, foi vendida. Mas o estúdio, apesar de não gravar mais, nunca foi destruído – respondeu o castanho se afastando alguns passos do portão. 

 

Em um lugar muito distante dali, um botão fora pressionado, e então os portões começaram a se abrir, assustando a todos, que puxaram as suas armas. Stiles apenas analisou o movimento dos portões com tristeza. Um flash de memória lhe veio a mente. Era ele, criança, diante daqueles portões, com o irmão gêmeo, ambos de mãos dadas com o Branco original. 

 

- ele sabe que estamos aqui – 

 

- Sejam Bem-Vindos ao Playground número 10 – ditou o castanho marchando para o interior do lugar. 

 

Era um Estúdio de Gravação para cinema dos anos 90. Se encontrava um tanto afastado da cidade por motivos desconhecidos desde a época. Era uma grande área cercada por um muro alto e bem desenvolvido, protegendo as seis instalações do estúdio. Seis enormes prédios, grandes o suficiente para caber vários sets de filmagem em cada um deles. Todos os prédios eram ligados por túneis grandes conectados a um sétimo prédio menor, túneis grandes e largos o suficiente para um caminhão passar por eles. Obviamente, a falência da empresa original não se deu por falta de instalações. Por se manter um tanto afastado da cidade, as viaturas e camburões ali estacionados e os vários agentes armados não chamavam tanta atenção como ocorreria, normalmente. 

 

- Playground? – questionou Rafael, confuso. 

 

- Número dez? Então tem mais?! – inquiriu Isaac, perplexo. 

 

- é. Playground é o nome dado uma instalação de treinamento de uma Alice. – 

 

- Foi aqui que você foi treinado? – indagou Allison, surpresa. 

 

- Sim. Um dos lugares foi esse. Mas Branco não nos mantinha sempre no mesmo lugar. Afinal de contas, uma instalação dessas só não seria o suficiente para o treinamento – 

 

- Quantos Playgrounds existem no total? – 

 

- treze – 

 

- treze... o número de cartas em cada naipe – murmurou Peter, analista – não são locais aleatórios. São níveis de treinamento – 

 

- Como é? – 

 

- Peter tem razão. Cada naipe de cartas tem treze cartas. – comentou Alan, se aproximando – mas não é hora para analisarmos isso. Nós temos uma missão e temos que nos focar nela. – 

 

- certo. Temos menos de duas horas para pegar o detonador e desativar as bombas – ditou Chris analisando o cronômetro em seu pulso. 

 

Todos os agentes estavam com um. O tempo era crucial ali, e eles sempre tinham que ter conhecimento de quanto tempo eles ainda tinham. Havia, no total, sessenta e seis agentes ali. Todos devidamente armados e preparados. Isaac, Erica e Vernon haviam recebido armamento, com ordenado por Alan. Isaac tentou resistir, alegando que não gostava de armas, mas o Deaton fora irredutível. 

 

“Se vai participar da operação, então vai ter que andar com uma arma, mesmo que a use apenas em ultimo caso”. 

 

O grupo se aproximou de um sétimo prédio que havia ali dentro. Um tão comum que se tornava quase invisível ao lado dos outros seis. Todos os agentes, e até mesmo os detentos, já sabiam como proceder. Alan e um grupo de vinte e quatro agentes ficaria do lado de fora e cercariam o local. Enquanto isso, o resto dos envolvidos na operação iria se dividir em seis grupos e explorar o local a procura do detonador. 

 

Todos seguiram para o pequeno prédio que servia de ligação entre os seis outros prédios, uma vez que os tuneis surgiam dele. O ambiente parecia deserto aquela hora da madrugada. Mas eles sabiam que não estavam sozinhos. Os portões se abriram para eles. Branco estava lá dentro, e eles não sabiam se ele estava sozinho. Então todo cuidado era pouco. E mesmo que estivesse sozinho, eles se lembravam de como havia sido a casa incendiada. Eles não poderiam arriscar cair em armadilhas. 

 

Enquanto todos, agentes e detentos, se aproximaram de forma tática do prédio menor, Alice apenas se aproximou normalmente do mesmo e abriu a porta sem mais, nem menos, para o completo delírio dos agentes. 

 

- você está maluco?! E se houvesse uma armadilha na porta?! – ralhou uma agente, furiosa. 

 

- Não seja idiota. Ele não faria algo tão estúpido. Iria acabar com a diversão que deixou para depois – rebateu o assassino adentrando o lugar com calma e naturalidade. 

 

- Eu vou matar esse cara – ralhou, irritada. 

 

- Entra para a fila, mulher. Entra para a fila – disse Scott, seguindo o grupo de agentes, que adentrava o prédio, ainda com cautela. 

 

Eles deram de cara com uma recepção comum. Daquelas que se tem em todo tipo de empresa. Vários balcões espalhados em uma fileira organizada diante deles. Havia bebedouros nas laterais e vários assentos de esperada também nas laterais. No meio de tudo, havia um corredor, onde era possível ver algumas portas com placas de com nomes e cargos administrativos. O que mais intrigou aos agentes não foi a organização e muito menos a aparência do local. O que os perturbou fora os donos dos cargos ali presentes. 

 

Manequins. 

 

Manequins espalhados pelo ambiente e posicionados como pessoas que trabalhavam ali no dia a dia. Havia até mesmo manequins sentados nos assentos de espera. Todos devidamente vestidos com roupas sociais. Um manequim que se encontrava de pé, ao lado da entrada do corredor que se estendia a frente deles, ergueu o braço, assustando a todos e intrigando ao assassino. 

 

- agentes. Eu estava a sua espera – uma voz eletrônica fora viera do manequim, os deixando ainda mais intrigados. Ele abaixou a mão 

 

- Por favor, me sigam – o manequim girou sem se mover, e todos notaram a plataforma abaixo do mesmo produzir o movimento, antes de começar a se mover sobre um trilho embutido no solo que deixava evidente o caminho que seguiria. 

 

- Hm... achei criativo. Eu colocaria uma armadilha em um desses, sabe? Um 38 escondido, lâminas ou até uma granada – comentou o castanho, começando a seguir o manequim. 

 

- esse cara é doente! – exclamou o agente ao lado de Peter. 

 

- cuidado com as palavras, agente. Estamos em território inimigo. Um inimigo que até agora se mostrou muito traiçoeiro. Eu não insultaria o gênio cruel que pode ser o único a perceber uma armadilha mortal que você ativaria – repreendeu o loiro seguindo a passos cuidadosos atrás de Stiles. 

 

O castanho riu. 

 

- Eu não iria mover um dedo se quer por esse daí – rebateu colocando as mãos nos bolsos do casaco. 

 

O loiro não ousou repreender o assassino. Sabia que estava em uma situação delicada em seu relacionamento com o homem que via como um filho. Tentar o repreender agora poderia apenas complicar a sua situação, que já estava complicada o suficiente em sua opinião. 

 

Assim que o manequim chegou ao fim do corredor, parando diante de uma porta dupla. Ele se virou bruscamente para os agentes, que se encolheram brevemente e firmaram as mãos em suas armas, esperando um ataque surpresa. 

 

- Sejam Bem-Vindos ao Playground Número 10. 2.0– a voz eletrônica soou animada e carismática. 

 

- atrás das portas a sua frente estará o primeiro desafio pelo qual terão que passar para evitar que Cheshire desapareça – anunciou o manequim se virando e se afastando um pouco, dando passagem ao grupo. 

 

- Desafios? Que porra é isso?! Uma gincana?! – inquiriu Scott, indignado. 

 

- é assim que as coisas funcionam por aqui. Do contrário, como a sua visita poderia ser divertida? – respondeu o manequim, surpreendendo a todos. 

 

- Branco! – acusou Rafael e um agente se aproximou do manequim, furioso. 

 

- Escute aqui, seu doente de merda! Nós vamos te pegar. Me ouviu? Vamos parar essa bomba e te pegar, seu doente! – ralhou golpeando o manequim com a coronha do seu rifle. 

 

Os olhos do manequim brilharam em vermelho e um grupo de facas M7 atravessaram o vestido do manequim, do interior do seu peito, e uma faca em cada perna, perfurando o agente em pontos diferentes, surpreendendo a todos, menos a Stiles. 

 

- MAS QUE PORRA! - exclamou o agente, doloroso, abaixando a sua arma e levando uma das mãos a um dos poucos ferimentos. 

 

Apenas as facas externas do grupo lhe atingiram verdadeiramente, lhe gerando apenas quatro perfurações verdadeiramente preocupantes. Uma próximo a cada axila, e uma em cada coxa do agente, mas estas duas foram laterais demais para conseguirem atingir qualquer artéria. No entanto, o homem estava impossibilitado de seguir na operação. Sendo necessário que dois agentes se aproximassem e o ajudassem a andar. 

 

- removam esse cara daqui! Levem-no ao Deaton. Ele vai saber o que fazer para ajudar. Em seguida, voltem imediatamente – ralhou Peter observando os agentes menearem em concordância. 

 

- Patético – provocou Stiles encarando o homem ferido fixamente, enquanto o mesmo era carregado pelos companheiros paea o lado de fora. 

 

- devo alertar que um Playground não é um ambiente seguro para pessoas despreparadas. Por favor, não batam no manequim. Sou apenas um informante. E um último aviso: há quatro detonadores nas instalações. Os quatro desativam as bombas. O problema é: Vocês vão chegar nele em tempo? – o manequim encarava os agentes com seus olhos vazios e inexpressivos, deixando alguns deles receosos com as duas palavras. 

 

- Vocês ouviram – ditou o assassino de cabelos castanhos, dando de ombros e marchando na direção da porta atrás do manequim, abrindo a mesma sem cerimônia. 

 

- STILES! – berrou Scott tentando repreender o assassino. 

 

- Vocês são tão molengas – resmungou o Stilinski revirando os olhos. 

 

- E é exatamente por isso que eles não te merecem – uma voz eletrônica ecoou por todo o ambiente em que o castanho se encontrava, surpreendendo aos agentes e aos membros da divisão. 

 

- Branco – resmungou Peter, apertando bem os dedos ao redor da empunhadura do fuzil que segurava 

 

O loiro maia velho seguiu o assassino a passos rápidos, adentrando a próxima sala, e erguendo o fuzil taticamente. Os agentes começaram a seguir os dois. 

 

- Esse que é o Branco? – inquiriu Isaac, curioso – parece menos assustador do que eu pensava – 

 

- Assustador?! Eu?! Senhor Lahey, por favor, eu sou dono de um carisma surreal. Apenas se deixe experimentar e eu vou te viciar – a voz eletrônica voltou a ecoar pela sala, fazendo o loiro de cachos franzir o cenho. 

 

- ele nos ouve. Mas, como? Não vejo câmeras ou outros equipamentos – comentou um agente, vasculhando o ambiente com os olhos. 

 

Era uma sala enorme, com teto de vigas metálicas, que passava, realmente, a impressão de estarem em um estúdio de gravação. Havia uma pequena ponta entre os dois lados da sala. Apesar do teto de viga metálica exposto lá no alto, o ambiente mais abaixo era completamente diferente do esperado. Árvores artificiais decoravam o ambiente do outro lado da sala, e o chão estava repleto de pétalas rosas. A ponte possuía uma temática oriental e, do outro lado da mesma, apoiada a ela, estava o que parecia ser uma espada katana. Do outro lado da sala, no final da mesma, haviam quatro portas com um enorme desenho em casa, desenhos variados e, aparentemente, sem sentido. 

 

- eu já contei oito – o assassino rebateu o comentário do agente, o surpreendendo. 

 

- oito?! – 

 

- uma embaixo do corrimão esquerdo da ponte. Duas no teto. Duas nos cantos das paredes atrás de nós. Duas nas árvores, ali e ali, e a última está no pé de uma das árvores – respondeu enquanto marchava na direção da pequena ponte. 

 

- caralho! – exclamou Isaac, surpreso. 

 

- ah! Incrível como o doce som da sua voz é como música aos meus ouvidos. É por isso que você tem o meu coração, meu irmão. Se dependesse de mim, você se quer tocaria o chão! – exclamou Branco, admirado. 

 

Alice olhou fixamente para uma das câmeras, enquanto marchava pelo ambiente. 

 

- Bem-vindos ao primeiro desafio de vocês. Como primeiro desafio, irei pegar leve com vocês. Apenas a senha correta pode fornecer a passagem para que vocês trilhem o caminho que querem, uma vez que apenas uma porta é verdadeira – Branco pronunciou com certo entusiasmo – as portas erradas.... vocês já devem imaginar. Boa sorte! Vão precisar - 

 

O grupo olhou bem ao redor, tentando identificar qualquer pista que o ambiente pudesse conter. Enquanto isso, Alice olhava as portas com um ar curioso. Cada uma delas possuía uma plataforma quadrada no chão, bem a sua frente, onde, obviamente, as armadilhas estavam. E essas plataformas eram grandes o suficiente para que ninguém conseguisse abrir qualquer uma das portas sem arriscar a sua vida em uma das plataformas. Então, se decidissem abrir todas as portas para descobrir qual era a certa, a maior possibilidade seria a de que três pessoas tivessem que morrer para isso. 

 

- Ele pode querer isso. Usar os desafios como um filtro ou funil, reduzindo o número de pessoas que alcançarão o detonador – disse Allison chamando a atenção de Peter e Stiles. 

 

- os símbolos nas portas dizem a saída. Mas qual deles? – inquiriu uma agente e o castanho voltou o seu olhar para as portas. 

 

A primeira possuía uma rua desenhada nela, com traços característicos de um livro infantil. A segunda porta tinha um carro desenhado com traços que pareciam terem sido feitos por uma criança. A terceira porta possuía o naipe de espadas como desenho. A quarta e última porta tinha uma flor rosa desenhada nela. 

 

-  são quatro portas, ao total – Alice pronunciou forçando os agentes a se virarem em sua direção. 

 

- Nós sabemos contar – rebateu um deles, irritado. 

 

- Vamos ter que passar por esses mesmo teste quatro vezes. Essa porta é só a primeira fase – o assassino continuou sem se importar com a provocação. 

 

- E como sabe disso? – perguntou Vernon, se aproximando, ainda com o fuzil em sua mão. 

 

- Por que todo Playground tem isso. É uma senha que apenas as Alices que treinaram nele sabem – respondeu o castanho se aproximando das portas e passando a desfilar diante delas. 

 

- Então você sabe a senha – concluiu Rafael, aliviado. 

 

- eu sabia a senha – corrigiu Stiles. 

 

- não me diga que a sua memória genial de merda decidiu falhar logo agora – o McCall mais velho rosnou as palavras. 

 

- Não. Eu ainda lembro a senha – 

 

- Então porque disse que “sabia”? – 

 

- por que Branco mudou a senha – concluiu Peter encarando as portas com curiosidade. 

 

- exatamente – 

 

- e como sabe que ele mudou? – 

 

- é simples. Temos uma Alice conosco. Aquele desgraçado não iria facilitar para nós – 

 

- Para mim, a resposta já está na lata – ditou uma das agentes marchando na direção de uma das portas. 

 

- Agente – repreendeu Chris observando a mulher parar diante da porta com o naipe de espadas. 

 

- olhe bem ao redor. As pistas dizem tudo. É claramente um ambiente oriental. Tem até uma katana. E Noshiko Yukimura, a vítima do naipe de espadas era esposa de um chefe da máfia japonesa. E Branco gosta de fazer o óbvio que ninguém suspeita, não é mesmo? – 

 

- É, mas... – responderam Derek e Peter observando a mulher agarrar a maçaneta da porta com um sorriso vitorioso. 

 

Assim que a mulher girou a maçaneta, o seu corpo caiu instantaneamente. Não dando tempo para que ela pudesse reagir. Assim que alguns agentes flexionaram os joelhos para poderem correr ao seu socorro, os seus gritos de dor começaram a ecoar pelo ambiente. Assim que eles chegaram diante do buraco abaixo da plataforma, puderam ver a mulher deitada no chão, rolando pelo mesmo, enquanto tentava se proteger do ataque de várias cobras peçonhentas. 

 

- rápido. Vamos formar uma corda humana – ditou um agente, já se desfazendo dos seus acessórios que pesavam o seu corpo. 

 

Erica, que havia se aproximado para observar a cena, ao lado de Derek e Stiles, negou com a cabeça alegando ser perda de tempo. 

 

- Essas cobras não são brincadeira. Pelo número de mordidas que ela está recebendo, ela já está morta – ela pronunciou com dor na voz, enquanto desviava o olhar e se afastava, tentando ignorar os pedidos de socorro da agente. 

 

- você está maluca?! Não podemos deixar ela aí! Ela está viva! Podemos salvar ela! – exclamou um agente se aproximando de outro que também já havia se livrado de tudo o que lhe fazia peso. 

 

- ela está certa. Essa daí já está morta – disse Stiles com indiferença. 

 

- merda! – murmurou Derek observando a mulher se debater para se livrar de mordidas, o que apenas atiçava as outras cobras a lhe atacarem. 

 

- VOCÊS ENLOUQUECERAM?! ELA ESTÁ GRIRANDO! ELA ESTÁ VIVA! – 

 

- É assim que o veneno funciona em assassinatos, agente. Ele garante a morte da vítima antes que ela dê o seu ultimo suspiro. Se não quer ouvir os seus gritos de agonia, apenas a mate antes com uma bala. Isso não vai fazer de você um assassino. O assassino dela foi ela mesma – falou o assassino da divisão dando as costas e se afastando a passos calmos. 

 

Isaac tentou se aproximar para ter uma visão do que havia, realmente acontecido com a agente, que agora já havia parado de gritar, surpreendendo aos agentes que ainda acreditavam em sua salvação. Erica parou o Lahey com o braço, o encarando com um olhar perturbado e negando com a cabeça. 

 

- não é bom de ver – 

 

- ela errou. Noshiko Yukimura não é a chave – 

 

- isso está obvio. Mas, qual é a chave então? A única coisa que vejo nessas portas é que o carro não está no ambiente. Nós temos a rua, representada pelo ponte. As flores por pétalas no chão. E o naipe de espadas pela katana ali no canto. – comentou Allison, confusa. 

 

- Então vai ser o carro – ditou Scott já avançando contra a porta, furioso. 

 

- não – a voz de Alice parou o homem no momento exato em que ele iria girar a maçaneta. 

 

- Não? – inquiriu, nervoso. 

 

- a idiota que morreu estava certa – 

 

- HEY! – um agente o repreendeu, avançando contra o assassino, mas sendo parado por Derek, que pediu por calma. 

 

- Ela está morta. Como ela acertou? – 

 

- eu disse que ela estava certa. Não que ela acertou a porta. Uma peça para a chave, realmente, é Noshiko Yukimura. Mas vocês estão considerando ela como vítima. Branco a considerou como assassina – 

 

Peter, Derek e Allison engoliram em seco. 

 

- assassina? – inquiriu Isaac, confuso. 

 

Stiles o ignorou, estava focado demais em juntar as peças que tinha em sua mente. 

 

- porra! Não podemos perder muito tempo em cada porta dessas! – exclamou uma agente parando para observar o relógio em seu pulso. 

 

- as vozes de vocês me irritam. Se eu pudesse, os matava – resmungou o assassino, irritado. 

 

Um estalo ocorreu em sua mente, como uma engrenagem se encaixando no único lugar que faltava para que todas funcionassem, reproduzindo as palavras de Branco em sua cabeça. 

 

“O doce som da sua voz é como música”. 

 

“Noshiko Yukimura”. 

 

“Trilhar o caminho”. 

 

O assassino sorriu de canto e estalou os dedos, chamando a atenção de todos. Ele começou a cantarolar, com os lábios unidos em um sorriso fino, enquanto caminhava na direção da porta que sabia ser a correta. Os agentes o encaravam, confusos, o homem marchar a passos calmos na direção da primeira porta. Allison franziu o cenho, desviando o olhar brevemente para Vernon ao seu lado. 

 

- ele.... está cantando uma música de ninar? – inquiriu, confusa. 

 

Stiles levou a mão direita até a maçaneta da porta com uma rua desenhada nela. Os agentes gelaram com a possibilidade do homem que mais conhecia o criminoso que investigavam morrer logo na entrada do prédio. Quando o castanho girou a maçaneta sem preocupação alguma, todos prenderam a respiração, mas logo soltaram quando viram o castanho atravessar a porta com naturalidade e tranquilidade. Eles o seguiram, após respirarem aliviados, sempre de maneira tática, olhando bem ao redor, tentando identificar qualquer armadilha que fosse. 

 

Eles se depararam com um novo cenário, com o mesmo tamanho do anterior. No entanto, a decoração e ambientação eram completamente diferentes. Estavam em uma sala de aula, com várias carteiras enfileiradas, mochilas penduradas nas mesas, um quadro negro com o conteúdo da matéria escrito com giz vermelho. Ao lado do quadro, um manequim do corpo humano para aulas de anatomia Os agentes varreram o ambiente em busca de pistas. 

 

- Adrian Harris – acusou Allison assim que julgou ter recolhido pistas o suficiente. 

 

O manequim não tinha um dos olhos, a matéria escrita no quadro era química, e em uma das quatro portas na lateral da sala de aula, onde deveriam ficar as janelas, havia o símbolo do naipe de ouros. 

 

Stiles não pareceu dar ouvidos a ela, pois seguiu cantarolando pela sala, ignorando tudo. 

 

- já sabemos que não é a porta com o naipe de carta – ditou Derek analisando os outros três desenhos. 

 

Uma asa branca desenhada. Uma seringa. Uma bola de tênis. 

 

- se é para considerarmos Adrian como um assassino também. Eu diria que devemos escolher a seringa. É a única que combina com a sala – comentou Peter, analista. 

 

- HEY! – gritou um dos agentes para Stiles, e só então os agentes perceberam o castanho com a mão na maçaneta da porta que continha o naipe de ouros. 

 

- STILES! – berrou Derek, desesperado, mas se surpreendeu quando o homem abriu a porta sem problema algum, ainda cantarolando a música de ninar bem baixinho. 

 

Eles não perderam tempo em seguir o assassino. 

 

- como sabia que era a porta certa em tão pouco tempo? – inquiriu Vernon, surpreso, observando o castanho voltar a ignorar o novo cenário.: o rol de entrada de uma mansão. 

 

- Eu já sei quais são todas as portas corretas – ditou o castanho ignorando o cenário a sua volta e desfilando com sutileza até uma porta com um anjo desenhado nela. 

 

- sabe?! Mas como?! – questionou uma agente, perplexa. 

 

- a chave para o enigma é uma canção de ninar -  respondeu o assassino, parando diante da porta. 

 

- de onde tirou isso?! – perguntou Isaac, curioso. 

 

- Branco – respondeu olhando para os agentes por sobre o ombro esquerdo. 

 

- Como? Onde? Eu não ouvi nada! – exclamou Chris, indignado. 

 

- quando ele falou comigo. Disse as seguintes palavras em ordem: é como música, o meu coração, se dependesse de mim, se quer tocaria o chão. – o castanho voltou a olhar para a porta e alguns agentes se lembraram do momento em que ouviram o criminoso falar pelos alto-falantes do lugar. 

 

“Incrível como o doce som da sua voz é como música aos meus ouvidos. É por isso que você tem o meu coração, meu irmão. Se dependesse de mim, você se quer tocaria o chão!” 

 

- tá. Mas e qual é a música? – 

 

- Ainda não percebeu? Lembre do que Branco disse. Lembre das portas que abriram. Se tiver o mínimo de cérebro vai entender – o assassino cuspiu as palavras com desprezo. 

 

Allison pensou nas palavras, nas imagens. Mas não conseguia entender o que diabos uma rua tinha com o naipe de ouros e com as palavras do terrorista. Quando ela se lembrou de Stiles cantarolando a música enquanto abria as portas, ela compreendeu tudo. 

 

- Se Essa Rua Fosse Minha – pronunciou, perplexa. 

 

- Como é?! – 

 

- É a música senha – respondeu antes de começar a cantar a música, dando ênfase nas partes da música que se encaixavam nas pistas dadas por Stiles. 

 

- Tá. Mas o que rua e brilhantes tem a ver com a Yukimura e com o Harris? – 

 

- Noshiko Yukimura, membro importante da máfia japonesa. A sua ambição era dominar o maior número de territórios possíveis com a sua máfia. Adrian Harris, uma arma importante do governo americano, apesar de ser um agente duplo, a sua ambição era dinheiro. Bem patético na minha opinião. – respondeu Stiles abrindo a porta a sua frente. 

 

- Meredith Walker, um anjo de garota, se não fosse pelo seu lado sociopata, sempre querendo ser o centro das atenções e ter tudo e todos aos seus pés. Usava do seu lado angelical para manipular as pessoas – comentou antes de atravessar a porta. 

 

Stiles engoliu em seco com o novo ambiente. Peter, Chris e Rafael suspiraram, nervosos, enquanto um frio subia por sua espinha. Era a sala da casa dos Stilinski. Idêntica a como todos se lembravam. Para Stiles, era a mesma casa em que havia vivido com o irmão gêmeo, sozinhos, por meses. Para os três agentes, era a mesma casa em que o mascarado havia tentado os assassinar em um atentado terrorista controlado. Do outro lado do ambiente, onde ficava a porta da frente da casa, havia apenas uma porta. Mas, diferente das outras, ela era dividida em quatro partes, cada uma com um desenho, e cada uma contendo uma maçaneta. O primeiro era o desenho perfeito do naipe de copas. O segundo era um noivo e uma noiva no altar. O terceiro era um par de mãos entrelaçadas. E o último desenho era uma máscara de ladrão com corações desenhados nela. 

 

- Apenas a maçaneta certa vai abrir a porta – ditou Derek, nervoso, observando o quão afetado o assassino parecia estar, olhando ao redor com um brilho nostálgico nos olhos. 

 

- está se lembrando do seu irmão? – indagou em um tom de voz suave, observando o assassino suspirar, e menear a cabeça. 

 

- Se eu parar para pensar, as vezes, consigo até ouvir a voz dele – murmurou, tristonho. 

 

- É. O luto faz isso com a gente. Deixa a saudade mais forte – murmurou em resposta, observando o castanho deslizar as pontas dos dedos pelo sofá de couro. 

 

- Se essa rua, se essa rua fosse minha. Eu mandava, eu mandava ladrilhar – o assassino passou a cantar, baixinho, com a voz doce, chamando a atenção dos agentes, que o encararam com confusão. 

 

- Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes. Para o meu, para o meu amor passar. – ele deslizou a mão pelas paredes, derrubando os quadros que tinham a sua família no chão, deixando apenas os quadros em que o irmão gêmeo estava só. 

 

- Nessa rua, nessa rua tem um bosque. Que se chama, que se chama solidão. Dentro dele, dentro dele mora um anjo. Que roubou, que roubou o meu coração. – ele deslizou a mão com carinho na foto do irmão, antes de se dirigir para a porta. 

 

- Se eu roubei, se eu roubei o seu coração. É porque, é porque te quero bem. Se eu roubei, se eu roubei teu coração. É porque tu roubastes o meu também – 

 

Stiles levou a mão para a terceira maçaneta, onde havia o desenho de um par de mãos dadas e girou, abrindo a porta. O assassino suspirou, encarando a porta com seriedade. 

 

- e por último: gêmeos Stilinski. Não almejavam nada, senão ficarem juntos. Tentaram os separar uma vez. Mas não funcionou. Mas na segunda... eles conseguiram. Mandaram o gêmeo mais velho para a morte, e deixaram o segundo sofrendo pelo resto da vida – o assassino explicou o significado do símbolo que abria a porta, antes de sair do ambiente, deixando os agentes para trás. 

 

- É irônico, não acha? – perguntou Erica, chamando a atenção de Derek. 

 

- O quê? – 

 

- ele só queria ter paz e viver com o irmão. Mas aí veio alguém e tirou isso dele, achando que tudo iria ficar bem. Mas, na verdade, ele criou um monstro dentro de uma pessoa que não almejava nada – 

 

- Stiles não é um monstro. Ele só... teve o azar de só conhecer gente ruim enquanto crescia – argumentou Derek, antes de suspirar – assim como você e os outros – 

 

Erica revirou os olhos. 

 

- eu não disse que ele era um monstro. Eu disse que tem um monstro dentro dele. E quando ele solta o monstro, ninguém segura – 

 

- o meu pai dizia que todos nós temos nossos próprios monstros. Mas que alguns tem um monstro grande demais para conter – 

 

- é. Eu acho que o seu pai tinha toda razão – murmurou a loira apertando o passo e sendo a próxima a passar pela porta. 

 

- é... ele tinha, sim. – o moreno de olhos verdes sussurrou para si mesmo antes de passar pela porta. 

 

Derek já esperava um novo cenário com o qual eles teriam de lidar, mas o que encontrou fora a simplicidade de um set de gravação comum, com câmeras voltadas para eles. Ele estranhou, mas não se demorou focado nas câmeras, mas sim na estranha cachoeira falsa a sua frente, por onde uma queda d’água intensa ocorria, criando um som natural relaxante. Dos dois lados da cachoeira falsa, era possível ver quatro portões com os naipes de baralho ornamentando o topo da entrada de cada um. Os da esquerda rinha o naipe de espadas e ouros, os da direita tinha paus e copas. 

 

Assim que todos passaram pela porta, todas as portas por onde eles passaram começaram a se fechar sozinhas, com um impacto tão grande que o som os alcançava, os fazendo se questionar o que era aquele som. 

 

- são as portas fechando – respondeu Alice, com frieza – daqui para frente, não há mais escapatória – 

 

- como assim? Não há mais volta? Tem que ter volta! – exclamou Isaac, nervoso. 

 

Presenciar um agente ser esfaqueado por uma armadilha em uma manequim, e ver uma agente morrer a sua frente de forma tão violenta havia mexido consigo. 

 

- É assim que as coisas funcionam no País das Maravilhas, Isaac. Agora, só há dois jeitos de sair daqui: ganhando ou morrendo – 

 

- eu prefiro a primeira opção, se não for pedir muito – o loiro proferiu com nervosismo. 

 

- Quem diz como você vai sair é você – a voz alterada tecnologicamente ecoou pelo ambiente, chamando a atenção de todos. 

 

Os símbolos acima dos portões se ascenderam, pegando a todos de surpresa, fazendo alguns apontarem as suas armas para os portões. A cachoeira se abriu, fazendo a queda d’água se bifurcar, revelando um túnel atrás dela. Calmamente, um ser de terno branco passou a marchar na direção deles. O agente que sugeriu a corda humana para tentar salvar a agente que caiu no foço de serpentes apenas apontou o rifle para o mascarado e puxou o gatilho. As balas viajaram com velocidade, até atingirem um vidro a prova de balas que bloqueava a passagem do túnel. 

 

Branco gargalhou. 

 

- Achou mesmo que seria assim tão fácil? – indagou o criminoso, alcançando o vidro rachado e tocando o mesmo com a luva branca. 

 

- COVARDE! – berrou Rafael, furioso. 

 

- não tenho o menor interesse em me envolver pessoalmente com alguém tão sem graça. A única pessoa que eu quero encontrar sem esse vidro é Alice – ditou o mascarado apontando com o indicador da mão direita para o assassino da divisão montada por Peter. 

 

- NÃO VAI ACONTECER! – ralhou Peter, irritado, se aproximando da cachoeira, mas parando antes de alcançar a água. 

 

- quem disse? – 

 

- eu disse! – 

 

- quem disse? – fora a vez de Stiles questionar, surpreendendo ao loiro, que o encarou em choque. 

 

Alice encarava o Tate com superioridade. Branco gargalhou, vitorioso. 

 

- essa, sim, é a atitude de uma Alice – o comentário de Branco chamou a atenção do assassino de cabelos castanhos. 

 

- quem treinou você? – 

 

- o mesmo Branco que treinou você – 

 

- qual é a sua carta? – perguntou o Stilinski observando o terrorista retirar uma carta de baralho da manga e mostrar o fundo dela para si. 

 

- você quer saber onde eu me encaixo no baralho? Se conseguir me pegar deixarei ver essa carta – 

 

- e quando esse vidro vai sumir? – perguntou Stiles colocando as mãos nos bolsos. 

 

- Huhuhum... seu danadinho apressado. O esquema é o seguinte. Ficar sentado assistindo tudo acontecer é um saco. Eu preciso ter um pouco de ação também. – 

 

- Imagino que não vai querer testar a mira com todos nós – brincou Vernon observando o mascarado rodopiar e apontar para si. 

 

- Eu adoraria testar a minha mira com você, senhor Boyd. Mas eu prefiro uma brincadeira mais animada, mais violenta. Eu prefiro brincar com outra Alice – falou reverenciando Stiles, antes de se recompor e manter-se ereto, de fronte ao grupo de agentes. 

 

- deixe-me explicar o jogo, antes que o tempo de vocês acabe. Cada um desses portões leva a um detonador. Vocês devem seguir pelos portões em grupos. Cada um leva a um percurso de desafios diferentes. E esse vidro só irá dar passagem para um de vocês vir atrás de mim. Quando restar apenas um de vocês aí, é que o jogo comigo realmente começa – 

 

- Então... – Rafael murmurou 

 

- Nós seremos obrigados a seguir caminhos diferentes... – Isaac estava temeroso. 

 

- sem o Alice? – inquiriu uma agente, nervosa. 

 

- Não. Ele disse que só um fica aqui. Burlar esse jogo será fácil. É só todo mundo ir por um túnel, com o Alice. E apenas um de nós fica aqui para enfrentar o Branco – ditou Scott com um sorriso vitorioso no rosto. 

 

- Olha só! De vez em quando sai alguma coisa inteligente desse cara! – exclamou Erica animada. 

 

- Eu fico. Vocês vão atrás do detonador – ditou Peter, averiguando ao revolver em sua mão. 

 

Branco gargalhou. 

 

- Acharam mesmo que eu iria deixar um furo desse tamanho no meu plano? Com quem acham que estão lidando? – 

 

Os agentes se viram nervosos. 

 

- Eu sabia que algum idiota iria ter essa ideia. Então eu criei isso – o terrorista estalou os dedos e telões se ascenderam acima dos naipes de baralho, revelando corações digitais, como se fossem vidas de videogame. 

 

- E o que porra é isso? – inquiriu Isaac, confuso. 

 

- Vidas. Dentro de cada percurso há civis em situações de perigo em alguns dos desafios que terão que enfrentar. E todos os desafios são baseados nessas pessoas – ele voltou a estalar os dedos e o naipe de cada portão perdeu a sua cor, dando lugar a fotos conhecidas. 

 

O naipe de espadas fora preenchido com as fotos de Noshiko Yukimura, Erica Reyes e Derek Hale. O naipe de ouros apresentava Adrian Harris, Isaac Lahey e Scott McCall. O naipe de paus tinha os rostos de Meredith Walker, Vernon Boyd, e Allison Argent. E, por ultimo, Copas fora decorado com os rostos de uma foto rara dos gêmeos Stilinski um ao lado do outro e, abaixo deles, Peter Tate. 

 

- Então... todos os percursos tem que ser seguidos, se quisermos salvar essas pessoas – comentou Chris, desesperado. 

 

- E é claro que a ética e moral de vocês não abandonaria essas pessoas, certo?  Quero dizer... tem até criança nesse meio aí – 

 

Um calafrio percorreu as espinhas de Erica e Derek. 

 

A loira não perdeu tempo e marchou até o portão com o naipe de espadas. Isaac fora o próximo a marchar até o seu portão. Vernon suspirou e seguiu para o seu portão. 

 

- o que estão fazendo? – 

 

- tomando posição – respondeu Vernon olhando para o interior do portão e notando que havia outro portão há alguns bons metros a frente. 

 

- Não podem fazer o que ele quer! É loucura! – exclamou Chris, indignado. 

 

- Você não percebeu ainda? Você não faz diferença para ele – Isaac proferiu com autoridade, surpreendendo o agente. 

 

- Isaac tem razão. E discutir sobre isso apenas nos faz perder o tempo que já não temos - resmungou Erica

 

- eu acho que Chris está certo. Não podemos seguir o que ele quer – alegou uma agente, receosa. 

 

- Não. Foi você que não entendeu. Stiles nos avisou e nós sentimos na pele. Não é assim que as coisas funcionam com Maravilhanos. Se você evitar o jogo deles, você perde. Foi assim que deixamos o primeiro atentado acontecer – proferiu Vernon com seriedade, voltando a olhar para os agentes. 

 

- Pouco importa qual de nós vocês vão seguir. O que importa é o Derek estar comigo, o Scott com o Isaac, a Allison com o Vernon, e o Peter naquele portão. – 

 

- seria melhor se trocássemos de... – 

 

- Você ainda não entendeu?! Eu preciso estar nesse portão. Adrian Harris mexia com química. Eu mexia com química. O Scott foi da narcóticos! Eu duvido que qualquer um aqui entenda de química mais do que eu. E eu tenho certeza de que todos os desafios que vão ter aqui serão resolvidos com química. Eu duvido que algum de vocês seja melhor do que a Erica em sobrevivência. E muito menos que tenham uma mira melhor do que a do Vernon. Então, sim, nós temos que seguir o jogo dele. – 

 

- é assim que se joga com um maravilhano. Ou você joga, ou você morre – ditou Erica

 

- e não existe a opção de não jogar – finalizou Vernon

 

Derek suspirou. 

 

- Se não podemos evitar o jogo. Então vamos ao menos igualar as coisas. Vamos nos dividir em grupos iguais. Rafael e Chris, preciso que vocês vão com Peter – 

 

- o quê?! Eu não vou deixar o Stiles com esse cara! – ralhou o loiro apontando para o mascarado, que apenas acenou docemente para si. 

 

- Sim, você vai – 

 

- Derek! Eu não... – o loiro tentou argumentar, mas o sobrinho avançou contra si e lhe puxou pela gola do colete. 

 

- PETER! USE A CABEÇA! – berrou o moreno de olhos verdes, irritado, surpreendendo a todos. 

 

- Branco é um maravilhano. Você ouviu o Stiles. Ele não é uma cópia. Se eu te deixar com ele, você morre. Se deixar esses agentes na mão do Stiles, eles morrem. Você é um líder. Lidere com a cabeça! – ralhou furioso, deixando o tio em choque, antes de se virar para os agentes e começar a dizer quais deveriam ir com ele, quais iriam com Allison e quais seguiriam Scott. Por ultimo, disse que os restantes deveriam seguir Peter, Rafael e Chris no ultimo portão. 

 

Antes de seguir para o seu portão com Erica e os agentes, o moreno de olhos verdes parou ao lado de Alice e lhe apertou o ombro, chamando a sua atenção. Mas o castanho não tirou os olhos de Branco. O Hale percebeu o olhar atento do assassino para o terrorista e aproximou o rosto do ouvido alheio e sussurrou. 

 

- pegue ele. Mas lembre-se: ele fica vivo até termos o que queremos – 

 

Stiles sorriu de canto. 

 

- preocupe-se com o detonador, agente Hale – o castanho enfim desviou o olhar de Branco para o agente ao seu lado, levando a mão ao queixo do moreno, dando um pequeno toque com os dedos na barba do homem - Esse Branco já é todo seu – ditou piscando um dos olhos antes de começar a caminhar na direção do vidro. 

 

- Assim espero – o agente sussurrou para si mesmo, seguindo para o seu portão. 

 

Assim que todos os agentes atravessaram os primeiros portões, as grades se fecharam e o som de trava fora emitido por cada portão, deixando aqueles que os atravessaram nervosos. Quando os portões foram trancados, uma quinta trava fora acionada e, aos poucos, a parede de vidro começou a se abrir no meio. Branco acenou graciosamente para o assassino da divisão antes de começar a correr para o túnel. A cachoeira se fechou novamente. E quando o castanho julgou que a porta de vidro já estava aberra o suficiente, ele flexionou os joelhos e inclinou o torso para frente, estalando os dedos das mãos apenas flexionando os mesmos. Assim que arrancou em sua corrida, o castanho atravessou a água da cachoeira com o máximo de velocidade que conseguiu atingir, alcançando o corredor por onde Branco seguiu ao atravessar a água com violência. 

 

- Agora é oficial. Estamos por conta própria – ditou Derek antes de o portão a sua frente se abrir. 

 

 

 

 

 

 

 

Chapter 66: Cat's Cradle

Chapter Text

Assim que o som das travas dos portões ecoou pelo pequeno ambiente em que os agentes se encontravam. Todos fixaram os seus olhares no assassino de cabelos castanhos, o vendo flexionar os joelhos levemente e se inclinar para a frente, antes de arrancar em disparada na direção de Branco.

Algum tempo após o serial killer sumir da vista de tosos, um som de trava ecoou atrás deles e todos se viraram para o portão pelo qual teriam que passar, vendo uma pequena fresta aberta do mesmo. Isaac engoliu em seco e levou a mão ao portão, segurando em sua barra firmemente e se preparando mentalmente para abrir o mesmo. Vernon contava até dez e observava Allison abrir o portão, se preparando para enfrentar o que quer que Branco tivesse preparado para eles. Peter chutou o portão a sua frente, furioso. Erica abriu o portão sem cerimonia alguma, enquanto Derek e os agentes agarravam firmemente em suas armas, se preparando para seguir a loira.

- agora é oficial! Estamos por conta própria – ditou o moreno de olhos verdes observando a Reyes terminar de abrir o portão e começar pelo corredor com cautela.

Em uma fileira estrategicamente organizada, os agentes seguiram atrás da mulher de cabelos cacheados. Enquanto os agentes seguiam os seus passos com pavor e receio, Derek e Erica avançavam vigilantes e confiantes.

Eles precisavam ser.

Eram os jogadores selecionados pelo maravilhano para ingressar naquele jogo doentio. As pessoas dependiam daquilo. Não apenas os civis que Branco alegou estarem espalhados pelo percurso. Mas também centenas de milhares de pessoas espalhadas pelas cidades alvos das explosões, onde as bombas de Branco aguardavam pacientemente pelo seu grande momento.

Derek e Erica tinham a visão perfeita de seu objetivo ali, naquele corredor. Não importava quantas paredes houvessem, nem quantas provas e armadilhas fossem colocadas em seu caminho. Eles tinham que alcançar o detonador custe o custasse. Eles deviam atravessar o percurso em tempo de desativar as bombas.

OS dois não eram os únicos com esse objetivo em mente. Os agentes que os acompanhavam também estavam determinados a alcançar o detonador. No entanto, o agente Hale e a detenta Reyes eram os únicos cujo o pensamento de alcançar o detonador e resgatar os reféns era maior do que o medo da morte.

Ninguém podia os julgar. Muito menos Derek e Erica. O medo da morte é o combustível todo ser vivo. A sobrevivência sempre foi e sempre será o instinto primordial de tudo. E, como um instinto que todos sentimos, se torna extremamente compreensível as ações cautelosas e o modo defensivo que qualquer pessoa tomaria em um ambiente hostil.

Após alguns minutos caminhando de maneira cautelosa, eles encontraram a primeira porta. Derek e Erica olharam um para o outro e menearam em confirmação. A mulher colocou a mão na maçaneta e esperou o Hale e os agentes se posicionarem atrás de si, todos com as armas apontadas para a porta de madeira com o naipe de Espadas desenhado em seu corpo.

A loira girou e maçaneta e empurrou. Derek se assustou quando, assim que uma pequena fresta surgiu pela porta, Erica se assustou e soltou a maçaneta. O homem a encarou confuso. E a sua confusão apenas aumentou quando percebeu a porta. Quando a Reyes soltou a maçaneta, a porta não parou. Ela seguiu se movimentando, mas não no mesmo sentido que a mulher a fez se mover.

A porta que separava os agentes da primeira sala do percurso de Espadas simplesmente foi ao chão, criando um grande estrondo no ambiente.

O som do baque da madeira ecoou pelo ambiente, espalhando o pânico pelo corpo dos agentes. Todos encararam o ambiente do outro lado da passagem com terror nos olhos. O medo que sentiam do desconhecido era descomunal. Só de imaginar quais armadilhas mortais o esperavam do outro lado já os fazia tremer na base. Se sentiam como crianças encarando o armário, apenas esperando o bicho papão abrir o mesmo e as devorar.

Derek Hale respirou fundo, olhou no fundo dos olhos de Erica e meneou. A loira repetiu o seu ato, respirando fundo, antes de menear. O moreno ergueu o dedo indicador, apontou para si mesmo, e depois para a porta. A loira ergueu o indicador e o dedo do meio, e em seguida para a porta. Os dois menearam em concordância e se prepararam.

Derek avançou primeiro, entrando abaixado e a passos rápidos, porém atenciosos. Ergueu a arma para a frente e girou em seu eixo, dando uma visualizada rápida no perímetro. A loira entrou logo em sequência, também com a arma erguida, mas apenas seguindo o moreno, sem avistar as suas costas, apenas focando no ambiente a sua frente e ao seu lado. E assim eles foram entrando: de um em um, todos os agentes adentraram o ambiente com cautela. Assim que o último agente atravessou a porta, uma grade desceu pela mesma, impedindo o seu retorno. O último agente a passar pela porta avançou na grade, agarrando a mesma, desesperado.

- ARGH! – ele gritou, dolorido, enquanto soltava a grade.

- Deixe-me adivinhar: corrente elétrica? - inquiriu a Reyes, com desdém.

- Como vamos voltar? –

- É simples: Não vamos. – 

- Como assim não vamos?! Está maluca?! Eu não vou morrer aqui! – indagou um agente, encarando a loira com seriedade no olhar.

- ótimo. Então continue pensando assim, pois a única maneira de sair vivo daqui é seguindo em frente – argumentou o Hale apontando para a porta do outro lado da sala.

Todos os agentes voltaram os seus olhares para a sala com mais atenção.

- Que merda é essa? – questionou uma mulher, confusa, ao encarar as estruturas que dominavam o ambiente.

- não se lembra? Estamos em um Playground – respondeu Derek observando a grande estrutura de Cama de Gato.

- Tentem, ao máximo, não se surpreenderem com pouca coisa – ditou a loira, irritada.

- Pouca coisa?! Você acha isso pouca coisa?! –

Cabos e correntes se entrelaçavam entre paredes e pilastras, criando uma Cama de Gato gigante pela qual os agentes teriam que passar. Não havia outro jeito de passar. Todo o caminho estava coberto por cabos e correntes. Havia escorregadores e escadas, bem como plataformas pelo salão, mas estes também eram cercados e apresentavam correntes.

- SEJAM BEM-VINDOS, AGENTE HALE E SENHORITA REYES. VOCÊS DOIS COSTUMAM SER APTOS A SOBREVIVENCIA E ÁGEIS COMO GATOS. ENTÃO, POR QUE NÃO PREPARAR ALGO CHOCANTE PENSANDO EXCLUSIVAMENTE EM VOCÊS? PODEM NÃO ACREDITAR, MAS ESTOU COM EXPECTSTIVAS NAS ALTURAS PARA COM VOCÊS DOIS – a voz de Branco ecoou pelo ambiente., surpreendendo a todos, que vasculharam o ambiente em busca dos alto falantes.

- esse desgraçado! Como ele tem tempo de correr e ficar falando essas porcarias para a gente? –

- eu não faço a mínima ideia -

- esse é o primeiro desafio? Uma Cama de Gato? – inquiriu um agente, confuso.

- Sim. Simplório e infantil. Já sabemos destas duas partes. Agora, qual é a parte mortal? – inquiriu Erica, analista.

- cuidados com as correntes que puxam... podem acionar a armadilha - 

- Tem uma porta – comentou Erica, curiosa.

- O quê? –

- Uma porta. Tem uma porta para entrar na cama de gato. Existem uma barreira transparente entre nós e os cabos – respondeu a loira se aproximando da parede transparente e a analisando.

Um agente se aproximou da porta e a empurrou, não obtendo êxito. Observou para a mesma por alguns instantes apenas para constatar o que ele já imaginava.

- não tem maçaneta – 

- O desafio. deve ser abrir a porta – comentou um dos agentes, olhando ao redor, curioso.

- eu duvido muito – comentou o agente Hale, imitando o ato do homem.

- e por que? –

- Erica Reyes –          - Derek Hale –

Derek e Erica pronunciaram ao mesmo tempo. Os agentes se viraram para os dois, curiosos e confusos.

- Não entendi –

- Erica é uma especialista em sobrevivência. Solte essa mulher com apenas as roupas dela em uma floresta e meses depois ela estará viva e saudável – 

- isso é impressionante! –

- o agente Hale foi o responsável pela minha prisão, anos atrás. Ele entendeu as minhas táticas de sobrevivência e guiou o FBI ao meu esconderijo –

- Tá. Mas no que isso influencia nesta sala? –

Erica suspirou, revirando os olhos.

- esses percurso até o detonador foi moldado para nós dois. Os desafios dele se resumirão a –

O agente Hale fora cortado em sua fala quando um grande estalo ocorreu na sala e o som de energia se espalhando por todo o ambiente veio logo em seguida. Todos ergueram as suas armas, preparados e olharam ao redor atentos.

- Consegui! – exclamou um agente, animado.

- O que pensa que está fazendo?! – ralhou um outro agente, furioso.

- abrindo a porta – respondeu apontando para a porta transparente, e todos notaram que a mesma havia deslizado para o lado.

- Boa! – exclamou uma mulher, tendo o seu humor revigorado com a pequena vitória.

- certo. Então temos que atravessar a cama de gato – ditou um homem já colocando o fuzil em suas costas e se preparando – eu vou primeiro – afirmou puxando a pistola de sua cintura e caminhando na direção das correntes.

- Tudo bem. Nos informe do que encontrar pelo caminho a todo momento – afirmou Derek observando o outro menear e se dirigir até as correntes.

Erica encarou a cena com um arrepio na espinha. Ela sentia que havia algo de muito errado. Algo no fundo de sua mente martelava para que ela tomasse cuidado e alertasse a Derek. Mas, alertar sobre o quê? Ela não conseguia saber. Mas ela sabia que algo tinha que ser feito. A mão dela se fechou no pulso de Derek, lhe chamando a atenção. Os olhos verdes foram tomados por preocupação quando observou o estado estático da sobrevivente da divisão.

- tem alguma coisa muito errada. Está fácil demais – comentou a Reyes ainda encarando as correntes e cabos a sua frente.

- eu sei. Pensei que apenas eu estivesse tendo essa sensação –

- ACHEI UMA ALAVANCA! ESTÁ DO OUTRO LADO DA CAMA DE GATO. DO LADO DA PORTA DE SAÍDA DO LUGAR! – exclamou o agente que estava embrenhado nas correntes.

- DEVE SER A ALAVANCA DE ABRIR A PORTA DE SAÍDA! – gritou uma agente ao lado de Derek, já se preparando para entrar na cama de gato.

As mentes de Derek e Erica martelavam sem parar. Eles tentavam, ao máximo, descobrir o que estava se escondendo naquela sala que era tão perigoso ao ponto de os matar. Tudo o que viam a sua frente era uma enorme cama de gato. Uma brincadeira de criança que fora transformada em uma sala inteira onde deveria existir uma armadilha mortal.

- qual o joguinho por trás disso? Está fácil demais – murmurou Derek, intrigado.

- joguinho?  - murmurou Erica, curiosa, ao seu lado.

- é. Tem que ter alguma maracutaia escondia aí para nos matar. Tem algo de mortal nessa sala. Mas o que é? –

- CHEGUEI DO OUTRO LADO. AGORA SÓ FALRA ABRIR A PORTA! -

- okay. Essa foi fácil. Minha vez no joguinho gigante – ditou uma agente ajustando o fuzil em suas costas e se embrenhando nas correntes.

A mente de Erica estalou.

“Joguinho!”.

A Voz de Rei ecoou em sua mente.

“Stiles fazia joguinhos maravilhosos!”

- ALI! TEM UMA DO OUTRO LADO! – exclamou uma mulher e um agente correu até a mesma.

- é a cama de gato! A armadilha é a cama de gato. Mas como? –

- Como é? – indagou o Hale, perdido.

- A armadilha é a própria cama de gato. Mas como? Rei disse que Stiles fazia joguinhos maravilhosos. A cama de gato é um jogo infantil. Por quê? Por que escolher uma cama de gato como armadilha? Como ele poderia matar alguém com isso. Como transformar uma cama de gato em algo macabro? – a loira tentava fazer a sua mente pensar mais rápido., mas a resposta não era alcançada.

- Ele precisa que nós passemos pela cama para atravessar. Mas também precisa fazer com que ela nos mate – murmurou Derek, tentando ajudar a loira ao seu lado.

- Pensa! Pensa! Pensa! Do que é feita uma cama de gato? Barbante ou elástico. Mas ele não usou isso. Por quê? Por que se tem como fazer uma gigante usando elásticos enormes e barbantes gigantes? – a Reyes estalava os dedos, desesperada.

OS estalos dos dedos de Erica eram como ponteiros agéis de um relógio que não marcava o tempo corretamente. Mas, na mente de Derek, o som dos dedos da loira o estavam lembrando de uma segunda coisa. Mas ele não conseguia dizer o que era.

- ÓTIMO! UMA ALAVANCA ABRE UMA PORTA E A OUTRA ABRE A PUTRA!

- alavanca – murmurou ele, perplexo virando a cabeça para o homem que se aproximava da alavanca de ferro.

O som que a primeira alavanca produziu ao ser puxada, após o estalo, era como se um circuito de fliperama houvesse ativado e todas as máquinas tivessem sido ligadas.

- correntes! Por que correntes? – inquiriu Erica e o Hale prendeu a respiração.

“Deixe-me advinhar:”

- Corrente elétrica! – murmurou o Hale aterrorizado.

Erica arregalou os olhos.

- Barbante e elástico não conduzem corrente elétrica – 

- NÃO PUXE A ALAVANCA! – gritaram a Reyes e o Hale ao mesmo tempo, mas a mão do homem já estava chegando ao fim do percurso.

- Por que não? – inquiriu uma agente, confusa.

Primeiro veio o estalo.

Em seguida, veio o som de corrente elétrica.

Erica correu na direção da alavanca o mais rápido que pôde. Atrás de todos os agentes. Bem diante da porta por onde entraram, uma fileira de pilastras afiadas cedeu por barras de ferro que as conectavam ao teto. Todos os agentes se assustaram com o estrondo das pilastras descendo. Mas Erica se manteve imparável e logo alcançou a alavanca, a erguendo de volta. Uma segunda fileira de pilastras caiu diante da primeira, assustando os agentes, que encaravam a sua direção, aterrorizados.

- vocês estão bem? – inquiriu Derek, ao se aproximar da pprta que levava a cama de gato.

Ele não obteve resposta.

- agentes? – o moreno os chamou mais uma vez, enquanto movia a cabeça, tentando adquirir uma visão mais clara das costas da agente que se encontrava no meio das correntes.

Assim que Erica se aproximou do Hale, arregalou os olhos aterrorizada com a possibilidade de ter sido ela, ali, naquelas correntes. O cheiro forte de carne assada e plástico queimado a forçou a recuar alguns passos, assim como o agente Hale. Os dois se afastaram, abanando o rosto e torcendo o nariz enquanto davam as costas para a armadilha mortal que bloqueava a sua passagem.

- o quê? O que houve? – inquiriu uma agente, confusa.

- Estão mortos – respondeu o Hale, pesaroso.

- como é?! –

- mortos. Os dois. Fritaram como churrasco quando as duas alavancas foram ativadas – disse a Reyes se abaixando no chão e levando as mãos a testa, preocupada.

- o quê?! M-mas... como?! – perguntou o agente que havia acionado a segunda alavanca, desnorteado.

- Descarga elétrica. Essa é a armadilha desta sala. Ela é cercada e alimentada por corrente elétrica. Mas a armadilha só funciona se acionarmos as alavancas. O que não seria um problema, se não fosse pelo fato de as portas só se abrirem quando puxamos as alavancas – o agente de olhos verdes respondeu, frustrado.

- mas... foi tão rápido. A Reyes ergueu a alavanca tão rápido. Como eles morreram, assim, em um espaço tão curto de tempo? – 

A loira suspirou.

- Eu te mostro como –

O Hale franziu o cenho para a sobrevivente. Ela se aproximou de um agente 

A mulher se aproximou da alavanca e se preparou para a puxar de novo.

- foi muito rápido, mas deu para ver. Olhem bem para as correntes e ignorem o estrondo que vão ouvir atrás –

Assim que ela puxou a alavanca mais uma vez, os agentes se focaram nas correntes, como ordenado, enquanto Derek Hale se focava no estrondo atrás deles. Ele já sabia como os seus aliados haviam sido assassinados. Não precisava rever aquilo e alimentar a sensação angustiante em seu peito. Mais estavas de metal desceram do teto, penduradas por correntes e barras de ferro.

Os agentes observaram, incrédulos e aterrorizados, alguns raios de corrente elétrica saltarem de uma corrente para outra e deslizarem por um percurso breve entre elas, antes de desaparecer.

Um segundo estrondo ocorreu.

- Eles morreram eletrocutados... –

- Fritaram na hora – comentou um agente, perplexo.

- a voltagem dessa coisa deve ser absurda! – 

- e como vamos atravessar? A porta de lá só abre quando puxamos a segunda alavanca! Mas se puxarmos ela, fritamos na hora! – exclamou um agente, irritado.

- podemos intercalar as alavancas. Primeiro uma pessoa entra, daí fechamos essa porta e em seguida puxamos a segunda alavanca - sugeriu um agente apontando para as respectivas alavancas.

- mas isso adianta? – inquiriu outro agente observando o mesmo dar de ombros.

- E se na verdade, não depende de as duas alavancas estarem puxadas para liberar a corrente elétrica? Independentemente, a segunda alavanca liberar a descarga elétrica? – argumentou outro agente.

- o jeito é descobrir – disse uma agente erguendo a primeira alavanca.

A porta diante deles se fechou e, para a surpresa de todos, a corrente elétrica retornou, e, com ela, o estrondo de mais uma fileira de estacas de ferro indo de encontro ao solo. Um homem abaixou a segunda alavanca, fazendo com que a corrente elétrica fosse interrompida. Ambos os agentes ao lado das alavancas se entreolharam e palavras não foram necessárias. Com um meneio de concordância, os dois agiram. Enquanto um abaixava o outro erguia a alavanca. E, para o desanimo geral, a corrente elétrica retornou, por meio segundo, mas retornou.

Por uma mísera fração de segundo.

Mas eles sabiam que aquele pequeno, quase inexistente, espaço de tempo era o que separava eles da morte. Bastava estar tocando em alguma corrente quando aquele pequeno espaço de tempo ocorresse para que eles fossem assassinados como os outros dois agentes.

- Vasculhem o perímetro. Tem que haver um jeito de resolver esse problema em algum lugar por aqui – ordenou o Hale, já se virando e passando a procurar por algo que lhe desse uma luz para aquele problema.

Eles passaram cinco minutos procurando, até que o estalo ocorreu. Mais uma linha de estacas de ferro desceu do teto e atingiu o máximo que podia, quase acertando o chão, deixando apenas alguns centímetros entre suas pontas afiadas e o solo. Aquilo assustou ainda mais os agentes, que voltaram a vasculhar o ambiente com mais velocidade e dedicação. Mais cinco minutos se passaram e outra linha de estacas desceu do teto, rasgando o mesmo e cortando o ar até quase atingir o solo. 

O desespero os dominou.

Demorou apenas mais dez minutos, e mais duas fileiras de estacas, para que eles sucumbissem ao pânico e alguns agentes perderem o controle.

- FILHO DA PUTA! – ralhou um dos homens, furioso, chutando a parede.

- relaxa, cara. Relaxa e pensa –

- Pensar no quê, agente? Pensar no quê?! Fomos feitos de idiotas. Caímos na armadilha do Branco e agora estamos presos aqui! –

- pensar em um jeito de sair – respondeu outra agente tentando ignorar o surto do companheiro, para poder controlar o próprio desespero.

- sair?! Nós não vamos sair! Não sozinhos. Não tem como sair sozinhos disso aqui! Precisamos de ajuda externa! – alegou o homem encarando Derek, esperando que o mesmo solicitasse apoio.

Mas o Hale se quer tocou no comunicador em seu colete. O moreno de olho verdes estava focado demais no ambiente para se quer encarar o outro homem.

- Não chame o reforço! – Derek o repreendeu observando os cabos da cama de gato com mais atenção.

- o quê?! –

- Temos que nos virar aqui, sozinhos – a calma do agente Hale enfurecia o homem.

- Prefere nos deixar morrer aqui?! –

- Não vamos morrer aqui se encontrarmos um jeito de resolvero problema da armadilha – rebateu o moreno de olhos verdes finalmente encarando o agente.

Ao ser confrontado pela determinação e calma dos olhos do agente Hale, o homem se sentiu pressionado a tomar o controle sobre si e conter o desespero. E ele tentou. Havia sido treinado para situações de estresse e pressão. Mas, nem todo mundo consegue conter o medo da morte ao ver companheiros tão treinados quanto morrerem diante de seus olhos em uma armadilha mortal que ninguém estava esperando.

Eles sabiam que estavam em um ambiente que podia haver armadilhas por todo canto. Mas, ainda assim, o estresse de, não apenas ser surpreendido, como também ser encurralado enttr duas armadilhas mortais, somado ao trauma de presenciar a morte de  companheiros de trabalho poderia ser demais para a maioria das pessoas, algumas delas mesmo sendo treinadas.

Se eles não estivessem presos naquela sala e com duas armadilhas o cercando, o deixando impossibilitado de correr, ele não estaria desesperado. Mas só de imaginar deixar de acompanhar o crescimento de sua filha por causa de um maldito mascarado o fazia surtar.

Mas ele se conteve... por mais três minutos, tempo necessário para mais uma fileira de estacas despencar do teto.

- Foda-se! Eu vou chamar o apoio! – exclamou levando a mão ao comunicador.

- Se você chamar o reforço, pode que Branco detone as bombas propositalmente – o moreno de olhos verdes soou sério enquanto encarava o agente nos olhos, em um sinal de repreensão.

- Como é? –

- lembre-se de que entramos no jogo de Branco para impedir um atentado. Solicitar ajuda externa pode ser interpretado como trapaça. E então perdemos o jogo e Branco detona as bombas. Já parou para pensar nisso? – indagou o Hale encarando o agente engolir em seco, nervoso.

- é claro que não – respondeu Erica, irritada.

- você decide: ficar calmo e resolver o enigma; ou arriscar a vida de milhares de pessoas sem necessidade por desespero –

- Eu tenho uma filha, agente – o homem tentou argumentar.

Derek lambeu os lábios, contendo a irritação, e se virou na direção do agente desesperado.

- e ela prefere ser filha de um agente corajoso, ou de um covarde assassino? –

Uma fileira de estacas caiu.

O homem não teve tempo de responder, pois Derek franziu o cenho, confuso e lhe deu as costas.

- o quê? O que foi? – questionou uma agente que estava assistindo a discussão, observando o modo curioso como Derek encarava as estacas.

- O tempo –

- como ? –

- Eu contei o tempo em que as fileiras caem. É de cinco em cinco minutos. Exceto quando puxamos as duas alavancas. Mas essa não... o tempo dela foi diferente – respondeu o Hale analisando os materiais metálicos de longe.

- O que quer dizer? –

- só se passaram dois minutos desde a última queda. E essa ultima fileira já desceu – o Hale observou o cronometro em seu pulso, contando o tempo.

- então acelerou? Vai ser de dois em dois? – outro agente perguntou, nervoso.

- Não. Acabou de se passar dois minutos e elas não caíram ainda – Derek abandonou o olhar sobre o relógio em seu pulso e se focou nas estacas a sua frente.

- por que você caiu mais cedo? – ele murmurou para si mesmo, pensativo.

O homem arregalou os olhos brevemente, surpreso, antes de se virar para Erica, que ainda analisava o ambiente, na procura de uma solução. A loira pareceu sentir o olhar do moreno sobre si. Assim que ela o encarou de volta, Derek sorriu minimamente. Ela estranhou.

- o que foi? –

- lembra o que Branco disse quando entramos? –

- que eu sou uma gata? - ela inquiriu sorrindo de canto antes de dar de ombros, desistindo.

“PODEM NÃO ACREDITAR”

- Branco está com as expectativas nas alturas para nós dois – o homem pronunciou com seriedade, observando a mulher franzir o cenho em sua direção, confusa.

Erica apenas deu de ombros, mais uma vez, sem entender onde o agente queria chegar com aquilo.

Derek ergueu o indicador e apontou para cima. Assim que Erica ergueu a cabeça, os seus olhos se arregalaram brevemente, surpresa, antes de o cenho ser levemente franzido, indicando que estava tão concentrada quanto um predador em sua presa.

- filho da puta! – uma agente exclamou ao entender o que o agente Hale estava conversando com a mulher de cabelos cacheados.

No teto, exatamente sobre o agente de olhos verdes, havia uma estrutura similar a uma escada, no teto, deitada, cruzando todo o salão. A identificação era um pouco difícil, inicialmente, devido a sua cor. Era quase da cor do teto, quase, chegando a se misturar facilmente no ambiente, impedindo que qualquer um a notasse instantaneamente ao adentrar o salão.

- Essa é a nossa solução para a eletricidade? – inquiriu uma agente, um pouco esperançosa, mas incerta.

- como vamos chegar lá encima? -

- vamos todos sair por aí? –

- não. Essa é a fechadura. E a nossa chave... – o homem de olhos verdes jogou o fuzil em suas costas.

Assim que Derek ergueu a palma da mão para cima, ajustando a luva de couro, ele fora surpreendido quando uma pistola fora posta em sua mão. Ele olhou para o lado confuso, observando Erica desfilar na direção das estacas que caíam do teto. A mulher olhou por sobre os ombros, em sua direção, lançando um sorriso convencido para si.

- Desculpa aí, agente. Mas a chave sou eu – 

- Erica... – o Hale tentou argumentar, mas a mulher girou nos calcanhares e abriu os braços, indignada.

- quem você acha que tem mais chances de atravessar essa merda em menos tempo? Eu? Ou eles? –

Derek soltou uma lufada de ar e sorriu de canto, segurando a pistola em sua mão apropriadamente.

- tenha cuidado. Podem haver armadilhas nessas barras – foi tudo o que ele disse.

A loira meneou em concordância e se virou para as estacas há sua frente. A Reyes apenas encarava as enormes lâminas de metal, as vendo brilharem com a luz que vinha de trás de si, e refletirem a sua imagem distorcida. Três minutos se passaram com ela apenas encarando o material a sua frente, o que deixou os agentes apreensivos.

- O que está esperando? – inquiriu um agente, irritado.

Erica o ignorou e permaneceu atenta nas estacas.

- o momento certo – Derek observando a criminosa alongar o corpo.

- Momento certo? Que momento certo? –

Mais uma fileira de estacas desceu do teto com velocidade, logo a frente da mulher de cabelos loiros cacheados. Ela se quer piscou com a chegada dos instrumentos mortais.

- esse momento – o Hale respondeu observando a loira finalmente começar a agir.

Erica se colocou entre duas das lâminas enormes e passou a escalar o espaço entre elas. Os agentes observaram, completamente admirados, a velocidade com a qual a mulher conseguia escalar naquela situação. A mulher era rápida e precisa em seus movimentos. Não havia deslizado uma única vez até alcançar as barras junto ao teto. Ela passou das estacas para as barras sem nenhum problema.

- o problema deve vir agora – murmurou uma mulher, analisando a situaçã9.

- Sim – a contragosto, Derek concordou. – agora é a hora em que ele colocou as armadilhas – 

Erica engatinhou pelas barras, tentando, ao máximo, ser rápida, ao mesmo tempo em que tomava cuidado a cada passo que dava. Se alguma daquelas barras estivesse solta e posta ali para que ela a agarrasse, a queda poderia lhe deixar sequelas gravíssimas, ou pior, coletar a sua vida. 

Mas Erica era uma sobrevivente, ele sabia como ser cuidadosa e ágil simultaneamente. 

Todo o percurso até alcançar a área acima da cama de gato mortal fora um momento de agonia e apreensão. Todos esperavam que ao agarrar a próxima barra, a mulher fosse ativar alguma armadilha e ela acabasse despencando de lá de cima. No entanto, para o alívio geral, nada ocorreu. Eles elogiavam o desempenho da mulher mentalmente, ao mesmo tempo em que rezavam para que nada desse errado até que ela terminasse o percurso e alcançasse o outro lado, 9nde a alavanca que os libertaria da armadilha a esperava.

Erica parou no caminho por alguns segundos, chamando a atenção dos agentes. Alguns começaram a incentivar a sobrevivente, batendo algumas palmas únicas e gritando que a mesma conseguiria fazer se o quisesse. Mas, o que eles não sabiam era que Erica Reyes não estava paralisada pelo medo ou cansaço. 

Ela sentia, sim, os braços exaustos, tal qual o abdômen e as pernas por inteiro. Mas par ali não os descansaria oi relaxaria. Muito pelo contrário, ficar ali, sustentando o seu corpo no ar apenas o desgastaria mais ainda, exaurindo o resto de força e resistência que possuía. Mas o que a loira realmente fazia ali era uma observação. Ela analisava minuciosamente a situação em que se encontrava.

Mais uma fileira de estacas caiu, fazendo as barras em que se segurava tremerem, lhe chamando a atenção. Ela olhou para trás, constatando que a sua linha de raciocínio estava correta. Existiam armadilhas escondidas naquelas barras em que se segurava, sim. Ainda não havia ativado nenhuma porque todas elas estavam dentro da área da cama de gato. Não havia motivos para colocar armadilhas onde as estacas desciam. Branco tinha em mente encorajar o jogador a se movimentar pelas barras até alcançar o local em que realmente não teria escapatória. A partir de agora, era que o verdadeiro desafio se iniciava. Cada nova barra poderia ser uma armadilha. Cada nova barra um novo suspense. Cada nova barra um novo temor.

Respirando fundo, Erica tomou a iniciativa e agarrou a primeira barra dentro da área da cama de gato. Ela agarrou firmemente o objeto, o puxou suavemente e esperou por cinco segundos. Como não sentiu a barra frouxa no começo, e muito menos afrouxar no decorrer do tempo, a mulher permitiu que o seu peso fosse apoiado na barra de metal. E então, ela seguiu para a próxima, fazendo sempre uso do mesmo esquema. Agarrava a barra, verificava a sua firmeza inicial, dava um tempo para continuar averiguando a sua firmeza. Quando verificado que a barra era segura, ela prosseguia E assim foram se passando as primeiras barras.

- Acha mesmo que ela vai conseguir? Passar por todo esse percurso? - indagou um agente, ao lado do moreno de olhos verdes.

Derek suspirou. Sabia que muitos dos agentes que integravam aquela ação tinham os seus questionamentos sobre a fidelidade e as capacidades de cada um dos detentos que faziam parte daquela operação. Ele não podia os julgar. Ainda tinha os seus questionamentos sobre o quão fiéis alguns deles poderiam ser, incluindo a própria Erica Reyes. Mas se havia algo do qual Derek Hale não tinha dúvida alguma era sobre o quão habilidosa Erica poderia ser, independente do ambiente em que se encontrasse. Lembrava-se, e muito bem, das palavras de sua superior que lhe ajudou no caso da Reyes, quando o grupo saiu em um Happy Hour.

“Erica Reyes era flexível, ágil e habilidosa em combate um contra um, quase como uma mulher gato da vida real.”

- Se tem alguém em quem confio cem por cento para passar por isso, é ela - respondeu o agente Hale observando a loira passar por mais algumas barras.

Assim que agarrou a barra seguinte e colocou o seu preso sobre ela, a mulher fora surpreendida quando a barra começou a descer. Mas não foi uma queda brusca. Fora lenta, suave, quase como se algo a empurrasse. Erica a soltou prontamente, apenas observando a barra descer mais e mais. Os agentes observavam a cena com confusão, tentando entender que tipo de armadilha idiota era aquela.  Mas a mente de Erica fora mais rápida do que a deles. Ela havia sentido que a barra não estava solta, apesar de continuar descendo, se revelando uma alavanca. Ela logo usou a alavanca para se impulsionar e avançar mais duas barras, a ultrapassando, ficando pendurada apenas por seus braços.

- O que ela pensa que está fazendo?! - 

- Avançando. Se esperar mais, pode ser que essa barra bloqueasse o seu caminho – argumentou o agente Hale, chamando a atenção do agente reclamão.

E ele estava correto. Erica havia tido o julgamento rápido o suficiente para conseguir impedir que o seu caminho fosse bloqueado devido ao seu receio. Assim que o homem de olhos verdes explicou a verdadeira natureza da situação da Reyes, os agentes começaram a ter mais fé nas habilidades e na capacidade da loira. No entanto, quando um som alto e intenso característico de um gerador de energia funcionando ecoou pelo salão, tudo isso se foi. O coração de Derek se apertou e o de Erica acelerou. Ao direcionar o olhar para a cama de gato, todos poderiam ver pequenos fios elétricos saltarem de um cabo para outro. E foi ali que o pânico tomou o seu reinado para si mais uma vez. A cama de gato havia sido assionada mais uma vez, fazendo com que os cabos da armadilha estivessem prontos para aniquilar Erica assim que a mulher caísse.

- DESATIVEM ESSA MERDA! PUXEM AS ALAVANCAS! - o Hale berrou, furioso, observando os agentes se moverem até as respectivas alavancas.

- Quem ativou essa porcaria? - uma agente questionou

Eles as puxaram, mas nada mudou.

- Não dá! Não desativa! - um agente argumentou, desesperado.

- A armadilha não foi ativada pelas alavancas! - a mulher que se encontrava na segunda alavanca comentou, igualmente desesperada.

- Foi Erica! A armadilha que ela ativou era para ligar a energia elétrica da cama de gato – o agente Hale pontuou, irritado. - Maldito seja, Branco! Maldito seja! -

- Hey! Calma. Vamos manter a fé na mulher. Você mesmo disse que ela é a pessoa em quem você mais confiava para isso. - um agente argumentou tentando acalmar o moreno de olhos verdes.

Derek ainda mantinha a sua fé em Erica. O que ele não tinha era coragem para com a mente brilhante e perturbada de Branco... ou de Stiles. Afinal de contas, o assassino de cabelos castanhos havia admitido ter a autoria sobre o plano que Branco estava executando. Até que parte o plano seguia as ideias de Stiles, e a partir de onde começavam as ideias de Branco? Sem o assassino de cabelos castanhos, eles jamais conseguiriam responder.

Erica andou por mais duas barras antes de o seu mundo congelar e fazer os corações dos agentes apertarem em desespero. Todos prenderam a respiração ao verem a mão da Reyes, que agarrava uma barra para que a outra mão pudesse seguir para a próxima, despencar. O torso da loira começou a descer, junto com a barra, para o desespero de todo. Em seguida, ele começou a subir, para o alívio dos agentes. A mulher havia pensado rápido o suficiente para agarrar a antiga com a mão após largar a barra falsa, enquanto a outra seguia o seu percurso para a barra nova. A mulher, após averiguar que estava, realmente segura naquelas barras, pode liberar a respiração que prendera com a quase queda.

Encarava as próprias mãos, trêmulas, enquanto tentava entender o que diabos havia acontecido. Ela havia sentido. Erica não era louca. Havia, sim, sentido firmeza na barra quando a puxou. Mas, então, por que diabos havia caído? Como diabos a barra havia ficado tão frouxa em tão pouco tempo? Como havia quase caído para a morte, se tinha certeza absoluta de que estava sendo cautelosa o suficiente para se sentir segura? O que havia acontecido, ela não sabia. Como Branco havia feito aquela armadilha, ela também não fazia ideia. Se quer tinha noção do que havia acontecido. Quem dirá como havia sido feito. Ainda tremendo e com o corpo dominado pelo medo, Erica ergueu a mão e alcançou a próxima barra. A sua visão se tornou turva e a respiração difícil. O seu peito estava apertado e o ar já não entrava mais pelas narinas, mas sim pela boca com um ritmo acelerado.

Ela estava em pânico.

Sabia que qualquer deslize, ali, seria a sua morte.

E se a barra cair? Ela se perguntava. E se o próximo passo fosse o último? - o desespero a havia dominado completamente.

Com a mão tremendo, a loira agarrou a barra de ferro a sua frente, a segurando firmemente, antes de a puxar um pouco, testando a sua firmeza. “Isso não será o suficiente”. Pensou consigo mesma. Afinal de contas, era isso o que estava fazendo com todas as barras. Mas, mesmo assim, a última barra em que fizera esse teste quase a matou. Ela hesitou. Hesitou muito. Mas sabia que uma hora teria que seguir em frente. Não havia volta. Se não passasse por aquelas barras, as estacas atrás de si matariam não apenas ela, mas todos os agentes.

Ela se apoiou na barra.

E nada ocorreu.

Um pouco mais aliviada. A mulher seguiu para a próxima barra, ainda com a visão turva e o corpo tremendo de medo. Ela, novamente, executou o seu teste de firmeza da barra. E, mais uma vez, ela teve a certeza quase absoluta de que estava firme. Quase devido a sua última experiencia de quase morte. Ela respirou fundo, ainda desconfiada, e esperou por mais alguns segundos. Quando estava se sentindo confiante o suficiente para se apoiar de vez na barra, ela fora surpreendida quando a barra desceu, completamente solta em sua mão. Ela observou a barra de ferro em sua mão, completamente incrédula, antes de o ódio crescer em seu peito.

- FILHO DA PUTA! - a loira berrou a plenos pulmões, jogando a barra fora, a qual caiu nos cabos, gerando uma pequena explosão elétrica de faíscas chamativas.

- O quê? Erica, o que houve? - indagou o Hale, com a mão no ponto em seu ouvido.

- É uma armadilha ativada pelo peso, usando um temporizador - a loira respondeu com fúria.

- Filho da puta! - o moreno de olhos verdes xingou. 

- Pois é! - 

- Eu não entendi - 

- Sempre que a barra sofre ação da força peso, o temporizador ativa. E quando ele chega a zero... - 

- A barra se solta, levando quem estiver apoiado nela direto pra morte – Derek concluiu, encarando a loira avançar mais uma barra, confiante.

- Ao menos, ele intercala entre as barras. Não é uma coisa totalmente injusta – a Reyes comentou, agradecida internamente.

- Assim como o Stiles disse. Ele cria um jogo mortal, mas não vê graça se não existir a possibilidade de ele perder - o Hale pontuou observando a detenta conseguir alcançar um terço do percurso sobre a cama de gato.


Erica seguiu o percurso até atingir quarenta por cento da cama de gato. E foi nessa barra de ferro que Erica gritou de dor e largou a mesma rapidamente. Confusos, os agentes se entreolharam. A loira encarava a própria mão, perplexa, antes de encarar a barra com fúria.


- Erica, o que houve? - 

- A porra da barra me deu um choque filho da puta! - a mulher reclamou em seu ponto, antes de tentar tocar a barra seguinte e, novamente, recuar, chacoalhando a mão no ar – a próxima barra também está me dando choque! -

- FILHO DA PUTA! - exclamou um agente, furioso.

Derek suspirou, nervoso.

- Erica, me escuta. Você acha que consegue suportar o choque enquanto passa pelas barras? - 

- Como é que é? - 

- Acha que consegue suportar a dor sem cair? –

- Você está achando que eu sou o quê?! - ralhou, furiosa, virando a cabeça na direção do agente de olhos verdes.

- Erica, eu acho... Eu acho que ele está testando a gente. Não só a nossa capacidade cognitiva, como também a nossa resistência ao pânico e a dor. Esse choque deve ser o suficiente para alguém forte como você aguentar - 

- Derek Hale, não venha me bajular, agora! Eu ainda estou com muito ódio da sua cara! - 

- Erica! Precisamos alcançar o detonador! E você é a única que pode fazer a gente chegar mais perto dele, agora - O Hale encarava a loira com confiança e admiração, observando a mesma suspirar e negar com a cabeça várias vezes.

Após vários minutos as loira apenas negando com a cabeça e encarando as barras a sua frente, ela decidiu se mexer. Levou a mão direita para a barra seguinte. Assim que a pele da ponta dos seus dedos resvalou sobre o material liso da barra de ferro, ela sentiu a corrente elétrica percorrer o seu braços e logo recolheu o mesmo mais uma vez, o contraindo. O seu rosto de contorceu em uma careta, enquanto ela chacoalhava o braço para cima e para baixo.

Choramingou para si mesma ao mesmo em que encarava a maldita barra eletrizante.

Deus! Como ela não queria passar por aquilo! Mas não havia outro jeito e Erica sabia disso. Ela tinha muito a perder deixando Branco ganhar aquele jogo. Havia muito a se perder ali. Muito mesmo. Para pessoas que não estavam envolvidas, para as que não estavam nas zonas alvo e, muito menos para aqueles que se quer estavam nos Estados Unidos, aquele jogo mortal podia não parecer algo que valesse a pena jogar.

Mas, para Erica Reyes, como uma exímia sobrevivente, ela sabia muito bem o que a derrota ou desistência naquela missão iria acarretar. 

O desastre começaria físico. Casas, prédios, escolas. Tudo isso indo para os ares, espalhando nuvens de poeiras cinzas, pretas e rosadas. Membros de velhos, adultos, adolescentes e crianças voando a esmos e criando toda uma decoração mórbida e apocalíptica pelo país. Além, é claro, de traumas e pânico por todos os lados.

Em seguida, vinha o estrago político. Vários líderes de segurança e políticos seriam acusados de incompetência e descaso com a população. O movimento poderia tomar maior volume com um empurrãozinho de líderes de movimentos políticos de oposição.

E tudo iria apenas piorar.

Era uma jogada e tanto, a Reyes tinha que admitir.

Maravilhanos não eram amadores no terrorismo.

Respirando fundo, ela agarrou a próxima barra com firmeza. Mordeu o lábio inferior com força o suficiente para gerar um corte suave no mesmo. Sentia o gosto ferroso dominar sua língua a medida em que tentava passar logo para a próxima barra. A corrente elétrica percorrendo os seus braços era uma tortura da qual queria logo se livrar.

Assim que a agarrou com firmeza, se preparou para largar a barra elétrica rapidamente 

- A PRÓXIMA VARRA PODE CAIR! CUIDADO! -  a voz de Derek alcançou os seus ouvidos, a despertando para a possibilidade da armadilha. 

Ela encarou a barra com pavor, antes de desviar o olhar para o Hale, lá embaixo, a encarando com preocupação. A loira encarou a varra mais uma vez. Insegura, a puxou com certa força. Começou a contar os segundos. E em trinta segundos, quando já estava começando a achar que talvez Derek estivesse errado e a forçando a aguentar descargas elétricas desnecessárias, a barra caiu.

Ela despencou, rápida e pesada, at8ngindo alguns cabos da cama de gato, liberando mais faíscas dos mesmos. 

A mulher encarou, aterrorizada, a cena da barra em que pretendia tomar algum tempo para descansar do choque que recebia.

Ela estaria morta.

Se não fosse o agente Hale, agora, ela estaria ali embaixo, deitada sobre vários cabos, assada como um churrasco na grelha.

Um baque metálico ecoou pelo ambiente.

- filho da puta! Eu te devo uma! – murmurou a loira, para si mesma, ainda em sua agonia, enquanto encarava a barra seguinte em que teria que se segurar.

E se fosse mais uma armadilha?

Mais um baque metálico ecoou.

- Como sabia que era uma armadilha? – inquiriu um agente, curioso.

Derek desviou o olhar para si, antes de voltar a olhar para Erica.

Mais um.

- O choque é mais uma armadilha. Mas ela veio para ser uma distração inicial. Antes do choque, a armadilha eram as barras que caíam. Assim que o choque veio, ele perturbou tanto Erica que ela se esqueceu das barras falsas. – e o quarto veio - Assim, no desespero para se livrar do choque, ela iria se agarrar naquela barra por um tempo, aproveitando o alívio. Típico. Dentro da armadilha pode ser difícil de enxergar. Mas fora dela fica muito... – o quinto logo em seguida e o moreno de olhos verdes se calou.

- o quê? O que foi? –

Derek tentou pensar, mas o grito de dor de Erica lhe cortou o raciocínio.

Ela havia dado mais uma passo adiante. Havia se pendurado na próxima barra, mas, como consequência, recebia uma descarga elétrica ainda mais forte. Todos assistiam, perplexos, a mulher ter os membros contraídos involuntariamente, enquanto se debatia ainda pendurada pelos dois braços. Os seus pés, antes fixos nas barras, haviam despencado, deixando a loira a mercê apenas dos seus braços.

Derek engoliu em seco ao ver a loira erguer a cabeça e gritar mais.

- ESTÁ MAIS FORTE?! – indagou um agente observando a loira encarar as barras que faltavam.

Eles não conseguiam ver a dor e angustia em seu olhar.

Para ela já estava bem claro o teor da armadilha final daquelas barras. Branco não a deixaria atravessar. Se seguisse pelas barras, Erica Reyes iria despencar. As últimas barras lhe dariam um choque tão forte que ela iria perder o controle do próprio corpo ou pior: desmaiar.

O sexto veio e logo Derek se virou para trás, perplexo.

- não! – exclamou, desesperando-se.

Atrás dos agentes as estacas de metal despencavam do teto com maior frequência. No tempo em que uma fileiras deveria cair, caíram simplesmente seis dela.

- ERICA, VOCÊ TEM QUE CORRER! – berrou o moreno de olhos verdes, já empurrando a agente ao seu lado para mais perto da cama de gato.

- EU ESTOU O MAIS RÁPIDO QUE EU POSSO! – ela berrou de volta.

- Todos para perto da entrada da cama de gato! – ordenou o Hale e os agentes obedeceram prontamente.

- ERICA! AS ESTACAS ESTÃO CAINDO MUITO RÁPIDO. SE VOCÊ NÃO DESATICAR A CAMA DE GATO LOGO, NÓS VAMOS TODOS MORRER! – berrou o agente Hale se virando brevemente para as estavlcas, vendo mais delas caindo.

“Desgraçado. Ele aumentou as cargas elétricas das ultimas barras. E, para evitar que o jogador desistisse de atravessar e chamassem um novo jogador, ele acelerou a queda das estacas assim que os jogador atingisse um certo ponto do percurso. Branco pensou em tudo.”

“Se eu avançar para as próximas barras eu morro, e todo mundo morre logo depois. Se eu não avançar, todo mundo morre, e eu morro logo depois. BRANCO, SEU FILHO DA PUTA!”

Erica olhou a distancia de sua barra para o fim da cama de gato. Estava desesperado, então procurava uma medida desesperada. Encarou a barra em que segurava e mordeu o interior da bochecha, nervosa, enquanto ainda grunhia de dor.

“Eu tenho que arriscar”

Derek voltou a olhar para Erica, estanhando o silencio da mulher. Ele arregalou os olhos, perplexo, observando a sobrevivente da divisão se balançar na barra, indo para frente e para trás com toda a força que podia.

- Mas o que porra ela está... – ele não pôde terminar a sua sentença pois o desespero o calou rapidamente.

Ele assistia a mulher se balançar na barra quando viu a mesma barra despencar de onde estava presa. Por aquela ninguém esperava. A barra de choque também era falsa. Mas, ela não era apenas falsa. Tinha todo um mecanismo por trás para que ela caísse após tempo o suficiente para o jogador tomasse confiança em sua segurança. 

Erica havia acabado de jogar o corpo para a frente quando a barra se soltou. Ela se sentiu tão aliviada quando o choque cessou em suas mãos, braços, peito e pescoço.  Mas, em questão de meio segundo depois, o desespero tomou conta de si. A barra havia se soltado. Ela não havia saltado, como o planejado. Havia despencado. Tinha como o intuito pular as ultimas barras e cair do outro lado da cama de gato. No entanto, tivera o seu plano interrompido pela armadilha inesperada.

Branco a havia pegado de jeito.

Fora pega no pulo do gato. E agora, seria colocada em sua cama pela ultima vez. 

Os seus pés acolheram quase que perfeitamente o muro da cama de gato. No entanto, o seu corpo não conseguiu se projetar para a frente, como ela planejava. Erica balançou o corpo, nadou com os braços no ar. Fez de tudo, mas o seu corpo ainda estava interessado em pender para trás e cair deitado nas correntes e cabos energizados.

E então o seu corpo caiu para a morte.

- ERICA! – o Hale berrou sentindo-se cair, igualmente, em desespero.

 

 

 

Alice corria a todo vapor pelo corredor. Havia perdido o maldito mascarado de vista. O insolente havia lhe prendido por alguns segundos em uma porta metálica a qual Stiles não conseguiu arrombar apenas com as mãos. 

Mas aquilo não era um plano para evitar o seu confronto.

Ah, não.

Aquele maldito não era um covarde. Estava determinado a lhe enfrentar.

Mas se estava tão determinado assim para realizar o confronto, por que ele iria lhe despistar para que o perdesse de vista daquela forma?

Era simples.

Estava o cozinhando.

Branco pretendia extinguir a paciência de Alice antes do confronto propriamente dito. Em uma tentativa suicida de criar aberturas no castanho para que pudesse o vencer.

- É uma pena que não vai funcionar, felpudinho levado -  

O castanho estranhou um brilho se aproximando no túnel escuro a sua frente.  Correu com os olhos fixos na luz que era emitida pela parede do túnel. Assim que se aproximou mais, conseguiu compreender do que se tratava. Eram monitores. Espalhados pelas paredes do túnel escuro. Brilhavam com uma luz fraca, reproduzindo imagens dos quatro percursos que os agentes seguiram. A sua esquerda tinham imagens de Derek e alguns agentes encurralados em uma parede de vidro. Em outra, Erica Reyes tentando se balançando em uma barra fixa no teto. Em uma  outra tela havia Isaac de braços cruzados e um olhar pensativo, enquanto agentes ao seu redor, desesperados, disparavam contra uma parede. Scott criava uma barricada com uma mesa metálica, incentivando outros agentes a seguirem a mesma estratégia.

Ao seu lado direito, imagens de Allison correndo ao lado de Vernon e os agentes os seguindo a passos rápidos em um percurso onde chamas surgiam do chão e cobriam os espaços por onde já haviam passado, deixando os agentes desesperados. Em outro monitor, Rafael McCall e Chris Argent ajudavam Peter a tentar abrir uma porta, enquanto dois agentes jogavam basquete, desesperadamente, em um quarto cuja uma das paredes continham espinhos metálicos apontados para eles. 

Logo abaixo dos monitores, haviam dois botões.

- hunf! – o castanho os ignorou antes de seguir caminhada.

Ninguém jamais saberia, pois ele jamais contaria, mas não demorou muito para que Stiles voltasse e apertasse o segundo botão. E ele também jamais saberia, mas o seu ato jamais foi necessário.

 

 

- HOJE, NÃO! – a loira berrou a plenos pulmões, agarrando-se na beirada do muro onde antes estavam os seus pés.

Ela se esforçou ao máximo para se esgueirar entre os cabos e o muro de vidro. Ela sentiu algo duro na sola dos seus coturnos. Tentou olhar mas o seu corpo atrapalhava, e não ousaria se afastar demais do muro.

Com a força de milagrosa que nem sabia que tinha, a loira se impulsionou para cima, e com a flexibilidade de um atleta, conseguiu se colocar sobre o muro. Parou brevemente para olhar para trás. Ainda via as correntes elétricas percorrendo os cabos e correntes. Olhou para baixo e só então entendeu no que usara como base nos pés para se impulsionar para cima. O agente morto eletrocutado que estava logo na porta de saída da cama de gato. O primeiro a morrer. Ao olhar para trás, viu as estacas metálicas descendo livremente uma atrás da outra, já muito próximas da entrada as cama de gato. 

Desesperada, se jogou para o lado de fora da armadilha mortal.

Derek já rezava para que Deus mantivesse a sua família bem e feliz após a sua morte quando ouviu a porta atrás de si se abrir e o seu corpo cair para trás. Os agentes não demoraram a invadir a cama de gato, um após o outro. Todos fugindo das estacas metálicas. Ele piscou os olhos, surpreso, encarando os cabos e correntes tocando o seu corpo sem que ele morresse. Não levara choque algum.

O moreno de olhos verdes sorriu de canto.

- a filha da mãe conseguiu -  murmurou para si mesmo, com uma estranha sensação de orgulho em seu peito .

Havia escolhido certo. Havia feito uma boa liderança durante a primeira armadilha. Ainda estavam vivos. Para si, aquilo já era uma conquista e tanto. Haviam sobrevivido a sua primeira armadilha maravilhana.

Eles atravessaram a cama de gato enorme, encontrando uma Erica Reyes jogada no chão abaixo da alavanca que abrira a ultima porta e desativara a armadilha mortal. A alavanca que os salvara das estacas metálicas. Um agente com uma bolsa de primeiros socorros em sua cintura se abaixou ao lado da mulher.

- está bem?  Tem algum ferimento que precise de cuidados? – questionou, preocupado.

- É claro que não estou bem. Mas isso é bom. Se estou sofrendo, é porque estou viva – reclamou a Reyes, estendendo as mãos para os homem.

Os agentes exclamaram, assustados. As mãos de Erica estavam vermelhas, com cortes e com algumas bolhas de queimadura. Queimaduras elétricas.

Derek se abaixou diante da loira e suspirou.

- Hunf! – ele negou com a cabeça, enquanto Erica o encarava com uma expressão séria e carrancuda. – quantas vezes eu vou ter que tirar o chapéu para você? –

Erica piscou os olhos, confusa.

- Você é, de longe, a mulher mais forte que conheço, Erica. Eu te devo uma –

- Há! Corta essa! Não me deixe morrer e tudo certo! Agora precisamos impedir o maior ato terrorista que esse país já viu – ditou a loira tentando se erguer, mas fora impedida por Derek, que a parou com uma mão em seu ombro.

- primeiro precisamos cuidar de você. Precisamos que todos estejam aptos a dar o deu máximo quando encararmos a próxima armadilha. Só vamos seguir quando o médico terminar de cuidar de você – ditou o Hale antes de se erguer – vocês três, comigo. Vamos fazer um leve reconhecimento na saída. O resto de vocês fiquem guardando a Erica. Lembrem que ela é uma de nossas peças chave para sair daqui – ordenou o agente se erguendo e se dirigindo para a porta de saída que havia ali ao lado.

Erica apenas sorriu de canto.

- Talvez ele se torne mesmo o sobrinho do Peter – murmurou para si mesma, enquanto permitia que o homem ao seu lado enfaixasse a sua mão após passar um medicamento em spray na mesma.